Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, dezembro 30, 2016

O futebol brasileiro tem muito para fazer em 2017

É preciso mais personalidade em setores importantes da modalidade

Robson Morelli


O futebol brasileiro precisa resolver algumas pendências que levará da temporada de 2016 para a de 2017, assuntos que se arrastam há tempos aparentemente sem solução, ou pelo menos sem solução nas mãos dos que gerem o esporte mais popular do planeta. Abaixo um resumo desses temas.
1 – ARBITRAGEM
Foi, sem dúvida, o calcanhar de Aquiles do nosso futebol, do começo ao fim da temporada. Erros grotescos provocaram reclamação de todos os lados. Não vi maldade na maioria deles. Nossos assopradores erraram porque são ruins mesmo, confusos, sem personalidade. Da mesma forma, sofreram com o auxílio dos bandeiras, tão ruins quantos eles. A Comissão de arbitragem mudou de mãos. Saiu Sergio Correa. Entrou o Coronel Marinho. Mais respeitado e com boas ideias. Precisa agora colocá-las em prática. A renovação da arbitragem não é mais o problema. É preciso dar condições a esses árbitros novos, tirá-los da zona da pressão, profissionalizá-los, de modo a treiná-los diariamente, com exercícios práticos e teóricos, com investimento. Os árbitros precisam pensar mais e gritar menos, sorrir mais e se aborrecer menos. São muito autoritários. É preciso ser amigos dos jogadores, confiar neles para receber o mesmo tratamento. É preciso ainda acabar com os sorteios. A comissão precisa ser isenta e escalar os melhores para os jogos mais difíceis e importantes. Formar um grupo bom para isso, de pelo menos 10 juízes de ouro. Só assim poderemos sofrer menos com a arbitragem no futebol brasileiro.
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2 – MÁ GESTÃO DOS CLUBES
É preciso, da mesma maneira, formar gestores no futebol nacional, de modo a fazê-los gerir os clubes com mais inteligência e responsabilidade com as finanças. As TVs têm aumentado a cada ano suas cotas para a transmissão dos jogos, pagas aos clubes, e, mesmo assim, as associações esportivas estão sempre passando o pires, devendo no mercado, empurrando suas dívidas, pedindo mais dinheiro ou antecipando valores com seus credores. Atrasam salários porque se comprometem a pagar o que não podem. Contam com investimentos que ainda não têm. Nem mesmo os que têm arenas novas conseguiram aumentar suas receitas. O futebol é sempre um peso para esses clubes endividados, com folhas de pagamento altas. Hoje em dia, qualquer jogador meia-boca ganha de R$ 50 mil a R$ 100 mil. Ou mais. Os que voltam da Europa não baixam seus salários. Reféns de contratações de peso, dirigentes entram nessa e quebram a verba do ano com esses repatriados. O futebol precisa de dirigentes profissionais, que trabalhem com responsabilidade financeira, com vistas a formar bons times e a dar lucro para seus patrões. E, claro, ganhar títulos. Há alguns nomes no mercado. Mas é preciso ter mais. Todos os times precisam se valer do trabalho desse profissional. 
ArgelDivulgacao350
3 – DEMISSÃO DE TREINADORES
A pressão da torcida e do próprio clube nas costas dos presidentes fizeram com que eles abusassem do direito de demitir treinador. Inter e Corinthians foram os recordistas. Falcão, por exemplo, permaneceu no comando do clube em que foi rei por 27 dias, uma vergonha. Oswaldo de Oliveira durou 62 dias no Parque São Jorge. Era para terminar a temporada e ficar em 2017. Os cartolas sucumbiram diante da pressão dos resultados e da necessidade de salvar a própria pele. Foi assim, por exemplo, com Roberto de Andrade, presidente do Corinthians. O cargo passa por uma reformulação. Os treinadores mais veteranos estão ficando para trás, perdendo empregos e não conseguindo se recolocar. Uma nova safra vem por aí pedindo passagem. São técnicos como Eduardo Baptista (Palmeiras), Fábio Carille (Corinthians), Zé Ricardo (Flamengo) e Rogério Ceni (São Paulo). A safra é boa, mas precisa da paciência da torcida e dos dirigentes. É preciso dar mais tempo aos técnicos. É impossível ter resultados com elencos fracos, jogadores de pouca personalidade e quase nenhuma individualidade. São poucos os que saem do lugar-comum.
 DenisSPJFDIorioEstadao570
4 – INVESTIMENTOS NAS BASES
O Brasil precisa voltar a forjar jogadores nas bases, nos clubes do Interior, nos campinhos de terra. A formação de jogadores vai ser uma aposta na temporada de 2017, principalmente pela falta de dinheiro que toma conta dos clubes. Não há como competir com os euros da Europa ou os dólares da China. A base vai ser o caminho para a maioria dos clubes do País. A verdade é que já tem sido. Precisa ser mais. Um clube investe, em media, R$ até 4 milhões por ano nas categorias da molecada. É preciso, portanto, ter retorno. Pelo menos dois jogadores bons por temporada. Um que seja. A base precisa mudar também sua forma de trabalhar. Não se treina nas bases para ganhar títulos. É preciso trabalhar para atender o time de cima, jogadores que possam ajudar o técnico da equipe principal. É preciso ainda investir em fundamentos. Fundamentos básicos. Gostaria muto de ver também esses treinadores consagrados e que não têm mais empregos, ajudando a formar garotos. Seria um salto para o futebol nacional.
MarcoPolodelNeroWiltonJrEstadao_570
5 – TROCA DE COMANDO NA CBF
O futebol brasileiro vai sofrer por causa do presidente da CBF, Marco Polo del Nero. A Fifa já acenou que não tem interesse em negociar e apoiar a entidade enquanto ela estiver sob o comando de Del Nero, acusado nos Estados Unidos de corrupção e participar de esquemas fraudulento em benefício próprio. Del Nero tem sido um presidente ausente nos últimos dois anos, desde que estourou a onda de prisões no futebol. Caiu Blatter e toda a cúpula da Fifa, mas não caiu (ainda) o presidente da CBF. O senador Romário apresentou um relatório paralelo da CPI do Futebol em que pede o afastamento de Del Nero pelos mesmos motivos das investigações dos EUA. O relatório oficial nada constatou. Ocorre que o Brasil ficará mais ilhado em relação à Fifa e à Conmebol, e isso certamente vai prejudicar o futebol do País. 2017 será, nesse sentido, um ano de esperanças.
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quinta-feira, dezembro 29, 2016

