Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, agosto 28, 2016

Instalações olímpicas custam R$ 59 milhões por ano

Parque Olímpico da Barra ficará a cargo da prefeitura e o Parque de Deodoro, do governo federal
Manter funcionando as instalações do Parque Olímpico da Barra e do Parque de Deodoro usadas nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio custará R$ 59 milhões por ano aos cofres públicos. Essa é a previsão calculada pela prefeitura do Rio e pelos ministérios do Esporte e da Defesa, responsáveis pela administração dos locais.
A maior parte desses gastos – R$ 46 milhões por ano – será bancada pelo Ministério do Esporte e pelas Forças Armadas, que cuidarão da manutenção dos equipamentos esportivos de Deodoro. Já a prefeitura do Rio terá de arcar com R$ 13 milhões por ano para fazer a gestão e operação do Parque Olímpico da Barra em parceria com a iniciativa.   
Transformação das arenas olímpicas 
Para construir os equipamentos usados nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, o Governo Federal e a Prefeitura gastaram juntos R$ 2,8 bilhões. A União bancou R$ 2,09 bilhões e a prefeitura R$ 732 milhões. A iniciativa privada gastou R$ 4,2 bilhões para levantar as Arenas Carioca 1, 2 e 3, o Centro de Imprensa, o hotel de mídia, a Vila Olímpica e o campo de golfe.


A partir de 2017, em Deodoro, os estádios de hóquei sobre grama, tiro esportivo, rúgbi, pentatlo moderno e hipismo e a Arena da Juventude serão usados em conjunto com as confederações para o esporte de alto rendimento e treinamento de equipes do Exército. O projeto de legado também prevê como uso secundário desses espaços o aluguel para entidades esportivas. As instalações serão integradas através da Rede Nacional de Treinamento, criada pelo Ministério do Esporte.


O Parque Olímpico da Barra possui uma “arquitetura nômade”, que permite adaptações às estruturas do local. A Arena Carioca 1, palco dos os jogos de basquete na Olimpíada, por exemplo, será transformada em um centro de treinamento do boxe e tae-kwon-do e também sofrerá mudanças para poder receber shows e eventos. A ideia é transformar o local em uma arena multifuncional. 


Já a Arena Carioca 2 será exclusiva para treinamento. Dez modalidades devem passar a usar o local a partir do ano que vem. A Arena Carioca 3 passará a ser uma escola com capacidade para até mil alunos. A meta do prefeito Eduardo Paes é terminar as obras de adaptação ainda este para fazer a inauguração antes do fim do seu mandato.


A Arena do Futuro, onde foram disputadas as partidas de handebol nos Jogos Olímpicos, será desmontada. O material da arena será utilizado para construir quatro escolas municipais três na região da Barra e Jacarepaguá, zona oeste do Rio, e uma em São Cristóvão, zona norte. Cada escola terá capacidade para até 500 alunos.


Multiuso. Como as piscinas são desmontáveis, o Estádio Aquático Olímpico também será desfeito para a construção de dois centros de treinamento. A princípio, esses novos espaços ficariam no Parque Madureira, na zona norte, e em Campo Grande, na zona oeste.Mas, outras cidades demonstraram interesse em contar com as piscinas e, como a obra foi bancada pelo Governo Federal, o Rio pode ficar com apenas uma delas. Palmas, capital do Tocantins, poderá ficar com um dos equipamentos.


O Velódromo e o Centro de Tênis se tornarão centros de treinamento para atletas. Para o velódromo, onde foram quebrados 26 recordes mundiais e olímpicos durante os Jogos, os dirigentes buscam montar plano para manter o local ativo com eventos internacionais e base de treinamento de ciclistas da América do Sul, que não precisariam mais viajar até a Europa, onde hoje estão as melhores pistas do mundo. 
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sábado, agosto 20, 2016

A necessidade de resiliência do futebol brasileiro

Ser resiliente não significa perder sua essência, suas raízes, mas entender como é a melhor forma de otimizar suas características no cenário atual

