Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, março 30, 2018

Marketing dos clubes brasileiros precisa se reinventar

AMIR SOMOGGI
O futebol brasileiro precisa de forma definitiva mudar seu modelo de administração. O sistema político atual e suas danosas consequências para a gestão dos clubes precisar estar adaptado à realidade das empresas.
As entidades podem mudar sua estrutura jurídica para empresas ou se manter como clubes, mas precisam de forma urgente modificar com são administrados.
Não é possível que clubes que faturam mais de R$ 300 milhões por ano ainda sejam geridos de forma tão precária.
Um dos pontos centrais dessa mudança passa pelo departamento de marketing e comunicação dos clubes. Analisando pelo marketing, somos um fiasco como Indústria do Futebol.
Segundo meu último estudo os clubes brasileiros faturam R$ 593 milhões com patrocínios, um mercado global de mais de R$ 150 bilhões, representamos apenas 0,4% do total.
Em termos de licenciamento a diferença é ainda pior, já que os clubes brasileiros faturam irrisórios R$ 90 milhões por ano, de um mercado global de mais de R$ 65 bilhões, representamos 0,1% do total.
Essa baixa representatividade, para um país como o Brasil, gigante de mídia e entretenimento, somete tem uma explicação, má gestão das marcas dos times.
Os clubes são gigantes adormecidos que precisam mudar seu marketing, orientando esse canhão para a nova era que vivemos. As marcas dos times precisam estar alinhadas com as modernas técnicas de marketing esportivo da atualidade.
Nesse cenário, os patrocinadores se tornam parte do show, ajudam os clubes a propagar suas marcas e os torcedores têm novos mecanismos para expressar sua paixão.
No atual modelo arcaico de buscar marcas para estampá-las nos uniformes, os nossos clubes movimentam com marketing R$ 683 milhões, frente aos R$ 6 bilhões de ingleses, R$ 5 bilhões dos alemães e R$ 3 bilhões dos espanhóis.
O marketing para muitos clubes europeus já é a principal fonte de receita, à frente dos contratos televisivos. Clubes como Bayern, Barcelona, Manchester United e Real Madrid dominam este mercado.
Cada clube tem dezenas de marcas parcerias e suas receitas comerciais superam R$ 1,3 bilhão cada um por ano.
Aqui nossos clubes vivem de poucos patrocinadores, sempre com foco na visibilidade de marca e por isso o faturamento é tão baixo. Os que mais faturam são Palmeiras com R$ 90,7 milhões, Corinthians R$ 71,5 milhões e Flamengo R$ 66,4 milhões.
Os demais muito menos. Grêmio R$ 35,5 milhões, São Paulo R$ 35,3 milhões em patrocínios, Internacional R$ 34,2 milhões e Atlético-MG R$ 31,6 milhões.
O que nenhum clube ainda percebeu, inclusive os que mais faturam, é que simplesmente expor marcas não é mais o suficiente. Os clubes precisam se transformar em uma concreta plataforma de negócios.
Para isso não adianta depois de lotar os uniformes colocar os produtos expostos nas coletivas, que mais parecem balcões de mercadinhos de bairro.
Toda essa mudança somente vai ocorrer junto com uma gestão que gere credibilidade para o mercado. Os clubes administrados como estão, não atraem as marcas mais valiosas para serem seus patrocinadores.
O retorno de mídia não é mais suficiente para atrair marcas parceiras.
Chegou a hora do marketing dos clubes ser reinventado. Modelos bem-sucedidos pelo mundo não faltam, a questão é sairmos da caixa que nos enfiamos.
Branding é o caminho
O marketing atual dos clubes parou no tempo. A saída é modernizá-los com um amplo projeto de longo prazo de branding.
Cada clube tem um DNA único.
Isso precisa ser entendido e convertido em reais oportunidades de negócios.
Os gigantes europeus fizeram isso e abocanharam os bilhões de dólares movimentados com marketing esportivo no mundo.
Todos colocaram de pé um sólido projeto de branding

