Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, outubro 31, 2010

As receitas de TV dos clubes alemães em 2009/10

Valor total dividido entre os clubes dá elite germânica chega a 363 milhões de Euros
Equipe Universidade do Futebol

O Futebol Finance, portal parceiro da Universidade do Futebol, apresenta em sua página na internet uma série de relatórios sobre as receitas televisivas que os clubes geraram nas principais ligas de futebol durante a temporada de 2009/2010.

Em 2009/2010 o valor referente à venda coletiva de direitos televisivos disponibilizado para divisão entre 18 clubes do principal escalão do futebol Alemão, foi de 362 milhões de Euros. Recorda-se que os direitos de transmissão televisiva da Bundesliga na Alemanha, Áustria e Suíça, foram adquiridos em 2009 pela empresa Premiere AG (por um período de 4 anos – da temporada de 2009/10 até 2012/13), por um valor total de 1.000 milhões de Euros, repartidos pelos 4 anos de forma crescente.

Em média que cada clube da Alemão recebeu na temporada passada 20,1 milhões de Euros, referentes a direitos de transmissão dos jogos da liga. Esta média coloca a Liga Alemã no último lugar das cinco maiores ligas europeias (Inglaterra, Espanha, Itália, França e Alemanha) em termos de receitas TV geradas por meio do seu principal campeonato de futebol. No entanto, a par de Inglaterra e França, a Bundesliga é uma das ligas que procura repartir a sua receita TV de forma equilibrada.

Receitas TV dos clubes da 1.Bundesliga 09/10*:



Clube com maior receita – 28,1 milhões de Euros
Clube com menor receita – 13,3 milhões de Euros
Média de receita por clube – 20,1 milhões de Euros

*Os valores apresentados representam os valores anuais recebidos por cada clube com a venda dos direitos de transmissão da liga, não significando receita de TV total gerada anualmente por cada um. Isto significa que os clubes obtêm mais receitas de TV, por meio dos jogos das taças nacionais, competições europeias, canais de televisão próprios, etc…

Fonte: Futebol Finance

.

sábado, outubro 30, 2010

Scolari conversa com presidente da Aceesp após chamar repórteres de palhaços

Por melhor relacionamento, Scolari se reúne com jornalistas
Após polêmica, treinador do Palmeiras conversou com presidente da Aceesp
Equipe Universidade do Futebol

Em declaração após a partida desta semana contra o Atlético Mineiro, o atual técnico do Palmeiras, Luiz Felipe Scolari, chamou os repórteres presentes na coletiva de imprensa de palhaços e depois reafirmou o xingamento especificamente ao jornalista da Rádio Globo Raphael Prates.

A menção do comandante alviverde ganhou destaque na mídia nacional e internacional, sendo alvo de críticas por seu comportamento destemperado. "Big Phil", como é chamado no exterior, se irritou após ser questionado sobre a participação do meia chileno Vandívia, que atuou somente 18 minutos já que estava sentido dores na coxa esquerda antes mesmo do início do confronto.

"Não vi nada disso. Ele jogou bem durante 18 minutos. Está ótimo. Vocês (imprensa) é que estão de palhaçada. Aqui existe médico. E você é o mais palhaço", esbravejou.
 


 

Apesar de toda polêmica, Felipão se mostrou disposto a “reatar” o bom relacionamento com a imprensa. Conforme apurou o portal Comunique-se, nesta sexta-feira, um dia após a discussão, o treinador se reuniu, em companhia de seu assessor de imprensa Acaz Fellegger, com o presidente e vice-presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo (Aceesp) Luiz Ademar e Erick Castelhero.

“A reunião foi para a Aceesp mostrar o pensamento dela e o Felipão apontar o ponto de vista dele. O interessante é que a conversa foi natural”, disse Ademar em entrevista ao site.

Em vias de reaproximar Scolari aos profissionais da mídia, ficou agendado um novo encontro entre o treinador palmeirense e repórteres esportivos. A reunião funcionaria como um fórum, onde se estabeleceria uma discussão saudável a partir dos diferentes pontos de vista.

Clique aqui e confira a nota da entidade sobre o encontro

“O próximo passo, já estamos conversando, é fazer uma outra reunião, dessa vez com a participação dos jornalistas esportivos. No encontro, os profissionais fariam todos os questionamentos ao Felipão. E o Felipão, por sua vez, iria expor suas reivindicações”, acrescentou o presidente, também comentarista do canal SporTV.

Ao final da conversa, Felipão chegou até a apontar os representantes da entidade como seus “novos amigos”. Ademar também se mostrou satisfeito com o diálogo e revelou que “talvez tenha sido o papo mais proveitoso” que teve em 20 anos de carreira.

.

Artur Voltolini, designer e um dos diretores de “Só quem é sabe o que é”

Trajetória do Corinthians na Série B, sob o olhar do torcedor, é contada em documentário
Bruno Camarão

Logo no primeiro minuto do documentário “Só quem é sabe o que é”, que relata o corintianismo de diversos torcedores durante o ano de 2008, em que o clube paulista disputou pela primeira vez em sua história a segunda divisão do futebol nacional, uma imagem chama a atenção. Talvez seja mera simbologia, sem qualquer tipo de intenção. Um jovem rapaz fala sobre a relação de amor sem cobrança existente entre ele e seu time de coração. Ao fundo, um outdoor carrega a frase “Acreditar faz a diferença”.