“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças. ”
Leon C. Megginson
Olá!
Em minha primeira coluna “Crise Técnica do Futebol Brasileiro” busquei instigar os leitores a refletirem sobre o atual momento do nosso futebol, aproveitando a recorrente ideia de que “não possuímos mais tão bons jogadores como antigamente”, presente na maioria das discussões sobre o futebol brasileiro dos dias de hoje. A participação dos leitores tanto no site da Universidade do Futebol, como em sua página no Facebook, foi muito bacana, e a maioria dos comentários levam à conclusão de que nosso futebol necessita de mudanças em toda a sua estrutura.
Nestes tempos em que os Jogos Olímpicos têm dominado todas as mídias, me deparei com um vídeo muito interessante. Este apresentava a diferença entre as competições de ginástica da década de 1950 para a Olímpiada do Rio de Janeiro 2016.
Segue o vídeo:  Ginástica antes e agora  
A diferença entre a ginástica praticada há mais de 60 anos para a atual é gigante! Ao longo dos anos a modalidade foi ganhando mais dinâmica, novos movimentos, novos métodos de treino, etc. Tudo conduziu para a modalidade se tornar o que é hoje, e a tendência é que ela continue se modificando…
Motivado por esse vídeo, decidi fazer o mesmo com o futebol, porém em um espaço de tempo de 20 anos. Para isso, resolvi assistir às finais das Copas de 1970, de 1990 e de 2010 para buscar identificar as mudanças mais visíveis na modalidade.
Seguem os vídeos:
1970            1990           2010    

Ficam visíveis algumas diferenças no modo de jogo em cada um deles.


Além destes aspectos, destaco também:
  • Em 1970 são raras as marcações de impedimento, mais comuns em 1990 e 2010.
  • O contato físico entre os jogadores aumenta bastante em 1990 e 2010.
  • Os jogadores de defesa utilizam-se bastante da vantagem de poder recuar a bola, com os pés, para o goleiro pegar com as mãos em 1970 e 1990.
  • A distância entre as linhas das equipes, tanto para atacar quanto para defender, é muito grande em 1970, menor em 1990 e diminui muito em 2010. Os jogadores passam a estar mais próximos e as equipes mais compactas.
  • O jogo de hoje exige maior versatilidade dos jogadores.
  • As situações de 1×1 são menos constantes em 2010 do que em 1990 e 1970.
Uma análise mais profunda e detalhada poderia identificar outras inúmeras diferenças. Destaco estas por serem de mais simples visualização a partir dos vídeos e ficarem bem claras a qualquer um. Um dado interessante que se pode verificar em estudos científicos e na base de dados do site da FIFA, reforçando a crescente dinâmica do jogo, é o aumento da distância média percorrida pelos atletas e pelas equipes, o tempo efetivo de jogo (bola rolando) e a quantidade de passes trocados. 
A intenção aqui não é julgar valor, não é dizer que o jogo de hoje ou de ontem é melhor, mas sim entender que o jogo mudou e continua mudando, este é o fato que não se pode negar. Sendo assim, estando o jogo em constante mutação, aqueles que não souberem acompanhar e se adaptar a estas mudanças, terão grandes dificuldades em se manter competitivos, aí entra a necessidade de resiliência do futebol brasileiro que mencionei no título desta coluna. 
Ser resiliente não significa perder sua essência, suas raízes, mas entender como é a melhor forma de otimizar suas características no cenário atual. Acredito que nosso futebol tem sido pouco resistente à muitas mudanças que ocorreram no futebol, principalmente no que tange a métodos de treinamento, capacitação profissional e gestão esportiva. O Brasil não acompanhou com a mesma velocidade estas mudanças no jogo, mas felizmente ainda é tempo, ainda possuímos matéria prima suficiente para sermos extremamente competitivos e vitoriosos e, como alguns leitores comentaram, não é simplesmente copiando o que se faz lá fora, mas entendendo e adaptando as nossas demandas, as nossas necessidades e capacidades. Isso é o que nossos adversários fizeram e continuam fazendo. O Brasil não pode ficar estagnado na ideia de que vivemos uma “crise técnica”, todo brasileiro aprecia um jogo plástico, com refino técnico, e esse jogo é possível de ser praticado! 
Se desejamos continuar a ostentar a alcunha de “País do Futebol”, precisamos acompanhar e nos adaptar às mudanças do esporte e, para isso, não é necessário perdermos nossa essência, a qual esteve ao longo dos anos e ainda continua presente desde a Champions League até o famoso dez minutos ou dois gols. 

