Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, novembro 30, 2009

O novo profissional de comunicação
Erich Beting
Com celulares equipados com câmeras e, principalmente, com o consumidor no papel de reprodutor da informação, escândalos envolvendo atletas e dirigentes tornaram-se comuns


Na era em que a tecnologia se tornou ainda mais eficiente, em que celulares adquirem a função de câmeras, câmeras assumem as vezes de telefones, e máquinas fotográficas viram filmadoras, o esporte se encontra de pernas para o ar.

O atleta, o treinador e o dirigente esportivo têm, cada vez menos, condições de terem uma vida social "relaxada". Por serem figuras públicas, têm cada vez menos o direito de escorregar e cometer algum ato falho.

No passado, escândalos envolvendo atletas e dirigentes esportivos só eram notícia quando o caso parava na delegacia. Hoje, com celulares equipados com câmeras e, principalmente, com o consumidor no papel de reprodutor da informação, a situação é totalmente diferente.

Michael Phelps é flagrado fumando maconha numa festa. Quantos atletas não viveram tal situação? A diferença é que Phelps foi flagrado por uma câmera de um telefone celular, e depois foi parar na rede... Belluzzo foi cantar "vamos matar os bambis" na festa da torcida do Palmeiras. Quantos dirigentes não cometeram absurdos iguais ou até maiores ao longo da carreira?

As mídias sociais alçaram o torcedor no papel do dono da mídia. Não é mais só o que o jornal, a TV, a rádio, a revista ou o grande portal decidem que será notícia. E isso tem causado uma revolução na forma de se comunicar.

Com o consumidor no papel de dono da mídia, o esporte e as figuras públicas têm de abrir os olhos. A vida social tem de se tornar muito menos interessante. Do contrário, as mídias sociais serão as novas "culpadas" pelos atos falhos que todos estão sujeitos a cometer, mas que as figuras públicas não podem se dar ao luxo de ter.

O vídeo de Belluzzo dizendo para “matar os bambis”, que ganhou o noticiário da semana, é o exemplo mais bem acabado de como deve se comportar, e se preocupar com a informação, a figura pública deste século 21.

E azar de quem trabalha com a comunicação. Qualquer assessor de imprensa terá de ser agora, antes de tudo, um grande estrategista. Ele tem de se colocar à frente das mídias sociais. A mídia tradicional ainda dependerá dos seus serviços, mas provavelmente será ela a responsável pelas menores dores de cabeça para o gerenciamento de crise.

O novo profissional da comunicação precisa saber como funciona essa tal de mídia social. Se não souber, estará fadado a ser um mero – e ineficaz – produtor de releases.

Zaragoza patrocina projetos acadêmicos

REDAÇÃO
Da Máquina do Esporte, em São Paulo


O Real Zaragoza, time que disputa a primeira divisão do Campeonato Espanhol, resolveu investir em produção acadêmica. Por meio de uma fundação que leva seu nome, a equipe vai patrocinar estudos da Universidade de Zaragoza que tenham o futebol como tema.

O clube disponibilizará 50 mil euros anuais para a instituição investir em produções sobre a modalidade. A parceria já foi assinada entre o presidente da fundação Real Zaragoza, Eduardo Bandrés Moliné, e o reitor da instituição de ensino, Manuel López Pérez.

O patrocínio faz parte de um projeto de ampliação na parceria que o Zaragoza já mantém com a universidade. As duas entidades têm um pacto de colaboração há anos, e a escola de ensino superior tem como prática a adoção de parcerias com empresas em cada um de seus segmentos.

Como contrapartida pelo investimento, o Zaragoza terá direito a algumas propriedades de publicidade estática no interior da universidade. Além disso, ganhará livre acesso aos resultados dos trabalhos acadêmicos sobre futebol, o que pode ajudar na metodologia de treinamento.

Ceará terá kit e campanha após acesso

REDAÇÃO
Da Máquina do Esporte, em São Paulo


Promovido à primeira divisão do Campeonato Brasileiro, o Ceará vai aproveitar esse feito para incluir novas iniciativas em seu planejamento de marketing. O time alvinegro já lançou uma campanha para movimentar a torcida, e prepara para esta semana um kit de produtos alusivos à conquista da vaga.

A ação que o Ceará já divulgou é chamada "nosso amor é de primeira", slogan que deve nortear toda a comunicação do clube para 2010. A campanha já está no site oficial da equipe cearense, e a ideia da diretoria é aproveitar o bom momento para fazer ações com o público a fim de aumentar o número de sócio-torcedores.

Quanto ao kit do acesso, o Ceará pretende lançar ainda nesta semana um conjunto de revista e pôster sobre a campanha do clube na Série B do Campeonato Brasileiro de 2009. Um DVD também está sendo feito, mas a previsão é que ele chegue às lojas posteriormente. Os preços ainda não foram definidos.

"Temos de aproveitar o bom momento. O Ceará agora está na Série A, o que é um marco importante. Vamos usar isso para trabalhar o plano de sócio-torcedor e para criar novas fontes de receita", confirmou Evandro Leitão, presidente do clube, em entrevista coletiva.

domingo, novembro 29, 2009

Testes físicos de pré-temporada para goleiros: metodologia de trabalho
Organização depende de condições financeiras, disponibilidade de equipamentos, competência dos profissionais, apoio da direção e compreensão do grupo de atletas
Marcos Timóteo Rodrigues de Sousa

O objetivo deste artigo é apenas expor uma metodologia de trabalhos realizados em uma pré-temporada. Vale ressaltar que a organização de uma preparação depende das condições financeiras e disponibilidade de equipamentos. A competência dos profissionais, as instalações do clube, o apoio da direção e a compreensão e a paciência do grupo de atletas sintetizam em bons resultados.

A pré-temporada é um momento muito importante na formação do atleta, digo formação, pois todo o início de temporada, independentemente da categoria, é um reinício de preparação física.

A preparação física reabilita todo o condicionamento técnico, tático e psicológico do goleiro. A boa execução e condução da sequência de testes são imprescindíveis para a reabilitação e preparação para todo o campeonato.

Segue abaixo uma metodologia de trabalho a qual compreende uma proposta de testes. Há uma série a ser cumprida em um determinado tempo. Para a realização dos testes, necessita-se de uma boa equipe de preparadores e um bom grupo de atletas que compreendam o significado da pré-temporada.

Os 11 testes foram realizados com um grupo de 34 atletas profissionais nos meses de junho e julho de 2009 na cidade de Itaúna, em Minas Gerais. O trabalho fez parte da preparação para a Copa Minas. Toda a metodologia foi conduzida pelo preparador físico Marcelo Froeder e pelo preparador de goleiros Marcos Timóteo Rodrigues de Sousa. Dentre os cinco goleiros do grupo, colocamos apenas os resultados dos testes com dois atletas.

