Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, janeiro 26, 2017

A era dos supertimes globais

Amir Somoggi
É administrador de empresas formado pela ESPM, especializado em gestão esportiva pela FGV e pós-graduado em marketing esportivo pela Universidade de Barcelona. Mais de 19 anos de experiência na área de marketing, sendo os últimos 15 anos totalmente dedicados a projetos de consultoria em marketing, gestão e planejamento estratégico para clubes, patrocinadores e investidores do esporte. Foi responsável na última década em estudar e avaliar o mercado brasileiro de clubes de futebol com a produção de centenas de estudos sobre as finanças e o marketing dos clubes brasileiros e internacionais. 
Na semana passada, a empresa de consultoria Deloitte publicou na Inglaterra seu estudo anual sobre as receitas dos 20 maiores times de futebol do planeta.
Segundo o levantamento os gigantes europeus em faturamento movimentaram € 7,4 bilhões na temporada 2015-16.
As receitas de marketing definitivamente se consolidaram como as mais importantes, à frente inclusive dos direitos de TV.
A exploração comercial da marca dos times gerou € 3,2 bilhões, os direitos de TV € 2,9 bilhões e os estádios € 1,3 bilhão.

Fontes de receitas
A área comercial dos times representa 43% das receitas, a TV 39% e os estádios 18%


Participação %
O valor gerado em 2016 é recorde e também o maior crescimento em termos absolutos da história. A elite do futebol europeu produziu € 786 milhões em receitas novas. Isso equivale a quase R$ 3 bilhões novos em um ano! O crescimento dos europeus foi de 12%, uma das maiores variações de todos os tempos.
Os 20 maiores clubes em receitas do Brasil movimentaram sem as transferências de atletas R$ 3,1 bilhões em 2015 . O estudo da Deloitte somente considera receitas com a TV, marketing e estádios.
Apenas o crescimento dos europeus equivale ao faturamento de todos os grandes clubes do Brasil!
Essa discrepância pode ser explicada por vários motivos, especialmente relacionados à gestão de cada mercado. Mas na prática, o abismo se dá pelas características globais dos gigantes europeus, frente ao apelo apenas doméstico do mercado brasileiro.
Enquanto os times brasileiros não sabem se relacionar com seus cerca de 160 milhões de torcedores no Brasil, os supertimes da Europa estão se comunicando e principalmente se relacionando, com mais de 3,5 bilhões de pessoas no mundo que amam futebol.
Os 10 primeiros times em faturamento do estudo da Deloitte movimentaram € 5,2 bilhões em 2016.
Estes são os supertimes que figuram no topo das receitas do futebol mundial, todos globais, lutando para se consolidar em uma guerra de expansão de mercados consumidores e também na busca de novos patrocinadores. 

Top 20 times europa
Todos participam de ligas fortes e com penetração e apelo global. Chama a atenção a força da Premier League, já que 8 times ingleses estão entre os 20 maiores.
A liderança voltou ao Manchester United depois de 12 anos, quando perdeu o posto para o Real Madrid e mais recentemente para o Barcelona. 
Três times já passaram a barreira dos € 600 milhões de faturamento. E outros três já superaram € 500 milhões.
Os menores já faturam € 170 milhões por ano. Os times brasileiros nunca conseguiram passar dos € 120 milhões.
O abismo dos clubes brasileiros com os europeus só aumenta e tende a se aprofundar ainda mais.
Leicester entra na seleta lista
O bom desempenho do Leicester City, fruto do equilíbrio nos direitos de TV na Premier League, colocou o pequeno clube inglês na lista dos 20 times com maiores receitas da Europa, pela primeira vez.
O atual campeão da liga passou de um faturamento de € 37 milhões em 2014 para € 172 milhões em 2016, incremento de 365% em três anos.
A força do contrato da Liga foi fundamental para esse crescimento e mostra o caminho concreto para o fortalecimento de uma competição e não apenas de poucos clubes. 

