Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, abril 25, 2016

Norte: a fronteira que aproxima o futebol feminino da excelência

Academia do Iranduba / Divulgação

Há também no futebol, a geografia que nos separa e massacra, promovendo uma espécie de apartheid, enquanto há aquela que nos aproxima e de certo modo nos unifica como a que vem sendo experimentada no Amazonas, em sua capital Manaus. E o objeto dessa experiência que já se configura como mais um case de sucesso é o Iranduba, equipe de futebol feminino manauara, que incorporou a equipe catarinense do Kindermannn, mas que pode perfeitamente ampliar o espectro de seu sucesso às cercanias das bacias hídricas amazônicas.

O Secretário de Futebol Profissional em exercício do Ministério do Esporte, Romeu Castro, esteve em visita ao local, dizendo-se positivamente impressionado com o que viu. Visitou campo de treinamento e de jogos, academia, a casa das atletas, e teve a garantia de que ali o futebol feminino não só pode florescer como já floresce. Sem dúvida alguma, mais de três centenas de clubes brasileiros não possuem a estrutura ali presente. No entanto, frise-se desde já que nada parece megalomaníaco. É tudo pensado e realizado em bases reais e sob o vislumbre da autossustentabilidade. E o investimento, que parece tratar-se de origem mista – privado e público – poderá perfeita e verdadeiramente produzir um legado esportivo para parte da população daquele estado.

O futebol feminino do norte do nosso país agora tem um representante de peso e respeito, que esperamos não venha a sofrer de inanição, também não engrossando as fileiras da trágica mortalidade infantil do empreendedorismo nacional. Que o Iranduba, que renasceu da ‘transgenicidade’ e o do ‘transgerencial’ possa vencer a barreira da efemeridade, para transformar-se em agente propulsor do desenvolvimento do futebol feminino das regiões norte e nordeste. Mesmo que não haja uma relação osmótica entre essas regiões, mas há uma tendência quase que natural de certo mimetismo, para que a bola imite a vida, ou a vida de uns imite a de outros.

Ao acompanharmos o que se passa no Brasil e no mundo do futebol, percebemos que isso nos coloca diante da possibilidade do conhecimento, e este diminui as fronteiras e isso em certo grau nos emancipa, promovendo o processo de nossa inclusão ao conhecimento global. Do ponto de vista prático, podemos dizer que o norte e o nordeste brasileiros passam a integrar mais fortemente o processo de formação de atletas do futebol feminino, o que lhes permite participar da produção e renovação de valores, desse modo democratizando e legitimando a base feminina brasileira, que poderá contar com um número maior de núcleos formadores, e todos trabalhando de forma menos dissonante.


