Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, junho 29, 2009

A importância da formação acadêmica em Educação Física para a atuação do técnico de futebol: breve reflexão
Para que um técnico consiga liderar toda a comissão que lhe cerca é essencial que ele tenha conhecimentos para debater as melhores condutas em cada área
Luis Felipe T. Polito

Assim como existem fortes conhecimentos populares em todas as áreas do conhecimento humano, com o futebol não poderia ser diferente, e talvez o maior e mais prejudicial senso comum que norteia o mundo desta modalidade esportiva, e também de outras, é o fato de que para ser um bom técnico é necessário ter sido um dia atleta daquela modalidade.

Em primeiro lugar, seria interessante citarmos o atual cenário jurídico a respeito da atuação do técnico de futebol. A Lei 9.696, de 1º de setembro de 1998, regulamentada pelo então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em seu terceiro artigo preconiza que:

“Compete ao Profissional de Educação Física coordenar, planejar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar trabalhos, programas, planos e projetos, bem como prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas de atividades físicas e do desporto.” (BRASIL, 1998).

Pôde-se verificar no artigo supra-citado que a legislação reserva aos profissionais de Educação Física o direito de exclusividade no planejamento, direção e organização do desporto em geral, dentre eles o futebol.

Além disso, podemos buscar na lei 6.354, de 2 de setembro de 1976, outorgada pelo então Presidente da República Ernesto Geisel, que, em seu vigésimo sétimo artigo preconiza:

“Todo ex-atleta profissional de futebol que tenha exercido a profissão durante 3 (três) anos consecutivos ou 5 (cinco) anos alternados, será considerado, para efeito de trabalho, monitor de futebol”. (BRASIL, 1976).

Pôde-se perceber que o profissional que atua no futebol, mas que não possui formação técnica em Educação Física não pode, em termos legais, ser considerado Técnico de futebol, e sim monitor de futebol.

Com os termos legais já vistos, poderemos migrar para aspectos mais práticos.

Em entrevista ao jornal Lance!, do dia 20 de agosto de 2006, na página 15, ao ser perguntado sobre a preparação física, o então técnico do Sport Club Corinthians Paulista, Emerson Leão, proferiu a seguinte resposta: “Qualquer coisa que será feita aqui, passará pelo meu crivo, até porque eu me formei em educação física em 1973”. Drubsky (2003), ao retratar em seu livro o modelo organizacional de uma equipe do futebol brasileiro, coloca, liderando a comissão técnica, o técnico de futebol. O mesmo autor ainda afirma ser este profissional o responsável pela maior parte das decisões ligadas ao futebol. Não com isso, dizendo que o mesmo deve ministrar a preparação física, o departamento de fisiologia, o departamento de nutrição e assim por diante, porém o mesmo deveria ter conhecimento suficiente para compreender os diferentes processos relacionados ao desporto, desde o aspecto tático até o departamento de fisiologia, por exemplo.

Para exemplificar a idéia defendida, podemos lembrar do Princípio da Especificidade do Treinamento Desportivo, que preconiza que as adaptações ocorridas com o treinamento serão altamente específicas ao tipo de treinamento que será empregado, à sua freqüência, volume, intensidade, meio e método, por exemplo: o atleta de maratona deve realizar treinos relativamente intensos, porém, com alto volume, enfatizando assim, o sistema aeróbio, fundamental para o sucesso desportivo nesta dada modalidade. (MONTEIRO, 2006; WILLMORE & COSTILL, 2001). Barros & Valquer (2004) informam que o futebol é uma modalidade esportiva caracterizada por esforços intensos e breves, acompanhados de intervalos de recuperação. Desta forma, pode-se dizer que o método de treinamento mais adequado ao futebol, respeitando o Princípio da Especificidade é o Método Intervalado, caracterizado por períodos destinados aos estímulos e períodos destinados à recuperação (GARRETT & KIRKENDALL, 2003; McARDLE, KATCH & KATCH, 2003; MONTEIRO, 2006; WEINECK, 2003; PLATONOV, 2008). Este método de treinamento foi primeiramente escrito por Reindell e Roskamm e popularizado pelo campeão olímpico Emil Zatopek, em 1950 (VERONIQUE, 2001). Se um atleta de futebol que atuava aproximadamente na década de 1940-1950, onde havia predominância do treinamento contínuo, que se caracteriza por não apresentar intervalos de recuperação, com volume de treinamento muito alto, o mesmo poderá acreditar, como técnico, que o método de treinamento físico que deveria ser empregado aos seus atletas deveria ser este, podendo até, contrariar as sugestões do responsável pela preparação física. A partir deste breve fato, pode-se verificar a essencialidade da formação teórica do técnico de futebol, ou melhor dizendo, a importância da formação universitária em Educação Física.

Se para os técnicos de futebol a formação universitária em Educação Física se torna importante, pode-se duplicar esta importância para aqueles técnicos que estão envolvidos com as categorias de base, ou seja, estão envolvidos com o treinamento de crianças e adolescentes, que possuem suas especificidades no âmbito psicológico, fisiológico, motor e cognitivo. Frisselli & Mantovani (1999) afirmam que os técnicos de futebol necessitam observar e relevar o fato de que antes de serem jogadores de futebol, as crianças e adolescentes são seres humanos que estão passando por complexos processos de crescimento e maturação. Korsakas & De Rose Junior (2002) afirmam que o treinamento empregado com crianças e adolescentes não possui especificidade para estas faixas etárias, sendo uma cópia daqueles programas de treinamento aplicados com os adultos, a não ser pela redução da bola, do tempo de jogo e assim por diante, o que é extremamente errado, uma vez que, como já dito anteriormente, crianças e adolescentes possuem um “universo” de conhecimentos a parte.

Bibliografia:

BARROS, T. L. & VALQUER, W. Preparação física no futebol. In: BARROS, T. L. & GUERRA, I. Ciência do futebol. Barueri, São Paulo: Manole, 2004, p.21-38.

BRASIL. Lei nº 6.354, de 2 de setembro de 1976. Dispõe sobre as relações de trabalho do atleta profissional de futebol e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 02/09/1976.

BRASIL. Lei nº 9.696, de 1 de setembro de 1998. Dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 02/09/1998.

DRUBSKY, R. O universo tático do futebol: escola brasileira. Belo Horizonte: Editora Health, 2003, 336 p.

GARRETT JUNIOR, W. E.; KIRKENDALL, D. T e colaboradores. A ciência do exercício e dos esportes. Porto Alegre: Artmed, 2003. 911 p.

JORNAL LANCE. Falamos com... Émerson Leão. Jornal Lance!, São Paulo, 20/08/2006, p. 14-15.

KORSAKAS, P. & De ROSE JÚNIOR, D. Os encontros e desencontros entre esporte e educação: uma discussão filosófico-pedagógica. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. v. 1, n. 1, pg 83-93, 2002.

McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 5ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2003, 1113 p.

MONTEIRO, A. G. Treinamento personalizado: Uma Abordagem Didático-Metodológica. 6. ed. São Paulo: Phorte Editora, 2006. 199 p.

PLATONOV, V. N. Tratado geral de treinamento desportivo. São Paulo: Phorte Editora, 2008, 887 p.

VERONIQUE, B. L. Interval Training for performance: a scientific and empirical practice: special recommendations for middle and long distance running part I: aerobic interval training. Sports Medicine. v. 31, n. 1, p. 13-31, 2001.

WEINECK, J. Treinamento Ideal. Barueri, São Paulo: Manole, 2003,740 p.

WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2ª ed. São Paulo, Manole, 2001. 709 p.

sábado, junho 27, 2009

A organização do futebol nos EUA
A prática do futebol nos EUA e as oportunidades e estruturas são avançadas e permitem ao aficionado o sonho de chegar ao nível mais alto da modalidade
Hélio D´Anna
No ano passado, os Estados Unidos já tiveram uma imagem de que futebol é esporte de pouco interesse. No entanto, os números não demonstram isso. Há no momento mais de 20 milhões de jovens praticando essa modalidade no país (segundo a federação americana). De acordo com as instituicoes de promoção do desporto em nível de iniciação (veja abaixo), o país tem mais jovens praticando o futebol do que o beisebol ou futebol americano.

A organização do futebol segue a clássica estrutura triangular, com uma base grande de iniciação até o topo, em termos do futebol profissional.

Em nível recreativo de iniciação, a AYSO, ou American Youth Soccer Organization (Organizacao Americana de Futebol para Jovens http://soccer.org/home.aspx) tem a função de promover a participação, educar pais e técnicos iniciantes e conduzir eventos locais, estaduais e nacionais. Esses eventos são de natureza recreativa e não visam disputa de trofeus e campeonatos. Há também outra entidade chamada de SAY ou Soccer Association for Youth (Associacao de Futebol para Jovens - http://www.saysoccer.org). As duas funcionam de maneira similar.

À medida que um garoto ou garota se interesse em participar de competições, dai a opção e de se afiliar a um clube. Clubes têm diferentes níveis que envolvem participação em competições locais, regionais ou nacionais. Em geral, esses clubes são afiliados a entidade US-Youth Soccer (http://www.usyouthsoccer.org/index.asp). Clubes afiliados normalmente cobram taxa de participação e possuem estrutura que chega a ser invejável a clubes profissionais.

Jogadores (as) que despontam em clubes têm a opção de fazer teste para serem aceitos no programa que tem objetivo de detectar valores para as seleções nacionais. Esse programa é o ODP ou Olympic Development Program (Programa de Desenvolvimento Olimpico -http://www.usyouthsoccer.org/programs/OlympicDevelopmentProgram.asp).

Está vinculado ao US-Youth Soccer e faz uma triagem que começa regionalmente. Há até um programa de ODP Europeu que detecta jogadores de cidadania americana que moram na Europa (http://www.odp-europe.com/).

Outra opção para a elite jovem é de se afiliar a uma academia de futebol. Muito comum no mundo do tênis e da ginástica, essas academias permitem ao jovem estudar e morar na academia e treinar futebol em período integral (por exemplo, a IMG -http://www.imgacademies.com/soccer-academy/). Essas academias, porém, são caras, mas têm uma estrutura fantástica.

Até certo ponto, o afunilamento dos jovens de potencial é bastante elitista. As opções são caras e as famílias fazem alto esforco para poder manter os jovens participando desses eventos e competições. Em teoria, há oportunidades de “bolsas” e descontos, mas são poucos os clubes que usam dessa prática.

Há também a prática do futebol competitivo dentro do sistema educacional. Escolas de nível primário até universitário podem também oferecer oportunidades de participação. As ligas são muito organizadas e se enquadram em diferentes níveis de competição. As melhores ligas têm nivel alto. De fato, o futebol universitário é visto como a principal fonte de revelação de jogadores (as) para o nível profissional.

Na minha próxima coluna, me prenderei à organização do nível profissional. Mas uma coisa o leitor pode já ver: a prática do futebol nos EUA e as oportunidades e estruturas são avançadas e permitem ao aficionado o sonho de chegar ao nível mais alto da modalidade.
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Onda de mudança não é moda... É fato...

O jornalismo está mudando

by Paulinho

A morte de Michael Jackson foi noticiada, em primeira mão, por um site de internet.

Somente algumas horas depois a grande mídia confirmou a informação.

Pesquisas revelam que mais de 50% dos norte-americanos tem como principal fonte de informação os blogs e sites da Web.

O hábito do consumidor de notícias está realmente se modificando.

A busca pela agilidade e praticidade proporcionadas pela internet, aliadas à vantagem de poder ter sempre à mão o site de seu jornalista predileto, tornam a busca pela notícia mais prazerosa e qualificada.

Os sites e blogs, quase sempre, trabalham com uma liberdade inimaginável nas grandes corporações jornalísticas.

Enquanto o formato televisivo é o mesmo de décadas atrás, a web vem se renovando a cada ano, com a criação de ferramentas que proporcionam ao jornalista uma maior interação com seu público, além de facilidades na realização de seu trabalho.

Em breve o telespectador poderá acessar seu site predileto ao toque do controle remoto, em sua própria televisão, prática que pode enterrar de vez o ultrapassado jeito de transmitir informação.

Somente quem se adequar a este novo mundo sobreviverá em um meio tão disputado.

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Quentes by Paulinho

Palmeiras demite Luxemburgo

V(W)anderlei(y) Luxemburgo foi demitido do Palmeiras.

O estopim de sua saída foi a tentativa de desqualificar o jogador Keirrison.

Um gesto que deixou a diretoria do clube sem saída.

Se não o demitissem teriam que lhe entregar a presidência do clube.

Mesmo que demorada, foi uma decisão que deve retirar o Palmeiras das trevas em seu departamento de futebol.

Não há como um local dirigido por Luxemburgo ser adepto de práticas honestas.

A missão de Luis Gonzaga Belluzzo jamais alcançaria êxito com o Madureira dando as cartas.

Hoje é um dia de festa para o torcedor palmeirense.

O rato, finalmente, foi expulso da cozinha.


O mediocre vice-presidente do Internacional

Fernando Carvalho, vice-presidente do Internacional, demonstra que pouco se diferencia das tranqueiras que habitam o futebol brasileiro.

A incitação à violência, que vem realizando durante a semana, é absolutamente criminosa.

No melhor estilo Eurico Miranda, tenta a todo custo intimidar a arbitragem.

Deveria se preocupar em fazer a sua equipe jogar futebol.

Coisa que, de uns tempos para cá, não vem acontecendo.