Procuramos organizar os trabalhos com bola a partir dos resultados individuais de cada tabela. De acordo com os resultados de cada atleta acionamos os trabalhos do grupo de fisioterapeutas e da nutricionista. Vale ressaltar que cada resultado precisa ser comparado ao peso, estatura, idade dos atletas e parâmetros da bibliografia pesquisada.

1- Goleiros


2- Lista de Resultados (Perímetros, Peso Corporal, % Gord., Est.)



3- Teste de corrida 30 metros



4- Teste de Salto Vertical



5- Teste de Salto Horizontal

Atleta / 1 / 2

Charles / 187 / 185

Jean / 225 / 235


6- Lista de resultados (aparelhos de musculação)



7- Teste de RAST



8- Teste de Corrida de 300 metros



9- Teste de Corrida 10 metros



10- Teste de abdominal: (repetições em 1 min): Homens (pollock et al, 1978)



11- Teste de Cooper (12' min)



*Marcos Timóteo Rodrigues de Sousa é treinador de goleiros do Esporte Clube Itaúna/MG

Gols sagrados ou as lições de Phil Jackson aos treinadores de futebol
Nos apontamentos de “Big Phil” fica evidente que é possível treinar jogadores de modo que, pela metodologia aplicada, seja possível formar jogadores inteligentes, autônomos e vencedores

Cada jogo é uma charada que tem que ser
resolvida, e não existe resposta no manual

Phil Jackson


Alcides Scaglia

Meus alunos do curso de Bacharelado em Educação Física e eu findamos uma missão neste semestre. Nós nos propusemos a desenvolver, durante o ano todo, duas disciplinas que tinham objetivos muito claros: os conhecimentos necessários à formação de treinadores de jogos coletivos.

Nessas disciplinas, no primeiro semestre, desenvolvemos conteúdos referentes aos aspectos metodológicos. Ou seja, como desenvolver metodologias eficazes e eficientes para se alcançar os objetivos de treinamentos técnicos e táticos previstos na especialização, respaldados pelos recentes conhecimentos produzidos pelas novas tendências em pedagogia do esporte.

Para o término desse semestre, os alunos produziram um dossiê: uma pesquisa bibliográfica e de campo sobre uma modalidade esportiva, ressaltando seus expoentes e, principalmente, as metodologias que se aplicam nestes locais.

Já no segundo semestre, a disciplina tirou o foco dos aspectos metodológicos para enfatizar o planejamento e a gestão. Desse modo, entra em cena a didática.

Os conhecimentos desenvolvidos nesse período do ano abarcaram leituras sobre planejamento estratégico, logística e, sobretudo, gestão. Estudamos as diferentes teorias sobre liderança, encerrando com seminários que se caracterizaram um autêntico curso sobre liderança em jogos coletivos.

Como trabalho final, em substituição às tradicionais provas, os alunos produziram durante todo o semestre um portfólio sobre um treinador escolhido por eles, e o apresentaram.

Para um melhor entendimento, o conceito de portfólio, segundo os autores portugueses Jones & Shelton, seria: “Portfolios são documentos personalizados do percurso de aprendizagem, são ricos e contextualizados. Contêm documentação organizada com propósito especifico que claramente demonstra conhecimentos, capacidades, disposições e desempenhos específicos alcançados durante um período de tempo. Os Portfolios representam ligações estabelecidas entre acções e crenças, pensamento e acção, provas e critérios. São um meio de reflexão que possibilita a construção de sentido, torna o processo de aprendizagem transparente e a aprendizagem visível, cristaliza perspectivas e antecipa direcções futuras.”

O objetivo específico do portfólio era investigar a carreira de um treinador, destacando os aspectos de sua formação, de sua vida esportiva, de suas conquistas e episódios pertinentes ao nosso estudo. Mas o mais importante foi a reflexão que cada aluno fez ao ter que apresentar as lições que aprendeu com esse treinador, além dos aprendizados acrescidos em seus respectivos processos de formação.

Contudo, escrevi esse preâmbulo para contextualizar a crônica pedagógica, pois motivado pelo portfólio de um grupo de alunos, os quais investigaram a vida e a obra (conquistas esportivas) do consagrado treinador de basquete da NBA, Phil Jackson, que comandou o imbatível time do Chicago Bulls, com Michael Jordan e companhia, e hoje está à frente do Lakers, também conquistando títulos.

Isso me fez sentir novamente a necessidade de voltar a ler o livro “Cestas Sagradas”, e confirmar o que sempre disse em aula, quando algum aluno me perguntava sobre a formação de treinadores: “Ninguém pode querer ser um treinador diferenciado sem ler o livro ‘Cestas Sagradas’”.

O livro todo é especial, carregado de lições a treinadores, mas gostaria de destacar um excerto do tópico “Dando poder ao time”, somente para instigar os pretensos jovens treinadores do século XXI a estudar o livro.

“Um dos pontos centrais em minha visão era conseguir que os atletas pensassem por si mesmos. Doug Collins mantivera os jovens jogadores, especialmente Scottie Pippen e Horace Grant, na rédea curta, frequentamente gritando com eles quando erravam. Durante o jogo, ficavam olhando para o banco, tentando nervosamente adivinhar o que ele estava pensando. Quando começaram a fazer isto comigo, tratei de cortar logo: ‘Por que estão olhando para mim? – perguntei. Vocês já sabem que erraram’.

Se os homens iam aprender a atacar, tinham que ter confiança suficiente em si mesmos para tomarem suas próprias decisões. Isto nunca aconteceria se estivessem sempre seguindo as minhas diretrizes. Queria que se desligassem de mim, para que pudessem se ligar aos colegas e ao jogo.

Poder contar com o Jordan na quadra ajudou muito. Ele muitas vezes juntava os jogadores por alguns segundos, no meio de um jogo, para dar-lhes conselhos improvisados. Este tipo de resolução de problemas em cima da hora, na prática, era extremamente valioso, não apenas porque acelerava o processo de aprendizagem, mas também porque fortalecia a mente grupal. Alguns técnicos sentem-se ameaçados quando seus jogadores começam a firmar sua independência, mas eu acho que esta é uma forma muito melhor de tornar o processo decisório acessível a todos em um grupo. Cada jogo é uma charada que tem que ser resolvida, e não existe resposta no manual. Os jogadores, em geral, conhecem o problema melhor do que a equipe técnica, porque estão no meio dos acontecimentos e podem sentir intuitivamente as forças e as fraquezas dos adversários.

Para chegar a este ponto, eu tinha que dar aos jogadores a liberdade de descobrir o que funcionava e o que não funcionava. Isto significava colocá-los na quadra em combinações diferentes, e deixá-los lidar com situações traiçoeiras sem resolver o problema para eles.”