Tabus da gestão do futebol brasileiro

POR AMIR SOMOGGI
Todo fim de ano as pessoas aproveitam essa época de transição para refletir e pensar em melhorar no ano seguinte. O futebol brasileiro deveria fazer o mesmo.
Minha última coluna de 2016 procura refletir sobre os tabus que assombram a gestão do futebol brasileiro, limitando seu crescimento e desenvolvimento.
Boa parte dos problemas do futebol brasileiro residem no baixo grau de profissionalização da gestão dos clubes e de seu ambiente de negócios.
pequenas-empresas-grandes-ideias
Esses são os tabus de precisamos quebrar para evoluir:
Modelo político exaurido
Os clubes brasileiros movimentam mais de R$ 4 bilhões por ano e são administrados há décadas da mesma maneira.
Somente a profissionalização total da gestão, transformando sua estrutura jurídica em empresas, alterará esse cenário. Executivos no lugar de abnegados.
Atualmente os clubes brasileiros tem orçamentos de R$ 300 milhões, até R$ 400 milhões por ano e não podem ficar à mercê das vontades de um presidente e conselho deliberativo despreparados.
Controle financeiro e punições esportivas
Infelizmente no Brasil as coisas acontecem de maneira errada. Por conta das sucessivas decisões de competições no tapetão e tentativas de virada da mesa, um conceito fundamental ficou renegado ao segundo plano.
No mundo civilizado os times são punidos desportivamente por má gestão. Esse tabu é sem dúvida fundamental que seja quebrado.
A regulação do ambiente por uma Liga ou qualquer entidade deve sim considerar punição como rebaixamento, proibição de contratação de atletas e exclusão das competições, caso seja comprovado a má gestão do clube e falta de controle orçamentário.
Uma liga para chamar de sua
O futebol brasileiro precisa de uma liga profissional que represente os interesses dos maiores clubes brasileiros, especialmente das Séries A e B.
Esses 40 clubes são o PIB do futebol, sendo os 20 maiores responsáveis por mais de 80% do total de receitas.
A divisão mais igualitária dos direitos de TV, segurança nos estádios, calendário, doping, arbitragem, justiça desportiva, e tantos mais temas fundamentais, seriam discutidos pelos clubes na Liga. CBF ficaria cuidando apenas da seleção brasileira e de divisões menores.
Com R$ 227 milhões em caixa a CBF precisa distribuir os recursos para os clubes das Séries C e D.
Marketing dos clubes precisa mudar
Os departamentos de marketing dos clubes brasileiros têm que ir muito além da venda de patrocínios e licenciamentos.
O que os clubes fazem hoje é a era da pedra lascada do marketing esportivo moderno.
O marketing dos clubes tem que transformar sua marca em uma verdadeira plataforma de negócios e entretenimento.
O foco é diversificar o modelo mercadológico, usufruindo do enorme potencial comercial dos projetos criados entre as empresas, o torcedor e o clube.
Essa mudança transformará nossos clubes, com uma satisfação alta do cliente final, o torcedor e também gerando retorno para os patrocinadores.
Globalização do futebol brasileiro já!
Um dos maiores tabus do futebol brasileiro é o tema globalização das marcas dos times.
Em um mundo 100% global e interligado pelo mundo digital, tudo é muito rápido.
Os gigantes europeus já se posicionaram e os clubes brasileiros são insignificantes globalmente. Atualmente os clubes estão olhando apenas para o mercado doméstico.
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FCB
Essa falta de atitude está fazendo com que percam a chance de serem lembrados no futuro. Barcelona já vende mais camisas no Brasil que um bom número dos clubes brasileiros.
O time catalão tem marcas patrocinadoras aqui no Brasil, e mais fãs que os clubes nacionais nas redes sociais.
Se os clubes brasileiros não fizerem algo, a cada ano, o Brasil de país do futebol pode se transformar em uma Tailândia ou Indonésia.

