Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, setembro 29, 2013

Cruzando as pernas – #Demorou #Tamojunto

por Mauro Beting

O futebol brasileiro não respeita datas. Não tem cabimento. Não é exemplo para Darwin. Não tabela com a preparação física. Não respeita o corpo do atleta, a alma do torcedor, a camisa dos clubes.

Calendário do futebol brasileiro é como folhinha de borracharia onde modelos desfilam suas vergonhas. Onde alguns sem muitas vergonhas baixam a borracha e sobem o burro no que é sagrado.

Não pode. Não cabe. Não deve.

- Não!

É o grito de gente que joga. São atletas bons de pé e de cabeça e também de peito para desarmar jogadas de bastidores. Bastilha que cai e que precisa ser encarada pelos atletas do bem comum e do bom senso. CBF, TVs, mídia, estão todos no mesmo jogo. É preciso organizá-lo. Respeitá-lo como já não se respeitam mais as férias aos atletas. A pré que já vira temporada. Os estaduais inchados. O Brasileirão longo. Muitos jogos para pouco futebol.

- Não!

Se preciso, que atletas profissionais (e não apenas bem remunerados, quando pagos em dia – ou meses) cruzem as pernas e os braços. Ao menos que discutam como alguns estão se articulando com a mesma velocidade com que os donos da bola e das boladas com controle remoto dominam o esporte, o espetáculo e o negócio de milhões para poucos, e migalhas para muitos.

O ideal seria equiparar nosso calendário ao europeu. O possível é racionalizar os estaduais, esticando-os pela temporada, diminuindo o número de partidas dos que jogam as primeiras divisões nacionais.

São várias ideias. Muitos ideais.

E, torcemos, muitos para debater e bater um bolão. Canarinhos que não são mais cordeirinhos. Ovelhinhas de presépio. Cordeirinhos no curral eleitoral e comercial de interesses desinteressantes ao futebol.

É preciso dar força e respaldo a quem coloca o pescoço e as canelas na forca.

Tem como racionalizar e diminuir o número de partidas, e não necessariamente acabando com campeonatos.

Tem como ouvir e conversar com quem faz o jogo, não necessariamente as jogadas.

Tem como melhorar o diálogo, o desempenho, a atividade, o negócio.

Tem de jogar junto. Não contra.

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sábado, setembro 28, 2013

Professor Luis Filipe Chateaubriand fala sobre o Calendário do Futebol Brasileiro

Autor do livro "Futebol brasileiro: um projeto de calendário" fala sobre o movimento dos jogadores


Bruno Camarão

Criticado por treinadores, diretores e atletas da maioria dos grandes clubes do país, o calendário do futebol brasileiro pode passar por mudanças - mas só depois de 2014, quando o país sedia pela segunda vez uma edição da Copa do Mundo.

Virgílio Elísio, diretor de competições da CBF, diz que alterações pontuais estão na pauta de José Maria Marin, presidente da entidade, que busca ampliar o diálogo com os clubes desde que assumiu o cargo, em março deste ano. Mas cerca de 80 jogadores resolveram reivindicar antes mesmo do fim do Campeonato Brasileiro de 2013.

Na última sexta-feira, Alex, do Coritiba, Rogério Ceni, do São Paulo, Paulo André, do Corinthians, e Elias, do Flamengo, dentre outros, emitiram um comunicado com o intuito de mudar o calendário do futebol nacional. Eles integram um movimento composto por outros 71 jogadores profissionais, das Séries A e B do Brasileirão, cujo objetivo é propor mudanças no calendário – o Bom Senso FC.

O grupo reúne jogadores de 19 dos 20 clubes da Série A, além do Palmeiras e de outras equipes da Série B. Boa parte dos atletas deve se reunir nos próximos dias, em São Paulo, para debater propostas de mudanças na agenda brasileira da bola ainda para o ano que vem. E conta com o apoio de um dos maiores batalhadores por mudanças nesse sentido: o professor Luis Filipe Chateaubriand.
 

Pré-temporada e adequação à Europa são algumas das exigências dos jogadores

“O momento é apropriado, o calendário exposto pela CBF extrapolou em termos de falta de bom senso e ficamos felizes com essa reação, que estava tardando. Lamentamos que isso venha dos atletas, e não dos clubes, nas figuras dos seus dirigentes, que deveriam ter se posicionado há mais tempo contra esses desmandos”, disse o Mestre em Administração Pública pela FGV, Analista de Logística e Suprimentos da DATAPREV e autor do livro “Futebol Brasileiro: Um Novo Projeto de Calendário”.