A transposição destas palavras ao futebol são óbvias, mas cada treinador deve entendê-las e transpô-las respeitando os seus respectivos contextos. Porém, nas lições do “Big Phil”, fica evidente que é possível treinar jogadores de modo que, pela metodologia aplicada, seja possível formar jogadores inteligentes, autônomos e vencedores.

Arquiteto e urbanista aponta saída terrestre para sistema de transporte eficaz e de baixo custo
Projeto implementado pelo próprio em Curitiba poderia ser viabilizado no Rio de Janeiro, beneficiando mobilidade urbana
Equipe Universidade do Futebol

Jaime Lerner é arquiteto e urbanista e criou o sistema conhecido como BRT (Bus Rapid Transit), implantado na cidade de Curitiba com muito sucesso. O projeto consiste em uma ou mais linhas, nas quais os ônibus trafegam em alta frequência. E este poderia ser a solução de um dos problemas de mobilidade urbana do Rio de Janeiro, palco dos Jogos Olímpicos de 2016 e uma das sedes da Copa do Mundo, que ocorrerá dois anos antes.

“Um ônibus com capacidade para 300 passageiros, com intervalo de tempo de 1 minuto entre cada um, transporta 18 mil pessoas por hora. Isto representa um custo muito menor que o metrô, por exemplo”, justificou Lerner, durante a Convenção Mobilidade Sustentável na Renovação Urbana, realizada nesta semana na capital carioca.

O BRT provê um serviço rápido, confortável, eficiente e de qualidade, simulando o desempenho e outras características atrativas dos modernos sistemas de transporte urbano sobre trilhos – o diferencial está nos custos.

Corredores exclusivos ou preferência para a circulação do transporte coletivo; embarques e desembarques rápidos, através de plataformas elevadas no mesmo nível dos veículos; sistema de pré-pagamento de tarifa; veículos de alta capacidade, modernos e com tecnologias mais limpas; transferência entre rotas sem incidência de custo; integração modal em estações e terminais; programação e controle rigorosos da operação e sinalização e informação ao usuário são alguns dos benefícios.

De acordo com Lerner, há um aspecto de segurança que o sistema de tubos (modelo dos terminais) oferece. Em Curitiba, cujos terminais de ônibus ficam em frente aos principais estádios de futebol (Arena da Baixada e Couto Pereira), não há registros de depredação.

“As autoridades têm de pensar como será o projeto emblemático, fruto da imaginação de diversas ações voltadas à revisão dos modelos de infraestrutura e transporte para melhorar a vida dos cidadãos”, argumentou ainda, em entrevista ao site Copa 2014.org, o presidente do Centro de Transporte Sustentável do Brasil, Luis Antonio Lindau.

Venda centralizada de direitos nas Ligas
A necessidade da venda coletiva dos direitos televisivos dos jogos dos clubes através das suas Ligas e/ou federações nacionais é hoje uma realidade em expansão
O conceito de que a Liga de futebol é apenas o organismo organizador de competições está totalmente ultrapassado. Hoje em dia, as Ligas profissionais têm de assumir também a responsabilidade pelo sucesso comercial das competições que comandam e zelar para que os clubes tenham as melhores condições econômicas possíveis, como forma de incrementar a competitividade desportiva e financeira entre todos.

Afinal, é constituída pelas agremiações. No entanto, em muitos países essa instituição é confundida com “poder” em vez de se entender que é o principal meio para obter mais e melhores receitas e competições atrativas do ponto de vista do torcedor.

A necessidade da venda coletiva dos direitos televisivos dos jogos dos clubes através das suas Ligas e/ou federações nacionais é hoje uma realidade em expansão, tendo como objetivo o urgente aumento das receitas dos clubes.

Temos divulgado inúmeras vezes os valores pelo quais são vendidos os direitos de TV, mas a importância da centralização da venda desses aportes comerciais nas Ligas não se esgota na venda dos diversos pacotes de transmissão.

O exemplo inglês é mais uma vez o reflexo da quantidade de receitas disponíveis para distribuir entre os clubes.

¦ Patrocínio/Naming da liga (Barclays): 30 milhões de euros anuais
¦ Direitos televisivos (diversos operadores): 1,030 milhão de euros anuais
¦ Direitos televisivos internacionais (diversos operadores): 300 milhões de euros anuais
¦ Publicidade estática (IMG): 43,5 milhões de euros anuais*

Caso siga em frente a venda coletiva da publicidade nos estádios ingleses, os clubes da Premier League podem ter brevemente ao seu dispor mais de 1,4 milhão de euros para repartir entre si.

Se dividirmos esse bolo igualmente por 20 clubes, cada um receberia cerca de 70 milhões de euros por temporada. No entanto, é necessária uma partilha equilibrada, respeitando a dimensão e performance desportiva de cada clube, tendo em vista o desenvolvimento consolidado de cada coletividade.

*em estudo

Fonte: Futebol Finance

Intertexto: Universidade do Futebol


Inter supera esfera esportiva, bate grandes marcas e leva prêmio ligado a comércio e marketing
Clube gaúcho recebe prêmio Peter Drucker em cerimônia realizada pela regional da Associação de Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil
Equipe Universidade do Futebol

Falecido em 2005, Peter Ferdinand Drucker foi um grande filósofo e economista austríaco. Considerado o pai da administração moderna, mantém-se no rol dos mais renomados pensadores do fenômeno dos efeitos da globalização na economia, em geral, e nas organizações, em particular. Sua relação com o Sport Club Internacional foi reconhecida na última quinta-feira.

O clube gaúcho faturou a principal honraria do “27º Top de Marketing” gaúcho, o qual carrega o nome de Ducker, superando marcas consagradas, como o grupo de comunicação RBS, o Banrisul, a Marcopolo e o Sicredi.

“É motivo de imensa honra e alegria termos nos destacado perante marcas tão fortes e conceituadas como estas. Esse prêmio é de toda a nação colorada”, comemorou o diretor executivo de marketing do clube, Jorge André Avancini.

O evento anual é promovido pela sucursal gaúcha da Associação de Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB-RS). Além de vencer a categoria “Esportes” pela segunda vez - o anúncio já havia sido feito no último dia 18 -, o Inter surpreendeu com o “Prêmio Peter Drucker” como o melhor case de marketing do Estado em 2009.

O motivo foi o conjunto de ações comemorativas ligadas ao centenário do clube, comemorado na atual temporada. A agremiação colorada obteve a pontuação máxima nos quesitos avaliados, independentemente de categoria.

Pepe Guardiola vs José Mourinho: o que tem o treinador espanhol, que falta ao português
O atacante Ibrahimovic, que foi treinado pelos dois, considera que Guardiola tem uma vantagem sobre Mourinho. Eu ainda penso que tal vantagem, na verdade, é uma desvantagem!

