Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, dezembro 30, 2019

Análise: Estaduais podem ser embrião para nova liga

Para Erich Beting, futebol vai se fortalecer quando focar negócio para no máximo 60 clubes 

Sim, talvez sejam os bons ventos que sempre sopram nesta época do ano, mas a decisão da Globo de dar prioridade ao que realmente importa no Paulistão não deixa de ser uma boa notícia no médio prazo.
A racionalização do calendário dos Estaduais, por força do poder econômico da emissora, pode vir a ser o embrião que falta para finalmente termos a criação de uma liga no país. Não uma entidade que represente interesses comerciais de um grupo de clubes, mas uma liga que possa, de fato, defender a organização de uma competição esportiva.
Hoje, do jeito que está, o Estadual não representa a sobrevida do clube pequeno do interior, ele distancia ainda mais os clubes paulistas do restante do país. Só para se ter uma ideia, a cota que o Água Santa recebe para jogar o Paulistão equivale à soma do que paga o Campeonato Pernambucano. De todo o campeonato!!!
O Paulistão é uma ilha de prosperidade em meio ao caos que reina nos Estaduais pelo país adentro. O Flamengo jogar o Cariocão com o time sub-20 é o melhor exemplo da hora. Sem dinheiro da TV, o apelo que havia para colocar o time em campo no Estadual simplesmente acaba.
Para ter um futebol nacional forte, necessariamente temos de fazer o Brasileirão ser o grande campeonato do continente. E, para isso acontecer, precisamos reduzir o tamanho dos Estaduais para privilegiar 40 a 60 clubes que disputam as três principais divisões nacionais. Isso é garantir futebol de alto nível para 1,5 mil atletas. Hoje, temos no máximo cinco clubes em situação estável e confortável para pagar os jogadores em dia no futebol nacional. Essa situação só vai mudar quando um torneio gerar receita suficiente para o bom funcionamento do clube ao longo de toda uma temporada, e não por três meses.
A partir do instante em que a Globo obriga os Estaduais a se reduzirem, ela vai abrindo o caminho para o Brasileirão se fortalecer. Agora, é preciso que alguém assuma o controle para criar uma competição de fato atrativa comercialmente. Hoje, o Brasileirão é o campeonato que temos, mas está longe de ser aquele que queremos.
Principal liga esportiva do mundo, a NFL mostra que o caminho é reduzir o número de jogos para dar mais qualidade ao evento e, assim, aumentar a receita. Temos a mania de nos atermos à memória afetiva para justificar opiniões que parecem embasadas tecnicamente. É isso, mais o componente político, que ainda seguram a relevância dos Estaduais dentro do calendário. O embrião da liga cresce a cada dia...

Mycujoo usa Copinha para ganhar força no Brasil

Maior parceiro de transmissão do torneio de juniores vê chance de ampliar negócios no país
Por Erich Beting - São Paulo (SP) 

Plataforma gratuita de transmissão via streaming, o Mycujoo terá, em janeiro de 2020, o status de maior parceiro da Federação Paulista de Futebol (FPF) na transmissão da Copa São Paulo de Futebol Júnior. A plataforma será responsável por transmitir mais da metade da competição. O torneio é a maior aposta do Mycujoo para crescer no Brasil, em meio a um cenário desafiador de crescimento do streaming com players mundiais fortes, como DAZN e Facebook.
Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Terence Gargantini, diretor geral do Mycujoo no Brasil e América Latina, explica o movimento feito pela plataforma, que em 2019 conseguiu gerar receita Veja a entrevista a seguir.
Máquina do Esporte: Como a Copinha ajuda o crescimento do Mycujoo no país?
Terence Gargantini: A Copinha, além de ser o pontapé inicial da temporada de futebol do Brasil, é o maior torneio de base da América Latina, e um dos maiores do mundo. São 128 equipes de todos os estados do Brasil. Junto com a Federação Paulista, vamos transmitir cerca de 140 partidas pelo quarto ano consecutivo, ou seja, mais da metade de todo o torneio, nos dando a oportunidade de nos conectar pela primeira vez com uma grande audiência fanática por futebol. É o único torneio oficial a ser realizado nas primeiras semanas de janeiro, então todos os torcedores estão com saudades de assistir futebol e de conhecer as futuras promessas.
MdE: De que forma a plataforma tem conseguido gerar receita no Brasil?
TG: Estamos nos apresentando ao mercado, e as marcas estão começando a nos conhecer e nos incluir em seus planejamentos. O ano de 2019 foi um ano em que já conseguimos gerar receita, e 2020 será um ano de grandes desafios, mas com muitas conquistas. Temos uma audiência super selecionada, engajada, e apaixonado por futebol. São mais de 10 milhões de fãs conectadas em todo o Brasil.
MdE: Como o Mycujoo consegue se diferenciar da concorrência?
TG: Estamos surfando esta grande onda do streaming com players gigantescos, e seguimos focados no conteúdo “long tail”, ajudando nossos parceiros (clubes, federações, confederações e detentores de direitos), através de nossa tecnologia de baixo custo de produção, a entregar a seus fãs e torcedores o maior número de jogos possíveis. Com essa visibilidade, criamos um novo ecossistema, em que os parceiros são capazes de monetizar por conta desta entrega massiva de jogos. Além disso, qualquer detentor de direito pode criar, sem custo, sua própria TV e distribuir seus jogos nos quatro cantos do mundo. 
MdE: Qual o peso da Copinha para os negócios do Mycujoo?
TG: A Copinha é o pontapé inicial da temporada de futebol do Brasil e tem um peso enorme. É dali que nascem nossos futuros craques, além de ser uma competição com uma enorme aceitação dos fãs e histórias incríveis de superação. Transmitir 140 jogos pelo quarto ano consecutivo nos coloca em uma posição de destaque, abrindo-se uma centena de outras oportunidades.

