Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, março 27, 2010

Clemer, ex-goleiro e preparador do Internacional
Camisa 1 da equipe colorada por mais de 350 partidas fala sobre a nova etapa dada em sua carreira
Equipe Universidade do Futebol

“No Nordeste as dificuldades são tamanhas, todos nós conhecemos o histórico de sofrimento desta região do país. Porém, há sempre um escape para aqueles que almejam sair desta condição de adversidades, no meu caso, foi um sonho: ser jogador de futebol”. O relato pessoal exposto no site de Clemer Silva revela a trajetória de um personagem comum. Entretanto, de alguém que aproveitou as oportunidades especiais surgidas na carreira, fez história em um dos clubes mais tradicionais do país e pretende seguir no âmbito esportivo.

Aos 41 anos, Clemer, simplesmente, como fincou seu nome na galeria do Internacional, permanece ligado ao clube gaúcho após o anúncio de sua aposentadoria, no início de 2010. Após mais de 350 partidas vestindo o uniforme colorado, o goleiro se tornou preparador dessa função específica.

Maranhense de São Luís, iniciou sua carreira no Moto Clube em 1987 e, na década que se seguiu, atuou por diversos clubes do Brasil. Sua primeira grande oportunidade foi no Remo, onde conquistou em duas oportunidades o Campeonato Paraense e chamou a atenção de agremiações de outros centros.

Pela Portuguesa, em 1996, chegou à final do Campeonato Brasileiro daquele ano – nem mesmo a perda do título para o Grêmio tirou do arqueiro a condição de melhor goleiro da competição e a primeira convocação à seleção brasileira.

Da agremiação paulista, alçou voo a um gigante carioca: foi contratado pelo Flamengo, clube que defendeu entre 1997 e 2002, realizando um total de 232 partidas. Grande destaque para o tricampeonato carioca (99/00/01). Com a profissionalização do prata da casa Júlio César, iminente titular do Brasil na Copa do Mundo deste ano, entretanto, Clemer perdeu espaço.

Até que surgiu o Internacional. Pela agremiação colorada, conquistou seis títulos estaduais, um outro vice-campeonato brasileiro, em 2005, e as duas principais conquistas da galeria: a Copa Libertadores da América e o Mundial de Clubes da Fifa de 2006.

“Eu sempre fui um atleta que treinei bastante e busquei me concentrar muito para cada partida, até para poder me condicionar física e mentalmente. Procuro passar para os atletas essa mesma postura”, revelou Clemer, nesta entrevista à Universidade do Futebol.

Como preparador de goleiros do departamento de futebol profissional, o ex-jogador, que conquistou também a Recopa Sul-Americana, a Dubai Cup, a Copa Sulamericana e a Suruga Bank, todas pelo Inter, fala sobre sua filosofia de trabalho, o contato com o argentino Pato Abbondanzieri e a integração da comissão técnica chefiada pelo uruguaio Jorge Fossati.



Líder no grupo de atletas, Clemer fez história com a camisa do Internacional e planeja permanecer no clube ainda por alguns anos

Universidade do Futebol – Como aconteceu a sua transição da função de goleiro para preparador de goleiros dentro do Internacional? Como você se preparou e tem se capacitado para esta nova fase profissional?

Clemer - Na realidade, eu vinha me preparando há alguns anos. Em 2009, praticamente não joguei, e já me via do outro lado, como um técnico da área. Passei a observar com mais atenção o que o preparador de goleiros fazia, o que ele falava, e aliei isso à minha vivência no futebol.

Sempre busquei tirar o melhor do contato com esses profissionais. Sou muito perfeccionista e me cobrava muito, principalmente quando errava. Revia meus jogos, que gravava, para buscar entender onde eu tinha errado, para corrigir posteriormente.

Era muito curioso em relação ao treinamento na minha área, também. Falava muito, eventualmente como capitão da equipe, algo que reflete a liderança e confere uma segurança para estar à frente de uma nova função como essa.

Universidade do Futebol – Como é a sua filosofia de trabalho como preparador de goleiros?

Clemer - Primeiramente, na pré-temporada, durante os cinco primeiros dias, eu busco trabalhar o condicionamento do atleta – fora de campo, exercícios aeróbicos e de força. A partir da nova condição, começo a atuar em cima de bola, reflexo, força, agilidade, velocidade, agrupando um quesito ao outro.

Claro que muitas coisas eu pergunto ao preparador físico, mais experiente, para sanar alguma eventual dúvida.

Com os atletas mais bem condicionados, busco entender o planejamento do treinador e coordenar atividades específicas, adaptando situações de treinamento geral com o restante do elenco, para que os goleiros possam chegar à parte técnica e tática rendendo da melhor maneira possível.

Universidade do Futebol – Com a contratação do experiente Pato Abbondanzieri, quais são os cuidados que devem ser tomados no treinamento de um atleta mais velho para evitar lesões? Você já possui uma preparação especial em mente? No que ela se diferencia da aplicada aos mais jovens?

Clemer - Temos de ter a sabedoria que o Pato tem 37 anos e, treinando no mesmo ritmo de um atleta de 20 anos, por exemplo, apresentará uma recuperação um pouco mais lenta. Mas ele compensa muito justamente por conta da experiência.

A preocupação é que ele chegue ao jogo bem treinado, e não cansado. E um goleiro com uma idade mais acentuada tem de ser trabalhado dessa forma, pois as partes mental, física e técnica serão expostas durante os 90 minutos. Carregando o desgaste de uma semana dura de atividades, ele pode ter seu rendimento prejudicado.



O experiente Pato foi contratado do Boca Juniors para assumir a titularidade do time colorado, que disputa a Libertadores

Universidade do Futebol – Diante do tradicional Barcelona, na final do Mundial de Clubes da Fifa, em 2006, você era o goleiro da equipe do Internacional que se sagrou campeã e acabou não sendo vazado naquela ocasião. Foi realizada uma preparação especial por você?

Clemer - Eu sempre fui um atleta que treinei bastante e busquei me concentrar muito para cada partida, até para poder me condicionar física e mentalmente. Procuro passar para os atletas essa mesma postura.

Não basta bater bem na bola para saber treinar um goleiro. Ficava chateado na época de atleta, especialmente no início de carreira, quando muitas vezes não havia uma interação com o preparador de goleiros.