quarta-feira, dezembro 28, 2016

Histórico das premiações da Copa do Nordeste na versão atual

A premiação absoluta da Copa do Nordeste 2017 chega a R$ 18.520.000   

Cássio Zirpoli

A evolução das cotas de campanhas finais (somando todas as fases) da Copa do Nordeste. Arte: Cassio Zirpoli/DP

A premiação total da Copa do Nordeste de 2017 aumentou em 24,9% em relação à última edição. Em cinco anos, são quase R$ 13 milhões a mais. Considerando a meritocracia no torneio, 41% do montante será distribuído nos mata-matas, correspondendo a R$ 7,6 milhões. As cotas das cinco campanhas possíveis no torneio foram ampliadas, com as seguintes diferenças para cada time: R$ 95 mil (primeira fase), R$ 20 mil (quartas), R$ 100 mil (semifinal), R$ 50 mil (vice) e R$ 250 mil (título). Acumulando todos os repasses, o campeão irá embolsar R$ 2,85 milhões, ou R$ 465 mil a mais que o Santa Cruz, que ergueu a orelhuda dourada em 2016. A premiação é bancado pela Liga do Nordeste, com a receita de parcerias, como a venda de direitos de transmissão junto ao Esporte Interativo.
Em 2017, o futebol pernambucano volta a ser representado pelo Trio de Ferro após três temporadas. Por sinal, quem chegar às quartas da Lampions League, numa campanha básica, superando a fase de grupos, já ganhará R$ 1 milhão. A observação cabe porque essa quantia já seria superior a toda a cota do Pernambucano, disputado de forma paralela. Por outro lado, o título regional não vale mais uma vaga na Sul-Americana, mas, sim, uma classificação direta às oitavas de final da Copa do Brasil de 2018 – após a canetada da Conmebol.
Voltando às cifras regionais, desta vez foram adicionadas cotas iniciais para maranhenses e piauienses – sob a avaliação da Liga até 2018. A verba é menor, com R$ 330 mil para clubes dos dois estados. Finalizando o acordo comercial no Nordestão, os vinte times não têm despesas com arbitragem, viagens e hospedagens. Segundo a regra das viagens: até 500 km, passagens de ônibus; acima de 500 km, passagens aéreas, com delegações de 26 pessoas.

