Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, dezembro 20, 2017

Romário diz ser candidato a presidente da CBF e critica falta de democracia

O senador Romário ouve o depoimento de Marco Polo Del Nero na CPI do Futebol, em Brasília (DF), em dezembro de 2015
O senador Romário ouve o depoimento de Marco Polo Del Nero na CPI do Futebol, em Brasília (DF), em dezembro de 2015

DO UOL

O senador Romário (Podemos-RJ) se colocou à disposição para assumir a presidência da CBF após de Marco Polo Del Nero ter sido suspenso preventivamente de suas funções. Em um post em suas redes sociais, o ex-atacante afirmou ser candidato para o cargo, mas criticou o atual estatuto da entidade.

Na última sexta-feira (15), Marco Polo Del Nero foi suspenso pelo Comitê de Ética da Fifa por 90 dias. O dirigente é investigado pela Justiça dos Estados Unidos sob a acusação de integrar um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro em contratos de transmissões televisivas de competições da América.

No mesmo dia da punição, Romário já havia se manifestado sobre o caso e pedido "Diretas Já" na CBF. O ex-jogador trocou o PSB pelo Podemos (ex-PTN) em julho e já disse ser pré-candidato a governador do Rio de Janeiro na eleição do próximo ano.

CONFIRA O COMUNICADO DE ROMÁRIO

O futebol brasileiro chegou ao fundo do poço em termos de vergonha. Não bastassem os vexames em campo, pela falta de renovação, passamos vergonha internacionalmente por ver os gestores do futebol presos ou indiciados.

Muitos me perguntam se eu sou candidato, afinal, ninguém mais lutou tão vigorosamente contra essa quadrilha do que eu. Então, sim, a resposta é posso, sim, ser candidato. Tenho todos os pré-requisitos para isso. Toda minha contribuição para o futebol, dentro e fora de campo, são as minhas credenciais.

Hoje, a CBF gasta mais com luxo de dirigente do que com investimento no futebol em si. Além dos roubos comprovados pela CPI, como compra de sede superfaturada e contratos de patrocínios fraudulentos.

Temos que fechar essa torneira de corrupção e investir nos jovens atletas, voltar o esporte um pouco para o social, investir no futebol de base e no futebol feminino. 

O esporte tem um poder transformador e, aliado a isso, junto com as federações, os clubes, os atletas e os torcedores, promover um futebol bom para todos. 

Mas da forma como está o estatuto hoje, ninguém de fora da estrutura pode ser candidato. Não existe democracia na CBF. Os corruptos se protegem. 

Já lancei o movimento por Diretas Já na CBF. Agora clamo a todos que amam o futebol e estão cansados de tanta sacanagem a se juntar a mim nessa causa.

Jogadores, ex-jogadores, técnicos, clubes, empresários e até presidentes de federação que queiram a mudança.

Vamos juntos! 


sábado, dezembro 16, 2017

O vazio, a oportunidade

Tabela de grupos sorteio da Copa do Mundo 2018

POR CARLOS EDUARDO MANSUR


O cenário era Moscou. A ocasião, o sorteio dos grupos da Copa de 2018. Diante da imprensa do mundo inteiro, o presidente da Fifa dava entrevista e, por quase 30 minutos, o Brasil foi tema. Não pelo seu futebol, mas pela ausência do dirigente máximo da nação futebolística mais representativa do planeta e pela gravidade das acusações que pesam sobre ele. Constrangedor.

Poucos problemas de gestão são mais graves do que a sensação de vazio de legitimidade de quem governa. Impedido de viajar para evitar problemas com a Justiça americana, Marco Polo del Nero, suspenso ontem pela Fifa por 90 dias, impôs ao futebol brasileiro a renúncia ao direito de representação. Tão estarrecedor quanto ver o presidente da CBF, sob investigação e ausente de qualquer evento fora das fronteiras nacionais, é a passividade dos clubes: entidades com mais poder de mobilização do país, apenas assistem ao teatro do absurdo.

Não são raras, tampouco injustas, as críticas destes clubes a um sistema de governança que reforça o poder das federações estaduais; impõe um calendário com 80 jogos num ano, 18 deles os anacrônicos Estaduais; comprime o Campeonato Brasileiro em pouco mais de meia temporada; trava a transformação da maior competição do país numa liga profissional que explore todas as suas possibilidades comerciais que, no fim, fortaleceriam os próprios clubes. Até a ausência de Del Nero em eventos internacionais vitima nossas equipes, tão repetidamente queixosas de arbitragens e de artifícios antiesportivos nos torneio sul-americanos. Ainda que, abra-se um necessário parêntese, alguns dos maiores escândalos recentes no continente, da morte de um menino na Bolívia à selvageria da última semana no Rio, tenham protagonismo brasileiro.

