Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, junho 30, 2010

O atleta do século em detalhes

Confissões de um Rei: Pelé diz que Maradona precisa, primeiro, provar que foi o melhor da Argentina…

Postado por Geneton Moraes Neto em 30 de junho de 2010 às 18:05

O Dossiê Geral promete – e cumpre. Eis a entrevista completa com Pelé :

Jornalistas entediados espalharam a versão de que Pelé derrapa quando fala. É mentira. Provocado, nosso monarca é perfeitamente capaz de premiar a curiosidade dos repórteres com confissões surpreendentes, cenas de bastidores, eventuais inconfidências.

Aqui, Édson Arantes do Nascimento, a versão terráquea da entidade Pelé, apontará, por exemplo, quais eram os dois únicos defeitos do Rei do Futebol.
Descreverá pressões sofridas para disputar a Copa do Mundo de 1974 pela seleção brasileira. Falará de uma cena inusitada ocorrida nos vestiários do Brasil,no intervalo da final da Copa do Mundo de 1970, no México.

Sociólogos de botequim juram que em algum ponto do inconsciente coletivo brasileiro reluz uma difusa nostalgia da realeza. Quando querem reconhecer os talentos e virtudes de alguém, os habitantes da República Federativa do Brasil tratam de conceder-lhe um título monárquico. Roberto Carlos virou “Rei da Jovem Guarda”. Uma expedição por qualquer cidade brasileira revelará um rol de majestades de todo tipo: Rei da Bateria, Rei do Churrasco,Rei do Mate, Rei dos Pneus. Mas ninguém encarnou tanto a palavra Rei quanto Édson Arantes.

Sessenta e nove anos depois da proclamação da República, o Brasil ganhou, na Copa do Mundo de 1958, um Rei que até hoje não perdeu a majestade (fiz um teste: desafiei Pelé a ir conosco até a Quinta Avenida, para ver por quanto tempo ele poderia andar na rua sem ser reconhecido. Três décadas depois de ter abandonado os gramados, Pelé precisou de apenas dezesseis segundos para ser reconhecido por um africano. Em questão de minutos, o tumulto estava formado: pedidos de autógrafo, espoucar de flashs, assédio de admiradores. Pelé teve de voltar para a van. Tinha passado incólume pelo teste do reconhecimento público – em Nova York). Que outra celebridade seria capaz de criar um alvoroço numa das principais avenidas da cidade que é tida como a capital do planeta?

Agora publicado na íntegra, sem qualquer corte, o depoimento do Atleta do Século ao Fantástico é um documento sobre uma das pouquíssimas personalidades que, durante um diálogo com um repórter, podem se dar ao desplante de se comparar, a sério, com gênios como Beethoven ou Miguelângelo. Pelé pode. Porque sabe que, no futebol, pode ter sido o que Beethoven foi na música – ou Miguelângelo na pintura.

Que outra celebridade pode se referir a si própria na terceira pessoa, como se Pelé fosse um mito há tempos desvinculado das miudezas do mundo real? Pelé pode.

O encontro foi marcado para o apartamento que Pelé mantém desde os anos setenta em Nova York. O “Rei” chega com o rosto semi-encoberto por um boné. É o truque que usa para tentar esconder uma das fisionomias mais reconhecíveis do mundo. O punho, machucado num jogo de tênis, estava enfaixado. Pelé pede licença para ir “lá dentro”. Volta de camisa trocada. Enquanto o cinegrafista prepara a câmera, ele lembra que, quando morava em Nova York, costumava jogar tênis com o jornalista Lucas Mendes. Confessa uma pequena frustração: não consegue ganhar nunca de Rivelino no tênis.

Diz que passou a se policiar para não ficar repetindo a pergunta “entende?” ao final de cada frase:

- “Percebi que sempre falava “entende”, em todas as entrevistas. Depois das gozações, comecei a me policiar. Perdi o hábito. Depois que me chamaram a atenção para esta mania, psicologicamente já eliminei a palavra “entende”. Mas de vez em quando escapa algum”.

A bem da verdade, diga-se que Pelé conseguiu atravessar a entrevista sem emitir um “entende ?” sequer.

O “Rei” se confessa, numa gravação preservada no Centro de Documentação da Rede Globo:

Pelé 4 x 4

Você já passou um dia sem dar autógrafo?

Pelé: “Digo com toda honestidade: só quando não saio de casa. Em casa, ainda tenho de assinar cheques para fazer pagamentos.Depois desta fase de Pelé – ou seja, desde a Copa de 1958 – não me lembro de ter passado um dia sequer sem ter dado autógrafo. Não me lembro!”.

Qual foi o pedido mais absurdo que você já recebeu?

Pelé: “Já recebi tantos pedidos e tantas propostas… A gente recebe, no escritório, cartas com todo tipo de pedidos – desde ajuda financeira até apartamento, casa e carro… Mas o pedido mais complicado que recebi foi feito, na África, por um pai, que me trouxe a filha e pediu para que eu casasse com ela. Era uma garota de 15 anos!”

Que resposta você deu?

Pelé: “Eu disse que não estava preparado ainda para casar….”.
Você sempre fala de Pelé como se Pelé fosse outra pessoa. Isso não é delírio de grandeza de um “Rei”?

Pelé: “Talvez seja delírio de grandeza de um ”Rei”, mas, por outro lado, é até uma modéstia do Edson. Porque um novo Pelé, que todo mundo procura desde 1958, não vai aparecer. Dona Celeste e Dondinho, meus pais, fecharam a fábrica. O novo Pelé não vai aparecer, então.

Edson Arantes do Nascimento é o que sofre, é a pessoa. Já Pelé é o mito que não vai morrer. Vai ficar para sempre.

Édson morre : é uma pessoa normal, alguém que chora, tem sentimentos e sofre pelas coisas erradas. É esta a diferença que sempre tento fazer”.

Ninguém gosta de pensar em morte, mas, já que ela é inevitável, qual seria o epitáfio de Pelé?

Pelé: “Não tenho medo de morrer nem de falar sobre a morte. Mas acho que o epitáfio do Pelé seria “o eterno”.

Sinceramente: você tem inveja de quem?

Pelé: “Inveja não tenho de ninguém. Em todo este tempo em que viajei com o futebol, conheci grandes personalidades: reis, rainhas, políticos, atletas, artistas. Eu às vezes falava: “Eu poderia ser um Nelson Mandela, um Juscelino Kubitscheck, um artista…”. Fui abençoado pelo Papa várias vezes. Mas inveja nunca tive.

Quando eu era garoto, o jogador que tentei imitar, porque era minha inspiração na época de minha chegada ao Santos, foi Zizinho. Quando comecei, aos dezesseis, dezessete anos, Zizinho estava terminando a scarreira. Eu achava: “Um dia vou ser igual a Zizinho…..”

Você disse que gostaria de ter sido JK. Por quê?

Pelé: “Porque, dentro do pouco que a gente conhecia de política, Juscelino chegou com uma proposta avançada e decente para nosso país. A grande mudança do Brasil aconteceu com Brasília e com JK. Eu o admiro muito”..

Você se disfarça?

Pelé: “Já usei bigode. Uma vez, fui à China. Pus uma peruca afro, além do bigode, para ir a um restaurante. Havia lá um pessoal que falava português. De repente, vi o pessoal da cozinha chegando. Eu disse: “Alguma coisa deu errado….”. Um dos garçons terminou perguntando: “É Pelé? “. O professor Júlio Mazzei – que estava na mesa conosco – perguntou: “Como é que souberam? “. O garçom: “Ah, ele começou a rir. A gente reconheceu”.

Todo mundo já falou das qualidades do Pelé em campo, mas poucos foram capazes de apontar os defeitos. Para Pelé, qual era o grande defeito de Pelé dentro do campo?

Pelé: “Pergunta difícil ! Você perguntou para Pelé. Se tivesse perguntado para Édson….

Pelé corrigiu um defeito que tinha durante a carreira. Eu me lembro: o meu pai me dizia que jogador que é centroavante ou atacante tem que saber cabecear e chutar de esquerda e direita. Porque a bola – afinal- pode cair de qualquer um dos dois lados. Eu tinha uma dificuldade de esquerda. Mas fiquei treinando e batendo com a perna esquerda. Hoje há até quem ache que sou canhoto! Mas sempre fui destro.

E cabecear? Fico triste de ver jogadores profissionais que ganham uma grana danada mas não sabem cabecear, o que é um absurdo!.

O garoto não saber cabecear era um absurdo nos tempos do meu pai. Porque cabecear é um principio do futebol. Hoje existem profissionais, centroavantes, que não sabem cabecear.

Depois dessa correção, eu, como Edson, não sei se vejo muito defeito no Pelé como jogador.

Pelé podia ser menos forte num tipo de jogada, mas defeito acho que ele não tinha”.

Os dois pequenos defeitos de Pelé no início da carreira eram, então, não saber cabecear e não saber chutar com a esquerda?

Pelé: “Exatamente! Aprendi com meu pai. Aprendi a chutar com a esquerda depois que vim para o Santos. Ficava batendo bola depois dos treinos. Ficava batendo bola contra a parede. Pedia para os jogadores cruzarem a bola para que eu pudesse bater de esquerda. Fui, então, superando esta dificuldade”.

Quanto valeria hoje o passe de Pelé, se Pelé estivesse jogando?

Pelé: “Que pergunta! Hoje, tudo tem um valor, uma comparação. Se fôssemos fazer uma comparação com o que se paga hoje, se fizéssemos uma relação de custo e benefício, Pelé não teria preço. Porque não daria para pagar o tempo que Pelé jogou na Seleção Brasileira e no Santos – quase vinte e cinco anos de carreira, sem parar. Talvez desse para pagar a divída do Brasil….”.

Que valor se aproximaria do talento de Pelé, em preço de passe?

Pelé: “ Se fosse feita uma comparação com os atletas de hoje, Pelé seria acima de qualquer um. O jogador mais caro foi – o quê? – 35, 40 milhões de dólares. Pelo que falei, Pelé deveria valer uns 100 milhões de dólares por ano”.

É verdade que o governo militar quis forçar você a jogar a Copa de 74 pelo Brasil ?

Pelé: “´Forçar´ é uma palavra forte, mas eles tentaram me persuadir a voltar a jogar, porque havia um interesse grande em que o Brasil fosse bem na Copa do Mundo de 1974,na Alemanha. Nós estávamos numa fase política muito difícil, no Brasil.

Eu me lembro de que tinha dado uma entrevista para Ziraldo, em que eu dizia que tinha ficado sabendo das barbaridades e das torturas que tinham sido feitas naquele tempo – de 1971 a 1973. Indignado com aquilo, uma das decisões que tomei foi a de não apoiar e não esconder o que estava acontecendo. Porque, cada vez que o Brasil ganha uma Copa do Mundo, esconde tudo: a fome, o desemprego, a saúde, a falta de moradia. O povo se envolve na alegria, naquela coisa de “Brasil” – e esquece de tudo.

Eu não queria aquilo porque eu já tinha conhecimento de muita coisa: já tinha conversado com Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Chico Buarque. Já tinha me encontrado com eles; sabia de coisas que estavam acontecendo. Tomei realmente esta decisão. Como eu ainda estava em grande forma – afinal, o Santos foi campeão em 1973 e fui artilheiro do campeonato – , houve uma procura da filha do general Ernesto Geisel, e políticos como Pratini de Moraes e Jarbas Passarinho. Falei com vários políticos na época: todos achavam que eu tinha de jogar. Mas minha decisão foi a de não jogar”.

Você estava em perfeita forma em 1974: poderia ter jogado a Copa do Mundo na Alemanha sem qualquer problema. Você não se arrepende de não ter jogado?

Pelé: “Não. A decisão de me despedir como campeão do mundo foi a mais certa que tomei. Tenho convicção de que, se hoje os garotos de nove, dez anos de idade ficam gritando o nome de Pelé, é porque eles têm Pelé como um campeão. Por isso, não tenho nenhum arrependimento de não ter jogado a Copa de 74”.

