Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, dezembro 31, 2009

Em respeito ao dificílimo papel dos árbitros

Arbitragem, descontrole emocional, STJD e o profissionalismo no futebol brasileiro
Os tempos vividos hoje inspiram maior zelo e cautela por parte daqueles que fazem o futebol, e os que militam à frente de clubes não podem mais dar espaços para provas de amadorismo e retrocesso
Milton Jordão

Após mais um final de temporada no futebol brasileiro, algumas questões se põem como de primeira ordem a serem enfrentadas e revistas, para que, em 2010, possa se desempenhar um melhor papel.

Destaco dois temas que, nos últimos meses do Campeonato Brasileiro de futebol ganharam espaço na mídia nacional: arbitragem e imparcialidade dos julgadores das Cortes Desportivas.

Para melhor debatermos tais tópicos, me valerei de um fato ainda vivo em nossa memória para ilustrar minhas ideias. Recentemente, a mídia desportiva noticiou as firmes declarações do presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras, após realização de partida entre esta agremiação e o Fluminense Futebol Clube. Ali, o árbitro central, Carlos Eugênio Simon, cometera um equívoco – na visão do dirigente palmeirense – ao invalidar um gol. As agressões verbais e ameaças ao árbitro foram imediatas, irradiadas tão logo findo o certame. Inclusive, sobraram ofensas até para membros do Superior Tribunal de Justiça Desportiva.

Pretendo aqui, caro e amigo leitor, explorar o alcance de tais fatos no cenário atual do futebol brasileiro. Apesar de distante - pois desconheço os autos -, acompanhei o ocorrido pelos noticiários escritos e televisados. Inclusive, gostaria de ressaltar que faço questão de escrever esta singela coluna desconhecendo por completo o resultado do julgamento do Sr. Belluzo pela 2ª Comissão Disciplinar do STJD.

O erro de arbitragem no futebol é um tema que não mais deveria ser discutido por nós, jusdesportitas. Falo isso porque cediço que a International Board tem plena consciência de que muitos dos equívocos confirmados nas partidas futebolísticas existem porque esse esporte limita a intervenção e inovação tecnológica. Dependemos quase que exclusivamente do ser humano (o que está fora do exclusivamente tributo na conta de inspiração divina). A imagem e outros recursos tecnológicos são privilégios dos telespectadores e jornalistas. Nunca do árbitro. Até mesmo depois, estes se veem temerosos de assumir erros e “pagar o pato” na Justiça Desportiva.

É interessante que o nível de responsabilidade dos árbitros de futebol cresce à medida que o desporto se organiza e vai se tornando mais lucrativo (p.ex.: um gol anulado injustamente ou um impedimento mal marcado pode, além da frustração da perda de um título tão perseguido, afastar o clube de torneios mais rentáveis e cotas de tevês e patrocínios interessantes). O que digo é que se lança sobre os ombros dos árbitros uma incrível responsabilidade, sem que se medite sobre suas reais capacidades de apitar o jogo livre de qualquer percalço. Sendo sinceros: devemos contar com eventuais erros, pois fazem parte do futebol.

No caso que fiz alusão, a S.E. Palmeiras, justamente, protestou de forma extremamente equivocada. Vi ali um torcedor em pele de dirigente. Curiosamente, me pus, com brevidade, a recordar que esse veemente protesto não se deu quando outros árbitros cometeram equívocos que beneficiaram o time paulista (p.ex.: no turno, no jogo Palmeiras x Vitória, a bandeirinha anulou gol legítimo dos baianos, agora, no returno, paira a dúvida se o árbitro da partida Palmeiras x Sport não teria acabado o certame antes do gol de empate do time de casa). Tudo não passou de choro, como se diz na gíria popular. Digo isso porque o presidente do Palmeiras agiu impulsionado pela emoção da partida, de ver a liderança (e talvez o próprio título) se afastar do Parque Antárctica. Isso é normal e compreensivo, para um mero torcedor.