Leicester evolução receitas


As receitas de TV do Leicester representam 74% do total. Já para o líder do ranking em receitas Manchester United a TV corresponde a apenas 27% do seu faturamento.
A liga forte possibilitou um número grande de times ingleses entre os mais ricos.
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quarta-feira, janeiro 25, 2017

Periodizar taticamente não é Periodização Tática


Periodizar taticamente não é Periodização Tática

por Rodrigo Vicenzi Casarin
Perceber com propriedade o que realmente é a Periodização Tática na sua profundidade, não é tarefa fácil como parece. Antes de qualquer coisa, essa metodologia precisa de investigação, dedicação e entendimento do núcleo duro do processo, o morfociclo padrão. Isso implica na compreensão relacional dos princípios metodológicos, no dinamismo interativo entre a ideia de jogo, processo, operacionalização e suas propriedades emergentes e na transferência qualitativa com outras áreas da ciência que dão suporte e vigor especial. Compreendendo essa questão, fica mais límpida a perspectiva sistêmica, cujo cerne reside na complexidade. E o mistério tem a ver com isso, com dinâmicas, isto é, está nas inter-intenções e inter-decisões, nas interações, nas conexões, nos (re)ajustamentos e nos padrões de organização.1
Sua expansão nessa década, por diversos meios, tem gerado adeptos, críticos, diferentes perfis e formas de enxergar, estudar e pesquisar. Mas como em qualquer área de conhecimento, muitas precipitações podem ocorrer, até um entendimento maior e concreto surgir. E desvios conceituais vêm sendo vistos ao longo dos anos, muitos desconexos do fio condutor que é alma do processo e está em constante desenvolvimento. Panoramicamente, o que se enxerga, são algumas pessoas tentando transmitir, na essência, o conteúdo “sem fim” da metodologia e outras vagando em superficialismos e predicados soltos. Nesse caso, acende uma classe de miscelânea conceitual, que foge da raiz, mas ratifica inicialmente uma curiosidade, ocasionando a frente um nível de aprofundamento maior, estagnação ou desistência de sua clareza. Algo normal quando algum fenômeno vira febril e atraente.
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É próprio da percepção humana desenvolvida ou desmedrada que ideias vão se tornando mais ou menos fidedignas. Nota-se, com o crescimento da Periodização Tática, que a grande diferença entre os “curiosos”, “modistas”, “investigadores céticos”, ”radicais extremistas”, “tecnocratas” e os “buscadores sinceros”, reside na visão da sensibilidade criativa, aberta, transformadora e dinâmica com que Vitor Frade, diariamente, geria suas aulas da Universidade do Porto, nas suas conversas e nos seus textos e apontamentos atualmente.
Essa diferença do perfil dos buscadores, o entendimento da complexidade (complexidade não é dificuldade), não é algo inacessível, de outro planeta, como muitos pensam, mas como tudo na vida, necessita de esforço profundo. Quando este não for profundo, sincero e aberto o suficiente, fica mais difícil entender que a Periodização Tática não é uma lógica estacionada, mas uma lógica com sentido. A teia de conexões dessa metodologia é uma extensão da teia da vida, do organismo humano, da inteireza do jogo, das relações humanas, das relações da produção de um jogar em todos os seus níveis e dos princípios balizadores (Alternância Horizontal, Progressão Complexa e Propensões) que firmam o núcleo duro do processo (Morfociclo).
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Claro que para encontrar esse “esforço profundo”, ninguém precisa passar dias e noites como carrapato ao lado do Prof. Vitor Frade ou se teletransportar quanticamente para Porto. A correta busca por seus referenciais e outros, advindo de pessoas que continuam modelando, dinamizando e propagando o profundo conhecimento, também ajuda no entendimento desta metodologia. Então, a Periodização Tática não é uma questão ideológica radicalista restringida apenas para pessoas que fazem parte de uma facção fundamentalista, como muitos pensam. Ela é um incentivo a propagação do conhecimento adequado, a criatividade individual, balizados por princípios particulares, que levam em consideração um contexto-prático por convicções concepto-metodológicas-operacionais e um contexto-ambiente por visualizações culturais. Nessa intra-relação e inter-relação mora o pote de ouro.