Três “pilares problemáticos” são citados por Chateaubriand: a falta de adequação ao calendário europeu, o Campeonato Brasileiro sendo jogado nos meios de semana, e a falta de respeito às datas Fifa.

“Há o problema de não fazer uma pré-temporada adequada sem intercâmbio com os grandes clubes do mundo. Interromper o Campeonato Brasileiro para o compromisso das seleções e deixar o principal produto do nosso futebol como algo menor é um absurdo”, acrescentou Chateaubriand.

Nesta entrevista especial à Universidade do Futebol, o professor universitário falou ainda sobre uma situação que perpassa isso tudo, que é a extensão dos campeonatos estaduais. Confira o bate-papo na íntegra.


 Áudio da entrevista  

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terça-feira, setembro 24, 2013

Os donos da bola

Empresas campeãs, como Ambev, Bradesco, Burger King, Danone, Netshoes, Pepsico, Seara, Sky, TIM e Unilever, criam um programa de benefícios que pode colocar R$ 1 bilhão por ano no futebol brasileiro - e ainda salvar seu time

Por Ralphe MANZONI Jr.

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Era uma tarde ensolarada de domingo no fim de julho, em Belo Horizonte. O estádio do Mineirão, recém-reformado para os jogos da Copa do Mundo, contava com um público de 36 mil espectadores para assistir ao clássico regional Cruzeiro versus Atlético, pela 9ª rodada do Campeonato Brasileiro. Antes da partida, de forma surpreendente, um carro-forte “invade” o gramado com os dizeres “Patrimônio do Sócio do Futebol” e estaciona atrás de um dos gols. Quando sua porta é aberta, o meia-atacante Júlio Baptista, a nova contratação do time azul e branco, aparece saudando os torcedores.

 
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Ex-jogador da Seleção Brasileira e do Málaga, da Espanha, o atleta de 31 anos volta ao Brasil na condição de estrela e com um salário estimado em mais de R$ 500 mil mensais. A compra de seus direitos, no entanto, só foi possível graças ao programa sócio-torcedor do Cruzeiro, cujo número de associados multiplicou-se por cinco desde janeiro deste ano. Hoje, são 35 mil fanáticos da Raposa, como é conhecido o time celeste, que participam do programa, gerando uma receita anual de quase R$ 28 milhões, inferior apenas à cota da televisão e superior ao dinheiro gerado pela transferência de atletas, patrocínios e publicidade, em 2012. “O sócio-torcedor é a redenção do clube”, afirma Gilvan de Pinho Tavares, presidente do Cruzeiro.
 
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“É uma receita fixa, ao contrário da incerteza da renda de bilheteria.” Assim como o Cruzeiro, outros clubes brasileiros começam a percorrer um caminho no qual os gaúchos Internacional e Grêmio estão bastante avançados: transformar o torcedor em uma fonte estável e crescente de recursos, reduzindo a dependência das cotas de tevê e dos patrocínios. Nesse percurso, eles estão contando com a ajuda de dez craques dos negócios. Uma seleção de executivos de empresas como Ambev, Bradesco, Burger King, Danone, Netshoes, Pepsico, Seara, Sky, TIM e Unilever entrou em campo com um programa de benefícios, batizado de “Movimento por um futebol melhor”, que concede descontos em diversos produtos e serviços para quem é sócio-torcedor.
 
A ambição desse time de elite não é pequena. “A Seleção Brasileira já é a mais vitoriosa do mundo”, diz João Castro Neves, presidente da Ambev, companhia que liderou a criação desse programa. “Acreditamos que podemos investir aqui, ajudando os clubes a se tornarem mais fortes e competitivos, para termos o melhor campeonato do mundo.” O esquema tático bolado pelos “professores” das empresas é de uma simplicidade surpreendente. Ao se associar a um programa de sócio-torcedor de seu time, o torcedor adquire centenas de produtos e serviços com descontos em diversas redes de supermercados, mediante apenas a apresentação do número de seu CPF.
 