Infelizmente, na condição de dirigente, portanto, submetido às regras de conduta fixadas pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva, não poderia ter transgredido valores e preceitos que o impediam de praticar as ofensas desferidas contra o árbitro e um auditor do STJD. Em tempos de evolução das instituições desportivas, da consagração do respeito à legalidade e normas que disciplinam o esporte, onde não mais se admite facilidade e privilégios escancarados a clubes, não poderia o comandante maior de uma das mais tradicionais e importantes equipes do futebol nacional transmutar-se em mero torcedor. E pior, ainda hoje dizer que está correto e não mudará.

Não obstante a sua ira lançada contra o árbitro daquele jogo, fez algo mais gravoso. Disse que no STJD havia manejos de julgamentos para atender interesses de clubes. Desde que somos infantes e se inicia a tomar gosto pelo futebol, ouve-se falar do tal “tapetão”, ouve-se falar muito mal, como se as Cortes Desportivas fossem povoadas por profissionais despreparados e/ou mal intencionados. O comentário indevido feito pelo presidente do Palmeiras, mais uma vez, se posta na contramão da nossa história de evolução e crescimento do futebol profissional.

O CBJD estabelece que qualquer fato proibido, tipificado como conduta vedada, poderá ser comunicado ao próprio Tribunal mediante queixa. O Palmeiras, a princípio ciente de fato negativo, deveria fazer chegar a conhecimento do Presidente do STJD, para apuração e adoção das medidas necessárias. Porém, nunca o fez. Somente, repito, após perder a liderança, lançaram-se sombras sobre a idoneidade de um auditor, e por quê?

Porque o Palmeiras perdeu a liderança. E mais, diga-se que o silêncio é demonstração de omissão. Conduta imperdoável, também. Além disso, dormientibus non succurrit jus¹.

Uma breve viagem nas páginas do Youtube.com nos remete um curto vídeo onde o Dr. Rodrigo Fux, membro da 4ª Comissão Disciplinar, faz um comentário, em nítido tom jocoso, externando sua preferência clubística, lamentando que o atleta Vagner Love não tivesse integrado o elenco do Flamengo.

Curioso notar que o referido atleta ri, juntamente com outros presentes, quando ouve o Dr. Rodrigo Fux se manifestar. Tudo não passou de comentário sem qualquer nexo com a causa que julgaria. Não tenho procuração, nem conheço o aludido auditor; contudo, é lamentável que tenha sido envolvido, nesta vociferação típica de um torcedor.

http://www.youtube.com/watch?v=K9lwm-usqAM

Todo e qualquer membro de TJD torce por algum time. E, julgará um dia seu time, o craque que admira, condenará e absolverá, a prática forense desportiva me autoriza fazer esta afirmação. É fato inequívoco. Querer aviltar a honra alheia dizendo haver tergiversado no mister porque revelou time do coração é ultrapassar os limites estabelecidos no CBJD. Cito ainda que a própria Lei Pelé permite que Conselheiros de agremiações desportivas integrem Tribunais de Justiça Desportiva. Além disso, deitando olhos nas imagens e no áudio, em nada se assemelha com ameaças ou declaração que fira os preceitos éticos que balizam a atuação do julgador, a conduta do dito auditor.

Repiso: o torcedor falou e bem alto. Um dirigente não pode se imiscuir ao ponto de lançar tamanha ofensa à honra de alguém. Tenho a convicção de que o presidente Belluzzo merecia uma condenação, não por ter ofendido um auditor ou árbitro ou um revanchismo; mas, por promover mais uma cena que nos remete a um passado de amadorismo e total ausência de credibilidade das instituições do futebol, entre elas a Justiça Desportiva. A pena deve ter um final pedagógico e não servir como mera retribuição.

Os tempos vividos hoje inspiram maior zelo e cautela por parte daqueles que fazem o futebol. Cada vez mais, o esporte se sedimenta como um rentável ramo de negócios e como tal as paixões passam a ser reservadas aos torcedores. Os que militam à frente de clubes, nos órgãos da administração do desporto e no judiciário desportivo não podem mais dar espaços para provas de amadorismo e retrocesso.