Carvalho provou recentemente que sua palavra vale tanto quanto a de Luxemburgo, ao dizer que “peitaria” Ricardo Teixeira e, pouco depois, lamber seus sapatos, como a grande maioria dos acovardados cartolas brasileiros.

A melhor alternativa para o Corinthians é ignorar este tipo de atitude.

Demonstrar, dentro de campo, sua verdadeira força.

Já que, fora dele, não há muito o que comemorar.


Futebol é canal para lavagem de dinheiro

Da FOLHA DE SÃO PAULO

Estudo realizado por 25 países mostra que o esporte está à mercê da prática

Um dos indicativos de que a modalidade mais popular do mundo está vulnerável, cifras irracionais ajudam a encobrir crime financeiro

ANDRÉA MICHAEL

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Documento do Gafi, organismo internacional de combate à lavagem de dinheiro, obtido pela Folha aponta que o status dado pelo futebol, a inexistência de parâmetros para valores de negociação dos jogadores e a imagem criada de que o esporte salva craques e suas famílias da carência social são pontos que favorecem o uso da modalidade como instrumento para a lavagem de dinheiro.

Entre as práticas mais comuns, encabeça a lista o investimento de dinheiro sem origem definida em um time com dificuldades financeiras,exatamente como aconteceu na parceria MSI/Corinthians, atualmente na Justiça. Há o alerta de que a origem do dinheiro pode ser de tráfico de drogas, de armas ou simplesmente destinado a, depois de “esquentado”, corromper pessoas que têm destaque político no país -as chamadas PEPs, Pessoas Politicamente Expostas.

A análise da propensão do setor para se prestar à lavagem teve seu documento final aprovado na última quinta, na reunião ordinária do Gafi em Lyon (França). A entidade é presidida pelo brasileiro Gustavo Rodrigues, que também comanda a unidade de inteligência financeira do Brasil, o Coaf.

Não existe uma contabilidade sobre quanto o futebol lava por ano. Mas o documento do Gafi aponta que o seu mercado mundial movimenta 13,8 bilhões anuais, dos quais somente 4,2 bilhões se destinam a salários. Tudo o mais, em tese, pode ser alvo de desvios, pois é dinheiro transacionado a título de regalias para o atleta, indenizações a clubes, pedágio para governos, entre outros itens.

O estudo do uso do esporte como instrumento de lavagem começou em 2008 e teve a participação de 25 países, entre europeus, sul-americanos e asiáticos, além da Austrália.

Razões para o futebol ter sido o foco do trabalho: é o esporte mais popular do mundo, tem 5.000 federações associadas oficialmente, aglomerou um bilhão de espectadores na última Copa e existem 38 milhões de jogadores oficialmente cadastrados. “O estudo é mundial, mas, se você olhar, as tipologias apresentadas refletem muito bem a situação do Brasil”, diz Rodrigues.

Colhidas as respostas dos questionários distribuídos, as principais razões apontadas para a vulnerabilidade do setor à lavagem de dinheiro são:

1) Mercado de fácil penetração, porque qualquer um pode se tornar um agente;

2) Diversidade de regulamentação entre os países, o que permite ao interessado escolher o que melhor lhe oferece condições para oficializar os ganhos de uma negociação;

3) Irracionalidade das somas envolvidas, que não obedecem a qualquer critério, o que viabiliza conduzir negociações totalmente fora de valores plausíveis e, ainda assim, não dispor de padrões legais para questioná-las eventualmente;

4) O papel social do futebol, já que, em regra, promover a ascensão social de um craque e de sua família traz benefícios e é orgulho para a comunidade.

“O apelo social é muito importante, mas as autoridades devem estar atentas para que isso não mascare um crime grave, como a lavagem de dinheiro”, afirma Bernardo Mota, do Coaf, que há dez anos acompanha essa discussão.

Complexo, o documento descreve, sem dar nomes, 17 casos por meio dos quais a prática da lavagem pode se materializar. Começa pelo investimento em atletas de um país de fundos estrangeiros instalados em paraísos fiscais.

Outra tipologia bastante explorada é a figura do atravessador, comum no Brasil. O fato de as cifras envolvidas não terem parâmetro e o negócio poder ser fechado em qualquer lugar do mundo facilitam a lavagem.

Na página 20, de um total de 39, o documento é categórico em afirmar: “Estimar o valor de uma transação para um jogador é um trabalho inócuo, pelo fato de que largas somas estão envolvidas, geralmente acompanhadas de uma transação para o exterior, o que torna difícil aferir a destinação final dos recursos. A supervalorização do jogador pode corresponder à técnica de lavagem de dinheiro similar, no caso do comércio, ao oferecimento desmedido de benefícios.”

Também há destaque para times endividados que assumem a figura de atravessador e colocam a sua taxa de sucesso a ser ganha no negócio como pagamento de dívidas. O dinheiro que entra para tirar a agremiação do vermelho é de uma terceira negociação, que só precisava de uma oportunidade para esquentar quantias obtidas de forma ilícita e que circulavam na rede internacional.

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quinta-feira, junho 25, 2009

Espanha mira mecanismo de controle de gastos com o futebol
Ministro dos Esportes quer limitar investimento em transferências de atletas, por exemplo
Equipe Universidade do Futebol
Atualmente, a Espanha não possui mecanismos legais que possam punir os clubes em estado de insolvência. Diante de tal situação, o ministro dos Esportes do país, Jaime Lissavetzky, planeja criar um órgão específico de debate do assunto.

Em entrevista ao diário As, o dirigente declarou que tal medida é necessária, com uma espécie de comissão que deveria ser formada por representantes das entidades futebolísticas e do governo.
Regras mais claras a respeito dos gastos feitos pelas agremiações seriam expostas.

“A falta de solvência e a existência de dívidas maciças é preocupante, e a hora de consertar a situação chegou”, afirmou Lissavetzky, que não estabeleceu quaisquer prazos para a formação desse órgão.

“Não há mecanismo coercivo, como este órgão de controle financeiro, independente e público, pode ser. Ele estabeleceria algumas regras claras, e qualquer clube que as quebrasse seria rebaixado, sem exceção”, garantiu o ministro.

Na esteira das contratações milionárias efetuadas pela direção do Real Madrid – Kaká (65 milhões de euros) e Cristiano Ronaldo (94 milhões de euros) –, outro ponto a que Lissavetzky se mostrou favorável é em relação a uma medida que impedisse clubes de gastarem, em transferências, mais de 60 por cento de seu orçamento.
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Formação de atletas
Cuidados que devemos ter nas categorias de base
Rodrigo Saldanha da Silva
A grande necessidade, ou então, o único objetivo que se busca nos dias de hoje, não só no futebol, mas também nas outras várias modalidades esportivas é, com certeza, o resultado. Infelizmente alguns profissionais ainda insistem em trabalhar com essa filosofia e acabam esquecendo-se do mais rico material humano que está na sua frente: a criança. Partindo desse ponto, iremos abordar os procedimentos que devem – ou podem – ser utilizados pelos profissionais de educação física que trabalham com categorias de base, seja em clubes esportivos, ou então em escolinhas de futebol espalhadas pelo país inteiro.