E o mais sensível de tudo isso, é saber como propor transformações, sem romper a ideia de equilíbrio-desequilíbrio, sem desvirtuar e deixar incoerente sua essência transgressora. Algo que demanda muita sensibilidade e, sem dúvida, gera dilemas contextuais, operacionais e fundamentais.
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E é deste hiato entre o modo como o treinador pretende que a sua equipe jogue e o modo como ela vai jogar regularmente, que emerge a pertinência da questão de COMO TREINAR UMA IDEIA DE JOGO.2 E a Periodização Tática atenua isso, pois estabelece ligação permanente entre os dois lados da equação: a ideia e a operacionalização.2Assim, ela se serve de uma lógica processual ou um padrão matricial (Morfociclo), com o propósito fundamental de permitir a aquisição de um jogar específico, uma concepção de jogo, respeitando os princípios metodológicos.
Na Periodização Tática, as equipes não estão em forma, mas têm forma. Assume uma forma dinâmica (especificidade) plural, com várias formas (especificidades) que são vivenciadas regularmente obedecendo os princípios metodológicos distintos do tradicional.Daí o Morfociclo, um ciclo com conteúdo concreto a cada jogar, preenchido com forma nos diferentes dias, com a devida alternância de desempenho entre as sessões de treino.3 O entendimento do que é o Morfociclo, o porquê de ter um padrão, é uma condição fundamental para que se consiga mergulhar a fundo num enquadramento conceitual e metodológico que rompe claramente com o convecional.2
Imagem retirada dos textos do Prof. Frade
Imagem retirada dos textos do Prof. Frade
Com quase 50 anos de inquietudes do Prof. Vitor Frade, essa forma de viver o treinamento está em constante enriquecimento, pois tem uma legitimidade e um alicerce teórico singular, vigoroso, significativo e peculiar. Logo, a Periodização Tática é algo que se crê ou não se crê. Ou está com ela ou é contrário a ela. Não se pode dizer: sim, creio nela, mas...então deixa de ser Periodização Tática”4. Mas ela não é algo mecânico-linear, é puramente um mecanismo não linear ou um organismo dinâmico de construção que quer que cada equipe chegue ao seu futebol, ao futebol de cada um. Apenas é preciso respeitar ideias evitando incongruência processual-operacional-contextual.
Então, carece do “esforço profundo” para não ser confundida com uma coleção de fatos, conceitos desconexos, exercícios soltos ou outros aspectos. Ela quer fugir disso, de chavões como: “periodizar taticamente meu modelo”, “um microciclo que respeita força, resistência e velocidade”, “contração assim, assada”, “o físico não existe”, “os jogadores não trabalham fisicamente”, “espaços pequenos, médios e grandes”, “jogos reduzidos”, “exercícios com bola”, exercícios analíticos”, “utilização de exercícios mais simples ou mais sofisticados”, “exercícios sem bola”, “excessos de regras nos exercícios” e “desenvolvimento dos grandes princípios o tempo todo”. Evidente que algumas dessas possibilidades acima estão presentes no dia-dia, mas não de forma genérica e especulativa.
Longe do que se pensa, esta metodologia de treinamento não está acorrentada na cidade de Porto-Portugal. Também não está escondida nos muros reservados do Centro de Treinamento do Olival, na Escola de Formação Dragon Force, nem na Universidade do Porto. Ela nasceu aí, mas está viva, em movimento, onde tiver organismo vivo, seja no futebol, esportes coletivos e outros esportes, ela pode ser aplicada com sua estrutura particular tornando um contexto peculiar. Logo, para ela viver realmente, não se pode negligenciar que sua essência matriz tem uma origem e uma direção que levam a diferentes destinos ímpares. Ela, além de ser uma grande questão de convicção, não existe em lugar algum sem contexto. Por isso, a Periodização Tática é uma ideia para operacionalizar uma ideia, não sendo uma ciência do abstrato, in vitro, mas antes uma ciência in vivo.5
Abraços a todos e até a próxima quarta!
1 - FRADE, VITOR. Notas das aulas de metodologia II – Futebol. Porto: FADE-UP, 2010.
2 - AMIEIRO, NUNO. Os exercícios de treino aos Olhos do Enquadramento Conceptual e Metodológico da Periodização Táctica. Textos Professor Vitor Frade, 2017.
3 – MACIEL, JORGE. À volta e às voltas com a noção de Modelo de Jogo...Complexo e em Complexidade. Curso UEFA A: Tese Final, 2016.
4 – FARIA, RUI. Prefácio do livro Periodización Táctica vs Periodización Táctica. Vítor Frade Aclara de Xavier Tamatrit. (1ra Edición). Madrid: MB, 2013.
5 – MACIEL, JORGE. Periodização Tática: o "patinho feio" que se tornou num "cisne negro". Texto do Instituto Águia, 2016.

