Técnico do time pode garantir vaga na
elite neste sábado após trabalho detalhista
Especial
Raphael Ramos, Renan Cacioli, O Estado de S. Paulo
Certo
dia, Rogério Ceni visitou
o refeitório do centro de treinamento do Fortaleza e notou algo que lhe
incomodou: as saladas não eram separadas por itens em cada prato. Havia beterraba junto com brócolis, por exemplo. Pediu para que isso
fosse mais bem organizado. Ah, e o azeite deveria estar sempre ao lado, para
que cada um temperasse da forma como achasse melhor. Pode parecer uma história
tola, mas ela diz muito sobre a sua função, que extrapolou o papel de mero
treinador de futebol da equipe, prestes a retornar à Série A do Brasileiro.
Para garantir o acesso
neste sábado, o Fortaleza precisa
de uma vitória em cima do Atlético-GO e de um tropeço do Londrina. Após um
início de carreira frustrante, sendo demitido do clube onde ganhou o apelido de
"Mito", o ex-técnico do São Paulo encontrou
na capital cearense condições de ser um manager, função popular no futebol
europeu da figura que recebe carta branca da diretoria para agir como uma
espécie de treinador/diretor e estipular diretrizes de planejamento dentro e
fora de campo.
Rogério Ceni está perto de colher os frutos do
trabalho no Fortaleza Foto: Pedro Chavesce/Fortaleza
No
caso de Ceni, isso significou pedir ao Fortaleza o que julgasse necessário, da
grama bem aparada no CT à privacidade, como treinos fechados à imprensa.
"Constituímos
um novo campo auxiliar, qualificamos outros dois campos do CT, construímos uma
sala de imprensa, melhoramos cozinhas e refeitórios, montamos uma nova
academia, que já está com a estrutura física pronta e os equipamentos
comprados", cita o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, quando
questionado pelo Estado sobre
o que havia mudado no clube com Ceni.
O
treinador fez o Fortaleza alterar até logística de viagens. Antes, o check-in
nos aeroportos e hotéis era realizado na chegada da delegação aos locais.
Agora, um profissional vai antes para agilizar a burocracia. No ônibus, os
jogadores já recebem as chaves dos apartamentos em que ficarão hospedados.
A
fama de "chato" acompanha Ceni desde os tempos de Morumbi, devido à
personalidade forte e a um espírito de liderança aflorado. Características que
ele carregou para o Fortaleza e a diretoria, ao menos por enquanto, considera
positivas.
"É
um cara muito exigente, que não deixa passar nada. Se tem algo que não está a
contento, ele fala. Porém, nunca é exagero, frescura. É coisa profissional,
séria", garante Paz.
O
estafe de Ceni conta com Haroldo Lamounier, preparador de goleiros dele durante
mais de uma década no São Paulo, o francês Charles Hembert, que o auxiliou no
primeiro trabalho como treinador, Nelson Simões, ex-zagueiro tricolor, e
Danilo Augusto, preparador físico que trabalhava em Cotia, sede das divisões de
base do São Paulo.
"Desde
o início, o Rogério foi muito bem aceito. As causas que ele propôs, a diretoria
acatou. O Fortaleza renovou campo, logística, tudo. Ele usufruiu do prestígio
para conseguir melhorias", diz Lamounier.
Detalhista,
Ceni costuma ficar no pé dos jogadores, mas ninguém reclama. Muito pelo
contrário. Eles elogiam. "Corrige coisas simples. Chama de canto e passa a
orientação. Todo dia ele cobra, para ninguém se acomodar", conta o meia
Dodô, camisa dez do time.
Viciado
em trabalho, o técnico dedica boa parte da rotina aos treinos e estudos. Passa
horas vendo vídeos e analisando estratégias para sua equipe e capazes de
superar adversários.
Mas
tenta aliviar o estresse ao menos duas vezes na semana, normalmente às segundas
e quartas, quando vai a um clube chamado Ideal para jogar tênis acompanhado do
médico do Fortaleza, Cláudio Maurício, e um grupo de amigos.
Se
bem que nas últimas semanas tem sido difícil pensar em algo que esteja fora das
quatro linhas. E, no caso de alguém competitivo como Ceni, já não se trata só
de conduzir o time à Série A. O acesso sem a taça certamente não terá o mesmo
gosto, ainda mais no ano em que o Fortaleza comemora o seu centenário. "A
gente está liderando o campeonato há 31 rodadas. Então, é lógico que temos de
pensar em título", admite Paz. O contrato de Ceni termina no dia 10 de
dezembro. A ideia do Fortaleza é estender por mais dois anos.
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'Rogério é um
profissional fora do comum', elogia atacante Gustavo
Em entrevista exclusiva, jogador do
Fortaleza e artilheiro do Brasil no ano exalta trabalho do técnico do time
Raphael Ramos, Renan Cacioli, O Estado de S. Paulo
Depois
de uma passagem apagada pelo Corinthians, Gustavo virou o homem-gol
do Fortaleza. O
atacante passou a ser a referência ofensiva da equipe, é o artilheiro da equipe
na Série B do Brasileiro, com 11 gols, e diz que deve a boa fase a Rogério Ceni. Na temporada, contando todas
as competições, ele soma 27 gols. Ninguém no País balançou as redes mais vezes
do que Gustavo em 2018.
Como o time se encaixou para fazer uma
campanha tão boa?
O
time se encaixou desde o primeiro momento. O elenco uniu-se dentro e fora de
campo e isso acabou sendo o nosso diferencial para a boa campanha na Série B.
Artilheiro Gustavo agradece a Rogério Ceni pelos
conselhos Foto: Divulgação/Fortaleza
Como explicar a superioridade do
Fortaleza em relação aos rivais na Série B?
A
união do grupo facilita o trabalho dentro de campo. Também destaco o torcedor
do Fortaleza, que passa uma energia sensacional para nós, jogadores. Sem
contar, é claro, que a qualidade técnica do time é muito boa. A diretoria soube
montar uma equipe com jogadores nivelados em todas as posições.
O que você destacaria no trabalho do
Rogério Ceni?
É
um profissional fora do comum, tem uma inteligência sem igual. Sempre digo que
trabalhei com diversos treinadores, mas o Rogério vem me surpreendo a cada dia.
Aprendi muito com ele tanto dentro como fora de campo. Está sendo uma
experiência fantástica trabalhar com ele.
Como o Rogério Ceni contribuiu para a
sua fase artilheira?
Ele
soube armar muito bem a equipe. Ao longo do campeonato, perdemos peças
importantes em diversos momentos, mas ele consegue trabalhar o time de maneira
muito inteligente. No meu caso específico, em todos os momentos do ano ele foi
fundamental. Se sou artilheiro do Brasil hoje é graças aos ensinamentos do
Rogério. Todos sabem que tenho um bom aproveitamento em jogadas aéreas, mas com
ele até gol de falta eu fiz. Só tenho a agradecê-lo.
Quais são os seus planos para 2019?
Pretende voltar a jogar no Corinthians?
A
atual temporada ainda não se encerrou e estou focado apenas no tão desejado
acesso do Fortaleza para Série A do Brasileiro. Quero, de certa forma,
retribuir o apoio do torcedor para depois pensar em 2019. Muitas sondagens
surgiram, mas tenho vínculo com o Corinthians. Vamos esperar encerrar a
temporada e estarei à disposição da diretoria e da comissão técnica do
Corinthians.
Edição: Benê Lima
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