quinta-feira, agosto 18, 2016

Coaching Esportivo - O treinamento mental aplicado ao futebol


O futebol é um dos esportes mais popular do mundo e, com o desenvolvimento e os investimentos financeiros que estão caracterizando o movimento em terra chinesa, a tendência é de se consolidar cada dia mais como o esporte mais amado do mundo. Isto aumentará os interesses econômicos e teremos cada dia mais treinadores preparados e profissionais que trabalharão no ambiente do futebol. 

Se hoje a prioridade é atribuída pela preparação técnica e tática, no próximo futuro será fundamental cuidar também da preparação mental do atleta que tem o desejo de entrar na lista dos melhores 30 jogadores do mundo.

O Mental Coach, profissional que hoje na verdade é pouco considerada e bastante desvalorizado, será fundamental para ajudar a evolução profissional dos atletas. 

Apesar de ser muito comum encontrar Mental Coaches que trabalham com qualquer atleta, independente do esporte que praticam, para o ajudar a vencer, a tendência do próximo futuro será a especialização, isso é se dedicar a treinar mentalmente atletas de um esporte porque cada esporte tem as próprias caraterísticas e, por isso os atletas precisam de uma preparação mental diferente e especifica. 

Um jogador de futebol e um nadador não têm quase nada em comum e, portanto, precisam ser treinados de forma diferente.

Para satisfazer completamente as exigências dos atletas o Mental Coach precisa ser adequadamente preparado para enfrentar esse desafio de alto nível e ajudar o esportista a manter uma performance excelente ao longo do tempo.

O Coach que deseja trabalhar no mundo do futebol precisa saber que um jogador, dependendo da posição que ocupa no “onze” precisa de um treinamento detalhado e especifico e também de uma preparação “básica” comum a todo futebolista. 

O futebol é um esporte de equipe onde resistência atlética, velocidade, técnica, capacidade tática e jogo de equipe se juntam no espaço de 95 minutos. O jogo é a cada ano mais rápido e por isso o jogador precisa pensar e agir rapidamente.
Sendo um esporte de equipe a vitória do time depende de muitos fatores, alguns incontroláveis, mas também neste caso, muitas vezes, o placar final depende da forma que o atleta soube treinar (tecnicamente, taticamente e mentalmente) diariamente durante a semana. 
Atualmente durante o jogo são utilizados geralmente 14 (11+3) jogadores que ocupam posições diferentes no terreno de jogo e, portanto, existem caraterísticas e comportamentos diferentes que o Mental Coach precisa fortalecer garantindo para cada um deles o treinamento mental mais eficaz e produtivo para que cada atleta possa ter o melhor desempenho e mantê-lo ao longo de toda a competição. 

Acontece frequentemente de ver jogadores e times com um rendimento muito inconstante durante o campeonato, ou mesmo dentro do jogo e isto é explicável com uma palavra: estresse. Hoje em dia a incapacidade de baixar os níveis de stress depois do jogo e produzir a adrenalina necessária antes da performance é a principal causa da queda vertical de prestação de atletas e times de futebol.



Geralmente cada jogador precisa:

1) Manter elevada a concentração durante os 95 minutos de jogo.

2) Ser mentalmente “presente” (poder do agora) para ter a lucidez mental necessária, saber o que fazer e como fazê-lo.

3) Ter a consciência de possuir capacidades técnicas e táticas suficientes para lhe garantir o melhor desempenho possível.

4) Saber gerenciar o relacionamento com os companheiros de time, inclusive aqueles que jogam pouco.

5) Saber gerenciar o relacionamento com os adversários sem cair nas provocações e perder o foco, sendo isso um grande perigo que pode prejudicar um excelente desempenho.

6) Saber gerenciar o relacionamento com o juiz que no futebol tem um papel tão importante que pode, com suas decisões, influenciar a lucidez e a concentração do jogador. 

Se estas caraterísticas precisam ser treinadas com todos os jogadores existem áreas mais especificas que o Mental Coach deve “trabalhar” com cada atleta dependendo da posição que ele ocupa no terreno de jogo.

