Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, outubro 30, 2016

Uma aula de futebol com a Premier League

Uma aula de futebol com a Premier League

Tive o prazer de ser convidado pela Universidade de Futebol para fazer parte da primeira delegação brasileira a fazer uma imersão inspiradora com a Premier League na Inglaterra no final desse mês de outubro.
Foram dias empolgantes, e ao mesmo tempo, frustrantes.
Empolgante ao ver o nível de profissionalismo do futebol inglês, sua estrutura, o nível de seus profissionais, a profundidade e capilaridade das diversas áreas profissionalizadas dentro dos clubes. E frustrante. Frustrante por ver a distância astronómica que estamos deles aqui no Brasil.
A presença da nossa "Brazilian Delegation"foi destaque nos sites dos clubes e da da própria Premier League. Mais um exemplo de como eles valorizam o profissionalismo e o aprendizado.
Entre os destaques, a estrutura das categorias de base, chamadas de academias, e o nível de profissionais que cuidam dessa "matéria prima" dos clubes chamou muito a atenção. Desde alimentação até a preparação dos atletas como pessoas e como profissionais é tratada com a importância devida.
Falando em Atletas, lá pude encontrar com Coutinho e Lucas do Liverpool, depois do jogo fomos convidados ao camarote do camisa 10 brasileiro que estava lá com toda sua família e amigos comemorando o gol e a vitória pela Premier League. Até nisso o clube dá um show e tenta minimizar o impacto dos craques ficarem tão longe de seu país e sua cultura. Coutinho é hoje o grande ídolo do clube, sua foto está em todo estádio e em centenas de produtos licenciados. Já Lucas, desde a saída de Steven Gerrard, é o jogador mais antigo de Anfield Road e uma moral incrível com a torcida.
As áreas de comunicação de marketing também mostram um gap secular entres eles e nós. Desde o engajamento com os fãs até diversas iniciativas de novas receitas diretas ao consumidor são exemplares.
Outro ponto muito importante e muito diferente aqui é a preocupação com a "comunidade" ao redor do clube e com o lado social da sua torcida e da sua cidade. Vários exemplos emocionantes e
O curso contou com um seleto time de profissionais brasileiros que tinham dirigentes de clubes, como Marcelo, presidente do Bahia e Gustavo do Audax/Osasco/Oeste, de agentes de futebol, de ex-jogadores Tcheco e Gotardo e de profissionais do mercado.
Do Esporte Interativo fomos eu, Bernardo Ramalho e Felipe Aquilino. E é claro foi um prazer representar um grupo de mídia brasileiro nessa viagem. Segue aqui agora mais algumas fotos pra ajudar a ilustrar essa experiência incrível.
Premier League Football Tour:

sábado, outubro 29, 2016

Rio-2016 deve mais de R$ 22 milhões em contas de luz de instalações

SÉRGIO RANGEL
DO RIO
PAULO PASSOS
EDITOR-ADJUNTO DE "ESPORTE"
Diego Padgurschi/Folhapress
Vista do morro da Mangueira para o Maracanã, local da abertura da Olimpiada
Mais de dois meses após o encerramento dos Jogos Olímpicos, e um depois do fim da Paraolimpíada, o Comitê Organizador da Rio-2016 sofre para pagar contas de luz. A entidade deve mais de R$ 22 milhões para a Light, empresa fornecedora de energia elétrica no Rio.
A conta mais alta não paga pelo comitê é a do IBC, centro de transmissão dos Jogos, montado dentro do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca. O valor em questão chega a R$ 4,3 milhões.
Só no Maracanã, a dívida é de R$ 1,2 milhão. O estádio, que recebeu partidas de futebol e as cerimônias de abertura e encerramento dos eventos, está sob responsabilidade do comitê desde o dia 1º de março deste ano.
No acerto com o governo do Estado do Rio e com a Odebrecht, que administra o estádio, estava acordado que as contas no período até a entrega do estádio seriam pagas pela organização do evento.
O Maracanã deveria ser devolvido à concessionária no final de outubro. Na quarta (26), foi anunciado que a Rio-2016 ficará com a custódia do estádio por mais um mês.
Além do pagamento das dívidas com fornecedoras, a entidade precisa executar melhorias na arena e no Maracanãzinho, que recebeu partidas de vôlei na Olimpíada.
A Light informa que negocia o pagamento com a entidade. No caso do Maracanã, não há risco de corte de luz. Outras instalações, como o Engenhão e o IBC, já tiveram a energia desligada.
Ao todo, pagamentos de contas de luz de mais de 20 instalações estão atrasados.
A inadimplência é só um dos problemas enfrentados pelo comitê. No último sábado, a Folha revelou que a Rio-2016 deve pelo menos R$ 20 milhões a empresas que prestaram serviços para os Jogos.
A entidade chamou credores para negociações e alegou estar sem dinheiro em caixa. Ofereceu, então, o pagamento com desconto de 30%.
Inúmeros fornecedores que tentam obter seus pagamentos sem acionar a Justiça se irritaram com o pedido.
Também em consequência disso, os organizadores já sofrem uma enxurrada de processos judiciais.
Pelo menos 25 ações tramitam em tribunais do Rio, de São Paulo e nas esferas estadual e federal.
Dotado de um orçamento de US$ 2,8 bilhões (R$ 8,8 bilhões, em valores atuais), composto em sua maioria por verbas de patrocínio, aportes do Comitê Olímpico Internacional e verbas obtidas com venda de produtos licenciados e de ingressos, o comitê Rio-2016 teve de cortar despesas para garantir a realização dos Jogos.
Também precisou pedir socorro a patrocinadores estatais antes da Paraolimpíada e recebeu R$ 150 milhões da prefeitura, via convênio.
Eduardo Knapp/Folhapress
Rio de Janeiro, RJ, BRASIL, 20-08-2016: Olimpiadas Rio.Olimpiadas.Disputa pela medalha de ouro no futebol masculino entre Brasil e ALemnaha no Estadio do Maracana. Torcedore faze referencia ao 7 x 1 antes do inico do jogo (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, ESPORTES).
Torcedor exibe cartaz durante a final do torneio masculino de futebol dos Jogos, no Maracanã
OUTRO LADO
O Comitê Organizador dos Jogos Rio-2016 afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não deixará dívidas relativas à realização da Olimpíada e da Paraolimpíada no Brasil.
O diretor de comunicação da entidade, Mario Andrada, disse que a organização "honrará com todos os seus compromissos" assumidos com fornecedores, servidores e empresas contratadas.
Mario Andrada não quis confirmar os valores de débitos do comitê. À Folha, a Light informou que a inadimplência supera R$ 22 milhões.
As dívidas estão sendo negociadas entre a empresa e a Rio-2016.
O comitê organizador dos Jogos deve também para empresas que forneceram água e gás para as instalações que foram utilizadas antes e durante os eventos disputados em agosto e setembro.
*
RIO-2016 E O MARACANÃ
O que é o Comitê Organizador Rio-2016?
Associação civil privada, sem fins lucrativos, aberta em 2010 para organizar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio (cidade foi eleita em 2009). De acordo com seu estatuto, o prazo de duração da entidade se encerra em 31 de dezembro de 2023.
Quem chefia o comitê?
Desde sua constituição, o presidente é Carlos Arthur Nuzman, que também chefia o COB (Comitê Olímpico do Brasil).
De onde vem a verba?
O comitê tem orçamento superior a R$ 7,4 bilhões, que é totalmente privado, de acordo com ele. A maior parte vem de patrocínio local e de aportes do COI (Comitê Olímpico Internacional). Há também receitas de venda
de ingressos e licenciamento.
Qual é a atual situação financeira do comitê?
Difícil. Ele precisou fazer convênio de R$ 150 milhões com a prefeitura para realizar a Paraolimpíada. Deve ao menos R$ 20 milhões a fornecedores e descumpriu prazo para reembolsar 140 mil torcedores que revenderam seus ingressos -111 mil teriam sido pagos até a quinta (27).
Rio-2016 x Maracanã
O comitê assumiu o estádio em 1º de março para fazer as adaptações para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. O Maracanã deveria ser devolvido à concessionária neste mês, mas acordou-se que
ele ficará sob custódia até o final de novembro. A entidade precisa executar melhorias na arena (assentos e a cobertura ficaram danificados devido aos eventos) e no Maracanãzinho, que está fechado desde agosto. Além disso, tem dívidas significativas de luz (R$ 1.244.420, 42).
Colaborou MARCELO QUAZ, de São Paulo 

Mané Garrincha, tido por contemporâneos como o melhor jogador de todos os tempos

Em 1965, Garrincha marcou o único gol do jogo que decidiu o Campeonato Carioca aos 20min do segundo tempo. Esta foi a última partida dele com a camisa alvinegra. A equipe tinha
Manga, Joel, Zé Carlos, Paulistinha e Rildo; Airton e Gérson; Garrincha, Jairzinho, Sicupira e Roberto



Garrincha, tipo por muitos como o melhor jogador de todos os tempos, ganhou duas copas do Mundo, 1958/1962. Pelé deve muito a ele.






Campanha passada da Lei de Incentivo ao Esporte

O VALOR DE MERCADO DOS ELENCOS DA SÉRIE B: A POSIÇÃO NA TABELA REFLETE AS CIFRAS?

por Felipe Barros e Felipe Diuana 

Bahia e Vasco têm os elencos mais valiosos da Série B, mas tem desempenhos questionáveis na competição
Bahia e Vasco têm os elencos mais valiosos da Série B, mas colecionam desempenhos questionáveis na competição 

Foi dada a largada para a reta final da Série B. Enquanto equipes tradicionais como Bahia e Goiás tentam se recuperar após patinarem durante quase toda a competição, o Vasco se vê se surpreendido por um constante Atlético-GO. 

Será que as campanhas dessas equipes condizem com o potencial de seus jogadores? Pensando nisso, assim como fez com os clubes da Série A, o Virando o Jogo elaborou um ranking com o valor de mercado de cada elenco da Segundona, de acordo com os dados do site Transfermarkt. Veja abaixo: 



Fizemos também uma rápida conta para saber quanto “teria custado” cada ponto dos times até a 30ª rodada da competição. Vale lembrar que o valor dos jogadores descrito não é o valor pago por cada clube para tê-los, e sim o valor de mercado. Portanto, a análise é válida para entender se a campanha do seu time está acima ou aquém das expectativas do mercado.



Ao analisar os números, a grande surpresa é logo na primeira colocação do ranking, com o Bahia um pouco à frente do Vasco. A situação, contudo, tem lógica do ponto de vista do mercado: por mais que o clube carioca seja o time de maior poder financeiro da Série B e tenha o elenco mais caro, a maioria de seus principais jogadores está acima dos 30 anos, o que os torna menos valiosos no mercado.