É surpreendente ver Pelé dizer que, com a vitória do Brasil numa Copa do Mundo, o povo se esquece de tudo. Você sempre teve esta visão crítica?

Pelé: “Sempre. Sou uma pessoa que o Brasil todo conhece desde 1958. As minhas batalhas pela educação. Tenho procurado passar para o povo minha indignação por não termos um país que dê o mínino de condições para o povo – educação, moradia e saúde. Todo mundo sabe de minhas brigas, desde o milésimo gol que venho falando. Nem sei o que falar. Quando começo a falar, fico emocionado. É uma tristeza saber que o Brasil ainda hoje vive o que vive. Fomos o antepenúltimo país em educação. Isso é triste para quem, como eu, vive viajando – e vê que, em países que não têm a mínima condição, o povo vive melhor que brasileiro”.

Se Pelé estivesse em campo, o Brasil teria perdido da Holanda em 74?

Pelé: “Talvez não!  Mas futebol é detalhe: em questão de segundos um lance pode decidir uma Copa do Mundo. O Brasil foi surpreendido na Copa de 1974 porque a Holanda veio com uma proposta de jogo que ninguém conhecia. Nem digo que o Brasil tenha jogado mal. O que aconteceu é que a surpresa provocada pelo tipo de jogo da Holanda tornou tudo difícil para o Brasil.

Não sei se, se eu tivesse jogado, a Holanda jogaria diferente – diante da preocupação de estar diante de um Pelé em campo – ou um Tostão. Porque se estivesse um Pelé, um Tostão ou um Jairzinho em campo, a postura da Holanda seria defensiva. Não iria para o ataque daquele jeito. Mas é dificil dizer se o Brasil, afinal, ganharia ou não”. ( N: O Brasil foi eliminado da Copa de 1974 ao perder para a Holanda por 2 a 0, no dia 3 de julho de 1974, em Dortmund).

Intimamente, em algum momento você se sentiu co-responsável pela derrota do Brasil em 74?

Pelé: “Fiquei triste, sofri. Mas é claro que ,durante a Copa, sempre dava aquela “cócega”, aquela vontade: “Puxa, eu poderia estar aí”. Eu, que amo o futebol, vivi realmente esta situação. Houve momentos em que eu disse : “Eu poderia ter jogado, eu poderia estar em campo….”.

Qual foi o argumento que a filha do Presidente Geisel usou pra tentar convencer você a disputar a copa de 74?

Pelé: “ Como faz muitos anos, não me lembro de detalhes. Porque muita gente me ligou. O deputado Athiê Jorge Cury, presidente do Santos na época, me passou o recado de que eu ira ser chamado pela Amália Lucy Geisel , que,na época, uma espécie de secretária do pai. Por telefone, ela me disse que eu deveria pensar bem, porque seria bom para o Brasil. A conversa foi amigável, num tom que chamava a atenção para o benefício que o Brasil poderia ter para o Brasil se eu aceitasse voltar”.

Que argumento você usou para não aceitar?

Pelé: “Eu disse exatamente o que vinha dizendo para todo mundo: eu já tinha me despedido em 1972, numa grande festa. Quando ocorreu a festa de despedida, no Maracanã, se o Presidente da CBF na época e se o próprio povo insistisse para eu ficar, talvez eu tivesse mais sensibilidade para ficar. Mas, como todo mundo aceitou a festa, todos acharam, ali, que era um momento bom para a despedida. Não havia, então, razão para eu ficar”.

De todos os nomes que foram citados ao longo dos anos, quem realmente chegou perto de ser o sucessor de Pelé?

Pelé :“Desde que comecei a jogar, nomes vão aparecendo. Apareceram grandes e excelentes jogadores. Eu vi. Por exemplo: Di Stéfano, Beckenbauer, Bob Charlton, Zico, um excelente jogador.

Tivemos excelentes jogadores brasileiros,como Ronaldinho, Rivaldo. Há Maradona, Eusébio, Paolo Rossi, Sívoli. Poderia ficar aqui citando vários nomes.

Maradona foi a última polêmica de Pelé. Gostei muito de jogadores argentinos. Eu gostei do Sivoli , que jogou na Itália uma vez. Gosto de Di Stéfano, a grande figura do Real Madri. Maradona, primeiro, precisa ser o melhor da Argentina. Porque lá ainda há dúvida sobre se é ele ou o Di Stéfano. Precisaria aprender a chutar de direita e a cabecear, porque ele não cabeceava bem nem chutava bem de direita. Assim, eu poderia compará-lo com Pelé. Mas foi um excelente jogador. Tivemos também no Brasil Dirceu Lopes, Tostão, Garrincha – um jogador diferente- , e Didi…..”

De todos os brasileiros que você citou, quem chegou mais perto de Pelé como jogador?

Pelé: “Pela característica de jogo, o que chegou mais perto foi Zico. É aquela história que sempre falo: não adianta você querer procurar um novo Beethoven, um novo Hamlet .(aqui Édson se confunde ao falar de Pelé: certamente, ele queria citar William Shakespeare. Terminou citando Hamlet). Não adianta você querer procurar um novo Frank Sinatra ou Michelângelo, que pintava de cabeça pra baixo. Porque Deus faz mas, depois, quebra a fôrma. Podem até surgir outros melhores e diferentes, em outras épocas. Mas igual ao Pelé vai ser difícil”.

Qual é o segredo dos bastidores da Copa do Mundo que você nunca contou pra ninguém?

Pelé: “Quando você é um jogador com mais experiência, fica sabendo de coisas. Há um segredo que já é nem segredo, porque até Gerson já comentou. Aconteceu na Copa de 70. Eu tinha dado entrevista dizendo que a Copa de 1970 seria a minha última. Carlos Alberto, Brito, o próprio Gerson, todos nós queríamos ganhar aquela Copa do Mundo. A gente fazia oração, fazia de tudo, porque aquela Copa iria encerrar nossa carreira.

Nós sentimos, no intervalo da final contra a Itália, um cheiro de cigarro. Fomos no banheiro – eu e Carlos Alberto. Gérson tinha acendido um cigarro lá, o “desgraçado”! . Acendeu um cigarrinho. Disse: “Ah, eu estou muito nervoso. É para desabafar”. Depois, ouvi dizer que Félix também. Não sei se já foi levado a público. Era um negócio absurdo!. Mas, realmente, aconteceu. Gérson sabe. É um segredo que eu não tinha falado para ninguém, mas, graças a Deus, ganhamos a Copa”.

Você reclamou de Gérson?

Pelé: “Ali, na hora, quase saímos de porrada em cima de Gérson: “Oh, papagaio desgraçado, a gente aqui querendo ganhar a Copa do Mundo….”. E ele: “Mas estou nervoso….”. Gérson fumava mesmo antes. Nunca escondeu de ninguém.

Gérson terminou fazendo o gol. Deu também o passe para eu fazer aquele outro gol em que matei a bola no peito. A gente não sabia o que aconteceria no segundo tempo. Se soubesse, mandava Gerson fumar em todos os intervalos”.

Você, afinal, é pão-duro?

Pelé: “Isso é uma coisa injusta! . Tudo começou com uma brincadeira com Gérson e Zagallo. Os dois é que são pão-duro, mão de vaca: não abrem a mão nem para o cafezinho. É aquela história de nunca ter dinheiro trocado para o café. Então, estes sim, eram pãos-duros,na seleção brasileira.
Sempre reservado: não gasto dinheiro à toa, o que é diferente. Contaminaram até o meu filho, o Edinho, com esta história. Quando conversam com ele, ele diz: “O meu pai é muito pão-duro….”. Mas meu filho tem tudo! Não acredito que eu seja pão-duro. Pelo contrário”.

Em algum momento você já se sentiu discriminado por ser negro?

Pelé: “Graças a Deus, não. Nem em Bauru: o meu pai jogava pelo Bauru Atlético Clube, o clube da elite. Em Bauru, meu irmão chegou a comentar alguma coisa. Mas, durante minha carreira, nunca.

Tive uma certa preocupação quando estava para vir para o Cosmos. Naquela época ,Muhammad Ali etava muito bem, ele que tinha sofrido, antes, aquela discriminação. Vir para os Estados Unidos com o futebol era uma coisa nova. Quando chegou a hora de decidir sobre vir ou não vir, pensei: “…Mas será que vou ter problema de racismo ? Vão me usar para alguma coisa?” Graças a Deus, minha vinda foi um grande sucesso – uma vitória do Brasil, porque hoje em dia o futebol é um dos grandes passatempos do jovem nos Estados Unidos. Pelé – acho- é o grande ídolo americano. O know-how que o Brasil vendeu para os Estados Unidos foi o futebol com Pelé. Nem nos Estados Unidos tive problema de racismo, graças a Deus”.

“Luíza Brunet foi, realmente, a garota que me chamou a atenção. Mas já estava casada….”

Você já se apaixonou por mulheres famosas?A paixão foi correspondida?

Pelé: “Nunca me apaixonei por mulheres famosas. As mulheres com quem me casei – primeiro, Rose; depois, Assíria – não eram famosas. Assíria é cantora evangélica conhecida, mas não é famosa. Quando eu jogava, existia muita onda. Se eu saía para jantar com uma artista, com uma cantora, todo mundo dizia que eu estava apaixonado.

Houve aquele caso de Xuxa. Disseram também que fui apaixonado pela Luíza Brunet. Conheci Luíza, por coincidência, junto com Xuxa. Naquela época, a gente fez um trabalho junto na revista Manchete, para escolher a modelo do ano. Luíza Brunet foi, realmente, a garota que me chamou a atenção. Mas já estava casada…. Devia ter 16, 17 anos. Não houve nada de paixão”.

A atenção que Luíza Brunet chamou em Pelé não chegou a se transformar em paixão?.

Pelé :”Não chegou porque,logo em seguida, tive todo o namoro com a Xuxa. Fala-se muito no Brasil: disseram também que fui apaixonado por Vera Fischer- minha amiga. Nunca tivemos nada. Falaram de Gal Costa. Disseram que fui apaixonado por uma menina que foi Miss Brasil, Flávia Cavalcanti. Sou apaixonado pela Assíria”.

Você já se encontrou com reis, papas, estrelas de cinema, celebridades de todo tipo. Qual é a celebridade que você gostaria de conhecer, mas ainda não teve oportunidade?

Pelé: “Você falou uma coisa certa: nesta terra, conheci quase todas as grandes celebridades. Dos brasileiros, conheci Ayrton Senna, Emérson Fittipaldi, Éder Jofre. Por falar em Éder Jofre: uma das grandes figuras que não conheci ainda é Popó, o lutador. Aproveito para parabenizar o Popó pela garra e pela técnica. Popó é a figura do momento que não tive oportunidade de conhecer ainda”. ( A TV Globo promoveu um encontro entre os dois poucas semanas depois desta declaração)

Xuxa disse numa entrevista que os seus pés não eram bonitos. O que você não acha bonito na Xuxa?

Pelé: “Respeito –muito – Xuxa. É um exemplo pela batalha e pelo sucesso. Fico feliz de ter participado deste início. Não acho que Xuxa tenha nada feio”.

Qual foi o maior perna-de-pau que você já enfrentou?

Pelé: “Em trinta anos de carreira, já joguei contra tantos pernas-de-pau que fica até difícil me lembrar de algum nome”.

Você sempre teve fama de conquistador. Pelé já falhou na cama?

Pelé: “A fama de conquistador não é verdade. Sempre respeitei todo mundo. Graças a Deus, até hoje, onde chego as portas estão sempre abertas., o que não quer dizer que eu seja conquistador. O importante é respeitar as pessoas que me admiram, tratar bem as pessoas que me procuram. É o que faço com crianças, gente de idade, jovens , mulheres – bonitas, feias. Não acredito que esta atitude seja nenhum galanteio: é obrigação de qualquer pessoa tratar a outra bem, respeitar os outros. Por essa razão, sou respeitado em todo o mundo”.