Cotas da Copa do Nordeste, fase por fase, de 2013 a 2017. Arte: Cassio Zirpoli/DP

Eis as cotas absolutas (somando as fases) para as campanhas no Nordestão:
2017
Campeão – R$ 2,85 milhões (ou R$ 2,58 milhões para MA e PI)
Vice – R$ 2,15 milhões (ou R$ 1,88 milhão para MA e PI)
Semifinalista – R$ 1,6 milhão (ou R$ 1,33 milhão para MA e PI)
Quartas de final – R$ 1,05 milhão (ou R$ 780 mil para MA e PI)
Primeira fase (PE, BA, CE, RN, AL, PB e SE) – R$ 600 mil
Primeira fase (MA e PI) – R$ 330 mil
Total – R$ 18.520.000
2016
Campeão – R$ 2,385 milhões (Santa Cruz)
Vice – R$ 1,885 milhão (Campinense)
Semifinalista – R$ 1,385 milhão (Bahia e Sport)
Quartas de final – R$ 935 mil (Ceará, Salgueiro, CRB e Fortaleza)
Primeira fase – R$ 505 mil*
Total: R$ 14.820.000
* Exceto para os clubes do Piauí e do Maranhão
2015
Campeão – R$ 2,74 milhões** (Ceará)
Vice – R$ 1,24 milhão (Bahia)
Semifinalista – R$ 890 mil (Vitória e Sport)
Quartas de final – R$ 615 mil (Fortaleza, América-RN, Salgueiro e Campinense)
Primeira fase – R$ 365 mil*
Total: R$ 11.140.000
* Exceto para os clubes do Piauí e do Maranhão
** Com bônus de R$ 500 mil, pago pela CBF
2014
Campeão – R$ 1,9 milhão (Sport)
Vice – R$ 1,2 milhão (Ceará)
Semifinalista – R$ 850 mil (América-RN e Santa Cruz)
Quartas de final – R$ 600 mil (CSA, CRB, Vitória e Guarany-CE)
Primeira fase – R$ 350 mil
Total: R$ 10.000.000
2013
Campeão – R$ 1,1 milhão (Campinense)
Participação – R$ 300 mil
Total: R$ 5.600.000

A evolução da premiação total da Copa do Nordeste. Arte: Cassio Zirpoli/DP
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terça-feira, dezembro 27, 2016

A importância da gestão esportiva

Mudanças e a gestão esportiva

As novas gerações de gestores precisam compreender o contexto de mudanças em que vivemos

Gustavo D'Avila



Nesta coluna de Natal, pensei sobre qual presente um gestor esportivo poderia escolher para que seu trabalho fosse cada vez melhor. Olha, se realmente queremos ter uma elevada maturidade na gestão esportiva dentro do futebol, as novas gerações de gestores precisam compreender o contexto de mudanças em que vivemos. Além disso, deverão também refletir sobre maneiras e estratégias gerenciais para promover o desenvolvimento e crescimento do negócio esportivo sob sua gestão. Então, um bom presente talvez seria algum conhecimento ou maneira para aumentar a efetividade da gestão do negócio de futebol.

Em seu livro O Verdadeiro Poder (se deseja ser um bom gestor esportivo eu recomendo essa leitura de base), Vicente Falconi, nos oferece algumas reflexões sobre as mudanças. Em geral nós, seres humanos, somos avessos às mudanças. Sempre que saímos da rotina nos cansamos e nos estressamos. No entanto, estamos num mundo de mudanças contínuas e nossa própria vida é de um dinamismo às vezes assustador. Para quem conhece qualquer organização de futebol, isso não é diferente. O futebol vive num universo em constante mudança, pois rodada a rodada seu contexto pode sofrer alterações drásticas e se faz inevitável que todos estejam preparados para isto.

A organização esportiva que fica parada na inércia tende a morrer. O movimento de melhorias dentro deste tipo de organização pode ser compreendido de forma adaptativa (quando apenas reage às mudanças em sua volta) ou agressiva (quando ela mesmo provoca estas mudanças e se antecipa).

Mas a compreensão de que vivemos em contexto de mudanças aceleradas não traz a solução para nossos problemas cotidianos no futebol. Conhecer e aplicar ferramentas gerenciais e de qualidade são premissas para que se consiga efetuar uma adequada gestão do futebol. Metas, planejamento estratégico e planos de ação que possam orientar o gerenciamento do futebol, são o mínimo que um gestor do esporte pode empreender.