Análise: A maior vitória do futebol brasileiro em 2019

Em artigo exclusivo, José Colagrossi, diretor do Ibope Repucom, fala sobre a profissionalização dos clubes
José Colagrossi, diretor do Ibope Repucom
De muitas maneiras, o futebol brasileiro virou a página de 2014 em 2019. Como se pudéssemos esquecer, nosso futebol ficou de joelhos com a humilhação dos 7 a 1 em 2014, combinado com o maior escândalo de corrupção que o futebol já viu e que atingiu os principais dirigentes do futebol brasileiro e mundial em 2015, no caso “Fifagate”. Desmoralizado, dentro e fora do campo, nosso futebol se apequenou. Entretanto, a gravidade da crise não foi logo percebida, em toda sua dimensão, porque a chegada, logo em seguida, do Rio 2016, serviu em grande medida para tirar muito do foco da gigantesca crise que atingiu nosso futebol pós-Copa.
Enquanto o foco da mídia e da população se voltava para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, todos números do nosso futebol caíam. Público nos estádios, número de patrocinadores (que batiam em retirada para evitar verem suas marcas associadas à corrupção), e audiência na TV refletiam o desencanto dos fãs com o esporte. No campo, os resultados não eram melhores. A Seleção Brasileira, desta vez sob o comando de Dunga, acumulava maus resultados. Quanto aos clubes, após ganharmos a Libertadores da América por quatro anos seguidos (2010 a 2013) ficamos sem títulos até 2017. Na Europa, a década de Messi e Cristiano Ronaldo ofuscava o brilhantismo dos jogadores brasileiros naquele continente, mesmo com a chegada de Neymar ao Barcelona.
De repente, o futebol brasileiro se fragilizou dentro e fora do campo como nunca. Para piorar ainda mais o cenário, surgiu outro fantasma: a competição crescente do futebol europeu no mercado brasileiro. Os ingredientes são conhecidos: craques famosos, calendário competente, torneios cobiçados com forte apelo e farta transmissão na TV brasileira fizeram, e ainda fazem, que cada vez mais fãs daqui se tornem também fãs de lá, inclusive nascendo uma nova geração de jovens brasileiros que se dizem torcedores exclusivos de times europeus.       
Neste cenário de terra arrasada, a crise do futebol brasileiro pós 2014 só não foi ainda maior por causa da entrada repentina da Caixa. No período de 2014 a 2018 a Caixa chegou a patrocinar 35 clubes entre grandes, médios e pequenos, e esse enorme fluxo de receita minimizou, mas não impediu, que as dívidas da maioria destes clubes aumentassem ainda mais.
A entrada da Caixa, assim como o grande número de clubes patrocinados, gerou muita polêmica, principalmente entre torcedores de times não-patrocinados pelo banco. O grande questionamento era: “por que estatal tem que investir em esportes”? Evidentemente, isso não resiste a uma análise sequer superficial. O Banco do Brasil e o vôlei brasileiro têm uma parceria histórica de grande sucesso. Até hoje a marca Lubrax gera valor de mídia de um patrocínio do Flamengo de mais de 40 anos atrás. Ayrton Senna no começo de sua carreira teve o patrocínio do Banerj, então banco estatal do RJ. Ao mesmo tempo, o patrocínio estatal tem ajudado enormemente o esporte olímpico brasileiro. E, sem dúvida, a Caixa ganhou uma enorme visibilidade no futebol que acabou gerando números estratosféricos de valor de mídia. Em paralelo, o volume de negócios financeiros gerado com os clubes, em forma de contas bancárias, folha de pagamento de jogadores e funcionários, cartões de crédito, seguros e empréstimos consignados geraram retorno ao banco.
Se por um lado o patrocínio da Caixa foi benéfico ao banco, pelo lado dos clubes, entretanto, o resultado é menos obviamente conclusivo. Com toda certeza o dinheiro da Caixa ajudou nas contas de seus clubes patrocinados. Fica até difícil projetar como estaria a saúde financeira do nosso futebol sem as centenas de milhões de reais da Caixa. Por outro lado, o dinheiro da Caixa acabou atrasando a necessária e inevitável busca pela eficiência, transparência e boa gestão de muitos clubes.
A realidade é que, por muitos anos, a dependência do dinheiro fácil e farto dos fornecedores de material esportivo, das vendas de direitos de TV e patrocínio, muitas vezes sem grandes contrapartidas, ajudou a perpetuar a gestão amadora, e muitas vezes ineficiente, do modelo associativo de muitos clubes. Gerir com dinheiro fácil, mesmo que seja em forma de adiantamentos de receita futura, não é tão difícil.
Enquanto esse ecossistema resistia, os clubes também resistiam em se modernizar. Entretanto, num espaço de poucos anos, tudo mudou. O dinheiro da TV diminuiu e passou a depender, em parte, do desempenho no campo.  Ao mesmo tempo fornecedores de material esportivo passaram a impor um modelo de parceria onde grande parte da receita aos clubes é condicionada às vendas de produtos. E a saída da Caixa gerou um mercado comprador onde o valor dos patrocínios baixou e as contrapartidas aumentaram.
