Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, fevereiro 27, 2025

Vendo otimismo. Quer comprar?

 por Benê Lima (Das Tribunas) 

Créditos da imagem: Felipe Oliveira

O Brasil, de tão raros bons pensadores, teve dois deles que me deixaram algumas “ideias-sínteses” como legado, e que por certo servem ao microcosmo do futebol, em seu mais amplo e cósmico sentido – exageros à parte.

A primeira dessas ideias vem de um economista, Roberto Campos, que expressava aversão a certo tipo de esquerda, dizendo que ela queria socializar a pobreza, o que para ele, assim como para mim, não me parece razoável. Portanto, também no futebol devemos tentar diminuir as diferenças entre as agremiações por uma mais racional divisão das receitas.

A segunda dessas ideias vem de um brasileiro com sotaque estrangeiro de tanto que viveu em terras norte-americanas. Trata-se de Mangabeira Unger, que também é Roberto. Apesar de sua naturalidade sudestina, há muito ele vem dizendo que o Nordeste não tem um projeto político para si. Eu acrescentaria: nem o Norte. E por uma questão de contexto, as ideias e questões aqui levantadas por mim, terão sempre como pano de fundo essas regiões brasileiras: Nordeste preferencialmente e Norte secundariamente.

Deixando-nos então orientar pelas ideias iniciais, desejo conectá-las à realidade do futebol nortista e, sobretudo nordestino, para concitá-los a participar da reconstrução da estrutura administrativa da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, que nesse instante acaba de abrir uma fresta de seu hermetismo para que participemos – pelo menos assim prefiro crer – de seu Comitê de Reformas do Futebol.

A tarefa da CBF é hercúlea, e isso por si só já deveria nos mobilizar para pretendermos participar dela. Até nem entendo por que a mídia age como se isso não tivesse importância. As pessoas em geral e a comunidade esportiva em particular, devem entender que as sessenta e quatro páginas do estatuto da CBF têm o condão e a prerrogativa de mudar o curso do futebol brasileiro. Tanto dentro quanto fora das quatro linhas. E, se considerarmos que o que ocorre intra-campo é em muito resultado do que fora dele é realizado, tanto mais razões teremos para nos incluirmos no processo.

O Norte e principalmente o Nordeste – por se encontrar em melhores condições de barganha nesse instante, e o case Copa do Nordeste comprova isto – devem ter uma atitude auto-inclusiva nesse fórum, não se deixando levar pelo caráter de contestação momentâneo que tomou conta da sociedade brasileira.

De prático, nem falarei em outros órgãos auxiliares constantes no estatuto. Desejo me referir apenas aos seguintes: Comitê de Resolução de Litígios; Ouvidoria do Futebol; Comissão Nacional de Clubes; Comissão de Ética e o Comitê de Governança Corporativa e Conformidade. Portanto, o Nordeste e as demais regiões devem atuar preferencialmente e com maior intensidade, rigor e critério sobre tais comissões, para trabalhar questões como uma proporcionalidade mais justa nas decisões, e uma maior representatividade da região.

O Nordeste precisa reavaliar seus conceitos sobre o futebol, não medindo sua estatura somente por sua representatividade no Brasileirão Série A, algo que tem se mostrado mais circunstancial e episódico, não garantindo ganho algum para o todo da região.

Percebam pois, que nosso otimismo guarda uma relação estreita com o fazer e com o trabalho, transpondo para a ação o potencial dos nossos sonhos.

Desse ponto de vista, sonhar é preciso, e realizar pelo trabalho é imprescindível.

Benê Lima

sexta-feira, fevereiro 21, 2025

O futebol como negócio nos dias atuais




1. Introdução ao Futebol como Negócio

O futebol transcendeu sua origem como um simples jogo para se tornar um imponente negócio global, influenciando economias, culturas e sociedades ao redor do mundo. Nos dias atuais, o futebol movimenta bilhões de dólares anualmente, abrangendo uma vasta gama de segmentos, desde direitos de transmissão e patrocínios até a comercialização de produtos licenciados e eventos ao vivo. Essa transformação se deve a uma combinação de fatores como o aumento da audiência televisiva, a profissionalização da gestão dos clubes e o engajamento massivo de torcidas em escala global, consolidando o esporte como um dos mais influentes do século XXI.

