Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, novembro 03, 2018

À espera do acesso, Ceni vira manager e opina até em cardápio no Fortaleza


Técnico do time pode garantir vaga na elite neste sábado após trabalho detalhista
Especial
Raphael Ramos, Renan Cacioli, O Estado de S. Paulo

Certo dia, Rogério Ceni visitou o refeitório do centro de treinamento do Fortaleza e notou algo que lhe incomodou: as saladas não eram separadas por itens em cada prato. Havia beterraba junto com brócolis, por exemplo. Pediu para que isso fosse mais bem organizado. Ah, e o azeite deveria estar sempre ao lado, para que cada um temperasse da forma como achasse melhor. Pode parecer uma história tola, mas ela diz muito sobre a sua função, que extrapolou o papel de mero treinador de futebol da equipe, prestes a retornar à Série A do Brasileiro.
Para garantir o acesso neste sábado, o Fortaleza precisa de uma vitória em cima do Atlético-GO e de um tropeço do Londrina. Após um início de carreira frustrante, sendo demitido do clube onde ganhou o apelido de "Mito", o ex-técnico do São Paulo encontrou na capital cearense condições de ser um manager, função popular no futebol europeu da figura que recebe carta branca da diretoria para agir como uma espécie de treinador/diretor e estipular diretrizes de planejamento dentro e fora de campo. 


Rogério Ceni está perto de colher os frutos do trabalho no Fortaleza 
Rogério Ceni está perto de colher os frutos do trabalho no Fortaleza Foto: Pedro Chavesce/Fortaleza

No caso de Ceni, isso significou pedir ao Fortaleza o que julgasse necessário, da grama bem aparada no CT à privacidade, como treinos fechados à imprensa.
"Constituímos um novo campo auxiliar, qualificamos outros dois campos do CT, construímos uma sala de imprensa, melhoramos cozinhas e refeitórios, montamos uma nova academia, que já está com a estrutura física pronta e os equipamentos comprados", cita o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, quando questionado pelo Estado sobre o que havia mudado no clube com Ceni.
O treinador fez o Fortaleza alterar até logística de viagens. Antes, o check-in nos aeroportos e hotéis era realizado na chegada da delegação aos locais. Agora, um profissional vai antes para agilizar a burocracia. No ônibus, os jogadores já recebem as chaves dos apartamentos em que ficarão hospedados.
A fama de "chato" acompanha Ceni desde os tempos de Morumbi, devido à personalidade forte e a um espírito de liderança aflorado. Características que ele carregou para o Fortaleza e a diretoria, ao menos por enquanto, considera positivas. 
"É um cara muito exigente, que não deixa passar nada. Se tem algo que não está a contento, ele fala. Porém, nunca é exagero, frescura. É coisa profissional, séria", garante Paz.
O estafe de Ceni conta com Haroldo Lamounier, preparador de goleiros dele durante mais de uma década no São Paulo, o francês Charles Hembert, que o auxiliou no primeiro trabalho como treinador, Nelson Simões, ex-zagueiro tricolor, e Danilo Augusto, preparador físico que trabalhava em Cotia, sede das divisões de base do São Paulo. 
"Desde o início, o Rogério foi muito bem aceito. As causas que ele propôs, a diretoria acatou. O Fortaleza renovou campo, logística, tudo. Ele usufruiu do prestígio para conseguir melhorias", diz Lamounier.
Detalhista, Ceni costuma ficar no pé dos jogadores, mas ninguém reclama. Muito pelo contrário. Eles elogiam. "Corrige coisas simples. Chama de canto e passa a orientação. Todo dia ele cobra, para ninguém se acomodar", conta o meia Dodô, camisa dez do time.
Viciado em trabalho, o técnico dedica boa parte da rotina aos treinos e estudos. Passa horas vendo vídeos e analisando estratégias para sua equipe e capazes de superar adversários. 
Mas tenta aliviar o estresse ao menos duas vezes na semana, normalmente às segundas e quartas, quando vai a um clube chamado Ideal para jogar tênis acompanhado do médico do Fortaleza, Cláudio Maurício, e um grupo de amigos.
Se bem que nas últimas semanas tem sido difícil pensar em algo que esteja fora das quatro linhas. E, no caso de alguém competitivo como Ceni, já não se trata só de conduzir o time à Série A. O acesso sem a taça certamente não terá o mesmo gosto, ainda mais no ano em que o Fortaleza comemora o seu centenário. "A gente está liderando o campeonato há 31 rodadas. Então, é lógico que temos de pensar em título", admite Paz. O contrato de Ceni termina no dia 10 de dezembro. A ideia do Fortaleza é estender por mais dois anos.
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'Rogério é um profissional fora do comum', elogia atacante Gustavo
Em entrevista exclusiva, jogador do Fortaleza e artilheiro do Brasil no ano exalta trabalho do técnico do time
Raphael Ramos, Renan Cacioli, O Estado de S. Paulo

