Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, novembro 21, 2007

Escolas de educação física têm erro conceitual na programação

Treinadores esportivos devem ser mais ligados às ciências humanas do que biológicas

Autor: Guilherme Costa
Revisão e intertexto: Benê Lima

Antes de decidir qual é a formação tática mais adequada para uma partida ou qual vai ser a programação para um treino, um técnico precisa conhecer e saber interpretar seu elenco. Não adianta escolher os 11 jogadores com fundamentos mais apurados se eles não estiverem em boa fase emocional ou tiverem problemas de relacionamento. Diante de tantas possibilidades de conflitos internos ou interpessoais, os treinadores ainda carregam um problema oriundo de sua má formação: o conceito de educação física.

O filósofo francês René Descartes (1596 – 1650) foi responsável por uma separação conceitual entre alma e corpo. Para ele, o pensamento era essencialmente da alma e o corpo era um objeto no espaço (portanto, em movimento). Assim, a medicina e a educação física surgiram como ciências voltadas unicamente para os cuidados com o corpo.

Um dos responsáveis por uma mudança conceitual na educação física moderna foi o português Manuel Sergio, que esteve no Brasil na há bem pouco para conversar com treinadores e preparadores físicos de futebol. A principal meta dele, evidenciada desde o início da palestra, foi explicitar que a atividade de um técnico deve ser permeada por conhecimentos das ciências humanas e não apenas biológicas.

“O ser humano é mais do que a gente vê. Um conceito que eu defendo desde 1968 é a idéia de totalidade, de não separar corpo e mente. Hoje em dia essa palavra foi substituída por complexidade, que é uma característica fundamental a todo ser humano. Portanto, não adianta um treinador tentar trabalhar com seus atletas sem ser um especialista em ciências humanas. Se ele não for, nunca vai deixar de ser mediano”, determinou Manuel Sergio.

A explicação do português para essa idéia de dar ênfase ao caráter humano na formação de profissionais de educação física é a implicação que a função deve ter na equipe: “Nenhum técnico é médico e nem deve ser. O futebol é uma reunião de várias ciências, e não apenas as biológicas. E o treinador deve ser extremamente dotado em humanidades para ter liderança suficiente para comandar um grupo”.

A postura de Manuel Sergio foi corroborada pelas palavras do treinador Celso Roth, que esteve no evento. “Cabe ao treinador saber administrar e liderar uma equipe, e essa é uma tarefa que exige muito trabalho psicológico. Não estou falando de psicologia só motivacional, mas é preciso saber lidar com cada um dos atletas. O treinador precisa ter a sensibilidade de tentar entender o momento de cada um”, explicou.

“Trabalhar com um grupo de pessoas é sempre complicado, e por isso é que os treinadores precisam estar preparados para lidar com uma série de conflitos. Tentar entender os atletas é um ponto fundamental para tentar tirar o melhor da equipe”, completou Nelsinho Baptista, que também esteve no evento.

O ideal do pensamento de Manuel Sergio é que os treinadores esportivos tenham uma formação baseada nas ciências humanas e que sejam cercados por uma equipe multidisciplinar para ajudá-los nas questões biológicas. É por isso que o português ressaltou tanto a participação do restante da comissão técnica.

“Um saber não progride sozinho. Por isso, é fundamental que o treinador se cerce de profissionais que sejam especialistas em suas áreas e que possam contribuir para ele tomar as decisões. E cabe a ele, com o desprendimento necessário para um profissional da área de humanas, tomar as decisões que sejam melhores para a equipe a partir das características pessoais que ele dispõe”, completou o português.

O grande impasse para que o caráter interdisciplinar seja inserido nas comissões técnicas do futebol atual, portanto, ainda é a figura arcaica e despreparada que aparece na grande maioria dos treinadores. E esse problema conceitual reflete uma formação errônea, que não é privilégio de novos ou veteranos.

“Ter uma equipe multidisciplinar é muito fácil e até comum nas comissões técnicas atuais. O problema é que ninguém usa isso e ninguém permite uma interação entre as áreas. É fundamental que o técnico tenha segurança para fazer trabalhos assim e não se sentir ameaçado”, disse Celso Roth.

O preparador físico do São Paulo, Carlinhos Neves, também defendeu a importância da atuação dos profissionais da comissão técnica: “Tudo precisa ser feito em conjunto, com a evolução da equipe sendo o objetivo mais claro. E é importante tentar estabelecer um diálogo para ganhar a confiança do atleta e ajudar o trabalho. Não dá para trabalhar só com testes e resultados frios”.

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segunda-feira, novembro 19, 2007

Com Pé e Cabeça - 102



”O futebol cearense existe, e precisa ser reinventado.” (Benê Lima)



Opinião
O SAUDÁVEL PAPEL DAS OPOSIÇÕES

O futebol cearense ainda não compreendeu o verdadeiro significado dos nossos clubes terem oposição dentro deles. Isto é atraso!


Quem já ouviu falar sobre Marcelo Teixeira, atual presidente da executiva do Santos/SP, deve também saber que ele tem realizado um grande trabalho à frente do clube da Vila Belmiro. E nem por isso ele deixa de enfrentar oposição, nem assim ele será reconduzido, através de conchavo político, à presidência do Peixe. Pelo menos duas chapas lhe farão frente – coligadas ou em separado. São elas, a Terceira Via e a Associação Resgate Santista.

Se partirmos dos exemplos dos grandes clubes brasileiros, forçosamente admitiremos que, no caso em questão, bom para os grandes clubes, melhor ainda para os nossos pequenos. Afinal, neles não mais cabe o caudilhismo como estilo, nem mesmo o centralismo como modelo.