Naquela temporada específica, em que dentro de campo o Corinthians deu a volta por cima, atingindo com antecedência o acesso à Série A do Campeonato Brasileiro, o verbo acompanhou a todos que de algum modo estejam ligados ao Parque São Jorge. A começar por entender aquela realidade apresentada. Três “loucos do bando” decidiram representar em imagem e som todo o caminho.

“A essência de ser corintiano aparece muito mais no drama, na queda para a segunda divisão, por exemplo, do que na efêmera conquista de um título mundial”, aponta Artur Voltolini, designer, historiador e um dos diretores do filme lançado neste ano.

Ao lado dele, os amigos Phydia de Athayde (também roteirista) e Ronaldo Bressane, ambos jornalistas, também conduziram o registro de lágrimas, sorrisos, dores e vibrações da massa alvinegra. Taguatinga, Fortaleza, Feira de Santana, Florianópolis e Recife, para a final da Copa do Brasil alcançada pelo Corinthians naquele mesmo ano, foram as cidades visitadas. Mas na frente do estádio do Pacaembu, entrevistando uma senhora que abria a fila para a entrada de torcedores na estreia diante do CRB, de Alagoas, que o pontapé inicial foi dado.

“Começamos a fazer o filme para falar sobre a Série B, mas a competição acabou sendo usada mais como pano de fundo. Nessa relação do sofrimento e do amor, com os 23 anos de fila e o crescimento da torcida e a criação de uma identidade e de sentimento incondicional, aquele seria o cenário ideal”, explicou Voltolini à Universidade do Futebol.

Com jus ao nome do documentário, ele admite que para quem não é corintiano muitas informações podem acabar sendo perdidas, em virtude da rápida edição. Porém, o designer tem a impressão de que as pessoas aficionadas por futebol, mas que trajam camisas de rivais do Corinthians, vão gostar de ver e viver esse mundo especial.

Apesar de não ter sido concluída da forma como diretores e produtores queriam, muito por conta da inviabilidade comercial e de uma falha no diálogo com a diretoria do clube, o saldo é visto como positivo. As quatro partes de “Só quem é sabe o que é”, cuja filmagem, edição de imagens e montagem são da Porqueeu Filmes, de Gabriel Braga e Luis Rodrigues A.S.M.A., podem ser visualizadas logo abaixo, em meio às referências de Voltolini.

Com formação em História pela USP e longa trajetória na área de design, que começou desde cedo, esse corintiano que mora atualmente no Rio de Janeiro falou ainda sobre a representatividade dos movimentos de torcidas organizadas para o futuro do Corinthians, a relação entre futebol e arte e a razão pela qual o rótulo de “Time do Povo” está se descaracterizando.

“Você não precisa realmente ter os pobres na arquibancada para fingir que é um. Você sente, tem a energia de ser um time popular, ainda mais com essa arena nova a ser construída. É imagem, marketing, uma indústria, e o futebol se adapta a isso”.




Torcedor corintiano reza durante jogo da Série B de 2008: presente também na imagem, Voltolini viajou pelo Brasil e acompanhou vários destes momentos
 


Universidade do Futebol – Profissionalmente, como se deu a sua relação com o futebol?

Artur Voltolini – Comecei a trabalhar como designer aos 17 anos de maneira não acadêmica. Parei o colegial nesse período, e iniciei já em grandes editoras, como a Folha de São Paulo e a Abril. Com 25 anos, senti falta de um aprofundamento, voltei para a escola e depois comecei a cursar História na USP.

Então, comecei a unir um pouco essa área que atendeu organização e estética de espaço com a redação, também. E o cinema surgiu como um caminho natural. Já a entrada do futebol foi uma coincidência.

Ao mesmo tempo em que estava fazendo uma disciplina de história medieval, ministrada pelo professor Flávio de Campos, que é palmeirense fanático e especialista em futebol – inclusive faz parte do documentário –, o Corinthians cai para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.

A uma semana de começar os jogos da competição, o Bressane, que tinha contato com uma produtora, falou comigo e começamos a pensar no roteiro do filme. Também era amigo da Phydia, a outra diretora, e pensávamos as coisas em reuniões, de maneira esporádica.

Todos tinham trabalhos e faziam o filme nas horas vagas. Nem ia assinar a direção no início, mas acabei assumindo, também. Fiquei empolgado e acabei recusando até outros trabalhos. É um filme bastante participativo.

Fiz as primeiras entrevistas, viajei com a torcida, e passei a estudar mais sobre futebol. Senti falta de uma visão mais acadêmica, antropológica e sociológica na obra.
 
O depoimento do professor está no filme, só que era muito maior do que a edição final, e tivemos que cortá-lo para não quebrar o ritmo.



 

Universidade do Futebol – Você acredita que a academia, de maneira geral, ainda trata o futebol de uma maneira pormenorizada, sem a profundidade que o tema instiga?

Artur Voltolini – O Eric Hobsbawm diz que para entender o capitalismo globalizado você tem que entender de futebol. O José Miguel Wisnik escreveu um livro, que eu até não gosto muito, mas muito importante sobre futebol. O Sergio Micelli também tem um texto muito legal sobre sociologia na época da invasão da torcida do Corinthians à região Sul, acompanhando a viagem no jogo contra o Inter. Além do Flávio de Campos, que estuda a modalidade, e o mestre dele, Hilário Franco Júnior.