Depois de uma passagem apagada pelo Corinthians, Gustavo virou o homem-gol do Fortaleza. O atacante passou a ser a referência ofensiva da equipe, é o artilheiro da equipe na Série B do Brasileiro, com 11 gols, e diz que deve a boa fase a Rogério Ceni. Na temporada, contando todas as competições, ele soma 27 gols. Ninguém no País balançou as redes mais vezes do que Gustavo em 2018.
Como o time se encaixou para fazer uma campanha tão boa?
O time se encaixou desde o primeiro momento. O elenco uniu-se dentro e fora de campo e isso acabou sendo o nosso diferencial para a boa campanha na Série B.

Artilheiro Gustavo agradece a Rogério Ceni pelos conselhos
Artilheiro Gustavo agradece a Rogério Ceni pelos conselhos Foto: Divulgação/Fortaleza

Como explicar a superioridade do Fortaleza em relação aos rivais na Série B?
A união do grupo facilita o trabalho dentro de campo. Também destaco o torcedor do Fortaleza, que passa uma energia sensacional para nós, jogadores. Sem contar, é claro, que a qualidade técnica do time é muito boa. A diretoria soube montar uma equipe com jogadores nivelados em todas as posições.
O que você destacaria no trabalho do Rogério Ceni?
É um profissional fora do comum, tem uma inteligência sem igual. Sempre digo que trabalhei com diversos treinadores, mas o Rogério vem me surpreendo a cada dia. Aprendi muito com ele tanto dentro como fora de campo. Está sendo uma experiência fantástica trabalhar com ele.
Como o Rogério Ceni contribuiu para a sua fase artilheira?
Ele soube armar muito bem a equipe. Ao longo do campeonato, perdemos peças importantes em diversos momentos, mas ele consegue trabalhar o time de maneira muito inteligente. No meu caso específico, em todos os momentos do ano ele foi fundamental. Se sou artilheiro do Brasil hoje é graças aos ensinamentos do Rogério. Todos sabem que tenho um bom aproveitamento em jogadas aéreas, mas com ele até gol de falta eu fiz. Só tenho a agradecê-lo.
Quais são os seus planos para 2019? Pretende voltar a jogar no Corinthians? 
A atual temporada ainda não se encerrou e estou focado apenas no tão desejado acesso do Fortaleza para Série A do Brasileiro. Quero, de certa forma, retribuir o apoio do torcedor para depois pensar em 2019. Muitas sondagens surgiram, mas tenho vínculo com o Corinthians. Vamos esperar encerrar a temporada e estarei à disposição da diretoria e da comissão técnica do Corinthians.

Edição: Benê Lima

Football Leaks: 16 top clubes europeus se unem secretamente para formar Superliga a partir de 2021

Insatisfeitos com os campeonatos nacionais, clubes arquitetam plano para se desvincular da Uefa e criar uma competição só com as melhores equipes do continente europeu


Por GloboEsporte.com — Rio de Janeiro


Antes de mais nada, propõe-se um desafio: imagine que os maiores clubes do continente europeu tenham se unido e concordado em desertar da Uefa, assim como de suas respectivas confederações, para formar uma superliga na Europa. Pois bem, embora pareça ficção, tal plano vem sendo arquitetado há pelo menos três anos e pode sair do papel até 2021.
Uma extensa reportagem publicada nesta sexta-feira pela revista alemã "Der Spiegel" em parceria com a equipe do Football Leaks revelou, com imensa riqueza de detalhes, o projeto discutido à boca miúda para a criação do que podemos chamar de Superliga da Europa. Apurado durante meses, o artigo baseia-se em documentos confidenciais e trocas de e-mail entre representantes dos maiores clubes do continente.


Atual campeão da Champions, Real Madrid seria um dos fundadores da Superliga — Foto: Reprodução / Twitter
Atual campeão da Champions, Real Madrid seria um dos fundadores da Superliga — Foto: Reprodução / Twitter


A princípio, 16 clubes fazem parte da "conspiração". Onze deles são considerados os "fundadores" - e vão dispor de privilégios, como nunca poderem ser rebaixados:

Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Juventus, Chelsea, Arsenal, Paris Saint-Germain, Manchester City, Liverpool, Milan e Bayern de Munique.

