Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, agosto 29, 2020

As implicações das ideias de jogo no cenário das finalizações

Matheus Dupin

Na busca pelo desenvolvimento do futebol e do entendimento de suas tendências, a Universidade do Futebol propõe, há muitos anos, debates que geram reflexões e também inovações. Dando sequência a ideias apresentadas em um texto de 2013 , publicado aqui, na UdoF, pelo treinador Rodrigo Leitão, foi realizado um estudo que será exposto a seguir.

Por meio de excelentes dicas do próprio Rodrigo, além do apoio incondicional do orientador do trabalho José Vítor Vieira Salgado, o estudo teve o objetivo de verificar características nas sequências ofensivas terminadas em finalização de equipes com ideias de jogo distintas, a partir da análise de jogos da Copa do Mundo de 2018.

No estudo, foram analisadas equipes que se diferenciavam no que se refere às ideias de jogo, apresentando diferenças no percentual de posse de bola. Dessa maneira, elas foram separadas em dois grupos: “donos da bola” e “donos do espaço”, como definidos por Rodrigo Leitão, em trabalhos anteriores.

Confira, abaixo, um infográfico contendo os principais resultados do estudo realizado.

 

É importante esclarecer que, embora tenham sido encontradas diferenças na eficiência das finalizações em favor das equipes “donas do espaço” em detrimento às “donas da bola”, o intuito do estudo não é defender uma das ideias de jogo, mas sim apresentar algumas características típicas que, ao serem entendidas, podem contribuir para a melhora do desempenho da equipe, seja qual for a ideia. Para isso, é fundamental entender como essas informações podem ter utilidade prática.

Nesse sentido, a relevância se dá, principalmente, no suporte que essas informações podem fornecer para a elaboração de treinamentos coerentes com o que acontece com maior frequência nos jogos de acordo com a ideia de jogo utilizada. Isso pode ser considerado tanto para o futebol profissional, pensando na otimização do tempo, quanto nas categorias de base, oportunizando estímulos diversos para uma boa formação.

Outra perspectiva de utilização prática das informações consiste na possibilidade de verificação constante de algumas medidas e métricas oriundas de análises quantitativas que, em alguns casos, permitem definir possíveis limiares e metas para o sucesso da ideia de jogo proposta.

Afinal, o conhecimento pode ser um grande diferencial para que o acaso não seja justificativa frequente para a bola que “insiste em não entrar”, basta saber o que fazer com ele.

Sobre o autor

Matheus Dupin é bacharel em educação física pela UEMG, possui a licença B da CBF Academy e tem passagem como analista de desempenho no Club de Regatas Vasco da Gama. Atualmente é auxiliar/analista das categorias de base do Club Athletico Paranaense.

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Referências

DUPIN, M.O. Análises de sequências com finalização no futebol de acordo com a ideia de jogo das equipes. Trabalho de conclusão de curso – Universidade Estadual de Minas Gerais, Divinópolis. 2018. 24p

LEITÃO, R.A.A. Futebol: criar mais oportunidades ou aproveitar melhor as chances criadas? – reflexões a partir da Lógica do Jogo. Coluna Tática. 2013. Disponível em https://universidadedofutebol.com.br/futebol-criar-mais-oportunidades-ou-aproveitar-melhor-as-chances-criadas-reflexoes-a-partir-da-logica-do-jogo/

LEITÃO, R.A.A. Organização Sistêmica de Jogo: Ideias! Modelos? Bola e/ou Espaço!? Universidade do Futebol. Coluna Tática. 2013. Disponível em https://universidadedofutebol.com.br/organizacao-sistemica-de-jogo-ideias-modelos-bola-e-ou-espaco/

LEITÃO, R.A.A. Os aspectos táticos e a construção da Ideia de Jogo no futebol. Universidade Estácio. Material de apoio didático. Curso de pós-graduação em Futebol e Futsal. 2016.

segunda-feira, agosto 24, 2020

CBF lança Escola de Futebol Feminino e vê projeto como marco: "Queremos que daqui para frente seja paritário"

  

 

Por Cíntia Barlem

Jornalista e comentarista de futebol feminino do Grupo Globo

De acordo com gerente da CBF Academy, o Brasil, no futebol, tem que ser o melhor do mundo: "E isso significa profissionalizar quem trabalha com futebol". Pia está entre as professoras do novo curso


Foto: Pia Sundhage, técnica da seleção — Foto: Getty Images

A CBF lançou na última semana a Escola de Futebol Feminino e para marcar essa novidade a entidade irá promover o curso Características do Treinamento no Futebol Feminino do Brasil. Com aulas de forma online, a atividade teve 130 inscritos em sua primeira turma e, entre os alunos, nomes como Tamires e Érika, atletas do Corinthians, e Daniela Alves, ex-jogadora da Seleção Brasileira e atual técnica do Corinthians Sub-17. O gerente da CBF Academy, Marco Dal Pozzo, comentou em entrevista ao blog Dona do Campinho que esse novo movimento tem como objetivo deixar o processo mais acessível e também abrir o leque do feminino também para quem esteja cursando as licenças. Ele ressalta que o futebol é um só, mas é importante que ele seja paritário a partir de agora e inclua a todos e que esse novo produto ajude a desenvolver o esporte também em relação às mulheres.