Você acabou fugindo da pergunta…

Pelé: “Não estou fugindo. O que estou dizendo é uma coisa real. Além de tudo, não me considero nenhum galã. É respeitar quem me procura, tratar bem os outros e saber que vou morrer – como as outras pessoas : o respeito talvez faça com que as pessoas se aproximem de mim, sejam elas como forem”.

Você aguentaria hoje, passado dos sessenta anos, jogar por quanto tempo uma partida?

Pelé: “Não tenho dúvida de que o futebol de hoje é de muito mais pressão, muito mais corrido do que era antes. O condicionamento físico vem de acordo com a competição. Com cinqüenta anos de idade, joguei na Itália, com a Seleção Brasileira principal. Com sessenta anos, fiz a inauguração do Centro de Treinamento do Santos, com a garotada. Mas, no futebol atual, com este preparo físico que tenho hoje, não dava para fazer nem o aquecimento…”

Quais são os cuidados que você toma fisicamente?

Pelé: “Sempre tive facilidade para manter o meu peso. Nunca deixei de fazer exercício. Sempre que posso, faço exercício em casa ou na praia. Cuido da minha alimentação. Quanto ao futebol, agora falando sério, é evidente que, se eu jogasse agora, estaria preparado. Por exemplo: com sessenta e dois anos da idade, se eu tivesse de fazer uma partida amistosa como fiz quando completei cinquenta anos, eu iria me preparar por dois, três meses. Jogaria. Com certeza: se conseguisse este tempo para parar e treinar, eu jogaria meio tempo. Mas não seria aquele Pelé que fazia gol de bicicleta. Não se pode exigir tanto: é o Pelé normal”.

Em nome de que causa Pelé entraria em campo hoje pra jogar meio tempo que fosse?

Pelé: “ Talvez para acabar definitivamente com uma guerra. Porque parar uma guerra o Santos já parou, nos anos sessenta. Depois, a guerra continuou. Ou para concretizar o desejo de Lula de acabar com a fome no Brasil. Penso que seria excelente fazer um jogo com a assinatura de “acabou a fome no Brasil” “.

Que reação você teria se visse hoje o Maracanã superlotado gritando o nome de Pelé e pedindo que ele entrasse em campo?

Pelé: “Teria a mesma reação que tive na despedida, diante do Maracanã lotado, dentro daquela emoção: iria me despedir porque aprendi com seu Dondinho que parar no melhor da carreira é a coisa mais inteligente”. (N:Pelé se despediu da seleção brasileira em jogo no Maracanã, no dia 18 de julho de 1971, contra a seleção da Iugoslávia. O jogo terminou empatado: 2 a 2. Pelé deixou o gramado – chorando – sob o coro da torcida que pedia “fica, fica, fica” ).

Qual foi a grande mudança na vida de Pelé nestes últimos trinta anos?

Pelé: “ Tive mudanças, graças a Deus, para melhor. A vinda aqui para os Estados Unidos, a parte de educação e cultura. Amadureci como ser humano. Aprendi muito. Posso até dizer, por exemplo, que peguei o “Fantástico” no colo. O Fantástico era uma criança quando conheci o programa ( a primeira edição do Fantástico foi ao ar em agosto de 1973). Eu melhorei muito, aprendi muitas coisas : não parei.

Há coisas que falo com o orgulho. Fernando Henrique Cardoso disse que Pelé foi o Brasil que deu certo. Tenho muito ainda o que aprender”.

Por quanto tempo você pode andar nas ruas de Nova York sem ser reconhecido?

Pelé: “ Depende do lugar. Sem disfarce, é difícil. Em qualquer lugar, sempre vem um ou outro. Quando vou sair – por exemplo, para a Igreja Saint Patrick, para rezar – ponho óculos ou bonezinho. Dizem que vou disfarçado de Milton Nascimento. Mas quando saio de cara limpa, basta descer do carro: vai ter sempre alguém chamando”.

Você sempre soube administrar muito bem a carreira. Você tem idéia do tamanho da fortuna de Pelé, em dólar?

Pelé: “Nunca me preocupei muito em parar para contar. Quem pára para contar perde dinheiro – a coisa material. E a coisa material nunca foi muito importante em minha vida. Já a marca “Pelé” é uma das mais valiosas no mundo, sem dúvida nenhuma”.

Você tem idéia do valor desta marca?

Pelé: “Não tenho idéia do valor. Mas a marca “Pelé” hoje é de um valor inestimável”.

Você conhece um ator de cinema pior que Pelé?

Pelé: “Conheço muitos. O que não é justo é o pessoal fazer, na época em que eu filmava, comparações entre Pelé ator e Pelé jogador de futebol. É injustica. Pelé nasceu para jogar futebol. Ator ele estava aprendendo a ser. Mas poucos atores, com todo o nome que têm, foram dirigidos por John Huston, trabalharam e foram dirigidos também por Silvester Stallone, Michael Caine, Ipojuca Pontes. Trabalharam com Paulo Goulart, Stênio Garcia, Regina Duarte. É bom, não é? “.

Qual foi, afinal, o gol mais bonito que você já fez ?

Pelé: “O gol mais bonito foi contra o Juventus, na Rua Javari.(N: o jogo Santos 2 x 1 Juventus, pelo campeonato paulista, foi disputado no dia dois de agosto de 1959). Todo mundo fala. A descrição feita pelos jogadores que estiveram no dia do jogo, tanto do Juventus quanto do Santos, é maravilhosa. Infelizmente a equipe de Aníbal Massaíni não conseguiu achar imagens deste gol , depois de quatro anos de pesquisas sobre jogadas e momentos importantes da vida de Pelé para o filme “Pelé Eterno”. Há também o “gol de placa” , lindo ( marcado contra o Fluminense, no Maracanã, pelo Torneio Rio-São Paulo de 1961. Pelé driblou sete jogadores do Fluminense antes de marcar o gol).

Quanto ao gol da Rua Javari, eu me lembro de que três jogadores do Juventus foram “chapelados”. Quando Mão de Onça, o goleiro, veio na bola, também levou um chapéu. Fiz o gol de cabeça.

Todo mundo diz que criei o soco no ar na comemoração do gol. Não foi nada disso. O que aconteceu foi que, neste jogo em que fiz o gol, a torcida estava me perturbando. O Santos não estava jogando bem. Eu também não. Já o Juventus estava numa tarde boa. A torcida, então, ficou vaiando, vaiando, vaiando. Quando fiz este gol, fui para a torcida, desabafei, falei palavrão. Dei, então, um soco no ar. Porque tinha feito o gol mais bonito da minha vida”.

Quer dizer então que a origem do soco no ar na comemoração do gol foi um desabafo por este gol?

Pelé: “Exatamente! É esta a origem do soco no ar. Há quem diga que Pelé é tão pão-duro que até para comemorar o gol ele fica com a mão fechada…. Mas não é assim. O soco no ar, na verdade,foi para comemorar um gol que foi uma coisa maravilhosa. Se pudéssemos reconstituir este gol para os mais jovens, para que a nova geração não tenha nenhuma dúvida, seria maravilhoso”.

Aqui da varanda você tem esta bela vista de Nova York. Quanto tempo você passa aqui por ano?

Pelé: “Passo três meses por ano. Quando eu jogava com o Cosmos, tinha contrato com a Warner: ficava seis meses, a duração de uma temporada de esporte. A vista aqui é maravilhosa. Do topo do prédio, você vê o East River. Tive muita sorte de conseguir este lugar aqui no tempo que estava jogando no Cosmos. Agora, estou aqui para sempre”.

Onde você estava no dia do atentado de 11 de setembro de 2001?

Pelé: “Viajei na noite anterior. quando cheguei ao Brasil, pela manhã, soube do atentado pela televisão. Meu irmão, “Zoca”, tinha ficado aqui em Nova Iorque. Meu assessor também. Uma loucura: fiquei apavorado porque minha filha, que mora aqui, vivia perto do World Trade Center. Fiquei procurando saber e querendo me comunicar, mas, graças a Deus, com a família não aconteceu nada”.

Do que é que você mais gosta aqui em Nova York?

Pelé: “Tenho liberdade em Nova York. Vou ao supermercado, vou ao Central Park. Em algum lugar dá para ficar, especialmente se é dia de semana. Porque se é domingo ou feriado os lugares ficam cheios. O pessoal me descobre logo. A liberdade, esta coisa mais respeitosa do americano, é o que mais me cativa em Nova York”.

Com que frequência você vai à catedral rezar?

Pelé: “Sempre que estou em Nova Iork. Quando fiz o contrato com o Cosmos, eu cheguei aqui nos Estados Unidos; pedi a ela que me ajudasse, iluminasse meu caminho. Deu tudo certo, porque foi uma grande vitória. Agora, já me acostumei. Vou à Saint Patrick, para agradecer”.

Qual é o santo de devoção de Pelé?

Pelé: “Meu santo é Nossa Senhora Aparecida. Minha mãe sempre diz uma coisa engraçada: quando crinça, em Bauru, eu era tão levado que ela me entregou a São Benedito. Minha mãe pediu: “São Benedito, tome conta deste garoto!”.

São Benedito tomou conta bem”.

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Design, diagramação, montagem fotográfica: Benê Lima

Mundial 2010: FIFA reparte 350 milhões de euros pelas federações

Por Redação / Futebol 365, Portugal

A FIFA repartirá 420 milhões de dólares (cerca de 350 milhões de euros) entre as federações participantes no Mundial de futebol de 2010, dos quais 30 milhões (25) reverterão para a seleção que se sagrar campeão.

No Mundial de 2006, na Alemanha, foram repartidos 300 milhões de dólares (cerca de 250 milhões de euros) pelas seleções finalistas, e no Mundial de 2002, na Coreia do Sul e Japão, a verba ascendeu a 199 milhões de dólares (166).

O montante que a FIFA repartirá neste Mundial multiplica por 10 aquele que foi distribuído pelas seleções que estiveram presentes no Mundial de 1982, em Espanha.

O vice campeão receberá 24 milhões de dólares (cerca de 20 milhões de euros), os semifinalistas 20 milhões (16,7), os que alcançarem os quartos de final 18 milhões (15), os que atingirem os oitavos nove milhões (7,5) e os que disputarem a fase de grupos oito milhões (6,6).Em ano de receitas recordes, Blatter, deu 150 mil euros a cada federação e enviou três milhões para o Haiti e para o Chile.

Além disso, será entregue pela FIFA mais um milhão de dólares (cerca de 835 mil euros) a cada uma das federações participantes no torneio, como contrapartida pelas despesas com a preparação para a prova.

Por outro lado, está, também, prevista a distribuição de cerca de 40 milhões de euros pelos clubes cujos jogadores integrem o Mundial.

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terça-feira, junho 29, 2010

ECOS DA COPA DA ÁFRICA

O tiro que saiu pela culatra

Fracasso na Copa pode tirar aporte da Inglaterra

REDAÇÃO
Da Maquina do Esporte, São Paulo - SP

Antes do início da Copa do Mundo, a Inglaterra integrava grande parte das listas de favoritos ao torneio. Contudo, o time dirigido pelo italiano Fabio Capello ficou com a segunda posição de seu grupo na primeira fase, foi goleado por 4 a 1 pela Alemanha e caiu nas oitavas de final da competição. Com isso, expôs uma aposta arriscada de sua equipe de gestão e pode ficar sem um de seus maiores patrocinadores.

Segundo o jornal “Daily Mail”, a Inglaterra rechaçou antes da Copa do Mundo uma oferta para renovar contrato com a empresa Nationwide, que atua no segmento financeiro. O motivo para isso foi a confiança dos dirigentes sobre quanto o time teria de valorização de acordo com a campanha na competição.

Antes da Copa, o Nationwide ofereceu 20 milhões de libras (R$ 32,11 milhões) anuais para seguir como patrocinador da Inglaterra. A empresa tem contrato com a seleção há 11 temporadas.

Depois do fracasso, a seleção inglesa não conseguiu nenhuma proposta no mesmo patamar. Ainda segundo o “Daily Mail”, a federação local foi sondada por duas companhias, mas nenhuma das conversas evoluiu.