A inusitada posição em que se encontra o comando da CBF tem os clubes como coautores. Em 2014, ajudaram a eleger Del Nero com votação maciça. No ano seguinte, deram amplo suporte à manobra que elegeu Coronel Nunes como um dos vice-presidentes. Escolhido por Del Nero pela idade, e por nada mais do que a idade, tomou a dianteira da linha sucessória: pelas regras da entidade, em caso de licença do presidente, a cadeira é ocupada pelo vice mais velho. A estratégia evitava que o poder caísse nas mãos de um opositor. Raros clubes se manifestaram. Prevaleceu a omissão.

Mais tarde, embora amparados pela lei, os clubes viram a CBF excluí-los de assembleia que modificou o colégio eleitoral, alterou o peso dos votos e reforçou o poder das federações. Nem reagiram. Enquanto isso, entre brigas por direitos de TV e times reservas em campo, esfarelaram a Primeira Liga, a mais recente iniciativa que se anunciava com ambições transformadoras. Ao contrário, o desfecho só reafirmou a incapacidade de articulação dos clubes para brigar por interesses coletivos.

E é esta incapacidade que assusta. O afastamento forçado de Del Nero torna o poder central do futebol do país, já carente de legitimidade, ainda mais fragilizado. E cria uma oportunidade única para que os clubes ocupem o espaço que lhes cabe: o de protagonistas de uma liga profissional, que possa pleitear um novo calendário, a redução do poder das federações, um Campeonato Brasileiro tecnicamente mais saudável e que comercialmente explore todas as suas possibilidades. Um passo rumo à modernidade.

Não será surpresa se não o fizerem. No futuro, repetirão velhas queixas sobre os traços mais arcaicos da estrutura de poder do nosso futebol. Teremos todos o direito de desprezar tal discurso.

Centro x periferia

Natural que a final de hoje tornasse o Grêmio pauta da imprensa espanhola. No entanto, a abordagem do jornal “Marca” é um precioso exemplo do que a globalização fez com a imagem não só dos clubes brasileiros, mas de todos os não europeus. A entrevista do presidente Romildo Bolzan tem como título “O Barça não nos ligou por Arthur”. O volante é assunto em boa parte das duas páginas dedicadas aos gaúchos.

Não há véspera de final de Mundial que altere uma realidade: à elite europeia os astros, o dinheiro, as marcas globais; à periferia, a produção de mão de obra para os principais clubes do mundo.
Num jogo único, não é delírio pensar num triunfo gremista.

Improvável, mas o futebol é o jogo em que tudo é possível. O triste é ver esta nova era condenar camisas de tanto peso ao papel de desafiantes. Se bater o Real Madrid em pleno auge da desigualdade global, o Grêmio terá conseguido a maior vitória jamais obtida por um clube brasileiro.
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quinta-feira, dezembro 14, 2017

Árbitro revela pacto feito por Telê e Cruyff antes do Mundial de 1992


Folha e UOL

"Cruyff e Santana queriam ganhar, mas não de qualquer forma", afirmou Juan Carlos Loustau, árbitro da final do Mundial de 1992. Em entrevista à agência EFE, o argentino revelou detalhes da conversa que presenciou dias antes da decisão entre São Paulo e Barcelona realizada no Japão, na qual os treinadores combinaram que tentariam realizar uma grande partida de futebol, sem artimanhas para buscar apenas a vitória.

O papo entre Telê Santana e Johan Cruyff ocorreu na madrugada do dia 11 de dezembro. Sem sono pela diferença de fuso horário entre Argentina e Japão, Loustau cruzou com Telê no hotel em que ambos os times estavam hospedados e foi convidado para participar do diálogo com o treinador do Barcelona.

"Falavam de futebol como se fosse algo sagrado. Diziam que interromper uma partida com simulações de lesões, esconder a bola ou fazer uma substituição para ganhar segundos não era válido", lembrou o argentino.
"Estavam convencidos que perder jogando bem não era fracassar e que uma partida leal, se se respeitam os princípios, não há vencedores nem vencidos", completou.

Loustau tirou daquela conversa a conclusão que tanto Telê quanto Cruyff nunca consideraram perder como um fracasso, apesar das icônicas derrotas da Holanda na Copa do Mundo de 1974 e do Brasil em 1982, quando Cruyff jogava e Telê treinava, respectivamente.

Entre outras coisas que o argentino presenciou estava a aversão de Telê e Cruyff a cruzamentos sem objetividade. Lousteau ainda disse que, se pudessem, os treinadores teriam conversado por horas sobre futebol, pois não cansavam de falar do assunto.

