Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, janeiro 21, 2015

Maiores clubes do Brasil devem mais de R$ 1,5 bilhão para União

RAFAEL REIS
DE SÃO PAULO

Os 12 maiores clubes do futebol brasileiro acumulam dívidas de R$ 1,59 bilhão com a União.

O valor, que não inclui dívidas bancárias, com fornecedores e nem impostos municipais e estaduais, está em um relatório da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ao qual a Folha teve acesso

Esse débito teria sido renegociado pelo governo federal caso a presidente Dilma Rousseff não tivesse vetado, na noite de segunda-feira (19), um artigo da Medida Provisória 656.

Segundo estimativa do próprio governo, as dívidas dos clubes brasileiros com o governo federal estão na casa de R$ 3,7 bilhões. Ou seja, só os 12 maiores times do país são responsáveis por mais de 40% do total dos débitos.

A maior parte das dívidas (R$ 1,1 bilhão) dos grandes do futebol brasileiro está relacionada a impostos atrasados.

O Atlético-MG é o clube brasileiro que mais deve ao governo federal: mais de R$ 282 milhões. O clube, porém, assinou em outubro um acordo com a União terá desconto de R$ 70 milhões se pagar em dia as 180 parcelas da quitação.

"O Atlético tem problemas tributários desde a década de 90", afirmou o diretor de planejamento Rodolfo Gropen.

Outros times, como o Corinthians e o Cruzeiro, também aderiram ao Refis e terão suas dívidas reduzidas se mantiverem os pagamentos nas datas combinadas.

Além desse programa de refinanciamento voluntário, o governo federal ainda promete discutir uma nova proposta para renegociação da dívida dos clubes.

A ideia é lançar uma nova Medida Provisória sobre o assunto em até 30 dias.

O artigo 141, vetado por Dilma, previa que os clubes poderiam refinancias suas dívidas com a União em 240 vezes, com descontos de 70% em multas e 50% em juros, sem precisar cumprir medidas de responsabilidade financeira.

O Bom Senso defendia o veto. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol), os clubes e a Federação Nacional dos Atletas Profissionais defendiam a aprovação. Para o presidente eleito da CBF, Marco Polo Del Nero, é importante que os clubes comecem do zero.

A CBF incluiu em seu novo Regulamento Geral das Competições normas que visam punir clubes que não gerirem bem seu dinheiro, com perda de pontos e até rebaixamento em casos mais graves.

O Bom Senso acha pouco e pede regras mais rígidas para o Fair Play financeiro, inclusive com responsabilização dos dirigentes. 

Editoria de arte/Folhapress

segunda-feira, janeiro 19, 2015

Especialista comenta a respeito de Vasco da Gama e Estratégia Empresarial

LUIS FILIPE CHATEAUBRIAND é Membro do Bom Senso Futebol Clube e Professor de Estratégia Empresarial

Michael Porter, notório professor da Universidade de Harvard e grande autoridade em Estratégia Empresarial, preconiza que há três tipos de estratégias genéricas que uma organização pode escolher: liderança nos custos, diferenciação e enfoque.

A estratégia enfoque significa ter foco em um determinado grupo de clientes, em um segmento de produtos ou em um mercado geográfico. A premissa é que se estará mais preparado para atender um nicho de mercado, estreito, do que se pretendesse atender ao mercado total, de forma ampla.

Uma estratégia de enfoque pode reduzir custos em relação aos concorrentes, pois, se se trabalha com um foco, tem-se custos menores, pois a área de atuação pode ser menor. E também se pode satisfazer melhor a clientela, pois é mais fácil atender bem a um grupo de clientes, do que atender bem a uma clientela mais ampla (até cobrando mais dos clientes, em virtude da maior satisfação).

O que o Vasco da Gama tem a ver com isso? Existe um grande “foco” entre os milhões de torcedores do Heroico Português: a comunidade lusitana, composta de torcedores portugueses e descendentes de portugueses, não apenas no Rio de Janeiro, mas em todo Brasil. Não que inexistam vascaínos que não tenham descendência portuguesa, mas o grupo de portugueses e descendentes é, na torcida cruzmaltina, bastante representativo.