sexta-feira, abril 15, 2016

Discussão ‘made in’ Nordeste da formação de base

Créditos da imagem: Diário de Pernambuco
Por: Benê Lima
INTEM e CMF 008INTEM e CMF 011 2Sinceramente, não me surpreende que esse ou aquele gestor de campo brasileiro exponha, da forma como o fizeram alguns dos participantes do recente I Encontro Pedagógico do Futebol, realizado na Câmara Municipal de Fortaleza, aquilo que o raciocínio analítico dedutivo já nos vem mostrando ostensivamente há alguns anos. Ou não é uma realidade que temos sido uma das maiores vítimas do processo de globalização do futebol, em que nossa identidade acabou por ser quase inteiramente subjugada?
Não importa o sentimento pelo qual sejamos tomados ou até aturdidos, ao introjetarmos a pungente realidade de estarmos perdendo nosso protagonismo no mundo da bola. O essencial é que admitamos nossa nova condição, para que possamos identificar as causas a ela inerentes, além daquela que acabamos de propor e que, repito, passa pela reprodução do modelo globalizado. Se o problema existe e tentar mistificá-lo não produzirá as soluções que ele reclama, só nos resta trabalhar de modo diligente e criterioso para propor soluções. Portanto, a grande interrogação a ser feita é: quais os caminhos a seguir para mudarmos o atual estado do futebol brasileiro?
Não resta dúvida que a solução ‘barcelonista’ como resposta à questão acima proposta é a detentora do maior apelo e poder de sedução. Contudo, além de certo grau de incompatibilidade com a realidade socioeconômica e cultural brasileira, por seu alto custo e complexidade, ela excluiria a grande maioria dos times brasileiros, pela falta de estrutura dos clubes que lhes dão origem. Outro fator de desencanto pela solução catalã é que ela não é implantável sequer em médio prazo, o que dirá em curto prazo. Ademais, ela exigiria daqueles clubes que quisessem adotá-la a criação de uma superestrutura para as suas divisões de base, condição inaceitável para alguns e inatingível para a grande maioria deles.
INTEM e CMF 027 3Pelo que expomos até aqui, creio que a percepção dos leitores, com base na ‘sintomatologia’ do problema, já os conduziu a um vislumbre da equação problema-solução, que a nosso juízo passa pela reavaliação de toda a metodologia de trabalho que vem sendo utilizada nas categorias de base, com destaque para a reformulação da formação dos atletas.  A propósito, numa nossa recente participação em um seminário com o propósito de discutir o trabalho de base dos clubes de futebol no estado do Ceará, assistimos, um tanto perplexo, aos questionamentos dos integrantes das comissões técnicas, sobre as razões de tão baixa produção em seus clubes, sobretudo em posições de características mais defensivas, como zagueiros e goleiros.  Observamos, pois, que a convicção que nos acompanhava da localização do problema estar nos limites das comissões técnicas, notadamente em suas metodologias de formação dos atletas, não encontrava ressonância alguma naquela plateia, o que nos fez ver que por isso a solução ainda estava distante.
Aos clubes não basta terem em suas fileiras profissionais competentes sem que eles e seus projetos sejam acreditados. Por sua vez, crer-se neles significa dar-lhes todas as condições de trabalho (estrutura, logística, equipamentos, etc.). Feito isso, os clubes precisam manter em sua estrutura técnico-administrativa um mínimo de capital intelectual para a gestão de suas comissões técnicas, sem o quê não se construirá parâmetros de aferição confiáveis do trabalho delas.
Com a reinvenção do trabalho das comissões técnicas, antevejo dois níveis de concepção de trabalho, com o objetivo de lidar com as diferentes realidades dos clubes. Uma dessas concepções se pautaria pela predominância da excelência; a outra se ocuparia da promoção da ‘alquimia’ típica da inovação e da criatividade.
É preciso admitir que a competência dos nossos profissionais não tem sido suficiente para que sejamos modelo na formação de atletas, tampouco na execução do jogo com todas suas variantes. Também não precisamos ir à Espanha para confrontarmos essa realidade. Basta considerarmos, proporcionalmente, a vizinha Argentina para verificarmos que ficamos para trás na formação do atleta e do cidadão, bem como na eficácia do treinamento. Não por acaso, qualquer atleta brasileiro mediano, produz mais onde se valoriza o aspecto coletivo do futebol que no próprio Brasil, onde viceja o culto à individualidade.
Ficamos na abordagem meramente de base técnica, deixando para uma próxima oportunidade os cuidados com o aspecto financeiro, o provedor de qualquer experimentalismo.

quinta-feira, abril 14, 2016

Um toque sobre a mixórdia que é o futebol

 
Tento acomodar o foco de minhas palavras neste espaço, como se fossem auto injunções sobre o futebol nordestino, quando muito apenas divagando sobre a atmosfera do norte. Mas essa geografia que a muitos pode parecer lógica, coerente e justificada, na verdade não é nada disso, pois é necessário respirarmos a atmosfera dos clubes e do futebol em seus locais para formarmos opiniões e ideias mais consentâneas com suas realidades.