O monitoramento do eixo da liberdade dos dirigentes deve mobilizar as oposições, a quem compete unir-se à situação em torno dos bons projetos, insurgindo-se contra os maus elaborados. Não é à toa que temos aconselhado nossos cartolas a submeterem ao crivo das urnas um projeto para o clube que pretendem dirigir, sob o qual conduzirão suas administrações. Desse modo, além de terem a pré-aprovação de sua gestão, ainda a ela aduzirão a legitimidade, através do cumprimento de cada uma das proposições constantes no projeto pré-aprovado.

Ceará e Fortaleza

Sabemos que nos estatutos tanto do Ceará quanto do Fortaleza, remanescem anacronismos que, de um lado impedem a adequação destes clubes a uma nova situação, e de outro preserva o que não é para ser preservado e não constrói salvaguardas para o que é importante resguardar.

No Fortaleza há coincidência entre o mandato de sua diretoria executiva e de seus conselhos deliberativo e fiscal. Esta condição facilita a irrestrita adesão do conselho deliberativo à diretoria executiva, situação que não é saudável como medida profilática para a democracia e para as ações de fiscalização inerentes aos conselhos deliberativo e fiscal.

Já no Ceará, o estatuto contempla o conselho deliberativo, como órgão máximo e soberano do clube, estabelecendo um mandato que é o dobro do da diretoria executiva. Deste modo, dá-se mais independência e maior autonomia a ele (conselho), o que reduz a possibilidade de desregramento e induz a maiores níveis de probidade administrativa.

Cuidados e avanços

Uma das leituras que podemos fazer sobre a situação político-administrativa dos nossos dois maiores clubes é a de que eles caminham para um processo muitíssimo parecido. No Tricolor do Pici o patrocinador virou co-gestor, tendo a adesão de um conselho deliberativo meramente homologatório. No Alvinegro de Porangabuçu o patrocinador é também o gestor, enquanto o conselho deliberativo tem tentado assumir a condição de oposição. Mas o que parece nos reservar o futuro próximo é a ascensão da Rabelo à condição de controladora, tanto da diretoria executiva quanto do conselho deliberativo. E a partir daí, ‘adiós’ oposição.

Entre estagnação e retrocesso, enfim vislumbramos algo que nos parece um avanço: a vontade política de coibir a politiquice – que rima com canalhice. Criar-se-ia um dispositivo estatutário que impediria a utilização do clube para fins eleitoreiros, como uma tentativa de desestimular a dele fazerem uso os oportunistas.

O atual curso das coisas nos faz supor a possibilidade de ter havido uma conversa – mesmo que ocasional e informal – entre os mandatários da Santana Têxtil e Rabelo, nos seguintes termos: “Faça no Ceará o que fizemos no Fortaleza, e só assim você terá sossego.” Ou seja: só o refreamento do conselho deliberativo poderá transformar as encrespadas ondas do Alvinegro em remanso.

Cuidando-se das más, ficam as boas lições da política.

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EFEMÉRIDES

Ufa!

Uma vitória suada, com gol em jogada de contra-ataque, já na fase de acréscimos da partida. Isto, por si só, já retrata o tamanho do esforço empreendido pelo Fortaleza para superar a equipe do Paulista. O que parecia fácil, pelo momento e pela jogada do gol inaugural de Osvaldo pelo Tricolor cearense, não passou de uma falsa impressão; menos pelas qualidades do time paulista, e mais pela inapetência do time cearense. Houve momentos em que fomos acometidos pela idéia de sugerir um parasitológico de fezes aos atletas leoninos, tamanha a falta de iniciativa de alguns deles. Aliás, podemos mencionar a falta de constância na disputa dos 90 minutos das partidas como o grande problema deste grupo do Fortaleza.

Análise dispensável
Neste momento é mais importante a análise do que faltou a nossos times para terem ascendido à Primeirona, do que o comentário pontual de partidas que não mais despertam o interesse da maioria dos torcedores. Há instantes em que me pergunto que tipo de avaliação vinha sendo feita – se é que vinha – da performance individual dos atletas leoninos; questiono-me a respeito dos modelos de ‘scouts’, do tipo de instrução que é passada aos atletas e do que é feito a título de informação didática para melhorar o desempenho de cada um deles. Também me pergunto sobre se algo tem sido feito para corrigir os vícios intracampo dos menos produtivos. Eis, pois, algumas das questões que são (ou deveriam ser) da alçada dos departamentos técnicos de futebol, especialmente de suas comissões técnicas.

Resultado mais que normal
O triplo palpite caberia muito bem ao jogo Ponte e Ceará. Logo, o empate foi um resultado natural para a circunstância de momento. Natural, contudo, não significa, necessariamente, que o placar expresse justiça do ponto de vista da produção das duas equipes. No que pese a maior pressão da equipe pontepretana – que por sinal é bem limitada –, lamenta-se que o alvinegro cearense tenha cedido o empate ao apagar das luzes. Não que imaginemos – como a maioria – que não se toma gol na reta final da partida. O gol é normal em qualquer momento do jogo; inclusive nos acréscimos, como fez Daniel Sobralense em prol do Fortaleza, decretando a derrota do Paulista de Jundiaí. A explicação para os gols sofridos pelo Ceará e as circunstâncias a ele inerentes, passam por uma teorização pertinente ao mundo do futebol, e não ao sobrenatural.

Dunga patina
Vida de treinador não é fácil. E quanto mais capacitado tecnicamente for o grupo de atletas, mais se exige deles e de seu técnico. Sabemos que a mudança de jogadores no decorrer de uma partida, em regra costuma produzir mudanças mais produtivas e decisivas. Todavia, é na mexida do posicionamento da equipe e na otimização das oportunidades para as mudanças no planejamento tático que residem a maior qualidade de um técnico de futebol. E, nestes quesitos, Dunga tem-se mostrado no mínimo omisso. Assistir passivamente as más atuações de Ronaldinho e de Mineiro e não tomar nenhuma providência é inaceitável para um técnico de Seleção Brasileira. Também sabemos que é um enorme desafio estabelecer um padrão tático convincente a um time que possui certo número de craques. Já pensou se a atual Seleção tivesse mais craques, além de Kaká, Ronaldinho e Robinho? Pior seria...