Em campo, o São Paulo de Telê Santana foi vencedor, virando o jogo contra o Barcelona por 2 a 1, no dia 13 de dezembro. Stoichkov abriu o placar para os espanhóis, mas Raí marcou duas vezes e garantiu o primeiro título mundial dos paulistas. 
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Lei de Incentivo se concentra em poucas entidades

Cinquenta organizações esportivas mantêm 70% do valor levantado


Redação da Máquina do Esporte


A Lei de Incentivo ao Esporte, criada em 2006, teve como objetivo levar parte do imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas a projetos que desenvolvessem o esporte no país. Em 2016, dez anos após a sua criação, foram levantados R$ 261 milhões com o projeto, mas ele ainda apresenta alto grau de concentração em poucas entidades e empresas.
A agência Atitude Esportiva fez um levantamento com toda a verba arrecada pela Lei de Incentivo e constatou que 70% do valor distribuído pelo projeto está nas mãos de cerca de 50 organizações esportivas. Elas representam apenas 15% de todos que receberam dinheiro por meio do programa federal.
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Somente as cinco primeiras entidades que mais receberam da Lei de Incentivo ficaram com 25% de todo o valor levantado. Confederação Brasileira de Vôlei, Rbr Esportes e Cultura, Academia Brasileira de Canoagem, Confederação Brasileira de Canoagem e Esporte Clube Pinheiros formaram o grupo mais beneficiado.
A Confederação Brasileira de Vôlei, que mais recebeu verba pela Lei, arrecadou R$ 15 milhões. E todo o valor, em 2016, veio de uma única empresa, o Banco do Brasil.
E não é apenas nas entidades que recebem o aporte que existe concentração na Lei de Incentivo ao Esporte. As cinco empresas que mais apostaram nessa via para investir no esporte concentram 25% de todo o valor levantado; no total, são 3.423 ‘incentivadores’, entre pessoas físicas e jurídicas. BNDES, Banco do Brasil, Samsung, Bradesco e Cielo são as marcas financeiramente mais presentes entre as entidades esportivas.
Entre as marcas, há mais um desequilíbrio. Companhias do setor financeiro, entre bancos e seguradoras, representam 48% de todo o investimento realizado via Lei de Incentivo. Além das citadas BNDES, Banco do Brasil, Bradesco e Cielo, empresas como Itaú, Bradesco Seguros, Porto Seguro e Santander estão entre as companhias do segmento com maiores investimentos.
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Por fim, a última concentração apontada pelo estudo é geográfica. Sudeste e Sul, justamente as regiões mais ricas do país, foram responsáveis por 93% de toda a arrecadação da Lei de Incentivo ao Esporte. Somente o Sudeste teve R$ 190 milhões de investimentos, ou 73% do total distribuído em todo território brasileiro.
Em 2014, o Ministério do Esporte chegou a fazer caravanas para explicar a Lei de Incentivo nas regiões Norte e Nordeste, onde havia pouca participação de projetos. A ideia era aumentar a participação das regiões no programa federal.
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Direitos de TV no mundo atingem R$ 155 bilhões anuais

AMIR SOMOGGI

Os direitos de TV estão entre as mais importantes fontes de receitas da Indústria do Esporte globalmente. Segundo estudo TV Sports Markets os valores negociados entre os detentores de direitos e empresas de mídia atingiram o valor recorde de US$ 47 bilhões, ou R$ 155 bilhões.
Ainda ficam atrás das receitas de marketing esportivo, que englobam os patrocínios e licenciamentos que movimentam R$ 215 bilhões e o faturamento com os estádios e arenas que supera R$ 165 bilhões.
Apenas como comparação, o volume financeiro movimentando com as transferências de jogadores é de apenas R$ 17 bilhões.
O ídolo é decisivo no fortalecimento da marca, aumento de torcedores, estádios lotados e mais patrocinadores. Mas valem muito mais como parte do show, do que em transferências.
O esporte espetáculo é uma gigantesca indústria, graças a essa potencialidade que seu negócio proporciona, com ganhos em variadas frentes. Desde conteúdos valiosíssimos para a mídia convencional, e também em novas mídias.
Outra importante receita é a exploração comercial de estádios e as diferentes oportunidades de marketing esportivo, conectado bilhões de torcedores com as empresas patrocinadoras.
O futebol é o esporte que mais movimenta recursos com direitos de transmissão com R$ 62 bilhões gerados ou 40% do total.