No Flamengo, eu fui titular, mas sempre procurava passar alguma dica aos outros goleiros, corrigindo uma pegada, um movimento, uma entrada, um salto. E isso que é muito importante, assim como ter um bom treinador de goleiros nas categorias de base. É lá que você formará e irá acompanhar e avaliar os primeiros atos motores.

Hoje em dia, ainda se percebem muitos defeitos de jovens provenientes do departamento amador com problemas de posicionamento e algumas falhas técnicas.

Treinando na plenitude, busco orientar cada atleta individualmente, pois sempre tive essa liderança quando atuava.

Universidade do Futebol – Atualmente, além de defender a bola com as mãos, é interessante que os goleiros saibam jogar com os pés. No Internacional, é feita alguma preparação específica nesse sentido?

Clemer - Com certeza. Independentemente de haver dois jogos por semana e um período reduzido de treinamentos, quando há a oportunidade de irmos a campo, trabalhamos esse quesito técnico. Reposição com bola rolando e parada, tiro de meta, faltas no campo de defesa, enfim, situações que serão vistas posteriormente.

Quando acaba o treino, todo dia eu costumo efetuar 15, 20 cruzamentos à área, mesmo que os goleiros não venham apresentando qualquer tipo de falha nesse sentido. Porque é algo que você automatiza, um fundamento que não pode ser desconsiderado.

Os meias e laterais estão batendo na bola, seja falta, escanteio ou mesmo levantamento direto, com muita precisão. Há um teste contínuo pelos quais passam os goleiros, sem contar com a tecnologia da bola, sempre em prol do atacante.

Diversificamos também as atividades. Há dias em que também queremos fazer só trabalhos curtos, de areia, força e reflexo, reposição, adequando ao treinamento geral comandado pelo técnico.

Universidade do Futebol – Fala-se muito na preparação dos jogadores de linha durante a pré-temporada, mas pouco se comenta sobre os goleiros. No que difere o treino específico para a retomada das atividades desses dois tipos de jogadores?

Clemer - São preparações diferentes, sem dúvidas. O goleiro treina muito mais força, e menos resistência. Até mesmo há peculiaridades em relação à função dos atletas de linha – zagueiros, laterais, volantes, atacantes, etc.

Acredito que o limiar menos usado pelo goleiro durante uma partida é a resistência, mas temos de efetuar trabalhos nesse sentido para que ele tenha condição de realizar outros tipos de atividades também durante o dia-a-dia de treinamentos.

Na pré-temporada, planejo um período físico forte com os goleiros para que, ao chegar no trabalho com bola, também muito pesado, eles estejam aptos.



Após encerrar a carreira como atleta em janeiro deste ano, Clemer passou a compor a comissão técnica, hoje chefiada por Fossati

Universidade do Futebol – A introdução da tecnologia no futebol é um fato cada vez mais evidente, inclusive na preparação dos goleiros. Como você enxerga o auxílio de meios tecnológicos como, por exemplo, estudar o scout do adversário para melhor preparar o goleiro para cada partida?

Clemer - É algo fundamental. O goleiro que entra em campo sabendo o que vai enfrentar, minimizando os efeitos de “surpresa”, tem uma chance muito maior de ter sucesso. Quando eu jogava, realiza muito esse procedimento.

O próprio clube, entretanto, junto com a comissão técnica, desenvolve produções de vídeo específicas sobre os jogadores adversários, o comportamento deles nas últimas partidas. Dentro do futebol, isso é uma normalidade hoje.

Universidade do Futebol – “Isolado” e sendo o único que pode encostar as mãos na bola, os goleiros apresentam um papel diferenciado dentro de campo, sendo, por vezes, colocados como únicos culpados por falhas coletivas. Existe algum preparo psicológico específico para os goleiros?

Clemer - Sempre procuramos entender o goleiro como um atleta diferenciado, mas sempre ele cometerá erros, como todo ser humano. Nossa função é buscar dar um suporte para que o atleta tente reduzir suas falhas e manter uma regularidade.

Geralmente, ele é mais crucificado, pois seus erros têm possibilidade maior de resultarem em gol. Dentro do jogo, caso o goleiro tome um “frango”, por exemplo, há necessidade de uma reabilitação mental rápida, algo próprio da personalidade, também, para que seja retomada a ação natural.

Quando os atletas de linha perdem a confiança no goleiro, o time fica comprometido. É uma posição em que a cobrança é sempre dobrada. A atenção, então, tem de ser proporcional. E o trabalho diário, com conversas, um diálogo sincero, é o melhor caminho.

O goleiro que entra em campo confiante, seguro, sabendo o que tem de fazer e amparado por um período de treinamentos bom, certamente apresentará menos problemas.

Universidade do Futebol – Você comentou que sempre teve um papel de liderança, especialmente dentro do Internacional. Como o goleiro, convivendo boa parte do tempo dos treinamentos distante do restante do grupo, consegue estabelecer essa condição?

Clemer - Na maioria das vezes, isso vem do atleta, da personalidade da própria pessoa. A base para comandar, ter autoridade para falar, é histórica: relacionada à sua conduta, ao seu comportamento diante das pessoas do clube, o modo como você trabalha. Tudo isso conta e muito.

O goleiro observa o jogo de frente. Todos os lances podem ser percebidos de um ângulo privilegiado. O posicionamento em uma bola parada, a orientação de um contra-ataque, etc. Quando se está em uma roda de discussão, numa preleção, deve-se argumentar sabendo o que se está falando.

Não basta, também, apenas trabalhar um líder de maneira artificial. É necessário haver uma predisposição e uma característica especial do próprio jogador.


Na Alemanha, clube acusa rival de deteriorar propositalmente gramado
Uli Hoeness, presidente do Bayern de Munique, sugere que treinador do Schalke 04 realize procedimento por benefício próprio
Equipe Universidade do Futebol

Na semifinal da tradicional Copa da Alemanha, o Bayern de Munique derroutou o Schalke 04 por 1 a 0, na casa do rival, e garantiu a classificação à decisão contra o Werder Bremen. Entretanto, as condições do ambiente para conseguir tal resultado não foram consideradas ideais pela cúpula da agremiação da Baviera, que reclamou.

“É insuportável que, em um momento tão importante da temporada, o gramado esteja nesse estado. Tenho a impressão de que Felix Magath (treinador do Schalke 04), a quem conheço bem, utiliza-se das condições ruins do campo para preencher as lacunas de seu time”, acusou Uli Hoeness, presidente do Bayern.