O Nationwide mantém negociações com a Federação Inglesa e com a IMG, agência que representa a entidade. No entanto, agora a empresa trabalha com valores bem inferiores aos que foram oferecidos anteriormente.

Em quatro jogos na Copa do Mundo de 2010, a Inglaterra colecionou dois empates (1 a 1 com os Estados Unidos e 0 a 0 com a Argélia), uma vitória (1 a 0 na Eslovênia) e uma derrota (4 a 1 para a Alemanha).

CPI da Petrobas: tiro pela culatra 

Derrota que vira crise, crise que vira escândalo

Em crise, presidente da Federação Francesa sai

REDAÇÃO
Da Maquina do Esporte, São Paulo - SP

A Copa do Mundo já acabou, mas a crise da seleção francesa de futebol não para de crescer. Nesta semana, o presidente da federação local, Jean-Pierre Escalettes, pediu demissão de seu cargo.

A decisão do dirigente foi tomada em função de uma avaliação que ele fez da participação da França na Copa do Mundo. “Diante de tudo que aconteceu, pedir demissão era meu dever”, disse Escalettes.

Na próxima sexta-feira, haverá uma reunião do conselho federal da França e Escalettes entregará o cargo oficialmente. Além disso, o dirigente dará sua versão sobre toda a crise que acometeu a vice-campeã mundial de 2006 durante a Copa do Mundo.

A celeuma na França começou a se tornar pública depois do revés por 2 a 0 para o México, na segunda rodada da Copa do Mundo. Um jornal francês publicou que o centroavante Anelka, substituído no intervalo, teria xingado o técnico Raymond Domenech no vestiário.

Anelka foi dispensado do grupo, decisão que revoltou os jogadores. O capitão Patrice Evra chegou a dizer que havia um traidor no elenco, e que esse elemento havia passado informações à imprensa – também vazou uma discussão entre os meias Ribéry e Gourcouff, ocorrida dentro do avião.

Depois disso, Evra se desentendeu com o preparador físico da equipe em um treino e atletas se recusaram a trabalhar para protestar contra a dispensa de Anelka. O elenco chegou a emitir uma carta, assinada por Evra, condenando a decisão.

Toda a polêmica fez com que o chefe de delegação da França, Jean-Louis Valentin, pedisse dispensa durante a Copa. Também levou o banco Credit Agricole SA a cancelar seu patrocínio à França.

Durante a Copa do Mundo, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, chegou a enviar à África do Sul a ministra do Esporte, Roselyne Bachelot, para averiguar o que estava acontecendo com a seleção. A iniciativa foi repreendida pela Fifa, que condena qualquer ingerência política na gestão do esporte.

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Sindicato de jogadores apóia uso de tecnologia no futebol

Entidade aumenta ainda mais a pressão sofrida pela Fifa após equívocos na Copa

Equipe Universidade do Futebol

A discussão acerca do uso de aparatos tecnológicos no futebol não pára de crescer. Com os erros cometidos durante a Copa do Mundo da África, a polêmica voltou à tona, gerando protestos nos mais diferentes setores do esporte.

Treinadores, jogadores, jornalistas e até mesmo alguns dirigentes mantém um posicionamento favorável à inserção do chip na bola, por exemplo. Tal medida evitaria o engano de Jorge Larrionda na partida entre Alemanha e Inglaterra, quando o meia Lampard acertou um chute no travessão, a bola quicou dentro do gol e depois saiu. Naquela oportunidade, o juiz invalidou o tento que empataria a partida aos 38min do primeiro tempo.

Segundo o presidente da FIFpro (Sindicato Internacional de Jogadores de Futebol), Gerardo González, o que está em jogo é a credibilidade do futebol, afetada pelas falhas na arbitragem. Já o secretário do sindicato preferiu criticar a posição inflexível da Fifa com relação ao assunto.

“O mundo inteiro reclama quando esses erros ocorrem, mas segue enorme resistência à introdução de novos recursos. Fica difícil digerir. O erro na partida entre Inglaterra x Alemanha seria mais fácil de evitar. Não existe nenhum só argumento sólido que impeça o uso da tecnologia nas linhas de meta”, rezingou Tijs Tummers.

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Substituto de Lippi foca em renovação na Itália

Cesare Prandelli, ex-comandante da Fiorentina, deve trabalhar com jovens na Azzurra

Equipe Universidade do Futebol

Cesare Prandelli Já antes da eliminação pífia dos italianos na Copa do Mundo da África do Sul, o treinador Marcello Lippi, campeão em 2006, havia decidido sua retirada após o Mundial. Para o seu lugar foi escolhido o ex-jogador Cesare Prandelli com passagens pela Roma e Fiorentina, entre outros.

Como jogador, o meio campo chegou a fazer sucesso com a camisa da Juventus, mas se destacou como treinador comandando o time de Florença. Em cinco anos no clube, levou sua equipe por duas vezes para a Champions League.

Entretanto, não foi apenas o aspecto vencedor de Prandelli que chamou à atenção dos dirigentes da Federação Italiana (FIGC). Acostumado a trabalhar com jovens atletas, o comandante vem para iniciar uma renovação no elenco da Azzurra, algo muito criticado durante e após o fracasso na Copa deste ano.

"Prandelli foi escolhido pela sua capacidade para trabalhar com jovens jogadores e devido aos feitos alcançados em Florença", explicou Giancarlo Abete, presidente da FIGC. "Temos um projeto em longo prazo com Prandelli. É por isso que vai assinar um contrato de quatro anos, até a próxima Copa do Mundo", acrescentou.

Sobre a pior campanha da seleção na história dos Mundiais, o dirigente disse não haver remorso sobre a preparação para o torneio.

"Tomei a decisão de chamar Marcello Lippi de volta após a EURO 2008 e não me arrependo. Continuamos gratos, hoje e sempre. Agora precisamos mesmo começar de novo, não podemos ficar tristes durante muito tempo, precisamos recomeçar rapidamente", concluiu Abete.

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DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM CRIANÇAS JOGADORES DE FUTEBOL.

Desenvolvimento de crianças no futebol

Autores: Luiz Felipe de Moraes Silva *
Marruan Luis Mariano
Orientador Científico: Prof. Ms. Ana Caroline Prioli
Curso de Educação Física
Avenida São Francisco de Assis, 218
Jardim São José
CEP 12916-900
Bragança Paulista-SP
* E-mail: personaluiz@hotmail.com
CREF: 14855-G/MG

RESUMO
O Brasil é considerado o país do futebol, ou popularmente a “pátria de chuteiras”. Devido este
contexto histórico-cultural que o esporte carrega consigo, é capaz de transformar um simples
gramado em um campo de sonhos onde crianças se transformam em ídolos devido à louca paixão
que move o futebol. Esta revisão bibliográfica visa proporcionar que os profissionais da área de
Educação Física compreendam o processo de desenvolvimento motor decorrente de cada faixa
etária correspondente no processo de desenvolvimento das crianças praticantes deste esporte.
Porque a prática esportiva atualmente tem-se iniciado em idades cada vez mais precoces,
acarretando cuidados com os processos de ensino-aprendizagem que influenciam no
desenvolvimento das crianças. Portanto este artigo não traz receitas prontas sobre a metodologia
ideal, porém proporciona uma reflexão sobre os aspectos metodológicos no processo de ensinoaprendizagem do futebol que se diferencia de acordo com cada faixa etária. Propondo uma
metodologia baseada no lúdico de forma a contribuir na formação destas crianças não somente
como atletas, mas como seres humanos.

1. INTRODUÇÃO

Visando o desenvolvimento psicomotor básico da criança e as capacidades motoras complexas, bem
como o sistema cognitivo e a socialização, procura-se entender a problemática que atualmente os
clubes de futebol demonstram em relação ao desenvolver treinamentos específicos de acordo com a
faixa etária das crianças.

Contudo há de se compreender melhor o processo de ensino aprendizagem do futebol a fim de
alcançar uma metodologia adequada. Atualmente o que se vê muito são profissionais de escolinhas
de futebol despreparados, atuando como professores de futebol, porém alguns nunca tiveram uma
preparação que ao menos lhe de uma noção para importância de tal cargo (SCAGLIA, 1996).
O esporte deve ser ajustado de acordo com a condição técnica, psíquica e física da criança,
compatível as suas necessidades e possibilidades, onde nem sempre o que se espera para um melhor
desenvolvimento infantil acontece (FILGUEIRA, 2006).

Acredita-se que o trabalho com as escolinhas de esportes se realiza por meio de uma prática
pedagógica, voltada para um desenvolvimento global de seus alunos, respeitando seus estágios de
crescimento e desenvolvimento, físico e cognitivo no qual a escola de esporte, através de sua
atividade pedagógica, deve contemplar várias possibilidades, tais como: sociais, intelectuais,
motoras, educacionais e também esportivas (SCAGLIA apud. FREIRE, PARLEBÁS, SÉRGIO, PAES,
1996).

O processo de ensino-aprendizagem do futebol é uma função básica das escolinhas, mas este
desenvolvimento deve ser envolto pelo meio em que o aluno está, ou seja, de acordo com as
capacidades individuais de cada aluno (SCAGLIA, 1996). O presente estudo voltou sua atenção no
sentido de captar dentro da literatura sugestões e propostas para cada fase da criança, respeitando
seus limites motores e fisiológicos.


2. OBJETIVO

Identificar as fases de desenvolvimento das crianças, de acordo com a faixa etária e relacioná-las
aos conteúdos que são aplicados no futebol. Entender como ocorre o desenvolvimento de
habilidades motoras fundamentais e especificas em crianças, de modo que ocorra a junção entre
teoria e prática no processo de ensino e aprendizagem do futebol, para que haja um melhor
entendimento de qual tipo de abordagem metodológica é melhor para o desenvolvimento das
crianças.

2.1. Objetivos Específicos
Mostrar a realidade do futebol;
Entender a aprendizagem da criança;
Entender o desenvolvimento da criança;
Analisar o caráter metodológico do ensino do futebol;

3. DESENVOLVIMENTO

3.1 Futebol

Segundo Freire (2003), o esporte é muito importante para as pessoas, cada povo tem seu esporte
que é transformando numa paixão nacional, caso do beisebol nos Estados Unidos, hóquei no Canadá,
futebol no Brasil. O Brasil e o futebol têm uma relação muito íntima, tanto que alguns imaginam
que o Brasil inventou o futebol, mas não, foram os ingleses, os quais tempos depois passaram a
apreciar a ginga brasileira. De acordo com alguns cronistas o Brasil é “a pátria de chuteiras”,
mesmo com insucessos sociais, o futebol se torna para muitos, alegrias inexplicáveis.
No Brasil o futebol é também encarado como uma simples brincadeira. Nota-se pelas regiões
brasileiras que ainda existem meninos jogando descalço nas ruas, asfaltadas, de terra, pelas
quadras de areia, quadras de futsal, enfim faz parte da infância de meninos menos favorecidos
economicamente (FREIRE, 2003).

Freire (2003) cita a origem do futebol brasileiro, que nasceu nas cidades, nos chamados campos de
várzeas, eram espaços livres em que as crianças brincavam e jogavam futebol, os quais de acordo
com o tempo foram desaparecendo devido ao crescimento social, casas, indústrias, entre outros.
A história do futebol no Brasil pode ser dividida em duas fases diferentes, a primeira fase por volta
de 1894 a 1904 (fase amadora), de 1905 a 1933 (fase do profissionalismo e a fase do
reconhecimento internacional) ocorrendo a transferências de jogadores brasileiros para diversos
países (RODRIGUES, 2004).

Em meados de 1930 o futebol brasileiro torna-se uma identidade popular, a partir disso, jornalista e
cronistas prestavam mais atenção ao aparecimento de uma forma brasileira, rápida e de
improvisações, de acordo com o que o jogo necessitava. Essa maneira de jogar que apenas os
brasileiros conseguiam aplicar cresceu depois de 1938, os tornando “mestres da bola” (PEREIRA at.
SOARES, HELAL, SANTORO, 2004).