Rodrigo Azevedo Leitão

O FC Barcelona e a Internazionale de Milão se enfrentaram no dia 24 de novembro na Espanha, pela Uefa Champions League 2009/2010.

A equipe espanhola venceu a partida por 2 a 0.

Não bastasse o fato de serem duas das melhores equipes da Europa, o jogo chamou a atenção, também, pelo confronto entre dois treinadores de grande (e rápido) sucesso.

De um lado Pepe Guardiola, atual campeão da competição, com sensacional desempenho na última temporada. Do outro, José Mourinho, com grandes feitos e marcas de grande expressão (como, por exemplo, estar a mais de 100 jogos sem perder em competições nacionais, jogando “em casa” com suas equipes), buscando reafirmar a condição de grande treinador mesmo em competições internacionais.


No duelo entre os times comandados pelos dois, melhor para o espanhol: Barça 2-0 Inter

As estatísticas do jogo refletiram tanto o comportamento das duas equipes quanto o resultado final da partida, que foi de vitória para o FC Barcelona.

Pois é, mas talvez uma das coisas que mais chamaram a atenção daqueles que acompanham o trabalho dos dois treinadores – mais até do que o próprio jogo –, tenha sido o que disse o jogador Ibrahimovic, que até pouco tempo atrás era jogador da Inter de Milão (portanto, treinado por Mourinho), e agora está na equipe espanhola (treinando com Guardiola).

O jogador sueco fez uma breve comparação entre os dois treinadores. O noticiário do site português O JOGO publicou suas declarações. Abaixo segue o texto (sem adaptações idiomáticas) publicado no site (disponível em: www.ojogo.pt):

“(...) O avançado sueco Zlatan Ibrahimovic define Guardiola e José Mourinho como treinadores "com enorme atitude" e "ambiciosos", mas considera o técnico do FC Barcelona mais activo.

"A grande diferença é que Guardiola é mais activo e com isso quero dizer que quando ele explica algo nos treinos também demonstra fisicamente o que pretende", referiu Ibrahimovic em entrevista ao site da FIFA.

O internacional sueco considera ambos treinadores de topo, uns "vencedores", mas explica que a razão pela qual Josep Guardiola é mais activo tem a ver com o facto de ter sido também um futebolista de topo.

"O Mourinho nunca jogou ao mais alto nível, mas ambos têm uma grande atitude e um enorme desejo de sucesso. Os dois têm a capacidade de explicar claramente o que querem e serem muito directos com os jogadores. São dois vencedores", disse.

A um nível mais pessoal, o avançado sueco referiu que tanto o técnico do FC Barcelona, como Mourinho (no Inter Milão) conseguem ter boas relações com os jogadores e que no seu caso isso sempre aconteceu com ambos.

"Não posso falar pelos outros, mas sempre me dei muito bem com Mourinho. Tal como me dou agora com Pep (Guardiola)", acrescentou Ibrahimovic.(...)”.

Como podemos observar, sem muitas delongas, Ibrahimovic considera que os dois treinadores em questão têm características de vencedores, mas destaca que em sua opinião Guardiola é mais ativo, porque faz demonstrações “físicas” daquilo que quer. Atribui essa diferença ao fato de José Mourinho não ter sido grande jogador, como foi Guardiola.

Segundo o site da CNN International, em uma lista que classificou os treinadores de futebol na temporada 2008/2009, a partir do seu aproveitamento (lista em que figura o treinador brasileiro Mano Menezes), Pepe Guardiola foi o melhor de todos (com 87,6% de aproveitamento, e três títulos – dois nacionais e um internacional).

Mourinho ficou em terceiro, bem distante em aproveitamento, do treinador espanhol (67,9% de aproveitamento e dois títulos – ambos nacionais).

O fato é que os números em longo prazo do treinador português realmente são impressionantes (dado o número de jogos) e ainda precisam ser batidos – também por Guardiola, que tem uma curta carreira.

Não estou aqui a escrever para tomar partido deste ou daquele treinador. Gosto do trabalho (ou melhor, da expressão do trabalho) dos dois, assim como gosto de outros tantos (aos quais incluo os brasileiros Luis Felipe Scolari, Mano Menezes, Zagallo, Vanderlei Luxemburgo, Carlos Alberto Parreira, Vagner Mancini). Porém, quero salientar que talvez a principal qualidade destacada por Ibrahimovic sobre Guardiola, comparando-o a Mourinho, seja na verdade um dos seus pontos fracos.

Mostrar “fisicamente” aquilo que se deseja, aquilo que se espera que os jogadores façam no jogo, pode ser um tiro saindo pela culatra. Quando um treinador entra em campo para ser “jogador do treino que ele preparou para os seus jogadores treinarem”, algo precisa ser revisto. Treinador não entra em campo na hora do jogo!

Isso quer dizer, em outras palavras, que ter que entrar em campo (no treino) para “fazer” pode ser resultado de uma incapacidade de elaborar estratégias de treinamento que didaticamente levem os jogadores a fazerem bem o que precisa ser feito por eles próprios!

Na hora do jogo, quem toma as decisões e resolve os problemas de imediato são os jogadores. Se forem “adestrados”, terão dificuldades em saber o que fazer. Se tiverem o treinador, no treino, fazendo por eles, podem estar “pulando” alguma etapa importante do processo de treinamento, e por isso apresentar dificuldades de expressar em campo o “jogar” individual e coletivo “desejado” - e isso quer dizer, em outras palavras, que a construção da compreensão sobre o jogo, pelos jogadores, pode ficar comprometida e, portanto, dificultar a solução de problemas circunstanciais que no jogo apareçam (em resumo, também terão dificuldades em saber o que fazer).

O modelo de treino no FC Barcelona está muito evoluído. O modelo de jogo, comparado aos seus adversários, também – e isso contribui para que treinadores com o perfil “Barcelona” administrem uma “máquina de jogar futebol”, que está sempre funcionando muito bem.

Isso pode mascarar erros da ação do treinador, mas certamente não por tanto tempo.

Então, que venha o tempo para nos dizer quem - se Mourinho, Pepe Guardiola, ou algum outro que ainda não se sabe quem é - é o melhor...

Rodrigo Rezende, do Paraná Clube
Preparador físico comenta sobre metodologia, interação com a base e uso dos scouts técnicos
Bruno Camarão

A carreira de Rodrigo Rezende está intimamente ligada ao Paraná Clube. Há sete anos na agremiação tricolor, transitou por várias categorias da base até alcançar um posto no departamento de futebol profissional – primeiro sendo assistente, depois consolidado como preparador físico principal.

Graduado em Educação Física pela Universidade Tuiuti do Paraná, em 2002, Rodrigo se especializou em Treinamento Desportivo pela Universidade de Londrina (UEL), sua cidade natal, um ano depois.