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A lógica foi promover o que todos os executivos chamam de uma relação ganha-ganha-ganha. O clube aumenta o número de sócios-torcedores e, por consequência, cria uma nova fonte de receita capaz de manter seus craques no Brasil – ou repatriar os que estão lá fora, como foi o caso de Júlio Baptista. O torcedor, por sua vez, ajuda seu clube de coração e pode receber de volta o dinheiro pago nas mensalidades, na casa dos R$ 30, em compra de produtos. E, por fim, as empresas associam suas imagens a um contingente de milhões de consumidores, que podem se transformar em clientes fiéis – o sonho de todas elas.
 
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“Antes comprava Coca-Cola, agora bebo Pepsi, que faz parte da promoção”, afirma o mineiro Gustavo Bueno, estudante de direito e torcedor do Cruzeiro, que tem conseguido uma média mensal de R$ 120 em descontos – ele paga R$ 150, por mês, no programa Sócio do Futebol. “Variava a cerveja que tomava antes do jogo, mas agora é só Brahma.” O programa tem metas ambiciosas. O plano é chegar a um milhão de sócios-torcedores até o fim deste ano. Em 2015, o objetivo é contar com três milhões de adesões, o que pode resultar numa receita adicional de R$ 1 bilhão aos cofres dos principais times brasileiros.
 
“A tendência é de que os programas de sócios se tornem a segunda fonte de receita dos clubes, atrás apenas da cota de tevê”, diz Fernando Ferreira, diretor da Pluri Consultoria, especializada em futebol. Os primeiros resultados são animadores. Em janeiro deste ano, quando o programa foi lançado, havia 160 mil sócios-torcedores. Hoje, são quase 600 mil, o que já rendeu uma receita adicional de R$ 80 milhões, segundo estimativas. É um dinheiro que já está beneficiando os clubes. O Flamengo, do Rio de Janeiro, por exemplo, saiu do zero para 37 mil sócios-torcedores – a meta é ter 50 mil até o fim deste ano.
 
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“Todo o dinheiro vai ser usado no futebol”, afirma Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo. Segundo ele, a contratação do atacante Marcelo Moreno pelo clube da Gávea foi bancada por recursos desse programa. O Cruzeiro saltou de sete mil sócios-torcedores para 35 mil. O zagueiro Dedé, que veio do Vasco carioca, foi apresentado à torcida no supermercado Super Nosso, uma das redes regionais nas quais os torcedores podem fazer compras com desconto. O Palmeiras, que tinha nove mil sócios, hoje conta com quase 33 mil. “É uma fonte nova e muito substancial de recursos no médio prazo”, afirma Paulo Nobre, presidente do time paulista.
 
MENOS CARTOLAS, MAIS EXECUTIVOS O Brasil é o país do futebol. O esporte bretão é uma paixão nacional. A Seleção Brasileira é a única pentacampeã mundial. Dos nossos gramados nascem craques a granel, que são exportados para todos os cantos do mundo – Neymar, o mais recente deles, deixou o Santos pelo Barcelona. No entanto, esses predicados não impedem a maioria dos clubes brasileiros de viver em uma situação de penúria, quase falimentar, na maior parte das vezes. Suas dívidas cresceram 358% em dez anos, chegando a R$ 5,5 bilhões em 2012, de acordo com estimativa do consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi.
 
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Para complicar, a média de público no Campeonato Brasileiro foi de apenas 13 mil torcedores por partida, em 2012, um terço da média da liga alemã. Pior: os campeonatos nacionais dos Estados Unidos, da China, do Japão e das segundas divisões da Inglaterra e Alemanha levam mais torcedores aos estádios do que o Brasileirão. “Temos de melhorar a organização das competições e o ambiente de negócios”, afirma Somoggi. A boa notícia é que, mesmo com essas dificuldades, há sinais de que esse quadro pode ser revertido. No ano passado, os 24 maiores clubes brasileiros tiveram um superávit de R$ 20,1 milhões – 11 deles chegaram mesmo a fechar no azul.
 