sexta-feira, janeiro 20, 2017

Os primeiros conceitos de Rogério Ceni para o São Paulo

Nenhum texto alternativo automático disponível.


A estreia do maior ídolo da história do Tricolor Paulista finalmente aconteceu. O tão aguardado São Paulo de Rogério Ceni se mostrou, nos primeiros 45 minutos do amistoso contra o River, uma equipe com algumas ideias de jogo bem atuais, misturando um pouco do que o ex-goleiro já disse ter como inspiração: Sampaoli, Osorio, Bielsa…

Mas calma! As comparações acabam aqui. Ceni é Ceni. É o M1to e agora o técnico do São Paulo. E como todo técnico, possui suas próprias ideias, suas crenças e também seus defeitos. Dar tempo, saber analisar o contexto e o jogo e deixar a mitologia de um dos maiores ídolos do futebol para trás é fundamental para saber com mais clareza e fidelidade aos fatos o que será o São Paulo de 2017.

Começando pelo modelo de jogo, que é a “maneira” como Ceni pretende que o São Paulo ataque, defesa, faça as transições…esse modelo pode ter diversos esquemas. Contra o River, o time começou num 4-1-4-1, com Rodrigo Caio fazendo esse “1” entre as linhas e Luiz Araújo, Cueva, Thiago Mendes e Wellington Nem como os 4 meias atrás de Chávez. 

 
Um dos primeiros aspectos desse modelo de jogo, que pôde ser visto ontem, foi a forma como o São Paulo inicia suas jogadas ofensivas: Rodrigo Caio se aproxima dos zagueiros e ganha a movimentação de Cueva. Com os laterais avançados, os dois tabelam, criam triangulações e fizeram o Tricolor ter muito volume de jogo, sempre com verticalidade em direção ao gol. 

 
Poucos toques de lado, muitos passes verticais. A imagem abaixo representa como o SP atacou: os laterais tiveram aquela tradicional função de dar amplitude (fazer o campo ficar maior com dois homens abertos nas pontas). Se os lados do campo são ocupados pelos laterais, o que os pontas do 4-1-4-1 fazem? Flutuam por dentro, tabelam pra sair livre na cara do gol ou “prendem” os zagueiros indo lá na área com Chavez. 

 
Sem a bola (e enquanto o físico dos jogadores deixou), o São Paulo mordeu. Mas mordeu mesmo, não deixando o River respirar em nenhuma parte do campo. Um jogador recebe? Então dois correm para tirar o espaço daquele cara, fazendo o adversário perder a bola, recuar pra trás ou até dar um chutão se as coisas ficarem complicadas.

 
São algumas primeiras ideias, apenas. O São Paulo pode mudar, e muito, com o decorrer da temporada, a possível chegada de Jucilei. Se a primeira impressão foi muito positiva, as primeiras ideias de Rogério Ceni para sua primeira equipe como treinador serão vistas ao longo dos primeiros jogos oficiais.
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Gigante chinesa Alibaba investe quase R$ 2 bi nos Jogos Olímpicos

Logotipo na sede da Alibaba, em Hangzhou, China
Logotipo na sede da Alibaba, em Hangzhou, China

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS 


Alibaba, o gigante chinês de comércio eletrônico, anunciou nesta quinta-feira (19) um acordo de US$ 600 milhões (quase R$ 2 bilhões) para entrar como patrocinador não só da próxima Olimpíada (Tóquio-2018) mas também dos cincos Jogos Olímpicos seguintes.

O anúncio foi feito durante o encontro anual-2017 do Fórum Econômico Mundial, o grande convescote da elite empresarial global. Confirma-se, com isso, a ascensão da China nesse universo, já que coube a seu presidente, Xi Jinping, abrir a reunião, na terça-feira (17).

Jack Ma, presidente do grupo, informou também que Alibaba fornecerá serviços de tecnologia aos organizadores dos jogos até 2028. Criará também um Canal Olímpico, serviço digital de TV destinado a promover os jogos para audiências jovens. Será um canal desenhado para chinesas, o que, considerando o tamanho da população (1,3 bilhão), é suficiente em tese para assegurar seu sucesso.

A ideia, diz Ma, é "levar os Jogos Olímpicos à era digital".

O tamanho do investimento fica ainda mais imponente se comparado às receitas que os atuais 12 patrocinadores forneceram aos Jogos de Inverno de Sochi, na Rússia, em 2014, e aos de verão, no Rio de Janeiro, em 2016.

Segundo cálculo do jornal britânico "Financial Times", foi pouco mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 3,2 bilhões), o que significa que o novo patrocinador entrará com mais da metade do que 12 pagaram pelas edições mais recentes.