Quem quiser alcançar resultados em competições tem que, além de estar submetido a uma equipe técnica multidisciplinar, começar o treinamento altamente especializado já em idades muito precoces. Outro aspecto importante é o que diz respeito às conquistas de títulos e marcas durante a infância: estudos já demonstraram que esses resultados não garantem sucesso quando o atleta se torna adulto.

A formação de um futebolista compreende o adiantamento das qualidades psicomotoras e coordenativas adquiridas na infância e na adolescência. O período entre sete e onze anos se destaca como estágio decisivo para o desenvolvimento das estruturas psicomotoras de base. É o período ideal para a iniciação no futebol nas escolas esportivas.

O conteúdo trabalhado nos clubes desportivos deve somar-se ao das aulas de educação física das escolas em geral, ao trabalho nos clubes especializados em futebol e, naturalmente, visam à preparação para a competição. O papel mais importante no sistema de preparação dos futuros jogadores de futebol pertence aos clubes desportivos que têm como objetivo aperfeiçoar as capacidades motoras, caracterizadas pela preparação geral e especial dos jovens estudantes até atingirem o alto rendimento no futebol.

Deve-se dar muita atenção à formação da personalidade do indivíduo, considerando-se os aspectos morais, intelectuais e a educação estética e física. O papel da educação física como meio de educação das crianças e dos adolescentes vai ao encontro do aumento da exigência do trabalho educativo nas escolas desportivas.

Está bem clara a importância, tanto no caso da educação, quanto no caso do esporte, de um planejamento muito bem elaborado. Assim, ao definir os conteúdos a serem trabalhados em um planejamento, além de todo um criterioso cuidado de conhecer bem o que se vai aplicar, é muito importante saber o quê, quando e como aplicar.
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Claudinei Santos, coordenador do Núcleo de Estudo em Negócios do Esporte da ESPM
Coordenador do Núcleo de Estudo em Negócios do Esporte da ESPM fala sobre a Copa-2014
Marcelo Iglesias

Em 2014, a menos de cinco anos, o Brasil receberá, pela segunda vez na história, uma Copa do Mundo. O evento tem provocado frisson entre empresários, imprensa, clubes, agências de turismo, hotéis, prefeituras, e na população, de maneira geral.

Apesar de a data parecer distante, muito há que se fazer para melhorar e adequar os estádios, a infraestrutura do entorno das arenas, e a preparação das equipes de apoio para receber turistas das diferentes partes do mundo e garantir o cumprimento do caderno de exigências da Fifa.

“Se não houver um bom planejamento e controle sobre o que se está fazendo, pode acontecer como no Rio de Janeiro, no Pan de 2007. Na última hora até funcionou, mas poderia ser algo mais planejado e de menor custo, com melhores resultados econômicos, sociais e políticos para o país”, afirmou Claudinei Santos, graduado em Engenharia pela FEI, com pós-graduação em Administração de Empresas (EAESP / FGV) e cursos de especialização em Gestão de Negócios, Planejamento Estratégico e Marketing, em entrevista exclusiva à Universidade do Futebol.

Atualmente, o entrevistado atua como coordenador do curso de pós-graduação em Administração e Marketing do Esporte da ESPM e do Núcleo de Estudo em Negócios do Esporte da mesma instituição.

Durante a entrevista, o professor comentou sobre quais são as principais dificuldades que o Brasil enfrentará para a realização da Copa do Mundo de 2014 e como esse evento pode resultar em melhorias para o país, não apenas no que tange à modalidade. Além disso, Claudinei Santos falou sobre a maneira como os clubes brasileiros administram os seus departamentos de marketing, o que há de diferente em relação ao que se tem no exterior, como fazer para evoluirmos e sobre outros temas que, a poucos anos do principal evento entre seleções de futebol, começam a ficar mais em evidência.

Universidade do Futebol - Como surgiu o Núcleo de Estudos em Negócios do Esporte? Como ele funciona?

Claudinei Santos - O núcleo surgiu há quase seis anos, por conta de uma demanda do mercado por uma gestão mais profissional da indústria do esporte, não necessariamente de clubes de futebol. Então, a ideia foi criar um programa de pós-graduação que, na época, não era de pós-graduação, e sim algo somente avançado sobre o tema, para atender a essa demanda de mercado e formar gestores. Fizemos um acordo operacional com o São Paulo, porque o clube tem um campo para o estudo e para a prática dos alunos. Esse curso acabou dando origem ao núcleo.

A ideia é que se forme um centro de estudos para fazer pesquisas, estudos de mercado, desenvolvimento de artigos e publicações na área de gestão de negócios do esporte.

Universidade do Futebol - Qual foi o objetivo do Fórum ESPM Copa 2014*?

Claudinei Santos - A gente é uma referência para os membros do mercado relacionado à indústria do esporte. Se a Copa do Mundo de 2014 não for bem estruturada, ela pode acabar não sendo um grande sucesso. Porém, se bem aproveitada, vai gerar uma quantidade enorme de negócios para as cidades que vão sediar os jogos e mesmo para aquelas que vão beneficiar-se só do turismo, além da geração de serviços e produtos por causa do evento.

O Fórum ESPM Copa 2014 serviu para dar início às discussões sobre como organizar a Copa. Quais os impactos que ela tem sobre a economia? Quais negócios que ela pode gerar e como equacioná-los?

As cidades-sede e outras, que querem apenas receber turistas, podem entrar em contato com a ESPM para darmos as orientações de como fazer o marketing do local. Assim, elas poderão retirar o máximo possível do evento e não ficar somente com os encargos e com os gastos que serão exigidos para a concretização das melhorias na malha viária, no transporte, na construção e adaptação de arenas, por exemplo, que são investimentos meramente estruturais.

*Nota da redação: nos dias 28 e 29 de abril de 2009, foi realizado o Fórum ESPM Copa 2014 – os impactos econômico-sociais e as oportunidades de negócios. No evento, foram debatidos temas como os encargos da Fifa para a Copa do Mundo no Brasil, a visão do governo em relação ao torneio no país, os impactos econômicos e sociais da Copa e a visão das empresas em relação às oportunidades de negócios que o evento trará. Além disso, foram apresentados painéis sobre a experiência das Copas anteriores, sobre marketing e comunicação na Copa de 2014, sobre o marketing das cidades que esperam beneficiar-se com o evento, e sobre como estruturar e administrar as arenas que serão construídas.