Eu acho que existe pesquisa acadêmica para futebol, o problema é que a academia está distante da sociedade ainda, de maneira geral. A produção é endógena, não saindo de lá. Faltam algumas pontes, e conseguimos criar uma com esse filme, pelo menos.

É um problema da nossa imprensa, também, que é um pouco preconceituosa com a academia. Jornalista detesta historiador, e vice-versa (risos).

Falta uma ponte real. A academia se fecha e não sabe divulgar, ou realizar a vulgarização científicade suas produções.

Universidade do Futebol – “Quem não é” não irá captar as mensagens principais do documentário? Ou o objetivo é justamente um filme apenas para corintianos?

Artur Voltolini – Eu vou ter que ser honesto: o documentário foi feito quase que como uma “geração espontânea de filme”. Considero e vejo como crítica o fato de ele não conseguir se explicar. Para quem não é corintiano, ficam muitas informações no vazio, com uma edição super-rápida, que eu acho sensacional, mas a impressão é que as pessoas não corintianas não se situam, apesar de gostarem de ver e viver esse mundo.

Acabou virando um filme para corintiano, embora, por conta da edição, dos clipes e da trilha sonora, todos que gostam de futebol vão se divertir com essa experiência.

Começamos a fazer o filme para falar sobre a Série B, mas a competição acabou sendo usada mais como pano de fundo. Nessa relação do sofrimento e do amor, com os 23 anos de fila e o crescimento da torcida e a criação de uma identidade e de sentimento incondicional, aquele seria o cenário ideal.

A essência de ser corintiano aparece muito mais no drama, na queda para a segunda divisão, por exemplo, do que na efêmera conquista de um título mundial.

Universidade do Futebol – O objetivo de explicar o sentimento corintiano por intermédio de um filme foi atendido, então...

Artur Voltolini – Exatamente. Só que a intenção era acompanhar a todos os jogos, pois o dinheiro para as viagens acabaram um pouco antes. O filme era sobre ser corintiano e se passa no ano em que o time disputou a Série B do Brasileiro.

Universidade do Futebol – Houve algum impedimento por parte da diretoria do Corinthians na divulgação do projeto? Como foi construída essa relação?

Artur Voltolini – Demos início ao filme e acredito que nossa produtora cometeu um erro ao não falar diretamente com o Corinthians, que tinha assinado um acordo com a Fox Filmes. O clube, então, não poderia lançar mais esse produto, e não liberaria a marca para que nós lançássemos o nosso documentário.

Fomos produzindo durante o período de negociação, mas houve uma grande dificuldade com o departamento comercial do Corinthians que impediu a divulgação em tempo hábil – deveria ter sido em 2009, mas acabou ocorrendo apenas neste ano.

O filme não foi concluído da forma como nós queríamos por conta da inviabilidade comercial. Por mais barato que ele tenha custado, foi um investimento grande para todos os envolvidos.



 

Universidade do Futebol – Qual a intenção e o diferencial de traduzir o sentimento do torcedor corintiano sem ao menos uma única imagem do que rolava dentro das quatro linhas, como forma de contexto?

Artur Voltolini – São vários os fatores. Quando comecei a produzir o filme, liguei na Federação Paulista de Futebol para conseguir uma autorização e poder captar imagens do campo – ela cobrava R$ 30 mil por jogo. Iríamos ver isso juridicamente, pois havia um empecilho cujo tamanho nós não sabíamos qual era.

Resolvemos, depois, nos fixar às arquibancadas e aos arredores, na experiência corintiana. Você vai na Camisa 12 e vê que a molecada mais canta e dança do que assiste ao jogo. Há toda uma vida social construída em torno de ser corintiano e de fazer parte de uma torcida organizada. Os trabalhos, as namoradas, as festas, é quase que uma igreja, uma escola de samba: uma mistura de política e religião muito louca.

Poderíamos falar dos resultados dos jogos só pelas expressões dos próprios torcedores e pela leitura narrativa deles. Em princípio o filme iria se chamar “Jogo sem bola”, mas a produtora entendeu que era mais comercial e viável o “Só quem é sabe o que é”.

Universidade do Futebol – Vocês sinalizaram torcedores que viajaram a todos os jogos da campanha durante a Série B, movimentos organizados, aficionados da própria região em que ocorreria o jogo e até um policial que se revelou fã do clube. É possível determinar um perfil específico do corintiano?

Artur Voltolini – Eu acho que quando você pensa em massa, você consegue ter um perfil da massa; o perfil individual, não. Esta é uma resposta que eu queria ter respondido com o filme: há realmente diferença entre um corintiano e um santista? Acredito que sim, mas não acho que seja possível descobrir o time da alguém através de um questionário.

Eu também não viajei com a Dragões da Real, [torcida organizada] do São Paulo, por exemplo, para saber o comportamento dela em uma caravana.

Percebi com os corintianos coisas muito legais em termos de cooperação e ajuda entre eles próprios, mas também vi cenas horríveis. Acompanhei o jogo de Recife, contra o Sport, pela final da Copa do Brasil de 2008. Na véspera, os corintianos que viajaram de avião estavam enlouquecidos, bebendo em um bar, tentando agredir uma prostituta que estava com uma camisa do Sport – um clima de animosidade.

Eu não conseguia entender a causa daquilo. Vi uma coisa absurda ao fim do jogo, quando peguei carona no carro de uns corintianos. Um deles colocou a cabeça para fora da janela e gritou: “Ei, seu cabeça chata, vou chamar sua mãe para trabalhar na minha casa”.