É verdade que não é a primeira vez que uma firma chinesa patrocina Jogos Olímpicos: a Lenovo (computadores) o fez na Olimpíada de Pequim (2008), mas a iniciativa da Alibaba é claramente uma incursão bem mais potente.

É também a quebra do virtual monopólio que companhias ocidentais exercem sobre os Jogos Olímpicos, com grifes como Visa e Coca-Cola.

Mas é coincide com o desejo manifestado pelo presidente Xi Jinping de transformar a China em "uma grande nação esportiva".

Como o governo manda em tudo no país, até os clubes de futebol, esporte em que os chineses são inexpressivos, estão comprando em penca jogadores estrangeiros.
Só do Brasil há mais de 40 atletas atuando na China, incluindo titulares da seleção de Tite, como Renato Augusto e Paulinho.

A companhia de Jack Ma foi fundada em 1999 e, em menos de 18 anos, tornou-se a maior empresa de comércio eletrônico do mundo e, seu fundador, em pop-star do mundo empresarial. 
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quinta-feira, janeiro 19, 2017

Estudo da UEFA mostra melhora na gestão do futebol europeu

POR   

Todos os anos a UEFA publica um relatório chamado “Club Licensing Benchmark Report”. Este documento faz parte do processo de controle financeiro criado pela entidade.
Os times, para poderem participar das competições, precisam seguir as regras de licenciamento de clubes e mais recentemente o Fair Play Financeiro.
O relatório apresenta uma série de informações relevantes como aspectos técnicos a respeito de jogadores e treinadores. E principalmente sobre a gestão dos times do Velho Continente, como receitas, custos, lucratividade e dívidas.
Um dado que chamou a atenção foi sobre a origem dos investidores estrangeiros atuais no futebol europeu. Segundo a UEFA, apenas 20% do capital estrangeiro presente nos times é proveniente da Europa.
Os recursos vindos da Ásia representam 39% do investimento, América do Norte 25%, Oriente Médio 9% e outros países 7%.
Receitas
Os times europeus atingiram uma receita recorde de € 16,9 bilhões na temporada 2014-15, frente aos € 15,9 bilhões de 2013-14, um crescimento de 6,3%.

receitas times europeus

Nos últimos 20 anos o crescimento médio do faturamento foi de 9,3% ao ano. Isso representou um aumento nas receitas de quase 600% em duas décadas.
Real Madrid e Barcelona lideram as receitas do futebol europeu. Seguidos de Manchester United, PSG e Bayern de Munique.
Na temporada 2014-15 os direitos de TV movimentaram € 7,3 bilhões, entre os recursos da UEFA e competições nacionais. O marketing faturou € 5,6 bilhões  e os estádios outros € 2,6 bilhões.
De acordo com o estudo, as ligas europeias que mais cresceram em termos percentuais nos últimos seis anos foram a primeira divisão da Inglaterra, seguida das ligas da Turquia, Rússia, Suécia. Suíça, Alemanha, Polônia e Bélgica.
Por outro lado, apenas 46 times já atingiram receitas anuais superiores a € 100 milhões. E apenas 8 times já ultrapassaram € 400 milhões em receitas. O relatório deixa claro que o futebol mundial está cada vez mais concentrado na força dos supertimes.
Custos salariais
Os times europeus apresentaram um total de gastos com salários de  € 10,6 bilhões na temporada 2014-15, representando em média 63% das receitas. Os salários cresceram 7 vezes nos últimos 20 anos e o ritmo médio de crescimento foi de 10,3% ao ano.
A liga com os mais altos salários na Europa é a Premier League com gastos de  € 2,7 bilhões.
Na sequencia vem a Série A com € 1,3 bilhão, Bundesliga  € 1,25 bilhão, La Liga  € 1,24  bilhão, Ligue 1 € 959 milhões, Rússia  € 563 milhões, Turquia  € 520 milhões e Holanda  € 272 milhões.
Os times que concentram os maiores salários são Barcelona com gastos em 2015 de € 340 milhões, Real Madrid  € 289 milhões, Chelsea  € 284 milhões, Manchester City  € 276 milhões, Manchester United  € 266 milhões e PSG  € 255 milhões.
Está claro que muitos clubes comprados por magnatas gastam mais e mais, para tentar equilibrar as forças com as duas maiores superpotências do futebol atual, Barcelona e Real Madrid.
Fair play financeiro funcionou
Segundo dados da UEFA a implantação do Fair Play Financeiro para controlar os excessivos prejuízos no futebol europeu funcionou.
O prejuízo somado dos times europeus em 2011, quando foi criando o novo mecanismo de controle, foi de € -1,67 bilhão. Em 2015 as perdas caíram 81% e atingiram € -323 milhões.
A redução dos prejuízos é uma vitória da UEFA que conseguiu em cinco anos alterar o cenário de perdas astronômicas do futebol na Europa. Nos últimos 7 anos os times da Europa somaram perdas de € -7,1 bilhões.
Prejuizos times europeus
O time mais lucrativo da Europa foi o Liverpool com lucro líquido de € 75 milhões.
Na sequência Newcastle United com € 43 milhões, Real Madrid € 42 milhões, Leicester € 40 milhões e Burnley com € 40 milhões.
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United desbanca Barça e Real e fecha 2016 como clube mais rico do mundo