Segundo Soares, Helal e Santoro (2004) com relação a seleção brasileira de 1970, sempre será
lembrada pelos jornais como uma seleção de tradição. O futebol brasileiro tem dois pólos que se
interligam em sua história, passado e presente, através de narrativas que são divididas em
narrativas “épicas” e complementares. A narrativa “épica” consiste dos feitos heróicos do passado,
jogos e jogadores como Garrincha, Pelé, Zagallo. A narrativa complementar é aquela que mistura
passado e presente, ou seja, devido as glórias de antigamente há o estímulo do povo para assistir os
espetáculos de hoje. Esses craques da seleção brasileira de 1970 carregam a imagem de “futebol
arte”, com suas rápidas improvisações, dribles denominados estilo brasileiro de futebol.

O futebol no Brasil é capaz de mover uma nação que se encanta a cada jogada, repleta de
movimentos plásticos, nos quais se mostra evidente a versatilidade que cada jogador carrega
consigo, fruto de um país cenário de várias raças. O futebol brasileiro faz parte da vida de cada
cidadão, que se sente mais brasileiro ao assistir a seleção jogar. Mesmo o país em meio a
dificuldades, o campo de futebol se torna também o campo dos sonhos, onde meninos viram heróis
como em passe de mágica e simples mortais se tornam imortais ao longo da história pelas conquistas
obtidas (RENÓ, 1999).

Por outro lado, por este esporte ser de alto-nível, sendo considerado um espetáculo universal,
torna-se objeto de consumo dos meios de comunicação que visam a parte lucrativa do esporte. O
Brasil pode ser considerado o país do futebol e esta paixão ultrapassa as linhas dos gramados,
gerando bons lucros através de patrocinadores, que atuam nos meios de comunicação, como a
televisão, que abrangem uma gama grande de telespectadores. Isto faz com que cada vez mais o
esporte se torne um grande negócio, que movimenta milhões e expõem os atletas em suas vidas
pessoais, a fim de que tudo vire notícia no meio esportivo. O esporte que mais encanta multidões no
Brasil se vê influenciado pela mídia, em contra partida vê o futebol como uma caixa registradora
sem levar em consideração uma nação apaixonada, que acredita nos milagres deste jogo fantástico
que é o futebol (SANFELICE, 2001).

A mídia de forma geral tem dois papéis, um que mostrava para todas as pessoas como é o futebol e
o outro papel desempenhado pela mídia é a vantagem financeira através do futebol que, com passar
do tempo foi deixando de lado todo processo de aprendizagem motora que pode ser obtido através
do futebol (FREIRE, 2003).

3.2 Aprendizagem no futebol

O futebol no cenário brasileiro se faz presente há tempos, porém no processo de formação de
jogadores o problema central vem sendo que os profissionais não entendem que cada indivíduo
possui sua universalidade e seu tempo de resposta ocorrendo à separação entre homem e sua
natureza. O esporte proporciona aos seus participantes um conhecimento e domínio sobre o corpo,
que permitem que suas vivências sociais modernas sejam construídas através deste corpo. Vivemos
em meio a uma sociedade que busca cada vez mais o aperfeiçoamento deste corpo em beneficio do
esporte, contudo temos de compreender o processo que abrange a aprendizagem motora de novos
movimentos que a cada momento são criados pelos jogadores de futebol (RODRIGUES, 2004).

O processo de aprendizagem faz parte da conduta humana e é proporcionado pelos fenômenos de
natureza biológica, sociológica e psicológica. No entanto, no processo de aprendizagem motora
procura-se entender os mecanismos decorrentes do processo de aquisição de habilidades motoras e
os fatores que os influenciam para alcançar determinada meta (BENDA, 2006).

Ao longo da evolução das pesquisas em comportamento motor algumas descobertas foram de
grande importância para o processo de aprendizagem motora, como na década de 70 com o
aparecimento da abordagem de processamento de informações que enfatizou entender os fatores
cognitivos entre estímulo - resposta. Por isto a abordagem de processamento de informação
entende o ser humano como um processador de informação, de modo que se realiza o ínicio da
operação quando ocorre um estímulo, que por sua vez é processado em vários estágios tendo como
“resultado” a resposta (WRISBERG, SCHMIDT, 2001).

Segundo Wrisberg e Schmidt (2001) ao ocorrer o processo de estímulo vindo de uma informação
externa ou ambiental dá-se ínicio então a três fases. Na primeira, a identificação do estímulo, o
receptor do estímulo analisa o conteúdo da informação utilizando uma variedade de fontes para
interpretá-lo, como a visão, audição, contato ou toque. O resultado deste estágio é considerado
como uma representação da informação ambiental.

O segundo estágio, a seleção da resposta, começa após o executante ter absorvido informação
suficiente e tem de decidir se alguma resposta deve ser dada. Se ocorrer a decisão pela resposta,
seleciona-se o movimento adequado, havendo assim neste estágio uma tradução de várias classes
que ocorre entre o estímulo sensorial que foi identificado, é uma das várias formas possíveis de
resposta de movimento (WRISBERG, SCHMIDT, 2001).

Segundo Wrisberg e Schmidt (2001) o terceiro estágio entende-se como, após a decisão de qual
movimento será feito, esta informação é encaminhada para o processo de programação da resposta,
que por sua vez tem como função organizar o sistema motor para produção do movimento desejado
para um melhor desempenho no seu desenvolvimento motor.

Porém na década de 80 surgiu a abordagem dos sistemas dinâmicos que é diferente da abordagem
anterior e visa à ênfase ecológica para compreender o sistema motor, buscando compreender os
princípios físicos e como eles se interagem com as funções biológicas. Devido a relação no processo
de aprendizagem motora ser complexa entende–se que a aquisição de habilidades motoras é por
natureza um processo relativamente permanente no comportamento motor humano (TANI, 2005).

O processo de aprendizagem motora caracteriza-se por mudança de comportamento pelo qual o
aprendiz passa de uma fase inicial (inexperiente) para uma fase final (habilidosa). Este processo se
dá devido a evolução na performance, ou seja, um desenvolvimento de forma positiva no seu
rendimento, que se caracteriza em um processo homeostático (equilíbrio) após várias tentativas,
ocorrendo a diminuição no número de erros identificados por meio de feedback (BENDA, 2006).

De acordo com o que foi abordado até o momento sobre o processo de aprendizagem motora, os
profissionais que pretendem atuar no cenário do futebol deve compreender que cada faixa etária
possui suas características de desenvolvimento e atividades, sendo prejudicial a criança ultrapassar
este processo (TANI apud. FREUDENHEIM, MEIRA JÚNIOR, CORRÊA, 2004).

Portanto, as crianças não podem ser especializadas em determinado movimento, nas escolinhas de
futebol só após as crianças terem estabelecido uma base motora sólida é que se deve iniciar o
trabalho específico, que no caso, são os fundamentos do futebol (WEINECK, 1999).

No início o que deve ocorrer durante a aprendizagem motora da criança, é uma preocupação em
não atropelar nenhuma etapa durante o processo, proporcionando a criança vivenciar um
emaranhado de movimentos que posteriormente servirão como base na aprendizagem da técnica
específica do futebol (WEINECK,1999).

Segundo Benda (2006) a criança até atingir a puberdade não tem a capacidade física adequada a
suportar um treinamento de alto nível direcionado à perfeição da prática, devido a este ser o
período necessário para que a criança crie seu próprio mundo de movimentos com objetivo de
aplicá-los de modo correto. Por este motivo durante a aprendizagem do movimento técnico deve se
evitar a especialização de forma precoce respeitando a faixa etária de cada criança. Devido ao
processo de aprendizagem motora relacionar-se com os estímulos oferecidos, que proporcionam aos
indivíduos passarem de inexperientes para experientes, a seguir veremos a importância deste
estímulo no processo de desenvolvimento motor, para que possamos entender os fatores que
influenciam este processo contínuo da vida humana.

3.3 Desenvolvimento motor aplicado ao futebol

O futebol possui regras universais, porém todos os países entendem o futebol de acordo com suas
culturas. No Brasil este modo diferente que os jogadores contextualizam o futebol é que o
transforma no que chamamos de “futebol-arte”, devido à capacidade de criação e improvisação que
nossos atletas possuem. O futebol profissional é marcado pela busca ao alto rendimento, visando a
capacidade dos jogadores de suportar esforços. Para que este processo não seja desencadeador de
vários problemas posteriores aos atletas, necessita-se compreender o processo de desenvolvimento
motor que ocorre ao longo desta profissão que move multidões de apaixonados (RODRIGUES, 2004).
O ato de movimentar-se faz parte de nossas vidas, da inabilidade para a habilidade e, novamente,
para a inabilidade na idade avançada (SANTOS, DANTAS, OLIVEIRA apud. KRETCHMAR, 2004). Ainda
que o significado de ficar em pé pela primeira vez e a dificuldade em levantar-se no final da vida
sejam diferentes. O desenvolvimento motor enfoca o estudo das mudanças qualitativas e
quantitativas de ações motoras do ser humano ao longo de sua vida. Estas mudanças ocorrem desde
o momento de sua fecundação até o momento da morte (SANTOS, DANTAS, OLIVEIRA, 2004).

Devido desenvolvimento motor sofrer a contínua alteração no comportamento ao longo da vida, e
por tornar possível a interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as
condições do ambiente. Esta área do comportamento motor visa analisar como ocorre o processo de
desenvolvimento de habilidades motoras desde componentes genéticos e os resultados da interação
dos fatores endógenos e exógenos no processo de capacidades motoras, não apenas com a
preocupação de observar e descrever mudanças no comportamento motor ao longo da vida do ser
humano, mas também buscando esclarecer como ocorrem estas mudanças (GALLAHUE, OZMUN,
2005).

Partindo do princípio que habilidades denominadas básicas são vistas como o alicerce para a
aquisição de habilidades motoras especializadas, o ser humano modifica suas ações em razão do
ambiente, e a modificação deste ambiente, conseqüentemente, muda as ações do indivíduo,
estimulando-o a novas, e assim sucessivamente. Sendo assim, o educador físico, como atua sobre
corpo em movimento, deve dar total atenção ao estudo e a perspectiva das experiências motoras de
cada indivíduo fundamentando estes estudos com relação a dados motores, mas sem esquecer as
emoções embutidas nos movimentos. O profissional de Educação Física deve assim associar a sua
profissão, a ligação de que o ambiente e as emoções são partes essenciais do desenvolvimento
motor (SANTOS, DANTAS, OLIVEIRA, 2004).

Segundo Santos, Dantas e Oliveira (2004) o processo de desenvolvimento motor por si só, como um
ato contínuo ao longo da vida humana, sofre estímulos que o modifica, tendo como base este
pressuposto, a seguir visaremos entender o processo maturação que ocorre em cada faixa etária no
processo de desenvolvimento de habilidades motoras em crianças.

3.4 Desenvolvimento de habilidades motoras em crianças

O futebol vem cada vez mais despertando nas crianças a vontade de se tornarem profissionais. Isto
se deve, ao processo de transformação que o esporte mais popular do país sofre, ao ser colocado
nos meios de comunicação como vitrine para o sucesso. Em muitos casos os clubes e treinadores
visando este sucesso financeiro ultrapassam os processos de desenvolvimento motor da criança, a
fim de se obter uma resposta imediata no que se refere ao lucro que gira no esporte, no qual a
transição de criança a ídolo nacional ocorre algumas vezes em um período muito curto (ALCÂNTARA,
2006).

Na infância o desenvolvimento motor se caracteriza pelas inúmeras aquisições de habilidades
motoras, que proporcionam a criança o domínio sobre o corpo. Estas habilidades motoras básicas
servem como base para as habilidades motoras específicas então se entende a importância do
desenvolvimento de habilidades motoras iniciais adquiridas na 1º e 2º infância. Contudo, fatores
como as restrições da tarefa ao organismo e meio são fatores que exercem influência sobre a
aquisição de habilidades por parte da criança (SANTOS, DANTAS, OLIVEIRA, 2004).