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BREVES E SEMIBREVES ®

Um vitorioso.
O técnico Vagner Benazzi consegue seu décimo acesso. Três deles só para a Série-A. Da receita do sucesso, faz parte a coragem dos dirigentes em manter o treinador, mesmo correndo determinados riscos.

Em alta. Quem também obteve prestígio foi outro ex-técnico do Fortaleza, Dorival Júnior, este no comando técnico cruzeirense. Dorival foi tremendamente sacrificado por uma política de experimentação adotada em sua passagem por aqui.

Em baixa. Zetti parece ter encerrado o seu ciclo no Fortaleza. Treinador que em tão pouco tempo ver inspirar sua liderança diante do grupo, merece ter sua competência questionada.

Bom-senso... é o que às vezes falta a certos policiais. O PV com apenas mil e poucas pessoas, e alguns policiais posicionados no setor de cadeiras à frente dos torcedores, impedindo que estes tivessem a visão do campo de jogo. Meus caros, sejam menos toscos e respeitem o direito do cliente.

Revisão. O torcedor reclama veementemente das redes de proteção em locais estratégicos do PV. Pelo que pude apurar, seria a cor branca o que mais atrapalha, pelo alto índice de reflexão.

Que idéia... paupérrima a do presidente do Fortaleza, Marcello Desidério, ao expressar sua imensa satisfação pelo fato do Fortaleza terminar (será?) a competição à frente do seu maior rival. Mentalidade paroquiana ou espírito do paroxismo? Ou os dois?

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(*)”A pobreza material pode ser transitória e sujeita à temporalidade; já a indigência espiritual é perene.”
(*) Benê Lima, FRC/


Benê Lima
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terça-feira, novembro 13, 2007

Com Pé e Cabeça - 101

”O futebol cearense existe, e precisa ser reinventado.” (Benê Lima)

Opinião
O SONHO VIROU ASSOMBRO

Nossos representantes no Brasileirão-B, tiveram seu sonho comum transformado em estupefação, ante a realidade de seu adiamento


Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar! Poucas vezes uma analogia representou tão propriamente a correlação entre as campanhas de Ceará e de Fortaleza quanto agora.

Como que de mãos dadas, orbitando em círculos concêntricos a partir do ponto focal do G-4, nossos times se mantiveram quase que em ‘homovozes’ e em ‘homo-ritmos’ (vozes e ritmos comuns). As alternâncias foram poucas ao longo do percurso da Série-B, mas até no folguedo final a coreografia de ambos manteve certa harmonia. Na mesma rodada, sob a mesma condição de derrotados, eles conseguem a ‘proeza’ de fazer vergarem-se os sonhos de seus torcedores, que pelo visto não terão direito sequer a levarem até a derradeira rodada a chama acesa da esperança.

Mas, não creio que seja justo proclamar-se que tudo vai mal e que tudo foi feito de forma errada e que todos são incompetentes. Não é bem assim.

Direi que, em se tratando do Alvinegro de Porangabuçu, houve sim algum progresso, tanto dentro das quatro linhas quanto fora delas. O Ceará pôde contar com um melhor quadro de suporte, do qual destacamos Evandro Leitão e Jurandi Júnior. Em sua Comissão Técnica, diferençamos a figura maiúscula de Heriberto da Cunha. Claro que revisar alguns conceitos, aprimorar procedimentos, delegar funções, planejar mais adequadamente, tudo isto deve fazer parte de um processo de ajuste para a próxima temporada.

Do lado do Tricolor do Pici, progresso em sua gestão não houve; retrogradação e estagnação são com o que nos deparamos. No entanto, por uma questão de justiça, vale anunciar que somos mais exigentes com o Fortaleza por ele possuir quadros diretivos que melhor o tem representado. Por isso, embora discordemos de alguns critérios e métodos, externamos nosso reconhecimento pela monta do trabalho e pela expectativa vitoriosa com que ele foi realizado. Inequívoca a complexidade do que precisa ser feito no Leão, já que diferentemente de seu maior rival, a mais significativa mudança a ser realizada é a incorporação de conceitos e práticas do verdadeiro profissionalismo.

O contraponto do nosso reconhecimento, pelas doses homeopáticas de meritocracia administradas em nossos clubes (Ceará e Fortaleza), representa tão-só nossa solidariedade para com a leva dos esforçados dirigentes, o que não significa nossa adesão a práticas viciadas pelo antiprofissionalismo.

Também não estou convencido de que nossas torcidas estão a salvo de quaisquer co-responsabilidades. Para os ‘lambe-escudos’, por certo o discurso é o mesmo: O torcedor, seja qual for sua relação com o clube, não passa de vítima. Nós, contudo, já não somos animados e tampouco alentamos essa versão farsesca, ilusória. Não podemos concordar que o torcedor não se inclua – mesmo que parcialmente - no processo de decisões e influências que movem a administração do seu clube do coração.

Ampliar o nível de sua participação no clube pelo qual torce, deveria ser um dos ideais de todo torcedor. O envolvimento do torcedor com o seu clube representa, potencialmente, mais idéias, menor quociente de divisão de responsabilidades, maior legitimidade para as decisões tomadas, crescimento das receitas de arrecadação dos jogos, dos programas de sócio-torcedores e das diversas campanhas de marketing e promoções geradas pelo clube.

Os torcedores do Ceará e os do Fortaleza também devem sentir-se –como diz certa música – ‘ligeiramente grávidos’, pela necessidade que seus clubes têm, de gerarem um embrião que atenda pelo prenome de Projeto, pelo nome de Planejamento, e cujo sobrenome seja Execução.

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EFEMÉRIDES

Tragédia ou fracasso?