Parece pouco, mas é um alento quando se sabe que essas agremiações reverteram um déficit de R$ 387,5 milhões de 2011, segundo pesquisa da consultoria BDO. Em cinco anos, é a primeira vez que dão lucro, graças à contabilização das receitas dos novos estádios do Palmeiras e do Atlético/PR – sem elas, teriam um prejuízo de R$ 160,9 milhões, bem menos que a metade do registrado no ano anterior. Por isso mesmo, a inauguração das novas arenas para a Copa do Mundo é outro elemento que ajuda a vislumbrar um cenário mais positivo no horizonte de curto prazo. Confortáveis e com serviços de primeira linha, elas vão atrair mais torcedores para os estádios – e ajudar a trazer mais receitas aos cofres dos clubes.
 
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“Todos os torcedores deveriam ser tratados como clientes VIP”, diz Gerardo Molina, CEO da consultoria Euroamericas Sport Marketing. Nada disso adiantaria se o futebol brasileiro não estivesse passando por uma fase de profissionalização de seus dirigentes. Saem de cena os cartolas folclóricos, ou simplesmente mal-intencionados, que usam o prestígio do cargo para promoção e enriquecimento pessoal. Em seus lugares, os novos presidentes trazem para dentro dos vestiários a experiência do mundo corporativo (leia quadro “Choque de gestão”). Nobre, presidente do Palmeiras, é investidor do mercado financeiro. Mello, do Flamengo, é um ex-executivo do BNDES e conta com o apoio de uma equipe de empresários na sua administração.
 
Entre eles, o executivo Luiz Eduardo Baptista, presidente da operadora de tevê por assinatura Sky. No Santos, o hoje licenciado presidente Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro criou um comitê gestor, recheado de pesos-pesados do mercado financeiro e da indústria. Esse quadro mais animador está por trás da iniciativa do “Movimento por um futebol melhor”. Há dois anos, a Ambev começou a pesquisar formas de deixar um legado para a Copa do Mundo, que fosse além do patrocínio tradicional. Como é de praxe na cervejaria brasileira, executivos da companhia saíram mundo afora em busca de modelos de sucesso, em especial as experiências dos clubes espanhóis, italianos e britânicos, os mais ricos do planeta bola.
 
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Presente valioso: Júlio Baptista sai de dentro de um carro-forte e é apresentado
como atleta do Cruzeiro. O salário será pago pelos torcedores
 
“O que chamava a atenção era que uma fatia considerável dos times contava com programas de sócios”, diz Marcel Marcondes, diretor da Ambev.”Com a cota de tevê e o dinheiro do programa, eles se garantiam e não precisavam vender jogadores.” Mas foi em Portugal que os homens da cervejaria encontraram o exemplo perfeito para adaptar ao futebol brasileiro: o Benfica. O time lisboeta criou um programa de benefícios que o ajudou a ter a maior quantidade de sócios-torcedores do mundo (saiba mais sobre como funciona esse programa ao final da reportagem em "O que o Benfica pode ensinar aos clubes brasileiros"). De volta ao Brasil, os executivos da Ambev encomendaram uma pesquisa para entender por que os brasileiros não se associavam a um programa de sócio-torcedor.
 
Afinal, diversos times já contavam com a iniciativa, mas poucos deles atingiram o sucesso do Internacional e do Grêmio, de Porto Alegre. A primeira constatação foi óbvia: os torcedores não confiavam em quem iria gerir seu dinheiro. O segundo ponto mostrou que os clubes não ofereciam vantagens aos torcedores para atraí-los, abrindo uma avenida para que se aplicasse aqui o modelo do Benfica. Como a nova safra de dirigentes que começava a comandar os principais times do País era mais profissional, estava armado o cenário para a Ambev avançar com sua estratégia. O passo seguinte foi bater na porta de grandes empresas.
 
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O objetivo era contar com a maior rede de parceiros de qualidade possível. “Ter uma operação de consumo no Brasil e não se conectar ao futebol não parece lógico”, afirma Vasco Luce, presidente da divisão de bebidas da Pepsico, uma das primeiras a aderir ao projeto. Em janeiro, com a presença do craque Ronaldo Fenômeno, Ambev, Bradesco, Burger King, Danone, Netshoes, Pepsico, Seara, Sky e Unilever (a TIM aderiu mais tarde) colocaram em campo seu esquema tático para levar o futebol brasileiro a um novo patamar. “O futebol ainda não é bem explorado no Brasil”, diz Domingos Abreu, vice-presidente do Bradesco. “O torcedor vibra, mas não contribui muito para o sucesso de seu clube.”
 