Para contribuir com o entendimento de vários termos que podem ser novos para o universo do futebol, quero compartilhar algumas informações sobre Gerenciamento da Rotina. Sabe que uma das coisas mais importantes para um bom gerenciamento da rotina é a execução, de um ciclo de PDCA (Plan, Do, Check, Action). Todos os pontos do PDCA são importantes e necessários, porém quero chamar a atenção rapidamente para o Do, Executar.

Sempre que não temos pragmatismo na execução dos planos de ação que nos levarão aos melhores resultados, nós caímos na procrastinação clássica do ser humano. Com isso, nós viramos meros observadores dos nossos planos e mesmo assim acreditamos por um tempo que seremos bem-sucedidos ao atingirmos as metas estabelecidas.

A dica então é não deixarmos a energia cair no momento da execução de nossas atividades, independentemente do tamanho ou complexidade da ação. Seja ela qual for, esta possui uma enorme importância não percebida no contexto geral do objetivo desejado! Seguir firme na direção dos melhores resultados exige um total engajamento de todos e com isso pode-se esperar melhores resultados de negócio esportivo dentro do futebol.

Até a próxima, um grande abraço e um Feliz Natal!
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segunda-feira, dezembro 26, 2016

A maioria dos clubes ainda resvala na falta de critério na escolha do treinador


Por que é tão difícil escolher um técnico?

por Guilherme Costa

Entre os 12 clubes que detêm os maiores orçamentos do futebol brasileiro, apenas cinco (Botafogo, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio e Santos) mantiveram seus treinadores de 2016 para 2017. E dessa lista, apenas azuis mineiros, tricolores gaúchos e alvinegros paulistas contam com profissionais que há tempos figuram na elite nacional (Mano Menezes, Renato Gaúcho e Dorival Júnior, respectivamente). Existe um processo de renovação no banco de reservas dos principais times do país, mas essa troca de guarda também expõe um aspecto relevante do jogo praticado em âmbito nacional: como são raros os projetos sistêmicos, a escolha é sempre um processo extremamente complicado (e com altíssima margem de erro).
O Corinthians, por exemplo: Tite, treinador mais longevo da história recente na equipe alvinegra, saiu durante o Campeonato Brasileiro de 2016 e assumiu a seleção brasileira. Foi substituído por Cristóvão Borges, que depois deu lugar ao auxiliar Fábio Carille, posteriormente trocado por Oswaldo de Oliveira. Três linhas de trabalho diferentes, três propostas distintas para formação de equipe e estruturação do trabalho diário. Três direções para um elenco cuja identidade já havia sido debelada por sucessivas trocas de atletas. O time perdeu essência e qualidade, mas a diretoria também abriu mão de qualquer fio condutor.
O resultado de tantas mudanças foi um Campeonato Brasileiro medíocre. O Corinthians passou longe de brigar pelo título e não conquistou sequer uma vaga na próxima edição da Copa Libertadores, principal competição do futebol continental (em âmbito esportivo e em retorno financeiro). Resultado: a diretoria demitiu Oswaldo de Oliveira e partiu mais uma vez para o mercado.
Quando decidiu buscar um novo treinador, o Corinthians viu que o Atlético-MG já havia fechado com Roger Machado, que talvez seja, entre os treinadores neófitos do futebol brasileiro, o detentor de uma ideia mais interessante para montagem de suas equipes. Que Fluminense (Abel Braga), Internacional (Antonio Carlos Zago), Palmeiras (Eduardo Baptista) e Vasco (Cristóvão Borges) também tinham escolhido seus técnicos para a próxima temporada. Que até o São Paulo, que inovou e deu o cargo ao ídolo Rogério Ceni, escolhera uma estrada para iniciar o próximo ano.
Da lista acima, contudo, quais foram os treinadores contratados depois de a diretoria ter chegado a um ideal de jogo a ser praticado? Quem foi escolhido por verdadeiramente preencher o que seu clube deseja para a próxima temporada? As primeiras escolhas de treinadores foram por convicção de trabalho ou apenas por serem esses os “bons nomes”?
É isso, afinal: ainda que os nomes tenham mudado, times brasileiros seguem escolhendo apenas marcas. Há os ídolos (caso de Rogério Ceni, mas a lógica também se aplicaria a Paulo Roberto Falcão, que comandou o Internacional em 2016); outros preferem técnicos com bom histórico recente (Roger, Eduardo ou Antônio Carlos, por exemplo); há ainda as diretorias que contratam por tamanho do profissional (por conquistas ou carreira, Abel Braga é sempre lembrado em listas de qualquer equipe).
Independentemente da lógica, ainda são raros os casos de times brasileiros que sabem o que querem e que comunicam isso de forma clara. O resultado é que muitos técnicos tentam aplicar ideias que passam longe da essência ou do que as equipes têm a oferecer. É a roda da demissão precoce: diretoria não sabe o que quer, treinador inicia um trabalho descolado da realidade ou da expectativa, jogadores e torcedores se frustram, o próprio profissional se frustra, mudança acontece.
A renovação dos treinadores brasileiros é uma prova de que a velocidade pode ser pequena, mas os principais dirigentes do futebol nacional entenderam que é necessário mudar conceitos e buscar um futebol mais adequado à realidade contemporânea. Para isso, contudo, é fundamental entender que não basta apenas trocar a geração ou escolher profissionais diferentes.
O ideal é que exista uma abordagem sistêmica entre proposta de jogo, pontos fortes do treinador e características dos jogadores. Da diretoria aos torcedores, seria bom se todos entendessem quais são as propostas de cada equipe e por que as decisões são tomadas. Esse processo depende de estratégias de comunicação em diferentes níveis, mas só pode existir numa realidade em que as pessoas entendam o quanto é relevante saber o que elas querem.
A falta de clareza nesse sentido é a principal explicação para a dificuldade que todos os times têm quando tentam contratar um técnico.
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sábado, dezembro 24, 2016

