Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, setembro 20, 2019

Fortaleza vai ao Cade e diz que Turner fere concorrência

Clube afirma receber R$ 31 milhões a menos do que seus pares por direitos de TV


Carlos Petrocilo / FSP
SÃO PAULO
O Fortaleza acionou o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para apurar se a Turner, responsável pelo canal TNT, que tem exclusividade para transmitir jogos de sete equipes do Campeonato Brasileiro em TV fechada, feriu a lei de defesa da concorrência ao negociar com os clubes.
A denúncia foi protocolada nesta quinta (18). O Cade é uma autarquia vinculada ao Ministério da Justiça responsável zelar pela livre concorrência.
Segundo o advogado do Fortaleza, Eduardo Carlezzo, clubes como Palmeiras, Santos, Internacional, Ceará, Bahia e Athletico dividiram R$ 140 milhões (cerca de R$ 23 milhões para cada um), enquanto a equipe do Ceará, fora dessa negociação, ficou com R$ 9 milhões fixos. 
Os contratos dos times com a Turner foram acertados em 2016, quando o Fortaleza estava na Série C do Brasileiro, mas só passaram a valer no Brasileiro deste ano.
Em jogo transmitido pela TNT, time entrou em campo com camisas de protesto - Reprodução / TNT
No começo de 2019, os demais clubes que assinaram com a Turner descobriram que somente o Palmeiras havia recebido R$ 100 milhões de luvas. Na época, as equipes confrontaram o grupo dos EUA e conseguiram negociar, além dos R$ 23 milhões, um adicional de R$ 17 milhões, alcançado um total de R$ 40 milhões cada.
Carlezzo diz que o Fortaleza ficou fora dessa última negociação. Segundo ele, o time cearense foi discriminado pela Turner por duas vezes.

“A primeira [discriminação] quando o Fortaleza não recebeu as luvas adicionais [R$ 17 milhões]. A outra é que o Fortaleza vai receber um valor fixo, de R$ 9 milhões, enquanto os outros também na Série A vão dividir R$ 140 milhões”, afirmou o advogado.

A defesa do Fortaleza se baseou na lei que estruturou o sistema brasileiro de defesa da concorrência (12.29/11), onde diz “discriminar adquirentes ou fornecedores de bens ou serviços por meio da fixação diferenciada de preços, ou de condições operacionais de venda ou prestação de serviços”. A pena pode ser multa de até 20% do faturamento bruto da empresa, grupo ou do conglomerado.

“Não há dúvidas de que o Fortaleza foi indevidamente preterido e discriminado pela Turner nos pagamentos realizados a outros clubes da Série A, o que acaba dando a estes uma vantagem financeira e competitiva não extensível ao Fortaleza, distorcendo a livre concorrência e dificultando a capacidade do clube de manter-se na Série A", afirmou Carlezzo.
Antes de ir ao Cade, o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, diz que tentou um acordo com a Turner.

"Tentamos amigavelmente, de todas as maneiras possíveis, fazer um acordo, mas como não houve outra alternativa optamos por denunciar o caso às autoridades competentes", disse o dirigente.
Procurado pela Folha, a Turner respondeu que não comentaria o caso.
Na 17ª rodada do Campeonato Brasileiro, o time do Fortaleza entrou no gramado usando a camisas com estampa “-14” em protesto por essa diferença de valores. A partida foi transmitida pelo canal TNT.
“Minha maior crítica é ao discurso deles. A Turner entrou no mercado como? Pregando igualdade e prometendo não fazer o que a Globo fez. Disseram que promoveriam uma democratização dos direitos de TV. Não posso ficar satisfeito com uma empresa que prega a igualdade e faz outra coisa”, reclamou Paz naquela ocasião.