Red Devils voltam ao topo após mais de 10 anos com faturamento de 689 milhões de euros (cerca de R$ 2,3 bi) na última temporada. Catalães ocupam segunda posição 


Por Londres, Inglaterra 
Tabela relatório Deloitte Manchester United (Foto: Reprodução/Deloitte)Os 20 clubes mais ricos do mundo: valores em mi de euros e a variação de acordo com a lista do ano passado (Foto: Reprodução/Deloitte)
Após mais de 10 anos, o Manchester United recuperou o status de clube mais rico do mundo. Os Red Devils desbancaram a dupla Barcelona e Real Madrid e fecharam a temporada 2015/16 com o maior faturamento do futebol. Com 689 milhões de euros (cerca de R$ 2,3 bi) nos cofres, os ingleses interromperam oito anos de liderança dos merengues. Os dados são da consultoria Deloitte, que publicou nesta quinta-feira o seu estudo anual “Football Money League”.
A última vez que o United havia aparecido no topo foi na temporada 2003/04. O Real Madrid faturou 620,1 mi de euros (cerca de R$ 2,1 bi) e ficou na terceira posição, atrás do rival Barcelona, que registrou ganhos de 620,2 mi de euros (R$ 2,2 bi). Os três clubes se revezam nas primeiras posições desde a temporada 1996/97. É a primeira vez que as equipes batem a casa dos 600 milhões de euros. Como comparação, o Flamengo, que tem o maior faturamento do futebol brasileiro, deve fechar 2016 com receitas de cerca de R$ 420 milhões.
Para manter a liderança no próximo ano, o Manchester precisará se garantir na Liga dos Campeões da Europa. No momento, o time de José Mourinho ocupa a sexta posição no Campeonato Inglês e não se classificaria para a disputa. Bayern de Munique e Manchester City completam o Top-5.
Dos 10 primeiros, cinco são ingleses, dois são espanhóis, um é alemão, um é francês (PSG) e outro é italiano (Juventus). Os três mais ricos (United, Barça e Real) saíram de um faturamento de pouco mais de 100 mi de euros em 1996/97, quando o estudo começou a ser feito, para mais de 600 mi de euros na última temporada.
Gráfico Deloitte relatório (Foto: Reprodução/Deloitte)A variação dos três mais ricos: saíram de um faturamento de pouco mais de 100 mi de euros em 1996/97 para mais de 600 mi de euros (Foto: Reprodução/Deloitte)