Os novos professores: como o perfil estudioso tomou conta das casamatas no Brasil

Jovens que estão sempre em busca de aperfeiçoamento já comandam alguns dos maiores clubes do país

Por André Baibich / Zero Hora
 
Jair Ventura levou o Botafogo à LibertadoresFoto: Vitor Silva / Botafogo 







Jovens devoradores de livros de tática e alunos de cursos sobre futebol. Conhecidos por usar termos que, em entrevistas, causam alguma estranheza. Firmes adeptos do método em detrimento do empirismo, da ciência sobre o achismo. Assim é a nova geração de técnicos brasileiros que, aos poucos, deixa as categorias de base e os clubes de menor expressão para tomar conta das casamatas mais cobiçadas do país.

Eduardo Baptista foi o escolhido para comandar o campeão brasileiro Palmeiras, Roger Machado está no Atlético-MG, Jair Ventura, no Botafogo. Zé Ricardo impulsionou a boa campanha do Flamengo no Brasileirão, Antônio Carlos Zago recebeu a difícil missão de tirar o Inter da Série B e Rogério Ceni, depois de se encantar, ainda como jogador, com as ideias do mexicano Juan Carlos Osorio, foi à Europa para se aperfeiçoar antes de assumir o São Paulo.

Os grandes times do Brasil parecem ter percebido o movimento de treinadores que já não se contentam com distribuir coletes e motivar jogadores a base de jargões de boleiro. Os novos professores querem entender o jogo a fundo para transformá-lo, algo que atinge, também, outras áreas do esporte.

— Há uma mudança na cultura da formação dos nossos técnicos. É algo que extrapola o campo e vai para outros setores, até mesmo para o jornalismo. Hoje temos leituras menos superficiais do jogo — analisa Eduardo Tega, CEO da Universidade do Futebol, instituição que promove grupos de estudo e cursos presenciais e na internet.

Ainda que o perfil "estudioso" tenha chegado aos gigantes do Brasil, ainda não há uma procura específica por esse tipo de profissional.

— Não diria que existe uma busca por este perfil, mas o técnico tem de evoluir. O que há é uma tendência à profissionalização do futebol em todas as áreas. Por outro lado, ainda temos essa figura do dirigente amador — critica o empresário Gilmar Veloz.

O técnico com vasto conhecimento teórico obriga mudanças em quem o cerca. O jornalista tem de se informar para entender o que diz seu entrevistado e, se o dirigente não se aprofundar na análise do trabalho do treinador, não é capaz de cobrá-lo. A transformação é, muitas vezes, encarada com forte resistência.