Universidade do Futebol - Qual é o potencial de crescimento em infraestrutura do Brasil até 2014, ano da Copa do Mundo?

Claudinei Santos - Tem que se aprimorar muito a infraestrutura de transporte, de malha viária e de serviços. Basicamente, são essas áreas as que crescem muito com um evento como uma Copa do Mundo.

No entanto, quanto isso vai melhorar, ninguém pode dar uma informação correta. Fala-se que haverá um investimento na faixa dos R$ 14 bilhões. Mas onde está o projeto? Em que cidades eles serão implementados?

O que acontece é que hoje não dá para dimensionar. Dependendo da cidade, ela já começou a se preparar ou não para a Copa. Se formos fazer um trem rápido para São Paulo, que atenda o aeroporto, são precisos cerca de R$ 17 bilhões, de acordo com a Secretaria de Transportes, o que inviabilizaria esse projeto. Então, talvez isso não saia do papel.

Outro aspecto importante é que, o Brasil, como é um país de dimensões continentais, não dá para ir de trem de uma cidade para outra. É preciso que se vá de avião, e os aeroportos não estão preparados para o fluxo. Portanto, há uma enorme necessidade de investimentos em aeroportos. Até agora, ninguém sabe como isso será feito. Tudo está muito na base das especulações.



Universidade do Futebol - Quais são os impactos sociais de um evento dessa grandeza em um país com tantas diferenças nesse sentido?

Claudinei Santos - Seguramente vai haver uma grande geração de empregos em negócios ligados diretamente, e mesmo indiretamente, à Copa do Mundo. Isso é um impacto positivo, desde que se saiba o que fazer com essa mão-de-obra após o evento. Se você treinar pessoas para funções receptivas, para logística e para as demais atividades relacionadas à Copa, essas pessoas podem continuar trabalhando nas mesmas tarefas depois. Caso se tenha um planejamento e uma organização, o impacto será positivo. Pequenas empresas também vão se estruturar, e grandes empresas irão ampliar os seus negócios durante a Copa do Mundo. Mas o que vai acontecer no “day after”? Elas vão continuar podendo vender serviços ou produtos no mesmo volume?

Vamos aprender sobre como melhorar nossa consciência de turismo, principalmente em pequenas cidades, a receber melhor os turistas de fora do Brasil. Por que um turista vai para Salvador? Não precisa ser por causa da Copa. Se nós melhorarmos como receber turistas, apesar de Salvador ser bastante competente, ela irá receber mais fluxo de turistas internos e externos.

Portanto, afirmo que o impacto, em princípio, é bastante positivo, uma vez que se criam empregos, alavanca-se a economia, desenvolve-se pessoal qualificado, gera-se um impacto permanente no PIB. Mas isso não pode ser apenas pontual, nos anos que antecedem e no ano da Copa.

Minha grande preocupação é o “day after”. Ou nós planejamos hoje o que vai acontecer no dia seguinte, quando acabar a Copa, ou nós vamos fazer uma grande bobagem, investir um monte de dinheiro para nada.

Ninguém fez ainda, embora seja economicamente viável, uma avaliação para saber se a Copa irá realmente dar lucros. No ano da Copa sim, claro. Mas se analisarmos um período mais longo, o que ela vai deixar de resultados? Se ela não for trabalhada de forma muito adequada, ela pode criar um grande buraco no dia seguinte.

Universidade do Futebol - Faça uma avaliação das Copas do Mundo recentes. Como podemos compará-las com aquilo que pode vir a acontecer no Brasil?

Claudinei Santos - As diferenças são brutais entre uma Copa da Alemanha e uma Copa da Coréia e do Japão. Na dos países asiáticos, construiu-se uma quantidade enorme de estádios, e ninguém sabe o que está acontecendo com eles agora. Essas construções foram feitas, em alguns casos, em cidades que não possuem 15 ou 20 mil habitantes, mas que atualmente, têm arenas. Além disso, criou-se um investimento grande em infraestrutura para levar as pessoas até essas arenas, mas o Japão é um país pequeno. Já na Copa da Alemanha, foi feito um reinvestimento em arenas já existentes e que continuam sendo lucrativas.

Portanto, o que se ganha da experiência com as Copas anteriores? Basicamente isso: tem que haver um planejamento muito adequado. Há, inclusive, dados de que a Copa da Alemanha também não foi tão vantajosa. Gerou bons negócios para a Fifa e para algumas empresas de turismo, mas para a grande maioria do país, não trouxe uma vantagem muito grande. Então, é uma falácia!

Já a Copa da Coréia e do Japão aconteceu muito mais para recolocar essas economias no cenário mundial. Mas o evento não trouxe uma grande contribuição para a economia do Japão, que não estava indo tão bem, ainda que um evento de caráter mundial mexa um pouco com a economia do país.

Eu diria que cada Copa é muito diferente das outras. Por exemplo, a Copa da África do Sul será um evento muito mais pobre. O volume de investimento é da ordem de cinco para 30, em comparação com a Copa dos EUA. A diferença é brutal entre os investimentos que foram feitos, principalmente em infraestrutura, em arenas, em transporte, etc.

A Alemanha, que possui um bom metrô, ótimas auto-estradas, é muito menos grave trazer e sediar uma Copa. Já na África do Sul, não há nada disso. Tanto que dizem que, se der certo no país africano, tem que dar certo uma Copa no Brasil, também.

No entanto, o Brasil possui uma dimensão continental. Então, a diferença de uma Copa no Brasil é a seguinte: quando se fala em um evento desse tipo na Alemanha, é uma Copa em um país pequeno, em que as pessoas andam duas horas de trem ou de carro e conseguem chegar de uma sede a outra. No Brasil, não; existem milhares de quilômetros entre as cidades que irão sediar o torneio.

A grande diferença é essa: nós somos um país continental, que não possui uma infraestrutura muito boa de meios de transporte e não tem arenas bem localizadas ou com uma estrutura local adequada.

Portanto, o aprendizado que tivemos com a Copa da Alemanha, por exemplo, é bom, mas aqui temos que conseguir outras soluções. Não adianta melhorarmos apenas as estradas e o metrô. Isso não vai dar conta, porque não tem como ir de metrô de São Paulo a Salvador.



Universidade do Futebol - O mercado de marketing do esporte no Brasil ainda é bastante deficiente. Quais são os seus principais problemas e como podemos melhorá-lo? Em comparação ao que acontece no exterior, qual é a sua posição?

Claudinei Santos - As nossas principais deficiências são, em primeiro lugar, a capacitação de pessoal para gerenciar de forma profissional os negócios do esporte; em segundo, a tecnologia aplicada, que usamos pouco ainda; por fim, o nosso modelo de gestão é ruim.

É muito diferente o que se faz aqui e o que se vê fora do Brasil. Um ou outro exemplo, como o São Paulo, o Palmeiras ou o Corinthians, têm um modelo de gestão um pouco melhor.