O profissionalismo do futebol brasileiro se impõe como forma de elevar o Brasil à condição de grande centro, corrigir a distorção que enfrentamos de sermos o maior ganhador de títulos mundiais; porém, permaneceremos ainda como periferia para clubes europeus, asiáticos, mexicanos, que nas janelas levam os bons jogadores que aqui são produzidos.

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¹ O direito não socorre aos que dormem

Novos tempos, novos rumos?

Liga Cearense de Futebol Feminino prestigia posse da nova direção da Federação Cearense de Futebol

Uma festa muito bem cuidada, que já dá mostra da vontade política de um fazer diferente pra melhor

Logo no primeiro contato oficial da mais nova administração da FCF, o que se viu deixou a todos impressionados positivamente. Uma solenidade com requinte, mas sem exageros, que se fez legitimar pela presença de "gregos e troianos", que comportou do traje passeio completo ao incompleto, afora exceções com tons de maior discrepância.

Se os discursos não se caracterizaram por uma retórica primorosa, tivemos uma boa dose de verdade a inspirá-los. Especialmente na fala do Presidente eleito, Mauro Carmélio, pode-se ouvir um relato do descaso da antiga administração da qual ele próprio fazia parte, mas se pode também depreender um ar confesso de sua impotência diante dos fatos.

Mauro não deu mostra de estar preocupado em ser agradável a seus antigos pares, ao demonstrar principalmente a omissão da gestão que findava.

O Presidente recém empossado assumiu o compromisso de promover uma verdadeira revolução na FCF, e de pronto passou a dar publicidade do que já houvera sido feito.

Em conversa reservada com os dirigentes da LCFF, Sérgio Ricardo e Benê Lima, o novo mandatário da FCF firmou o compromisso de dar apoio ao futebol feminino.

A expectativa dos que fazem a LCFF é a de que, juntamente com a FCF, possa promover o crescimento da modalidade no estado do Ceará.

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Mote para reflexão

O jornalismo de fraudas faz fraudes

Wednesday, December 30, 2009
By Paulo Ghiraldelli

Superman: Peter, teve um tempo que éramos super heróis! Pois é Clark, teve um tempo que éramos jornalistas, lembra?

Ou eu fiquei melhor ou o jornalismo ficou burro. Quando jovem, eu lia o Claudio Abramo na Folhae me deliciava. Que maravilha de dignidade e que texto saboroso. Agora, abro a Folha ou oEstadão na Interner e não consigo terminar nenhum texto, eles me expulsam. Para não jogar farpas ao vento, dou exemplos.

Bruno Yutaka Saito, do Blog Cinema da Folha, começa o seu texto:

  • Ontem levei minha mãe para ver “Sempre ao Seu Lado”, “o” filme de cachorro da temporada. Do mesmo jeito que nesta época temos a Xuxa na telona ou filme francês com o Mathieu Amalric, o gênero filme fofo com bichinhos tá aí para nos fazer debulhar em lágrimas. (30/12/09)

Ao ler isso, exclamo quase que involuntariamente: piedade Senhor, ele não sabe o que faz! O estilo do Bruno é insuportável: que coisa mais desagradável a fórmula “levei minha mãe”! Ora, fui ao cinema com minha mãe e ponto final, acabou. Achar que mãe é um pedaço de carne boba, que é necessário ser levado para lá e para cá, é irritante. Além disso, que coisa mais chata isso de ir trabalhar com a mãe, ou seja, ir ao cinema para escrever a coluna da Folha e, então, dar a desculpa de “levar a mãe” ou usar do serviço para sair com a mãe. A colônia nipônica se reúne para ver filmes japoneses e eu, o jornalista descendente de japoneses, levo também a minha mamãe lá, e sabe-se lá se ela quer ir! Tinha de fazer o serviço e ao mesmo tempo “dar atenção” para minha mãe no final do ano – é assim que soa o texto (ao menos para mim, ora, eu sou um leitor só, mas sou leitor). Feito isso, cometo o erro terrível de colocar no mesmo saco, ou seja, na mesma frase e de modo equalizador, filmes como “Sempre ao seu lado” e a feiurinha da Xuxa. Aí já não estou mais no erro de estilo, mas no tropeço do resumo forçado. Isto é, tenho de dizer para o dono do jornal que não trabalhei só um dia, mas que assisti muito outros filmes, então, numa frase só eu embrulho três filmes para dar a impressão que vi todos e pincei um. Essa ânsia de escrever para o dono do jornal, de modo burocrático, e não para o leitor, gera o monstrengo do destaque acima. Há dezenas de outros exemplos desses dois problemas em outros textos dos grandes jornais. Peguei o do Bruno porque ele reunia no mesmo texto dois dos problemas que queria comentar.