O mandatário alega que o rival deixou o gramado de seu próprio estádio em condições ruins de forma proposital. Felix Magath foi o comandante técnico do departamento de futebol profissional do Bayern entre as temporadas 2004 e 2007.

Por conta disso, Hoeness teme que o Schalke 04 repita o suposto procedimento no dia 3 de abril, quando as duas equipes voltam a se enfrentar no Veltins Arena – desta vez, em partida válida pelo Campeonato Alemão.

Diante das críticas públicas, Holger Hieronymus, diretor geral da Liga Alemã, pediu ao Schalke 04 que mostre “boa vontade” no caso.

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Comentário. Baixaria não é exclusividade de brasileiros. Este tipo de expediente é por nós condenado há décadas. No Brasil, ainda persiste um caldo de subcultura que renite em práticas que carecem do verdadeiro espírito desportivo.


quinta-feira, março 25, 2010

O mercado do "país do esporte" começa a aquecer

Erich Beting

Dois novos executivos na área de marketing esportivo, exclusivos para atender à CBAt. Da mesma forma, outros deverão ser contratados para gerenciar o acordo com a CBB. Nos últimos meses, essas foram as novidades na Nike, que desde o início do ano patrocina as confederações de atletismo e de basquete do país. Além de lá, outras empresas começam a se mobilizar e reforçar as equipes para trabalhar com esporte.

Quem já está em alguma modalidade projeta ampliar os investimentos até 2016. Isso acontece não só com a Nike, mas com grandes empresas como o Bradesco, que fechou recentemente com o judô e a natação. Aqueles que não estão no esporte, procuram estudar e entender melhor o mercado para, em breve, não deixar de fora a plataforma de comunicação que o esporte proporciona.

De uma forma indireta, esses são alguns benefícios que as vitórias do Brasil para 2014 e do Rio de Janeiro para 2016 trouxeram para a indústria do esporte no país. O evento em si não será propriamente para o brasileiro, mas a indústria já se movimenta pensando nas oportunidades que surgirão até o meio da década, pelo menos. Quem trabalha no meio sabe que o momento é um dos melhores que já houve para o esporte como negócio.

Patrocínio para dar dinheiro ou exposição?

Erich Beting

Essa discussão quase sempre vem à tona. Muita gente pergunta por aqui como é que se faz para conseguir um patrocínio. Na prática, não existe uma fórmula fechada. Mas uma coisa é certa. É preciso, cada vez mais, saber para que serve o patrocínio. E não do ponto de vista de quem precisa da grana!

O melhor xx do mundo todo mundo é. Porque é isso que todos tentam argumentar inicialmente quando buscam o patrocínio. "Não existe ninguém melhor que meu filho". "Ele já foi tricampeão sul-americano até 2 anos de idade"... Os argumentos são infindáveis para tentar mostrar que aquele garoto em potencial será a salvação do patrocinador.

O que ninguém para para pensar é o que o patrocinador busca com o investimento que faz. Uma coisa que se pode ter certeza é de que é cada vez mais raro o surgimento de um patrocínio que tenha a benevolência como maior argumento. Não se investe mais no esporte só por compaixão. Foi-se o tempo que o cara apostava no atleta mais por dó do que por analisar ali uma oportunidade de um bom negócio.

Um caso interessante que mostra bem isso é o patrocínio da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) à Fórmula Indy. A agência pagou cerca de R$ 10 milhões para ser apoiador da Indy. A função da Apex é gerar negócios no exterior para empresas brasileiras. Só no ano passado, foram US$ 370 milhões em negócios gerados a partir das provas da Indy. É um retorno e tanto para o investimento. Retorno palpável, em geração de novos negócios.

Algo bem diferente do que busca, por exemplo, a Hypermarcas no Corinthians. A empresa paga R$ 38,5 milhões ao ano para o Timão. Em troca, não pensa em vender mais de seus produtos que estão na camisa, mas manter suas marcas expostas na mídia durante todo o ano.

Muitas vezes o proponente a um patrocínio não entende que é necessário entender o que a empresa quer de retorno com um patrocínio. E esse é um dos maiores entraves para que o empresário invista no esporte. Sempre chegam as mesmas propostas, as mesmas abordagens, os mesmos "melhores do mundo"...


O valor do patrocínio. E das boas ideias

Erich Beting

Durante um bom tempo o banco Santander usou o slogan "o valor das ideias" para tentar se diferenciar da sua concorrência. E, a julgar pelo que o banco vem fazendo no campo do patrocínio esportivo, é de se dizer que talvez a instituição de origem espanhola seja a que mais bem sabe trabalhar as boas ideias que fazem um patrocínio ser ainda mais valioso.

O primeiro "gostinho" dado pelo Santander foi ao assumir o patrocínio da Copa Santander Libertadores. O banco fez tanto estardalhaço que "dominou" a competição. Acertou a compra de espaço na mídia (rádios Bandeirantes e Jovem Pan, entre outras) associada à preservação do naming right do torneio durante as transmissões dos jogos. Além disso, fez anúncio e criou ações para mostrar que era a patrocinadora oficial da competição.

Antes do banco espanhol, durante 11 anos a Toyota patrocinou a Libertadores e ajudou a tornar a competição atrativa financeiramente, mas pouco fez para comunicar que era o maior apoiador do futebol na América do Sul.

Agora, o Santander começa a mostrar, aqui no Brasil, que é o patrocinador da Ferrari na Fórmula 1. Depois de bancar uma volta de apresentação do Felipe Massa numa Ferrari em Interlagos, com portões abertos, agora o banco anuncia um novo produto para o consumidor.

Foi criado um fundo de investimentos com o nome "Grande Prêmio". Nele, além de o correntista colocar dinheiro para render, como qualquer outra carteira de investimentos, o bônus é o sorteio de felizardos para acompanharem um GP de Fórmula 1 com a equipe da Ferrari. As corridas serão as de Valência, Monza e São Paulo. A escolha é óbvia. Espanha e Brasil são os países dos dois atletas da Ferrari (Fernando Alonso e Felipe Massa), enquanto que a prova de Monza é uma das mais cobiçadas do circuito.