Por exemplo um goleiro necessita de: 

- Saber gerenciar as emoções e a tensão do jogo porque, ao contrário dos jogadores de movimento, não tem a possibilidade de descarregar fisicamente a tensão acumulada durante o jogo.

- Ter um elevado nível de concentração porque muitas vezes precisa estar preparado para fazer 1 / 2 defesas fundamentais a cada jogo.

- Estar sempre presente (poder do agora) evitando todas as possíveis distrações e mantendo a lucidez para saber “ler a ação” antes da mesma acontecer.

- Ter plena consciência de suas capacidades para aproveitar 100% todas as qualidades técnicas e atléticas.

- Desenvolver capacidades de liderança para poder guiar os próprios zagueiros e, de certo modo, contribuir a organizar a defesa do time. 

- Ter plena confiança em si próprio para transmitir confiança e segurança a todos os companheiros do time.

Os zagueiros por sua vez precisam:

- Desenvolver uma grande confiança em relação a suas capacidades táticas e físicas.

- Manter um elevadíssimo nível de atenção durante 95 minutos de jogo.

- Possuir a capacidade de se adaptar rapidamente aos movimentos dos adversários para ter segurança, decisão e prontidão em todas as ações defensivas. 

- Precisam controlar as emoções para passar segurança aos companheiros e garantir uma excelente saída de bola.

Desde sempre se diz que os jogos se ganham no meio campo, portanto quem joga nesta posição deve desenvolver:
- Uma presença mental extremamente ativa para tomar decisões de jogo rápidas e eficazes.

- A capacidade de gerenciar os espaços para se mover com proveito em todas as direções otimizando os esforços, “fazendo correr a bola” e “dirigindo o time”.

- Liderança acentuada.

- Lucidez mental e intensidade que garantam intervenções eficazes, rápidas e dentro do regulamento do jogo.

- Capacidade mental de saber quando atacar, defender e impostar o jogo (calibrando os passes).

- Capacidade de gerenciar as faltas (feitas e recebidas).

- Capacidade de conversar com o juiz de forma construtiva.

Muitas vezes é fundamental para ganhar o jogo a prestação do atacante que, algumas vezes, pode permanecer muitos minutos sem nem tocar a bola e por isso precisa desenvolver capacidades especificas que o tornem infalível na hora de aproveitar a única oportunidade de marcar um gol.

Um atacante precisa ter:

- Força mental para permanecer concentrado durante um jogo onde pode receber somente uma bola útil. 

- Capacidade de controlar o instinto egoísta para poder fazer em cada jogada a escolha melhor para o time.

- Intuição aguçada perto do gol para aproveitar as fraquezas do adversário. 

- Plena consciência do próprio potencial para aproveitar todas suas qualidades em qualquer momento do jogo. 

- Capacidade de gerenciar as faltas recebidas mantendo alta a concentração e o foco no objetivo principal.

O Mental Coach deve mostrar aos jogadores quais são os desafios dos companheiros dentro do campo porque desta forma o time conseguirá jogar com uma “única mente coletiva” que levará cada um dos protagonistas dentro do campo a utilizar sempre o máximo potencial.

Quando o jogador de futebol alcança o equilíbrio técnico, tático e mental as prestações irão melhorar constantemente e conseguirá a controlar um dos maiores inimigos que um jogador profissional precisa enfrentar: a tensão nervosa pré e pós jogo. 

É fundamental lembrar que antes de ser um grande atleta, o jogador (ou jogadora) de futebol deve ser um homem (ou mulher) consciente das suas capacidades, deve conhecer quais são seus valores que determinam todas suas escolhas, dever saber qual é sua missão e ter sempre claro quais são seus objetivos a curto, médio e longo prazo.

Como em qualquer atividade da vida quem possui um alto nível de autoconhecimento, é consciente do próprio valor e sabe onde quer chegar, tem grandes possibilidades de alcançar o sucesso que deseja e merece.

P.S. Se achar que esta postagem possa ser útil para seus amigos, utilize os botões aqui em baixo para a compartilhar nas redes sociais. O apreciaria muito, obrigado.