Fiasco, apenas! Seria exagero transformar as derrotas do Ceará e do Fortaleza em tragédias. A participação destes dois times na Segundona brasileira deve ser analisada dentro do contexto da competição. Desse ponto de vista, os resultados negativos do passado fim-de-semana representaram tão-somente um componente a mais na formação da média de suas participações. É melhor enxergarmos as coisas desse modo, a fim de que evitemos a radicalização das opiniões. Tenho defendido a tese de que a ocasião para crítica e revisão é o ‘durante’; a oportunidade para planejar é o ‘antes’; a hora para aliviar, repensar e reconstruir é o ‘depois’. Concedo aos que fazem nosso futebol um momento para reflexão, profunda e conseqüente reflexão. Por isso, suavizo.

Remo, remou em remanso?
Nem tanto, mas sobraram remadas. O time azulino fez um pouco mais que o suficiente para superar a equipe do Pici. Resumindo: ganhou com sobra. Paradoxalmente, isso não nos impediu de admitirmos a possibilidade de vitória do time cearense. Explico. Se aquela pressão remista, acentuada a partir da exclusão do meia Rogerinho, não tivesse sido convertida em gols, teríamos um outro vencedor que não o Clube do Remo. E aí, haveria justiça nisso? Haveria, sim! Bastaria procurarmos as explicações para o reverso. Aliás, quando o comentarista não encontra justificativa para um dado resultado na produção das equipes, ele se socorre do nível de aproveitamento delas.

Causas e efeitos
Encontrar a razão principal da derrota do Fortaleza frente ao Remo não é tarefa fácil. Também não seria justo atribuir a um único setor da equipe a causa singular para o fracasso. Se lá na frente a coisa não andou tão bem, atrás o negócio correu pior. A dupla de zaga formada por Rômulo e Juninho não se entendeu. A assistência defensiva de Rogério, Léo e Cristian foi insuficiente. Se o setor ofensivo tivesse compensado a desarrumação defensiva, as chances de vitória teriam sido bem maiores. Outro fator que dificultou extraordinariamente a criação de jogadas pelo Tricolor de Aço, foi o alto índice de erros de passe. O posicionamento de Rogerinho, jogando mais aberto e mais distante da área do adversário, também contribuiu para diminuir o poderio ofensivo da equipe. A pouca disposição ofensiva dos laterais foi mais um fator restritivo.

Comparativo
É difícil conceber como um time que não treina devidamente, que não tem as mesmas condições de suporte (alimentação, suplementação, etc.) enfrente com tamanha desenvoltura física um adversário como o Fortaleza. Pior ainda são as constantes mudanças em sua escalação, o que nos faz depreender que o desentrosamento da equipe possa também atrapalhá-la. Todavia, não foi isso o que vimos diante do Leão cearense. Se houve um time que buscou a vitória incessantemente, essa equipe foi a do Clube do Remo. Em razão da pressão sofrida, o goleiro tricolor Thiago Cardoso acabou sendo o destaque da equipe cearense.

Madureza em foco
O Brasiliense parecia o time dos alunos do antigo Curso de Madureza, jogando contra o time do velho Curso Primário. Entre os ‘cobras criados’ das duas equipes, o teor do veneno do time do Distrito Federal mostrou-se indutor do estado de letargia, bem como letal pelo acúmulo das doses. Quando vejo um time jogar cooperativamente, assumindo uma personalidade coletiva, fazendo o fácil e não inventando, começo a temer pelo adversário que não faz o mesmo, em idêntica medida. Enquanto o Ceará fazia um esforço tremendo para chegar à porta do gol do Brasiliense, este andou chegando além da porteira alvinegra em algumas oportunidades, com consciência e objetividade admiráveis.

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BREVES E SEMIBREVES ®

Desinformação.
A TV por assinatura, através dos profissionais responsáveis pela cobertura de Remo e Fortaleza, forneceu a escalação do Tricolor cearense com o zagueiro Preto, quando a figura mostrada era a do zagueiro Rômulo. Correção? Nem pensar!

Em alta. Falta aos nossos repórteres esportivos um pouco mais de independência. No entanto, dentro do restringente modelo em voga, Rodrigues Andrade ainda consegue ser criativo. Parabéns! Isso serve de acréscimo ao trabalho do analista.

Em baixa. O técnico Zetti está sempre transferindo para fatores externos à sua equipe a responsabilidade pelos maus resultados.

Inadmissível. Zetti também admitiu que faltou pernas à sua equipe. Sabe-se que com um jogador a menos dá pra manter um posicionamento defensivo com oito homens atrás da linha da bola. Perde-se – aí sim! – ofensivamente.

Cuidado. A intertextualidade pode ser considerada a porta de entrada para o oposto da ‘copyright’: a ‘copyleft’. Cautela, porém. Vamos criar intertextos e não copiar tudo que se vê pela frente. Afinal, plágio é crime.

Vidas secas. Está próximo o período de escassez nos noticiários. A informação míngua, o lero-lero abunda, a opinião substanciosa escasseia, as falsas perspectivas floreiam, e a mesmice prepondera.

’Remember’. Saibam os que fazem o programa Rádio Ferrão, que também marcamos presença no jogo Ferroviário 0 x 0 Santos, no PV, em 1968(?), quando foram entregues as faixas de Campeão (invicto) ao time Coral. Um belo jogo.

Papellim. Torço para que este profissional obtenha sucesso, seja no Remo/PA, ou onde quer que ele vá. Quem foi injustamente rifado por ‘aspones’, merece um lugar ao sol.

’Feedback’. Dois programas dominicais estão revelando certa falta de autonomia. Um deles motivado por interesses políticos e comerciais; o outro por mero corporativismo. Os prefixos? São AM930 e AM810. Advertência: competência sem credibilidade é nada vezes nada.