Na sequência aparece o futebol americano com R$ 24 bilhões (15,5% do total), basquete com R$ 14 bilhões (9%), basebol R$ 12 bilhões (7,8%) esportes universitários dos EUA R$ 10 bilhões (6,5%), esportes a motor com R$ 6 bilhões (3,8%), hóquei no gelo R$ 4 bilhões (2,9 %) e golfe com R$ 3,8 bilhões (2,5%).
A força da Premier League com seu contrato atual de TV que supera os R$ 15 bilhões anuais foi muito importante para a consolidação do futebol no mundo.
Os direitos de TV da Champions que geram R$ 5,9 bilhões anuais também têm importante peso para a foça do futebol. A Copa do Mundo, embora seja um contrato quadrienal gigantesco de mais de R$ 10 bilhões, anualmente fica bem atrás das Ligas da Europa.
A NFL mostra sua pujança, já que seu contrato de TV anual de R$ 24 bilhões para seus 32 times, assegura a segunda colocação para o futebol americano no mundo.
A particularidade é que a divisão é igualitária para times pequenos e grandes. Todos recebem mais de R$ 800 milhões por ano, entre cotas de TV, patrocínios da liga e licenciamentos. A NFL é disparada a liga com maior faturamento do planeta.
Chama a atenção o crescimento de alguns esportes, como o basquete, que foi o que mais cresceu de 2013 para 2017. Isso foi ocasionado pela evolução da NBA e seu serviço próprio de streaming, além dos seus grandes contratos de transmissão.
O futebol foi o segundo que mais cresceu no mundo, seguido pelo críquete e futebol americano.
Os próximos anos serão decisivos no desenvolvimento de novos conteúdos e plataformas de transmissão de jogos, fazendo com que os números possam crescer muito mais.
Novos players como Youtube, Facebook e Twitter devem inflacionar e muito o mercado de direitos de transmissão.
O ambiente digital tem enorme penetração entre os jovens e um potencial de globalização maior que a mídia convencional.
Premier League é a mais global das ligas de futebol
Nenhuma liga de futebol no mundo é tão globalizada como a Premier League.
Os jogos são transmitidos para 1 bilhão de casas no mundo em 188 países. Todo esse trabalho se reverteu em receitas para a liga.
Dos R$ 15 bilhões faturados com direitos de TV, 49% são provenientes de fora do Reino Unido. A Liga Espanhola com 22% de suas receitas vindas do exterior é a segunda mais internacionalizada.
Alemanha com 17%, Itália com 16% e França com 10% estão bem atrás.

quarta-feira, dezembro 06, 2017

Sebastião Salgado toma posse na Academia de Belas Artes da França

Photographer Sebastiao Salgado poses as he was elected in the French Academy of Fine Arts (Academie des Beaux-Arts) during a ceremony in Paris, France, Wednesday, Dec. 6, 2017. The Academy of Fine Arts concerning Paintings, Sculpture Music, Architecture and Photography is part of the French Academy, concerning the French language, the Academy of Humanities, the French Academy of Sciences and the Academy of Moral and Political Sciences. (AP Photo/Francois Mori) ORG XMIT: ZFM109
Sebastião Salgado posa usando o fardão da Academia de Belas Artes; ele tomou posse nesta quarta (6)

MÁRIO CAMERA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

O fotógrafo Sebastião Salgado tornou-se, nesta quarta-feira (6), o primeiro brasileiro a integrar a Academia de Belas Artes, instituição que tem origem no século 17 e uma das cinco academias que compõem o Institut de France, templo da excelência francesa nas artes e nas ciências.

Em diversos momentos da cerimônia o fotógrafo não conteve as lágrimas. Ele tomou posse em uma das quatro cadeiras da seção de fotografia da academia, para a qual foi eleito em 2016, no lugar de seu amigo Lucien Clergue, morto em 2014.
Com a mesma elegância com que veste seu colete para percorrer os quatro cantos do planeta, Salgado entrou no plenário do Institut de France vestindo o fardão preto com detalhes bordados em dourado da instituição.

A cerimônia foi aberta com uma mensagem rápida enviada pelo presidente francês Emmanuel Macron, que não esteve presente, mas enviou suas "mais calorosas saudações" ao brasileiro.

Em seu discurso de boas-vindas, o fotógrafo francês Yann Arthus-Bertrand, um dos quatro fotógrafos da academia, lembrou a vida e a obra de Salgado, que enxugava as lágrimas enquanto ouvia o nome de seus filhos, Juliano e Rodrigo, e de sua mulher e parceira de vida e trabalho, Lélia.

Os dois chegaram a Paris juntos em 1969, exilados por causa da ditadura militar que perseguia um Sebastião Salgado ainda economista e militante de esquerda.
Nessa época, a fotografia não era nem mesmo um hobby na vida de Salgado.

Pouco tempo depois da chegada à França, o casal se mudou para Londres, onde o brasileiro trabalhou por alguns anos na Organização Internacional do Café, mesmo nunca tendo gostado da bebida.

Salgado começou a fotografar por hobby, durante suas viagens a trabalho pela África, com uma câmera emprestada de Lélia. No início da década de 70, largou tudo e passou a se dedicar completamente à fotografia, integrando algumas das agências mais importantes do mundo.
Como manda o protocolo do Institut de France, seu discurso foi dirigido a seu antecessor. Do amigo Clergue, Salgado lembrou a "audácia" do fotógrafo francês, de sua amizade com Pablo Picasso e da herança que ele deixou, como Les Rencontre d'Arles, "o mais importante festival de fotografia do mundo", conforme descreveu o brasileiro.

"Somos quatro fotógrafos na Académie, Lucien. Como os quatro mosqueteiros que vão defender a fotografia. Você é nosso D'Artagnan, Lucien. ", afirmou o brasileiro, ao homenagear o amigo.