Nunca imaginaria na torcida do Corinthians, a mais popular, um nível de preconceito tão baixo como esse. Da mesma forma que vi expressões lindas de dedicação ao clube, de amizade, de auto-ajuda e crença. Fiquei meio atordoado de futebol ao fim do filme.



 

Universidade do Futebol – A Gaviões da Fiel, maior torcida organizada do Corinthians, enfrenta algumas questões de divergência. Inclusive, alguns membros, entre os quais ex-presidentes da agremiação, criaram um movimento intitulado “Rua São Jorge”. Qual a sua avaliação sobre esse momento?

Artur Voltolini – Eu não sou especialista, mas sei que o carnaval assumiu outra condição dentro da Gaviões, inclusive com algumas denúncias dentro da quadra sobre as quais não quero opinar. Há muitos interesses comerciais.

O que acho que deveria se fazer, assim como ocorre na Mancha Verde, é a divisão do departamento da torcida de carnaval e o de futebol. Na Gaviões esse processo não se consolidou e gerou uma crise política.

O pessoal da Rua São Jorge usa em suas camisas o lema “É nóis q tá”, pois são os que estão sempre presentes nos estádios, são os mais fanáticos, vão cobrar os jogadores. Não querem se dissociar da torcida, mas abriram uma dissidência política, quem sabe para conseguir vencer uma eleição futura...

Pensamos em lançar o vídeo, inclusive, pela Gaviões da Fiel, mas acabou não vingando, pois também fazíamos menção à Rua São Jorge, e eles não aceitaram isso.

Quem vive dentro de uma torcida organizada tem uma experiência de democracia e política comunitária muito mais forte do que qualquer playboy que vive no Itaim e sequer cumprimenta seu vizinho. Parece que muitas vezes você está em um congresso de estudantes da USP, com a democracia ocorrendo.

Mas onde tem democracia, também tem abuso de poder. E por ser do tamanho que é, a Gaviões não aparenta ser tão democrática assim.

Universidade do Futebol – Qual a leitura que você faz entre o futebol enquanto arte, manifestação artística, mesmo, e o futebol enquanto negócio?

Artur Voltolini – Me lembro de uma Copa do Mundo de futebol feminino que parecia que todas as jogadoras brasileiras eram o Garrincha. Elas têm o corpo menor, apesar de o campo ser do mesmo tamanho, então o jogo fica mais corrido e menos marcado, pois elas não têm força física para marcar tanto, e os dribles eram muito constantes.

Hoje, o futebol é um jogo de marcação, basicamente. Se não fosse a Fifa impedir uma arbitragem eletrônica, iria virar um esporte de eficiência, como o basquete, perdendo um pouco a magia. Acho que a arte não vai morrer, mas o tipo de jogo é outro hoje.

Os grandes clubes de futebol viraram empresas. No Real Madrid há um marketing muito eficiente, com uma gestão extremamente profissional, sendo encarado como uma verdadeira indústria. No Brasil, o futebol só não é mais lucrativo por causa da cartolagem.

Por conta do forte interesse econômico, é inevitável que o futebol se deteriore. Lembro de uma matéria que li e ela dizia que está havendo um aumento da popularidade dos jogos da terceira divisão da Inglaterra. Justamente porque o jogador não vai abandonar o time do seu bairro por outro que pague mais.

Gostaria de ver no Brasil algo que poderia reduzir a violência no futebol, a criação de um campeonato entre torcidas. A violência e a animosidade seriam resolvidas em campo, e o cara nunca abandonaria a Gaviões para jogar na Independente. Ali, talvez, veríamos novamente nos jogadores lampejos, senão do futebol-arte, pelo menos da paixão pelo time que não vemos no futebol profissional com tanta frequência.

Quando o Ronaldinho [Nazário] cortou o cabelo igual ao personagem Cascão e o mundo inteiro o copiou não foi por imbecilidade, mas para mostrar a força da marca dele. Não à toa, tem contrato vitalício com a Nike.

As manifestações culturais brasileiras mais consumidas pelas massas são o futebol e a novela. Enquanto a novela cumpre o papel de abrandar os conflitos de classe, o futebol cumpre o papel de acostumar o povo à corrupção, com suas regras estapafúrdias, seus tapetões e seus juízes comprados, que refletem a ética da sociedade, que é a ética da classe dominante. Quando se vê isso na Fifa, também, entendemos que é um problema mundial.

Me pergunto: ao mesmo tempo que a Fifa tem essa postura sobre a tecnologia e a arbitragem para deixar possível o erro do árbitro e estabelecer a emoção dos jogos, ela não pode assumir essa condição para manter o controle sobre os resultados? É um pouco de teoria da conspiração, mas não duvido.



 

Universidade do Futebol – Especialmente por conta da disputa da Libertadores no ano do centenário do clube, a diretoria do Corinthians majorou o preço de diversos setores do estádio para os jogos dessa competição, gerando críticas de muitos torcedores. Você acredita que, em longo prazo, com a manutenção dessa política, o preceito de “Time do Povo” possa vir a se deteriorar?

Artur Voltolini – Eu acho que não apenas no caso do Corinthians, mas algo geral. Talvez o nosso filme seja lembrado daqui a alguns anos como a última vez em que pobre foi filmado no estádio. Com o Fiel Torcedor, hoje, você tem que ter acesso à internet para acessar ao plano, fora o dinheiro investido.