CONEXÃO EMOCIONAL “O futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais do que isso.” A frase atribuída ao jogador e treinador de futebol escocês Bill Shankly exprime à perfeição a paixão que move o esporte mais popular do mundo. Afinal, o nobre esporte bretão é a coisa mais importante entre as coisas mais desimportantes, diz o dito popular. Às vésperas da Copa do Mundo no Brasil, estabelecer uma conexão emocional com milhões de torcedores é a oportunidade de construir relações duradouras. Não custa lembrar que o campeonato de seleções nacionais dura apenas um mês. O amor dos torcedores pelos seus clubes é praticamente eterno.
 
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“Se o Fluminense jogasse no céu, eu morreria para vê-lo jogar”, escreveu o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, tricolor de quatro-costados. A maioria das empresas que aderiu ao “Movimento por um futebol melhor” já mantinha uma relação com o futebol. Boa parte delas patrocina alguns times. Outra fornece materiais esportivos. Algumas compram cotas de televisão. Nenhuma, no entanto, estava tão próxima do torcedor quanto agora. “Do ponto de vista de negócios, é importante estar associado a algo com apego emocional para os brasileiros”, afirma o argentino Fernando Fernandez, presidente da Unilever. “O futebol é um veículo vital de comunicação de nossas marcas.”
 
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Rodrigo Abreu, presidente da TIM, que estampa seu logo em diversas camisas, concorda. “É uma maneira de apoiar não só o clube”, diz. “Mas o ambiente de futebol de maneira mais integrada.” Apesar de ajudarem os clubes de futebol, as companhias não estão apoiando o “Movimento por um futebol melhor” apenas por benemerência. “Temos o sentido comercial”, afirma Mariano Lozano, presidente da Danone. “Somos uma empresa e não uma ONG.” Todas elas, de alguma forma, já apresentam resultados (leia os quadros ao lado das fotos dos presidentes das empresas).
 
A Netshoes, maior site de venda online de artigos esportivos do País, por exemplo, observou que o tíquete médio das vendas para os sócios-torcedores é 7% maior. “O futebol mais organizado gera uma onda positiva sobre outros esportes”, diz Márcio Kumruian, presidente da Netshoes. “E isso gera um aumento de vendas de outras categorias esportivas.” Como diria Neném Prancha, um roupeiro, massagista e técnico que ganhou o apelido de O Filósofo do Futebol do jornalista Armando Nogueira. “Futebol é muito simples: quem tem a bola ataca, quem não tem defende.” As empresas foram para o ataque. O gol delas está ajudando o seu time.
 
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Choque de gestão
 
“Os dirigentes têm uma vaidade muito grande em ganhar títulos e destruir as contas.” A frase é de Paulo Nobre, presidente do Palmeiras, que herdou um time endividado e rebaixado para a segunda divisão do futebol brasileiro. Nobre, no entanto, faz parte de uma nova geração de dirigentes que está descobrindo o óbvio: uma gestão profissional não só ajuda a equilibrar as contas como também a ganhar títulos. Por essa razão, práticas do mundo corporativo começam a fazer parte do dia a dia dos clubes.
 
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No Palmeiras, Nobre resolveu estabelecer uma nova forma de pagar o “bicho”, prêmio extra que os atletas recebem quando a equipe vence. Seguindo uma norma do mercado financeiro, de onde vem o dirigente, os atletas agora recebem uma quantia pequena por partida. Caso a equipe atinja as metas estabelecidas, o prêmio é maior, uma espécie de bônus, como acontece em grandes empresas. “Eles entenderam a lógica”, afirma Nobre. No Flamengo, comandado por Eduardo Bandeira de Mello, ex-executivo do BNDES, a regra é austeridade fiscal total. A ordem foi cortar os custos em 40% e fazer caixa para pagar as dívidas estimadas em mais de R$ 750 milhões. “Entregamos o primeiro escalão do Flamengo à administração profissional”, diz Mello.
 