quarta-feira, março 28, 2018

A periodização e seus ciclos


Ciência do Treinamento
A periodização de um programa de treinamento é fundamental para o sucesso de um atleta e clubes desportivos. Tal estratégia exige várias etapas, denominadas Microciclos, Mesociclos e Macrociclos, onde cada uma delas tem uma função e caracteristicas próprias. Abaixo destacaremos o conceito de cada um deles:
Microciclo
Os Microciclos são as menores unidades do processo de periodização. São caracterizadas pelas sessões de treinamento e podem ser variáveis em período de acordo com a quantidade de sessões totais, normalmente totalizando entre 1 a 4 semanas de treinamento, variando de acordo com a capacidade a ser trabalhada.
Os objetivos a curto prazo são conquistados de microciclo á microciclo, como a melhora em alguma técnica mais simples, correção de posicionamento, entre outros. O ajuste da intensidade e volume de treinamento é fundamental nessa fase para se alcançar os resultados esperados sem que haja contratempos.
Um exemplo de um microciclo no esporte pode ser a preparação de um clube de futebol durante a semana para a preparação especifica para a partida no final de semana. O trabalho é direcionado para aquele adversário visando melhorar características que os façam ter melhorias físicas, técnicas e táticas que sejam importantes para se obter sucesso.
Nesse momento, o treinador deve interagir com o aluno/atleta e expor objetivos, métodos utilizados, discutir dificuldades, prioridades e o desenvolvimento (BISQUOLO, 2010).
Mesociclo
O Mesociclo é uma etapa mais extensa no período de treinamento e normalmente tem duração de 2 a 6 semanas ou microciclos (BISQUOLO, 2010).
A duração dos mesociclos são variáveis de acordo com o calendário competitivo ou período proposto para alcançar objetivo geral. Em geral, existem mesociclos em várias etapas, normalmente introdutórios, pré competitivo, competitivo e recuperação.
Podemos citar como exemplo de mesociclo a pré temporada, onde os atletas voltam de férias e buscam recondicionamento físico visando estar preparados para a temporada (pré competitivo), Preparação de manutenção de condicionamento, prevenção de lesões e aprimoramento tático de longo prazo durante a temporada (Competitivo) e o trabalho de recuperação, onde o atleta já está esgotado da temporada e precisa de um trabalho com cargas mais leves que não permite que pare totalmente, porém, permite regeneração (Recuperação).
Macrociclo
O planejamento geral, visando o maior objetivo de um periodo longo de treinamento é denominado Macrociclo. Um macrociclo é composto de vários mesociclos (no mínimo quatro). Um mesociclo é formado por vários microciclos, normalmente de dois a seis (Dantas, 1985).
A união entre os resultados dos micro e mesociclos levam ao resultado conquistado no macrociclo. Ele pode ser variável dependendo da modalidade praticada.
Alguns exemplos de macrociclo são: Macrociclo para a temporada de clubes de futebol, normalmente tem duração de um ano. Macrociclo para
seleções nacionais de futebol visando a Copa do Mundo, normalmente com duração de quatro anos. Macrociclo de atletas olimpicos visando os Jogos Olimpicos, duração de quatro anos.
Considerações
O bom planejamento de todas as etapas do treinamento é um diferencial entre a preparação de clubes e atletas, sendo determinante para o alcance de ótimos resultados.

Com forte investimento, Alemanha cria o ‘Vale do Silício’ do futebol

Estadão Conteúdo

Resultado de imagem para Joachim Löw
Divulgação

A ambição da Alemanha é maior do que “apenas” faturar o pentacampeonato na Rússia e se igualar ao Brasil no número de títulos mundiais. No mesmo mês da Copa, a federação alemã de futebol (DFB) dará início a um projeto que promete ser por muito tempo o ápice da tecnologia e da ciência aplicadas ao futebol. É a Academia DFB, a nova sede e centro de treinamentos e estudos da federação em Frankfurt, que já vem sendo chamada de “Vale do Silício” do futebol.
No país, o projeto é visto como um caminho natural para que Alemanha se consolide como a maior potência do futebol mundial. E a aposta é na inteligência. Serão investidos mais de 110 milhões de euros (cerca de R$ 450 milhões) para a construção de um complexo tecnológico e esportivo de mais de 54 mil metros quadrados, compostos por campos, academia, além de laboratórios e salas de aula.
A estrutura será erguida com patrocínio de uma empresa de software para gestão no terreno de um antigo hipódromo da cidade alemã. Como contrapartida para a construção da Academia, nove hectares de floresta nativa deverão ficar intactos e a federação criará um parque público, o “Parque Cidadão”, como parte do projeto.


