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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, novembro 05, 2016

Não temos um craque hoje no futebol brasileiro, diz Oswaldo de Oliveira



LUIZ COSENZO
DE SÃO PAULO 

Oswaldo de Oliveira, 65, nunca foi jogador de futebol, mas tem experiência de sobra à beira do campo. Com mais de 30 anos de carreira, o atual comandante do Corinthians afirma que não há um craque em ação no futebol brasileiro, mas "bons jogadores que são candidatos a craque daqui a pouco".

Único técnico a dirigir os quatro principais clubes de São Paulo e os quatro do Rio, o carioca defende seus companheiros de profissão do Brasil, muitas vezes demitidos durante a temporada. De acordo com ele, os treinadores são prejudicados pela grande quantidade de partidas disputadas no país e pelas transferências de atletas durante as competições.

Oswaldo cita o caso do próprio Corinthians, que vendeu vários atletas na última janela de transferências. Neste sábado (5), a equipe alvinegra enfrentará o São Paulo, às 19h30, no Morumbi, pelo Campeonato Brasileiro.

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Faltando cinco rodadas, como você analisa o nível técnico do Campeonato Brasileiro?
É uma retórica muito antiga. Desde que acompanho o Brasileiro, sempre foi uma exigência muito grande, principalmente após aquele momento magnífico da Copa de 70.

O número de jogadores que deixaram o Brasil nos últimos anos se multiplicou muito. Hoje é muito comum uma equipe começar o campeonato com um time e terminar com outro. Os jogadores que saem são sempre os melhores. Com isso, as equipes têm que se recompor, se reorganizar, se reentrosar. Com isso, o nível técnico diminui. A medida que o time vai se entrosando, o nível técnico aumenta.
Tiveram campeonatos em que o nível técnico foi melhor, outros nem tanto. Nesse ano vejo um campeonato muito disputado, muito competitivo. Os jogadores estão com muito mais disciplina e obediência tática. É uma transição que o futebol brasileiro está passando, principalmente quando você tem jogadores que saem e voltam. Tem obrigado o futebol brasileiro se reconstruir. É o caso do Corinthians.

Os treinadores brasileiros são questionados atualmente. Você vê nossos técnicos defasados?
Não é que o futebol brasileiro está defasado. O que acontece é a melhor organização do futebol europeu e do japonês. Nesses países, o jogador tem que cumprir algumas coisas que aqui ele não tem. O calendário aqui é conturbado. Muda o horário do jogo, muda a data do jogo. Você tem cada vez mais jogos na temporada. Em um campeonato mais enxuto, você tem uma equipe mais equilibrada.

Quando você insere mais jogos, a tendência é a qualidade, o nível técnico do espetáculo cair. Porque quando você tem que dividir em mais jogos a energia, a condição do jogador, aquilo vai diminuir de jogo para jogo. Não melhora a qualidade do espetáculo, piora.

Qual a maior dificuldade para o treinador brasileiro? Você acha que ele precisa se qualificar?
A maior dificuldade dos treinadores brasileiros é a sequência dos jogos. É a continuidade do que aconteceu na Copa do Mundo. O insucesso trouxe esse encargo muito grande. Não é concentrada apenas no treinador. Ela se divide entre jogadores e com a organização do futebol brasileiro também. A medalha de ouro na Olimpíada melhorou bastante ou ao menos estancou. Se não tivéssemos vencido, hoje a nossa realidade seria muito pior. A medalha deu uma acalmada e deu tempo do futebol brasileiro se reorganizar outra vez.

Como você vê a nova safra do futebol brasileiro, o trabalho da base no futebol brasileiro?
Algumas equipes promovem mais outras menos. Os grandes times continuam produzindo jogadores. O nível técnico varia muito. Depende de muita coisa, principalmente da matéria-prima. O treinador não vai fazer milagre. Se ele tiver o jogador com condições para ser promovido ele vai fazer. A avaliação não pode ser por número e sim pela qualidade.

Você chegou ao clube em um momento de turbulência política. Isso dificulta o seu trabalho?
O Corinthians é fundamental na minha carreira. Tudo aconteceu na minha carreira como treinador a partir do Corinthians. Eu me acostumei a ver o Corinthians com muito foco, com muita atenção. Ele atrai muito e é normal que essas turbulências aconteçam. Os clubes menores podem ter problemas até mais graves, mas não tem essa proporção. Aqui tudo vai ser muito grande.