 
 
O que o benfica pode ensinar aos clubes brasileiros
 
Qual o time com a maior quantidade de sócios do mundo: Barcelona, Manchester United ou Bayer de Munique? Nenhum deles. A honraria cabe ao português Benfica, que conta com 231 mil sócios-torcedores, num país com uma população muito menor do que a da Espanha, Inglaterra ou Alemanha. A forma como o clube lisboeta conseguiu essa façanha pode ensinar muito às agremiações brasileiras. Em 2004, seus diretores fizeram uma pesquisa e descobriram que havia poucas razões para ser sócio do clube. De forma resumida, os interessados tinham uma forte relação emocional com o time, votavam na escolha do presidente e ganhavam descontos nas compras do ingresso. “Entendemos que era muito pouco”, afirma Miguel Bento, diretor-comercial e de marketing do Benfica.
 
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Para atrair aqueles que não são fanáticos, o clube definiu uma estratégia de parcerias. A lógica era simples: criar uma rede de empresas que dão benefícios para quem é sócio do Benfica. Além disso, o clube criou um kit sócio distribuído em mais de mil pontos de vendas, incluindo supermercados. “O que fizemos foi tornar estupidamente fácil ser sócio do Benfica”, diz Bento. Em apenas seis meses, o número de sócios saltou de 94 mil para 156 mil. O segredo do clube lisboeta foi construir uma rede eclética de parceiros, que inclui desde postos de gasolina e lanchonetes a restaurantes simples da capital portuguesa. Até uma agência funerária, a ServiLusa, oferece descontos para os sócios.
 
A rede de postos de gasolina Repsol é a mais utilizada. Mensalmente, 70 mil sócios abastecem seus carros nela. Desse universo, 56 mil são clientes fiéis, de acordo com Bento. “A mensagem que passamos é que os novos sócios poderiam pagar sua cota com os descontos”, afirma Bento. Tão importante quanto a rede de parceiros foi criar um sistema de débito automático. “Se o Benfica não ganha, há muitas razões para o torcedor não pagar suas mensalidades”, diz Bento. E, ultimamente, o clube vermelho e branco não está em sua melhor fase. No século XXI, venceu apenas duas vezes o campeonato português. Anualmente, os sócios-torcedores acrescentam o equivalente a R$ 42 milhões aos cofres do Benfica. “É a nossa Liga dos Campeões”, diz Bento, referindo-se ao principal torneio europeu de clubes, vencido pelo Benfica em duas ocasiões, na década de 1960.
 
IstoÉ Dinheiro
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75 jogadores dos principais times brasileiros se unem para mudar calendário do futebol

BERNARDO ITRI
DO PAINEL FC
MARCEL RIZZO
DE SÃO PAULO

Um movimento composto hoje por 75 jogadores profissionais das Séries A e B do Brasileiro inicia uma queda de braço com a CBF para mudar o calendário do futebol nacional, anunciado na última sexta pela entidade.

A Folha obteve a lista dos atletas que aderiram à causa. Nomes como os de Alex (Coritiba), Rogério (São Paulo), Paulo André (Corinthians), Dida (Grêmio), entre outros, encorpam o grupo.

São jogadores de 19 dos 20 clubes da primeira divisão, além do Palmeiras e outras equipes da Série B.

Insatisfeitos com a proposta da CBF, com início da temporada em 12 de janeiro de 2014, os jogadores pretendem se reunir nos próximos dias, em São Paulo, para discutir sugestões de alteração do modelo em voga.

O principal argumento de líderes ouvidos pela reportagem é que a quantidade de jogos do calendário atual faz com que o nível técnico do Brasileiro caia muito.

O projeto de mudança que será discutido na assembleia do movimento --ainda sem nome-- prevê a alteração de cinco pontos.

O primeiro, claro, se refere ao calendário inchado, no qual os times raramente têm uma semana para descansar.

O movimento indica, então, três propostas de mudança no calendário: uma prevê a adequação ao modelo europeu (com a temporada começando no meio do ano) e outras duas tentam mexer no esquema atual, enxugando as datas de jogos.

O segundo tema diz respeito ao número máximo de partidas por período. O projeto dos atletas é que os times não joguem mais do que sete partidas a cada 30 dias --atualmente, acontecem oito ou nove jogos neste espaço.

Tempo para a pré-temporada é outro ponto a ser tratado entre os jogadores e a CBF. Para 2014, por exemplo, os times terão menos que cinco dias para se preparar para o início dos jogos dos principais estaduais.

Isso porque os atletas têm que desfrutar das férias, que devem ser gozadas após o fim do Brasileiro, 8 de dezembro.