A Academia DFB, o 'Vale do Silício do futebol'
O objetivo é o de ser o líder na análise digital da esporte, fator considerado como a nova etapa na qual uma comissão técnica terá de mergulhar. Para os alemães, estatísticas como posse de bola e a distância percorrida por um jogador em campo são dados “ultrapassados”. “O que se quer saber é a eficiência de um jogador. E não quanto tempo ele fica com a bola no pé”, disse um representante da DFB.
O projeto preocupa os demais países europeus, alarmados com o salto que o centro poderá dar aos alemães. Para especialistas da Uefa, a mudança pode ser da mesma dimensão que a revolução ocorrida nos anos 50, quando seleções adotaram preparadores físicos profissionais.
INTEGRAÇÃO – Um dos objetivos do trabalho integrado é tentar resolver qualquer problema dentro de campo. Um jogador com baixo aproveitamento em finalizações, por exemplo, poderá ter todos seus chutes a gol monitorados por um sistema que entregará relatórios com informações sobre força do chute, curvatura da trajetória da bola e posição do pé do atleta no momento do impacto. Com os dos nas mãos dos treinadores, a aplicação vai para o gramado e, para a federação, o caminho para a melhora se torna natural.
“A estrutura está sendo pensada para garantir que nossos melhores jogadores e nossas melhores mentes encontrem as melhores condições para trabalho”, afirma o presidente da federação alemã, Reinhard Grindel. “O resultado será o destaque no futuro, e muitos títulos para a Alemanha. Isso também via impulsionar o futuro, já que, quando um time joga com sucesso, as crianças e jovens passam a emular seus ídolos.”
Joachim Löw, o treinador da seleção alemã, acompanha de perto o desenvolvimento do projeto da Academia DFB. “A Academia será onde desenvolveremos jovens atletas e ideias para nosso futebol. O design, seus campos e áreas verdes dão uma ideia do que pode acontecer lá”, disse em carta aos moradores de Frankfurt.  
O projeto, que a federação espera poder inaugurar em 2020, tenta atrair a atenção de empresas de tecnologia ao redor do mundo. No início deste mês, o diretor de projetos da DFB, Oliver Bierhoff, esteve na Califórnia visitando empresas do setor. “O intercâmbio é fundamental para que possamos manter as parcerias existentes e, ao mesmo tempo, obter novos insights. Digitalização, inovação e pesquisa estão se tornando cada vez mais importantes no esporte de primeira classe, e é isso que queremos”, disse Bierhoff.

UM NOVO, MAS CRÍVEL FUTEBOL

Nenhum texto alternativo automático disponível.
Foto: Divulgação
Por: Benê Lima

O jogo desta terça, 27/03/2018, entre Brasil e Alemanha serviu para mostrar a quem ainda não enxergava, que o Brasil é um time que adquiriu sua mais tática postura em sua história.

Além da técnica individual de seus jogadores que não é a maior de todas, mas que está entre as melhores, a organização coletiva da equipe de Tite é algo a ser destacado.

Tais qualidades precisam ser entendidas dentro de uma nova configuração e estratificação das forças do futebol no planeta, que mostra o Brasil como uma dessas forças, mas não mais como no passado.

A Alemanha foi o maior dentre os adversários da nossa Seleção até aqui, e as razões para isso devem ser compreendidas mais pela qualidade do futebol alemão, e menos por uma única Seleção Alemã.

Os alemães conseguiram de tal forma estabelecer um padrão técnico, tático e físico para seu jogo, que quase não faz diferença se eles atuam com o primeiro ou segundo time, dado a desenvoltura de seus jogadores, mais do que a de sua Seleção Principal.

Pudemos assistir no confronto entre brasileiros e alemães, o mais alto nível defensivo já visto entre duas seleções. A Alemanha resistiu à técnica dos jogadores de frente do Brasil, e este resistiu à extraordinária pressão do jogo ofensivo dos jogadores alemães, movidos especialmente pela fundamentação técnica e tática de seus meio-campistas e laterais.

Até mesmo as jogadas aéreas da Seleção Alemã, verdadeira bateria, foram contidas pela defesa brasileira, que teve na dupla Thiago Silva e Miranda seu ponto alto. Vale uma menção ao goleiro Alisson, que se tem mostrado cada vez mais técnico e maduro.

Para quem sabe apreciar, ver os jogadores Gabriel Jesus e Philippe Coutinho transformarem-se em "leões táticos" em prol da equipe é uma situação relevante para fazermos de nossa Seleção um verdadeiro time, em que a cooperação se sobrepõe a quaisquer veleidades.