Com a ação, o banco não só cria um prêmio intangível para o seu cliente, mas cria um estímulo grande para que seja feito o investimento (inicialmente só serão aceitos aportes de R$ 5 mil, no mínimo). Os fundos de investimento em renda fixa são um dos grandes responsáveis pela boa lucratividade dos bancos no Brasil. E, nesse caso, podem gerar para o Santander muito mais do que o reconhecimento como patrocinador da Ferrari. É dinheiro que o banco ganha por patrocinar o esporte.


quarta-feira, março 24, 2010

Responsabilidade social na formação de atletas para o futebol – a transparência
A contribuição social das organizações do futebol passa justamente pela formação de cidadãos, que está dentro do escopo de negócio a que se propôs a fazer na gênese de sua constituição
Geraldo Ricardo Hruschka Campestrini

As classificações delineadoras da responsabilidade social no ambiente corporativo falam em transparência administrativa como fator chave para se buscar uma proximidade maior com a comunidade. A lógica é simples: se a empresa quer que as pessoas consumam seus produtos ou serviços, a relação de troca aparece então na proporção da transparência para com a sociedade, mostrando as ações positivas em termos de boa sanidade administrativa, financeira, legal e social.

Esse discurso é extremamente atual no mundo corporativo e deveria estar saturado nas organizações de administração ou prática esportiva sem fins lucrativos, uma vez que são instituições pertencentes à própria comunidade, não havendo um dono – por óbvio, não vamos entrar, neste momento, na polêmica questão do “regime monárquico” que vivem algumas destas organizações – mas o simples fato de terem, por natureza, uma relação maior de afinidade com a sociedade, espera-se uma atitude diferenciada no que diz respeito à transparência.

Na realidade, tal assunto ainda não está saturado, pois a prática comum das organizações esportivas está bastante distante daquilo que muitos dirigentes apenas dizem fazer. É mais atual do que se imagina. Na "Carta Internacional de Responsabilidade Social para a Formação de Praticantes no Futebol" (CIRESP-FUTE 2009), falamos em transparência administrativa da seguinte maneira:

II. Transparência e Balanço Social

(a) Transparência: Cumprir a legislação em vigor sobre a publicação e a publicitação de balanços e balancetes em cada exercício;

(b) Balanço Social: Publicar anualmente o Balanço Social de modo a traduzir os ganhos sociais obtidos a partir do investimento realizado em ações sociais e nos programas de formação dos praticantes.

Archie Carroll (1991), propõe a “Pirâmide da Responsabilidade Social”, com quatro componentes: (1) a responsabilidade econômica – que é ser lucrativa; (2) a responsabilidade legal – que é cumprir e fazer cumprir a lei; (3) a responsabilidade ética – que é atuar de maneira ética nos negócios e; (4) a responsabilidade filantrópica – que trata da premissa do relacionamento com a comunidade.


Pirâmide da Responsabilidade Social (Carroll, 1991)

Portanto, o item II-a da CIRESP-FUTE 2009 é fundamentado pelo segundo componente da pirâmide proposta por Carroll. A Lei 9.615/98, popularmente conhecida por Lei Pelé, obriga as entidades de administração desportiva, as ligas desportivas e as entidades de prática desportiva a “Elaborar e publicar, até o último dia útil do mês de abril, suas demonstrações financeiras na forma definida pela Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976, após terem sido auditadas por auditores independentes” em seu artigo 46-A, inciso I.

Até aqui, nenhuma grande novidade. Apenas o reforço da necessidade de cumprimento legal como fator básico para o alcance da responsabilidade social corporativa, conforme preconiza Carroll e tantos outros autores que se dedicam ao estudo do tema.

No item II-b da CIRESP-FUTE 2009 aparece a prerrogativa de se publicar anualmente o balanço social. Trata-se da publicação, de forma transparente, de todas as ações empresariais e o impacto de seus negócios para as pessoas envolvidas.

“Um balanço social geralmente significa a apresentação da performance de uma organização em termos ambientais, sociais e/ou econômicos para os seus stakeholders em um relatório impresso (ou também em um relatório separado ou integrado com o relatório (financeiro) anual) ou através de uma base web resumida ou pela combinação destes” (Rogers e Molenkamp, 2007).

Em termos de Brasil, o modelo de publicação de balanço social mais recomendado é o do IBASE. O Clube Atlético Paranaense, de Curitiba, por exemplo, publica seu balanço social com base neste modelo.

No Sport Club Internacional, que adota outro modelo de exposição das suas atividades sociais, fraciona seu demonstrativo em “investimentos sociais para o público interno” (contemplam alimentação, encargos compulsórios, saúde, educação, capacitação e desenvolvimento profissional, creche ou auxílio creche, escolinha de futebol, investimento em categoria de base e transporte) e “investimentos em ações sociais externas” (direcionadas à comunidade com os itens da cultura, da saúde e saneamento, da geração de emprego e renda, de projetos sociais, de investimentos relacionados com a produção/operação da empresa e investimentos em projetos ambientais).

O somatório dos investimentos no social do Inter representam 64% da Receita Operacional Líquida – um montante elevado se comparado com aquilo que é investido no mesmo setor pelas três maiores S.A. do Brasil .

A contribuição social das organizações do futebol passam justamente pela formação de cidadãos, que está dentro do escopo de negócio a que se propôs a fazer na gênese de sua constituição. Muitos autores contemporâneos que falam sobre a responsabilidade social afirmam que as organizações não devem fazer ações filantrópicas extraordinárias com o objetivo único de aparecer na mídia e dizer que aquilo é “responsabilidade social”.

Atitudes fora do contexto de sua unidade de atuação não possuem efeito positivo de longo prazo para a comunidade, além de poder ser prejudicial para as atividades comerciais, já que a organização acaba perdendo o seu próprio “foco”.

Porter e Kramer (2003) exemplificam esta situação em seu artigo com o caso da empresa do ramo alimentício Nestlé*, que, em sua prática de compra de matérias prima, quando da instalação de fábricas em alguma localidade, opta por credenciar vários pequenos fazendeiros ao invés de contratar apenas um único ou poucos latifundiários. Esta atitude não prejudica em nada seus negócios e acaba contribuindo sobremaneira para a microeconomia e distribuição de renda na região de suas fábricas.

Este exemplo resume o que é o exercício da responsabilidade social sob uma ótica moderna de alguns autores e organismos que credenciam as boas práticas nestes termos. Por isso a proposta de os clubes atuarem de maneira mais positiva na formação de atletas para o futebol, sendo capaz de contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade sem prejudicar o seu negócio que é o futebol.