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(*)”Para o homem inteligente, o fracasso é fonte inesgotável de aprendizado.”
(*) Benê Lima, FRC


Benê Lima
benecomentarista@yahoo.com.br

85 8898-5106, o telefone da comunicação

quinta-feira, novembro 08, 2007

A Copa e as mudanças potenciais

Evento consumirá investimento de US$ 10 bilhões, mas pouco se fala sobre capacitação de profissionais para isso

Autor: Guilherme Costa
Revisão e intertexto: Benê Lima

Após uma apresentação que intercalou imagens do país e discurso de dirigentes, a Fifa anunciou que a Copa do Mundo de 2014 será realizada no Brasil. A nação pentacampeã mundial de futebol foi a única candidata a sediar o torneio e se valeu de argumentos como a tradição, a paixão do povo pelo futebol e uma previsão de investimento de US$ 10 bilhões em estrutura. Mas qual será o impacto do principal evento esportivo do planeta para o futebol nacional?

A organização da Copa do Mundo corrobora os objetivos traçados pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As metas estabelecidas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevêem um orçamento de R$ 500 bilhões entre 2007 e 2010 em três áreas principais. Desse montante, 54,5% serão investidos na infra-estrutura energética. A área de infra-estrutura social e urbana consumirá outros 33,9% e a infra-estrutura de logística (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos) ficará com os 11,6% restantes.

“Temos que criar o PAC da Copa. Trata-se de aproveitar o interesse pelo futebol para mobilizar toda a sociedade brasileira e impulsionar o desenvolvimento do país para depois de 2014”, projetou José Roberto Bernasconi, presidente nacional do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco).

O discurso prévio de todos os personagens envolvidos com a candidatura brasileira à Copa do Mundo de 2014 reforça a quantidade de benefícios que o evento pode trazer para o país. “É uma conquista histórica para o país e para o nosso povo. A competição provocará forte impacto econômico e social. Só a edição de 2006, na Alemanha, gerou 40 mil empregos permanentes no país”, lembrou Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol, em entrevista coletiva.

Além disso, Teixeira ressaltou a herança permanente que a população terá após a Copa: “Veremos novos hospitais, mais saneamento, melhoria nos transportes e um salto qualitativo na segurança pública. O país terá uma visibilidade imensa durante a competição e isso trará benefícios”.

É natural que se possa esperar que os benefícios que serão trazidos pela realização da Copa de 2014 no Brasil, tenham alcance antes, durante e depois de sua realização. Todas as áreas envolvidas serão potencialmente beneficiadas, o que resultará em um incremento da atividade dos diversos setores envolvidos, bem como no da atividade econômica como um todo.

A expectativa é de que o próprio futebol como negócio, sofrerá uma expansão sem precedentes em nosso país. Com o experimento de um novo fazer na área de produção de eventos, acompanhado da valorização do cliente-torcedor, que será favorecido por uma visão renovada de sua importância, espera-se o surgimento de um novo público, que somado ao habitual possa representar acréscimo na ocupação da capacidade ociosa das nossas praças esportivas.

O Brasil só sediou a Copa em 1950, em um cenário totalmente diferente do atual. Naquela altura, quase todos os países ainda enfrentavam os resquícios da Segunda Guerra Mundial, que havia terminado cinco anos antes. A Europa ainda estava se reconstruindo e a competição, ainda que não tivesse a repercussão e o impacto de mídia que ostenta atualmente, era uma maneira de mostrar que as coisas haviam voltado ao normal.

Os jogos de 1950 se concentraram em apenas seis cidades: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Recife. O Brasil ainda não oficializou o número de sedes para 2014, mas deve ter 12 palcos de jogos para a competição.

Apesar da diferença de cenário e das proporções das duas edições da Copa do Mundo, o principal foco de investimento será o mesmo. Se na competição de 1950 a grande atração foi a construção do Maracanã, palco da decisão entre Brasil e Uruguai – os visitantes ficaram com o título ao vencerem por 2 a 1 -, a corrida pela construção de novas arenas começou antes mesmo de o país ter a certeza de sediar o torneio de 2014.

Aécio Neves, governador de Minas Gerais, prometeu o Mineirão pronto para a Copa do Mundo já em 2010. Outros estados já iniciaram a construção de arenas, baseados em diferentes estratégias para tentar seduzir a CBF e o comitê organizador da competição de 2014.

O principal questionamento acerca da Copa do Mundo no Brasil, porém, é o tipo de profissionais que o país terá para a competição. O investimento voltado à competição deve ser quase todo consumido pela estrutura, sobretudo pelos estádios. A formação de pessoas capacitadas e que possam usar essa reformulação para o bem do esporte, no entanto, é pouco (ou nada) abordada pelos dirigentes.


“Tenho plena certeza de que a Copa do Mundo vai trazer muitos benefícios para a estrutura do futebol brasileiro. Teremos estádios melhores e veremos muitas coisas positivas no entorno, como segurança e transporte”, previu Rosilene Gomes, presidente da Federação Paraibana de Futebol, que sonha com a possibilidade de ser uma sub-sede da competição.

Mustafá Contursi, ex-presidente do Palmeiras e atual mandatário do Sindafebol, é outro que demonstrou otimismo pela realização da Copa no Brasil: “Nós deixamos um legado importante em 1950, que é o Maracanã. Trata-se de um dos maiores palcos do futebol mundial, com muita tradição. Minha convicção de que faremos um grande Mundial é total. Faremos uma edição histórica e que terá reflexos positivos para o nosso futebol”.

Sempre que se fala em mudanças que a Copa pode causar ao futebol brasileiro, contudo, o assunto é estrutura. A reformulação do perfil dos profissionais do esporte ainda é tratada de forma muito superficial por todos os dirigentes, que preferem abordar as obras mais contundentes.

“Teremos muito investimento e isso vai aumentar ainda mais a visibilidade do futebol brasileiro. Tenho certeza que vamos ganhar muito com a Copa do Mundo”, finalizou Contursi.

Técnica x Força

Os craques do passado teriam espaço e fariam sucesso no futebol atual?