Portanto,ninguém ganha uma Copa antecipadamente, mas sem dúvida a Seleção Brasileira é uma séria candidata à conquista de um Mundial em que não há um favorito destacado.
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(Benê Lima, Cronista Esportivo, Rosacruz e Humanista)

quarta-feira, março 21, 2018

Reflexões que nunca acabam sobre o futebol de base

Universidade do Futebol
Discutir o futebol formativo virou algo corriqueiro e habitual por aqui. É uma tarefa instigante e reflexiva e não podemos negar que evoluiu alguns debates. Agora, quem sabe, a forma como esse processo é discutido e por quem é debatido, é que precisa ser ajustada e melhorada.
Estamos ainda longe para que o futebol de base compreenda sua verdadeira face, singularidade e significado transcendente de formar jogadores e equipes. O caminho ainda está confuso e sem placas sinalizadoras.
Desgosta saber que indicadores internos e indicadores externos diagnosticados com frequência são negligenciados por vários fatores e interesses particulares. Eles ajudariam na construção de um cenário evolutivo e de um jogar com qualidade, e poderiam fazer parte corriqueiramente dos entornos diários particulares dos detalhes.



O que foi citado acima, que é um pouco do que acontece no Brasil, é um despojado reflexo e exemplo de um futebol de base hostil e superficial.
Então, como defender perante um grupo de jogadores uma aprendizagem intencional, significativa, que desenvolva aspectos relevantes e o verdadeiro jogar do futebol, visto que o sistema futebol culturalmente poluído está desorientado, não sabe o que quer, para aonde vai e qual a razão de ir? Sejamos otimistas, pensando melhor, esse reflexo de problemas culturais que gerou mentalidades e modelos ditos como únicos e verdadeiros, ainda pode ser suplantado, correto?
O que nos resta agora é tentar compreender todos esses elementos acima levantados, que são rotineiros, e clarear possíveis reparos com as reflexões vistas.
Quando se trata de formação, temos que lembrar que acima de tudo, está sendo formado um ser humano, que deve obter princípios de vida que o torne sólido para enfrentar as dificuldades do dia a dia e do jogo em qualquer instante. Devemos transmitir aspectos ou critérios, com uma ideia operacional clara e significativa, para que o jogador perceba o elo intenso que liga o seu jogo no jogo coletivo, sua vida correta e com caráter na vida coletiva. Fundamentalmente é entender que a unidade humana-futebolística deve ser um fio que forma outros fios todo o tempo.

quinta-feira, março 08, 2018

Globo se vinga dos clubes que assinaram com o Esporte Interativo


Cosme Rímoli

Globo se vinga dos rebeldes. Usa o poder do monopólio. E o CADE se cala

Vingança.
Pura e simples. 
Com o estranho silêncio do CADE.
Para quem não é familiar com a sigla, vale detalhá-la. Se trata do Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça, que tem como objetivo orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos do poder econômico.
Criado em 1962 pelo presidente João Goulart, inspirado em órgãos parecidos dos Estados Unidos e na Europa, a missão do CADE é garantir a livre concorrência entre as empresas. Preservar os consumidores. Evitar cartéis de empresas que combinam preços. Ou monopólios sobre qualquer produto ou serviço.
O futebol sempre foi um produto que o CADE ameaçou interferir e, na prática, pode fazer. A TV Globo mantém o domínio do esporte no país desde os tempos da Ditadura Militar. Com profunda ligação com a CBD e depois CBF, a emissora carioca conseguiu também o domínio das Copas do Mundo. A ponto de as duas próximas, a Fifa não ter nem aberto concorrência, já avisou que são da Globo.
O cenário seguia no marasmo, até que grandes grupos acordaram para a força financeira do futebol na América Latina. O grupo Fox investiu pesado e comprou os direitos da Libertadores, acabando com privilégios da Globo. A emissora viu se tornar rotina a concorrente mostrar jogos do Flamengo e do Corinthians de forma exclusiva. Sem poder reagir. 
capitalismo selvagem segue imperando e a Disney comprou o grupo Fox por US$ 52 bilhões, R$ 167 bilhões. Ninguém sabe o que acontecerá com a Fox Sports, por exemplo. A emissora tem eventos comprados até o final deste ano. Depois, é uma incógnita.
Mas a Globo não tem nem como comemorar o enfraquecimento da concorrência. O grupo Time Warner, dono de um conglomerado gigantesco de mídias, aportou no Brasil. Uma de suas ramificações, o grupo Turner comprou o Esporte Interativo. O que já era poderoso se tornou incrível, com a fusão com a AT&T. Acordo para mais de US$ 300 bilhões, cerca de R$ 967 bilhões.
O governo americano entrou com um processo questionando se a união das empresas não seria prejudicial ao consumidor. O resultado da questão só em março de 2019.
Mas enquanto isso não acontece, bastou o dinheiro da Turner, que foi incorporada pela Warner, que está para ser incorporada pela AT&T. E a Globo teve o seu maior revés. A derrota inesperada.
Trabalhando em silêncio, negociando diretamente com os clubes, o Esporte Interativo conseguiu convencer 17 equipes a vender os direitos de transmissão por cabo, dos Brasileiros de 2019 a 2024. Foram 17 clubes a virarem as costas para o canal fechado da Globo, o Sportv. 
Da Série A, Palmeiras, Santos, Internacional, Bahia e Atlético Paranaense. 
José Carlos Peres cedeu. E aceitou assinar com a Globo ganhando 20% a menos