O parágrafo inicial tenta justificar algumas digressões geográficas, já que não faltam temas candentes e instigantes em nosso país que nos chamam a atenção. A presença da empresa belga Double Pass, tentando vender sua expertise em estruturação das categorias de base à CBF, a omissão das pessoas em geral no processo de reformulação da gestão da mesma CBF, casos de menor importância, mas curiosos como o que envolve outra vez o jogador Fred e sua egolatria, e numa perspectiva mais globalizada a atitude do treinador do Barcelona de solicitar acréscimo ao elenco que dirige, o case Leicester à luz da melhor divisão de receitas de televisão do planeta, como é a da Premier Ligue, entre outros fatos que pululam globo afora, são um pouco do alvo das minhas digressões.
 
 Do alto direito do mapa do Brasil, onde pelos cabos submarinos transitam um incontável número de mensagens, conexões e documentos da World Wide Web, vemos a compressão de do mundo da informação, cuja tecnologia nos aproxima, numa das mais eloquentes expressões inclusivas e democráticas planetária. É assim que também o futebol se interliga, desse modo aprofundando o processo de globalização que igualmente vai assumindo contornos de unificação das identidades por essa fantástica acessibilidade.  

Mais um bom evento

Evento educacional e formador bom é aquele que produz conhecimento, efeitos perceptíveis e duráveis, e eis o que foi o Encontro realizado entre o treinador da Seleção Brasileira Sub-20 de futebol feminino, Doriva Bueno e o staff cearense da modalidade. No mesmo evento, que teve como local a Federação Cearense de Futebol, esteve presente o Diretor de Futebol Profissional do Ministério do Esporte, Romeu Castro, que vai além de um mero burocrata ou mesmo tecnocrata. Romeu é um profundo conhecedor do futebol feminino e da gestão do esporte. Portanto, só agregou valor ao encontro.  
Treinador da Seleção Brasileira Sub-20 de futebol feminino, Doriva Bueno,
em visita ao Projeto Menina Olímpica
Mas considero como o grande achado do encontro, a ideia da busca pela unificação da metodologia de formação das atletas, sobretudo a partir do entendimento de que a seleção não é lugar para isso, e sim os clubes e projetos aos quais elas estão vinculadas. Portanto, isso muda não só nossa visão do processo, como estabelece a necessidade de revisão dos princípios. E assim trabalharemos daqui por diante. É como a história da mente que se expande que felizmente não mais volta a seu estado dito original.

Mais digressões

Comitê de Reformas do Futebol da CBF. A participação pífia de agentes e pacientes retira um tanto de legitimidade das ações desta iniciativa. Todavia, temos que reconhecer que a inclusão de todos os pontos cardeais brasileiros seria importante para construirmos uma política nacional para o futebol. Uma reformulação progressista, criteriosa e inclusiva das 64 páginas do estatuto da entidade é de imensa importância para o futuro do nosso futebol. Afinal, vivemos o momento em que o futebol internacionalizado é mais football e soccer que futebol.

Reformulação da metodologia de formação da base. A CBF mostrou-se insensível, ao que parece, à expertise e aos consagrados cases de sucesso da empresa belga Double Pass. Essa consultoria esportiva presta serviços para a Federação Alemã de Futebol, para a Premier League, para a Federação Belga de Futebol e para os EUA, além de um total de 500 clubes. Mais uma vez, vale ressaltar o link entre o que pode ser feito em nível macro e em termos microrregional.

Fred e seu culto à egolatria.  Creio que discutirmos as idiossincrasias do Fred nos rebaixa um pouco como comentaristas. É como se isso fosse algo relevante no contexto da gestão esportiva. Não vejo exatamente como briga o confronto de quem tem juízo com outro que age como se não tivesse e a quem falta resiliência. A dificuldade do Fred em ser comandado talvez guarde uma estreita relação com seus exorbitantes proventos. Talvez isso o desloque da realidade corporativa e reforce nele a rejeição à observância de um mínimo de hierarquização.