Um trabalho acadêmico de conclusão de curso, voltado às especificidades da concentração de uréia em atletas, conduziu-o ao ingresso no futebol. Caio Júnior foi o primeiro treinador com quem trabalhou. Isso quando ambos estavam iniciando suas funções, ainda no departamento amador, no qual Rodrigo pôde desenvolver uma metodologia específica. A realidade do futebol nacional, amparado por uma cultura de resultados, entretanto, já foi sentida.

“Hoje existe uma apostila maravilhosa de trabalho, e mesmo assim quem coordena a preparação física tem a liberdade para criar seus exercícios e treinos. Apenas controlamos a quantificação dos conteúdos para realmente haver uma evolução no processo de formação”, explicou, nesta entrevista à Universidade do Futebol.

“No profissional, ainda estou pensando como fazer isso. O problema é que só neste ano trabalhei com cinco treinadores distintos e o rodízio de atletas é constante...”, lamentou Rodrigo, ciente das dificuldades.

Rodrigo ainda possui atuação docente no Centro Universitário Campos Andrade (Uniandrade) e na própria universidade onde se formou, ambas no curso de Educação Física, e na pós-graduação do curso de Especialização em Futebol (Cepdap).

Dentre outros temas, fala sobre o monitoramento do volume individual de jogo sobre cada atleta que efetua, o desenvolvimento dos treinos “físicos-técnicos” e a intenção do Paraná Clube de contar com o auxílio de uma psicóloga durante toda a temporada de 2010.

Universidade do Futebol – Sua carreira é basicamente ligada apenas ao Paraná Clube. Em primeiro lugar, conte um pouco sobre sua formação e a trajetória no futebol.

Rodrigo Rezende - No último ano de faculdade resolvi fazer uma pesquisa (monografia) com atletas de futebol. O objetivo era verificar o desgaste físico, dia a dia, com coletas de sangue e análise da concentração de uréia*.

Consegui, então, abertura na equipe de juniores do Paraná Clube. Fui chamado para auxiliar de preparação física daquela categoria em 2002, devido à excelente pesquisa. O técnico do time de base era o Caio Júnior, hoje no Catar.

O Caio inclusive me chamou para fazer um estágio no Palmeiras, quando ele comandou o time paulista. E depois recebi um convite do Carlinhos Neves, preparador físico do São Paulo, para ficar uma semana no CCT do clube do Morumbi.

Em 2003 fui efetivado como preparador físico do juvenil (sub-17): conquistamos o vice-campeonato estadual daquele ano; em 2004 fomos campeões metropolitanos; em 2005 fui promovido ao júnior, pelo qual novamente faturamos o vice estadual; em 2006 fomos campeões da Copa Tribuna contra o Atlético-PR, na Arena da Baixada, diante de 12 mil torcedores (0 x 2); e em 2007, enfim, nos sagramos campeões do Estadual de júnior, após um jejum de 11 anos sem esse título pelo clube.

Ainda em 2007, fomos à Porto Alegre para o Campeonato Brasileiro sub-20 e terminamos na terceira colocação, batendo o Grêmio nesta disputa - a final foi entre Cruzeiro e Inter, com a vitória dos mineiros.

Na base, ajudei ainda na formação de atletas, como o Eltinho (Flamengo, Japão, Avaí), o Giuliano (hoje capitão da seleção brasileira sub-20 e atleta do Inter), o Everton (Flamengo), o Maicossuel (Botafogo, Cruzeiro, Palmeiras), o Rodrigo Pimpão (Vasco da Gama) e o Thiago Neves (Fluminense, Japão, futebol do Oriente Médio).

Em 2008, fui promovido ao departamento profissional. Como a equipe caiu para a Série B do Brasileiro em 2007, no ano seguinte apostaram nas pratas-da-casa, e fui ao profissional como auxiliar da preparação física.
Já nesta temporada de 2009, o Paraná Clube me efetivou como preparador físico principal. Trabalhei com o Paulo Comelli, o Velloso, o Zetti, o Sérgio Soares e agora o Roberto Cavalo.

*A uréia é um substrato da degradação de proteína e pode ser uma variável de análise individual. Sendo assim, aqueles atletas que estavam com a concentração acima do limite estipulado pela bibliografia, eram submetidos a um período de treinamento de recuperação.

Universidade do Futebol – No início da temporada, após a saída do Manoel Santos, você, então auxiliar da preparação física profissional, assumiu a função principal. Como você encontrou o grupo à ocasião e qual a avaliação do trabalho como um todo, já se aproximando do fim da Série B do Campeonato Brasileiro?

Rodrigo Rezende – Para o Campeonato Paranaense, o Manoel foi contratado a pedido do treinador Paulo Comelli. Ele havia participado da campanha de acesso do Atlético-MG com o Levir Culpi.

Foi difícil meu início de trabalho, pois o time estava mal na competição e, após a saída do Manoel, passamos algumas rodadas sem conquistar bons resultados. Então, o Comelli saiu do comando. Veio o Velloso só para terminar o Estadual, que terminamos em quinto lugar – até que a equipe evoluiu bastante, pois passamos boa parte da competição entre os três últimos colocados.

Infelizmente todos foram embora ao final do Paranaense. Na semana seguinte, foram contratados 14 atletas em diferentes condições, além do técnico Zetti. Sofremos no início da Série B.

A estreia foi contra o Bahia em Salvador com apenas cinco dias de treinos: uma loucura. No meio do primeiro turno, com uma nova mudança da comissão técnica, o Sérgio Soares foi contratado e com ele veio o preparador físico Stélio Metzker, e eu tive que voltar a ser auxiliar.

Por fim, houve a última troca: chegou o Roberto Cavalo e já são nove jogos sem derrotas, e em 13 jogos só perdemos duas vezes (para Portuguesa e Figueirense, ambos em casa)**.

**Dados referentes até a penúltima rodada da Série B do Campeonato Brasileiro – empate por 2 a 2 com o Vila Nova, em Goiânia. Na despedida do certame, o Paraná Clube recebe o já rebaixado Fortaleza.

Rodrigo orienta treinamento entre os profissionais: vida do preparador físico está ligada ao Paraná Clube

Universidade do Futebol - E como é que se pode traçar no início do Campeonato um plano de auge do desempenho fisiológico do grupo, se, no meio da competição, muda-se a comissão técnica e há variação em termos de contratação e venda de atletas?

Rodrigo Rezende - É complicado, mas existe, sim, uma estratégia. Eu uso sempre um “slogan” de trabalho: POP, no qual o 1º “P” é de Planejamento; o “O” é de Organização e o 2º “P” é de Profissionalismo.

Há vários "picos" durante sete meses de campeonato. Trabalho com a forma de dar primeiro uma boa base de resistência e força, e depois priorizo a resistência especial (situações de jogo), resistência de força e posteriormente potencia e velocidade.