Autor: Ronald Simões de Carvalho*
Revisão e intertexto: Benê Lima

Muito se propala a respeito do “novo” futebol como sendo mais competitivo do que há alguns anos atrás. Afirma-se até que alguns craques do passado não conseguiriam ter sucesso nos dias de hoje. E que a força anula com facilidade o talento.
Evidentemente, há que se refletir sob vários ângulos. A evolução da preparação física é um fato incontestável. No entanto, é necessário contextualizar primeiro o que é competitividade. Seria, por acaso, briga pela posse da bola? Ou seria uma participação ativa da coletividade de uma equipe? Ou ambas? Ou até outras mais que possa haver?

Futebol é um jogo! Para se jogar bem é preciso primeiro ter aptidão. Uma boa técnica de execução do passe, do controle, do chute, da condução, da finta e do cabeceio.
Hoje, por exemplo, existem jogadores de meio campo que não são bons passadores, não possuem um bom controle de bola e nem conseguem fintar um adversário, qualidades inerentes para se jogar um bom futebol. Utilizam-se tão somente da força física para tentar sobrepujar seu oponente. São até chamados de “guerreiros” pelo espírito de luta demonstrado. Mas, ao controlar uma bola esta lhe escapa uns dois metros de seu raio de ação, só restando a eles, tenazmente, outra vez disputar a sua posse com o adversário. Estes, ao passar uma bola o fazem com imperfeição, ao tentar fintar um adversário não conseguem êxito, o que os faz viverem das tentativas de recuperar a possa da bola.

Será que isso é competitividade? Será que o jogador técnico que faz tudo isso naturalmente, sem esforço, não é competitivo? Equipes como o Santos de Pelé, Coutinho e cia., o Botafogo de Nilton Santos, Didi, Garrincha e cia., o Honved da Hungria de Puskas e cia., não eram competitivas? O Internacional de Figueiroa, Carpegiani, Falcão e cia., não era competitivo? O Cruzeiro de Zé Carlos, Dirceu Lopes, Tostão e cia., não era competitivo? O Flamengo de Leandro, Andrade, Zico e cia., não era competitivo?

Pois é, atualmente, o número médio de passes errados numa partida de futebol já está na faixa dos 40. Isso é em razão da competitividade? Da força? Ou da técnica individual do jogador?
O futebol brasileiro tem uma gloriosa identidade de talento. Não deixem jamais que algumas falácias a maculem. Não deixem se sugestionar antes de refletir. O futebol verdadeiro só mudou a dinâmica; os princípios são os mesmos. E continuarão sendo, pois ele é apenas um jogo. Precisa muito mais do talento do que da força.

Entendemos que o futebol é competitivo desde quando foram instituídas as competições, nos moldes em que as conhecemos.

Historicamente, outro passo decisivo para o aumento desta competitividade surgiu com o advento do profissionalismo. Dentro desta linha histórica, o fim da Lei do Passe definitivamente instituiu um novo tipo de relação entre clubes e atletas profissionais, situação que deu uma conotação diferenciada ao profissionalismo até ali existente.

Logo em seguida veio a necessidade de adequação dos técnicos de futebol às novas exigências para o exercício de suas atividades, o que determinou a mudança do perfil destes profissionais, que passaram a ser muito mais exigidos. Como conseqüência disto, tivemos o extraordinário crescimento da importância do aspecto tático, que se deu quase que em concomitância com a valorização do aspecto do condicionamento físico.

Estavam criadas, pois, as condições para a mudança de feição do futebol, que, embora jamais tenha tido a sua técnica excluída, teve que lidar com o apogeu da ‘era da supervalorização do condicionamento físico’, enfrentar - como enfrenta - o auge da preparação tática, com a supervalorização dos treinadores e de suas comissões técnicas.

Na verdade, nossa compreensão é a de que o futebol-arte persiste e persistirá como essência do futebol-força que aí temos. Para enxergá-lo, entretanto, é necessário que reformemos o olhar que lançamos sobre o futebol, vendo-o muito mais como arte-coletivizada, que como arte-individualizada.

O talento do esporte coletivo que é o futebol tem-se adequado à natureza deste esporte. Ou seja, onde antes se destacava o talento individual, hoje se percebe a ‘democratização’ do mérito, que deixou de pontuar o indivíduo para espargir-se pela equipe.

*Ronald Simões de Carvalho é professor da Disciplina Futebol da Universidade Gama Filho/RJ

segunda-feira, novembro 05, 2007

Com Pé e Cabeça - 100

"O futebol cearense existe, e precisa ser reinventado." (Benê Lima)


Opinião
100: UM NÚMERO SIGNIFICATIVO

Se não vem a homenagem espontânea pela marca alcançada, sem proselitismo ou cabotinagem, sobrevém o registro, mesmo que em forma de auto-notação


O tempo de vida da Coluna Com Pé e Cabeça quase que se confunde com a criação do Artilheiro - esse importante marco da pós-modernidade do futebol cearense.

Falo com a vênia de quem criticou os primeiros moldes de um website ainda incipiente, como era o Artilheiro em seu primórdio. De lá para cá muita coisa mudou, e nos enche de alegria e orgulho ter acompanhado o crescimento de uma marca que se consolidou a partir do nosso Estado.

Reparem, pois, que sempre buscamos estar nivelados ao progresso alcançado pelo Artilheiro, através de uma atitude de total respeito pelo compromisso que assumimos, expressando nossa consideração pela ausência de absenteísmo, por uma abordagem independente e imparcial dos temas, e pela busca de textos e intertextos que promovam acréscimos a um futebol que tem muito de ‘caboclice’ e brejeirice.

A Coluna Com Pé e Cabeça tem o cuidado de não fazer inimigos, embora não cuide em fazer amigos. Não somos tão ingênuos a ponto de pretendermos agradar a todos. Contudo, somos suficientemente decorosos para não nos permitir perseguirmos quem quer que seja.