O fenômeno Leicester. Dele, sem dúvida, – aí sim – podemos pinçar algumas situações com caráter senão de injunção, mas axiomático. Como esporte coletivo, o futebol permite que um ajuntamento de jogadores entre bons e medianos possa superar um elenco de jogadores tidos como de melhor qualidade técnica. Outro aspecto antiparadigmático é o de que o dinheiro não resolve tudo no futebol. Há soluções que passam pelo aprimoramento da eficiência dos processos de gestão e de treinamentos, pela inovação e pela busca da excelência dos aspectos coletivos do jogo. E para não falarmos em separado do aspecto socializante da divisão de receitas da Primeira Liga Inglesa, cabe conectarmos tal realidade ao surpreendente Leicester City, como elemento potencializador do sucesso desta equipe.

Não há geografia que resiste ao poder de unificação dos conceitos universais do futebol destes tempos, razão pela qual o norte, o nordeste, o sul, o sudeste e o centro-oeste brasileiros de alguma forma se acham conectados.

(Benê Lima)

domingo, abril 03, 2016

Tostão: É hora de trocar o técnico

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Parabéns à repórter Gabriela Moreira, da ESPN Brasil, pela matéria investigativa sobre a influência da CBF no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Ninguém é ingênuo, purista, para acreditar, ou pelo menos não desconfiar, ainda mais neste momento por que passa a CBF e o país, que foi coincidência a seleção brasileira ter se hospedado no hotel do qual o ex-jogador Lúcio é sócio e, ao mesmo tempo, a CBF convidá-lo para ser o auxiliar pontual nos dois últimos jogos. Não estamos na Noruega. O diretor Gilmar Rinaldi, em vez de contar a vantagem de que manteria o convite mesmo se soubesse da ligação entre Lúcio e o hotel, deveria evitar insinuações e desconfianças.

Além disso, a Confederação da Noruega, por excesso de cuidado e por conhecer as fraquezas humanas, não convidaria para diretor de sua seleção alguém que era empresário de atletas, mesmo que interrompesse sua atividade.

Os resultados e as atuações da seleção nos seis primeiros jogos pelas Eliminatórias foram os esperados. Poderia ser pior, já que o Brasil não mereceu o empate com a Argentina e empatou com o Paraguai no último minuto. Além das habituais deficiências individuais e coletivas, ficou ainda mais evidente, contra Uruguai e Paraguai, a irregularidade da seleção e do futebol brasileiro, por dependerem demais de espasmos e de lances individuais e isolados.

A seleção e as equipes brasileiras, com algumas exceções, há décadas, não sabem atuar coletivamente. Além do hábito de jogar por estocadas e lances esporádicos, não há um excepcional meio-campista para fazer a transição, a troca de passes, entre a defesa e o ataque. Essa falta é decorrente da estratégia ou a ausência de craques no meio-campo faz com que o time jogue dessa forma? As duas coisas.

Dunga não é o responsável por isso, mas ele não faz nada para a seleção evoluir, embora, no segundo tempo contra o Paraguai, ele tenha agido bem, ao trocar os volantes por um meia e um atacante, quando percebeu que o adversário foi todo para a defesa. Era também óbvio. O time reagiu, com garra. Dizer que falta comprometimento aos jogadores é fazer média com o torcedor, que adora essa crítica, sempre que a Seleção joga mal.

É necessário criar mudanças táticas e individuais. O perigo, quando se muda, é ficar ainda pior. Por causa da reação contra o Paraguai, uma situação circunstancial, alguns comentaristas já pedem o meio-campo com Renato Augusto, Philippe Coutinho e Lucas Lima. Querem afundar mais ainda a seleção. É essencial ter um volante, pelo centro, que marque e que tenha um excelente passe. Não temos esse jogador, mas existem outras opções, como Casemiro.