 

Posse de Eurico Miranda, o comandadante de um clube ligado a uma 'nação' lusitana (Foto: Wagner Meyer/Agelance)

 

Portanto, a estratégia enfoque, especificamente enfoque por grupo de clientes, e especificamente para a colônia portuguesa e descendentes, parece apropriada para o Gigante da Colina. É uma questão de identidade.

A estratégia genérica que um clube opte por seguir deve implicar ações compatíveis. Destarte, o Vasco da Gama, ao optar por uma estratégia de enfoque, deve adotar ações como:

 

Jogar em estádio próprio (o histórico São Januário reformado) cheio de referências às tradições portuguesas, em que compras de ingressos de maior monta dão acesso a brindes associados às tradições lusas (exemplos: “compre ingressos para cinco jogos do Vasco da Gama na temporada, e ganhe de brinde um almoço no Adegão Português” – excelente restaurante especializado em comida portuguesa, próximo à sede do clube; “compre os ingressos para todos os jogos de mando de campo do Vasco da Gama no Campeonato Brasileiro e ganhe uma cesta de bacalhau português, vinho do Porto e castanhas portuguesas”; “compre os ingressos de todos os jogos de mando de campo do Vasco da Gama na temporada e ganhe o direito de concorrer a passagem aérea, com acompanhante, Rio – Lisboa – Rio”);Licenciamento de produtos ligados tanto ao clube como às tradições portuguesas;Escolha de um patrocinador ligado às coisas de Portugal, ou propriamente português, ou com influência portuguesa.

 

O raciocínio aqui colocado vale também, por exemplo, para o Palmeiras, clube com perfil de torcedores bastante parecido com o do Vasco da Gama – sai a colônia portuguesa, entra a colônia italiana.

Os clubes de futebol devem escolher a estratégia mais adequada de acordo com as necessidades de seus torcedores, e agirem de forma coerente com a estratégia, ao invés de procurarem mesclar estratégias. No caso de clubes com muitos adeptos entre representativos nichos de mercados, a estratégia enfoque parece a mais propícia.

domingo, janeiro 11, 2015

O termômetro do futebol brasileiro

Eduardo Barros / Universidade do Futebol


Na sua opinião, em qual nível começamos a temporada?

A temporada de 2015 começou! 

Algumas contratações, muitas dificuldades econômicas, a manutenção no cargo de muitos treinadores na elite do futebol nacional e as dúvidas constantes sobre quais problemas limitam o retorno ao protagonismo individual e coletivo, do jogador e do jogo brasileiro, no cenário mundial.

Nas mesas redondas e reportagens que se discutem tais problemas, tem sido comum apontarem: o trabalho desenvolvido nas categorias de base, a pressão constante por resultados que afeta a qualidade do jogo, o desaparecimento gradativo dos campos de várzea (e, consequentemente, dos craques), a gestão predominantemente não profissional da maioria dos clubes brasileiros e até a baixa qualificação profissional dos nossos treinadores.

Opiniões com visão mais ampliada inter-relacionam os fatos e diagnosticam que um conjunto de elementos de todas as áreas que envolvem a modalidade, seja política, técnica ou administrativa, estão desajustados. Isto reflete negativamente nos 90 minutos.

Afinal, como atividade-fim, os 90 minutos (e somente eles) importam. É por esta preciosa hora e meia que todos os processos de um clube, dos administrativos aos técnicos são planejados e executados.

Sucesso terão os clubes que aliada às buscas por vitórias nos 90 minutos privilegiarem a sustentabilidade e o lucro como prática organizacional. 

Sabemos, no entanto, que a obsessão pela vitória a qualquer custo desconsidera a fórmula básica de uma gestão empresarial.

Retomando o foco do texto para os 90 minutos e, mais especificamente, para o produto tático que muitas equipes do nosso futebol têm apresentado, na sequência da coluna serão divulgadas duas imagens (transferidas ao software Tactical Pad) extraídas de um jogo da Série A do Campeonato Brasileiro. 