Nossa preocupação com o conteúdo da Coluna faz dela um repositório que se presta a dar alguma contribuição para o futebol cearense, a partir da visão sistêmica e multidisciplinar, principalmente da seção Opinião da Coluna. Somente desta seção da Coluna já reunimos material suficiente para publicação de um livro sobre gestão do futebol – algo que pensamos fazer em breve. Para tanto, desde então nos colocamos aberto às manifestações de apoio do qual certamente precisaremos, e sem o que não há nem projeto nem planejamento que se sustentem.

Nesta data para nós de grande significância, renovamos o compromisso de sempre buscarmos prover nossa Coluna de um conteúdo crítico-analítico satisfatório - pela qualidade ao menos mediana -, além de mantermos inarredável ministério para com os preceitos da Comunicação Social, em seu mais amplo sentido. Afinal, isso para nós não representa sacrifício algum. Ao contrário, só obtemos verdadeira satisfação pelo exercício democrático da meritocracia e da transparência.

Por que credibilidade é importante?

No dia em que os brasileiros tiverem motivos para ter uma melhor imagem de si próprios, aí sim o país dará um enorme salto nos principais rankings internacionais. Pois, enquanto persistirmos em nossa ‘esperteza’, teremos que arcar com o ônus do atraso, situação que é retro alimentada pela impunidade.

Por inferência, o futebol cearense está falto de um choque de inovação. E para tanto, imperioso se faz a presença de algumas pré-condições para que o ambiente de mudanças seja instaurado. São elas:
- Altas doses de confiança nas relações pessoais;
- líderes pragmáticos;
- meritocracia, e
- transparência.

E a Coluna Com Pé e Cabeça tem tentado ser um dos elementos indutores das mudanças que nosso futebol tanto necessita, tendo ingressado nessa instintiva assembléia permanente de discussão sobre o futebol cearense, visando a contribuir nas tarefas de repensar-lhe e reinventá-lo.

Com o advento da Copa do Mundo de 2014 em nosso país, uma mega-pré-condição foi-nos dada, para que dela possamos impulsionar a evolução do futebol cearense. Resta-nos aproveitá-la, potencializá-la, otimizá-la enfim.

Trabalhemos, pois!

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EFEMÉRIDES

Semelhança, mas nem tanto

Paulista e Ceará expuseram suas limitações, a ponto de protagonizarem uma partida ruim de se ver, e o que é pior, sem gols a adorná-la. Aceitamos a dedução dos pontos atribuídos a fatores como o estado do gramado, mas nem isto deve servir como desculpa para salvar o espetáculo. Os jogadores-chave do Alvinegro de Porangabuçu não conseguiram desenvolver um futebol sequer aceitável, diante de um Paulista quebrantado pelas ausências de seus principais valores. A verdade é que os sistemas defensivos das duas equipes superaram com sobras as poucas investidas e a quase nenhuma efetividade dos ataques. Com a proposta do Alvinegro de antes de mais nada não levar gols, enquanto o time de Jundiaí tentava ser mais agressivo, mas sem os meios para tal, assistimos a um 1º tempo praticamente sem emoção. Nada mais além de um futebol burocrático e limitadíssimo tecnicamente.

2ª etapa e nada
Constatadas algumas semelhanças, ainda nos resta reconhecer que a equipe do Paulista, tecnicamente, está um pouco abaixo que a do Ceará. E dentro da partida, principalmente em seu 2º tempo, podemos ter os vislumbres de que precisávamos. Mas, por mais paradoxal que pareça, foi o Paulista quem exerceu uma maior pressão em busca do gol nesta etapa. Em face da pressão sofrida, o técnico alvinegro faz entrar Vanderlei em lugar de Reinaldo, naquela que foi a mais polêmica das alterações promovidas por Heriberto.

Concordo com Heriberto
Se tenho dois atacantes e a bola não lhes chega, se em persistindo com tal formação vejo que perdi o setor de meio-campo, qual será a atitude mais lógica a tomar? Partir em reforço do meio-campo. E foi assim que procedeu Heriberto. O problema é que as pessoas acham que para uma equipe tornar-se ofensiva temos que escalar necessariamente atacantes de ofício. Ledo engano! No futebol nem sempre as coisas funcionam segundo tal lógica. Com a entrada de Vanderlei, o técnico alvinegro pretendeu e conseguiu, antes de mais nada, a retomada da igualdade no setor de meio-campo. E isto se deu pela presença de mais um homem naquele setor, que tanto ajudava na marcação como compunha um sistema de transição que o time de Porangabuçu não tinha. Recordemos que a ligação àquela altura era feita de forma direta entre defesa/ataque. Só que isto não resultava em nada. A partir do ingresso de Vanderlei e a conseqüente mudança tática que ela representou, houve uma diminuição da pressão do adversário, e quem começou a crescer foi o time do Ceará. Com a mudança do 3-5-2 para o 3-6-1, ganhou-se equilíbrio no meio-campo, maior suporte defensivo, uma válvula de transição entre os setores da equipe e uma menor previsibilidade das jogadas ofensivas. Logo, reclamar de quem?

Jogo sob controle
O Grêmio Barueri é daqueles times que gostam de intimidar o adversário. A Portuguesa de Desportos do amigo Benazzi que o diga. Aliás, Vagner Benazzi já prometeu que a moçada do Barueri pode ir tranqüila ao Canindé que lá não vai haver revide, em função dos episódios do mais recente confronto entre ambos (Barueri e Portuguesa). Dentro desse espírito reimoso, o time paulista chegou junto pra valer, querendo desconjuntar o time leonino, sob certa complacência do árbitro da partida. Enfim, entre os altos e baixos do Leão na partida, veio a vitória necessária à continuidade do sonho.