®© Diego Trambaioli
Foto: Google Search

terça-feira, agosto 16, 2016

UNIFUT realiza evento para discutir calendário e regulamento de competições


O evento terá um dia inteiro de debates sobre o Cronograma e Calendário de 2017, além de uma apreciação sobre o Regulamento Geral das Competições da FCF 

 Cerca de vinte representantes do Instituto Unidos Pelo Futebol, o UNIFUT, entre diretores e convidados, estarão reunidos na sexta-feira, 19, para análise do Cronograma e Calendário do futebol cearense para a próxima temporada.
Também será apreciado o Regulamento Geral das Competições da Federação Cearense de Futebol, que se espelha no congênere da Confederação Brasileira de Futebol.
Representantes das entidades fundadoras do UNIFUT, tais como FCF, Safece, Sintrefuce, Sindarf, Uniclubes, Agap, LCFF e Apcdec também estarão presentes ao encontro.
O evento terá início às 8 horas e tem término previsto para as 18 horas.
(Texto: Benê Lima)
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Seis em dez escolas públicas do Brasil não têm quadras para atividade física


No Rio de Janeiro, menos da metade dos colégios atende a requisitos básicos

Alunos da Escola Técnica Prof. Camargo Aranha, na Zona Leste de São Paulo, usam as instalações do Parque da Mooca e relatam roubos de equipamentos e de objetos pessoais pela falta de segurança no local - Edilson Dantas / Agência O Globo


Por Renata Mariz


BRASÍLIA E SÃO PAULO - Palco atual do torneio mais grandioso do mundo, o Brasil está longe de uma performance olímpica quando o assunto é a prática de esportes nas escolas. Seis em cada dez unidades públicas de educação básica do país não contam com quadras esportivas, segundo dados inéditos do Censo Escolar 2015. O problema atinge, em termos percentuais, 65,5% dos colégios. A proporção é levemente menor que a verificada em 2013, de 68,1%, mas ainda é considerada um sério entrave no aprendizado associado à educação física, componente curricular obrigatório do ensino básico.
Para Priscila Cruz, do movimento Todos pela Educação, há uma tendência equivocada de se desprezar a educação física enquanto são favorecidas as áreas tradicionais de ensino, como linguagens, matemática e ciências. Por esse motivo, segundo ela, os investimentos são escassos na infraestrutura exigida para o desenvolvimento da disciplina, por vezes encarada como mera recreação.
— Precisa ficar claro que a atividade esportiva é fundamental para o desenvolvimento integral e bem-estar do aluno, inclusive com evidências muito fortes que as habilidades não cognitivas, como persistência, comunicação e trabalho em equipe têm grande impacto no aprendizado de português e matemática — diz Priscila.

Na avaliação da ex-jogadora de vôlei Ana Moser, que preside o Instituto Esporte Educação e o Atletas pelo Brasil, entidades ligadas ao tema, o viés inclusivo da educação física é algo que precisa ser resgatado nas escolas. A falta de espaços e equipamentos adequados restringe a atividade a uma minoria de alunos que já se identifica com a vida de atleta, segundo ela.

  - Editoria de arte
— A ausência grave de infraestrutura leva o esporte nas escolas a incorporar essa visão de trabalhar só com os melhores, de criar atletas. Quando na verdade a educação física é algo muito mais amplo. Tem a parte física, mas também influencia outras dimensões — diz a ex-jogadora.

Pelos dados do Censo Escolar 2015, Maranhão e Acre têm a pior situação, com mais de 90% das escolas da educação básica sem quadra. Mato Grosso do Sul e Distrito Federal apresentam os melhores índices, e ainda assim têm cerca de 30% dos colégios sem o espaço. No Rio de Janeiro, sede dos Jogos Olímpicos, esse índice é de 48,5%. E São Paulo, que abriga a maior rede pública de ensino do país, têm 37,4% de unidades carentes de quadras.