Salgado também teve palavras para Lélia, a mulher que o tirou "das trevas" onde se viu, traumatizado por anos fotografando a guerra e a morte de homens, mulheres e crianças. Foi também a ela que dedicou o número musical que encerrou a cerimônia, um duo de piano e soprano que interpretou "Nesta Rua", o clássico popular de Heitor-Villa Lobos. COMPARTILHE


terça-feira, dezembro 05, 2017

Mário Sérgio Cortella e a demonização da Internet

Pascal e Nietzsche filosofaram por aforismos. Posts no facebook são aforismos. Podem não ser filosóficos, claro, mas são o que se pode fazer com a cultura que temos, com a escola pública que temos ou, melhor dizendo, não temos. Escritores brasileiros foram brilhantes com aforismos. Quem nunca se deleitou com Ponte Preta ou, mais terrível ainda, Millôr? Na Internet encontramos hoje gente sem fama, mas com muito talento – tão bom quanto esses dois. Não são poucos não!
Meu amigo Mário Sérgio não acerta ao dizer que a Internet favorece a imbecilidade por conta de ser um rio de frases que não são fundamentadas (veja aqui na Carta Capital). Já houve épocas que jornalistas e professores publicavam textos de três páginas no Estadão, e eram fundamentados. Mas eram lixo puro. Não é por conta de fundamentos e grande tempo de reflexão que se faz bom texto. E não se pode dizer que todo repentista é uma besta. Alguns são geniais.
Cortella é, como eu, da velha guarda. Somos do lápis e do livro impresso. Somos do falar pensando. Mas o problema é que ele já se acostumou com a fama e com o fato de ter seu trono na mídia. Aliás, uma boa parte de nós, professores, por termos sempre alguma plateia, não entendemos que a raiva das pessoas que não tem plateia, contra nós, é proporcional ao fato delas acharem que nós, ao falarmos, impomos nossas verdades, e elas não. Em parte isso é  correto da parte delas. E nisso se apegam os populistas quando atacam a mídia, como a Globo, ou atacam a nós, os intelectuais, para angariar apoio desses que ficam ressentidos por termos nossos palcos. Termos os nossos palcos cativos, agora, pela Internet, fica ameaçado, não é verdade. Vemos gente imbecil com palcos e começamos a achar que isso é o mal do mundo – o palco para imbecil. Mas a presidência da República vive tendo imbecil, é uma baita palco.
O palco do Cortella, hoje, é maior do que de outros. Maior que de muitos. Ele já não é mais um professor, é um showman. Ele faz um bom trabalho: induz grandes públicos a boas ações com uma retórica humanista. É um dos poucos dos palestrantes atuais que não cede ao banal, como o seus amigos fazem, ou ao pessimismo blasé, como seus adversários na direita arrotam. Mas a visão dele da mídia está calçada, ainda, pelo preconceito que todos nós temos um pouco. A Internet está competindo com ele, todos falam como ele fala, todos tem troninho, e isso assusta. Há muita gente do meio dele e meu que resistiu à Internet.
A Internet assusta aos que não se acostumam com mudanças que, em geral, são democratizadoras, se considerarmos o vagalhão ininterrupto da modernidade (mesmo sob regimes autoritários, tipo fascismo e comunismo, a modernização não parou). A democratização faz com que a patuleia fale, possa falar, e ela faz aforismos que não são os de Pascal e Nietzsche. Mas que são, também, até melhores às vezes. Muita gente só conseguiu trabalhar porque, com a Internet, furou o bloqueio natural da mídia tradicional. Não, não estou louvando imbecilidade de youtuber, estou apenas  dizendo que vivemos num mundo onde todo mundo lê a Bíblia na sua língua, e não mais no latim, entendem?
Até Umberto Eco já cometeu o erro de Mário Sérgio, de achar a Internet um poço de fluxo dos imbecis. Portanto, Mário Sérgio está em tão boa companhia, que está perdoado. Mas que está errado, está. Aliás, um erro que muitos, à direita e à esquerda, estão cometendo também ao ficar falando que vivemos num clima de ódio fomentado pela internet (me contrapus a tal tese em outro  artigo: Não há anjinhos na Internet)
O que ocorre com a Internet é que ela é, como o próprio nome diz, uma rede. Cada nó da rede é um produtor mas, ao mesmo tempo, um retransmissor de mensagens. No conjunto geral a autoria se desfaz e a colcha de retalho produz monstros. Mas a monstruosidade do mundo apenas reflete a nós mesmos, e isso é uma questão de graus. Se olharmos a imprensa em geral do passado, aquela que supostamente tinha tempo para refletir sobre o que fazia, veremos linchamentos não jornalísticos somente, mas a provocação de linchamentos reais. Ou as pessoas acham que sem jornal andando por aí Vargas teria metido um tiro no peito? Ou as pessoas acham que sem rádio os grandes líderes fascistas teriam tido ascensão. Ou alguém ainda acha que sem o sistema de cartas  do correio americano a West Point teria massacrados os índios?
Mário Sérgio se esqueceu que Remington é nome de rifle e máquina de escrever, e não à toa. A história disso diz muito de nós.
Paulo Ghiraldelli Jr., 60, filósofo.