De repente, o modelo que sustentou, por décadas, a gestão associativa amadora dos clubes ruiu. E a diferença de performance, dentro e fora dos gramados, entre os clubes com gestão eficiente e os clubes sem gestão eficiente ficou grande demais para não ser percebida, principalmente pelos torcedores. Antes fruto exclusivo da visão de poucos dirigentes, profissionalismo, eficiência e transparência se tornaram de repente condições necessárias não apenas ao sucesso, mas também à sobrevivência dos clubes.      
Comparo o processo de profissionalização dos clubes à uma prova de maratona. Ao contrário dos 100 metros rasos, onde todos corredores largam e chegam muito próximos uns dos outros, o processo de gestão eficiente e transparente dos clubes de futebol se parece mais com uma maratona: existe um pequeno grupo que lidera a corrida, um bloco maior intermediário, e um menor grupo que fica pata trás. O progresso de cada corredor, ou de cada clube, não é igual. Alguns estão na frente, outros mais atrás. Mas, felizmente, todos correm na mesma direção.
Em 2016, num congresso nacional de esportes, afirmei que a profissionalização da gestão do futebol seria inevitável por conta de duas forças: a pressão dos patrocinadores neste sentido e a cada vez maior diferença de desempenho esportivo entre os clubes bem a mal geridos. Naquele momento de crise, acreditava que as marcas iriam pressionar os clubes e federações por eficiência e transparência, e que isso salvaria o futebol brasileiro. Ao mesmo tempo, previa que os clubes bem geridos iriam se distanciar dos outros, e que este distanciamento iria precipitar um inevitável processo de melhora geral da gestão do nosso futebol. 
Estava certo. Mas também estava errado!
Sim, as marcas, principalmente grandes marcas internacionais, demandam, ou mesmo exigem, gestão eficiente. Ao mesmo tempo os frutos de boa gestão são cada vez mais sentidos. Entretanto, o que tem dado mais resultado neste processo é a pressão da torcida. O ano 2019 será lembrado como o ano em que o torcedor passou a demandar, senão exigir, eficiência nas decisões dos gestores. O torcedor, hoje, discute com autoridade os salários pagos aos jogadores e treinadores, valor e quantidade de patrocínio nos uniformes, a comunicação dos clubes, a qualidade de conteúdo e interatividade nos perfis sociais e, principalmente, qualidade das gestões. 
Além do debate sobre jogadores, esquemas táticos, ou como o time jogou, o orçamento do clube e como dirigentes gastam o dinheiro passou também a ser discutido, muitas vezes emocionalmente, por torcedores. O mesmo torcedor que poucos anos atrás exigia um time campeão em campo a qualquer custo, hoje quer uma gestão eficiente e transparente.
Torcida do Cruzeiro pede responsabilidade fiscal
Ficou claro que gestão campeã inevitavelmente leva a um time campeão. Os exemplos recentes estão aí para qualquer um ver. Clubes com melhor gestão estão se destacando e ganhando títulos. Por outro lado, clubes com gestão irresponsável e ineficiente acabam do outro lado da tabela.
Do lado de baixo! 
Evidentemente, nada disso seria possível sem a digitalização da sociedade e, por extensão, dos esportes. Ao contrário do torcedor analógico que não tinha poder de mídia, o torcedor digital hoje tem um protagonismo sem precedentes, e usa esse poder midiático para pressionar o clube como nunca.
Seria a democratização do futebol?
Dados de nosso monitoramento de mídias sociais dos torcedores brasileiros mostram que a cada ano cresce o percentual dos posts que comentam sobre gestão, e não resultados em campo. Em 2019 esse percentual passou de 20%. Há 3 anos atrás esse mesmo percentual não chegava a 1%. No caso dos posts de botafoguenses, por exemplo, a discussão do projeto Botafogo S/A foi, disparado, o grande tema em 2019. 
Há muito o que se comemorar em 2019. Números históricos de público nos estádios. Números históricos de audiência do esporte na televisão. Números históricos de engajamento de fãs em mídia social. Número e diversidade de patrocinadores aumentando significativamente. Os torcedores, de novo, de bem com a seleção brasileira por conta do sucesso na Copa América. Torneios emocionantes e técnicos estrangeiros reciclando o futebol brasileiro. Tudo positivo!
Mesmo assim, 2019 vai ser lembrado como o ano em que o torcedor brasileiro finalmente aprendeu que gestão eficiente traz resultados, traz glórias. Esse mesmo torcedor também aprendeu que falta de gestão inevitavelmente leva ao caos. Pode demorar, mas leva! Essa conscientização é o passo fundamental no processo de profissionalização do futebol brasileiro. O que faltava!
Essa foi, mais do que qualquer outra, a Maior Vitória do Futebol Brasileiro em 2019.