Quem completa o trio de líderes é o Goiás. Com jogadores consideravelmente valiosos como Walter e o goleiro Renan, não é surpresa a posição do esmeraldino. Aliás, o valor de mercado dos elencos de Bahia, Vasco e Goiás supera até mesmo o de algumas equipes da Série A.

Posição do Atlético-GO na tabela de classificação é surpreendente levando em conta que os goianos têm apenas o 12º elenco mais valioso da Série B
Posição do Atlético-GO na tabela de classificação é surpreendente para o mercado: 
goianos têm apenas o 12º elenco mais valioso da Série B

Porém, a tabela da Série B mostra que ter um elenco valorizado no mercado não é prova de sucesso dentro de campo. Enquanto o Vasco disputa a liderança ponto a ponto, o Bahia ainda não engatou de vez na briga pelo acesso e o Goiás só deixou de pensar em rebaixamento poucas rodadas atrás. A verdade é que as três equipes têm uma relação “valor do elenco/pontos conquistados” muito abaixo do que deveriam.

Em contrapartida, três clubes surpreendem – e muito. Com apenas o 12º elenco mais valioso da competição, o Atlético-GO é o líder da Série B, com apenas cinco derrotas até a 30ª rodada. Uma posição atrás do Dragão no ranking dos elencos, o Londrina também faz bonito e briga pelo acesso. Por fim, outro time que faz excelente campanha com um elenco modesto é o Brasil de Pelotas: atualmente na 8ª colocação, os gaúchos têm a melhor relação “valor do elenco/pontos conquistados” da Segundona.

Na zona de rebaixamento, a única surpresa é o Joinville, por conta do elenco que vale em torno de 10 milhões de euros. Outros clubes em situação perigosíssima na competição, o Tupi e o Sampaio Corrêa têm mesmo os elencos menos valiosos da Série B.

No Dia do Flamenguista, Ronaldo Angelim surpreende rubro-negros como vendedor

sexta-feira, outubro 28, 2016

Evento no Rio debate ‘Esporte pela mudança social’

IV Semana Internacional Esporte Pela Mudança Social acontecerá no fim de novembro
Por Redação - São Paulo (SP)
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O Rio de Janeiro receberá, entre 30 de novembro e 2 de dezembro, o evento IV Semana Internacional Esporte Pela Mudança Social (SIEMS). E evento é gratuito e será promovido Rede Esporte Pela Mudança Social (REMS) em parceria com o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e a GIZ, empresa alemã focada em sustentabilidade.
O encontro será no Museu de Arte do Rio (MAR), com temas voltados para o esporte e a inclusão social. Magic Paula, fundadora do Instituto Passe de Mágica, será uma das palestrantes. Mônica Zagallo, coordenadora da Fundação Gol de Letra, também tem presença garantida.
As inscrições para o evento já estão abertas pelo site http://www.rems.org.br/siems/

Notícia Esporte Social 

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Transmissão pela internet ganha força em eventos menores

Copa do Brasil de Futebol Feminino foi mais um evento exclusivo na internet
Por Duda Lopes - São Paulo (SP) 
Resultado de imagem para Copa do Brasil feminina pela internet - Audax x São José
Divulgação

Nos últimos anos, grandes ligas e emissoras têm investido cada vez mais no streaming. Hoje, um brasileiro com conexão à internet pode assistir à NBA, à NFL ou à Liga dos Campeões apenas com uma banda larga e um dispositivo móvel. Mas não é só com os milionários torneios que esse mercado tem mudado. Ao contrário: os menores também têm sido beneficiados.
Na quinta-feira, houve um exemplo claro. Quem quis assistir à final da Copa do Brasil de Futebol Feminino não teve outra alternativa que não fosse conectar a internet. O jogo entre Audax/Corinthians e São José foi exibido na conta de Facebook do Audax e no site da CBF. Com o clube, a partida teve 11 mil visualizações. Quando o Corinthians publicou em sua conta um vídeo da comemoração, foram 200 mil até o fechamento desta edição.
Não foi exceção. Também nesta semana, a Federação Paulista de Basquete anunciou que a final do Campeonato Estadual terá transmissão por streaming. A série de melhor de três entre Mogi das Cruzes/Helbor e Gocil/Bauru Basket poderá ser acompanhada pela TV FPB, na página oficial da federação.
Hoje, a internet já é uma realidade para os torneios sem vez na televisão. A Federação Paulista de Futebol, por exemplo, já anunciou que suas competições, como a Série A2 do Paulistão ou a Copa São Paulo, serão exibidas em seu site. A CBF, com a CBF TV, tem ido pelo mesmo caminho, como aconteceu com a Copa do Brasil de Futebol Feminino. Clubes, com partidas de juniores, também usam o artifício.
A audiência, no entanto, ainda fica longe do que é visto na televisão. Para ter uma comparação, a Série B consegue um ponto na RedeTV. Somente em São Paulo, isso significa um alcance de quase 200 mil pessoas. 