Apesar da incerteza de que a seleção melhoraria com um novo técnico, está na hora de Dunga e de Gilmar Rinaldi saírem, desde que o técnico seja Tite, mesmo com seu “titês”. Não pode ser qualquer um. Tite se preparou para isso.

Tite deveria assumir imediatamente, com urgência. É muito difícil, mas é preciso vencer e, ao mesmo tempo, iniciar um novo futuro para o time brasileiro. Futuro não é destino. Futuro é o que será construído.
Planejamento

Dizem que o Cruzeiro já engatilhou a contratação de três bons reforços. Ótimo. Enquanto isso, Deivid, no Campeonato Mineiro, aos poucos, forma um bom conjunto. Se os reforços chegarem com a equipe jogando bem, fica muito mais fácil dar certo.

De outra maneira, o mesmo acontece no Atlético, que já tinha um time formado desde o ano passado e que tem trazido reforços pontuais.

No futebol brasileiro, geralmente, ocorre o contrário. Os times, quando estão muito mal, desorganizados, apelam para reforços caros. Sem um bom conjunto quando eles chegam, acabam decepcionando. Na sequência, geralmente o clube contrata mais jogadores caros e não sai do buraco. Neste ponto, Cruzeiro e Atlético estão à frente.
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sábado, abril 02, 2016