quarta-feira, janeiro 18, 2017

Organização de jogo e suas alternativas


Organização de jogo e suas alternativas

por Rodrigo Vicenzi Casarin Universidade do Futebol
No decorrer dos anos, diversos paradigmas foram criados e quebrados, e transformações vêm acontecendo especialmente no Brasil. Transformações, se idealizadas corretamente, sem perda do DNA genuíno, proporcionam câmbios evolutivos relevantes. E esse é um período oportuno de crescimento e discussão da nomenclatura organização de jogo.
Organização de jogo, que alguns anos atrás era um estranho nome, um “fantasma europeu”, atualmente passou a ter uma conotação de grande relevância. Construtos teóricos, práticos e discursos de treinadores e gestores reforçam essa tese diariamente. É só pesquisar ou conversar com profissionais da área para notar diversas ideias explícitas, debatidas e especialmente ratificadas pelas numerosas alternativas organizacionais.
O termo organização pode ser tradicionalmente identificado como a coordenação planejada das atividades, tendo em vista uma quantidade de pessoas com o propósito ou objetivo comum, nítido, através da divisão do trabalho, autoridade e responsabilidade (SCHEIN, 1982). Também como um sistema criado ordenadamente para atender objetivos individuais ou coletivos e, com base nesses objetivos, modelar suas estruturas, estratégias, tecnologias, pessoas e processos (ETZIONI, 1973).
Com uma linha investigativa e reflexiva, Morgan (1996) acredita que uma organização deve ser concebida como um sistema vivo, que existe em um ambiente de interdependência-independência, com percepção satisfatória das suas várias necessidades, perspectivada dentro de uma ideia de que é possível planejar seu funcionamento como uma rede capaz de construir significados coletivo-comunicativos. Essa ideia remete ao entendimento da organização como fluxo e transformação, possivelmente o mais próximo da representação atual da cena organizacional, focalizada para as interações, para os círculos, para contradição e a crise.
Mesmo assim, como em qualquer área de conhecimento, existem várias tendências e todas são válidas. A vida organizacional clarificada por metáforas demonstra um pouco disso:
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Essas “metáforas organizacionais” automaticamente influenciam o entendimento de “organização de jogo” no futebol. Pensando numa definição simples, clara e aberta às várias tendências, “organização de jogo pode ser entendida como uma relação ou fragmentação de ideias específicas, construídas por interação intencional, recusa intencional ou pela individualidade de um dos componentes do jogo (estrutura, elementos e funcionalidade) distinguidas por nível de entendimento e pertinência, considerando intervenientes gerais e um contexto emergente-adaptativo que busca superar o adversário”.
E as equipes de futebol atuam como sistemas cujos constituintes se organizam com uma lógica particular, em função de ideias, num contexto de oposição e cooperação. No sentido em que as suas partes estão ligadas de certo modo e sob alguma norma, pode-se dizer que são sistemas caracterizados pela sua forma particular de organização. (GARGANTA, 1997)
O jogo de futebol é isso: um confronto de organizações singulares que precisam de uma ordem devidamente abalizada. E essa condição permite diversas formas de se organizar, já que não há nada que impeça a diversidade de expressão conceitual e operacional. Conceber as organizações como “formas Específicas de uma forma específica geral” que é o jogo de futebol, cria códigos intrínsecos de desempenho. Assim, cada organização possui sua identidade, demarcada por ideias, processos mais ou menos elaborados, sendo que o fim é sua eficácia qualitativo-quantitativa, ou seja, a vitória. E muitas vitórias são conquistadas por organizações variadas dentro de perspectivas distintas, seja no futebol formativo ou no futebol profissional. Abaixo algumas possibilidades, de muitas encontradas, dentre as alternativas organizacionais:
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Organização Mecânica Numérica e Reatividade Estratégica: procura focar mais na estrutura numérica de jogo. Cria padrões de movimentos rígidos, fechando um pouco a relação interativa do jogo, com exagerada ordem estática. Isola em demasia as tarefas dos jogadores. Também pode mirar exclusivamente na reação dos movimentos do adversário, fazendo a equipe apenas jogar espelhada durante o jogo inteiro, abusando da dimensão estratégica. Sua racionalidade mais formatada faz com que a equipe não se adapte as constantes mudanças que o jogo delineia. É perspicaz na manutenção de uma regularidade, mas pode não sobreviver continuamente ao longo do processo pela rigidez informacional.