Por isto destacou-se o Inter de Porto Alegre que, em seus demonstrativos de investimentos sociais, apresentou a aplicação de boa parte dos recursos considerados de natureza social canalizados para a “conta” formação de atletas, sendo as crianças e adolescentes um dos públicos beneficiados e que poderão trazer dividendos futuros para o clube.

Outros investimentos feitos pelo clube, utilizados em ações junto à comunidade, contribuem, além do desenvolvimento sustentável, para a formação de novos torcedores e simpatizantes pela marca “Internacional”, nomeadamente por meio da Fundação Saci-Colorado, que abriga programas de natureza social a serviço da comunidade e estão relatados no “Balanço Social”.

A demonstração clara e transparente por parte dos clubes em serem bons cidadãos corporativos perante a sociedade é o que soma pontos e credencia as instituições do futebol ao cumprimento integral da carta de responsabilidade social.

No próximo texto falaremos sobre sustentabilidade.

Bibliografia

CAMPESTRINI, Geraldo. (2009). A responsabilidade social na formação de praticantes para o futebol: análise do processo de formação em clubes brasileiros. Dissertação de Mestrado em Gestão do Desporto da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, Portugal.

CARROLL, Archie B. (1991). The Pyramid of Corporate Social Responsibility: Toward the Moral Management of Organizational Stakeholders. Business Horizons, July-August.

IANSEN-ROGERS, Jennifer; MOLENKAMP, George. (2007). Non-Financial Report. IN: The A to Z of Corporate Social Responsibility. Editores: VISSER, Wayne; MATTEN, Dirk; POHL, Manfred;

TOLHURST, Nick. John Wiley & Sons Ltda.

LEI nº 9.615 de 24 de Março de 1998. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências.Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br.

PORTER, Michael E.; KRAMER, Mark R. (2006). Strategy and society: the link between competitive advantage and corporate social responsibility. Harvard Business Review, December. Disponível em: http://www.hbr.org. Acessado em: 08/Jul/2008.

*Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), as três maiores S.A. do Brasil no ano de 2007 foram Petrobrás, Vale do Rio Doce e Telemar. IN: As 500 maiores Sociedades Anônimas do Brasil no exercício-base 2007. Disponível em: http://www.fgv.br. Acessado em: 02/Dez/2008.

Os grandes treinadores fazem a diferença
Será que realmente temos grandes treinadores no futebol brasileiro?
Walério Melo

Num primeiro momento essa pergunta parece totalmente fora de propósito. Como, no futebol pentacampeão do mundo, alguém ainda possa ter dúvidas a respeito daqueles que são considerados os “professores”, ou seja, aqueles que conduziram o futebol brasileiro ao mais alto posto no cenário esportivo mundial.

Por outro lado, existe história a respeito de treinador campeão mundial, que dormia no banco de reservas durante os jogos.

Na verdade, o grande diferencial do nosso futebol sempre foi a qualidade dos nossos jogadores. Mas qual a justificativa para tal afirmação?

Desde sua introdução em terras brasileiras, o futebol passou por inúmeras transformações como relata o professor Alcides Scaglia, em sua coluna “A reinvenção do futebol”. Segundo o autor, foram as crianças que reinventaram a maneira de jogar futebol, a partir dos pequenos jogos que utilizavam para brincar nos campinhos e terrenos baldios, dentre os quais podemos destacar o bobinho, golzinho, duplinha carioca, embaixadinha, linha, cada um por si, driblinho, timinho, gol a gol, etc.

Na faculdade, nas aulas de aprendizagem motora, educação física escolar e metodologia do futebol, sempre provocamos, no bom sentido, os nossos alunos, dizendo-lhes que a nossa geração foi a última a ter a “rua na integra”.

O que isso significa e o que tem a ver com os treinadores do nosso futebol?

Até o final da década de 1970, inicio da década 1980, as crianças tinham mais liberdade e podiam brincar na rua se fartando com jogos e brincadeiras da cultura popular, dentre eles, os diversos jogos de bola com os pés. Esses jogos adaptados do futebol, assim como outras brincadeiras, davam às crianças condições de desenvolverem um rico acervo motor.

Nesse período, não se falava em escolinhas de futebol. Aprendia-se jogar brincando na rua e a pedagogia vigente, como aborda o professor João Batista Freire, não era outra senão a pedagogia da rua, com todas as suas virtudes e defeitos, mas acima de tudo com a essência do jogo de futebol.

Nessa época não se imaginava uma criança de 10-12 anos sendo “negociada” com clubes europeus, e os jovens só chegavam para jogar nos grandes clubes brasileiros por volta dos 16-17 anos, sem a especialização precoce e com uma bagagem muito rica, não somente no aspecto motor, mas também no que se refere ao aspecto cognitivo. Ou seja, esses jovens eram jogadores inteligentes, porque mesmo tendo sido orientados pela pedagogia da rua, que às vezes é perversa, aprenderam a resolver os problemas do jogo, jogando o jogo.

Para os treinadores das décadas de 1950, 1960, 1970 e início dos anos 1980, as coisas se tornavam mais fáceis, já que a capacidade técnica e a inteligência de jogo do futebolista brasileiro faziam com que ele se destacasse no cenário esportivo nacional e internacional. Nesse período, o que realmente decidia os jogos, tanto em nível nacional quanto internacional era, sem dúvida, a qualidade técnica e a capacidade de improvisação dos nossos jogadores.

A partir do final da década de 1980, início da década de 1990, devido a vários fatores amplamente conhecidos, como a expansão imobiliária e a violência urbana, nossas crianças não mais tiveram integralmente a rua e passaram a aprender futebol nas escolinhas, tendo como modelo o que se praticava nos clubes profissionais, ou seja, uma metodologia altamente tecnicista, tendo como fator preponderante a preparação física que veio em constante evolução desde o início dos anos 1970.

Hoje, apesar de o Brasil ainda ser um celeiro de craques (é claro, não temos tantos como em décadas atrás), o que se percebe é que o jogador brasileiro está cada vez mais forte fisicamente, porém sem a técnica apurada e, o que é mais assustador, perdeu a inteligência de jogo que era peculiar em gerações passadas. Esse é o resultado do processo cultural, ou seja, as brincadeiras de rua foram paulatinamente sendo substituídas pelo vídeo game e o computador.