Perguntei para alguns quanto que eles gastavam para ser corintiano por mês – não coube na edição do filme. Eles responderam que em torno de R$ 400,00. Não dá. Corintiano se tornou classe média. E isso é um movimento mundial. É uma tentativa de acabar com as torcidas organizadas e tirar o poder delas, transformando o espetáculo do futebol em algo asséptico.

O Corinthians não é um time só de pobres. Na classe alta de São Paulo, também a maioria é de torcedores corintianos. Mas todos se identificam com um ideal, o ideal de ser povão. É quase que um personagem.

Você não precisa realmente ter os pobres na arquibancada para fingir que é um. Você sente, tem a energia de ser um time popular, ainda mais com essa arena nova a ser construída. É imagem, marketing, uma indústria, e o futebol se adapta a isso.

Não é à toa que o Ronaldo veio jogar no Corinthians e que a direção conseguiu benefícios para construir o seu estádio e tirar a abertura da Copa do Mundo do rival São Paulo. O perfil popular será mantido, mas dentro do estádio a realidade será outra.

Acredito que a salvação do Corinthians esteja nas mãos das torcidas organizadas. Elas ainda têm uma força diferente da dos outros clubes, principalmente a Rua São Jorge, cujo papel nesse processo é essencial; exemplo disso é a faixa estendida nos estádios pedindo por ingressos a preços populares. Muita gente no ambiente esportivo espera extirpar esse tipo de movimento social e colocar todos sentados comportadamente em suas cadeiras, como na Copa do Mundo do Japão, algo absolutamente sem graça.
 

Entenda o Movimento Gaviões da Fiel Rua São Jorge

 

Universidade do Futebol – Qual a análise que você faz sobre a produção cultural focada no futebol, especialmente em se tratando de peças e filmes? Essas obras atendem ao que você compreende como essência no esporte?

Artur Voltolini – Os filmes que eu vi, não gostei, sinceramente, mas não tenho tanto interesse. O primeiro Boleiros, do Ugo Giorgetti, é muito bom; já o segundo, não. O filme do Pelé é um dos mais bregas, com aquelas entrevistas falsas. Mas me peguei chorando em um momento, porque o Pelé é espetacular.

O próprio Fiel, também, é muito ruim, anti-séptico, com torcedores de banho tomado dentro do Pacaembu vazio. O último do centenário eu nem vi., mas me disseram que é bem melhor.

Acredito que haja um problema de concepção, mesmo, pois você tem que conseguir colocar naturalmente o futebol na cultura. Ele é parte da sociedade, e não dá para fazer essa inserção de maneira artificial.

Universidade do Futebol – Na avaliação de um profissional envolvido na área como você, quais são os principais desafios para que tenhamos um mercado cinematográfico fortalecido no Brasil?

Artur Voltolini – Só as elites metropolitanas têm tempo, dinheiro e interesse para realmente consumir cultura no Brasil. O torcedor típico mais pobre vai ver os filmes referentes ao clube, hits como o "Tropa de Elite", mas invariavelmente vai preferir poupar seu dinheiro para assistir aos jogos no estádio, comprar os uniformes, viajar com a torcida, etc.

É um problema a ser resolvido a médio e longo prazo. Vamos ver se o dinheiro do Pré-Sal será realmente investido em cultura e educação, vamos ver se haverá algum plano nacional de educação, se resgataremos o Paulo Freire de uma vez. Se a Coreia do Sul conseguiu colocar todos na faculdade em três gerações, nós também conseguimos.

.

sexta-feira, outubro 29, 2010

Semana Internacional do Esporte pela Mudança Social

Convite

Changemakers

Caro Benê Lima

Entre os dias 09 e 13 de novembro, o Rio de Janeiro sediará a Semana Internacional do Esporte pela Mudança Social 2010.

A segunda edição do evento acontecerá na Fundição Progresso, na Lapa, e trará grandes nomes do esporte mundial, pesquisadores, representantes da sociedade civil e poder público, que discutirão temas referentes à cultura esportiva no Brasil, políticas públicas, lei de incentivo ao esporte e desenvolvimento econômico a partir de mega eventos esportivos.

Consulte a programação e inscreva-se pelo site (http://www.rems.org.br/semana) ou pelo telefone (21) 3545-9293. Participe e entenda como o esporte pode render muito mais do que medalhas para o Brasil!

image001 email .

A energia de todas as torcidas – veja vídeo

Brasileirão PETROBRAS

A Jornada | O Brasileirão Petrobras é feito da energia das torcidas. A cada semana estaremos em um jogo para viver esta emoção. Acompanhe o calendário e descubra quando será sua vez de soltar o grito


  


 

 

.

Curta metragem sobre a torcida do Ceará

Sugestão: Blog Contexto Esportivo / www.contextoesportivo.blogspot.com

Com o patrocínio da Petrobras, o vídeo abaixo faz parte de um projeto sobre todas as torcidas dos clubes da série A do Brasileirão 2010.

Conheça todo o projeto AQUI

.

Fortaleza irá sediar seminário sobre a Lei de Incentivo ao Esporte

 

Evento pretende reunir empresariado e segmento esportivo

No próximo dia 26 de novembro, a Prefeitura de Fortaleza, através da Secretaria de Esporte e Lazer (Secel) e entidades parceiras, irá promover um seminário sobre a Lei de Incentivo ao Esporte. O seminário irá ocorrer de 14h às 18h, no auditório da Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL). 