Agora, um destaque sobre a falta de assunto e a ironia tola. Na mesma edição da Folha, o artigo de Hélio Schwartsman

  • Agora que o Brasil virou potência mundial e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi escolhido o homem do ano pelos jornais “Le Monde” e “El País”, só resta a nós colunistas prorrogarmos indefinidamente nossas férias, já que não há mais dificuldades a resolver nem, portanto, problemas a comentar. (30/12/09)

Deveria haver uma placa na redação dos jornais, bem acima da porta: “caso você queira ser irônico para parecer superiormente “blasé”, não entre para trabalhar”. Ironias desse tipo da do Hélio, especialmente com a palavra “banana”, que alude à frase feita “República das Bananas”, o genérico para países latino-americanos pequenos com ditaduras que se sobrepunha a ditaduras, é coisa do Pasquim e só serviu para o Pasquim e sua época. No tempo áureo do Pasquim, fazia sentido. Mas agora, tirada de lá e reconstruída, para sair da boca de um jovem colunista bem barbeadinho e de boca bicudinha, que mais parece dentista que escritor, soa como ofensivo, como um desdém à verdade. Ninguém em sã consciência – muito menos no governo, a se ver pelo discurso último de Lula – está querendo dizer que o Brasil “venceu para sempre dificuldades”. Dizemos isso quando estamos sob ditadura e, então, a mídia, uma vez censurada, é forçada a aparentar a vida sob céu azul. Ora, não é o que se apresenta. Querer remeter a uma situação de abafamento para, sem seguida, mostrar que se é dono dos fatos e que há muitos problemas no Brasil, é uma péssima forma de introduzir um artigo. Aliás, denota, na verdade, o contrário. Parece coisa de garoto de colégio que copia frase pronta para encher lingüiça e, se é assim, então de fato não há muito o que comentar. Pode ser, também, um tipo de mentalidade colonizada babaca, pois o texto parece querer contestar não a legitimidade das homenagens a Lula, mas a competência dos jornais do exterior que a noticiaram. Um tipo de invejinha do jornalista para com órgãos de imprensa de maior destaque. Soa também como uma pedante forma de dizer: grande coisa que é oLe Monde, pois eles não sabem o que falam. Esse tipo de coisa está nas entrelinhas do colunista.

Há outras dezenas de situações chatas. Por exemplo, o eterno problema das manchetes falsas. O Estadão diz que “Projeto que revoga a Lei da Anistia fez Jobin ameaçar a se demitir”. (30/12/09). Abro o link correspondente à manchete e, na notícia propriamente dita nada se lê sobre a demissão ou mesmo a ameaça da demissão. A manchete é a criadora de uma falsa crise para atrair leitores em uma época de paralisação política e de falta de assunto.

O tema da verdade no jornalismo é, certamente, o mais polêmico. De todas as áreas de trabalho humano, talvez seja exatamente no jornalismo que a noção de verdade utilizada é a mais fraquinha. Nesse caso, aliás, os jornais impressos e o jornalismo televisivo se igualam. Os jornais e a TV acreditam que a verdade “tem dois lados” e, em nome de uma imparcialidade que logo se revela matreira, para tudo que é controverso eles apresentam alguns contentes e outros descontentes com a situação. Feito isso, se acham como deuses na Terra, imparcialíssimos.