O tempo de trabalho em cada capacidade depende muito do tempo hábil que você tenha para trabalhar, condição do elenco e necessidades individuais

Universidade do Futebol – O objetivo explícito do Paraná era alcançar o acesso à primeira divisão do futebol nacional, competição que não disputa desde 2007. Há diferenças em se realizar um projeto dentro da área de preparação física na elite e na divisão de acesso?

Rodrigo Rezende - O futebol é um só, porém na primeira divisão o estilo de jogo e a qualidade técnica dos atletas entre as equipes variam bastante. Na Série B, acredito que seja mais nivelado e é uma disputa em que a preparação física realmente decide muitos jogos

Tivemos viagens difíceis, como até Caxias do Sul, para enfrentar o Juventude, Ipatinga, quando pegamos avião até Belo Horizonte e depois mais quatro horas de estrada sinuosa. Sem contar a mudança de clima constante entre as regiões do nosso país.

Universidade do Futebol – Como se dá a interação entre a preparação física e comissão técnica, departamentos médico e de fisiologia, e com o próprio trabalho realizado nas categorias de base, local por onde você passou durante vários anos?

Rodrigo Rezende - Há uma interação maravilhosa entre os departamentos da preparação física, a fisiologia e o departamento médico. As avaliações da fisiologia são bem claras e divulgadas com médias e índices - o objetivo é dar o “norte da bussola” à preparação física.

Quando um atleta se lesiona, existe uma padronização do tratamento em relação a cada lesão, e criamos quatro ciclos de reabilitação na preparação fisica.

Dependendo da gravidade da lesão e/ou do tempo de inatividade, o atleta fica os quatro ciclos (referência a quatro semanas) treinando separadamente. Se for algo de baixa gravidade, este atleta fica em um ou dois ciclos de recuperação, por exemplo.

Há uma característica peculiar de cada:

1 - ênfase em resistência geral e localizada
2 - força e resistência de força
3 - velocidade e resistência de velocidade
4 - específico (ênfase nos trabalhos técnicos)

Universidade do Futebol – Pensando na evolução do departamento de futebol, qual é a importância da longevidade do preparador físico? Considera interessante o profissional responsável pelo condicionamento dos atletas acompanhar o treinador ou pensa que ele deveria ficar atrelado à agremiação?

Rodrigo Rezende - Eu acredito em um trabalho de médio e longo prazo. Quando o preparador físico se mantém no clube, tudo fica mais fácil. Pois a metodologia e a linha de trabalho se mantêm.

Quando chega um novo treinador, o trabalho pode ser conduzido de maneira muito mais facilitada. Por outro lado, para mim, uma equipe só obtém resultados satisfatórios quando há uma sintonia entre preparação técnica e preparação física.

Os treinadores devem sempre traçar objetivos em cada treino, como fazemos na preparação física.

Não adianta nada aplicar um coletivo só por aplicar. É necessário traçar objetivos defensivos, ofensivos, estratégia em relação ao adversário, etc.

O mesmo vale para trabalho de finalização sem monitoramento do número de chutes de cada atleta e seu respectivo aproveitamento.

Em qualquer trabalho há um metabolismo fisiológico envolvido e é necessário se ter um “efeito positivo de carga”, ou seja, se eu fizer um trabalho glícolítico*** nos dias que antecedem a partida, é sinal de um comprometimento para o jogo.

O coletivo, por exemplo, é um simulado de um jogo. Portanto, se há dois jogos na semana, um coletivo pode prejudicar a performance nos jogos. Nessas ponderações que se justifica a sintonia entre as preparações técnica e física.

Gosto muito de monitorar o volume individual de jogo - quantos minutos cada atleta jogou (jogo a jogo e ainda o somatório). Devemos estar sempre atentos ao acúmulo de partidas, o que compromete a performance do atleta.

Estou desenvolvendo treinos chamados de “físicos-técnicos”, nos quais em uma mesma sessão trabalhamos objetivos dessas duas vertentes. O atleta treina muito mais alegre quando há a presença da bola nas atividades físicas.

Há treinos com bola que, inclusive, podem ser muito mais intensos do que alguns chamados de treinos físicos.

***Para GODIK (1996), é fundamental a importância dos mecanismos anaeróbicos glicolíticos, de maneira que durante o tempo de jogo o jogador realiza em torno de 100 arranques com máxima velocidade em curtas distâncias, com o objetivo único de vencer o adversário no tempo e no espaço. "Se o nível da resistência de velocidade dos jogadores for alta, então a velocidade destes arranques no início, no meio e no fim dos períodos de jogo serão mais ou menos iguais. Se isso não ocorrer, então ele diminuirá" GODIK (1996, p.123).

Universidade do Futebol – Qual a fronteira entre a participação do preparador físico no amparo psicológico aos atletas, e o trabalho propriamente dito de um profissional específico da área? Você aborda conceitos de auto-ajuda e neurolinguística no trabalho diário do Paraná?

Rodrigo Rezende – Esse é um tema que me agrada muito. Estamos contactando a psicóloga do esporte Beatriz Dorigo (formada em Piscologia e em Educação Física) para 2010. Mas quero fazer um curso de PNL (Programação Neurolinguística).

Com o Velloso, realizei esse trabalho nas concentrações, com dinâmicas de grupo, mas há uma barreira, sim.

Indiretamente eu abordo muito conceitos de auto-ajuda e neurolinguística. Por exemplo: busco particularidades dos atletas e, aos poucos, vou relembrando fatos positivos que cada um já viveu. Além disso, com o uso de expressões verbais particulares.

Devemos sempre dizer “coragem”, ao invés de “não tenha medo”; “vamos ganhar”, e não “não podemos perder”. Situações simples, mas que fazem adiferença.

Trabalhos psicológicos são fundamentais para o desempenho dos atletas

Existe um curso chamado coaching, parece ser interessante. Eu quero crescer nesta área, mas meu perfil como preparador físico é mais voltado à força e à velocidade.

Procuro focar a resistência aeróbia nos treinamentos com bola. Meu atleta não corre ao redor do campo, pois ele fica saturado com isso. É necessário ser criativo.

Procuro fazer disputas sadias entre eles, muitas vezes entre pequenos grupos. Treinos novos, com objetivos e metas.

Um exemplo: já levei um dado para o campo e, no fim de um treino físico, cada atleta jogou o objeto para o alto. Caindo número ímpar, ele faria mais repetições, se caísse número par, menos.

Ou quando estiver faltando seis repetições de determinado exercício ou seis tiros de velocidade, joga-se o dado: o número obtido passaria a ser o número repetições a serem realizadas. É muito divertido para os atletas, que passam a trabalhar com muito mais alegria.