Advogada quer diminuir o poder das federações, da CBF e da Conmebol em troca do empoderamento dos clubes e atletas


Entrevista Gislaine Nunes, Advogada

by Universidade do Futebol
Crédito: Arquivo Pessoal
Crédito: Arquivo Pessoal






















Conhecida por ser a responsável pela liberação de uma centena de atletas no fim da década de 90 e início dos anos 2000, período posterior à aprovação da lei Pelé que provocou uma grande transformação na relação entre clubes, jogadores e representantes, a advogada Gislaine Nunes pretende novamente modificar as estruturas do futebol.
Formada na Instituição Toledo de Ensino, em Bauru, e sócia Benemérita do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo, tirou do papel a Liga de Futebol Paulista [LFP], competição que vem sendo disputada ao longo de 2016 e que proporcionou a alguns clubes a possibilidade de jogar regularmente. Gislaine pretende dar o pontapé inicial para um processo de diminuição da participação e importância das federações, CBF e CONMENBOL, na organização de competições de clubes.
A Universidade do Futebol conversou com a advogada sobre os desafios que a Liga enfrenta, lei Pelé, direito dos jogadores e outros assuntos que você confere nesta entrevista.
Universidade do Futebol - Quais foram os principais direitos dos jogadores de futebol profissional que puderam ser garantidos de maneira mais eficaz através da Lei Pelé? 
Gislaine – Tudo, né? Os jogadores de futebol eram escravos quase no sentido literal - só não dormiam em senzalas, de resto era tudo igual. Existia a fixação do passe após o término do contrato, que gerava um prejuízo muito grande para os atletas e suas famílias. Do início da década de 90 até 1998, quando a lei foi aprovada, sabíamos até de casos de suicídio de atletas, que eram completamente abafados pelos clubes, assim como jogadores que acabavam se entregando às bebidas, famílias sendo desestruturadas.
A lei Pelé veio para trazer o equilíbrio na relação entre clube e atleta. Porém, infelizmente, ela foi bastante mutilada pelo lobby que os clubes fizeram. De qualquer maneira, os principais direitos são a rescisão após três meses de atraso de salários e o direito de imagem, que era um pouco mais amplo, e mesmo assim os clubes, por serem tão arcaicos, provincianos e se acharem os donos do mundo, ainda continuam fazendo besteiras nesse sentido. O caso do Ronaldinho no Flamengo é um exemplo: conseguimos tirá-lo de lá já com a última alteração da lei, que prevê o direito de imagem tendo caráter cível, desde que não remeta ao contrato de trabalho. Esses clubes não tem capacidade para fazer diferente - há uma coação para que o atleta assine um direito de imagem que na verdade caracteriza a remuneração. Além disso, a lei Pelé prevê todos os direitos de um trabalhador comum, como fundo de garantia, décimo terceiro salário, férias, registro em carteira e finalmente o fim do passe.
Ronaldinho, ao lado de Dadá Maravilha, em sua despedida do Atlético Mineiro Créditos: Bruno Cantini/Site Atlético Mineiro ou Bruno Cantini/Atlético Mineiro/Divulgação
Ronaldinho, ao lado de Dadá Maravilha, em sua despedida do Atlético Mineiro Créditos: Bruno Cantini/Site Atlético Mineiro ou Bruno Cantini/Atlético Mineiro/Divulgação
Os clubes viram que o remédio foi amargo, mas positivo, aprenderam a respeitar um pouco mais os atletas, ficaram um pouco mais receosos de cair no atraso salarial. Hoje os atletas são menos alienados. Apesar de ainda serem desunidos, cada um sabe de seus direitos.
Universidade do Futebol - O início da década passada marcou uma quebra de paradigmas nas relações trabalhistas entre jogadores e seus empregadores. Dentro desse período, muitos clubes falharam em se adaptar à nova realidade. Quais eram nessa época os principais “erros”, tantos morais, na sua avaliação, quanto legais, cometidos pelos clubes nessa fase de transição? 
Gislaine - Os clubes eram muito mais arcaicos e provincianos do que ainda são. Nesse período se colocava os jogadores encostados, sem rescisão ou punições previstas na CLT, apenas treinando separado, ou afastados em casa, sem participar dos jogos. Eles não pagavam férias, atrasavam salários e forçavam as transferências para onde convinha.
Em 1998 houve a aprovação e publicação, mas existia o vacatio legis, a vacância da lei, que na prática significou que os clubes tiveram dois anos para se adaptar ao fim definitivo do passe. Só que eu comecei a protocolar pedidos de liminares na Justiça do Trabalho, que eram intermináveis, assim que a lei saiu, em março [de 98]. Por ter trabalhado dentro do projeto, fui uma das únicas advogadas, quando a lei Pelé saiu, a já estar praticamente pronta dentro do sindicato, com muitos processos de atletas. A gente chegava a liberar 10 atletas por semana.
Eram muitos os jogadores que vinham nos procurar, justamente alegando isso, que não recebiam, que eram obrigados a jogar daquela forma, que quando se machucavam eram dispensados, tratados como se coisa fossem. Dentro ainda desse período, quando os clubes viram que a lei realmente iria entrar em vigor, ser colocada em prática, eles ainda teimavam em não pagar férias, décimo terceiro, não tratar o jogador quando se machucava, mandando embora e pronto, simplesmente encostando os atletas por atos de indisciplina. Quando começamos a libertar os atletas e fazer valer a lei, os clubes ficaram mais receosos, mas isso demorou uns quatro anos a partir da aprovação - eles continuavam achando que eram os coronéis, que os jogadores eram seus escravos.