1.1. Definição de Futebol como Negócio

O futebol como negócio refere-se à comercialização e gestão econômica do esporte em âmbito global. Envolve não apenas os jogos em si, mas uma complexa rede de atividades como venda de direitos de transmissão, patrocínios, marketing, bem como administração financeira eficiente dos clubes e entidades envolvidas. Essa perspectiva transforma o futebol num importante setor econômico, com receitas multibilionárias que influenciam a economia de regiões e países. A operação dos clubes como empresas, focados em lucro e sustentabilidade financeira, exemplifica esse modelo, onde estratégias de marca, engajamento de fãs e inovação são essenciais para a prosperidade e crescimento contínuo.

1.2. Importância Econômica do Futebol

O futebol representa um dos mais significativos motores econômicos globais, influenciando diretamente uma vasta gama de setores. Sua importância econômica se reflete na geração de bilhões de dólares em receitas anuais através de direitos de transmissão, patrocínios, venda de ingressos, e merchandising. Grandes competições internacionais, como a Copa do Mundo e a Liga dos Campeões da UEFA, dinamizam economias locais e globais, atraindo investimentos substanciais em infraestrutura e turismo. Além disso, o futebol gera empregos diretos, incluindo jogadores, treinadores e gestores, e indiretos em áreas como hospitalidade e serviços, impactando positivamente o PIB de inúmeros países. O esporte também desempenha um papel crucial na projeção internacional de marcas, proporcionando plataformas para campanhas publicitárias de alcance global que valorizam marcas ícones. Assim, a economia do futebol transcende o puro entretenimento, configurando-se como uma indústria vital e uma importante ferramenta de inclusão e desenvolvimento econômico em várias partes do mundo.

2. Estrutura Organizacional no Futebol

A estrutura organizacional no futebol é composta por diversos atores que desempenham papéis cruciais no funcionamento deste esporte como negócio. No topo, encontram-se as federações e ligas, responsáveis pela regulamentação e organização de competições em âmbito nacional e internacional. Os clubes de futebol operam como entidades que combinam interesses esportivos e econômicos, e sua gestão pode variar desde associações sem fins lucrativos até sociedades empresariais. Além disso, agências e intermediários atuam facilitando negociações e transferências de jogadores, sendo essenciais para a dinâmica financeira do mercado. Essa estrutura complexa necessita de coordenação e colaboração contínua entre todas as partes envolvidas para assegurar o crescimento e a estabilidade do futebol enquanto indústria global.

Continua...

(Benê Lima e IA)

domingo, fevereiro 09, 2025

EL PAIS - ana Torres Menárguez 
“A obsessão por ser feliz o tempo todo faz as pessoas se sentirem péssimas”

Para o psicólogo israelense Tal Ben-Shahar, que lecionou por 25 anos em Harvard, o grande mal do século XXI é que não se busca tempo para o descanso


Tal Ben-Shahar (Ramat Gan, Israel, 1970), doutor em Psicologia e Filosofia pela universidade de Harvard, onde foi professor por 25 anos, soma outros tantos estudando a felicidade. Como muitos especialistas, acredita que o grande inimigo do bem-estar seja o estresse, do qual 94% dos universitários norte-americanos padecem. "É a nova pandemia global", diz, em alusão ao qualificativo empregado pela Organização Mundial da Saúde. Os médicos o chamam de "assassino silencioso", conta. Mas o psicólogo israelense acredita que durante anos estivemos olhando para o lado errado; não é preciso estudar os fatores que o provocam, e sim as condutas que não o curam. "Deixamos de dar importância ao descanso, à recuperação, e não basta o sono", observa.


Nesta semana, ele participou do EnlightED, um evento sobre o futuro da educação e sua relação com a tecnologia, organizado em Madri pela South Summit, Fundação Telefónica, IE University e Fundação Santillana.



Pergunta. Existe um sistema imunológico psicológico? Há pessoas que têm maior tendência à tristeza?


Resposta. A genética faz a diferença. Por exemplo, eu não nasci com uma genética ligada às emoções positivas. Quando criança sentia ansiedade, assim como meus pais e avós; sofremos dela geração após geração. O fato de ser infeliz me levou ao interesse por esse campo: a ciência da felicidade. Nos anos 70, nos Estados Unidos, foi feita uma série de investigações sobre gêmeos com genes idênticos. Foram separados ao nascer, criados em países diferentes, com economias diferentes. Passados os anos, observou-se que havia muitas semelhanças quanto aos seus níveis de bem-estar, seu comportamento e inclusive suas paixões. Em média, a felicidade depende 50% da genética, 40% das escolhas pessoais e 10% do ambiente. Esses percentuais podem mudar em situações extremas, como uma guerra.