Além disso, ao menos para a primeira edição da Superliga, outros cinco clubes participarão sob o caráter de "convidados". São eles:

Atlético de Madrid, Borussia Dortmund, Olympique de Marselha, Inter de Milão e Roma.

De acordo com a reportagem, os clubes optaram pela rebelião por entender que o resultado das principais ligas do continente, sobretudo os campeonatos Alemão e Italiano, são demasiado previsíveis. Até mesmo a Champions League, vencida pelo Real Madrid nas últimas três temporadas, estaria seguindo tal caminho.
- Os clubes do mundo se uniram secretamente, todos aparentemente com uma única ideia em mente: o tédio significa a morte de qualquer show. E a única maneira de combater o tédio é fazer um show ainda maior e mais brilhante, o maior espetáculo de futebol na terra. A ideia é a criação de uma Super League, uma liga de elite de competição de alto nível reservada exclusivamente para os principais nomes do futebol europeu de clubes. Todo jogo é um top game. Esse é o plano da sociedade secreta - diz um trecho da reportagem.

Charlie Stillitano, famoso executivo esportivo americano, seria uma das pessoas à frente do projeto. Em uma reunião com representantes do Real Madrid em dezembro de 2015, ele disse, segundo os documentos obtidos, que o cálculo é de que cada clube membro da Superliga poderia obter uma receita anual de "mais de 500 milhões de euros".
A título de comparação, o Real Madrid, vencedor da Liga dos Campeões naquela temporada, recebeu cerca de 80 milhões de euros da UEFA.

Os empecilhos

Assim que a ideia da formação da Superliga foi levantada, e que os primeiros passos foram dados, ainda em 2015, levantaram-se indagações internas. Os clubes temiam as consequências que uma eventual desfiliação da Uefa poderia acarretar.

·       Os clubes seriam responsabilizados por qualquer prejuízo da Uefa?
·       Os clubes continuariam obrigados a liberar seus jogadores para as seleções depois de sair da Uefa?
·       As ligas e associações poderiam penalizar os jogadores por participar da Superliga?
·       Os jogadores poderiam ter os contratos rescindidos caso o clube jogasse a Superliga?

Bayern de Munique e Borussia Dortmund, únicos alemães entre os 16 clubes, por sua vez, são casos à parte. Na Alemanha, os contratos dos jogadores possuem por obrigação uma cláusula que os liga exclusivamente à Bundesliga. Ou seja, abrir mão do Campeonato Alemão para disputar a Superliga poderia acarretar na anulação do vínculo dos atletas.
Segundo a reportagem, apesar dos questionamentos e balizados por um poderoso departamento jurídico, os clubes pretendem tornar a Superliga uma realidade.

Leia a íntegra da reportagem do Football Leaks, em inglês, clicando aqui.


Edição: Benê Lima

sábado, outubro 27, 2018

Entrevista com Marcelo Paz, Presidente do Fortaleza Esporte Clube


Marcelo Paz – Presidente do Fortaleza Esporte Clube

por Universidade do Futebol
"Futebol não pode ser tratado de forma amadora"

Sentado na cadeira da presidência do Fortaleza Esporte Clube há quase um ano, Marcelo Paz, de 35 anos, sonha alto. Não à toa, contratou Rogério Ceni para comandar o Tricolor no ano do centenário - comemorado neste 18 de outubro - e disputa o título da Série B do Campeonato Brasileiro, conquista nacional que seria inédita para o clube. Fora de campo, o dirigente também optou pela ousadia: aposta na profissionalização do clube para melhorar a gestão e obter mais receitas para, no fim, investir mais no futebol e ter sucesso nas quatro linhas.
Para movimentar as finanças do Leão do Pici, o mandatário aposta em dois setores: marketing e licenciamento da marca. O primeiro, para divulgar a imagem do clube; o segundo, para capitalizar a imagem do clube e a marca própria, a Leão 1918 - os produtos oficiais vão de picolé, cerveja e vinho aos próprios uniformes da equipe. Com dinheiro em caixa, segundo Paz, é possível formar um time competitivo, que terá resultados positivos, incentivará o torcedor a comprar mais produtos, ir aos jogos e se associar e possibilitará novas receitas, o que viabilizará novos investimentos na equipe e no clube. Mas, inicialmente, é necessário ter ousadia para montar um elenco qualificado para depois o torcedor dar a resposta, na visão do presidente.
No Tricolor desde 2015, Marcelo Paz já foi diretor de futebol e vice-presidente. Em novembro do ano passado, assumiu o comando do clube. Adotou medidas por uma gestão mais moderna e profissional, como a contratação de uma empresa de consultoria - o dirigente é formado em Administração e proprietário de uma escola na capital cearense, da qual se licenciou para se dedicar ao novo cargo. Com as finanças em dia, o presidente aponta as dificuldades, como dívidas antigas, mas destaca a autossustentabilidade do clube e ressalta a necessidade de responsabilidade na administração.
No departamento de futebol, priorizou a montagem de um elenco com condições para disputar o acesso à Série A, após oito anos na Terceira Divisão nacional. Exalta o perfil vitorioso do ex-goleiro e agora técnico Rogério Ceni, mas admite a pressão pela mudança no comando em momentos de turbulência na temporada, algo corriqueiro no futebol brasileiro, e diz que é preciso ter convicção no momento de escolher o treinador.
Graduado em Gestão Técnica no Futebol pela Universidade do Futebol, Marcelo Paz enxerga avanços na gestão do futebol brasileiro, mas reconhece que é necessário avançar e cobra mais oportunidades para qualificação dos dirigentes, também por meio das Federações e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Marcelo Paz e Muricy Ramalho. (Créditos: Divulgação/Fortaleza EC)


