*Benê Lima
É perceptível a uma ideia comum e aceitável por todos, de que este período de pandemia mexeu profundamente com as pessoas, desde as relações intersociais, até as suas relações anímicas, portanto, consigo próprias.
Muitos admitem e propagam que é uma oportunidade única para as muitas gerações buscarem ganhos, a partir de uma convivência mais verdadeiramente social, sociável, cooperativa e algumas vezes até mais gregária.
Admitindo as premissas iniciais como possuidoras de pouca contestabilidade, caminhemos para um vislumbre do que tem sido visto em nossos clubes de futebol. É evidente que há gradações respeitáveis quanto ao que os clubes têm absorvido e praticado. E claro que a adoção das novíssimas práticas tem a ver com o DNA dos clubes e de seus dirigentes. Portanto, alguns clubes transformaram-se mais que outros, o que é naturalmente explicado também pela maior ou menor vontade política com que se determinam.
"A verdade é que o futebol jamais foi tão conceitual."
É inegável o processo de
mudanças pelo qual a gestão do futebol tem passado. E compreender isto é o
ponto de partida para o pontapé inicial que os clubes que ainda não deram
precisam dar, para se inserirem nestes tempos de uma monumental mudança de
hábitos. Ou esta percepção se dá agora, ou os clubes que não o fizerem estarão
fadados a se colocarem no final da fila das nossas principais divisões. E a
compreensão deste processo, passa, inexoravelmente, pela ciência do
relacionamento entre o clube (e não mais o time) e o fã.
O futebol precisa se renovar fora de campo, do contrário ele não conseguirá sustentar o interesse do fã. Duas horas e meia de conteúdos que soem como entretenimento e espetáculo, em regra, agrada o novo fã. Contudo, uma hora e meia somente de futebol, já não o sustenta, qualquer que seja a plataforma. Eis o porquê da necessidade de se criar novos conteúdos, pois eles é que são os responsáveis para manter o fã conectado por mais tempo. Portanto, a digitalização dos clubes e especialmente de seus departamentos de marketing é de onde deve partir a iniciativa de fazer rolar esta bola, a fim de que o novo público jogue junto. Afinal, sem canais e nem conteúdos de conectividade, o jogo fora das quatro linhas não se dará. E este tipo de jogo é o que move o princípio da monetização a qual os clubes tanto aspiram.
Na verdade, os desafios
dos clubes de futebol são bem maiores do que se imagina. Os programas de sócios
estão virando também programas de relacionamento. E por que razão? É que os
clubes possuem diversos tipos de consumidor e, portanto, não devem se comunicar
com todos igualmente. Afinal, está provado que o público jovem prefere outras
formas de engajamento, tais como os e-sports e a gamificação. E os clubes devem
entender que a geração de novos conteúdos possibilita não só novos cliques, mas
também a geração de novas receitas.
Sem dúvida, um bom programa de relacionamento poderá propiciar um engajamento tão intenso do torcedor, que ele se sentirá verdadeiramente um sócio do clube e não mais mero associado. E em se tratando de clubes com vocação democrática e garantia estatutária, essa participação será ainda maior, legitimando-se ainda mais por votar e ser votado.
(Fotos: Divulgação)
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Benê Lima é Cronista e Gestor Esportivo, Membro do Conselho do Desporto
do Estado do Ceará e Rosacruz dos Graus Superiores