Seja qual for a noção de verdade que possamos usar, segundo as grandes teorias filosóficas, o correto é que nenhuma delas endossaria essa idéia de que a verdade é o produto de frases a favor e frases contrárias ao que se está avaliando. Em nosso cotidiano, quando queremos saber a verdade de um enunciado que expõe uma situação ou um acontecimento, não ficamos andando como bobocas procurando ouvir “os dois lados”. Em nossa vida diária, quando buscamos a verdade, traçamos estratégias que levem o suposto mentiroso a cair em contradição ou diante do que havia falado ou então por meio de colocar o que falou diante da exposição de outras circunstâncias. Nunca ficamos contentes sem ir a fundo nessas estratégias. Ora, estranhamente, essas mesmas pessoas que agem assim, como nós, em suas vidas particulares, uma vez transformadas em jornalistas abandonam esse tipo de investigação para se apresentarem como robozinhos do método consagrado pela imprensa brasileira, o de busca da dancinha dos lados.

Acreditando que pagou sua dívida para com o deus da imparcialidade, a imprensa contrata, então, os “colunistas de opinião”, que seriam comentadores gabaritados das notícias. Ora, na maior parte, esses colunistas deveriam jogar explicitamente com a parcialidade, eles seriam avaliadores oficiais. Mas o que eles fazem? No passado, avaliavam as notícias – Jânio de Freitas e Clóvis Rossi foram mestres nisso. Agora, os jornalistas se comportam como funcionários pagos por algum governo ou político. Novamente exemplos: tudo que é comentado por Luis Nassif e Paulo Henrique Amorim, no que pese a competência do segundo e o fracasso mental do primeiro, mostra que o governo federal, na sua maior besteira, acertou. Não há possibilidade de Lula e de alguém do governo federal errar. Por outro lado, quando olhamos um José Neumanne Pinto na TV ou os meninos da direita política na revista Veja, tudo que o governo federal faz está errado ou, então, há algo a ser ironizado em alguma personalidade do governo Lula. Ora, o que se pode concluir disso? Que eles todos estão longe de falar a verdade, porque não é possível que o governo e todos os seus ministros estejam sempre errados ou sempre certos.

Nietzsche disse, no século XIX, com o seu modo inteligentemente irônico, que os jornais são mentirosos por princípio, pois eles sempre possuem mais ou menos o mesmo número de páginas e, como sabemos, é impossível no mundo ocorrerem todos os dias o mesmo número de fatos. Nós nos esquecemos dessa brincadeira de Nietzsche. Aliás, não levamos mais a sério, também, Marx, na sua acusação de que há mesmo uma imprensa feita de modo grosseiro por ideólogos de grupos e classes. Aliás, duvido que os jornalistas jovens e de meia idade que se pavoneiam hoje por aí tenham lido Marx e Nietzsche. Tenho certeza, aliás, que eles imaginam Claudio Abramo como alguém de um passado que não nos serve mais. Claro, inteligência e honestidade intelectual foram postas na lata do lixo por esse comando de fraldas, produtor de fraudes, do jornalismo brasileiro atual.

Aliás, essa decadência total atingiu também o jornalismo humorístico. O brilhante José Simão é preterido por um público jovem que só entende os retardados mentais do CQC. Jornalistas com cultura são substituídos por garotos que podem ser trocados a qualquer momento, pois tudo é enlatado e previamente produzido, em geral copiado de blogs de escritores mais ou menos anônimos da Internet.

Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo

Mauro Beting




Base do sucesso
O modelo de gestão do Flamengo é a exceção que confirma a regra. Não é para se repetir o que fez o clube da Gávea em 2009, e nos últimos campeonatos

Na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2005, quando o Flamengo quase foi rebaixado, mas se recuperou e se salvou com Joel Santana no comando, terminando a competição apenas na 15ª colocação, Leonardo Moura era o lateral-direto rubro-negro, na goleada de 4 a 1 no Paysandu.

Na estreia do Brasileirão-06, derrota para o São Paulo por 1 a 0, no Morumbi, apenas Leo Moura já estava no time que parecia coadjuvante na competição. Foi o 11º. Mas ganhou a Copa do Brasil. Na última partida na temporada, 4 a 1 no São Caetano, Leo ganhou a companhia de Bruno, Ronaldo Angelim, Juan, Toró e Bruno Mezenga.