sábado, dezembro 02, 2017

O Flamengo tem um plano para dominar o futebol brasileiro (em grana e taças) até 2020

O plano estratégico que teve início em 2013 chega à metade com sucessos nas finanças e frustrações em campo. Eis como o clube pretende resolver os problemas e iniciar uma supremacia rubro-negra no futebol brasileiro

RODRIGO CAPELO
César goleiro do Flamengo (Foto: LUIS ACOSTA/AFP)
CADÊ?
César, goleiro formado no Flamengo e jogador-chave para a vitória desta quinta-feira (30). O clube carioca quer converter boa organização em títulos (Foto: Luis Acosta/AFP)

Na segunda-feira que sucedeu a vitória fora de casa do Flamengo por 3 a 0 sobre o campeão Corinthians, em 19 de novembro, chegaram ao Rio de Janeiro os analistas da Double Pass. Trata-se de uma consultoria belga que aprimorou a formação de jogadores de futebol na Alemanha e na Bélgica e hoje está presente também nos Estados Unidos. Foi a segunda vez que a empresa mandou seus profissionais à cidade para reuniões com dirigentes do Flamengo, como Rodrigo Caetano, diretor executivo de futebol, Reinaldo Rueda, técnico colombiano recentemente contratado, e treinadores das categorias de base. A primeira visita ocorreu em outubro, quando a parceria começou, e durou dez dias. Os belgas deverão trabalhar no Flamengo até dezembro de 2018 para ajudá-lo a reestruturar seu departamento de futebol e, se tudo correr como imaginado, implantar métodos de trabalho dignos de um Bayern de Munique. Com um objetivo de longo prazo para lá de audacioso: inaugurar uma fase de supremacia rubro-negra no Brasil. Há no país ao menos mais meia dúzia de clubes que podem ter sonho parecido. Nenhum, porém, planejou isso com tanto capricho.
 A parceria com os belgas vingou depois que Fred Luz, diretor-geral do Flamengo, leu uma reportagem de Carlos Eduardo Mansur no jornal O Globo. O colunista descreveu como os belgas trabalharam em dois países. Na Alemanha, implantaram novos métodos de treinamento e formação de atletas em academias de futebol espalhadas pelo país. A contratante foi a federação alemã, interessada no início dos anos 2000 em reformular a maneira como se jogava futebol por lá. Vê-se o resultado na primeira divisão e na seleção. Os clubes da elite passaram a usar 23% mais jogadores formados na base do que no período anterior a 2000, e os alemães ganharam a Copa do Mundo de 2014 com direito a 7 a 1 no Brasil. Na Bélgica, a empresa montou o sistema de formação que revelou Kevin de Bruyne, Hazard e Lukaku, todos empregados por grandes times europeus e integrantes de uma badalada safra de jogadores belgas. Fred Luz foi atrás dos belgas para que eles repliquem o modelo no Flamengo.
Parte do trabalho dos consultores consiste em definir com maior consistência como o Flamengo se comportará em campo ao longo dos anos. Joga num 4-4-2 ou prefere ter um atacante a mais num 4-3-3? Leva a bola ao ataque pelo chão ou com passes longos? Marca por zona ou homem a homem? Hoje, no Flamengo e em qualquer outro clube brasileiro, o técnico que chega tem o poder de impor suas ideias sem se importar com o trabalho anterior. Isso ocorre a cada troca de treinador. É tanta mudança de filosofia que time nenhum tem identidade. O Flamengo quer ter uma. Que bata com valores da história do clube, resumidos por palavras-chave como “raça”, “amor” e “paixão”. E que se aplique desde a base. Pelo plano, atletas sub-20, sub-17, sub-15 e até sub-13 aprenderão desde cedo a jogar como o Flamengo joga. Como se faz no campeoníssimo Bayern de Munique.  
A SUPREMACIA RUBRO-NEGRA – POR ENQUANTO, SÓ  NAS FINANÇAS (Foto: Fonte: balanços financeiros)