Organização Natural dos Jogadores: o jogo possui relações naturais gerais e relações essenciais à interação natural dos jogadores que são capitais. Mas dar demasiada importância, ou deixar exclusivamente para isso, retirando alguns aspectos organizacionais do jogo, pode fazer do jogo um efeito cascata, de um estado caótico desordenado.  Também essa organização está mais baseada no que os jogadores fazem individualmente, dando liberdade excessiva, imprevisibilidade, pouco nível organizacional e escassez informacional. Pela aleatoriedade, dependendo do adversário, pode conseguir fazer prevalecer o estado caótico da estrutura com a combinação do estado caótico do jogo, assim virando um “estado de jogo desordenado cobiçado”.
Organização da Sobrevalorização de um ou dois Momentos do Jogo: os cinco momentos do jogo (ataque-pós-perda-defesa-pós-recuperação-bolas-paradas) estão dentro dos elementos do jogo. Essa organização procura controlar um ou dois desses momentos do jogo, com “eficácia funcional estabelecida”. Trabalha em grande parcela as relações dos jogadores nas ações exclusivas, com preponderância ao momento ou os “momentos fortes” escolhidos para confrontar o jogo. Também pode ter uma forte dominância estratégica. Sua riqueza ou pobreza organizacional e informacional fica suscetível à sistematização e variabilidade da construção processual. Contudo pode ser tonificante, se bem operacionalizada ao longo do ano, devido ao desgaste menor que pode proporcionar.
Organização Conceitual com Excesso Informativo: como o nome já diz, o excesso de informação conceitual, dependendo do grupo de jogadores, e da cultura, pode sobrepor a capacidade de recepção e absorção dos jogadores. Essa informação pode ser passada de diversas formas, mas se passada de forma “copiosa”, com excessos de regras de ação e regras de treino, pode dificultar alguns grupos que não possuem ativação prévia. Esse excesso gera curtos-circuitos internos cognitivos que fazem o conteúdo conceitual ir além das possibilidades dos jogadores. Também pode fazer o jogador apenas jogar pelo conceito, se distanciando dos outros intervenientes da organização do jogo. Porém, se bem equilibrada, pode ser um meio rico para organizar uma equipe.
Organização Interativa: nesse estilo de organização, as várias possibilidades acima podem ser transferidas em uma só, se juntando com outras ideias, e criando uma coordenação interativa de intenções, formando uma rede de interações com demandas interpretativas do jogar que se pretende para enfrentar o jogo. Considera os processos organizacionais relativos às estruturas de jogo, às relações naturais dos jogadores, inter-relações dos momentos do jogo, dimensões do jogo específicas, conjunturas/interações de movimentos, conceitos/princípios, possíveis posturas do adversário e estratégias zonais-coletivas. Se bem operacionalizada pode gerar variações internas que proporcionam uma fluidez de jogo. Aqui entra a ideia de Maturana (2002), a Autopoiese (Autoprodução), entendida como “dinâmica construtiva-interativa de seres-vivos auto-organizados e auto-organizáveis buscando condições e fluidez de equilíbrio-desiquilíbrio-equilíbrio. Ela também precisa ser construída corretamente devido as hierarquias envolta da ideia. Se conter excessos informativosdesconexõesdificuldades de controle ou exacerbação de conteúdos, pode entrar no mesmo panorama da organização conceitual.
Então o que é uma boa organização de jogo? Precisa de rigidez excessiva? Precisa de liberdade excessiva? Mecanizada? Reativa? Formatada? Apenas conceitual? Alguma alternativa que nem está entre as citadas acima? Analisando friamente, organizar o jogo tem um pouco de tudo que foi levantado, então nenhuma perspectiva deve ser pré-julgada ou levada como ópio, apenas norteada com maior identificação.
A questão é criar uma identidade organizacional. Mas como? Somente com reflexões, debates e percepções contextuais. Simplesmente, criar algo próprio, de acordo com a realidade, experiência e conhecimento. Muitas questões no futebol dão certas desacompanhadas, outras conectadas, outras nem estão nas linhas acima, geradas pela sensibilidade individual e imprevisibilidade que cada jogo e cada contexto tem. Por isso, não se pode enxergar apenas uma “Organização da organização”, pois cada novo contexto, cada realidade exige, às vezes, aspectos organizacionais por vezes negligenciados num contexto passado. Não esqueçamos que dentro da cada perspectiva há muita riqueza de conteúdo e reflexões positivas e negativas.
Enfim, o interessante de tudo isso, é ver cada vez mais o crescimento da ideia interativa, que também possui suas diferenciações e alternativas, e que de certa forma, retrata um pouco mais a organização singular de cada equipe, o confronto entre as equipes e a auto-organização provocada.
Abraços a todos e até a próxima quarta!


Referências
ETZIONI, Amitai. Organizações complexas. São Paulo: Atlas, 1973.
GARGANTA, J. M. Modelação tática do jogo de Futebol: estudo da organização da fase ofensiva em equipes de alto rendimento. Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, Universidade do Porto, Porto, 1997.
MATURANA, Humberto. A ontologia da realidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
MORGAN, G. Imagens da Organização. São Paulo: São Paulo: Atlas ,1996.
SCHEIN, H. Edgar. Psicologia Organizacional. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1982.