Confira a entrevista completa:
Universidade do Futebol: Qual a importância da profissionalização da gestão das diversas áreas do clube?
Marcelo Paz - Eu entendo que a profissionalização é uma obrigação, uma necessidade. Quando você trata o futebol como um “negócio, que movimenta milhões e paixões, ele não pode ser tratado de forma amadora, apenas com o tempo disponível da pessoa, quando der. A necessidade de profissionalização de um clube de futebol de massa é premente porque só vai funcionar assim. E mesmo se estiver tudo profissionalizado, ainda é difícil ganhar, porque futebol é difícil. Um clube de futebol é uma grande empresa, que emprega pessoas, paga impostos, tem um serviço social com a comunidade, está sujeito à legislação e penalidades esportivas e fiscais, então os diversos setores precisam estar profissionalizados, não só o futebol, mas também a administração, a contabilidade, o marketing, para fazer bom uso da imagem para captar recursos, o jurídico, porque muitos clubes sucumbem por contratos mal feitos, distratos mal feitos, passivos trabalhistas... Então tudo isso tem que ser olhado com muito profissionalismo. Se isso funcionar, vai ajudar a bola entrar.
Universidade do Futebol: O Fortaleza pensa em profissionalizar e remunerar os cargos de diretoria ou presidência e vice-presidência?
Marcelo Paz - Eu acho que tem que atingir essa condição, porque não é justo que as pessoas saiam dos seus trabalhos, das suas empresas, do seu dia a dia, dediquem-se ao clube e não sejam remuneradas. E o estatuto do Fortaleza já permite isso, porém tem que ser aprovado junto ao Conselho (Deliberativo) quando você vai lançar o orçamento anual. E eu acho que no dia em que isso for lançado, vai ter alguma rejeição de algumas pessoas mais conservadoras que entendem que quem está como dirigente tem só que servir e não pode ser remunerado. Mas é um contrassenso, né? Você pede profissionalismo, mas não remunera quem se dedica ao clube. É algo que tem que ser avançado politicamente. Alguns clubes já partiram na frente, fazem a gestão assim e têm tido sucesso.
Universidade do Futebol: Algum dos dirigentes atuais é remunerado?
Marcelo Paz - Não. Dirigente estatutário, presidente e vice-presidentes eleitos, ninguém é remunerado.
Universidade do Futebol: No início da sua gestão, o clube contratou uma empresa de consultoria para definir diretrizes de gestão. O que já foi realizado até agora e o que já há planejado para o seu próximo mandato?
Marcelo Paz - Muito foi realizado com a ajuda deles, porque a gente traçou um planejamento estratégico e faz um acompanhamento dele. Nós temos reuniões periódicas, já tivemos quatro, em que nós vemos o planejamento e fazemos a checagem do andamento desses pontos. Não vou lembrar de cabeça, mas foram 32 itens, alguns foram concluídos, outros vão estar sempre em andamento e alguns não andaram. Por exemplo, nós tínhamos a ideia de fazer aqui, no Pici, uma visita guiada, que seria uma forma de gerar receita. O clube está em reforma, talvez ainda não esteja tão atrativo e ainda não foi feito, mas foi definido no planejamento estratégico e a gente não executou. É um exemplo do que pode vir a ser feito, assim como muitas outras coisas já foram executadas.
Universidade do Futebol: Já é possível ver avanços e resultados em algumas áreas profissionalizadas do clube, como marketing e licenciamento da marca?
Marcelo Paz - O marketing do Fortaleza, hoje, é uma referência até a nível nacional, com números crescentes de seguidores em redes sociais, estando entre os principais do Brasil, em termos de engajamento estamos entre os principais da América, já tivemos comercial premiado até fora do país. Então, está a olhos vistos que o caminho da profissionalização gerou resultado para o clube como um todo. No licenciamento, hoje temos mais de 10 mil produtos licenciados e todos geram receita para o clube de alguma forma, nem que seja um pouquinho em cada. E nós temos que caminhar mais, porque licenciamento é um mundo. Todos os produtos que existem podem ser licenciados. Uma geladeira, por exemplo, pode ter a marca do Fortaleza. Um copo, um lápis, até um carro, se for o caso. O que não pode é usarem a marca do Fortaleza sem a nossa autorização. E nós temos combatido isso, não necessariamente brigando, mas trazendo para dentro, fazendo o licenciamento para realizar a venda de forma legal. São dois setores que já estão trazendo resultados e bons exemplos de que a profissionalização vale a pena.
Universidade do Futebol: Como o Fortaleza cuida da marca própria, a Leão 1918?