Para resolver o problema de falta de espaço, a Escola Técnica Prof. Camargo Aranha, na Zona Leste de São Paulo, utiliza quadras no Parque da Mooca, a 500 metros da unidade. No local, onde funciona a subprefeitura da região, o GLOBO presenciou espaços sem redes de vôlei e tabelas de basquete sem aro, e passou por um grupo usando drogas, às 10h da manhã. Os alunos relatam roubos de equipamentos e objetos pessoais durante as aulas. Há ainda uma sala onde são guardados os materiais utilizados nas atividades, que está trancada há mais de dois meses, segundo estudantes. A saída, relatam eles, é levar material de casa ou carregá-lo da escola para a praça.

O Centro Paula Souza, que administra as Escolas Técnicas do Estado de São Paulo, informa em nota que os alunos da Escola Técnica Prof. Camargo Aranha são acompanhados pelos professores quando saem para as aulas por motivo de segurança, e que essa sala onde fica o material é aberta durante as atividades. A instituição diz ainda que alguns alunos levam bolas de casa para jogar em momentos de lazer, não para usar nas aulas. Já a secretaria municipal de Esportes, Lazer, e Recreação disse que o problema de usuários de drogas e de manutenção do local é responsabilidade da segurança pública, uma vez que materiais são roubados ali. A pasta confirma que a sala utilizada pelos alunos para guardar material está fechada e justifica que isso se deve às constantes invasões no local.

Falta de cobertura

Mesmo em escolas que têm quadras, falta estrutura: em 42,6% dessas, não há cobertura e, em dia de calor, o exercício é debaixo de sol. Se chover, não tem aula. Para o aluno do Distrito Federal Lucas da Silva Rodrigues, de 14 anos, a “pior parte” de estudar no período vespertino é ter que ficar sem educação física quando o sol está forte. Com uma quadra descoberta, o Centro de Ensino Myriam Ervilha, no Recanto das Emas, cidade a cerca de 25 km de Brasília, costuma suspender as aulas no período de seca, que está próximo de começar, por determinação da Defesa Civil.

— Aí a gente tem que ficar na sala, jogando dominó ou fazendo alguma tarefa. É muito ruim — reclama o aluno do 7º ano.

Para outros improvisos das aulas de educação física Lucas dá de ombros. Não se chateia em ter que passar o rodo na quadra após as chuvas ou usar a rede de vôlei para jogar badminton, seu esporte favorito. Ao passar pelo buraco de uma tela instalada para aparar objetos, em busca da bola que escapou por ali, Lucas dá um salto pendurado em uma das barras da estrutura.

Mauro Banck, diretor da unidade escolar que atende 2,2 mil alunos do 6º ano ao 3º do ensino médio no DF, além de Educação de Jovens e Adultos, diz que a reivindicação da cobertura na quadra é antiga. E defende que a falta da estrutura prejudica uma série de eventos do colégio ao longo do ano.

— Nossa feira de ciências acaba sendo dentro das salas, que são quentes e não favorecem a circulação. Para fazer a festa junina este ano, tivemos que providenciar lonas — conta Banck. — Se eu tivesse uma cobertura na quadra, poderia abrir a escola para a comunidade fazer atividades, como aulas de ginástica aos sábados, por exemplo.  

Alunos da Etec Prof. Dra. Doroti Quiomi Kanashiro Toyohara, em Pirituba, realizam atividades esportivas no pátio do estacionamento por falta de quadra de esportes - Edilson Dantas / Agência O Globo


Pelas normas educacionais a educação física deve ser ministrada obrigatoriamente por professores com licenciatura, nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e no ensino médio, mas a realidade é bem diferente nas escolas. Segundo dados do Ministério da Educação, apenas 34% dos docentes da disciplina tinham a formação adequada no ensino médio regular do país.

— Há professor de ciências ministrando educação física para completar a carga horária. É ruim para o profissional e para o aluno — diz Heleno Araújo, diretor de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.

Em nota, o Ministério da Educação afirmou que a atual gestão, iniciada em maio, vai honrar “dívidas já existentes” por considerar que “as quadras são essenciais para as atividades esportivas nas escolas de educação básica de todo o Brasil”. O passivo, segundo a pasta, é de 3.178 quadras com obras iniciadas ou programadas, tendo sido repassado R$ 1 bilhão para tais projetos, que demandarão mais R$ 962 milhões até sua conclusão.


Colaborou Luiza Souto

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