No entanto, no geral, aquilo que se observa por aqui é muito pobre, muito ruim, muito pouco profissional. Exceções para alguns eventos como a Fórmula 1, mas, nesse caso, é tudo trazido de fora, o modelo é totalmente importado.

O que é marketing esportivo? O que é feito é patrocínio ou licenciamento. Então, você patrocina um clube ou um atleta, licencia a sua marca para fazer brinquedos, roupas de criança, óculos, etc. No Brasil, o marketing esportivo ainda engatinha, porque nós não sabemos o que fazer com isso.

Se compararmos com o que é feito na Europa, os clubes de lá são gerenciados profissionalmente. Por exemplo: o Real Madrid possui vários atletas de todas as partes do planeta. Esses jogadores são talentosos, mas será que eles estão lá somente porque são talentosos? Tem que ter um japonês que joga razoavelmente bem, porque o Japão quer ver isso, e o dinheiro de televisão dá um retorno muito bom para o clube. Portanto, se tiver atletas que podem ser vistos pelo mundo todo, com certeza, eu vou ter mais audiência.

No Brasil, falta essa mentalidade de negócio, copiar um pouco o modelo que existe lá fora. Por que nós não temos um espetáculo que seja vendável mundialmente, como a Espanha e a Itália? Porque nós não temos talentos, os nossos bons jogadores estão lá fora. E por que eu não posso reter o talento? Porque eu faço da venda do atleta a minha melhor fonte de receita.

Eu diria que, além dos três itens citados, há de se ter uma cultura de negócios com a indústria do esporte, o que, no Brasil, não existe.

Na ESPM, preparamos esse nível gerencial da direção executiva do negócio. O que nós não conseguimos mexer é com os cartolas, porque eles são indicados, ou porque são politicamente importantes, são amigos de um ou de outro, porque estão há muito tempo no clube, etc.

Universidade do Futebol - Você acredita que os clubes de futebol brasileiros têm noção do quanto valem em termos de imagem? Como mensurar - se é possível - o valor da marca de uma instituição esportiva?

Claudinei Santos - Não dá para dizer, atualmente, quanto vale uma marca. Existem algumas especulações, mas dizer precisamente é impossível.

A verba de patrocínio pode ser uma pista para essa mensuração. Os clubes brasileiros valem muito menos do que qualquer clube europeu. Mas aí, também há de se considerar a relação entre o euro e o real que influencia bastante nesse caso.

Os clubes brasileiros já são internacionalizados, de certa maneira. O esporte não é mais local. Quando se tem um jogo por aqui, as imagens vazam para o mundo, quando se participa de um torneio como a Libertadores, os demais países da América do Sul estão assistindo.

Não tem como não ser dessa maneira, porque o esporte é globalizado. Se analisarmos os principais clubes fora e dentro do Brasil, todos têm atletas de diferentes nacionalidades. O que acontece é que aqui nós contratamos atletas de países de menor expressão na modalidade. Lá fora, eles possuem critérios e possibilidades maiores para comprar atletas.

Portanto, os clubes brasileiros já começaram esse processo de internacionalização. Porém, ainda de maneira bastante tímida. Não tem como não pensar globalmente quando se fala de esporte.

Universidade do Futebol - De que forma o produto futebol poderia se tornar mais rentável, em termos de negociação da marca e licenciamento de artigos referentes à agremiação?

Claudinei Santos - Patrocínios hoje que giram em torno de R$ 16 milhões e R$ 18 milhões. O Corinthians conseguiu R$ 18 milhões, o São Paulo, R$ 16,5 milhões. Esse valor pode crescer muito, desde que o clube valha mais.

O que uma televisão está disposta a pagar para transmitir um jogo de futebol? Vai valer tanto mais quanto mais audiência ela obtém. Se eu consigo uma transmissão internacional, eu posso vender bem mais caro a partida, em termos de TV. Mas eu preciso que aquele espetáculo seja bom.

Por que vendemos mal? Porque o nosso espetáculo é ruim, o jogo é feio e tem briga entre as torcidas. Além disso, os técnicos, para preservarem a equipe, não colocam os melhores atletas em campo, o que resulta em um jogo de baixa qualidade.

Então, visa-se somente a vitória e esquece-se que aquilo é um espetáculo. O futebol, ou qualquer outro esporte, é um entretenimento.

Mas não há cuidado com quem vai para as arenas na questão do conforto, da segurança, da alimentação. Se você for a um estádio, mesmo sendo o do São Paulo, esses fatores são péssimos: o banheiro é sujo, o que se consegue de alimentação é uma “quentinha” do Habib’s. Então, que prazer que se tem? Tem que ser uma experiência gratificante você ir a um estádio.

Fora do Brasil é maravilhoso. Eu cito sempre uma experiência, na primeira vez em que eu fui ao Santiago Bernabeu, em Madri, e como todo bom brasileiro, cheguei à arena com uma hora e meia de antecedência. Fui com mais dois amigos e, no momento em que chegamos, não havia ninguém. Cheguei a pensar que não fosse mais ocorrer o jogo. Então, falei com os orientadores, e já havia sentado no lugar errado, porque lá os lugares são numerados. Perguntei se havia ocorrido algum problema, pois não tinha ninguém no estádio. Ele me respondeu: “Por que o senhor acha que o pessoal vai chegar mais cedo?”. Em 20 minutos, o estádio estava lotado. Atenção: portões, catracas, escadas rolantes, tudo aberto. Ninguém se machucou.

Na saída, pensei que seria um inferno para escoar todo o pessoal de lá. Em 20 minutos, cheguei das arquibancadas até a porta do metrô sem precisar fazer esforço algum.

Quando eu consigo oferecer um espetáculo como esse, ele vale dinheiro. Eu posso cobrar US$ 100,00 que as pessoas pagam. Agora, se cobrarem R$ 20,00 por um jogo entre São Paulo X Corinthians, no qual eu corro o risco de apanhar, fico temeroso de levar a minha mulher, isso não vale.

Portanto, atualmente, a diferença básica entre o que acontece lá fora e aqui é como tratar um espetáculo. A gente não faz espetáculo.

Universidade do Futebol - Durante o Fórum sobre a Copa de 2014, realizado pela ESPM, foi senso comum entre os debatedores, especialistas das mais diversas áreas: para vingar em termos de sustentabilidade e poder de concorrência, os clubes têm de ter seu estádio próprio. O que você pensa sobre isso e como viabilizar a concretização de um plano desses? Parcerias público-privadas são a melhor solução?

Claudinei Santos - No modelo brasileiro, da maneira como nós atuamos, acaba sendo inevitável precisar de um estádio próprio. O problema é esse: como esse estádio se rentabiliza, já que ele fica ocioso uma grande parte do tempo?