Sob a mesma filosofia, o clube contratou, em 2016, a consultoria Exos, a fim de diminuir o número de dias de afastamento de atletas por lesões. Destinou a esse fim R$ 1,1 milhão em janeiro de 2016. Com novos equipamentos e procedimentos no departamento médico, o resultado apareceu. Houve 64 lesões em 2015 e 22 no ano seguinte.
O plano de reformulação começou a tomar forma anos atrás, com a chegada do presidente estatutário Eduardo Bandeira de Mello e de Luz como diretor-geral. As categorias de base do clube foram reorientadas para formar atletas para o time profissional – não mais para ganhar torneios de base, que geralmente são vencidos por adolescentes mais fortes, mas nem sempre de maior potencial. Há algum resultado visível. Na semifinal que classificou o time para a decisão da Copa Sul-Americana, na quinta-feira (30), o atacante Felipe Vizeu marcou os dois gols contra o Junior Barranquilla, da Colômbia. Lucas Paquetá se destacou com mais uma aparição raçuda. E o goleiro César brilhou ao substituir o contestadíssimo Muralha: defendeu um pênalti e fez outras defesas importantes para manter o placar favorável. A semelhança entre esses três: todos vieram das categorias de base flamenguistas. Há também desdobramentos financeiros.
Em janeiro de 2017, o Flamengo fez a maior venda de sua história até ali, ao mandar o lateral Jorge para o Monaco por quase R$ 29 milhões. Em maio, uma venda maior bateu novo recorde, dessa vez do futebol brasileiro: a ida de Vinicius Júnior para o Real Madrid rendeu R$ 165 milhões. Se o Flamengo mantiver um sistema de formação de atletas  moderno e meticuloso, como o que se propõe, tenderá a se manter na dianteira das exportações de jogadores – e sem depender excessivamente dessa receita. 
ESCALA GLOBAL O Flamengo espera chegar a 2020 com € 200 milhões de faturamento – hoje, teria o tamanho da Roma (Foto: Fonte: balanços financeiros)
Os valores animam um clube que, pouco tempo atrás, não conseguia manter salários em dia e lutava para evitar um rebaixamento à segunda divisão. Quando o grupo de Bandeira de Mello assumiu o clube, no fim de 2012, deu  com um endividamento próximo a R$ 730 milhões, sem dinheiro em caixa para nada. Por isso, traçou um plano estratégico para o período entre 2013 e 2020, junto com a consultoria de gestão EY, que estabeleceu ciclos a cumprir. O primeiro eles chamaram de “recuperação da credibilidade”. Incluiu profissionalizar a gestão, elevar receitas e pagar dívidas. Isso esteve no topo das prioridades de 2013 a 2015. O ciclo seguinte, que termina agora, foi de investimentos. Com a dívida reduzida para R$ 430 milhões, começou a haver dinheiro para elevar gastos com contratações de reforços e salários mais polpudos. Essa fase ocupou 2016 e 2017. Agora vem o terceiro ciclo, intitulado “virtuoso”, de 2018 a 2020. Se o clube conseguir cumpri-lo, elevará faturamento e investimento e baixará mais a dívida. No caminho do plano ambicioso, porém, há cobranças externas e erros.
Nas finanças, o Flamengo realmente chegou, nos últimos anos, a uma posição privilegiada entre clubes brasileiros. O faturamento em 2017, estimado em R$ 633 milhões após revisão orçamentária, tem mais de R$ 350 milhões de dianteira em relação a quanto espera arrecadar o São Paulo – que nos anos 2000 teve soberania financeira e se tornou o brasileiro mais próximo da supremacia esportiva. Quanto mais dinheiro entra, mais pode ser investido em futebol. O Flamengo avalia que sua  estrutura administrativa permitirá, a partir de 2018, tomar empréstimos com bancos de grande porte a juros baixos como nunca aplicados ao futebol. Os times por aqui usualmente se financiam com empréstimos de pequenos bancos, dirigentes ricos e agentes de atletas e pagam os juros altos tipicamente cobrados de quem não apresenta perspectiva financeira sólida. O clube também prevê que suas contas passem a ser carimbadas por uma das quatro maiores auditorias do mundo. Hoje essas auditorias passam longe do futebol por causa da tradição de administração instável e pouquíssima transparência no setor. Nas finanças do Flamengo, já há feitos a elogiar e o futuro é promissor. O problema é o futebol.
De tanto ouvir que o clube nada em dinheiro, ainda que na realidade tenha nadado mais em dívidas que em investimentos no passado recente, o torcedor exigiu mais títulos. No dia em que o Flamengo comemorou aniversário de 122 anos, 15 de novembro, algumas dezenas de torcedores foram aos portões do centro de treinamento do Ninho do Urubu protestar. “Ô, Caetano, vai se f..., o Flamengo não precisa de você!”, gritavam os marmanjos. O time ainda não havia vencido o Corinthians e ocupava a modesta 7a colocação no Brasileirão. A faixa amarela pendurada em árvores reforçava a exigência pela saída do diretor de futebol e “diagnosticava” o problema: “Salário em dia, porrada em falta”. Em cinco anos de gestão Bandeira de Mello, o time conquistou dois estaduais e uma Copa do Brasil – pouco, diante das ambições. Os principais dirigentes rubro-negros, entrevistados na sede do clube na Gávea por ÉPOCA na véspera, dizem estar habituados à pressão de dirigir o clube de maior torcida do país. Mas admitem que o desempenho no futebol, aquém do esperado, realmente os incomoda. “O fato de o Flamengo ainda não dominar completamente as relações de causa e efeito no futebol, que não é uma ciência exata, é uma preocupação muito grande”, pondera Luz.