Falta memória
Dizer que o Brasileirão Série-B nunca propiciou tamanha facilidade para a ascensão à Série-A não condiz com a realidade dos fatos. Falar sobre o nível técnico da Série-B é uma coisa; transformar o seu equilíbrio real em desequilíbrio flagrante é outra completamente diferente. Considero o atual time do Fortaleza um pouco melhor que o de 2004. Contudo, há um número maior de times no mesmo nível do Tricolor, o que tem dificultado sobremaneira a consecução de sua meta de voltar à elite do futebol nacional.

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BREVES E SEMIBREVES ®

Programa lúcido.
Questão de Ordem, conduzido pelo jornalista Renato Abreu, é um dos destaques da TV Assembléia. Deodato Ramalho lá esteve. (...)

‘Bona fide’. Parece-nos uma pessoa de ‘boa fé’ o Secretário da Regional IV, Deodato Ramalho. Figura leve, genuína, que se importa em manifestar um sentimento de compromisso à altura do que sua administração deve ter. Vislumbramos o PV em boas mãos.

Oportunidades escassas. Estão cada vez mais difíceis as oportunidades para as pessoas de personalidade firme e caráter probo no rádio esportivo cearense. As opiniões, quase que invariavelmente, são eivadas por interesses aparentemente escusos, e o receio de quem as manipula é o de ter esses interesses contrariados.

Chicote. A participação de Sérgio Silva no programa do radialista Alano Maia, teve a marca do bom exemplo. Se cobro do Sérgio posições anti-sectárias é por considerá-lo acima da média.

Com isenção... total enalteço a qualidade do trabalho do professor Monteiro de Souza, mais uma revelação como comentarista de programa esportivo. Sua bagagem como ex-atleta e sua experiência como educador e administrador têm sido colocadas a serviço do rádio.

Renan Mobarack... é outro que decolou, alicerçado na meritocracia. Sentimo-nos felizes por termos vislumbrado as potencialidades destes dois companheiros que, se amigos meus não o são, é tão-somente por falta de oportunidade.

Decepção. O torcedor tricolor, em número significativo, claudica na hora em que o time mais precisa de seu apoio. Pouco mais de 8 mil pagantes é muito pouco para quem precisa do suporte do seu torcedor.

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(*)”A ingratidão campeia, a gratidão escasseia e a verdadeira generosidade rareia. Só o advento de um novo ser mudará tal situação.”
(*) Benê Lima, R+C


Benê Lima
benecomentarista@yahoo.com.br

85 8898-5106, o telefone da comunicação

O Brasil em 2014: como será?

País terá de se preparar muito para passar imagem positiva ao mundo

Autor: Antonio Afif
Arte e Intertexto: Benê Lima

A Fifa confirmou ontem o que já era esperado por todos: a Copa de 2014 será no Brasil. O anúncio contou com vários políticos e o próprio presidente Lula, o que podemos concluir que o governo federal deverá dar uma ajudazinha financeira aos organizadores. Estima-se que os gastos chegarão aos 5 bilhões de dólares, cabendo ao estado a remodelação de estradas, sistema de telecomunicações, aeroportos e até na construção de estádios.

A expectativa é de que a realização do megaevento que é um Mundial de Seleções possa alavancar obras que de outra maneira não seriam contempladas tão cedo.

Além das melhorias na infra-estrutura do país, outras exigências terão de ser atendidas. Para o presidente da Fifa, Joseph Blatter, uma Copa do Mundo deixa um legado social para a nação que a promove. Assim espero, mas resta saber a que custo. Lembro que os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro tiveram um orçamento inicial de R$ 400 milhões, mas que no final foram consumidos R$ 4 bilhões.

O número acima (R$4bi) corresponde ao dobro do que se estima será gasto pelos países africanos a título de investimento para a realização da Copa de 2010 em seu continente.

Não podemos nos esquecer de que o mundo inteiro terá os olhos voltados para o Brasil, muito tempo antes do início da competição. Será uma prova de fogo para os nossos governantes, pois a imprensa internacional acompanhará a vida nacional de perto. Isso, sem falar nos 500 mil turistas que passearão nas cidades-sedes onde acontecerão os jogos e também serão verdadeiros agentes de divulgação de tudo aquilo que presenciarem em solo tupiniquim.

O que se espera é que a ampla divulgação que o evento dará a nosso País possa representar um marco para o desenvolvimento de políticas públicas e privadas voltadas para o turismo. Potencializar os efeitos dessa divulgação certamente terá menor custo que desenvolver campanhas em separado.

Ficou muito claro que a Copa do Mundo servirá para atender alguns interesses políticos, já que teremos algumas eleições até 2014. Por isso tanta gente de peso do cenário político nacional compareceu à sede da Fifa em Zurique na oficialização do Brasil como país-sede do Mundial. Foi uma forma de mostrar ao povo que eles contribuíram para trazer o evento ao país.

Na vida real, ou melhor, fora do futebol, o Brasil ainda precisa resolver antigas questões. Como brasileiro, gostaria imensamente que os jornalistas estrangeiros tivessem uma impressão positiva desta maravilhosa nação. Temos um PIB que nos coloca entre as 10 principais nações do planeta. Porém, ainda precisamos combater as desigualdades sociais, provocada em parte pela elevada concentração de renda. Neste quesito, apesar de termos avançados no IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, criado pela ONU, ainda continuamos atrás de países vizinhos, como Argentina, Chile e Uruguai.

Outros problemas assolam a nação nas áreas de saúde, educação, segurança, transporte, emprego, tráfico de drogas, corrupção, falta de moradias. Enfim, há necessidade de uma política pública voltada para a melhoria da infra-estrutura básica, como energia, conservação e ampliação de estradas, ferrovias e saneamento básico, entre outras necessidades. Por isso, a festa será ainda mais bonita e completa se até lá o país tiver avançado nessas questões sociais e a seleção canarinho trouxer mais um título para nós. Vamos, Brasil!