É esse cenário que nos permite fazer a afirmação do início desse texto, ou seja, o futebol brasileiro não tem e nem nunca teve grandes treinadores. Sempre, no passado e no presente, o diferencial foi o jogador. E neste momento, onde os jogadores de nível mais elevado estão cada vez mais escassos, o que deveria prevalecer é a capacidade dos treinadores, ou seja, aqueles que são considerados top de linha e que ganham no mês o que outros de menor expressão levam anos para receberem, deveriam fazer a diferença.

Porém, isso não vem ocorrendo. Ao contrário, sempre temos times considerados de ponta enfrentando serias dificuldades, inclusive nos campeonatos regionais, onde o nível é ainda mais baixo. Tal situação reflete a qualidade dos treinamentos que são aplicados tanto aos jovens em formação, quanto aos profissionais de alto rendimento.

Apesar da pedagogia do esporte apontar caminhos de grande alcance no processo de ensino-aprendizagem-treinamento, nossos treinadores estão presos a velhos paradigmas. Na prática, temos a preparação física como o fator mais importante da periodização convencional. O treino é fragmentado, fora da realidade do jogo, onde tocar a bola para o treinador, receber de volta, driblar o cone e finalizar ainda é considerado trabalho qualificado e está na pauta do dia, na maioria absoluta dos times de futebol espalhados por esse Brasil continental.

Portanto, caros amigos, a solução não está na troca de treinadores a cada sequência de maus resultados. Precisamos nos conscientizar de que a metodologia de treinamento está ultrapassada e ter a coragem de quebrar os paradigmas. Caso contrário, nosso futebol continuará cada vez mais medíocre e o nosso torcedor, cada vez mais assistirá pela televisão ou pela internet, os jogadores brasileiros que partem para a Europa cada vez mais jovens.

Por aqui, aqueles que ainda não têm acesso à tecnologia e que ainda têm coragem para ir a um estádio de futebol, continuarão vendo um “espetáculo” de trombadas e balões, onde a bola é maltratada durante os 90 minutos e, ao final, ainda assistirão as entrevistas dos milionários e emburrados treinadores, que darão patadas coletivas nos pobres repórteres.

Os blogs esportivos como meios de comunicação
Meios democráticos, os blogs também são meios confiáveis de divulgação de notícias?
Vantuyl Barbosa Neto

RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo sobre os blogs esportivos brasileiros. O objetivo é entender qual o papel destas ferramentas para o jornalismo. O artigo busca descobrir se os blogs podem ser considerados como meios de comunicação ou apenas uma das possibilidades de se comunicar por meio da internet, este sim já um meio reconhecido como tal.

INTRODUÇÃO

Não existe consenso quanto ao início dos weblogs [o termo weblog vem do inglês e significa diário pessoal na internet] no mundo, mas uma das teorias mais aceitas é de que tenha surgido em 1997 nos Estados Unidos. Jorn Barger teria criado o “robot wisdom” o primeiro blog. Foi Barger quem usou a denominação Weblog pela primeira vez para ao seu site. A título de curiosidade, Barger também é o autor de um dos primeiros FAQs (Frequently Asked Questions), conhecido no Brasil por “perguntas freqüentes”.

Os blogs tinham uma estrutura diferente da mais comum dos dias de hoje. Eram páginas com um layout rudimentar, mas que tinham foco no conteúdo. Os blogueiros, autores dos blogs, costumavam resumir as notícias e criar links para outras páginas com os créditos ao real autor da notícia.

Já no ano de 2000, empresas de softwares passaram a investir na criação de programas para atualização de blogs. Um desses é o blogger, uma das mais famosas ferramentas de publicação de blogs do mundo. Com esses softwares ficou dispensável o conhecimento em programação para a criação de blogs e isto acabou democratizando a ferramenta, que passou a ser utilizada por milhões de pessoas.

Para se ter uma ideia a blogosfera, termo que define o mundo dos blogs, era de menos de 50 blogs em 1999. No final de 2000 o número já havia saltado para mais de mil. Três anos depois a blogosfera atingiu a marca de quatro milhões de blogs. Segundo estudos do site Technorati (http://www.technorati.com) denominado “State of blogosphere” existem hoje cerca de 133 milhões de blogs e esses números crescem vertiginosamente, tendendo a dobrar a cada seis meses.

Ao contrário de outras ferramentas de comunicação, os blogs não demoraram a chegar ao Brasil. O primeiro blog brasileiro que se tem registro é datado de fevereiro de 1998. Porém a gaúcha Viviane Vaz de Menezes criou seu blog, o Delights to cheer, todo em inglês. O primeiro a ser escrito em português foi criado um mês depois por Renato Pedro Junior e se chamava Diário da megalópole. O blog Zamorim (http://zamorim.com), criado em março de 2000, é o mais antigo ainda em atividade no país.

Apesar de todo esse sucesso imediato, ainda não existem muitos estudos sobre os blogs, suas origens e suas perspectivas, por isso essa história não é aceita com consenso. Além disso, não há registros confiáveis sobre o histórico dos blogs esportivos, reais objetos de pesquisa desse artigo científico.

Essa nova maneira de se ler, e por conseqüência escrever, na internet trouxe uma nova maneira de se entender a comunicação. Apesar do domínio da escrita pela maioria da população mundial, poucos eram os que tinham a oportunidade de se fazer ouvir, de expor suas idéias. Agora, com a democratização desse meio de comunicação, os blogs, qualquer um pode ser um comunicador. E, mais importante que isso, não apenas para seu grupo de convívio, mas de todo o mundo.

Outro ponto importante a ser estudado é a nova possibilidade de agrupamento. Podemos, com a chamada blogosfera, criar novas aldeias através dos interesses e não das barreiras geográficas. Não importa onde se mora, se gosta de futebol, por exemplo, o sujeito pode se unir a uma comunidade que discute futebol. O pesquisador Pierre Levy assim definiu as novas “aldeias”:


“Uma comunidade virtual pode, por exemplo, organizar-se sobre uma base de afinidade por intermédio de sistemas de comunicação telemáticos. Seus membros estão reunidos pelos mesmos núcleos de interesses, pelos mesmos problemas: a geografia, contingente, não é mais nem um ponto
de partida, nem uma coerção. Apesar de “não-presente”, essa comunidade está repleta de paixões e de projetos, de conflitos e de amizades. Ela vive sem lugar de referência estável: em toda parte onde se encontrem seus membros móveis... ou em parte alguma. A virtualização reinventa uma cultura nômade, não por uma volta ao paleolítico nem às antigas civilizações de pastores, mas fazendo surgir um meio de interações sociais onde as relações se reconfiguram com um mínimo de inércia”
(LEVY, 1996, p. 20).