sexta-feira, dezembro 06, 2019

Por streaming, Globo compra empresa de inteligência artificial

A disputa por direitos de transmissão no streaming deve ganhar um novo capítulo após a Globo anunciar um investimento de US$ 3,3 milhões na Pixellot, empresa de inteligência artificial de Israel. O aporte na empresa tem como objetivo instalar a tecnologia fornecida por ela em estádios e instalações esportivas em todo o país, permitindo a detentores de direitos a opção de transmitir partidas ao vivo por um serviço de streaming oferecido pela Globo.
O movimento é um dos maiores passos dado pela emissora para começar a oferecer um serviço de streaming dentro do mercado brasileiro. Nos últimos anos, com foco na televisão, a Globo viu diversas competições menores migrarem para plataformas de streaming e deixou de ter direitos de transmissão sobre algumas delas. Agora, a ideia é oferecer maior possibilidade de cobertura a outros eventos.
Foto: Divulgação
"Depois de revisar muitas tecnologias no mercado de mídia, concluímos que a Pixellot desenvolveu a única tecnologia que pode fornecer uma solução na escala e qualidade exigidas. Ela também tem o maior portfólio de produtos que pode atender a todos os mercados da nossa cadeia de valor de mídia. A Globo poderá produzir novas verticais esportivas e expandir nossa cobertura no futebol, que é a paixão nacional. Isso inclui ligas e competições profissionais masculinas e femininas, além de esportes semiprofissionais e de nicho pela primeira vez", afirmou Roberto Marinho Neto, diretor da divisão de esportes do grupo, em comunicado.
A solução da Pixellot usa algoritmos de produção automatizada para rastrear o fluxo de jogo, identificar e recortar destaques, atualizar o placar e gerenciar inserções de anúncios sem a necessidade de intervenção humana. Ao instalar dispositivos com várias câmeras não tripuladas nas arenas, a solução da empresa reduz brutalmente o custo de produção de um evento esportivo. Além disso, a solução baseada em nuvem da Pixellot distribui as filmagens do jogo em plataformas diretas ao consumidor, expandindo a capacidade de distribuir mais conteúdo.
"O mercado brasileiro está cheio de milhões de entusiastas do esporte em muitos tipos de esportes. A visão do Grupo Globo de liderar uma revolução tecnológica na cobertura esportiva proporcionará maior acesso aos fãs e permitirá que a empresa monetize verticais esportivas inteiras pela primeira vez, sendo pioneira no avanço da indústria esportiva sul-americana", disse Alon Werber, CEO da Pixellot.
A emissora carioca ainda não divulgou quando pretende instalar a solução no Brasil.