O objetivo da iniciativa é dar mais visibilidade à lei e estimular o segmento esportivo local a elaborar projetos, captar recursos e executar ações nas áreas de esporte e lazer. 

O evento se propõe a promover uma maior integração entre agentes sociais de esporte e lazer, gestores públicos e empresários. Na ocasião, representantes da Comissão de Análise de Projetos da Lei de Incentivo ao Esporte, do Ministério do Esporte, irão apresentar aspectos gerais sobre a Lei de Incentivo e as perspectivas para o desenvolvimento do esporte em Fortaleza. 

O seminário também irá contar com a realização de uma oficina de capacitação para entidades esportivas, abordando aspectos técnicos acerca da formulação de projetos para captação de recursos junto à Lei de Incentivo ao Esporte. Na opinião do titular da Secel, Evaldo Lima, o seminário irá representar uma oportunidade de capacitação para gestores públicos e entidades esportivas.

Fonte: Secel

.

quinta-feira, outubro 28, 2010

São Paulo prepara plano de marketing para Rogério Ceni

Aos 37 anos, arqueiro vira arma para promoção do time paulista

Equipe Universidade do Futebol

O São Paulo estuda o lançamento de um plano de marketing especificamente focado no principal ídolo de seu atual elenco. O clube pretende criar ações que aproveitem a imagem do goleiro e capitão Rogério Ceni.

Servirão como motes para isso as duas marcas expressivas que Ceni está próximo de atingir. O goleiro está a nove gols do centésimo em sua carreira, e também precisa somar mais 64 jogos para atingir o milésimo com a camisa do São Paulo.

O plano de marketing também fará parte de uma estratégia para celebrar os últimos anos de Ceni como atleta. O goleiro já tem 37 anos, possui contrato com o São Paulo até dezembro de 2012 e não deve seguir carreira além dessa data.

O projeto está sendo desenhado pelo São Paulo em parceria com a Reebok, fornecedora de material esportivo do clube. Neste ano, a empresa fechou também um contrato com Rogério Ceni, que passou a usar chuteiras da marca.

Ceni tinha contrato com a Penalty anteriormente, mas o vínculo terminou em 2010 e não foi renovado. A partir disso, ele decidiu fatiar as propriedades: além do acordo para usar chuteiras da Reebok, passou a vestir luvas da Poker.

A parceria com a Reebok, contudo, não vai se limitar aos calçados. A companhia ajudará o São Paulo a desenvolver produtos sobre o goleiro, por exemplo. A abrangência do plano de marketing para o goleiro ainda está sendo delineada pela diretoria tricolor.

Fonte: Máquina do Esporte

Os 30 jovens jogadores mais valiosos no futebol em 2010

Alexandre Pato, do Milan, lidera a lista que conta com a presença das duas estrelas santisas: Neymar e Ganso
Equipe Universidade do Futebol

A revista Espanhola Don Balon publicou recentemente uma lista com os 100 jovens jogadores mais promissores com menos de 21 anos de idade. Entre os referenciados, existem alguns jogadores que já deixaram de ser promessas e são hoje certezas do futebol mundial, como são os casos de Alexandre Pato, do AC Milan, Mario Balotelli, do Manchester City, e Thomas Müller, do Bayern de Munique.

Baseado na lista apresentada pela revista espanhola, o Futebol Finance elaborou um ranking com os 30 jovens jogadores mais valiosos de 2010 com menos de 21 anos de idade. 

Para elaborar, foi estimado o valor mínimo e o valor máximo dos passes de cada jogador em causa, tendo em conta a sua idade, posição, jogos, gols, assistências e valores de transferências anteriores.

Os 30 jovens jogadores mais valiosos no futebol em 2010:

lista_ff

Fonte: Futebol Finance

.

Presidente da Fifa critica Seleção de Dunga

Blatter: 'Brasil da Copa não tinha identidade'

Presidente da Fifa critica Seleção de Dunga, lamenta ausência de Ronaldinho na África do Sul e chama equipe de 'velha'

Blatter - foto:EFE

Paulo Roberto Conde
Enviado especial a Zurique (Suíça)

O futebol pragmático da Seleção Brasileira comandanda por Dunga na África do Sul não irritou apenas os brasileiros. Nesta segunda parte da entrevista concedida ao LANCENET! em Zurique, o presidente da Fifa revela que se decepcionou com a equipe pentacampeã. Na opinião do dirigente, a impressão que se tinha era a de que todos
procuravam Ronaldinho Gaúcho quando viam o banco. Além de explicar a demora para as regras do futebol mudarem, Blatter também diz que o Comitê Olímpico Internacional (COI), do qual é membro, é elitista.

– O COI não confia na África e não confia na América do Sul. Ele confia apenas nos países ricos.