O Pelé foi criado e cresceu na Vila Curuçá, em Bauru, junto com o meu pai. Nós fizemos um contato para a produção de um programa que tínhamos, por volta de 2006, 2007. Quem veio me procurar foi ele -  talvez tenha visto em alguma entrevista que eu também era de Bauru. Conversava muito com sua assessora, até que um dia ele me mandou um e-mail dizendo que estava muito feliz por saber que eu era filha de quem era, que meu pai foi um amigo dele de infância. Quando fui visitá-lo para a gravação ele me disse uma coisa muito bacana que não vou esquecer nunca mais. Após a aprovação e publicação da lei, ele havia ouvido de muitos dirigentes de clubes que essa seria só mais uma lei Zico, que não iria valer de nada, ninguém iria mudar nada. Disse então que cada vez que eu libertava um atleta tinha uma torcida muito grande dele e quando cheguei dentro do seu escritório me falou “aqui você tem um fã-clube. Você fez valer aquilo que eu tanto buscava para os atletas. Você é a rainha da minha lei”. Foi algo que me deixou muito lisonjeada.
Os clubes apostavam que a lei não iria se fazer valer. Não esperavam que apareceria uma esposa de jogador de futebol que passava muita necessidade e por isso buscou para seu marido a liberdade antes da lei e que, quando ela foi aprovada, fez valer todos os direitos que cabiam a ele  e aos outros atletas. Sempre digo que a lei Pelé foi meu bilhete premiado. Sem sombra de dúvidas, fui a advogada mais beneficiada com a lei.
Universidade do Futebol - Houve evolução nesse cenário? Os clubes estão atualmente mais preparados, organizados? Como se deu esse avanço?
Gislaine – Estão porque têm medo. Eu aposto com você que quando a Portuguesa sair desse buraco - espero sinceramente que ela não venha a ser leiloada, não quero ser culpada disso, mas pelo jeito vai ser inevitável -,  te garanto que ela nunca vai ter os desmandos que teve. Vai aprender muito, assim como outros aprenderam. Hoje eu já não tiro mais atleta do São Paulo, do Vasco ou do Flamengo em uma leva grande. Eles estão encontrando a lei naquilo que  podem fazer. Ainda dão algumas escorregadinhas, mas muito menos.
Universidade do Futebol - Em entrevista à Universidade do Futebol, em 2007, você destacou a relação humana que conseguia construir com seus clientes. Qual importância disso para o sucesso no relacionamento advogado-cliente?
Gislaine - Acho que a maioria dos advogados não faz isso em outras áreas, mas eu com os jogadores de futebol, até por ser casada com um ex-atleta, me acostumei muito a lidar com eles. Quando comecei a representar os jogadores, grandes nomes do futebol, os libertei para que fossem fazer suas fortunas e suas carreiras fora do Brasil e via a dificuldade que eles tinham. Os clubes ameaçavam de morte, coagiam dizendo que iam à FIFA, que não iriam deixar jogar, ligavam fazendo oferta de dinheiro para mim, para que eu desistisse do processo, mentisse para os jogadores.
Acabávamos nos tornando amigos, principalmente das famílias, antes e durante o processo, porque o atleta era muito inseguro. Eles estavam presos ali, e aí surge uma advogada que teve a coragem de enfrentar um Eurico Miranda, o Clube dos Treze, que formou um cartel com o intuito de não contratar jogadores que haviam sido meus clientes. Isso causou um desespero muito grande neles. Eu dizia que era mentira. Se houvesse o interesse eles seriam sim contratados, era como soltar um passarinho da gaiola. Então, essa relação minha com os jogadores se fez necessária, até porque eu tenho esse estilo de mãezona de falar “olha meu filho, vem aqui vamos fazer assim”, de dar bronca quando precisa. Eles se sentem seguros ao meu lado.
A maioria dos atletas hoje paga para que a Gislaine faça a audiência e não meus advogados do escritório, pela segurança que eu transmito, pela característica maternal. Tenho um lado muito humano. Não posso citar nomes, mas uma pessoa importante do nosso futebol aqui de São Paulo muitas vezes ligava para desabafar, perguntar o que eu achava, como devia ser. Eu dava umas broncas. Sempre procuro ter o lado mais humano com eles acho que é muito importante.
Universidade do Futebol- Quais são os serviços prestados por você e seu escritório atualmente?
Gislaine - Nós advogamos para os jogadores de futebol e para outros perfis de clientes. Temos, por exemplo, a expertise de trabalhar com casos de prisão por pensão alimentícia adquirida no atendimento a jogadores. Somos procurados por isso, mas também em várias outras áreas. Além disso, prestamos uma assessoria a atletas que têm problemas com seus agentes nessa relação promíscua estabelecida entre eles. Eu, particularmente, não gosto dessa figura do agente que fica ali todo mês pegando o salário do jogador; gosto do empresário que vai lá, faz a negociação, pega o que é dele e vai embora, esse sim. Acho que o jogador tem que cuidar da própria conta, do dinheiro dele, da vida dele, procuramos fazer isso. Ter um bom advogado acho que é o que basta. Não precisa ter um sanguessuga pendurado ali, todo o mês pegando dez por cento do bruto. Temos no escritório a expertise de fazer tudo isso, na parte pessoal, de cuidar da vida familiar.
Universidade do Futebol - A Liga é um projeto separado?