O processo de desenvolvimento motor da criança conta com três aspectos, à seqüência que não
indica apenas aquilo que a criança pode aprender mais as suas necessidades; a velocidade, que
varia de criança para criança; e a interdependência entre as mudanças de habilidades simples para
as complexas. Portanto, ao realizar o estímulo á aquisição de habilidades motoras deve-se levar em
consideração o processo adaptativo da criança para que a elaboração de combinações motoras nas
atividades sejam elaboradas da melhor forma (SANTOS, DANTAS, OLIVEIRA, 2004).

No futebol devido à variação na formação das categorias, às diferenças de faixas etárias, idade
mental, idade óssea, idade morfológica, sexual, torna-se fácil identificar que existem exercícios e
atividades diferentes para cada grupo a serem trabalhados. Portanto, para as crianças parti-se do
referencial que estas não são adultos em miniatura, e seu acréscimo motor e psicológico acompanha
o processo de desenvolvimento (GALLAHUE, OZMUN, 2005).

Desde o nascimento, o bebê trava uma constante luta para sobreviver, onde nos primeiros estágios
sua única forma de interação com o ambiente se dá através do movimento que basicamente se
divide em estabilidade, locomoção e manipulação (GALLAHUE, OZMUN, 2005).

Considerando que o processo de aquisição de habilidade na primeira infância é invariável, partindo
do princípio que o ritmo de criança para criança é diferente. Devemos considerar que o fator de
maturação neural não é o único influenciador no processo de desenvolvimento motor que consiste
também, em um sistema auto–organizado que envolve a tarefa, o ambiente e o indivíduo
(GALLAHUE, OZMUN, 2005).

Após o momento em que a criança observa a execução do movimento do colega, a criança parte
para tentar a imitação, sendo que se ela executar o movimento com êxito serve como um estímulo
ou “porta” para que a mesma tente cada vez mais desenvolver o ato motor. Portanto, deve-se
considerar que a aprendizagem se baseia na transgressão do básico para o sofisticado por tratar-se
de movimento humano, com isso a metodologia aplicada deve ser bem avaliada (WRISBERG,
SCHMIDT, 2001).

As crianças são quanto ao seu desenvolvimento imaturas e, por isso, faz-se necessário estruturar
experiências motoras significativas e apropriadas para seus níveis desenvolvimentistas particulares.
Com isso, ao entender que as crianças não são adultas em miniaturas, e seu processo de
desenvolvimento de habilidades motoras é diferente em cada faixa etária, estabelece-se a
importância de adequar a metodologia a cada faixa etária, compreendendo as necessidades de cada
criança. Metodologia esta que deve ser adaptada ao decorrer do processo de ensino-aprendizagem
do futebol como será aprofundado no tópico a seguir (GALLAHUE, OZMUN, 2005).

3.5 Metodologia de ensino do futebol

Historicamente, de uma forma geral, o futebol cresceu muito, rompendo barreiras e se
transformando em um fenômeno social grandioso que inclusive é objeto de estudo de outras áreas
de conhecimento como, Sociologia, Antropologia, entre outras (NETO, 1995).

De acordo com Santos (2006), na prática do futebol, a técnica consiste na execução de habilidades
fundamentais do jogo, que podem ser aprimoradas quanto mais cedo pelas crianças para estas
desenvolverem suas técnicas. Existem outros tipos de treinamentos para a iniciação, o
aprimoramento e desenvolvimento da técnica: recepção, domínio e condução de bola; drible e
finta; passe; chute; cabeceio; e goleiro. Os principais fundamentos são: Domínio, passe, drible,
chute e cabeceio.

O coletivo é considerado um excelente exercício de competição, pois oferece uma intensidade e um
aprimoramento da técnica muito parecido de um jogo real de futebol. Para ser melhor aproveitado,
o coletivo deve ser utilizado nos primeiros estágios de iniciação do futebol, pois a fixação dos
elementos técnicos é essencial no processo de aprendizagem (SANTOS at. FRISSELLI, MONTOVANI,
2006).
De acordo com Freire (2003) o futebol é uma enorme brincadeira. Porque não aprender essa
brincadeira com técnicas lúdicas e prazerosas? Ao contrário das formas tradicionais e mecanicistas.
O jogo é a forma lúdica para a realização de atos sem compromissos objetivos (SANTOS apud.
SCAGLIA, 2006).

O jogo em si demonstra ser um fator fundamental no processo de ensino-aprendizagem devido a sua
função motivacional e é o melhor indicador da evolução dos atletas (SANTOS at. GARGANTA, 2006).
O futebol no Brasil se desenvolveu em torno de quatro brincadeiras: bobinho, controle, repetida e
pelada. Sendo que em cada região tem algumas diferenciações no nome. Cada uma destas
brincadeiras exercita uma habilidade motora, adaptada da forma que acredita ser melhor. Talvez
por isso seja fácil praticar o futebol, por sua diversidade. A pelada, por exemplo, reúne todas as
outras brincadeiras para formar o futebol, ela desenvolve bastante a inteligência para um jogo de
futebol, existem lugares que ela é chamada de baba, racha, entre outros nomes (FREIRE, 2003).

De acordo com Freire (2003), o bobinho (os atletas em círculo, onde um deles se encontra no meio
do círculo e quando o mesmo toca a bola mudando seu trajeto ocorre á troca com o atleta que
errou o passe) não apenas acontece no Brasil como também já ultrapassou a fronteira. É um
excelente método de treino para um dos mais importantes fundamentos, o passe. O futebol
brasileiro não gosta muito deste fundamento, mas obrigatoriamente o faz e faz bem.

Freire (2003) relata que brincava muito de repetida, em outras cidades chamadas de rebatida, que
desenvolve o chutar, driblar e a defender. “Jogava-se com uma meta improvisada, dois jogadores
contra dois. Uma dupla realizava os chutes a gol a outra defendia”. Se a bola fosse rebatida pelo
goleiro os quatro disputavam a bola (os dois para fazer o gol, os outros dois para evitá-lo) valia mais
do que se a bola entrasse direto no gol (FREIRE, 2003).

Já o controle é uma brincadeira que exige muita habilidade, pois a brincadeira consiste em não
deixar a bola cair no chão antes dos três passes, no mínimo e fazer o gol. Caso os dois jogadores
errem ao total de três vezes quem errou por último vai para o gol, essa brincadeira também é
chamada de três dentro três fora de acordo com a região. Existem outros tipos de brincadeiras,
porém estas eram ou são mais utilizadas, além de malabarismos com a bola, entre outros (FREIRE,
2003).

De acordo com Santos (2006), esse método de aplicar os jogos e brincadeiras é a forma mais
prazerosa de aprender as técnicas do futebol. Além do que o aluno aprenderá a cooperar, a ter
respeito com o próximo, ser solidário e ético, ou seja, o aluno possa ser um agente no processo
ensino-aprendizagem.

Devido às escolinhas de esportes terem como função proporcionar aos seus participantes um outro
aspecto além dos fundamentos específicos de cada modalidade, ela como qualquer outra entidade
onde se envolve um processo de ensino-aprendizagem dá ênfase ao papel social que vai além dos
gramados, que abrange o desenvolvimento da criança como um todo (SCAGLIA, 1996).

Segundo Scaglia (1996) não cometendo grandes erros de especialização precocemente aos alunos,
seu processo de desenvolvimento terá sido menos afetado e como conseqüência terá menos
seqüelas. O profissional da área da Educação Física utilizando-se de uma prática pedagógica em
meio à ludicidade irá proporcionar aos alunos uma melhor capacidade de contextualizar o
aprendizado obtido no campo de futebol, beneficiando em sua qualidade de vida. Evita-se também,
que as escolinhas de futebol sejam apenas um seleiro de craques e em somente o lucro, fazendo
com que o dinheiro se torne secundário em relação ao bem estar que o esporte pode proporcionar
aos alunos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devido à presente revisão bibliográfica ter abordado o futebol e o seu contexto, no qual se envolve
os processos de desenvolvimento motor e sua relação no processo de aprendizagem relativo a cada
faixa etária específica, conclui-se que devido ao aspecto cultural do futebol no Brasil, sendo
intitulado o país do futebol, aspectos relacionados ao processo de desenvolvimento de habilidades
motora e cognitiva que o esporte em si proporciona aos seus praticantes, devem ter como principal
base à faixa etária na qual se encontra os atletas, para que o processo metodológico se encaixe nas
necessidades de cada período.

No Brasil, as crianças que jogam ou praticam o futebol são vistas como jogadores, independente de
sua faixa etária. Isto se deve à história que o esporte carrega consigo. Portanto, cabe a cada
profissional da área de Educação Física que tem como objetivo trabalhar com este esporte,
delimitar os aspectos do desenvolvimento motor, físico e cognitivo de acordo com cada idade da
criança, para que estes processos sejam respeitados e não ultrapassem em nenhum momento as
limitações de cada faixa etária, para que não acarrete danos no processo de desenvolvimento das
crianças como um todo.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALCÂNTARA, H. A magia do futebol. Estudos Avançados, vol.20, n. 57, 2006.
BENDA, R. N. Sobre a natureza da aprendizagem motora: mudança e estabilidade... e mudança.
Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, set. 2006.
FILGUEIRA, F. M. Aspectos físicos, técnicos e táticos da iniciação ao futebol. Revista Digital, 2006.
FREIRE, J. B. Pedagogia do Futebol. Campinas: Autores Associados. Coleção Educação Física e
Esportes, São Paulo, 2003. 98 p.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças,
adolescentes e adultos. 3ª ed. São Paulo. Editora: Nadine J. Kann. Phorte, 2005. 585p.
NETO, V. M. Uma experiência de ensino do futebol no currículo de licenciatura em Educação Física.
Revista Movimento, Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vol.2,
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OLIVEIRA, O. R. F.; OLIVEIRA, K. C. C. F. Desenvolvimento motor da criança e estimulação precoce
motor. Fisioweb, 2006. Disponível em: <
http://www.wgate.com.br >.
RENÓ, I. M. Futebol, clãs e nação. Scielo: Rio de Janeiro, v.43, n.1, 2000.
RODRIGUES, F. X. F. Modernity, discipline and soccer: a sociological analysis of the social production
of soccer players in Brazil. Sociologias, vol. n. 11, 2004.
SANFELICE, G.R. Futebol, espetáculo e mídia: reflexões, relações e implicações. Características e
valores veiculados em programas esportivos de televisão. Revista Comunicação, Movimento e Mídia
na Educação Física. v.6, n.7. Santa Maria: UFSM, 2001.
SANTOS, V. P. A metodologia do ensino do futebol no Programa Segundo Tempo. Universidade de
Brasília: Especialista em Esporte Escolar, abr. 2006.
SANTOS, S.; DANTAS, L.; OLIVEIRA, J. A. Desenvolvimento motor de crianças, de idosos e de pessoas
com transtornos na coordenação. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, ago. 2004.
SCAGLIA, A. J. Escolinha de futebol: uma questão pedagógica. Revista Motriz, Vol 2. Nº 1, 1996.
SOARES, C. L. HELAL. SANTORO. Educação física: raízes européias e Brasil. Educação
contemporânea educação especial. 3ª ed. Campinas: Autores Associados, 2004.
TANI, G. Comportamento Motor: Aprendizagem e Desenvolvimento. 1ª ed. Rio de Janeiro. Editora:
Guanabara Koogan, 2005. 333 p.
TANI, G.; FREUDENHEIM, A. M.; MEIRA JÚNIOR, C. M..; CÔRREA, U. C. Aprendizagem motora:
tendências, perspectivas e aplicações. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, v.18, ago. 2004.
WEINECK, J. Treinamento Ideal. 9ª ed., Barueri: Manole, 1999.
WRISBERG, A.C.; SCHMIDT, R.A. Aprendizagem e performance motora. 2ª edição, Rio Grande do Sul:
Porto Alegre, 2001.