Marcelo Paz - Eu digo que o Fortaleza produz futebol e paixão. Isso é o que a gente produz. Na parte de camisas, a gente até tem um controle maior, porque nós compramos toda a produção da fábrica para revender aos lojistas para que o clube tenha um lucro maior. Nós desenvolvemos o layout da camisa e quem produz é a fábrica. Nós não temos uma fábrica de camisas aqui dentro, porque não é o nosso foco, nosso core business. Dos demais produtos, a empresa traz o produto no padrão que irá vender com a marca do Fortaleza, nós aprovamos e ela inicia a venda autorizada, tendo o nosso controle através dos selos que certificam que o produto é oficial. O cuidado que nós temos é de formalizar em contrato, muitos com garantia mínima de produção e retorno financeiro, e o controle através do selo. O Fortaleza não produz, mas licencia a marca, que é o principal ativo e é o que as pessoas amam. Se em um supermercado tiver um vinho sem a marca do Fortaleza e outro com a marca do Fortaleza, eu tenho certeza que o nosso torcedor vai preferir comprar com a marca, pelo menos a primeira vez, para provar. Se for bom, ele vai comprar mais vezes.
Universidade do Futebol: Quais as dificuldades de fazer futebol com finanças menores que os grandes clubes do Brasil, mas com despesas altas para a realidade do clube?
Marcelo Paz - A primeira forma de encontrar esse equilíbrio é não assumir despesas tão altas. É preciso ter cuidado com o que vai assumir. Por outro lado, se você for extremamente conservador, sem ousadia, você não vai formar um time competitivo, não vai ter uma comissão técnica competitiva. Tem que achar esse equilíbrio entre a hora que é preciso realmente investir e a hora em que tem que dar uma segurada. Por exemplo, nesse ano mesmo, na Série B, chegou um momento em que nós vimos que tínhamos chances de subir, e eu disse: 'A hora de investir é agora. Vamos contratar mais para não faltar peças lá na frente', aí trouxemos mais quatro jogadores para dar ao Rogério (Ceni) toda a condição. E aí é um investimento, porque você arrisca. Se o time conseguir subir, o dinheiro volta. O gestor tem que ter a coragem e a habilidade de fazer essa aposta e trabalhar para que dê certo. É o tempo todo nesse limite, mas a bola entrando facilita muito. Mas a bola só vai entrar se tiver um time bom e só vai ter time bom se apostar antes. Então, primeiro, você acredita e aposta, o time passa a ser competitivo - não é uma regra, mas é o ideal que seja - e depois o dinheiro passa a entrar, com venda de camisas, sócio-torcedor, estádio cheio, e isso faz o círculo ser virtuoso.
Universidade do Futebol: Esse é o melhor caminho?
Marcelo Paz - Esse é o caminho. Você pode ter a melhor gestão do mundo, o maior profissionalismo, todo mundo remunerado, um bom trabalho no marketing, administrativo, em todos os setores...mas se a bola não entrar, o dinheiro vai ficar mais escasso. O torcedor não vibra com o balanço (financeiro) do clube, ele vibra com o balanço da rede. Quando a bola entra na rede, aí ele vibra, consome, participa. Nós temos que ter muita responsabilidade com as finanças do clube, mas a bola tem que estar entrando. Isso é um fator determinante. Quando ela não está entrando e você tem um clube organizado, demora mais para a coisa ficar complicada. Então, o clube tem que estar organizado sempre. E quando está entrando e o clube é organizado, o dinheiro também vai entrar, porque as pessoas têm o que e como consumir.
Universidade do Futebol: Hoje, o Fortaleza é autossustentável com as próprias receitas?
Marcelo Paz - Hoje, o Fortaleza funciona só com as receitas próprias. Uma vez ou outra, a gente precisa fazer uma antecipação do sócio-torcedor, que é receita do clube, para um mês que teve um custo a mais, mas sempre com receitas próprias. Temos algumas doações ainda? Temos. Pequenas, dentro do todo que já foi, mas muito úteis. Às vezes não são valores, mas um equipamento. Você precisava daquilo, mas a prioridade era pagar a folha, aí alguém dá o equipamento. Que bom, porque senão só seria comprado daqui a dois ou três meses. São coisas que fazem parte de um clube de futebol, porque o torcedor também tem o prazer de poder ajudar. Mas hoje, com muita dificuldade, o Fortaleza é autossustentável, e a gente precisa avançar mais nisso.
Universidade do Futebol: O Fortaleza está com as finanças equilibradas? 
Marcelo Paz - As finanças estão equilibradas e em dia. Pagamos alguns débitos anteriores existentes, mas é no aperto. Eu preciso muito que nos próximos quatro jogos (em casa, pela Série B) entre um bom dinheiro no clube, para equilibrar as contas do final do ano.