Gislaine - A Liga é um projeto paralelo. Infelizmente, a Liga não tem como pagar advogados, então meus advogados fazem tudo lá - nós só temos estagiários por enquanto. Os clubes não vieram me procurar por causa do meu escritório; eles vieram atrás de proteção. “A doutora Gislaine é um remédio amargo, é brava, então não vai deixar que ninguém mexa conosco”. Mas sou severa com eles também - fico em cima em relação a pagamento, registro em carteira. Apesar de a Liga ainda não ter sido reconhecida pela CBF, eu não estou nem aí para eles. Sigo a lei Pelé. A competição está totalmente amparada pela lei e temos todos os contratos de atletas registrados no nosso BID .
Universidade do Futebol - Como surgiu a ideia da criação dessa competição?
Gislaine - Alguns clubes do interior vieram me procurar há sete anos, perguntando sobre a possibilidade da criação de uma competição paralela. Disse que a lei Pelé permite que exista uma liga, mas achava que nem as federações, nem a CBF iriam aceitar. Era uma briga grande, e eu não tinha tempo para fazer isso naquele momento - não estava disposta a entrar nisso. Foram embora, acabou a conversa. No ano passado eles vieram me procurar em um número maior, o que me fez ir à federação [Federação Paulista de Futebol - FPF] sondar a possibilidade. Fui lá e conversei com o Reinaldo [Reinaldo Carneiro, Presidente da FPF], que ficou muito bravo: “Liga? Isso é fazer bagunça dentro do futebol. Esses clubes não tem condição, se tivessem condição estariam aqui”. Falou, falou e pensei: bom, agora já vi por que vou montar a Liga. vou aceitar esse desafio. Se os clubes quiserem vou ajudá-los a montar esse campeonato.
Fui ajudando a se organizarem, criar estatuto. Antes de ter a primeira assembleia, procurei a secretaria de esportes do estado, tive o apoio deles e comecei a fazer, junto com meu escritório, toda a parte legal da Liga. Na primeira assembleia fui eleita presidente da Liga, o que não era minha intenção, mas agora vejo que foi importante porque nós tivemos, e estamos tendo ainda, bastantes críticas. A FPF nos notificou dizendo que nós copiamos o nome do campeonato, o logo da federação, enfim, nós incomodamos, essa é a realidade.  Se não tivesse meu nome ali acho que a Liga não existiria, até por que ela funciona nas minhas dependências, com quase tudo que é meu, conta com a ajuda dos meus profissionais, acho que ela precisava dessa estrutura inicial. Espero que agora e no ano que vem, já no fim desse ano, ela caminhe sozinha, independente da estrutura da presidente.
Semana que vem [Conversa realizada no dia 25/09] estamos entrando com uma ação. Vamos pedir junto ao poder judiciário o reconhecimento forçado da CBF, pois ela tem que nos reconhecer, isso é lei. Como administradora nacional do desporto ela tem que nos reconhecer. Essa ação já está quase pronta, vamos entrar com ela e sei que seremos vitoriosos.
Universidade do Futebol - Por que é importante para a Liga que a CBF reconheça a competição?
Gislaine - Para os clubes terem segurança, porque querendo ou não eles sempre questionam isso, e porque a própria lei fala. Para que um clube tenha direito à indenização correspondente à sua formação ele tem requisitos a cumprir que a lei Pelé estabelece. Existe esse contrato de bolsa aprendizagem. A lei Pelé, que é uma lei especial, revoga uma lei ordinária. Então a lei Pelé é suprema - acima dela só temos a constituição federal, onde ela silenciar consulta-se a CLT e o código de processo civil. Na lei Pelé diz que para os clubes terem como válido este contrato de bolsa aprendizagem eles têm que ser reconhecidos e registrados na entidade de administração nacional do desporte, que é a CBF. Então, como eu vou dar garantia para meus clubes, para meus formadores de atletas com seus futuros direitos econômicos, se a CBF, como determina a lei, não reconhece a Liga?
E quando um atleta vier transferido do XV de Jaú [FPF] para o Corinthians de Prudente [Liga], como fazemos se a CBF não aceita meu BID? O jogador não vai poder jogar? Vai ter seu direito ao trabalho tolhido pela CBF? Ela quer estar acima da constituição federal? Por esse motivo, pela legislação remeter à CBF em alguns casos, eu preciso que ela reconheça a Liga. Inclusive, já ajudei na criação de ligas no Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro e Paraná. Vamos fazer em Belém. A gente manda estatuto, ata, modelo de assembleia, auxiliamos com toda a expertise adquirida varando madrugada para criar BID, que foi o mais difícil de tudo, orientamos como registra o nome... Enfim, as ligas estão se proliferando pelo Brasil.
Universidade do Futebol - Por que um clube paulista escolheria disputar a Liga e não a série B [Quarta divisão Paulista] ?
Gislaine - Primeiramente porque precisa pagar uma grande quantia de dinheiro para se filiar, se já estiver filiado ele não tem condições de pagar a arbitragem, não recebe nada. Só agora o senhor Reinaldo Carneiro criou uma competição e está chamando os clubes - inclusive os que disputam a Liga - para irem jogar com o pagamento da arbitragem. Na Liga demos bola, arbitragem, que nos custou mais de 800 mil reais. Aliás, estamos devendo para árbitros, pois até o momento tenho colocado do meu bolso, mas parei com isso porque a Liga tem que se manter. Estamos atrás de patrocinadores para poder bancar essa arbitragem, pagar os atrasados e finalizar a competição. Está sendo complicada a vida da Liga, mas os clubes preferem, até pela relação mais humana talvez que nós tenhamos. Veja, esses clubes que estão conosco foram colocados à margem pela federação, foram excluídos. Na Liga os tratamos de maneira respeitosa, decente, reconhecendo que são clubes, entidades e agremiações de prática desportiva que não têm dinheiro, que precisam se reestabelecer e só farão isso a partir do momento em que eles entrarem em campo, tiverem um campeonato, que é o caso da Liga. Esses clubes, Bebedouro, Jalesense, Corinthians de Prudente ficaram jogados de lado pela federação e viram na Liga uma oportunidade. O que eles nos dizem é que não querem saber de federação. A partir de segunda feira [A entrevista foi realizada no dia 25/09, domingo] estreia a TV Liga. Os jogos serão televisionados online.