Globo arrecada menos que previsto com PPV e alerta clubes


Emissora estimava R$ 500 milhões com vendas de pacotes
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Alex SabinoDiego Garcia / SÃO PAULO e RIO DE JANEIRO

A Globo convocou os 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, além de alguns da Série B, para uma reunião em São Paulo nesta sexta (20). O encontro, na sede da emissora, servirá para tratar, entre outros assuntos, do dinheiro que será distribuído pelo sistema de pay-per-view.
receita registrada pela Globo com a venda de pacotes ficou abaixo da expectativa projetada para este ano. A emissora estimava pelo menos R$ 500 milhões de arrecadação com a venda de assinaturas do serviço de jogos exclusivos.
Do valor obtido com as vendas dos pacotes, 38% serão repassados para as equipes. A divisão dessa fatia é feita a partir de pesquisa com clientes que assinaram o serviço. O time com maior número de torcedores que pagam pelo pacote do PPV receberá mais. Há uma quantia mínima a ser paga, que varia para cada equipe e foi definida em negociações individuais.
Transmissão de Corinthians e Independiente (COL), em jogo pela Libertadores de 2016
Transmissão de Corinthians e Independiente (COL), em jogo pela Libertadores de 2016 - Eduardo Anizelli-2.mar.16/Folhapress

Das 20 agremiações da principal divisão do país, 19 assinaram acordos com o Grupo Globo em PPV. A única exceção é o Athletico.
A distribuição do dinheiro pelo serviço foi fonte de descontentamento de alguns clubes com a Globo. O Palmeiras, por exemplo, chegou ao acordo após cinco rodadas do Campeonato Brasileiro.
Os dirigentes serão recebidos da sede da Globo às 9h30 da manhã desta sexta, com um café da manhã. Em seguida acontecerá a reunião, e depois dela os dirigentes serão levados para um almoço.
Os clubes assinaram com a Globo contrato que terá duração até 2024. Todas as equipes da Série A fecharam com a emissora para TV aberta, e o Athletico foi exceção para o PPV. Na TV fechada, além do clube paranaense, Santos, Palmeiras, Bahia, Fortaleza, Ceará e Internacional preferiram acertar contrato com a Turner.
A entrada da empresa no mercado representou a primeira vez que a Globo teve uma séria ameaça na disputa dos direitos de transmissão desde o fim do Clube dos 13, em 2011.
Por causa disso e como uma forma de pressionar as equipes, a emissora tentou incluir cláusulas de redução nos valores a serem pagos para os times na TV aberta e PPV para quem assinasse com a concorrente para os canais fechados. Palmeiras e Athletico foram quem mais resistiram, chegando a colocar em risco o modelo de negócios utilizado pela Globo. O redutor poderia chegar a até 20% do valor do contrato.



Por ser a única empresa atuante no mercado de direitos de transmissão, a empresa conseguia manejar a tabela para satisfazer as demandas da Rede Globo (aberta), SporTV (fechada) e Premiere (PPV).
Até o acerto do Palmeiras, o pay-per-view esteve impedido de transmitir 10 dos 50 primeiros jogos do Campeonato Brasileiro. Sem o Athletico-PR, ao todo ficará sem 43 das 380 partidas do torneio.
O marketing do serviço de PPV sempre foi apoiado na mensagem que o assinante teria direito a ver todos os jogos do torneio, o que em 2019 não aconteceu. Por causa disso, o Procon de São Paulo notificou Claro, Sky, Vivo, Oi e TIM para que esclarecessem como seria a oferta de pacotes dos jogos para a TV a cabo e se os clientes que já haviam assinado acreditando que todas as partidas estariam disponíveis seriam ressarcidos.
O mercado de pay-per-view movimentou R$ 1,4 bilhão em 2018.
“Consideramos valioso o diálogo com os clubes, os enxergamos como parceiros de enorme relevância, e tenho certeza que a recíproca é verdadeira. Na realidade, fazemos isso [reuniões] o tempo todo, ainda que infelizmente nem sempre seja possível um fórum amplo”, disse Fernando Manuel, diretor de direitos esportivos da Globo.
Ele não comentou a redução de valores. Procurada, a assessoria de imprensa da Globo não respondeu até a publicação deste texto.