As férias, aliás, são o quarto ponto a ser discutido. Alguns clubes defendem a divisão do período de descanso entre dezembro e o período de recesso para a Copa-2014.

Por fim, o movimento dos jogadores propõe uma espécie de "fair-play financeiro".

A ideia é que os clubes não terminem o ano sem dever a seus jogadores. Para isso, será feita uma proposta na qual, a cada início de temporada, os clubes apresentem o plano financeiro para pagamento de salário e que siga a planilha durante o ano.

O movimento quer levar todas essas propostas à CBF, em um encontro formal com a cúpula da entidade.

"Quem está perdendo é o futebol brasileiro. A nossa esperança é que o calendário para 2015 seja diferente. Que seja pensado nesse lado, para que os atletas sejam ouvidos", diz Alex, do Coritiba

A CBF, por meio da assessoria de imprensa, informou que não recebeu pedido oficial para encontro com jogadores. A entidade, porém, não vê margem para mudanças no calendário de 2014 por causa da Copa do Mundo.

Editoria de Arte/Folhapress

 

segunda-feira, setembro 23, 2013

Se o Rock in Rio fosse o Brasileirão

Marcelo Paciello / Blog Futebol e Arte
 


Durante a semana li duas opiniões muito pertinentes sobre os ensinamentos do Rock in Rio para o esporte brasileiro e as lições de Bruce Springsteen para os empreendedores.

Agora, e se fosse ao contrário?

Você imaginaria como seria o Rock in Rio se fosse "gerido" no mesmo modelo que atualmente o futebol brasileiro e, principalmente, o Campeonato Brasileiro são administrados?

Mesmo com todo o investimento em um local com padrões similares aos demais festivais que ocorrem no mundo apenas 22% dos ingressos seriam vendidos para todo o festival e 38% para os principais dias do festival.

Como as bandas pensariam cada uma para si, o grupo que negociaria todos os quesitos mercadológicos em nome das bandas seria extinto, e a emissora que adquiriria os direitos de transmitir o festival negociaria diretamente com as bandas, pagando um alto valor para uma banda de pagode e uma dupla sertaneja, pois são as bandas que mais dariam audiência para a emissora.

Imaginem o Rock In Rio com uma banda sertaneja e de pagode como bandas principais para fechar os principais dias do festival no Palco Mundo?

A emissora, por ter o direito de transmissão, exigiria que os shows seriam da meia noite até as seis da manhã, às segundas, terças e quartas feiras, pois primeiro ela teria que agradar seu público com a novela e o futebol.

Apesar das bandas serem famosas, muitos músicos teriam pouca experiência e sem reconhecimento pelo público, e só um grande ídolo, já em fase decadente na carreira, faria parte de grande parte das bandas. E eles não poderiam dar show todos os dias pois seus corpos já não aguentariam o ritmo intenso de show dia sim dia não.

Mesmo as famosas bandas de pagode e sertanejo não conseguiriam lotar os shows, pois tocando a cada dois dias até seus fãs mais fervorosos não teriam condições financeiras e vontade de assisti-los frequentemente, não despertando o mesmo desejo de antigamente.

Esse mesmo público criticaria que as bandas não criariam mais músicas novas, e sempre tocariam o mesmo set list. Os músicos e managers reclamariam que, com esse ritmo alucinante de shows, aviões, hotéis, não teriam tempo para corrigir e melhorar as falhas dos shows e nem tempo nem inspiração para criar novas músicas.

Bruce Springsteen seria vaiado no palco, pois ele não faria um show de 3 horas como nos Estados Unidos. Ele não aguentaria o ritmo de shows e aviões para atravessar um país continental como o Brasil. Alguns reclamariam que os Estados Unidos também é um país com dimensões similares ao Brasil, mas lá os shows ocorrem entre setembro e janeiro, enquanto no Brasil os shows são de janeiro a dezembro, com apenas 01 mês de férias.

No dia de uma das principais atrações do festival, o vocalista, com um talento promissor e que atrai inúmeros fãs, teria que viajar para fazer uma filmagem em Hollywood, pois já havia assumido esse compromisso, e para seu lugar seria colocado um substituto, o que esvaziaria o show.