Universidade do Futebol - Como ela vai se manter se, por ora, é deficitária?
Gislaine - A Liga vai se manter. A maior preocupação era ela passar de cinco jogos. Passou, agora vai. Quando esse campeonato terminar, em dezembro, teremos mais clubes filiados que não participaram neste ano. Então, são mais times que já estão vindo para nós, a Liga vai se manter. Sei que nós vamos conseguir mais patrocinadores. Estamos fechando essa semana [A entrevista foi realizada no dia 25/09, domingo] já com dois deles - um que já é bem conhecido no meio televisivo. Teremos mais patrocinadores, vai surgir o interesse por ela, tenho fé nisso. Se eu não acreditar não adianta nada, entendeu? Sei que nós vamos nos manter. A Liga por si só vai ser viável porque ela não é o meu negócio, é o negócio dos clubes e vai se manter, tenho clareza disso.
Universidade do Futebol - Com patrocinadores? 
Gislaine – Isso. Até porque a gente ainda não tem a televisão. Nós tivemos uma procura da televisão, mas que não foi concretizada. Não sei se houve aí um boicote - o que me disseram é que houve uma retaliação por parte de algumas pessoas ligadas ao futebol. Então, nós não temos uma televisão hoje, mas segunda feira agora [A entrevista foi realizada no dia 25/09, domingo] já começamos a ter as nossas aparições na web. Vou procurar trazer atletas de nome para dar uma entrevista, falar a respeito da Liga. Inclusive, a TV está sendo montada em uma das minhas propriedades também.  Vai ser saudável para a Liga, pois as pessoas vão ter mais contato, saber do que se trata. Teremos uma maior divulgação.
Universidade do Futebol - A Liga se apresenta como um modelo alternativo ao atual, com as federações praticamente monopolizando a organização do futebol, é possível afirmar que o seu surgimento representa uma nova quebra de paradigmas como aconteceu no início dos anos 2000?
Gislaine - Com certeza. A Liga foi fundada dentro da secretaria de esportes. O governo do estado cedeu um auditório para nós, fizemos nossa assembleia de fundação lá. Havia mais de cem pessoas. Quando cheguei ao escritório, após a cerimônia, minha secretária avisou que eu havia recebido uma ligação do Ministério dos Esportes. Retornei, quem tinha entrado em contato era o Rogério Haman, que na ocasião era o secretário nacional do futebol. Ele disse que ligava em nome do ministro para parabenizar pela iniciativa, pela criação da Liga, porque isso fatalmente no Brasil iria acontecer, com todos os Estados, assim como temos na Europa e Estados Unidos. “Acredito que a CBF ficará apenas com o selecionado brasileiro”, ele disse, e se colocou à disposição na ocasião mencionando “você tem o meu telefone pessoal para que os clubes inclusive entrem no Profut”.
Como um clube da Liga vai entrar no Profut se ele não está reconhecido pela CBF? Veja, mais um motivo pelo qual tenho que ter o reconhecimento dela. Aliás, é o contrário: ela tem que reconhecer se estou apoiada pela lei. Para entrar no Profut o que você precisa? Ser uma entidade de prática desportiva. Você só é uma entidade de prática desportiva se tem o futebol profissional e se tem a sua regulamentação dentro do que a lei Pelé determina, o que procurei fazer para a Liga. Os nossos contratos são todos como determina a lei Pelé: contrato de trabalho com rescisão, com cláusula, multa, atestado médico assinado, tudo direitinho. Os atletas têm a sua carteira de identificação, as carteiras profissionais dos atletas todas registradas - pelo menos é o que os clubes nos passam. Pedi para que o jurídico fique a par. Nosso tribunal de justiça segue as regras do código disciplinar brasileiro. Temos o nosso TJD montado, que inclusive funciona em uma propriedade nossa também. Estamos completamente embasados e seguindo todos os requisitos que a lei determina.
Universidade do Futebol - A legislação desportiva brasileira atual atende a todas as necessidades de desenvolvimento do futebol brasileiro? Faltam novas leis? Falta mais fiscalização? Ou os dois?
Gislaine - A lei Pelé era boa quando saiu. Hoje ela foi tão mutilada que precisa de mais ajustes. Tentaram regulamentar o direito de imagem, como se ele tivesse caráter cível se não remetido ao contrato de trabalho, o que é uma tremenda balela. Como você vai fazer um contrato de imagem com todos os jogadores? Contrato de imagem é personalíssimo. Não cabe para todos os atletas, tem que ser para alguns - aqueles que realmente têm a imagem utilizada pelos clubes. A atividade do agente é muito mal regulamentada dentro da lei Pelé, citando que o contrato dura por um ano, que ele não pode interferir. Então acho que a lei carece de vários ajustes, mas o lobby dos clubes é sempre muito forte e aí, quando a categoria vai se manifestar é uma minoria que não tem força.  Todas as vezes que a lei sofreu alteração foi a pedido dos clubes e com um lobby muito incisivo deles. A lei precisa ter a voz dos dois lados, mas no Brasil acho que isso vai ser muito difícil. Até por isso, acho que as ligas vêm muito a calhar nesse momento, onde o futebol sofreu com muitos escândalos. Tudo o que é novo assusta, mas tenho certeza que os clubes se sentirão mais seguros e confortáveis tendo mais voz ativa dentro da Liga. Inclusive vou dizer: depois que nós entrarmos com essa ação, as federações e a CBF vão buscar uma alteração na lei para que as ligas não existam no Brasil, mas aí já vai ser tarde.