Erro histórico e imperdoável

Folha erra e "tira" Brasil da Copa do Mundo

Anúncio do supermercado Extra sugere eliminação após vitória da seleção sobre o Chile

Reprodução

Foto por Reprodução

Pão de Açúcar, patrocinador oficial da seleção, diz que havia preparado dois anúncios: uma para a vitória, outro para a eliminação do time de Dunga

A seleção brasileira continua firme na Copa do Mundo. Mas para o supermercado Extra, o time brasileiro “sai do Mundial”, segundo anúncio publicado no jornal Folha de S.Paulo nesta terça-feira (29). A peça publicitária sugere que o time de Dunga foi eliminado.

Grupo Pão de Açúcar, dono do Extra, afirma que erro da Folha é "inadmissível"

O Brasil venceu o Chile por 3 a 0 nas oitavas de final da competição, em partida disputada na última segunda-feira (28).

O Pão de Açúcar informou que enviou ao jornal duas opções de anúncios, uma para o caso de vitória do Brasil contra o Chile e outra para eliminação do time brasileiro.

A peça publicitária diz “A ‘I qembu Le sizwe’ sai do Mundial. Não do coração da gente”, em letras grandes. No texto menor, explica: "Na África, no idioma Zulu, ‘I qembu Le sizwe’ é SELEÇÃO. Valeu, Brasil. Nos vemos em 2014".

Em nota, o grupo Pão de Açúcar esclareceu que deveria ter entrado nesta terça-feira o anúncio da vitória, mas, por “erro humano”, saiu impresso o da derrota do Brasil.

- O Extra lamenta o erro ocorrido hoje na veiculação do anúncio no jornal Folha de S.Paulo. A Folha errou na seleção do material para publicação e irá se retratar publicamente com a correção do material visto que, como patrocinador da seleção, a rede Extra tem sido uma entusiasta do time brasileiro.

Em outra página do mesmo caderno especial, a Folha anuncia, nesta terça-feira, a transmissão de um jogo do dia anterior. A peça da rádio Transamérica, publicada no jornal, ironiza o Chile: “para quem tem a Cordilheira dos Andes como vista, voltar para a casa não é tão ruim”, sugerindo a eliminação da seleção rival.

Procurado pela reportagem do R7, o jornal não se pronunciou sobre o caso.

anuncio-folha-erro-tl-20100629

Fonte:

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Obra reconta a história de João Saldanha

Todos apoiaram João Saldanha, menos Pelé, conta jornalista

Ana Cláudia Barros

Há 40 anos, uma das páginas mais polêmicas da história do futebol brasileiro era escrita. Três meses antes da Copa do Mundo de 1970, o então técnico da seleção, o jornalista João Saldanha, recebia a notícia de que havia sido demitido, apesar do retrospecto vitorioso e da indiscutível popularidade. Muito se especulou sobre o afastamento do furioso "João Sem Medo", aquele, segundo Nelson Rodrigues, capaz de explodir na presença de um fósforo aceso - "maravilhoso defeito", de acordo com o escritor.

Disposto a desconstruir mitos em torno da queda de Saldanha, o jornalista carioca Carlos Ferreira Vilarinho decidiu se debruçar sobre o tema. Ao longo de dez anos, recuperou histórias, alinhavou fatos, mergulhou de cabeça na vida do mais controverso técnico que esteve à frente do selecionado canarinho. O resultado é o livro Quem Derrubou João Saldanha (Editora Livrosdefutebol.com) - o primeiro de Vilarinho -, cujo lançamento está programado para o próximo dia 8, no Rio de Janeiro. (Aconteceu no dia 8 de junho)

- São vários mitos. O mais imoral deles é o que acusa o próprio Saldanha por sua derrubada - diz Vilarinho, referindo-se à ideia de que o temperamento impertinente do técnico teria sido a principal causa de sua degola.

Para o jornalista, admirador confesso de Saldanha, com quem tem identificações "políticas e esportivas", a demissão foi minuciosamente arquitetada pela ditadura militar, a mesma que teria aprovado o nome do treinador para assumir o cargo de comandante da seleção.

- Todo plano da seleção brasileira de 1970 foi submetido, previamente, à Comissão de Desportos do Exército (CDE) e aprovado. Inclusive, o nome do técnico foi submetido e aprovado.

Vilarinho afirma que, antes de receber o "golpe final", Saldanha passou por um processo de "fritura" e de provocação, visando enervá-lo. O autor defende ainda que a saída do técnico, um "militante destacado do Partido Comunista Brasileiro", era certa, independentemente do histórico vitorioso.

- Ele era uma ameaça e mais: não se admitia que um militante do quilate do Saldanha voltasse com a Jules Rimet nas mãos, voltasse nos braços do povo. A vitória não poderia ser atribuída a um líder oposicionista, a uma figura inimiga do regime "nazista" que vigorava no Brasil.

O autor desmistifica ainda outro rumor: o de que a relação entre o técnico e os jogadores da seleção estaria desgastada.

- Os atletas, com exceção de Pelé, liderados por Brito (zagueiro), estavam dispostos a declarar solidariedade ao técnico e a exigir que ele ficasse na seleção. Foram demovidos dessa intenção pela mulher de Saldanha, Tereza Bulhões. Ela argumentou que, se eles fizessem isso, não teria nenhum efeito porque a decisão já estava tomada e que os jogadores poderiam sair prejudicados, sendo cortados da seleção.

Confira a entrevista.

Terra Magazine - O que o livro apresenta de novo sobre os bastidores da demissão de João Saldanha do comando da seleção brasileira, às vésperas da Copa de 1970?
Carlos Ferreira Vilarinho -
Penso que este livro vai alterar a visão que se tem dessa seleção, dessa campanha do tricampeonato. Depois desse livro, ninguém mais vai falar dessa Copa do Mundo como antes. O livro demonstra, em primeiro lugar, que a seleção do tricampeonato foi praticamente escalada por João Saldanha, em junho de 1968, ao contrário do que se apregoa. Nenhuma seleção é feita em alguns meses. O embrião da seleção de 1970 já aparece nitidamente em maio de 1964, no scratch que disputou a Taça das Nações, escalado por (Vicente) Feola.

Como foi o processo de pesquisa e elaboração do livro? Foram quantos anos de trabalho?
O livro me custou nove anos de trabalho. Comecei a escrever em julho de 2000.

E o que te motivou?
Minha admiração por João Saldanha. Identificações políticas e esportivas. O ponto de partida foi a minha recusa em aceitar a tese de que a seleção de 1970 deveria ser creditada a Zagallo. Eu também não aceitava, com a mesma força, a tese que atribuía a Saldanha, a defesa do sistema 4-2-4. Isso é mentira. Lá por 1997, resolvi fazer uma monografia sobre a queda de Saldanha. Em 2000, retomei e terminei de escrever já com a intenção de fazer um livro. Terminei em outubro de 2001 e resolvi escrever uma biografia, porque achei que a nova geração não conhecia João Saldanha o suficiente. Terminei a biografia, mas ficou muito grande, então, desisti de publicar. Decidi publicar esse livro, contando só o espisódio da ascenção e queda de João Saldanha.

O que é mito e o que é verdade na queda de Saldanha?
São vários mitos. O mais imoral deles é o que acusa o próprio Saldanha por sua derrubada. A tese de que ele foi derrubado por si mesmo, devido ao seu descontrole emocional. Isso não é verdade.

Qual é a verdade, segundo suas pesquisas?
Foi derrubado pela Ditadura Militar.

Qual foi a influência daquela entrevista dada por João Saldanha, na véspera do amistoso da seleção contra a Argentina, em Porto Alegre? O técnico, ao ser questionado se sabia que o presidente da República na época, Emílio Médici, queria a convocação do centroavante Dario, respondeu que o presidente escalava o ministério e ele, o time. Isso foi determinante?
Foi determinante, mas a decisão da demissão é anterior ao episódio. Sustento que a decisão do regime militar de derrubá-lo vem desde que ele classificou o Brasil para a Copa do Mundo.

Mas qual foi a razão exatamente? Ele tinha um retrospecto invejável como treinador e, apesar de polêmico, era uma figura popular.
Ele não servia mais à ditadura militar. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD), quando o convidou, sabia perfeitamente que ele era um militante destacado do Partido Comunista Brasileiro. Era uma liderança, uma figura nacional, adorado pelo povo e respeitado internacionalmente. Todo plano da seleção brasileira de 1970 foi submetido previamente à Comissão de Desportos do Exército (CDE) e aprovado. Inclusive, o nome do técnico foi submetido e aprovado.

Por que o nome de Saldanha foi aprovado?
Ele era o principal porta-voz dos críticos às diretrizes da CBD, que levaram ao fiasco em Liverpool, em 1966. Como ele era a principal autoridade em futebol na época, nada melhor do que entregar a ele e ver se dava conta, já que ele sabia criticar.

A ideia era "queimar" o Saldanha?
Não. A CBD sabia que ele seria vitorioso e sua escolha traria um dividendo extraordinário para ela, que seria trazer para o apoio à seleção brasileira, de toda a imprensa carioca, neutralizando a oposição sistemática da imprensa paulista. Esse foi o motivo que o levou para lá.
Agora, o motivo que o levou a ser posto para fora é porque, com a classificação da seleção, a sua tarefa já estava cumprida. Tratava-se agora de substituí-lo por outro para completar a tarefa. Ele não servia mais. Até porque, após a classificação do Brasil, ele fez uma série de incursões pela Europa para observar os possíveis adversários na chave do seleção e nas fases seguintes.
O que ocorre é que, no dia 4 de novembro de 1969, um grande amigo do João Saldanha foi assassinado pelo exército. Carlos Marighella. Saldanha estava com a morte do amigo atravessada na garganta. Perguntado sobre o que acontecia no Brasil, ele fez uma série de denúncias gravíssimas, confirmando aquilo que se sabia e se denunciava, que era o desaparecimento de presos políticos, torturas. Evidentemente, essa atitude não poderia passar em branco. Em novembro de 1969, seu futuro já estava riscado. Em janeiro de 1970, quando ele viajou para o México, junto com dirigentes da CBD, para acompanhar o sorteio das chaves, ele encontrou outro amigo dele, o Didi, técnico da seleção peruana, e falou que, provavelmente, não duraria muito tempo na seleção.

Ele já sabia que sairia?
Já sabia. E as provocações contra ele, como as da parte de um teleguiado, como era o Yustrich (técnico do Flamengo na época), recados na imprensa enfiados por Médici faziam parte de um processo de "fritura" e de provocação, visando enervá-lo, já que ele era conhecido por não levar desaforo para casa e responder na bucha.

Houve aquele episódio em que ele procurou, armado, o técnico do Flamengo, para tirar satisfações...
Sim, mas, voltando à sua pergunta, a resposta exata que ele deu foi: "E nem eu escalo ministério nem o presidente escala time. Então, está vendo que nós nos entendemos muito bem". Essa resposta foi encarada como impertinente. Não obedece ao presidente. Isso foi no dia 3 de março. Ele foi derrubado no dia 17, 12 dias depois.

Ele era uma ameaça?
Era uma ameaça e mais: não se admitia que um militante do quilate do Saldanha voltasse com a Jules Rimet nas mãos, voltasse nos braços do povo. A vitória não poderia ser atribuída a um líder oposicionista, a uma figura inimiga do regime "nazista" que vigorava no Brasil.

Já foi dito que o então presidente da CBD, João Havelange, teria sido um dos articuladores da queda de Saldanha. Isso tem fundamento?
Não vejo assim. Havelange tinha respeito por Saldanha. Não era um nazista. Ele que colocou Saldanha lá. Num sábado, dia 14 de março de 1970, ele fez questão de comparecer ao jogo-treino, no estádio de Moça Bonita, ao lado da família do Saldanha. Para que ele fez isso? Para reforçar a posição de Saldanha, logo depois do incidente em que ele invadiu a concentração do Flamengo para tirar satisfações com o técnico Yustrich, que o tinha chamado de covarde.

Ele foi armado?
Foi armado, não encontrou o Yustrich, voltou para a concentração da seleção e reportou tudo para Antônio do Passo (diretor de futebol na época) e outros dirigentes da CBD. O Havelange não estava. Chegou lá depois. Ele se solidarizou. Não só Havelange. Antônio do Passo hipotecou irrestrita solidariedade a Saldanha, condenando, inclusive, o Flamengo por não reprimir o seu funcionário pelos ataques contra o técnico da seleção.