No dia seguinte o baterista de uma grande banda de rock não poderia tocar devido a uma lesão na coluna, pois as condições para tocar no interior seriam precárias. Nos bastidores todos reclamariam da baixa qualidade dos ginásios do interior e pela série de shows com menos de 100 pessoas.  Ele não poderia deixar de tocar nesses shows menores, pois caso contrário a banda seria punida pelo emissora e pela organizadora.

O manager de uma das grandes bandas do festival, juntamente com sua banda seriam abordados por fãs em um restaurante de forma violenta. Todos reclamariam que a banda não fazia mais sucessos e ameaçariam bater em todos os integrantes se essa situação não mudasse em breve, caso contrário não teriam mais sossego.

Mesmo com baixa procura, os fãs teriam que fazer filas quilométricas para comprar seus ingressos, mesmo com as compras pela internet já serem uma realidade em outros eventos no Brasil. Além disso, seria possível perceber que vários cambistas circulariam pelas ruas ao redor da cidade do rock, ofertando ingressos pelo triplo do preço das bilheterias.


Maracanã


Devido a falta de organização e visão de negócio, na mesma data seriam colocadas para tocar no mesmo palco uma banda de heavy metal, outra de boys band e uma banda de forró. A cada show, parte da plateia vaiaria a banda que não gostassem e vice versa, transformando uma bela noite de shows em uma praça de guerra, onde seria possível ver famílias com seus filhos correndo desesperadamente para fugir da briga e dos gases de pimenta que a polícia soltaria no meio da população.

Você imaginou o Rock in Rio dessa forma?

Infelizmente o futebol brasileiro é assim e tem todo o potencial para ser uma grande festa.

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domingo, setembro 22, 2013

Calendário Nacional x Calendário Estadual

Uma questão que merece detida reflexão antes de qualquer opinião


A Copa 2104 exigirá uma reengenharia das federações estaduais

Benê Lima,  radialista, membro do
Conselho  do  Desporto, presidente
da   Liga   Cearense   de   Futebol
Feminino,   Ouvidor   da   FCF    e
membro do Conselho de Leitores
do jornal O Povo. 
Diz um diretor de um dos nossos maiores jornais, que comentar não tem a complexidade de analisar. Segundo o mesmo, para comentar basta que se tenha uma opinião. E opinião qualquer um a tem. Difícil, continua, é analisar, uma vez que para se fazer uma análise consistente e embasada há que se conhecer a matéria, o tema, o assunto, o que seja.

Vejo um sem número de pessoas emitindo as mais diversas opiniões, muitas das quais sem o mínimo critério ou quase nenhum conhecimento. Mas é melhor que seja assim pelo bem da democracia, do que nos sintamos amordaçados pela ideia do pensamento único e do consenso preestabelecido.

Calendário, seja nacional e até mesmo estadual, é sempre um tema complexo, posto que envolve planejamento, conexões intrincadas, observância a direitos, cumprimento de obrigações, deveres e compromissos formais, informais e éticos. Ademais, é necessário que se pense nas implicações de tudo isto e na distribuição de equidade entre todas as partes envolvidas, tais como as entidades de administração do futebol, as entidades de prática desportiva e, por fim, os torcedores.

Ao iniciarmos o planejamento do futebol cearense para o próximo ano, é importante não esquecermos que 2014 será um ano atípico não só para o futebol cearense, mas também para o futebol brasileiro. Com a supressão de algumas datas, impõe-se o desafio de um novo planejamento, que leve em conta a redução de datas em relação aos Estaduais, bem como o período de paralisação dos campeonatos nacionais que estejam em atividade, particularmente as Séries A e B do Brasileirão.


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Parte do Calendário da CBF que prevê os Estaduais e a respectiva legenda


 
 
 
 
 
 
 
 
É inegável a complexidade do tema, reitero, mas há saídas honráveis e legais, sem que precisemos ferir regulamentos, sem viradas de mesa e sem que forjemos fórmulas inescrupulosas. Tendo em vista que a alteração do Calendário Nacional constitui um ato superveniente gestado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), eis que daí emerge a justificativa plausível e juridicamente aceitável da adequação dos calendários estaduais ao nacional, como rendição a um pressuposto da hierarquia organizacional do futebol brasileiro. Nada mais natural. Eis, pois, o problema e a saída para ele, sem que coloquemos em cheque a nova ordem do futebol nacional.

Benê Lima
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