Universidade do Futebol - O arcabouço jurídico que sustenta clubes de Futebol - muitos deles criados na primeira metade do século XX, como entidades sem fins lucrativos - pode ser mudado nos próximos anos? Veremos os clubes se transformando em empresa?
Gislaine - Só se houver obrigatoriedade. Na Liga, a maioria dos clubes são empresa. Para eu desconsiderar a personalidade jurídica de um clube, para entrar um dinheiro da conta do presidente, é uma luta. Fora esse leilão da Portuguesa, do estádio que eu penhorei, que o nosso escritório fez esse belíssimo trabalho de conseguir garantir o direito dos atletas através disso, o clube nos deve muito. Fora isso, nós desconsideramos a figura do presidente, do Ilídio Lico. Quando ele era presidente da Portuguesa, entramos na conta dele, penhoramos seu imóvel e a conta da empresa - o que não precisaria acontecer se fossem empresas e respondessem por suas atitudes como na Europa. Acredito que se houvesse uma obrigatoriedade dizendo “a partir de hoje os clubes devem se transformar em empresas, respondendo por seus atos criminalmente, civilmente, etc”, muitos presidentes que dizem que estão nos clubes por amor e que não recebem nada, o que é uma tremenda de uma mentirada, não estariam onde estão. A maioria deles fica para poder receber, sim. Ganhar em cima do clube, largar a sujeira deles lá e depois irem embora deixando o problema para o outro. Vão matando os clubes. Isso aí, sim, é a verdade, e não o dirigente que fala que largou empresa, largou a vida toda porque ama o clube, Isso é conversa, isso é mentira. Se a lei mudasse não ia existir isso.
O tradicional clube paulistano sofre com seguidas quedas de divisão e luta para continuar na ativa Créditos: Dorival Rosa/Site Portuguesa ou Dorival Rosa/Portuguesa/Divulgação
O tradicional clube paulistano sofre com seguidas quedas de divisão e luta para continuar na ativa Créditos: Dorival Rosa/Site Portuguesa ou Dorival Rosa/Portuguesa/Divulgação
Universidade do Futebol - É possível imaginar grandes clubes do futebol migrando para a disputa da Liga no futuro e uma liga nacional?
Gislaine - Já está registrada a liga nacional em nosso nome. A federação foi lá e tentou registrar, mas nós criamos a oposição do registro via marcas e patentes, pois a minha intenção, criando todas essas outras ligas, é que nós tenhamos nossa liga nacional, que tenhamos um presidente a altura dela e também para a Liga daqui. Meu período na Liga não é longo, não quero ficar como presidente. Não tenho estrutura para isso - nem emocional, nem idade. Já estou velha, cansei, preciso cuidar da minha família, da minha vida pessoal e a liga consome bastante tempo. Estou na Liga todos os dias, pois é no mesmo prédio onde fica meu escritório. Então sempre que posso fico lá para poder ajudar e orientar.
Como nossa competição é sub-23 alguns clubes grandes não utilizam esses atletas, nós fomos procurados por dois deles que de repente sumiram. Imagino o que deve ter acontecido, mas acredito sim que vai haver. A partir do momento que a Liga crescer, tenho planos internacionais para que a Liga tenha seu campeonato com nossos irmãos em outros países. Já estou em contato com pessoas da Argentina, Colômbia. Acredito que não vai ter espaço para dois - ou fica a Liga ou a federação. Não posso deixar de acreditar, estou lutando para isso. O legado que vou deixar para o próximo presidente é esse, assim como fiz com a lei Pelé.
Fico impressionada como eu não tinha medo na época. Hoje ando com segurança, carro blindado. Antigamente, até por não ter condição financeira para isso, não andava com nada, não tinha medo, a necessidade falava mais alto. Não imaginava o que é um dirigente e o que ele é capaz de fazer.
Tudo isso que eu fiz, modéstia à parte, dentro do futebol com a lei Pelé no Brasil, permite hoje que tenhamos vários profissionais, estudantes, advogados escrevendo seus livros, fazendo seus seminários, como o juiz que trabalhou no caso do Ronaldinho e falou para mim que enquanto eu estava libertando o Juninho Pernambucano “era um estudante que admirava seu trabalho”. Tudo isso se deve a esse desbravamento lá atrás . Se eu tivesse me acovardado, não teria libertado os atletas. Fui a primeira advogada a trabalhar com a lei Pelé, então eu quero fazer isso com a Liga. Fui a pioneira com a criação da Liga no Brasil. Quando criei a Liga, fui até a CBF, deixei lá o estatuto, a ata. Fui muito bem recebida lá e eles  nos elogiaram, disseram que ela estava muito bem constituída. Falaram que a Primeira Liga não foi lá se apresentar, não foi lá dizer “vocês podem me reconhecer?”, e a despeito disso a CBF diz para a FIFA que eu me criei à revelia deles. Mentira. Tenho meu protocolo dizendo que estive lá com o nosso pedido de reconhecimento, isso estou mostrando e juntando no processo. Concluo reiterando que em minha opinião não haverá espaço para dois.


Universidade do Futebol | outubro 28, 2016 às 9:30 am | Tags: A Ligadireito desportivoLei Peléprofutslider| Categorias: Entrevistas | URL: http://wp.me/p73HM8-b8z