O objetivo da exposição destas imagens é instigá-lo e questioná-lo sobre como terminamos a temporada anterior e cronologicamente iniciamos a temporada atual, sem tempo hábil para profundas transformações em nosso jogo.

Abaixo, a primeira imagem:


 

A equipe do lado esquerdo da imagem tem a posse de bola com o jogador destacado. O adversário, em organização defensiva, mostra-se estruturado em 1-4-2-3-1, com a linha de defesa identificada em vermelho, de volantes em laranja e de meias em amarelo.

Nesta jogada, a equipe com posse realizou uma circulação da bola, alterou o corredor de ataque e realizou as seguintes movimentações durante a referida circulação:


Na sequência, a resposta coletiva da equipe sem bola na tentativa de neutralizar o ataque oponente:


Não “cobrir” a bola (pressionando a região do oponente portador da bola), expor o eixo central e acompanhar individualmente as trocas de posição gerando espaços vazios perigosos são alguns comportamentos de jogo que podemos observar nesta imagem.

Incomoda afirmar que as respostas desta equipe, bem diferentes do que as principais equipes do futebol mundial executariam num lance semelhante, também é a resposta de muitas outras espalhadas pelo país.

No final das contas, o que vale são os 90 minutos. No futebol brasileiro atual temos apresentado problemas durante boa parte deste tempo. 

Gostaria de saber a sua opinião!

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sábado, janeiro 10, 2015

Andreu Plaza, coordenador do futsal do Barcelona

Treinador revela que jogadores do futebol de campo do clube catalão não passaram pelo salão

Bruno Camarão / Universidade do Futebol

A seleção brasileira de futsal já conquistou diversos títulos, como a Copa do Mundo, a Copa América, o Grand Prix e o Mundialito. A ideia de protagonismo e referência sempre esteve impregnada no ambiente desta modalidade que tem princípios operacionais muito parecidos com o futebol de campo. Mas é fato que outros países se desenvolveram.

Diante de uma preocupação em não ficar estagnado, André Stern, fundador da Unisport Brasil, empresa especializada em cursos de alto nível na área de esportes, realizou no último mês de dezembro, em São Paulo, o primeiro Encontro Internacional de Futsal com abordagem acadêmica e prática.

O evento chamou a atenção pela presença do treinador e coordenador técnico do time de base do Barcelona, Andreu Plaza. Ele trouxe toda sua expertise de quase 20 anos para mostrar os diferenciais do futsal estrangeiro quando comparado ao brasileiro.

Durante o curso, a metodologia de treinamento integrado e o próprio treinamento prático integrado foram apresentados e discutidos por Plaza, que concedeu uma entrevista exclusiva àUniversidade do Futebol.

“O jogador de futsal daqui tem uma característica própria. Uma qualidade técnica alta, um talento para jogar diversos esportes. E isso talvez falte na Espanha. As equipes espanholas têm uma noção tática talvez mais aprimorada”, comparou o espanhol. “Não à toa o Barcelona tem em seu elenco sete jogadores deste país sul-americano”.

Plaza revelou ainda algo que talvez possa soar estranho aos olhos e ouvidos brasileiros, amantes do jogo aplicado pela equipe de campo do Barcelona: nenhum dos espanhóis formados em “La Masia”, que compõem o elenco principal comandado por Luis Enrique, passou pelo “futebol de sala”.


Universidade do Futebol – 
Gostaria que o senhor fizesse uma avaliação do nível de formação dos atletas do Brasil e da Espanha na modalidade futsal.

Andreu Plaza – Iniciamos um projeto no Barcelona inovador em relação à metodologia de trabalho e quando vim ao Brasil, há alguns anos, para entender o funcionamento do futsal, achamos interessante a realização de um curso. 

Mantivemos contatos com treinadores brasileiros, compartilhamos experiências e o saldo foi muito positivo.