Esses ataques eram orquestrados por alguém?
Eram premeditados. O Yustrich estava certo de que seria o substituto de Saldanha. Ele foi cogitado e só não foi escolhido porque no dia da demissão de Saldanha, os jogadores anunciaram que iriam embora, se ele fosse o substituto.

Como a seleção da época recebeu a demissão do João Saldanha?
Os jogadores receberam muito mal. Na tarde do dia 17, os atletas, com exceção de Pelé, liderados por Brito (zagueiro), estavam dispostos a declarar solidariedade ao técnico e exigir que ele ficasse na seleção. Foram demovidos dessa intenção pela mulher de Saldanha, Tereza Bulhões.
Ela argumentou que, se eles fizessem isso, não teria nenhum efeito porque a decisão já estava tomada e que os jogadores poderiam sair prejudicados, sendo cortados da seleção. E que o João Saldanha preferia que eles não tomassem nenhuma atitude porque seria inútil. Ele era admiradíssimo pelos jogadores e adorava aquele time.

E como o Saldanha recebeu a demissão? Você falou que ele já esperava...
Já esperava. Tanto já esperava que, no dia 2 de fevereiro, aceitou o convite para trabalhar nas Organizações Globo. Ele tinha ideia de que a qualquer momento seria demitido. Além disso, voltando para a imprensa, do qual havia se afastado, ele teria uma tribuna para se defender dos ataques sistemáticos que recebia dos provocadores.
Mas a decisão de Saldanha criou um fato novo porque, até então, a imprensa carioca, que o apoiava, se dividiu, já que uma parte viu no gesto do técnico a criação de uma concorrência imbatível. O Jornal do Brasil fez até editorial condenando a volta de João Saldanha à profissão. Mas ele ficou muito triste com a demissão porque até o sábado, contava com apoio irrestrito da CBD e, entretanto, na segunda-feira, foi convocado para uma reunião na sede da CBD para discutir com o Antônio do Passo e o Havelange. Quando chegou em casa, foi informado, pela imprensa, que Antônio do Passo exigia "ou ele ou eu". Ele ficou muito sentido, mas não pode ter se surpreendido.

Por que o nome do Zagallo foi escolhido?
É fácil responder. No dia 17, à noite, já circulavam nos corredores da CBD, três nomes: Dino Sani, Zagallo e Otto Glória, de acordo com as preferências dos dirigentes. No dia 18, Antônio do Passo foi ao aeroporto receber o Dino Sani. Só que ele alegou oficialmente que não se considerava apto ainda. Ele era técnico do Corinthians, mas era relativamente novo na profissão. Alegou falta de condições psicológicas. O que se sabe é que ele não aceitou trabalhar sob a supervisão do capitão Cláudio Coutinho (preparador físico), que, a essa altura, já tinha tomado o lugar do Russo que, em solidariedade a Saldanha, havia saído. Ele foi o único membro da comissão técnica escolhido por Saldanha. Também não aceitou nomes previamente escolhidos por outros. Entre parênteses: Dario. Pegou o avião e voltou para o trabalho dele.
Então, o Antônio do Passo saiu dali e foi se encontrar com o Zagallo no treino do Botafogo. E o Zagallo aceitou tudo e pegou o emprego.

O Zagallo tinha um perfil mais flexível, aceitava interferências?
Eu não diria isso. Ele é pragmático. Sabia, por exemplo, que no time dele não tinha vaga para o Dario. Mas poderia ter vaga nos reservas. Não comprava brigas indigestas. Até porque ele, com toda razão, sabia do seu valor. Em fevereiro de 1969, ele era o favorito para substituir o Aymoré Moreira (técnico que esteve no comando da seleção no Mundial de 1962).
O terceiro nome, Otto Glória, rechaçou rudemente, dizendo que não admitiria jamais dividir o comando do escrete. Uma atitude corajosa.

Naquele contexto, qual era o grau de influência do regime militar nas decisões da CBD?
Total e absoluto.

Falando de seleção brasileira de uma maneira geral, você consegue identificar interferências no trabalho dos treinadores. Nas Olimpíadas de 2008, foi dito que o Ricardo Texeira, presidente da CBF, exigiu a convocação do Ronaldinho Gaúcho. Há ainda outro exemplo, que seria a suposta imposição de jogadores por parte da Nike.
Em todas essas tramas, não há documentos escritos, ninguém passa recibo, mas é notória, ainda mais hoje em dia, a interferência de grupos econômicos, forças econômicas poderosas, anunciantes, fabricantes de material esportivo sobre as ligações da CBF. O mundo dos negócios é uma realidade que ninguém pode desmentir. Na verdade, a CBF tem pouco a ver com clubes brasileiros, com o futebol brasileiro. Ela tem interesses próprios. Ela convoca quem ela quer, independentemente da pátria a que pertence o clube onde o jogador atua.

Você acha que a atual formação da seleção que vai disputar a Copa é um exemplo?
Diria até que é o contrário. Ela confirma essa ideia que eu tenho, mas ao contrário. Penso que as recentes pressões contra o Dunga têm origem em interesses.

Que tipo de interesses?
Valorizar certos passes que, num curto espaço de tempo, serão vendidos para a Europa. Nesse caso, Dunga demonstrou muita coragem em contrariar interesses que exigiam a convocação de certos jogadores. Estou falando de bambinos (risos).

Você está falando de garotos, como Ganso e Neymar?
Todos eles já estão com passagens marcadas para a Europa. Nada melhor do que uma camisa amarela para aumentar o preço. Dou meus parabéns ao Dunga.

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segunda-feira, junho 28, 2010

Só muda o endereço

Erich Beting

Danny JordaanWS~10 O jornalismo vigiado e controlado cria empecilhos ainda maiores para o acesso do jornalista à fonte da informação

Entrevista coletiva para a imprensa em Johanesburgo, no estádio Soccer City. Danny Jordaan, presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo, e Jérôme Valcke, secretário geral da Fifa, eram as grandes estrelas do encontro.

Em pauta, um balanço do que foi a primeira fase da Copa. Nas perguntas dos jornalistas, porém, tudo muito diferente. Escândalo na seleção francesa, segurança para o jogo Alemanha x Inglaterra, Morumbi fora do Mundial de 2014, contratação do irmão de Jordaan para cuidar dos camarotes da cidade de Port Elizabeth, por “módicos” R$ 50 mil por mês...

Depois da entrevista, um enxame de repórteres fechou o cerco sobre Jordaan e Valcke, para massacrá-los ainda mais com as mesmas perguntas feitas anteriormente, mas na tentativa de se conseguir uma frase mais bombástica, um detalhe a mais, algo diferente.

Não adianta. Em qualquer lugar do mundo, jornalista é jornalista na essência. Por mais que a pauta seja uma, o interesse pela notícia é outro. Isso é algo que demorou, e muito, para que o técnico Dunga entendesse. Não é ele quem determina o assunto que será debatido, mas sim o jornalista que chega e faz a pergunta que melhor lhe cabe.

No final das contas, pouco ou quase nada do balanço apresentado pela Fifa foi debatido naquela coletiva para a imprensa. O que mostra, também, o quanto o expediente está ficando desgastado no dia-a-dia da produção de conteúdo.

O jornalismo vigiado e controlado pelos assessores tem dificultado ainda mais o acesso do jornalista à fonte da informação. Há um controle exacerbado sobre quem fala, o que fala, quando fala e como fala. E isso gera um atrito considerável entre as partes.

O estouro de Dunga na coletiva após o jogo contra Costa do Marfim, ou a maneira ríspida como Jordaan respondeu sobre os questionamentos a respeito de seu irmão mostram a que ponto chegou o relacionamento da fonte com o jornalista na era moderna.

E, para variar, as respostas passam a ser sempre as mesmas. Não há mais paciência na relação. Só muda o endereço de onde o atrito ocorre. Mas, no esporte, fonte e jornalista definitivamente não falam a mesma língua...

domingo, junho 27, 2010

Futebol e estresse atuando juntos

Como o treinador, em sua multiplicidade de funções, deve lidar com o quesito emocional dos atletas no futebol

Rodrigo Saldanha da Silva

Rafael Benítez, também Rafa Benitez

Queiram ou não queiram os doutores do futebol, jogar bem ou jogar mal será sempre reflexo do estado mental em que se encontre uma equipe. Não só de pernas vive um grande time. O futebol profissional move vastos interesses financeiros e recebe grande quantidade de atenção da mídia. Os jogadores de elite tem vantagens econômicas, popularidade e prestigio.

Uma das questões que sempre intrigou técnicos e preparadores em geral, se referia ao por que alguns atletas conseguiam ter um ótimo desempenho em competições, enquanto outros com a mesma aptidão física e qualidade técnica não rendiam o esperado?

Em outras palavras, um atleta sem preparo psicológico adequado que lhe permita desempenhar-se bem sob pressão, competir com dor, concentrar-se, manter o foco, ter sentimentos positivos e participar das competições sentindo-se confiante e tranquilo, terá poucas chances de alcançar um bom desempenho. Isso porque, no alto nível, as habilidades esportivas de diferentes atletas se igualam. Assim, aos atletas são necessários três requisitos básicos para a excelência no esporte: talento, treinamento intenso e “cabeça”.

Os jogadores de futebol, inevitavelmente, estão expostos a um numero potencial de estressores que operam sobre o desempenho atlético durante a carreira esportiva. Não saber lidar com o estresse é a principal fonte geradora de maus rendimentos esportivos, de aumento de insegurança, aumento dos sintomas de ansiedade antes e durante o desempenho esportivo, diminuição da autoconfiança e do autocontrole.

Existe também um estresse positivo, chamado de eustresse. Esse estresse positivo prepara o corpo para a atividade explosiva, deixa o individuo alerta e estimulado fisiologicamente, ajudando-o a manter o foco, a atenção, a motivação, o entusiasmo e a conservar um alto nível de energia física. Em outras palavras, ele prepara o organismo do atleta para o ótimo desempenho.

Aí entra o papel do treinador. O treinador é o especialista mais próximo dos jogadores e a mais importante autoridade técnica do departamento de futebol. Pela multiplicidade de funções que desempenha – dirigente técnico, educador, organizador, conselheiro, estrategista e líder -, exerce significativa influência no comportamento dos atletas. O apoio psicológico, a inserção geral do atleta no grupo, a segurança individual ao atleta e à equipe, o respeito ao espírito esportivo, o controle, as intervenções e a orientação de procedimentos técnicos ou táticos são as principais funções do treinador.

A experiência tem nos mostrado que aquilo que pode servir como incentivo e motivação para uns, pode não surtir o mesmo efeito para outros, uma vez que cada pessoa é genética e psicologicamente diferente de outra. Seguindo esse raciocínio, o treinador deverá saber como e quando falar com cada um de seus atletas ou demais pessoas que compõem sua equipe.

O conhecimento de um treinador, sua atitude e seu comportamento, bem como sua capacidade de disfarçar emoções e frustrações pessoais afeta o desempenho do atleta. Uma falta de confiança nas capacidades e conhecimento do treinador, especialmente se presente antes da competição principal, afeta negativamente o desempenho de um atleta e, portanto, o ápice para aquela disputa. A solução para esses problemas é simples: ampliar os conhecimentos de treinamento pessoal, melhorar o autocontrole, ou ser honesto e aconselhar o atleta a procurar um treinador melhor.

Contato: rodrigosaldanhars@gmail.com

Bibliografia:

BOMPA, Tudor. Periodização: Teoria e Metodologia do Treinamento. São Paulo-SP. 2002. 4ª edição. Phorte Editora.
SANTOS FILHO, José Laudier Antunes dos. Manual de Futebol. São Paulo-SP. 2002. Phorte Editora.
CARRAVETTA, Élio. Modernização da Gestão no Futebol Brasileiro. Porto Alegre-RS. 2006. AGE Editora.
BARROS e GUERRA, Turibio Leite e Isabela. Ciência do Futebol. Barueri-SP. 2004. Manole.