- Sim, mas as licenças serão de licenças de treinador em futebol e continuará dessa forma. E dentro do programa das próprias licenças, nós colocaremos um foco no futebol feminino. Essa é a ideia da escola do futebol feminino. Além de programas específicos para a preparação física das atletas do feminino, nós teremos uma presença maior em todas as atividades da CBF Academy voltada ao futebol feminino. Então, um treinador de licença C ou B terá o número de hora de conteúdos ligado ao específico do futebol feminino maior do que ele tem agora. Para ser um treinador de licença C, você será um treinador seja para o futebol masculino ou para o futebol feminino. O foco no futebol feminino será maior. Nós queremos que futebol seja futebol e que futebol seja para todos inclusive para as mulheres. Precisa fazer mais formação sobre como funciona, o sistema e a forma de jogar. Esta é uma atividade que até pouco tempo atrás era muito mais masculina do que feminina. O que nós queremos daqui para frente que seja paritário - afirmou o gerente da CBF Academy, Marco Dal Pozzo.

A introdução ao universo da gestão e também do treinamento estão entre os objetivos da Escola de Futebol Feminino, e a CBF entende que o local servirá ainda como caminho para executar projetos para a modalidade dentro da CBF Academy, com cursos, debates, workshops e centros de estudo exclusivos. A entidade quer também o desenvolvimento de profissionais que buscam ingressar no futebol feminino e com isso, segundo a Confederação, promover uma mudança de realidade. O novo processo é mais acessível para quem, como algumas atletas, não tem valores suficientes para o começo no novo caminho. O curso de lançamento tem o valor de R$ 430,00. Para se ter uma ideia, as licenças têm valores mais elevados: Licença A R$ 8.840, Licença B R$ 6.170, Licença C 4.480 e Licença PRO 19.130.

- A carreira de um jogador termina. Tendo a possibilidade de continuar no local pelo qual você tem paixão é uma oportunidade dos dois lados. Oportunidade para o atleta fazer sua transição e ter alguém que fornece a oportunidade de se formar ou na área técnica ou na de gestão criando uma carreira de mais longo prazo que não seja só a carreira de jogador todo mundo ganha com isso. Sentar na cadeira é parte fundamental de ser um bom formador, treinador. Então, uma ex-jogadora que depois de ser jogadora está disposta e interessada para se formar, estudar, aí você tem o melhor dos mundos. A experiência prática e a formação conceitual e teórica. Inclusive a gente facilita a vida dela para vir para os cursos.

Entre os professores desse primeiro curso, estão a técnica da seleção brasileira, Pia Sundhage, as auxiliares Lillie Person e Bia Vaz, Katherine Ferro, fisioterapeuta do Chanchung Dazhong (China) e Tathiana Parmigiano, Ginecologista do Time Brasil e das Seleções Femininas de Futebol. Dal Pozzo ressalta a importância que a treinadora sueca dá ao novo processo instituído pela CBF Academy.

- A Pia acredita profundamente nessa profissionalização e com isso qualidade em campo. Ela se dedica muito e é nossa grande parceira. Ela e as outras auxiliares que trabalham conosco são extremamente motivadas e nos dão conteúdo para desenvolver as aulas e toda parte pedagógica. Temos os melhores professores e especialistas voltados para a área do feminino. Temos o privilégio de colocar junto a nata disponível para construirmos nossos programas.

O dirigente ainda não projeta um número de crescimento de profissionais envolvidos com o futebol feminino, mas vê a nova atividade como um passo a mais para o Brasil ser o melhor do mundo tanto no masculino quanto no feminino. E, para ele, isso significa profissionalizar quem trabalha com o esporte.

- Por enquanto, estamos fazendo a primeira etapa. Abrimos o primeiro programa específico de treinamento técnico, físico específico para mulheres. E tivemos a grata experiência de ter mais pessoas se inscrevendo do que o previsto. Nós vimos que tem uma vontade, um mercado querendo isso e absolutamente alinhado com a nossa vontade de desenvolver o futebol feminino e sermos os melhores do mundo seja no futebol masculino quanto no feminino. O Brasil, no futebol, tem que ser o melhor do mundo. E isso significa profissionalizar quem trabalha com futebol.