O jogador de futsal daqui tem uma característica própria. Uma qualidade técnica alta, um talento para jogar diversos esportes. E isso talvez falte na Espanha. As equipes espanholas têm uma noção tática talvez mais aprimorada. Jogam coletivamente bem, mas os brasileiros são os melhores, tanto em nível de seleção nacional, quanto em nível de clubes.

A qualidade técnica do brasileiro é muito superior. Não à toa o Barcelona tem em seu elenco sete jogadores deste país sul-americano.

Universidade do Futebol – A seleção brasileira de futsal conquistou diversos títulos nos últimos anos, mas é visível o desenvolvimento de outros países no jogar desta modalidade. Há um equilíbrio cada vez maior?

Andreu Plaza – Creio que em nível de seleções nacionais, países como Colômbia, argentina e Costa Rica cresceram demais. Pelos lados da Europa, Rússia, Portugal, República Tcheca evoluíram demais. Mas bato na mesma tecla anterior. Os jogadores sul-americanos seguem sendo mais técnicos, e os europeus jogam mais para a equipe.

Há sete ou oito seleções que poderiam disputar uma semifinal de Mundial, mas o Brasil está um pouco acima dos demais. E este pais avançou, bastante, no quesito tático do jogo.

Universidade do Futebol – Durante o trabalho nas categorias de base do futebol de campo, há a utilização de alguns aspectos da modalidade futsal no processo de ensino-aprendizagem, ou esta integração não é consolidada?

Andreu Plaza – Não, não há nenhuma conexão entre o futebol de campo do Barcelona com o nosso futsal. Entendemos que haja algumas similitudes, isso é claro, mas não transportamos os aspectos de uma modalidade a outra.

Universidade do Futebol – E há uma integração entre as equipes de base e o departamento de futsal principal no Barcelona?

Andreu Plaza – O “futebol de sala” do Barcelona, até cinco anos atrás, não tinha um departamento pronto. Estamos desenvolvendo este projeto. Há um processo para formar jogadores em nossas equipes de base e fazê-los com que ingressem o elenco principal. Hoje, temos aproximadamente 80 jogadores em todos os níveis, e nosso foco não é exatamente a primeira equipe.

Jogadores que acabam a etapa juvenil, passam a ser emprestados a outras equipes por uma, duas temporadas, para completarem o processo de amadurecimento. Aí, sim, podem voltar, um dia, ao Barcelona.


Universidade do Futebol – Em se pensando o futebol no aspecto humano e social, você acredita que a influência da cultura condiciona um determinado tipo de comportamento? É possível se falar em escolas regionais de futsal?

Andreu Plaza – Estou totalmente de acordo. O comportamento cultural influencia decisivamente na maneira de se relacionar com o esporte e com o jogo, propriamente dito. 

Tentamos, por todos os meios, que nossos jogadores menores estudem, não abandonem de maneira alguma a escola, e protagonizamos uma parte de nosso trabalho valorizando isso. Creio que é fundamental para a estrutura social de um pais. E algo não só no futsal, mas em todos os esportes.

Universidade do Futebol – Algum jogador do elenco principal do futebol de campo do Barcelona, incluindo os que passaram por “La Masia”, teve contato em algum momento do processo de formação com o futsal do clube?

Andreu Plaza – Atualmente, nenhum jogador espanhol da primeira equipe do Barcelona teve influência do futsal. Os únicos jogadores que tiveram contato com esta modalidade na base são Neymar, Daniel Alves, Adriano, assim como os demais brasileiros, e Lionel Messi.

Universidade do Futebol – O que o senhor poderia falar sobre Falcão, um dos maiores jogadores da história do futsal brasileiro, que tentou a sorte no futebol de campo, e recentemente defendendo o Sorocaba faturou a Liga Futsal?

Andreu Plaza – Creio que Falcão é um dos jogadores mais importantes da história desta modalidade. É uma referência para as crianças espanholas, também.

Com as facilidades da internet, elas buscam sempre vídeos de jogadas deste brasileiro. Certamente se trata de um grande.