Universidade do Futebol – A adaptação fisiológica que o atleta vai ter será específica da posição? Ou a própria característica do jogador para o modelo de jogo do treinador o levará a essas particularidades? E como as capacidades do atleta, de uma forma geral, serão relacionadas à forma coletiva, na aplicação do futebol “formal”?

Rodrigo Rezende - Em relação à musculação, faço toda semana entre uma e duas sessões semanais, trabalhando membros superiores e inferiores.

Utilizo a cada 15, 20 dias o core training, onde objetivamos prevenir lesões e equilibrar a musculatura. São exercícios de estabilização (isometria) e dinâmicos (concêntricos), com ênfase no abdome.

Essa parte do corpo, entre o tórax e a bacia, é pouco trabalhada nos treinamentos, porém exerce uma função importante no futebol. Um abdome fortalecido evita a sobrecarga à pelve (assoalho pélvico), evitando a pubalgia (inflamação do púbis). Além disso, auxilia na correção postural do atleta.

O adutor também deve ser fortalecido, com o mesmo objetivo de evitar sobrecarga local****.

Quando digo fortalecimento, quero dizer RML (resistência muscular localizada), em que trabalhamos com certo volume, porém com baixa intensidade (carga).

****Ao lado de Juvenilson de Souza e Márcio Henriques, dois outros preparadores físicos, Rodrigo Rezende está escrevendo um livro didático com mais de 70 treinos físicos. A supervisão é do consultor esportivo Antonio Carlos Gomes. A obra, da editora ArtMed, deverá ser lançada até o fim de junho do ano que vem.



Constante troca de treinadores na comissão técnica principal foi um dos entraves para o desenvolvimento do trabalho na temporada 2009


Universidade do Futebol – Durante o mês de maio, em meio à disputa da Série B, você explicou em uma entrevista que iria dosar as cargas de treinamento quando fosse possível e se utilizar da crioterapia, após as partidas, como forma de recuperar os atletas. Qual a avaliação que faz desse método?

Rodrigo Rezende - Confesso que nunca escrevi nada sobre o assunto. Mas na prática tem dado muito resultado. A crioterapia é realizada de forma bem funcional, podendo ser aplicada em pequenas piscinas ou em tambores individuais. A temperatura da água fica entre 10 e 12º C e o atleta permanece com os membros inferiores submersos durante sete a 10 minutos.

Alguns não gostam do procedimento em si, mas todos adoram a sensação nas 48 horas próximas. A recuperação é muito bacana de acordo com o relato dos próprios jogadores.

Eu acredito que a vasoconstrição favoreça a remoção do lactato e demais toxinas. Segundo Fox, em no máximo duas horas, 100% do lactato é removido, sendo 75% na primeira hora. Portanto, no dia seguinte ao jogo, eu prefiro a banheira de água quente (vasodilatação), com o relaxamento e o fluxo sanguíneo.

Universidade do Futebol – Em alguns de seus artigos, você expõe dados a partir de scouts técnicos. Qual a funcionalidade prática desse suporte tecnológico para o desenvolvimento do trabalho de campo com os atletas do Paraná Clube?

Rodrigo Rezende - O scout técnico é da área técnica. Mas como eu dava aula em faculdades em Curitiba, comecei a levar meus alunos aos jogos para coletar dados.

Formei, então, um grupo de acadêmicos que são remunerados por jogo – algo muito organizado, com um coordenador do grupo. Vinte e quatro horas após a partida, a comissão técnica recebe todos os dados em questão, com uma série de detalhes.

Colocamos em edital no vestiário dos atletas de forma muito direta. Posteriormente, são discutidos pontos relevantes nas reuniões entre todos. E é a melhor forma da cobrança, pois são estatísticas, e não opiniões. Os atletas, treinador e assistentes gostam muito. A diretoria, também.

Veja um exemplar de scout referente ao Campeonato Paranaense deste ano


Universidade do Futebol – O que diferencia hoje o trabalho entre preparadores físicos no Brasil, já que hoje o conhecimento está muito mais acessível? Existem modelos e métodos diferentes sendo aplicados por diferentes preparadores físicos no nosso país? Isso pode ser o diferencial para que algumas equipes vençam mais do que outras?

Rodrigo Rezende - O segredo é saber individualizar ao máximo a carga de trabalho do elenco (idade, volume de jogo, histórico de lesões, etc.). Além disso, muitos preparadores físicos se preocupam com os treinos e muitas vezes o diferencial é justamente a recuperação. A diferença está no planejamento, ou seja, quantos treinos haverá no mês, quantos serão físicos, quantos serão técnicos...

É muito importante saber escolher os meios e métodos de treinamentos para atingir determinado objetivo.

Eu acredito que o que diferencia mais é justamente o preparador físico fazer com que o elenco acredite no seu planejamento e na sua estratégia para a evolução física do grupo. Uma forma de conscientização, de treinar entendendo o porquê, fazendo o trabalho com prazer.

Universidade do Futebol – Você acompanha o que se vem fazendo na Europa em termos de preparação física? Quais inovações e caminhos ela (a preparação física) tem tomado por lá?

Rodrigo Rezende - Poderia acompanhar mais. Estou mais focado no Brasil, até pelo fato de o calendário competitivo ser bem peculiar. Para mim, o planejamento está extremamente ligado ao calendário competitivo.

Mas pensando nos treinamentos de forma isolada, acredito que podemos crescer muito como alguns países.

Já observei treinos pliométricos que me enriqueceram. O que sei é que na Europa eles treinam muito menos do que aqui.

Universidade do Futebol - Treina-se menos, ou se treina diferente?

Rodrigo Rezende - Em geral, treina-se menos. Mas se treina diferente, também. O Mourinho, por exemplo, foca todos os treinamentos de forma tática, ou seja, a forma como a equipe vai atuar.

Considero-o um treinador moderno, mas ainda acredito ser um pouco difícil aplicar alguns de seus conceitos no Brasil.

Universidade do Futebol - Por que?

Rodrigo Rezende - A cultura do atleta brasileiro ainda dificulta a aplicabilidade do processo. Não subestimando nossos jogadores, mas teremos dificuldade. Não sou contra, mas acredito que nossos técnicos necessitam de uma melhor formação também.

Acredito que todo técnico deveria colocar seu treinamento no papel antes de sua aplicabilidade com duração e objetivo. Muitos criam na hora, ou sempre são as mesmas coisas.

Utilizo muito os aquecimentos dos treinos para atingir determinado objetivo. Às vezes aprimoro coordenação, velocidade de reação, por intermédio de exercícios de aquecimentos, sem os atletas perceberem. Mas tem um objetivo. Não concordo em aquecer por aquecer.

Universidade do Futebol – Na Holanda, por exemplo, não há a figura do preparador físico, e sim a do assistente-técnico. Como é a sua relação de estruturação de trabalho com o treinador? Como o treino é estruturado?