De Blatter a Infantini: Novas perspectivas para o Futebol Feminino

Luiza Loy BertoliSuellen Ramos
No dia 26 de fevereiro, foi realizada a eleição que nomeou Gianni Infantino como o novo presidente da FIFA e sucessor de Joseph Blatter. Dias depois de assumir o cargo, Gianni participava da II Conferência Futebol Feminino e Liderança, organizada pela entidade em Zurique (Suíça), no dia 07 de março. O encontro teve como foco organizar reformas em prol da igualdade de gênero na modalidade, tanto para as mulheres que praticam futebol, quanto para as mulheres que almejam cargos na gestão desse esporte.
Uma das reformas aprovadas no evento é de que, pelo menos, seis mulheres serão incorporadas ao novo conselho que substituirá o Comitê Executivo (órgão responsável por tomar as principais decisões da instituição). Atualmente, o Comitê Executivo da FIFA conta com a presença de uma única mulher: Lydia Nsekera, que foi membro do Comitê Olímpico Internacional em 2009 e em 2012 foi a primeira mulher a integrar a organização.
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Gianni Infantino. Foto: Twitter (reprodução).
Em fala, durante a II Conferência Futebol Feminino e Liderança, o então presidente, Gianni Infantino, assumiu o futebol feminino como prioritário: “O futebol feminino e a mulher no futebol são uma prioridade, são parte da solução para o futuro deste desporto”, disse. Não foi o primeiro momento em que o futebol feminino é mencionado como uma prioridade na FIFA; O ex-presidente Joseph Blatter, em janeiro de 2013, apostou alto no futebol feminino. Acreditava que a expansão mundial partia das federações nacionais e previa serem “as mulheres o futuro do futebol”.
Estas primeiras explanações surgem com o intuito de fazer um balanço a nível nacional das mudanças ocasionadas a partir da fala do presidente da maior entidade do futebol no ano de 2013, até os tempos atuais. Buscando perspectivas para os próximos anos e questionando: quanto o comandante da entidade suprema do futebol influencia nas ações brasileiras para o desenvolvimento do futebol feminino? O que mudou de uma fala para outra? Algumas ações já podem ser percebidas, tanto dentro, quanto fora de campo.
A CBF reiniciou em 2013, o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, que contou com apoio da Caixa Econômica Federal para seu financiamento. Participaram desta primeira edição as 20 melhores equipes ranqueadas pela entidade. A competição que trazia dúvidas em relação a sua continuidade já está na quarta edição. A novidade deste ano são os clubes de camisa que ingressaram no Brasileirão: América – MG, Corinthians – SP, Flamengo – RJ, Santos – SP e Vasco da Gama – RJ, o que de certa forma dá maior visibilidade à disputa. Com inicio no dia 20 de janeiro de 2016 e a participação de 20 times, o campeonato se encontra na fase das quartas-de-final. Em virtude da Copa Algarve, a competição sofreu uma pausa na metade de fevereiro reiniciando em março, com as oito melhores equipes já classificadas.
Viana - MA - 27/01/2016 - BRASILEIRÃO CAIXA 2016 - ESPORTES - Jogo 16 (Segunda Rodada) do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino “Brasileirão Caixa 2016” entre, E.C. Viana X C.R. Flamengo, realizado no estádio Djalma Campos em Viana, MA; válido pelo grupo 04 do Brasileirão feminino 2016. Foto: BIAMAN PRADO / ALLSPORTS
Flamengo em ação pelo Campeonato Brasileiro. Foto: Biaman Prado / ALLSPORTS.
Na semana posterior à declaração de Gianni Infantino, a Seleção Brasileira estreava na Copa Algarve pela segunda vez. Esse campeonato acontece desde 1994, mas contou com a presença das brasileiras somente em 2015. Em sua primeira participação, a equipe canarinha finalizou a competição em sétimo lugar entre doze Seleções. Já em 2016, um ano após a criação da Seleção Permanente, as brasileiras conquistaram o segundo lugar, perdendo apenas para o Canadá na disputa final. Para quem não conhece ou nunca ouviu falar, a Seleção Permanente foi convocada pela primeira vez em janeiro de 2015, com objetivo de melhor preparar as jogadoras para as competições internacionais, principalmente, a Copa do Mundo do mesmo ano e os Jogos Olímpicos de 2016.
Envolveu a contratação de um grupo seleto de 27 jogadoras pela CBF, que fornece ao elenco as instalações da Granja Comary em tempo integral e salários mensais de até R$ 9 mil. O projeto tem seus pontos positivos e negativos. Uma das vantagens é a estabilidade salarial e de trabalho proporcionada às atletas, visto que em clubes que disputam o Campeonato Brasileiro, a remuneração não passa de R$ 2,5 mil mensais e por muitas vezes suas instalações são precárias e as condições de treinamento são inconstantes. Além disso, o benefício de se manter uma equipe em treinamento constante é de que a mesma se torna competitiva e de qualidade. E uma das desvantagens envolve exatamente esses clubes que participam de campeonatos nacionais e “perderam” suas jogadoras para a Seleção Permanente, resultando na queda de qualidade das equipes e no enfraquecimento das competições, uma vez que a maioria do elenco é oriunda dos clubes que mais se destacavam no cenário nacional. O projeto Seleção Permanente já colheu alguns frutos e resultados positivos, sendo eles dois títulos: dos Jogos Pan-Americanos e do Torneio Internacional de Natal, ambos em 2015.