Isto posto, O objetivo deste trabalho é identificar como os blogs esportivos brasileiros se tornaram meios democráticos de comunicação. Porém, com essa facilidade de se ter um blog, são eles meios confiáveis de divulgação de notícias?

Acreditamos que os blogs esportivos brasileiros podem sim ser meios confiáveis de divulgação de notícias, desde que nos atentemos a alguns detalhes na hora de julgar um blog, como quem é o autor, se as informações publicadas são checadas pelo autor, dentre outros.

Para obtermos as respostas quanto aos objetivos propostos no artigo, serão feitos alguns questionamentos básicos para nortearem as pesquisas, são eles:

- Como separar os blogs informativos, de caráter jornalístico, dos demais?
- Qual a opinião dos blogueiros, excepcionalmente os esportivos, quanto ao
conteúdo da blogosfera esportiva brasileira?
- Como os blogueiros recebem o feedback dos leitores?

Encontro de especialistas discute energia e iluminação nos estádios da Copa de 2014
Debateu-se sobre geração de energia a partir do biodiesel, a utilização de LEDs, energia solar, e a certificação de edificações com base em sua eficiência energética
Equipe Universidade do Futebol

Na última quarta-feira, realizou-se o segundo encontro do seminário sobre normatização para obras sustentáveis na Copa do Mundo de 2014, por iniciativa da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA).

Os debatedores discutiram sobre a geração de energia a partir do biodiesel; a utilização de LEDs na iluminação dos eventos; a utilização de energia solar; e a certificação de edificações com base em sua eficiência energética.

Paulo Augusto Leonelli, presidente do Comitê Gestor de Indicadores e Níveis de Eficiência Energética, vinculado ao Ministério de Minas e Energia, falou sobre como é concedida a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (Ence), feita após avaliações da estrutura, da iluminação e do serviço de condicionamento de ar.

A análise é feita a pedido do construtor, de forma voluntária. Além dos aspectos citados, são concedidas bonificações, como a economia de água, o controle de resíduos e os controles inteligentes da edificação. A etiqueta pode ser concedida já para o projeto, com validade de três anos, ou para o edifício (valida por cinco anos). A classificação oscila entre o nível A (mais eficiente) e o E (menos eficiente).

Leonelli avaliou que a etiqueta será muito importante nos estádios que receberão jogos da Copa, uma vez que são construções grandes e bastante singulares.

Marcelo Mesquita, da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava),comentou sobre a importância da utilização da energia solar em estádios, hotéis, restaurantes e aeroportos - estabelecimentos que serão bastante utilizados na Copa do Mundo.

Ele colocou em números a relevância e o pootencial brasileiro para a utilização da energia proveniente do sol. Segundo Mesquita, há no Brasil cerca de 200 empresas que trabalham com energia solar, entre fabricantes, revendedores, projetistas e consultores. Elas movimentam R$ 180 bilhões a cada ano, gerando 16 mil empregos diretos. O mercado é muito promissor no Brasil, país em que as áreas com menos incidência de luz solar superam em 30% a média de incidência na Alemanha, país pioneiro no setor. O Brasil tem apenas 2% da área coletora de energia solar. A China tem quase a metade de todo o mundo (48%) e os Estados Unidos, 19%.

Marcus Vinícius de Souza Alvim, diretor da Tecnowatt Iluminação - representante, no Brasil, da multinacional espanhola Simon - explicou a nova tecnologia de iluminação, baseada nos diodos emissores de luz (LED, na sigla em inglês). Enfatizou as vantagens da nova tecnologia, como a durabilidade - uma lâmpada de LED dura até 80 mil horas, contra mil horas de uma lâmpada incandescente comum - e a quantidade de luz, que chega a 80 lumens por watt, contra dez das lâmpadas incandescentes e 20 das halógenas.

No entanto, o desafio da indústria na disseminação dessa nova tecnologia é o custo inicial. O expositor não citou números, mas afirmou que a indústria aposta no aumento da escala para diminuir esses custos.

O último a falar foi Sílvio Oliveira, dono da indústria de geradores Gerasol, que discorreu sobre a produção da energia a partir do biodiesel. Segundo ele, toda a energia utilizada nos estádios, nos jogos da Copa, terá de ser feita a partir de geradores, para evitar interrupções do fornecimento de energia.

Esses geradores seriam alimentados com biodiesel. De acordo com o expositor, o custo de produção do biodiesel é hoje mais alto do que o óleo diesel e disse que a única forma de diminuir esse custo é por meio de incentivos fiscais.

Entre outras melhorias, segundo Oliveira, a utilização do biodiesel no lugar do óleo diesel, em grandes fábricas, geraria uma diminuição de 8 milhões de toneladas na emissão de gás carbônico (CO2), por ano, na atmosfera, o que possibilitaria ao Brasil arrecadar aproximadamente US$ 80 milhões em créditos de carbono no mercado mundial.

Pesquisa estabelece perfil do jogador brasileiro que vai para o exterior
Apesar de atuarem fora do país, os atletas permanecem ligados ao Brasil por meio de produtos brasileiros e meios de comunicação; o pouco estudo e o "caçulismo" também são características marcantes
Equipe Universidade do Futebol

Um estudo desenvolvido pela professora Carmen Rial, do Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), entre 2003 e 2009, com cerca de 40 jogadores brasileiros de futebol que viviam ou haviam morado e atuado no exterior, traçou o perfil desses atletas.

A maioria dos jogadores de futebol brasileiros que vão trabalhar fora do país são caçulas. Raros são os primogênitos. Muitos tiveram irmãos mais velhos que também desejavam jogar futebol, mas precisaram abandonar esse projeto para contribuir com a economia da família. Menos frequente do que o “caçulismo”, mas também recorrente, é a origem em famílias com a ausência dos pais, vivendo com os avós maternos. Além disso, a pesquisa concluiu que são jovens com origem nas chamadas camadas sociais subalternas e a maioria “cruza fronteiras geográficas sem ingressar em países, pois suas fronteiras são os clubes”.