José Carlos Peres cedeu. E aceitou assinar com a Globo ganhando 20% a menos

Santos FC
Estes clubes decidiram formar um grupo para renovar em conjunto com a Globo na tevê aberta e no pay-per-view. Os dirigentes tinham certeza que a Globo iria se vingar, buscar represália.
Tanto que ela se efetivou.
A emissora carioca decidiu oferecer 20% a menos do que pagava na tevê aberta. E cerca de 5,27% por partida transmitida no pay-per-view.  
Uma lição aos rebeldes.
Só que havia ainda a possibilidade de a tevê, mesmo comprandos direitos dos jogos, evitar mostrar os clubes na aberta. O que prejudicaria diretamente a negociação com os patrocinadores.
Modesto Roma estava disposto a enfrentar a Globo. Mas o novo presidente José Carlos Peres, não. E rompeu o acordo com Palmeiras, Santos, Internacional, Bahia e Atlético Paranaense. Aceitou ganhar menos. E enfraqueceu o bloco. Houve enorme decepção com o dirigente por parte dos outros 'rebeldes'. Justo o Santos que é o clube com menos transmissão entre os grandes em São Paulo, há anos e anos. A ponto de sua torcida boicotar a emissora carioca.
A direção do Palmeiras é a mais revoltada com a vingança da Globo. Como o time está muito bem financeiramente, busca até alternativas para tentar mostrar seus jogos, de forma independente. Analisa um canal só seu, pago no youtube. Com uma equipe de transmissão formada por narradores, comentaristas e repórteres assumidamente palmeirenses. Não quer ficar 'de joelhos' para a dona do monopólio na tevê aberta.

O Esporte Interativo tenta compensar os clubes que não assinarem com a Globo na aberta. O primeiro passo seria pagar para mostrar seus jogos em antenas parabólicas. Mas canais no youtube também estão sendo estudados.  
O que impressiona é a postura passiva do CADE.
Dona do monopólio do futebol, a Globo faz o que quer há décadas. Não tem nem mais a parceria da Band. A emissora paulista se cansou de pagar para a Globo e ser obrigada a mostrar o mesmo jogo da 'co-irmã'.
Sozinha no mercado, a Globo resolveu se vingar. Punir financeiramente quem teve a ousadia de assinar com o concorrente na tevê fechada. Assume que paga 20% a menos na aberta. E 5,27% no pay-per-view.
Mauricio Galiotte, revoltado, busca alternativas para fugir do domínio da Globo

Mauricio Galiotte, revoltado, busca alternativas para fugir do domínio da Globo

Palmeiras/Divulgação
Os clubes buscam alternativas diante da vingança.
O Santos já cedeu.
Virou as costas e enfraqueceu os rebeldes.
E o CADE avisa que não se manifesta.
Não foi aberto nenhum procedimento administrativo.
O órgão silencioso é ligado ao Ministério da Justiça, que também está calado
É inaceitável a maneira que os clubes estão lançados à própria sorte.
Por isso a Globo faz o que quer neste país...

quarta-feira, março 07, 2018

Brasil perde número de clubes e 90% dos registrados na CBF jogam pouco

Sede da CBF (Foto: arquivo LANCE!)