sexta-feira, setembro 20, 2019

Fortaleza vai ao Cade e diz que Turner fere concorrência

Clube afirma receber R$ 31 milhões a menos do que seus pares por direitos de TV


Carlos Petrocilo / FSP
SÃO PAULO
O Fortaleza acionou o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para apurar se a Turner, responsável pelo canal TNT, que tem exclusividade para transmitir jogos de sete equipes do Campeonato Brasileiro em TV fechada, feriu a lei de defesa da concorrência ao negociar com os clubes.
A denúncia foi protocolada nesta quinta (18). O Cade é uma autarquia vinculada ao Ministério da Justiça responsável zelar pela livre concorrência.
Segundo o advogado do Fortaleza, Eduardo Carlezzo, clubes como Palmeiras, Santos, Internacional, Ceará, Bahia e Athletico dividiram R$ 140 milhões (cerca de R$ 23 milhões para cada um), enquanto a equipe do Ceará, fora dessa negociação, ficou com R$ 9 milhões fixos. 
Os contratos dos times com a Turner foram acertados em 2016, quando o Fortaleza estava na Série C do Brasileiro, mas só passaram a valer no Brasileiro deste ano.
Em jogo transmitido pela TNT, time entrou em campo com camisas de protesto - Reprodução / TNT
No começo de 2019, os demais clubes que assinaram com a Turner descobriram que somente o Palmeiras havia recebido R$ 100 milhões de luvas. Na época, as equipes confrontaram o grupo dos EUA e conseguiram negociar, além dos R$ 23 milhões, um adicional de R$ 17 milhões, alcançado um total de R$ 40 milhões cada.
Carlezzo diz que o Fortaleza ficou fora dessa última negociação. Segundo ele, o time cearense foi discriminado pela Turner por duas vezes.

“A primeira [discriminação] quando o Fortaleza não recebeu as luvas adicionais [R$ 17 milhões]. A outra é que o Fortaleza vai receber um valor fixo, de R$ 9 milhões, enquanto os outros também na Série A vão dividir R$ 140 milhões”, afirmou o advogado.

A defesa do Fortaleza se baseou na lei que estruturou o sistema brasileiro de defesa da concorrência (12.29/11), onde diz “discriminar adquirentes ou fornecedores de bens ou serviços por meio da fixação diferenciada de preços, ou de condições operacionais de venda ou prestação de serviços”. A pena pode ser multa de até 20% do faturamento bruto da empresa, grupo ou do conglomerado.

“Não há dúvidas de que o Fortaleza foi indevidamente preterido e discriminado pela Turner nos pagamentos realizados a outros clubes da Série A, o que acaba dando a estes uma vantagem financeira e competitiva não extensível ao Fortaleza, distorcendo a livre concorrência e dificultando a capacidade do clube de manter-se na Série A", afirmou Carlezzo.
Antes de ir ao Cade, o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, diz que tentou um acordo com a Turner.

"Tentamos amigavelmente, de todas as maneiras possíveis, fazer um acordo, mas como não houve outra alternativa optamos por denunciar o caso às autoridades competentes", disse o dirigente.
Procurado pela Folha, a Turner respondeu que não comentaria o caso.
Na 17ª rodada do Campeonato Brasileiro, o time do Fortaleza entrou no gramado usando a camisas com estampa “-14” em protesto por essa diferença de valores. A partida foi transmitida pelo canal TNT.
“Minha maior crítica é ao discurso deles. A Turner entrou no mercado como? Pregando igualdade e prometendo não fazer o que a Globo fez. Disseram que promoveriam uma democratização dos direitos de TV. Não posso ficar satisfeito com uma empresa que prega a igualdade e faz outra coisa”, reclamou Paz naquela ocasião.