“Concentrei o levantamento na cidade de Sevilha, na Espanha, onde morei quatro meses, com intervalo de um ano, e em Eindhoven, na Holanda, onde estive em três oportunidades, com intervalo de dois anos. Também conversei com muitos familiares, amigos, empresários, técnicos e secretários, realizei entrevistas, assisti a treinos e jogos, visitei seus restaurantes preferidos e algumas de suas casas no Canadá (Toronto), Holanda (Almelo, Groningen, Alkmaar, Roterdã, Amsterdã), Japão (Tóquio), na Grécia (Atenas), na India (New Dehli), na Tailandia (Bangkok), no Marrocos (Marraqueche) e também no Brasil (Fortaleza, Salvador, Belém)”, explicou Carmen.

Também foram realizadas longas conversas telefônicas com jogadores e seus familiares na França (Lyon, Le Mans, Nancy, Lille), Mônaco e Bélgica (Charleroi). O objetivo do estudo foi “traçar um perfil desses emigrantes especiais, por meio do escrutínio de dimensões que marcam seus estilos de vida”, contou a pesquisadora.

Segundo o estudo, a concentração de caçulas entre os jogadores entrevistados mostra que, na repartição familiar das atividades, estes foram beneficiados com a possibilidade de realizar o projeto mais desejado entre os jovens de camadas subalternas no Brasil: o de se tornarem jogadores de futebol profissional. Para a pesquisadora, o “caçulismo” corrobora a ideia de que a carreira de jogador de futebol é um projeto familiar, no qual é necessário algum excedente econômico para propiciar a liberação de um integrante do trabalho remunerado.

De acordo com Carmen, jogar futebol no Brasil não é ocupação da parcela social considerada miserável, pois o esporte demanda um mínimo necessário para um jovem se profissionalizar (chuteiras, contatos com os clubes, passagens de ônibus, dispensa do trabalho). Também não é ocupação das camadas sociais dominantes, cujos projetos de continuação da reprodução social do capital prevêem que os herdeiros, preferencialmente os filhos homens, assumam a liderança dos negócios.

Sendo assim, o futebol é um projeto possível para uma larga faixa da população brasileira, a das camadas subalternas, que vai dos pobres até as camadas médias baixas (aproximadamente de 90% dos entrevistados). “Foi nesta faixa que encontrei a maioria dos meus interlocutores, com uma origem social de pais operários do ABC: trabalhadores rurais, serralheiros, carpinteiros, funileiros, vendedores ambulantes, empregadas domésticas, sacoleiras, marinheiros. As histórias que ouvi têm muitos pontos em comum, são histórias de vida de famílias que, como reconhecem, não passavam fome, mas passavam necessidade.”, disse a pesquisadora.


Outras informações do estudo:

- A maioria dos jogadores entrevistados tinha apenas o primário, cerca de 10% conseguiram terminar o secundário, um havia sido aprovado no exame vestibular (tendo abandonado a faculdade quando se mudou para o exterior) e apenas um formou-se em curso superior;

- Três entre suas esposas concluíram o terceiro grau, mas há uma tendência de que apresentem uma escolaridade maior do que a dos jogadores;

- Todos demonstraram estar conscientes de que a ascensão econômica em suas vidas só foi possível graças ao futebol – atribuem a uma prerrogativa divina o fato de terem ascendido, como se tivessem sido escolhidos: "Tudo o que sou, devo a Deus", "Deus quis assim", "Graças ao Senhor" são frases que pontuam suas falas;

- Praticamente todos os entrevistados empregaram o primeiro dinheiro que receberam para adquirir uma casa para a mãe, ou para fazer uma reforma, quando ela não deseja deixar a vizinhança onde morava, realizando um sonho e devolvendo um pouco do que dizem ter recebido;

- Os altos salários recebidos pelos jogadores na Europa e no Japão não se refletem em consumos “ostentatórios” de sua parte. De fato, seus hábitos de consumo aproximam-se mais aos de uma camada média alta do que de milionários que são;

- Os que estão em clubes-globais moram em casas espaçosas localizadas em bairros nobres, geralmente os que concentram grande número de jogadores de futebol, porém não há na decoração das casas nenhuma grande extravagância. Continuam a vestir-se como os jovens de sua idade (com tênis, jeans e camisetas, ainda que essas sejam de marcas caras), a comer em casa ou em restaurantes que sirvam uma comida próxima da brasileira, a terem como diversão as salas de bate-papo da Internet (onde se relacionam com familiares, amigos e outros jogadores de futebol), os CDs e DVDs de músicas brasileiras, a TV Globo Internacional, e os jogos eletrônicos.


O estudo ainda concluiu que, apesar de alguns jogadores brasileiros conseguirem a nacionalidade no país onde atuam, eles, geralmente, continuam sentindo-se e sendo percebido como estrangeiro. “Adquirir a nacionalidade do país de acolhida nem de longe significa adquirir sentimentos nacionalistas em relação a esse país ou uma identidade outra que a brasileira. A brasilidade permanece como única identidade de pertencimento étnico”, avaliou antropóloga.

A pesquisadora também concluiu que, mesmo a quilômetros de distância do Brasil, os atletas permanecem ligados ao país, seja pelos locais que frequentam, ou pelas músicas e filmes que gostam, ou pelos canais de TV que assistem. O estudo comprova que o círculo das mercadorias que consomem reafirma permanentemente a identidade nacional. “O local (Sevilha, Lille, Eindhoven, Le Mans, Marselha, Bruxelas, Alkmar, Tóquio, Toronto, Almelo...) parece contar pouco para esses sujeitos, pois ainda que possam adquirir imóveis, ter filhos, vivem permanentemente com a possibilidade de mudar-se para outro clube, em outra cidade, em outro país”, disse Carmen.

Na avaliação da pesquisadora, os jogadores entrevistados fornecem um exemplo empírico extremo do viver entre fronteiras. Apesar de sua presença física em outro país, continuam vivendo no Brasil, tanto no plano da imaginação quanto no econômico, pois no Brasil mantêm casas, sítios, carros, contas bancárias, investimentos múltiplos e sustentam familiares. “Nesse sentido, são transmigrantes”, classifica a antropóloga.

A Espanha, a França, a Holanda, a Coréia, o Japão ou qualquer outro lugar em que a sua mobilidade no sistema futebolístico os leve a "rodar", é apenas uma passagem, algo que se faz como um trabalho, com sacrifício, para receber a recompensa de prestigio profissional e financeira.