Quantos jogos há por ano em um estádio como o Morumbi. Se for um por semana, o que não acontece, são 52 partidas. E quantas pessoas são colocadas lá dentro? São poucos os jogos em que há 70 mil pessoas. Quanto que se consegue gerar de receita?

Portanto, as arenas não são rentáveis. São investimentos imobiliários de grande porte, que têm que ser rentabilizados. Eu duvido que um clube consiga construir uma arena nos padrões Fifa e, a partir daí, ele consiga começar a ganhar dinheiro. A não ser que ele realize um projeto muito grande, integrado com algum investidor ou com a prefeitura.

O que acontece com uma grande arena? Ela é um pólo que atrai pessoas. Se for bem construída, é fácil de se ter acesso. Então, uma grande quantidade de pessoas vai até lá se houver uma malha viária adequada e um bom transporte coletivo.

Se for dessa maneira, é interessante possuir um estabelecimento comercial ao lado desse estádio, pois as pessoas conseguem chegar até lá. Então, no domingo (dia de jogo), os torcedores passam na loja.

Sendo assim, o entorno do estádio é muito importante. É preciso pensar o que há de oferta de serviços, de alimentação ou de outros entretenimentos para durante os espetáculos e que também pode existir alheio a eles.

Há empresas que querem investir em arenas poliesportivas, ou multiuso, principalmente, nessas últimas, pois elas podem abarcar eventos, shows, casamentos, lojas, etc.



Universidade do Futebol - Qual a metodologia de ensino da ESPM para a formação de novos administradores e marketeiros voltados à esfera esportiva?

Claudinei Santos - Nós não somos marketeiros. Somos profissionais de gestão do esporte, o que inclui marketing. Existem, também, grandes diferenças entre marketing esportivo e marketing do esporte.

O primeiro é você fazer ações de comunicação por meio do esporte, como uma empresa que está na camisa do São Paulo, a LG. Por outro lado, existe o marketing do esporte, que é como você faz para que a modalidade seja vendável, para que ela valha alguma coisa. As pessoas geralmente misturam esses dois conceitos, o que é indevido.

Como nós formamos os nossos alunos? Damos uma base conceitual importante, conceitos de operações de marketing, de finanças, de gestão de eventos, etc. Propiciamos para eles uma metodologia adequada de como gerenciar essas áreas.

Nós melhoramos a capacitação em termos de postura do aluno como administrador. Geralmente, em qualquer sistema de ensino, é preciso desenvolver conhecimentos, criar habilidades de lidar com o gerenciamento, com a negociação e com a administração, e criar uma atitude adequada.

Somos muito calcados em gerar uma nova atitude. Conhecimento você transmite, atitude você desenvolve. Pretendemos dar ao aluno uma nova visão do negócio, desde o planejamento até a sua operação, até o seu controle e avaliação de resultados.

Nossa metodologia passa por essas tarefas: criar conhecimentos, gerar habilidades e criar uma nova atitude.

Universidade do Futebol - A profissionalização do futebol brasileiro, em todas as instâncias, é viável em curto prazo, ou carece de um tempo de maturação e adaptabilidade?


Claudinei Santos - No curto prazo não vai acontecer nada. Temos que fazer algumas correções muito rápidas para tornar o negócio um pouco melhor e mais profissional. Mas é uma coisa mais de médio e longo prazo.

O papel das escolas que formam novos profissionais é esse: criar uma nova geração, que vai, aos poucos, assumindo cargos importantes, até que essa nova leva de especialistas em gestão do esporte comece a assumir posições de decisão estratégica.

A partir daí, começa-se a mudar como um todo a gestão do esporte, não só no futebol, mas em qualquer modalidade que se imagine, também.

Universidade do Futebol - O futuro para os clubes brasileiros está em parcerias ou aportes financeiros de um magnata, como acontece na Inglaterra?


Claudinei Santos - Embora se critique muito, eu gosto da ideia do clube-empresa. Muita gente critica, mas, na verdade, as agremiações têm que ser tratadas dessa maneira. Nesse negócio você pode ter investidores dos mais variados ramos, e não há nada de mal nisso.

Quando uma empresa está patrocinando um clube, ela está investindo nele, ela é um parceiro comercial da agremiação. Só que isso é feito de maneira pobre, pois apenas coloca-se o logo na camisa e nas placas e pronto. Cadê o marketing integrado?

Os clubes devem seguir sendo entidades que não tenham um dono? Sim e não. Qual é a importância disso ou se, de repente, ele for vendido para um grande industrial ou para uma empresa?

Eu não vejo nenhum problema sério nisso. O clube é um negócio e, como tal, pode assumir um parceiro que vá dividir custos, despesas e receitas. Depende muito de cada caso. Por exemplo: precisa-se de dinheiro, eu vou buscar no banco. Vou ter patrocinadores e parceiros, vou vender ações. Por que não?

Agora, no modelo atual, com a legislação que se tem no Brasil, para os clubes fica bastante complicado de se fazer isso.



Universidade do Futebol - Fala-se muito em investimentos de infraestrutura e transporte para a Copa do Mundo de 2014. No entanto, outro problema que é preocupante é em relação à mudança de cultura da própria população brasileira para receber pessoas vindas dos diferentes países do mundo. Existe algum tipo de trabalho que possa ser feito para que a Copa também seja um sucesso nesse sentido?

Claudinei Santos - Sem dúvida. Precisa-se ter pessoal qualificado para atender bem quem não fala português. E também há de se considerar que a pessoa que fala francês talvez não fale muito bem inglês.

Por isso, é preciso ter grupos que possam dar orientação e promover um entretenimento contínuo para as pessoas que vêm de fora, enquanto eles estiverem aqui, por conta da Copa, assistindo ou não a algum jogo.

Além disso, é necessário que a população das cidades-sede seja preparada para receber bem os turistas, para não considerá-los um estorvo, que atrapalha o trânsito, que ocupa os restaurantes, que bloqueia todas as vagas de hotel, etc.

Sendo assim, precisa ser feito um trabalho muito grande em cima disso, de conscientização da população, mesmo que as pessoas não atuem diretamente na Copa, mas para que elas saibam como acolher os visitantes.

Algumas cidades já têm essa mentalidade. Em Salvador, por exemplo, as pessoas são bem receptivas. Em São Paulo, isso também é verdadeiro. Mas, outras cidades-sedes, como Belo Horizonte, onde não há um fluxo grande de turistas, as pessoas não estão preparadas para ajudar.

Portanto, ou você prepara a população, principalmente aquelas pessoas que terão contato mais direto com os visitantes e com as seleções ou você tem chance de dar grandes gafes.