Mais de uma explicação circula nos corredores da Gávea para desvendar a frustração. O Flamengo não tem, em relação aos adversários, uma vantagem de investimento digna de um Bayern. Na Alemanha, o time de Munique dedica coisa de € 260 milhões aos salários de atletas e comissão técnica, enquanto o Borussia Dortmund, único a desafiar sua supremacia, gasta a metade. No Brasil, o Flamengo investiu R$ 91 milhões em salários e direitos de imagem de atletas e comissão técnica no primeiro semestre de 2017, ao passo que Palmeiras e Corinthians destinaram valores próximos, R$ 88 milhões e R$ 78 milhões. O Fluminense, rival tradicional, ficou para trás, com R$ 59 milhões. A demora para formar o time também atrapalha. Éverton Ribeiro, principal reforço da temporada, chegou só em junho. O goleiro Diego Alves foi repatriado em julho. As contratações espaçadas atrasam a preparação física e tática, além do entrosamento. Por isso, Luz quer que o Flamengo forme seu elenco ainda na pré-temporada, como faz o Bayern na Alemanha.
Os flamenguistas puseram no plano estratégico metas ambiciosas: querem se tornar o melhor time de futebol das Américas e subir na lista de 20 maiores do mundo em termos de faturamento. Isso implica chegar a uma receita de € 200 milhões e conquistar cinco torneios nacionais, entre Brasileirão e Copa do Brasil, entre dez possíveis. Ninguém fez isso no Brasil até aqui. Para chegar lá, seus dirigentes prometem manter a aposta em planejamento e método, além de não cometer irresponsabilidades financeiras, a antítese do que se viu no futebol brasileiro dos primórdios até hoje. E boa vontade não basta. O Flamengo precisará faturar de mais jeitos. 
Na Libertadores, o desempenho do Flamengo caiu. Na Copa do Brasil, avançou (Foto: Fonte: Tabelas dos campeonatos)
Time de futebol, hoje, ganha dinheiro com televisão, patrocínio, bilheteria e sócio-torcedor. Uns mais, outros menos. A direção do Flamengo vê um vasto território inexplorado em plataformas digitais. A pasta de marketing, dirigida pelo vice estatutário Daniel Orlean e pelo executivo Bruno Spindel, prevê o lançamento de um reformulado aplicativo rubro-negro em fevereiro de 2018. Nele, o torcedor terá uma segunda tela para a partida de futebol – esteja ele no estádio ou no sofá de casa –, com acesso a dados sobre jogadores e imagens de pré e pós-jogo. A arrecadação, esperam os cartolas, virá de um modelo que funciona bem em games (apelidado de “freemium”, uma combinação de algo grátis com algo valioso). Se o plano der certo, o torcedor usará parte dos recursos gratuitamente e pagará para ter acesso a áreas exclusivas.Além disso, o Flamengo terá direitos que hoje pertencem à TV Globo, compradora do pacote de direitos de transmissão. A partir de 2019, quando começa a vigorar um novo contrato, o clube venderá direitos internacionais e transmissões por streaming (como no Netflix). Com essas e outras novas fontes de receita, segundo o plano estratégico, o time partirá rumo aos € 200 milhões em faturamento, nível similar ao momento atual da italiana Roma.
Quando se fala na possibilidade de uma supremacia no futebol brasileiro, devem-se observar os adversários. Os outros clubes grandes têm finanças desajustadas. O Fla-Flu era igualitário nas finanças há poucos anos. Os tricolores cariocas faziam compras com dinheiro da patrocinadora Unimed – empresa então dirigida por Celso Barros, torcedor com ambições políticas no clube. Um episódio em 2007 ilustra a pujança financeira do período. Em janeiro daquele ano, o Fluminense tirou craques dos rivais – Leandro Amaral do Vasco e Dodô do Botafogo. Nos anos seguintes, contratou Conca, Fred e Deco, entre outros reforços caros. Mas a patrocinadora deixou o Fluminense em 2014. Hoje, o clube das Laranjeiras está quebrado e tem de vender jogadores para sobreviver.
O Fluminense, como o Flamengo em 2013, começou em 2017 uma reestruturação administrativa e financeira. O presidente Pedro Abad chamou a mesma EY para desenhar o plano, contratou Marcus Vinicius Freire, ex-dirigente olímpico, para a função de CEO e cortou gastos. Teve algum sucesso: a estimativa de déficit para 2017 encolheu de R$ 76 milhões para R$ 52 milhões. Mas a saúde do tricolor não se compara mais à do Flamengo. Em situações financeiras igualmente delicadas estão Vasco e Botafogo. Fora do Rio, só o Palmeiras compete de frente. A desigualdade financeira se firma. A questão é se o Flamengo conseguirá transformar dinheiro em taças para continuar a sonhar em se tornar o Bayern brasileiro.
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