Rodrigo Rezende - Na preparação física, utilizo o mesociclo. Tenho um planejamento mensal todo detalhado.

Na área técnica, normalmente eles [comissão técnica] realizam por semana. Então eu defino quais os dias e períodos da semana se trabalhará a preparação técnica e tática e fica a critério do treinador qual o tipo de treinamento a ser aplicado. Mas eu sempre oriento quanto à duração.

Por exemplo: não deixo a realização de finalização em gol após um treino cansativo; coletivo apenas quando há um jogo por semana e apenas 48 horas antes da partida.

Vou dando sugestões e justificando aquela opinião. Mas gostaria de criar uma padronização como criei na base.

No departamento amador, desenvolvi uma metodologia específica de trabalho para cada categoria que está em vigor até hoje.

Quantos treinos semanais cada categoria dever realizar (categorias pré-infantil, infantil, juvenil e júnior); quantas sessões na semana, no mês e no semestre de musculação, força, velocidade, resistência aeróbia, RML, potência, etc.; e ainda quantos coletivos, treinos táticos e de fundamento.

Hoje existe uma apostila maravilhosa de trabalho, e mesmo assim quem coordena a preparação física tem a liberdade para criar seus exercícios e treinos. Apenas controlamos a quantificação dos conteúdos para realmente haver uma evolução no processo de formação.

No profissional, ainda estou pensando como fazer isso. O problema é que só neste ano trabalhei com cinco treinadores distintos e o rodízio de atletas é constante...


Rodrigo Rezende utiliza-se do futevôlei como atividade no cotidiano paranista e vê falta de treino de fundamentos entre os profissionais

Universidade do Futebol - O Paraná possibilita aos seus profissionais das categorias de base intercâmbio de informações com membros outros clubes do país ou do exterior? O clube oferece cursos de aperfeiçoamento e capacitação à disposição dos profissionais ou isso é um processo individual?

Rodrigo Rezende - Infelizmente na base ainda não realizam intercâmbio ou cursos. Mas já há projetos para 2010 com esse objetivo.

Universidade do Futebol - Como jogos recreativos e/ou esportes relacionados ao futebol (como o futevôlei e o futsal, por exemplo) podem auxiliar na preparação física do futebol profissional?

Rodrigo Rezende - O futsal é uma modalidade em que não há irregularidade no piso, facilitando a execução dos fundamentos. As dimensões são menores e o atleta tem a participação muito maior na aprendizagem motora.

Já o futevôlei exige um maior domínio em relação à bola e à propriocepção, porém não há uma relação no comportamento de jogo do futebol.

Ambos auxiliam muito na prática da nossa modalidade profissional. Acredito ainda que elas se completam. Tanto que gosto muito de aplicar o futevôlei na categoria principal.

Os treinamentos de fundamentos devem ser realizados inclusive no profissional. Como em esportes coletivos de quadras, nos quais há esse procedimento.

No futebol é muito difícil você encontrar um treino apenas de fundamentos. Isso tem que mudar.

Universidade do Futebol - Fale um pouco sobre a importância de o jogador ser capaz de realizar diversas funções. Qual é a relevância desse tipo de atleta e da sua multifuncionalidade no futebol atual e qual a importância da preparação física para esse quesito?

Rodrigo Rezende - Esse tipo de atleta tem se tornado fundamental para o futebol moderno. Temos como exemplo o Leonardo, que hoje é técnico do Milan, o Julio Baptista, da Roma e, no meu time, o Toscano.

O treinador pode mudar completamente a forma de atuar sem precisar realizar uma substituição.

Em relação à preparação física, há uma necessidade de esse atleta estar sempre nas suas melhores condições físicas, pois além dele ser importante em várias posições, dificilmente deverá ser substituído.

Em termos fisiológicos, não tem problema um atleta acumular muito ou rapidamente o lactato - o importante é este tolerar o acúmulo da substância durante a atividade por um maior período de tempo.

Isso varia de caso a caso, mas podemos dizer que acima de 4 mmol, o atleta está no limiar anaeróbio (transferência do metabolismo aeróbio para o metabolismo anaeróbio).

Alguns atletas não conseguem ficar muito tempo com esse acúmulo. Outros ficam muito tempo em atividade no metabolismo anaeróbio. Com a lembrança de que o futebol apresenta o metabolismo misto.

Universidade do Futebol – Em se considerando a integração dos trabalhos físicos e táticos aplicados, nessa perspectiva, como você vê a inserção do preparador físico na comissão técnica daqui a alguns anos? Você acredita que existe chance de essa função perder sua aplicação?

Rodrigo Rezende - Acho difícil [deixar de existir a função]. Os técnicos devem passar por um processo de evolução científica muito grande. No Brasil, os ex-atletas sempre serão prioridade no mercado de trabalho. Mas seria interessante estes passarem por uma faculdade de Educação Física.

Acredito que nós ensinamos muito aos treinadores, mas tenho a convicção de que os ex-atletas ensinam muitos preparadores físicos em situações práticas, nas quais haja necessidade de uma tomada de decisão rápida.

Universidade do Futebol - Qual é a relevância da universidade para o diálogo e para a melhoria da atuação do profissional de preparação física?

Rodrigo Rezende - Acredito que a universidade é de altíssima relevância para o profissional de preparação física. Desde comportamento, linguagem, disposição, postura, até organização do trabalho, embasamento teórico e prática de estágio. Acredito na parte teórica antes da prática, e vejo a necessidade de todo preparador físico ter seu plano de cada treinamento.

Entre os anos de 2005 e 2008 estive dando aulas na Uniandrade e na Universidade Tuiuti do Paraná, além de ter ministrado aulas de pós-graduação na Especialização em Futebol (Cepdap). Foram experiências gratificantes.

Universidade do Futebol - Qual é a contribuição que um evento como a Copa do Mundo de 2014 pode trazer para o Brasil, mudando a maneira de se enxergar o futebol e de atuar dentro da modalidade?

Rodrigo Rezende - Acredito que a Copa do Mundo no Brasil vai valorizar muito os profissionais do nosso país. O profissional que souber falar mais de um idioma terá oportunidade de auxiliar muito as delegações que estão por vir.

Torço para que estimulem a melhoria de nossa estrutura, como estádios com mais segurança, melhor conforto, áreas de acesso para portadores de necessidades especiais, áreas médicas, áreas de aquecimentos, estacionamentos, etc.

Além de centros com condições de atender os treinamentos das delegações. Atualmente, acredito que temos apenas cinco ou seis clubes com CTs em condições ideais para o evento.

Bibliografia

FOX, Edward L.; BOWERS, Richard W.; FOSS, Merle L. Bases fisiológicas da educação física e dos desportos. 4 ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.

GODIK, M. Alexandrovic. Futebol: preparação dos futebolistas de alto nível. Londrina: Grupo Palestra Sport, 1996.