Na estreia do torneio nacional de 2007, derrota por 4 a 2 para o Palmeiras, no Rio de Janeiro, Bruno, Angelim, Juan e Mezenga atuaram. Na derrota para o Náutico por 1 a 0, Bruno, Leo Moura, Angelim, Juan e Toró estavam na última rodada, fechando espantosa recuperação que terminou no terceiro lugar do Brasileirão.

Na estreia do Campeonato Brasileiro de 2008, vitória sobre o Santos por 3 a 1: Bruno, Leo Moura, Angelim, Juan, Toró e Kleberson. Todos em campo. Na derrota para o Atlético-PR, no Paraná, por 5 a 3, na última rodada, todos eles (menos Kleberson), e mais Everton, Aírton e Maxi. O Flamengo acabou na quinta colocação. Com seis titulares que fariam a mais que merecida festa do hexa, contra o Grêmio, no Maracanã, na última rodada do Brasileirão-09.

O modelo de gestão do Flamengo é a exceção que confirma a regra, na análise do jornalista André Rocha. Não é para se repetir o que fez o Flamengo em 2009, e nos últimos campeonatos. São mais de R$ 300 milhões em dívidas, que não são compensadas pela receita triplicada nos últimos cinco anos. Mas, dentro de campo, sob o sereno comando de Andrade, as coisas se acertaram. E foram ainda mais certas pela camisa que veste Andrade. O Flamengo tem algumas coisas a mais quando chega para decidir. E teve algo a mais, como todo clube campeão, por começar a montar esse time de 2009 ainda em 2005. Acertando e errando, o final das contas é muito melhor que a encomenda. Justamente por manter uma base.

Um dos tantos segredos conhecidos do Flamengo foi esse. Um time que apostou em Petkovic para acertar uma dívida contábil risível em maio, e saiu em dezembro com o sorriso mais que escancarado pelo acerto histórico do investimento. Diferente de Adriano, que traz consigo um combo de problemas, mas um pacotaço de soluções, Pet era dúvida, era dívida, virou um mito impagável. Gratidão eterna. Dois dos nomes que fizeram o 4-2-3-1 de Andrade dar certo muito além da encomenda rubro-negra.


Andrade mudou o Flamengo de Cuca

Segredos

Um dos tantos méritos do jovem treinador velho de Gávea é que ele pôs o dedo em dogmas e não saiu chamuscado pelas mexidas ousadas. Saiu campeão. Hexacampeão: ao recuar os alas Leo Moura e Juan como laterais, com mais obrigações defensivas e menos liberdades ofensivas, não perdeu qualidade à frente, e ganhou consistência atrás. Muito pelas apostas pontuais nos experientes Álvaro, que fez ótima parceria com o sempre correto Angelim (mais que merecedor do gol do título), e de Maldonado, volante-zagueiro, zagueiro-volante, que tem a capacidade de arrumar um sistema defensivo.

Não apenas o ajuste na retaguarda foi notável. Andrade não tinha um bom parceiro à frente para o imperador depois da saída do sheik Emerson. Denis Marques não deu jogo. O que fez o treinador? Adiantou o volante Willians como meia aberto pela direita. Mais à frente, ele conseguiu ser o jogador que mais driblou e recuperou bolas. Um assombro. Adriano pôde ficar isolado à frente. Porque os três meias sempre chegaram.



Outra recuperação notável foi anímica, técnica e física de Zé Roberto. O jogador que flanava passou a flutuar entre o centro da armação e o lado esquerdo rubro-negro, trocando de função com Pet. Assim desmontaram o então líder Palmeiras, no Palestra, num jogo-chave. Assim partiram para o hexa incontestável.