LEIA OS MELHORES MOMENTOS:

Na última Copa do Mundo, houve muita discussão a respeito da adoção de novas tecnologias de conferência e replays no futebol. Passados três meses do fim da Copa, teremos mudanças?
Os guardiões das regras do jogo são os membros da International Board. É um grupo composto de oito membros: quatro da associação britânica (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) e quatro representantes da Fifa. Cada grupo tem direito a quatro votos. Para mudar qualquer coisa, é preciso ter seis dos oito votos. Significa que a Fifa sempre pode vetar uma decisão, mas o contrário também ocorre. Sempre precisamos de dois votos deles. A International Board é uma organização conservadora, que fará 125 anos em 2011, ou seja, é bem mais velha do que a própria Fifa. Enfim, este comitê decidiu há dois anos parar com a apreciação da tecnologia de medição da linha de gol porque não havia sistema acurado para fazê-lo. Ou melhor, até exisitia um sistema acurado, mas não era instantâneo. Entenda, é preciso dar o resultado se foi gol ou não imediatamente, porque o jogo não para. E  seria um absurdo parar a partida dez segundos depois. Um outro gol já poderia ter saído. Depois do famigerado gol não-marcado (do inglês Frank Lampard) no jogo entre Inglaterra e Alemanha, na Copa da África, o debate recomeçou. E você veio até Zurique em boa hora, porque ainda esta semana (a entrevista foi realizada em 5 de outubro) vamos receber aqui na Fifa 11 companhias que farão apresentações sobre sistemas de conferência. Observaremos as propostas e faremos nós, da Fifa, uma apresentação à International Board. Mas apenas tecnologia da linha de gol, nada mais que se atenha ao campo de jogo. Vamos ver se achamos uma tecnologia acurada o bastante para usar a partir de julho de 2011.

Então é inimaginável pensar que, no futebol, pode ocorrer algo semelhante ao que se passa no futebol americano? 
Na NFL, o jogo é paralisado e a jogada é revisada por árbitros mediante desafio solicitado pelos técnicos. Não queremos isso. Os fãs não querem isso. Se não há discussão sobre decisões da arbitragem, então não é futebol. No futebol, os seres humanos estão jogando e os mesmos seres humanos estão apitando. Todos podem cometer erros.

À parte a tecnologia, há algum outro aspecto do futebol que você deseja mudar?
Havia uma discussão que voltou à tona sobre a necessidade de prorrogação e pênaltis. A discussão diz respeito a adotar um outro sistema de definição de uma partida ou de reintroduzir o gol de ouro. Acho que ficou algo mal resolvido porque na Copa do Mundo (da África) muitos times jogaram para não perder, e não para vencer. Houve jogos que não foram interessantes. Então, veio à pauta uma discussão sobre acabar com o empate na primeira fase da Copa. Por exemplo, decidir um vencedor da partida de alguma maneira, seja por pênaltis ou outro sistema. Vamos discutir isto muito em breve, em reunião com o comitê técnico e o comitê de futebol da Fifa.

Em sua opinião, a Copa da África teve muitos jogos ruins?
Sim. E ouvi a mesma opinião de muitos especialistas. Lembro-me de ter conversado com Franz Beckenbauer e ele ter dito: “vocês têm que mudar o jogo. Da maneira como está sendo jogado, é impossível”. O futebol é um esporte em que é preciso procurar vencer. Enfim, pelo menos vamos discutir este problema. O difícil é convencer a International Board. Aqueles quatro britânicos (Blatter faz expressão sugerindo desinteresse dos membros britânicos)...

Se o senhor tivesse poder de mudar as regras do futebol sozinho, o que faria?
Eu diria que faria algo como o que João Havelange fez, no escritório da Fifa. Ele instituiu sete itens que gostaria de mudar nas regras do jogo. Mas depois de duas ou três reuniões com a International Boardo, voltou para cá dizendo: “mais perfeito são as regras do jogo. Não entramos em discussão. Tá bom assim (em português)”.

Outra discussão diz respeito ao número abusivo de jogadores estrangeiros nos times europeus. A Inter de Milão foi campeã europeia sem ter um único italiano na equipe titular. Não é hora de mudar alguma coisa?
Este é um assunto que está na pauta do congresso da Fifa desde 2005. Há uma restrição pesada da União Europeia, porque ela diz que isso cerceia a livre-circulação das pessoas. Mas, na minha opinião, este é um outro problema. Na Itália, apenas a Inter de Milão enfrenta este problema. Mas, quando eu conversei com o senhor (Massimo) Moratti (presidente da Inter), ele disse: “presidente, nós temos de honrar nosso nome. E nosso nome é Internazionale”. Ele se saiu com essa. Mas o contrário é mostrado pelas seleções nacionais. Na Copa de 2010, a campeã Espanha tinha 11 titulares que jogavam no país, e do elenco apenas Cesc Fábregas e Fernando Torres estavam no exterior. A Alemanha tinha todos os 23 jogadores do elenco em equipes da Bundesliga. A única equipe africana que passou à segunda fase da Copa foi Gana, que tinha 80% dos jogadores em times do país. E por que a Inglaterra não foi bem? Porque certas posições-chave do futebol são ocupadas apenas por estrangeiros na Premier League: goleiro, defesa central e ataque. O que a Inglaterra tem de bom? O meio-de-campo, com Lampard e Gerrard. Mas só com meio-de-campo você não ganha. A Inglaterra não estava em um grupo difícil na Copa, mas penou. Por quê? Não marcava gols. Nós temos o regulamento 6+5, e alguns países o cumprem. Outros países não, enquadram o jogador na mesma situação de um trabalhador normal. Mas é totalmente diferente. Espero que um dia (a União Europeia) mude sua posição, e eu acho que vai mudar. 

Esta situação de excesso de estrangeiros ocorre em muitos outros esportes, como rúgbi, basquete e vôlei. Mas ninguém interfere neles. Sabe por quê? Porque os políticos não se preocupam com esporte, apenas com o futebol.