Globo arrecada menos que previsto com PPV e alerta clubes


Emissora estimava R$ 500 milhões com vendas de pacotes
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Alex SabinoDiego Garcia / SÃO PAULO e RIO DE JANEIRO

A Globo convocou os 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, além de alguns da Série B, para uma reunião em São Paulo nesta sexta (20). O encontro, na sede da emissora, servirá para tratar, entre outros assuntos, do dinheiro que será distribuído pelo sistema de pay-per-view.
receita registrada pela Globo com a venda de pacotes ficou abaixo da expectativa projetada para este ano. A emissora estimava pelo menos R$ 500 milhões de arrecadação com a venda de assinaturas do serviço de jogos exclusivos.
Do valor obtido com as vendas dos pacotes, 38% serão repassados para as equipes. A divisão dessa fatia é feita a partir de pesquisa com clientes que assinaram o serviço. O time com maior número de torcedores que pagam pelo pacote do PPV receberá mais. Há uma quantia mínima a ser paga, que varia para cada equipe e foi definida em negociações individuais.
Transmissão de Corinthians e Independiente (COL), em jogo pela Libertadores de 2016
Transmissão de Corinthians e Independiente (COL), em jogo pela Libertadores de 2016 - Eduardo Anizelli-2.mar.16/Folhapress

Das 20 agremiações da principal divisão do país, 19 assinaram acordos com o Grupo Globo em PPV. A única exceção é o Athletico.
A distribuição do dinheiro pelo serviço foi fonte de descontentamento de alguns clubes com a Globo. O Palmeiras, por exemplo, chegou ao acordo após cinco rodadas do Campeonato Brasileiro.
Os dirigentes serão recebidos da sede da Globo às 9h30 da manhã desta sexta, com um café da manhã. Em seguida acontecerá a reunião, e depois dela os dirigentes serão levados para um almoço.
Os clubes assinaram com a Globo contrato que terá duração até 2024. Todas as equipes da Série A fecharam com a emissora para TV aberta, e o Athletico foi exceção para o PPV. Na TV fechada, além do clube paranaense, Santos, Palmeiras, Bahia, Fortaleza, Ceará e Internacional preferiram acertar contrato com a Turner.
A entrada da empresa no mercado representou a primeira vez que a Globo teve uma séria ameaça na disputa dos direitos de transmissão desde o fim do Clube dos 13, em 2011.
Por causa disso e como uma forma de pressionar as equipes, a emissora tentou incluir cláusulas de redução nos valores a serem pagos para os times na TV aberta e PPV para quem assinasse com a concorrente para os canais fechados. Palmeiras e Athletico foram quem mais resistiram, chegando a colocar em risco o modelo de negócios utilizado pela Globo. O redutor poderia chegar a até 20% do valor do contrato.



Por ser a única empresa atuante no mercado de direitos de transmissão, a empresa conseguia manejar a tabela para satisfazer as demandas da Rede Globo (aberta), SporTV (fechada) e Premiere (PPV).
Até o acerto do Palmeiras, o pay-per-view esteve impedido de transmitir 10 dos 50 primeiros jogos do Campeonato Brasileiro. Sem o Athletico-PR, ao todo ficará sem 43 das 380 partidas do torneio.
O marketing do serviço de PPV sempre foi apoiado na mensagem que o assinante teria direito a ver todos os jogos do torneio, o que em 2019 não aconteceu. Por causa disso, o Procon de São Paulo notificou Claro, Sky, Vivo, Oi e TIM para que esclarecessem como seria a oferta de pacotes dos jogos para a TV a cabo e se os clientes que já haviam assinado acreditando que todas as partidas estariam disponíveis seriam ressarcidos.
O mercado de pay-per-view movimentou R$ 1,4 bilhão em 2018.
“Consideramos valioso o diálogo com os clubes, os enxergamos como parceiros de enorme relevância, e tenho certeza que a recíproca é verdadeira. Na realidade, fazemos isso [reuniões] o tempo todo, ainda que infelizmente nem sempre seja possível um fórum amplo”, disse Fernando Manuel, diretor de direitos esportivos da Globo.
Ele não comentou a redução de valores. Procurada, a assessoria de imprensa da Globo não respondeu até a publicação deste texto.