Como? Jogando bola. Jogando simples. Usando uma base. Um dos tantos segredos do terceiro colocado São Paulo. Dos principais times do equilibradíssimo Brasileirão-09, foi o que menos mudou de 2008 para 2009. Em time que está ganhando se mexe, também. Mas não muito. Sete titulares eram os mesmos do tri. Mesmo com outro treinador, o 3-1-4-2 foi mantido. E deu em bela recuperação estancada pelo Flamengo. E pelo Inter. Um que teve dois treinadores. Variou de nível e regularidade. Perdeu a promessa de craque Giuliano para a Sub-20. E perdeu um título que parecia ganho. Quase sempre mantendo o 4-2-2-2 padrão, com variação para um 4-3-1-2. Foi outro que pouco mexeu a base: manteve quatro titulares de 2008 para ser vice-campeão nacional.

Belo exemplo é o Cruzeiro. Poderia terminar o ano disputando o Mundial contra o Barcelona. Caiu no Mineirão para o não mais que certinho Estudiantes de Verón. Caiu num bode de dar dó. Mas fez um baita returno, semelhante ao rubro-negro, ultrapassou o rival figadal, e na última rodada venceu o Palmeiras na luta pela vaga na Libertadores-10. Sempre baseado no 4-3-1-2 tão caro a Adilson. Mas quase sempre tão eficiente. Apesar da marcação um tanto frouxa, e da perda de gente de qualidade durante a campanha. Ah, sim: com cinco titulares de 2008 mantidos.

Mas se é para falar de perda, depois de 19 rodadas na ponta, perder o penta e até a Libertadores é demais. O Palmeiras demitiu Luxemburgo em quinto lugar, achou um ótimo interino como Jorginho que deixou para Muricy o clube em primeiro lugar. Até cair pelas tabelas e cair fora do sonho do bi sul-americano. Perdendo titulares, perdendo para os lanternas, perdendo a cabeça, se perdendo. Do 4-2-2-2 básico a um 3-4-1-2 nem sempre bem entendido, alguma coisa deu muito errado ao Palmeiras.

A começar por tantas mudanças. Entre os cinco primeiros do Campeonato Brasileiro de 09, nenhum time mudou tanto desde 2008. Apenas três titulares da boa campanha de então foram mantidos. Não é de um ano a outro que as coisas dão liga. E foi o que também não aconteceu no Palmeiras. Faltou paciência. O que sobrou a Andrade no Flamengo.

Humanas e Socias
Mitos construídos III: detecção de talentos no futebol e a relação com o imaginário acerca do jogador brasileiro
Como se dá a relação entre os critérios de seleção e o imaginário? Existe alguma relação entre eles?
Felipe Rodrigues da Costa

Introdução

Nos artigos anteriores, debatemos dois assuntos que permeiam o futebol nacional: o desenvolvimento da crônica esportiva no País e relação futebol-arte e preparação física, contextualizado à vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1970. No campo de jogo, o futebol brasileiro carrega consigo uma mitificação sobre sua prática. O nosso futebol é conhecido pela técnica, pela plasticidade, pelas jogadas fantásticas, enfim, pelo espetáculo que os atletas dão em campo: o tão propagado futebol-arte. O que podemos perceber na literatura jornalística e, por vezes, acadêmica analisada é o discurso de que o brasileiro carrega um estilo próprio de jogar: malicioso, técnico, habilidoso, estilo que suscita expressões como “o artista da bola”, relacionadas ao talento constituído do jogador brasileiro.

É assim que não só a esmagadora maioria dos torcedores, mas também muitos cronistas esportivos caracterizam os jogadores brasileiros, considerando o estilo de jogo brasileiro como constituído de alegria, improvisação, floreios, cheio de ginga e malandragem (SOARES; LOVISOLO, 2003).

Dentro desse contexto, questionar até que ponto os valores e características identitárias do futebol brasileiro são levados em conta pelos selecionadores de talento no futebol? Quais são as representações explicitadas pelos selecionadores sobre o processo de detecção de talentos no futebol? Quando da pesquisa de monografia, ou trabalho de conclusão de curso, tentei entender como se dá essa relação entre os critérios de seleção e o imaginário, se existia alguma relação entre eles. No âmbito do futebol capixaba, concluí que não. No decorrer da pesquisa, percebi que o que movimenta o clube em direção às peneiras é a necessidade de buscar jogadores que se adequariam à realidade do grupo, sem pautar o futebol-arte – e seus critérios estabelecidos – como parâmetro. A possibilidade de se encontrar um talento é rara, e essa dificuldade estaria relacionada ao torneio infanto-juvenil Copa A Gazetinha, que facilita a saída dos novos jogadores capixabas, impedindo que esses talentos cheguem ao clube da Primeira Divisão. E para o futebol brasileiro? A busca de jogadores é pautada pelo futebol arte?