Marcelo Paz (Créditos: Divulgação/Fortaleza EC)

Universidade do Futebol: Há muitas pendências de gestões passadas? 
Marcelo Paz - Têm algumas. O Fortaleza não é um clube que tem tantas dívidas, não, mas tem algumas. Se não tivesse seria melhor, porque esse dinheiro sobraria para agora. Mas faz parte, não cabe aqui criticar. Todo mundo que esteve aqui deu o seu melhor e buscou contribuir. Não é algo que chega a assustar. Quando aparece (dívida antiga), atrapalha, mas não chega a assustar.
Universidade do Futebol: Quais os critérios do clube para a contratação de um técnico de futebol?
Marcelo Paz - Primeiro de tudo, honestidade. No futebol, a gente consegue colher informações. Tem que ser honesto. É fundamental ser trabalhador. Não gosto muito daquele treinador espetaculoso, nem daquele perfil enérgico demais, porque isso tem prazo de validade e depois não tem tanto resultado. Eu gosto de quem estuda adversário, estuda o seu time, usa dados e estatísticas, e isso é importante porque te mostram algumas coisas. Eu gosto do perfil mais moderno de treinador de futebol. Aí, sim, eu declaro essa preferência por treinador mais jovem, que estudou, entende a importância de dados da fisiologia e preparação física, a importância da logística de viagem, da alimentação. São fatores que fazem a diferença. E, sobretudo, tem que ter o perfil vencedor. O Fortaleza é um clube que sempre entra para brigar para ganhar, então o perfil tem que ser vencedor, e esse foi um dos grandes pontos para trazer o Rogério Ceni. Embora como treinador ainda não tivesse uma carreira vitoriosa, ele foi tão vitorioso como jogador que não se permite ser diferente como treinador. E esse perfil tem sido interessante para o clube.