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Foto das jogadoras e da comissão técnica do Brasil ao conquistar a taça do Torneio Internacional de 2015. Foto: Rafael Ribeiro / CBF.
A sétima edição da Copa do Mundo foi sediada pelo Canadá e teve inicio dia 06 de junho. Foi marcada pela quantidade de equipes na competição que passou de 16 para 24 seleções. O Brasil encerrou a participação nas oitavas de final, sendo derrotado pela Austrália pelo placar de 1 a 0. Nessa edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino, outra novidade foi o lançamento do álbum de figurinhas da Copa com todas atletas das Seleções participantes. Em 2011 na Copa do Mundo da Alemanha, o álbum circulou somente do país sede, como o resultado surpreendeu, a Panini expandiu a destribuição para os demais países participantes da competição na edição de 2015. Com isso, as vendas no Brasil tiveram inicio em maio do mesmo ano.
No ano de 2015 a CBF investiu R$ 18,258 milhões no futebol feminino, quase o dobro do valor do ano anterior (R$ 9,583). Do legado da Copa do Mundo de 2014, R$ 45 milhões foram destinados ao futebol feminino, a quantia ainda é considerada pequena para um país como o Brasil, mas devemos admitir que nunca se aplicou tanto na modalidade. E os investimentos não chegam apenas por parte da Confederação Brasileira de Futebol. Um grande apoiador tem sido o Ministério do Esporte através de algumas intervenções feitas pela entidade. Entre elas, o aporte ao Campeonato Brasileiro desde 2013 e à Copa Libertadores da América desde 2012. São 137 jogadoras beneficiadas com a Bolsa Atleta, e 22 atletas que servem a Seleção, com o provento do Plano Brasil Medalha. Por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, será construído em Foz do Iguaçu (Paraná), um Centro de Excelência de Futebol Feminino, que contará com dois campos, alojamento, academia, ginásio e vestiários. O CT servirá de base para treinamentos de times e seleções de futebol feminino., mas ainda sem data para inauguração.
Em 04 de agosto de 2015, o governo implantou uma lei, que se pode compreender como incentivo ao futebol feminino, foi a criação do Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (PROFUT) – um programa do governo para clubes prolongarem o prazo para quitar dívidas e pendências – mas há uma exigência na Seção X do Artigo 4º onde os clubes terão que apresentar um investimento mínimo na formação de atletas e no futebol feminino. Já são 111 times que aderiram ao PROFUT, com isso, houve o crescimento na participação de times de camisa no Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, como dito anteriormente.
A presidenta Dilma Rousseff durante cerimônia de assinatura de Medida Provisória para modernizar a gestão e a responsabilidade fiscal do futebol brasileiro, no Palácio do Planalto. Foto: José Cruz / Agência Brasil.
Além de investimentos, a visibilidade para o futebol feminino e para a história das mulheres nesse esporte vem aumentando. Citamos algumas estratégias extracampo que estão mobilizando a modalidade. Está acontecendo desde o dia 08 de janeiro no SESC SP, a Exposição Futebol Delas, organizada pela jornalista Lu Castro – Exposição que retrata por meio de textos, vídeos, fotografias e objetos pessoais de atletas e comissão técnica, a história de 20 anos da participação da seleção brasileira de futebol feminino nas cinco edições do torneio olímpico. E no Museu do Futebol há Exposição da Visibilidade para o Futebol Feminino, até o dia 08 de abril, onde conta a história das mulheres que lutaram pelo direito de jogar, com objetivo evidenciar o futebol feminino provocando nossa forma de enxergar a história desse esporte.
Presidente da FIFA Blatter fala durante o sorteio dos grupos para a copa das confederações, 1 Dezembro de 2012. MOWA PRESS
Não é possível associar as melhorias do futebol feminino às ações do ex-presidente da FIFA, Joseph Blatter. Foto: Mowa Press.
Analisando estes três anos que se passaram, podemos concluir que a nível nacional, tivemos avanços significativos no futebol feminino, no entanto, não se pode afirmar que tais avanços foram diretamente influenciados pelo ex-presidente da FIFA Joseph Blatter ou simplesmente pela pressão interna de quem faz parte da modalidade no país. Destacamos os esforços para o desenvolvimento e fomentação do futebol feminino brasileiro, assim como deixamos a avaliação de que ainda há muito para evoluir, por exemplo, os campeonatos estaduais praticamente não tiveram alterações. Os esforços em prol da modalidade parecem estar voltados prioritariamente para a seleção nacional. O Brasil segue como um dos países mais conservadores quando se trata de futebol e mulheres, principalmente em relação ao preconceito e visibilidade. Mas hoje, podemos arriscar que finalmente vislumbramos um futuro na modalidade. E as palavras de Gianni Infantino, além de esperança, nos dão fôlego.