Pedro Trengrouse e Vantuil Gonçalves / Especial L!

Em 2009, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tinha 783 clubes profissionais registrados. Hoje, tem 722. Em oito anos, o Brasil perdeu 8% dos seus clubes e, se o futebol brasileiro não encontrar um modelo sustentável de desenvolvimento, a tendência é piorar.

Praticamente 90% dos clubes registrados na CBF jogam em média 19 partidas por ano, poucos participam da Copa do Brasil e a maioria só tem atividade durante o respectivo Campeonato Estadual, demitindo em seguida seus atletas, treinadores e comissão técnica. Apenas 14% jogam o ano todo, disputando Séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro, e 1% jogam até demais, chegando a mais de 70 partidas por ano, prejudicando a própria rentabilidade das partidas, treinamentos da equipe e preparação física dos atletas.

No Brasil, poucos clubes jogam muito e quase todos jogam muito pouco! Um estudo, feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) para a Secretaria Nacional de Futebol do Ministério do Esporte, aponta que se todos os clubes que só jogam durante quatro meses por ano jogassem o ano inteiro, haveria a geração de 25 mil novos empregos e R$ 600 milhões por ano no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Na Inglaterra há 22 divisões e sete mil clubes, na Alemanha, sete e 3,4 mil, na Espanha, nove e 3,2 mil. Nenhum clube europeu joga mais de 60 vezes por ano. Mesmo assim sofremos essa globalização de mão única em que clubes europeus tem mercado no Brasil, mas clubes brasileiros não tem no exterior. É preocupante que se venda mais camisas estrangeiras que nacionais no Brasil e partidas brasileiras tenham menos audiência no país que jogos da Champions League, exibidos até em salas de cinema.

É impossível competir com a Europa enquanto a América continuar dividida entre Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) e Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Concacaf). O potencial de um campeonato continental de clubes na América, com o PIB de Estados Unidos, México, Canadá e Brasil, é maior que da Champions League e fundamental para estancar essa globalização de mão única atual.

Interesses políticos, muitas vezes estranhos ao futebol, justificam que a América seja o único continente dividido em duas confederações na FIFA? Para clubes brasileiros competirem globalmente é preciso modificar o status quo, mesmo que isso represente o fim de certos feudos e da anomalia que permite mais facilidade a países da Conmebol na classificação para a Copa do Mundo.

Internamente, é essencial ter atividade o ano inteiro para todos os clubes, com o fortalecimento dos campeonatos locais através de políticas públicas e iniciativas privadas com CBF e Federações Estaduais. Os clubes também tem a oportunidade de aproveitar as novas tecnologias para buscar mais engajamento da torcida, diminuindo a dependência de investimentos corporativos como TV e patrocínios.

Em 2017, anunciantes investiram US$ 205 bilhões na internet e US$ 192 bilhões na TV. A audiência de futebol está envelhecendo: em 2006, a idade média era 39 anos, hoje, 43. Nas gerações anteriores a 1980, 45% das pessoas preferem esportes e 13% e-sports; na geração do Milênio (19 a 38 anos), 27% preferem esportes e 27% e-sports. Alguma dúvida sobre o acontece a partir da geração Z (8 a 18 anos), onde apenas 31% assiste esporte ao vivo, contra 51% na geração X (39 a 58 anos)?

A velocidade das transformações é cada vez maior e quem não balança a rede, balança na rede. O rádio levou 38 anos para atingir 50 milhões de pessoas; a TV, 13; a internet, quatro; o Google, 100 dias. Hoje, um bilhão de pessoas interagem diariamente pelo Facebook. Em 2010, 1,8 bilhão de pessoas estavam conectadas à internet; hoje, três bilhões. Até 2025, o mundo inteiro estará. Quanto tempo mais o futebol brasileiro consegue manter o atual patamar de investimentos corporativos de TV e seu corolário de patrocínios? 

Mesmo com um aumento considerável de carga tributária, há muito se fala que uma das soluções para melhorar o futebol brasileiro seria a transformação dos clubes, hoje em sua maioria associações civis sem fins lucrativos, em empresas, inclusive com ações na bolsa para que se pudesse captar investimentos diretos de seus torcedores. Agora, com a mais recente inovação tecnológica do mercado financeiro, os clubes não precisam disso para emitir criptomoedas e captar volume considerável de recursos através do engajamento de seus torcedores em operações conhecidas como ICOs (Initial Coin Offerings).