O senhor é membro do Comitê Olímpico Internacional (COI). Qual sua opinião sobre o fato de o Rio de Janeiro ter sido eleito para sede dos Jogos de 2016?
O movimento olímpico finalmente seguiu a ação da Fifa de ir a continentes que nunca tiveram chance de receber os grandes eventos.

Por que o COI demorou tanto tempo mais do que a Fifa para “descobrir” a América do Sul, por exemplo?
Porque ele não confia na África e não confia na América do Sul. Ele confia apenas nos países ricos. Basta olhar onde os Jogos Olímpicos foram realizados até hoje. Nunca havia ido a um país em desenvolvimento. No Rio, será a primeira vez. Entenda que há muitos interesses financeiros em torno dos Jogos Olímpicos. Por muito tempo, o fiel da balança foi a rede americana de televisão NBC. Agora há outras televisões no circuito, mas você pode perceber quantas vezes a América do Norte recebeu Olimpíadas, tanto de Verão quanto de Inverno (12 Olimpíadas, das quais oito nos Estados Unidos).

Então, baseado no que o senhor disse, pergunto: se o Brasil estivesse fora do Top 10 da economia mundial ainda assim receberia a Olimpíada?
Sim, receberia. Desta vez, havia todo um movimento em favor do Brasil. A única chance de não ser o Brasil era uma eventual escolha de Chicago (EUA). Mas, como Chicago foi eliminada na primeira rodada... Outra coisa: a escolha do Rio representou o fim da era (Juan Antonio) Samaranch (ex-presidente do COI), que insistia para que os Jogos Olímpicos de 2016 fossem para Madri.

Em relação à competição de futebol na Olimpíada, parece que o evento tem uma consideração pequena durante os Jogos. Obviamente não digo em comparação com a Copa, mas o futebol, por conta da regra Sub-23, não fica muito ofuscado?
O programa olímpico não diz que o futebol deve ter uma consideração melhor do que os outros esportes. Acho que tem a ver com o fato de que a televisão americana domina a transmissão olímpica, e não há vontade de promover o futebol nos Estados Unidos. Na programação olímpica da televisão que detém os direitos de transmissão, o futebol ocupa apenas um pequeno nicho. E as televisões nacionais têm de adquirir direitos especiais de transmissão para um o outro jogo de futebol da Olimpíada.

Por quê? Porque nós (futebol) somos muito populares. Se levarmos as melhores seleções do mundo, completas, as pessoas só vão querer ver futebol e não outros esportes. Mas, ainda assim, o futebol teve cerca de 1 milhão de pessoas que assistiram in loco às partidas em Pequim. Apenas em algumas partidas de futebol feminino o público foi ruim, mas no geral foi bom. O Brasil levou Ronaldinho, Messi estava lá.

É impossível mudar esta idade-limite para os jogadores participarem da Olimpíada?
Nós temos uma estrutura na Fifa, e eu acho bem lógica. Temos o Sub-17, que é a escola primária. O Sub-20 é o colégio. O Sub-23 é a universidade. E a Copa do Mundo é o mestrado. Curioso é que o Brasil teve apenas um jogador Sub-23 na Copa da África. Era uma equipe muito velha.

E Dunga deixou bons jogadores com menos de 23 anos no Brasil.
Sim, eu sei. E os dois astros não estavam bem. Kaká não estava em boas condições. E Elano se machucou logo no segundo jogo. Acho que todos estavam olhando para o banco de reservas e se perguntando: “onde está Ronaldinho?”.

Falamos tanto de Copa do Mundo, mas acho válido perguntar: o senhor gostou do futebol jogado na África?
Eu até gostei, mas achei o futebol muito... Sabe, o Brasil jogou um futebol europeu. O Brasil perdeu a identidade antiga, de sempre procurar o ataque. Foi diferente da Alemanha, que massacrou a Argentina porque sempre buscou gols. O Brasil da Copa era um time minimalista. A defesa era muito forte, o goleiro era Júlio Cesar, como o imperador, e a equipe não teve problemas até enfrentar a Holanda. Mas aí Júlio Cesar falhou, se chocou com um companheiro e cedeu o empate. A partida estava apenas 1 a 1, mas o Brasil ficou tão chocado... Gostei dos jogos a partir das oitavas de final. O futebol foi melhor do que o da Copa da Alemanha, até porque as condições para jogar eram melhores. Em 2006 estava muito quente, era impossível correr. Na África todos precisavam correr, porque estava frio.

O senhor espera encerrar seu ciclo Fifa em 2015?
Primeiramente, deixe-me ser eleito no ano que vem (quando ocorrem eleições; Blatter já anunciou que vai concorrer ao quarto mandato). Há um ditado que prega que antes de oferecer um urso ao mercado, é preciso matá-lo. Então, vamos passo a passo.

Mas de que maneira quer ser lembrado ao fim de seu mandato?
Quero ser lembrado como alguém que levou o futebol como parte cultural da sociedade. Digo, em um contexto de que futebol é esperança, educação e escola de vida. De um lado, temos competições fantásticas ao redor do mundo, mas de outro temos um elemento que dá esperança às pessoas. O futebol é baseado em respeito e disciplina, é um combate disputado em equipe no qual se aprende a ganhar e perder. Se eu for re-eleito, será minha meta levar o futebol a mais países pobres, infestados de doenças, como muitos da África, Ásia e Caribe. Está ligando com campanhas que fazemos. Se tivermos sucesso, serei lembrado como alguém que imaginou o futebol como algo mais do que chutar uma bola.

.