Universidade do Futebol: Em uma cultura resultadista como a brasileira, quais os desafios para se manter o técnico e a comissão técnica ao longo da temporada, principalmente nos momentos adversos?
Marcelo Paz - É difícil. Uma vez, eu estava conversando com uma psicóloga, e ela me disse que futebol é um drama. Todo drama tem um mocinho e um vilão. Eu já fui vilão no Fortaleza há um tempo. Às vezes, o vilão é o treinador. Como é um drama, o público quer uma cabeça e é a do treinador, mas não é o melhor a se fazer naquele momento. Como dirigente, você tem que tomar a frente, levar porrada. Eles vão bater no treinador, mas se o dirigente não tomar atitude, eles passam a bater em você. Aí, você tem que ter convicção de que está fazendo o melhor pelo clube e que o melhor é a continuidade. A troca de comando técnico mexe muito com o clube. Quando chega um novo treinador, se tiver tempo para contratar, ele vai querer contratar; alguns atletas que estão lá, talvez ele vá querer dispensar; o prepador físico que chega vai fazer um trabalho diferente do anterior, e o corpo do atleta é um só. Muda muita coisa. Então, o ideal é que se faça uma escolha muito bem feita para que não precise trocar no meio do caminho. Mas, às vezes, a troca também é necessária. Eu já tive, como diretor de futebol, situações em que foi necessário trocar e a mudança fez bem ao clube. Mas o ideal é você pensar bem e escolher bem para ter uma continuidade
Universidade do Futebol: O que você pensa sobre os atuais dirigentes do futebol brasileiro, tanto em termos de CBF quanto de clubes?
Marcelo Paz - Eu acho que a gente está evoluindo. O futebol brasileiro, em linhas gerais, tem tido clubes com melhores gestões. Em um passado muito recente, você via clubes com três, quatro meses de salário atrasado. Hoje, eu ouço muito pouco isso. Ainda tem um ou outro, mas diminuiu demais. Antes, era quase uma regra, hoje é uma exceção. Vejo os presidentes mais preocupados com orçamento, muitos com boas ideias. Não vou aqui criar um choque de gerações. O Grêmio, por exemplo, é um clube muito bem administrado, pelo que tenho de conhecimento, e o presidente (Romildo Bolzan Júnior) é um cara mais velho. O que existe é capacidade de gestão no futebol. Às vezes, você tem um grande gestor em outra área e ele assume um clube de futebol, mas não consegue fazer uma grande gestão. Acho que os clubes, hoje, estão bem geridos, porém tem muito o que se avançar ainda e acredito que falta capacitação, através da CBF e das Federações, porque aí ganha o futebol como um todo.
Universidade do Futebol: Algum deles serve como referência para você?
Marcelo Paz - Eu gosto muito do modelo do Flamengo, porque é um gigante que durante muito tempo teve problemas de gestão, com dívidas, e o modelo implantado pelo Bandeira (Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo) foi espetacular, porque hoje o clube é altamente superavitário, entendeu o tamanho da sua marca, capitalizou a marca, entendeu o peso da camisa e capitalizou isso, entendeu a importância da categoria de base, investiu, revelou talentos e vendeu jogadores, entendeu a importância de estrutura física e fez um CT maravilhoso. Então, são muitos avanços no Flamengo. E o futebol foi muito beneficiado pelos avanços dessa gestão, porque desde que essa gestão entrou, o clube pode até não ter tido conquistas espetaculares, mas nunca mais foi motivo de vergonha para o seu torcedor, porque está sempre brigando lá em cima nas competições.
Universidade do Futebol: Qual a importância do presidente ou gestor de um clube se capacitar e realizar cursos?
Marcelo Paz - A importância é máxima. Isso é formação continuada e serve para qualquer setor. Todos são diferentes. Se eu for administrar uma padaria, eu vou ter dificuldade, porque eu não entendo de padaria, qual o ponto do pão, que horas o padeiro chega, qual horário o cliente prefere comprar, quais produtos precisa ter, a localização... Todo segmento é diferente. A confecção é de um jeito, a escola é de outro, a padaria, a borracharia, o shopping... E o futebol também. Então, para estar no futebol, você tem que ter vivência esportiva, o traquejo, a lida dos problemas do futebol, e aí a capacitação é fundamental, porque é como você pode aprender muito, trocar experiências, fazer networking. É algo que eu acho muito necessário. Fiz curso na Universidade do Futebol, de Gestão Técnica do Futebol, e sempre que tem palestra ou algo parecido eu procuro estar presente para estar aprendendo.

*Colaboração especial
Universidade do Futebol | 26/10/2018 às 11:08 | URL: https://wp.me/p73HM8-jIK



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sexta-feira, maio 18, 2018

G7 do Nordeste chega a 100 mil sócios em dia e receita deve superar R$ 50 mi

Seja pela emoção, pelo embalo de uma conquista ou pelo humor, as campanhas de sócios vêm ganhando peso dentro das administrações dos clubes do Nordeste.
Considerando os sete maiores no futebol da região, as mensalidades de 2017 geraram R$ 40,46 milhões em receitas, fora ingressos e produtos licenciados comprados com descontos pelos associados. Em maio de 2018, o G7 ultrapassou a barreira de 100 mil associados titulares adimplentes. Tomando como base uma média de R$ 40 por plano, este quadro (105.210) poderá gerar R$ 50 mi nesta temporada, ou 4,2 milhões de reais por mês – mas com disparidade na arrecadação, já a partir do cenário recifense, como indica o ranking abaixo.
Como não poderia deixar de ser, as redes sociais funcionam como força motriz neste processo, com a ativação de vídeos de convocação, descontos, feirões de adesão etc. Abaixo, alguns deles, nos mais variados formatos. Tem a hilária participação do volante Derley no Fortaleza, a resenha de Jotinha no Bahia, o acesso do Vozão, a marca atingida pelo Vitória, a apresentação do Santa sobre o Tricolor de Coração, a campanha Ilha Lotada do Sport e a volta alvirrubra aos Aflitos.