Em 2017, ICOs levantaram USD 5 bilhões e deixaram de ser um método de captação de recursos relativamente desconhecido, usado apenas na comunidade blockchain. Inclusive, a Comissão de Valores Mobiliários emitiu nota esclarecendo que compreende ICOs como captações públicas de recursos com emissão de ativos virtuais, que não se encontram sob a sua competência quando não envolverem valores mobiliários.

O Brasil tem 60 milhões de domicílios com TV Aberta, 19 milhões com TV fechada, 27 milhões com banda larga, 95 milhões de smartphones e um bilhão de horas de vídeo assistidas no YouTube diariamente. Clubes tem à disposição conhecimento, habilidades e tecnologia para desenvolver um novo modelo de negócio, exponencial e global. Jogador pode ser YouTuber; Centro de Treinamento, Big Brother; Pay-Per-View, plataforma própria Over-The-Top; e ICOs, instrumentos de captação para todos os projetos, inclusive contratação de jogadores, empreendimentos imobiliários e pagamentos de dívidas.

Essa tendência de enfraquecimento do futebol brasileiro, felizmente, não é irreversível. Só não se pode esperar resultados diferentes repetindo as mesmas práticas. O caminho passa pelo resgate do modelo de financiamento original dos clubes, que surgiram graças ao esforço dos seus membros, agora com a escala global da rede.

*Vantuil Gonçalves é professor da Trevisan e Pedro Trengrouse é professor da FGV

O Marketing do Futebol do Interior

A criação de uma liga tendo como base o modelo norte-americano pode sim ser solução para o futebol do interior do país, incapaz de competir com clubes de grandes centros, com mais torcedores e recursos financeiros



Futebol de rendimento requer muito investimento. As cifras são infinitas. Há pouco mais de duas décadas o cenário não era tanto assim. Havia mais competitividade entre o futebol de clubes de grandes centros com os do interior. Em textos anteriores desta coluna foi mencionado que os clubes com mais torcida têm mais oportunidades de receita em função do número de torcedores que possui. Ou seja, esta relação entre número de torcedores é diretamente proporcional ao rendimento financeiro da instituição.
Ao longo da história, alguns fatores foram determinantes para concepção de um clube com torcida numerosa: estar estabelecido em uma grande cidade, que possui inúmeras comunidades étnicas, religiosas e sociais que favorecem o surgimento de associações esportivas, além da criação de rivalidades e o poder econômico e político que a urbe possui, para fins de obtenção de patrocínios e viabilização de sedes sociais e estádios. Com mais recursos, maiores as possibilidades de investimento na formação de futebolistas, plantel e infraestrutura. E os clubes que não possuem uma massa associativa capaz de gerar receitas para se manterem na elite do futebol? Podem viver em uma – nada saudável – “gangorra”, num vai-e-vem prejudicial à estabilidade financeira e institucional do clube: vulneráveis a investimentos de terceiros e interesses alheios aos da organização. À prazo isso pode ter uma terrível consequência.
Entretanto, existem sim soluções. Sabe-se que o modelo norte-americano do esporte profissional é baseado em um sistema de não-rebaixamento e promoção de clubes, bem como da igualdade de condições de competitividade entre os seus participantes. Em outras palavras, as piores equipes da temporada têm benefícios a fim de estabelecer uma equipe competitiva para a disputa da próxima. Há também o teto salarial que contribui para a saúde financeira da liga, seus integrantes e os atletas, que têm seus contratos cumpridos por toda a temporada. Um modelo como o norte-americano, adaptado ao futebol do interior do Brasil (conforme suas condições, contexto e realidade) é sim possível: a formação de ligas. Para que isso seja viável é preciso antes de tudo que os interesses dos clubes sejam convergentes com esta ideia.
Portanto, com uma regularidade dos jogos e adversários, a atratividade do torneio a partir das rivalidades que existem dentro do futebol do interior, estabeleceriam um produto interessante para torcedores e potenciais patrocinadores. Com uma estabilidade de recursos e austeridade nas finanças, maiores as chances de investimento em categorias de base, infraestrutura (estádio) e plantel. O clube respira e sobrevive. Evita-se a gangorra e o vai-e-vem de divisão (muitos vão dizer que isso é que dá a graça). Entretanto, preserva-se a instituição, o torcedor e, sobretudo, o atleta.