— O jogo é de ideias e conceitos. A comissão técnica tem de saber ter essa metodologia e colocar o seu modelo em prática. O problema é que, às vezes, isso é tratado com deboche, como uma brincadeira. Dizer que o cara estuda muito se torna algo pejorativo — afirma Cleber Xavier, auxiliar técnico da Seleção Brasileira.

— A maioria dos dirigentes tem uma leitura muito superficial do jogo. Não tem convicção alguma do tipo de trabalho que quer, do modelo de jogo. Acaba entregando a chave do vestiário para o treinador e o executivo. Enquanto o time estiver ganhando, fica. Quando perder, troca — diz Tega.

Os cursos da Universidade do Futebol são muito procurados por treinadores e auxiliares. Os executivos também buscam conhecimento. Os dirigentes políticos, porém, raramente vão atrás desse tipo de especialização, um indício de que tendem a ficar para trás no processo de evolução do futebol brasileiro. Ainda assim, são as figuras que ocupam os cargos mais importantes dos clubes.

Enquanto estiverem à margem do debate mais aprofundado do jogo, talvez não sejam capazes de liderar o que Tega vê como a "segunda onda" de mudança do futebol brasileiro. Ele defende que a primeira é justamente o surgimento de profissionais que valorizam o conhecimento, impulsionando a evolução de quem os cerca. O próximo passo seria fazer com que esse arcabouço teórico chegue aos jogadores e integre o processo de formação do atleta.


— O clube tem de investir para possibilitar aos jogadores o conhecimento sobre o jogo. Hoje, isso ainda depende muito da capacidade do treinador de ser didático ou não. Tem de ser parte da formação e é algo que só vai acontecer com a comunicação ideal destes conceitos — conclui.
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QUAL CLUBE ARRECADOU MAIS COM BILHETERIA NO BRASILEIRÃO?

por Felipe Barros e Felipe Diuana  

Mesmo com a oitava maior renda bruta, Atlético-MG teve a pior renda líquida e "pagou para jogar" o Brasileirão de 2016

Mesmo com a sétima maior renda bruta, Atlético-MG teve a pior renda líquida e "pagou para jogar" o Brasileirão de 2016 


Antes, um esclarecimento: a “renda bruta” de um jogo significa o montante total que uma partida de futebol arrecada, enquanto a “renda líquida” é a quantia descontando taxas e despesas. Em alguns casos, a renda líquida ainda é passível de alterações após o desconto de penhoras, acordos com as arenas ou entre os clubes. Portanto para essa análise, consideramos sempre a seção “líquido a receber” dos borderôs emitidos pela CBF (a exceção é a dupla Grêmio e Internacional, onde não há distinção entre “renda líquida” e “líquido a receber” nos boletins financeiros).



Os números do Palmeiras mostram a importância do Allianz Parque para o ressurgimento do clube: só com bilheteria, o Verdão arrecadou, de forma líquida, mais que o dobro do 2º colocado no ranking, o rival Corinthians. Para se ter uma ideia, nenhum patrocínio máster do futebol brasileiro paga mais que esse valor ao ano. Os dados do alviverde também deixam clara a importância do estádio próprio: percentualmente, o Palmeiras tem a menor diferença entre a arrecadação bruta e a líquida.

Outra característica curiosa é a relação entre o preço dos ingressos e as rendas líquidas. Três dos quatro líderes do ranking de receita com bilheteria possuem um valor de ingresso médio muito superior aos demais clubes: o Palmeiras cobra R$ 68 por um ingresso, enquanto ver uma partida de Flamengo e Corinthians custa, respectivamente, R$56 e R$ 53. O quarto colocado no quesito é o Santos, que cobra R$ 38 em média. Ou seja: no final das contas, o ingresso caro vem se mostrando uma forma válida de aumentar a arrecadação, por mais impopular que essa medida seja.

Campeão de arrecadação: Palmeiras obteve mais de R$ 31 milhões em 2016 apenas com bilheteria
Campeão de arrecadação: Palmeiras obteve mais de R$ 31 milhões em 2016 apenas com bilheteria


O principal destaque negativo é a renda líquida do Atlético-MG, o que levanta uma questão sobre os clubes de Belo Horizonte: os mineiros “perderam” quase tudo que arrecadaram com bilheteria nesse Brasileirão. Nem mesmo a 7ª maior renda bruta salvou o Galo de ter uma renda líquida negativa – a pior da competição –, enquanto Cruzeiro e América-MG perderam quase 90% de suas rendas brutas.