P. Como se medem os níveis de felicidade no cérebro?


R. Há padrões cerebrais associados à felicidade, à depressão e à raiva. Não é só uma parte, e sim múltiplas que trabalham de forma conjunta. Um exemplo é o córtex pré-frontal: a parte esquerda está associada às emoções positivas, e a direita às negativas. É importante conhecer as descobertas neste campo para entender que, com nossa conduta, podemos melhorar os níveis de bem-estar.


P. Há um boom, centenas de best-sellers sobre o tema. Estamos mais preocupados em tentar ser felizes?


R. Não, é algo ancestral. Há 2.500 anos, Aristóteles escrevia sobre isso. A Bíblia também trata desse tema. Sempre foi parte do nosso pensamento. A diferença é que agora temos mais tempo livre, e a isso se somam certas expectativas irreais quanto à vida. O resultado é que nos sentimos infelizes porque não entendemos o que é a felicidade.


P. O que é a felicidade?


R. Não é possível estar feliz sempre. As emoções negativas, como a raiva, o medo e a ansiedade, são necessárias para nós. Só os psicopatas estão a salvo disso. O problema é que, por falta de educação emocional, quando as sentimos as rejeitamos, e isso faz que se intensifiquem e que o pânico nos domine. Se bloquearmos uma emoção negativa, igualmente bloquearemos as positivas. É preciso sentir o medo e sermos conscientes de que vamos em frente mesmo com ele. Não é resignação, e sim aceitação ativa. Quando meu filho David nasceu, um mês depois comecei a sentir ciúmes dele. Minha esposa lhe dedicava mais atenção que a mim. Às vezes as emoções se polarizam, chegamos a extremos, e nem por isso somos melhores ou piores pessoas. Somos humanos.


P. Segundo um recente estudo da agência europeia Eurofound, os níveis de estresse estão aumentando na escola, e a transição dos jovens para a vida adulta se complica pelas expectativas de seus pais e as pressões da sociedade.


R. As expectativas têm um papel-chave na felicidade. A mais perigosa é acreditar que se pode estar constantemente na crista da onda. A obsessão por ser feliz o tempo todo faz as pessoas se sentirem péssimas. Nos últimos anos as redes sociais influíram bastante; ver as caras sorridentes dos outros, suas idílicas relações a dois, um trabalho exemplar. Quando sentimos tristeza ou ansiedade, essas imagens reforçam nossa ideia de que estamos fazendo algo de errado. Mas nada disso é real, todos vivemos numa montanha russa emocional. É inevitável, e não é ruim.


P. A depressão ameaça 14% dos jovens europeus entre 15 e 24 anos, segundo o último relatório do Eurofound, e lideram o ranking países como a Suécia (com uma taxa de 41%), Estônia (27%) e Malta (22%). Na Espanha, onde a taxa de desemprego juvenil é mais elevada, está abaixo de 10%. O que está falhando?


R. Vou lhe dar outro exemplo. Nos Estados Unidos, a cada cinco anos se medem os níveis de saúde mental, que costumam variar 1% para cima ou para baixo. No último período, os resultados foram muito diferentes: entre adolescentes, os níveis de depressão cresceram até 30%. Um dos motivos é que estão diminuindo as interações cara a cara, substituídas pelo smartphone. As relações pessoais são um antídoto contra a depressão.


P. No século XIX, trabalhava-se até 18 horas por dia, e nenhuma lei impedia de fazê-lo 24 horas se fosse necessário. Hoje temos maior qualidade de vida. Qual é a raiz da insatisfação permanente?


R. A expectativa dos trabalhadores na vida era prover suficiente comida à sua família para sobreviver. Hoje pensamos em ganhar mais dinheiro, nas férias sonhadas... Hoje você pode fazer tudo; mesmo que tenha um emprego interessante e goste de seus colegas, não é suficiente. Como pode escolher e mudar, nunca está satisfeito.


P. Como a escola pode nos preparar para saber o que é a felicidade?

R. É preciso ensinar a cultivar relações sadias, a identificar propósitos e sentido no que fazemos. E o mais importante: a encontrar tempo para o descanso. As pesquisas demonstraram que esse é o grande problema, que não nos recuperamos do estresse. Não vale ler best-sellers de autoajuda, é preciso uma ação. No trabalho, fazer uma pausa de 30 minutos a cada duas horas, ou de 30 segundos se você trabalhar na Bolsa, mas desconectar e respirar. Tirar um dia de folga. Aprender que a felicidade não é um código binário, de um a zero, e sim um sobe e desce. É uma viagem imprevisível que termina quando você morre.