Quando o Brasil foi disputar a Copa da Alemanha, a população da cidade que recebeu a nossa seleção se mobilizou para aprender a falar português e receber os jogadores da melhor maneira possível. Por isso, as cidades que vão receber turistas ou equipes precisam estar preparadas em termos da população ter consciência de como receber bem os visitantes. Até mesmo para poder informar onde se localiza tal restaurante ou, no trânsito, não serem tão agressivos, e até mesmo, evitar brigas de torcidas com os turistas que virão para torcer pelo seu país.

Universidade do Futebol - Apesar de seus problemas e falhas, o São Paulo é tido como um exemplo de administração no departamento de futebol. Essa é a razão de a ESPM manter um vínculo com a instituição do Morumbi?

Claudinei Santos - Nós precisávamos de um time que já estivesse bem estruturado, que tivesse um padrão de excelência, dentro do possível, no que se refere à gestão de negócios. Outro fator que contribuiu foi que tínhamos contato com os dirigentes clube.

Além disso, o próprio clube queria fazer parte desse projeto. Ele tinha a intenção de se profissionalizar. Por isso, aproximou-se da ESPM, pois nós já éramos uma referência no campo de gestão da indústria relacionada ao esporte.

No entanto, não houve nenhuma escolha, não fizemos uma pesquisa para saber qual era o clube melhor organizado. Apesar que, na época, era notável a diferença entre o São Paulo e as demais equipes.

Além disso, dentro do clube do Morumbi já havia profissionais de grande impacto, como o [Júlio] Casares*, o João Paulo [de Jesus Lopes]**. Isso também fazia uma grande diferença, além da presença do Claudio Aidar, que foi a nossa ligação com o clube.

Porém, não estamos ligados exclusivamente a eles. Há uma relação com o São Paulo porque lá temos um campo de trabalho, eles nos abrem as portas para levarmos os alunos para verem o que realmente acontece, e os profissionais de lá também nos ajudam a mostrar um pouco da parte prática.

Notas da redação:

*Julio César Casares é diretor de marketing do São Paulo desde 2004. Antes, atuava indiretamente com o marketing são-paulino, como presidente do Grupo de Executivos São-Paulinos (Gesp) formado por torcedores que elaboram planos de marketing para o clube.

Fora do futebol, Casares tem atuação em duas emissoras de televisão. Até 2004, foi superintendente de rede do SBT. Atualmente é diretor de planejamento estratégico da TV Record.

A
lém de trabalhar no São Paulo e na Record, Casares é o presidente da Associação Brasileira de Marketing e Negócios (ABMN) desde 2005.

**João Paulo de Jesus Lopes é secretário Adjunto dos Transportes Metropolitanos e assessor especial da presidência do São Paulo. Ingressou no clube do Morumbi em 1979, trazido pelo ex-governador Laudo Natel.

Foi diretor adjunto de Futebol Profissional de 1980 a 1990 e conselheiro eleito entre 1986 e 1990. Retornou ao clube em 2002. Desde então foi diretor Financeiro, diretor de Planejamento e de Futebol Profissional.

Teve que deixar o cargo em virtude de ter assumido a função que ocupa atualmente no governo do Estado. Mas permaneceu como assessor especial da presidência para assuntos do futebol profissional.

Universidade do Futebol - No futebol brasileiro, são notáveis os problemas que existem em relação à infraestrutura das arenas, à violência e outros mais. Além disso, é comum que se façam obras, melhorias e se tomem medidas de segurança pouco tempo antes de um evento, por exemplo. Na sua opinião, o Brasil vai conseguir trabalhar com rapidez e eficiência para sediar um evento como a Copa do Mundo daqui a cinco anos?

Claudinei Santos - Acho que sim. Espero que sim. Rezo para que isso aconteça.

Na abertura do nosso fórum eu comentei que deveríamos pensar corretamente na Copa do Mundo e parar de fazer especulações e de dizer mentiras. Nós teremos US$ 14 bilhões de investimento ou R$ 14 bilhões? Se comparados, um é o dobro do outro.

Acredito que ainda não é tarde demais, mas temos que começar já. Faltam quatro anos e meio. Isso não é nada. Se me perguntarem se ainda há tempo, a minha resposta será positiva, mas é algo perigoso, receoso. Eu não tenho tanta certeza assim.

Estou percebendo um baixo nível de planejamento para essa Copa. Existem muitas discussões, algumas cidades já bem preparadas, como São Paulo, que possui um projeto. No entanto, o nosso fórum e a nossa ação, “ESPM 2014”, é para instigar as pessoas a começarem a planejar, para apontar os pontos que ainda não foram debatidos. Por exemplo: quanto tempo eu levo para formar pessoas para receber os estrangeiros?

Se não houver um bom planejamento e controle sobre o que se está fazendo, pode acontecer como no Rio de Janeiro, no Pan de 2007. Na última hora até funcionou, mas poderia ser algo mais planejado e de menor custo, com melhores resultados econômicos, sociais e políticos para o país.



Universidade do Futebol – Na sua opinião, quais foram os critérios que mais pesaram para a escolha das sedes da Copa do Mundo de 2014?

Claudinei Santos - A escolha aconteceu, na minha opinião, em função de cidades que ofereceram melhor infraestrutura para o evento, que tinham mais possibilidade de turismo, principalmente, como integração.

Se repararmos, no Nordeste, a cidade de Natal não tem futebol que justifique a decisão. Mas ela está integrada em um conjunto de cidades turísticas do Brasil.

Então, fica mais fácil para quem está em Salvador chegar a Natal do que vir para São Paulo. Por isso, algumas escolhas fazem sentido em um projeto integrado de turismo local. Aí, tem-se Salvador, depois Recife, Natal, Fortaleza, e, um pouco mais longe, Manaus. Cria-se uma região com distâncias não muito longas em que se consegue atender a essas questões do turismo.

Mesmo porque, não se pode sediar uma Copa em uma cidade que não possua atrativos turísticos. Florianópolis não foi escolhida por que não tem infraestrutura ou por que está muito perto de Curitiba e de Porto Alegre?

É claro que também foram utilizados critérios políticos. É impossível pensar-se em uma Copa do Mundo no Brasil em que não tenha uma variável política. Mas como nós não tivemos nenhuma explicação sobre os critérios, nos resta saber se as cidades escolhidas vão estar capacitadas para receber a Copa. Lembrando que tudo tem que estar pronto para a Copa das Confederações, que acontece um ano antes da Copa do Mundo. Portanto, se a Copa será em 2014, a Copa das Confederações será em 2013. Logo, as coisas deveriam estar prontas até o final de 2012. Então não temos tanto tempo como imaginamos.

Será que as cidades-sede estarão preparadas a tempo de acordo com as condições exigidas pela Fifa? Senão, elas serão excluídas da Copa de 2014. É perfeitamente possível realizar o evento em 10 cidades ao invés de em 12, por exemplo, supondo que algumas delas não cumpram com as determinações da entidade máxima do futebol.

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