O ônus, porém, não é exclusivo dos mineiros. Na realidade, somente nove equipes conseguiram embolsar mais da metade da renda bruta divulgada nos borderôs. Clubes como Ponte Preta, Botafogo e Coritiba também viram mais de 90% de suas receitas com público fugirem pelo ralo.

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quinta-feira, dezembro 22, 2016

Direitos de TV podem crescer com o recurso eletrônico no futebol

POR 
Ao longo de décadas, o futebol se mostrou um esporte extremamente conservador na adoção de novas tecnologias para reduzir erros de arbitragem.
Durante muito tempo, a velha história de que o futebol produz polêmicas para o torcedor debater no bar, na padaria ou em casa, era a justificativa para a não adoção de recursos eletrônicos.
Isso na verdade atrasou o esporte mais popular da terra. Um ótimo exemplo foi o uso recente da tecnologia na arbitragem no Mundial de Clubes da FIFA. A cena do árbitro, correndo de um lado para o outro, mostra como o futebol tem dificuldade de colocar em prática inovações.
As inovações jamais deveriam ter sido implementado em um evento tão importante, sem uma tecnologia adequada à realidade do futebol e muito treinamento para isso. A cena mostrando a identificação de um pênalti, mas não um impedimento, é o exemplo da complexidade desse esporte.
A tecnologia a ser adotada deve ir muito além do lance e da bola e sim olhar várias situações que ocorrem simultaneamente. E os árbitros precisam estar muito bem treinados para não prejudicar a partida.
Muitas modalidades incorporaram recursos eletrônicos e inclusive os incluíram nas regras para que treinadores possam utilizar, sem prejudicar o espetáculo e sua esportividade.
Na NFL o árbitro não apenas utiliza a tecnologia como fala para 80 mil torcedores no estádio e para milhões na TV, sobre suas decisões mais controversas.
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Uma competição, os bilhões de dólares envolvidos e o duro trabalho dos times não podem ficar suscetíveis ao erro humano. Clubes de futebol na Europa tem orçamentos anuais de 500 milhões de euros e podem atualmente, ver tudo ir por terra, por erros humanos.
Por isso o futebol precisa encontrar uma maneira de ter definitivamente o recurso eletrônico para auxiliar a arbitragem. O grande desafio é criar isso, sem perder a dinâmica do jogo.
Enquanto os torcedores de futebol estão acostumados com os 90 minutos de bola rolando e apenas um intervalo de 15 minutos, muitos esportes já foram pensados exatamente em um formato mais atrativo, para que a TV possa faturar mais.
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Ótimos exemplos de como as modalidades já pensam em formatos que agradam às emissoras de TV, sem que afete a audiência é o basquete em quatro quartos e as inúmeras paradas dos jogos da NFL.
E nem por isso com baixas audiências. Superbowl, a final do futebol americano, apresenta 43 pontos de audiência nos EUA, são mais de 110 milhões de pessoas. Jogos normais e finais de conferencia da NFL tem altíssimo valor, por suas enormes audiências.
As paradas permitem que as emissoras ofereçam aos anunciantes mais oportunidades de contato com os telespectadores, que no futebol.
Assim, além de reduzir o risco de erros humanos, o recurso eletrônico para a arbitragem fará com que clubes de futebol e competições possam aumentar seus ganhos com direitos de TV.
Quanto mais as emissoras puderem faturar, mais recursos poderão pagar para os times.
Menos erros e mais dinheiro.
No futebol as paradas serão valiosas
Seguramente o uso de tecnologia para reduzir erros de arbitragem no futebol não será como em outras modalidades. Assim, as paradas serão raras e toda a audiência estará focada naquele momento. Assim, sem sombra de dúvida essa pausa poderá render muito dinheiro para as emissoras.
As audiências não são do momento do intervalo ou depois da partida, mas sim no jogo em si, provavelmente em um momento crucial.
Essa parada culminaria com picos de audiência televisa, aumento de faturamento com anunciantes e mais dinheiro em recursos de TV.

O segredo será conseguir manter o dinamismo do jogo, com suas características particulares, sem perder a chance de faturar mais.
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