Qual a maior dificuldade que você está encontrando no Corinthians nesse período?
A dificuldade é que cheguei no final da temporada para conhecer os jogadores, para se adaptar à forma de trabalho da equipe. Estou me esforçado muito para entender as coisas, para não interferir de forma negativa, não atrapalhar o processo natural que foi implantado aqui e que vem se desenvolvendo.
O Corinthians teve muitas mudanças que interferiram no resultado atual. A equipe não está na posição que todos gostariam que tivessem. Mas isso acontece porque o clube perdeu muitos jogadores. O clube não conseguiu manter os jogadores. Quando você tira muitos jogadores, você fere a estrutura da equipe. E isso leva tempo para acontecer de novo.

Como é o Oswaldo no dia a dia?
Gosto muito dos jogadores. Dormia entre dois. Meus dois irmãos mais novos foram jogadores. Vivia a ansiedade. Tenho uma leitura boa dos jogadores. Converso bastante, procuro estimula-los. Você tem que entender que o jogador de futebol você não pode generalizar. Cada jogador tem o seu estilo. Você tem que respeitar o que cada jogador trás na sua herança.

Evolução do Corinthians desde que chegou? Projeção de pontos para chegar à Libertadores?
Não fiz projeção neste sentido. O objetivo é sempre vencer o próximo jogo. Temos que ter sempre uma proposta de vencer no jogo seguinte.

A violência nos estádios do futebol brasileiro
Todos os clubes grandes têm aquela turma que veste a camisa para brigar e é essa que tem que ser punida. Não pode pegar 60 milhões de corintianos e o clube e punir porque 30 querem sair no braço. Na cadeia tem corintiano, vascaíno, palmeirense. Em todas as cadeias você vê todas as camisas.

Não podemos generalizar e achar que o problema é apenas uma torcida. É um problema do futebol brasileiro, mas é um problema do povo brasileiro. Temos que melhorar a educação do povo brasileiro. Se conseguirmos isso, vai refletir na sociedade. Os professores vão ser menos agredidos nas escolas, você terá menos assaltos na esquina, você terá menos apreensão de drogas, terá menos apreensão de armas. Nosso problema é a educação nas escolas, que submergiu, caiu. Sou professor e sei o que estou falando.

Craque no Campeonato Brasileiro. Tem um jogador acima da média?
Não vejo um craque acima da média, mas bons jogadores. Vejo jogadores que são candidatos a craque daqui a pouco. Um jogador que me chama a atenção é o Luan, do Grêmio. Esse cara me chama atenção. Gosto de ver ele jogar. Ele vem da trinca maravilhosa da Olimpíada com Neymar, Gabriel e Gabriel Jesus. O Luan é um cara que desequilibra um jogo.

Gosto muito do Diego Souza, do Sport. Outro que chama muito atenção é o Diego, do Flamengo. Foi um grato retorno ao futebol brasileiro.

O que falta para um treinador brasileiro estourar na Europa?
Falta mídia, falta aceitação lá. Porque um cara que forma tanto jogador bom não pode ficar aquém, ser colocado a parte. Os treinadores brasileiros são excelentes. Esses dias conversei com o Rogério Micale. Não conhecia ele pessoalmente. Ele não me surpreendeu porque eu já o acompanhava. É um treinador esclarecidíssmo.

Não vou falar do Tite, que é covardia. Mas você tem Levir Culpi, que é excelente, extraordinário. Não sei o que se passa na Europa para não levar os brasileiros. Prefiro não dar opinião.

Quando você está desempregado o que procura fazer?
Já fui com Edu Gaspar e fiquei três semanas no Arsenal em 2003. Eu procuro me atualizar sempre. Dos 42 anos de carreira, 22,5 eu trabalhei fora do Brasil. Eu trabalhei no Qatar, Emirados Árabes, no Japão e na Jamaica. Sempre tive contato com treinadores do mundo inteiro, sempre me relacionei com esses treinadores, sempre assinei revistas, sempre vi jogos. Recebo correspondências de treinamentos. Estou vendo tudo e lendo tudo. Estou sempre acompanhando tudo. Não é necessário estar de corpo presente e tirar uma foto com o Ancelotti. 

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