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Total de sócios titulares adimplentes (entre parênteses, a última atualização)
32.000 – Sport (17/05)
19.086 – Fortaleza (17/05)
18.912 – Ceará (14/05)
16.000 – Bahia (15/05)
10.000 – Vitória (03/04)
4.730 – Santa Cruz (30/04)
4.482 – Náutico (17/05)
Receita com mensalidades em 2017 (entre parênteses, o percentual sobre a receita total)*
R$ 12,91 milhões – Sport (11,8%)
R$ 6,52 milhões – Bahia (6,2%)
R$ 5,77 milhões – Fortaleza (24,2%)
R$ 5,55 milhões – Vitória (6,3%)
R$ 4,22 milhões – Náutico (21,2%)
R$ 3,48 milhões – Santa Cruz (21,9%)
R$ 2,01 milhões – Ceará (6,3%)
* Dados obtidos através dos respectivos balanços financeiros

Fonte: Cassio Ziporli

quarta-feira, maio 16, 2018

CBF inaugura novo espaço na Granja Comary na sexta



Site Oficial da CBF


Perto de iniciar a preparação para a Copa do Mundo Rússia 2018 na Granja Comary, a Seleção Brasileira poderá contar com um novo espaço a partir desta sexta-feira (18). A CBF inaugurará o Centro de Excelência do Futebol Brasileiro, uma estrutura moderna e pensada para atender a três pilares - Treinamento, Ensino e Pesquisa.

Os profissionais de mídia credenciados para a cobertura dos treinos da Seleção Brasileira na semana seguinte estão convidados para conhecer o Centro de Excelência nesta sexta-feira. Com início às 11 horas, será realizado um tour com os jornalistas pela Granja Comary, local que servirá de concentração para a delegação nesta semana de trabalhos em Teresópolis. Edu Gaspar, coordenador de Seleções, e Fabio Mahseredjian, preparador físico, serão os guias.

Além do Centro de Excelência, a imprensa terá a oportunidade de conhecer toda a estrutura de hospedagem do CT da Seleção Brasileira, a recém construída sala do Centro de Pesquisa e Análise, a nova área do Departamento Médico e tudo o mais que estará a serviço da equipe nesta preparação para a Copa do Mundo.

Para participar desta pauta, os credenciados para os treinos na Granja Comary devem confirmar presença até a quinta-feira (17), às 13 horas, através do e-mail imprensa@cbf.com.br
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O gesto de solidariedade do Grêmio que emocionou os venezuelanos

Integrantes da delegação fizeram doação aos funcionários do hotel em Maturín

Eduardo Gabardo / Agência RBS
Grêmio deixou doações aos funcionários do hotel em que ficou hospedado

Durante a passagem por Maturín para o jogo contra o Monagas, pela Libertadores, os integrantes da delegação do Grêmio ficaram sensibilizados com a crise econômica da Venezuela. Os atletas não tiveram a oportunidade de circular muito pela cidade e ver de perto o drama das prateleiras vazias nos supermercados nem as madrugadas dos venezuelanos nas filas para conseguir sacar apenas o equivalente a R$ 5 pela manhã.

Puderam, no entanto, conversar com os funcionários do Hotel San Miguel Golf Club, local da concentração, e ouviram deles as histórias de sofrimento da vida na Venezuela. Todos ficaram extremamente sensibilizados com a situação. Imediatamente se tomou uma decisão, e os integrantes da delegação concordaram em reunir uma quantia em dinheiro para doação aos funcionários do hotel.

Quando começou o recolhimento da verba, todos fizeram questão de participar. Atletas, comissão técnica, dirigentes, seguranças, funcionários da logística, entre outros. O valor arrecadado não foi divulgado, mas se sabe que foi uma quantia significativa para os padrões locais.

E mais do que isso: também foi decidido entregar todos os itens de higiene pessoal levados, além de toda a alimentação que estava com a delegação. Em alguns momentos, a equipe que servia o Grêmio também foi convidada a participar das refeições. Todos que tiverem oportunidade de participar destes momentos relataram a emoção com o gesto do clube.

Mais do que a vitória, o Grêmio deixou na Venezuela um belo exemplo de solidariedade.
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