Para tanto, proponho discutirmos alguns critérios utilizados na avaliação quando da seleção dos atletas e o imaginário de futebol-arte criado/desenvolvido pelo brasileiro, relacionando esses debates, argumentando com autores que desenvolveram trabalhos que envolvessem aqueles que vivem o cotidiano do futebol.

Critérios estabelecidos versus Imaginário construído

O futebol brasileiro, dentro do seu contexto de futebol-arte, possui características relacionadas aos jogadores que são muito difundidas no meio esportivo: técnico, habilidoso, dono de um estilo próprio, bem brasileiro. A respeito dessa força simbólica e do processo de detecção de talentos, pudemos observar que o futebol-arte, o jogador habilidoso, técnico, não é o procurado dentro dos padrões do futebol capixaba, devido a vários fatores, que fundamentam a seleção de talentos da maneira como é realizada, e que de alguma forma supre as necessidades do clube. Por exemplo, do ponto de vista maturacional, a altura é muito considerada em determinadas posições e justifica algumas maneiras de jogar. Como falou o Informante 2: “Então pode fazer diferença no futebol, porque, dependendo da posição dele, hoje ‘ta’ dificultando muito, o futebol ‘ta’ indo muito pelo tamanho do atleta. A não ser que seja um pequeno fenomenal” (COSTA, 2005, p. 27).

Fisiologicamente, há que se considerar a força, a velocidade, a flexibilidade, as resistências – anaeróbia e aeróbia (PAVANELLI, 2004). Esses critérios são avaliados durante o coletivo, tendo em vista que a seleção dos jogadores é feita baseada em situação de jogo. Não se falou em testes físicos para selecionar os jogadores, mas as valências físicas foram citadas como critérios a serem observados, o que demonstra a importância dada à condição de crescimento e desenvolvimento maturacional do jogador dentro do processo de seleção de talentos instituído em todo o País, não só no Espírito Santo.

“Os formadores, no entanto, têm sérias dúvidas de que ele consiga chegar aos profissionais do Inter, e não se trata de falta de talento. ‘O problema é o tamanho’, dizem todos” (DAMO, 2005, p.136).

Paoli (2007) ao estudar o processo de seleção de atletas no Brasil, emerge alguns dilemas identitários que permeiam a construção do futebol nacional: trata da constituição da identidade nacional e do estilo brasileiro de jogar futebol; analisa o conceito de talento ao contexto do futebol brasileiro; descreve o fluxo dos jogadores nas categorias de base do futebol brasileiro, a partir de clubes importantes no cenário nacional. Ao final de sua pesquisa, problematiza os discursos dos treinadores e observadores técnicos referentes aos critérios que são adotados na seleção e promoção dos atletas, no sentido de desvendar se os critérios estão relacionados ao imaginário produzido. O autor constrói vários argumentos que tratam do percurso do atleta das categorias de base, além das formas de entrada desses atletas no clube, bem como das possibilidades de sua saída. Sobre isso, Paoli (2007, p. 236) conclui que:

O talento não pode ser detectado com base na aptidão demonstrada em uma única avaliação e ou mensuração, mas a identificação de talentos é parte de um processo de desenvolvimento, que se torna aparente durante as etapas de treinamento, testagem e mensuração sistemática, concomitantemente com o treinamento e participação real em competições esportivas. A detecção dos talentos deve ser efetuada, sobretudo, a partir da observação pelos treinadores do jovem jogador nos treinos e nas competições. Isto é, a partir de procedimentos subjetivos e empíricos, o que frequentemente dará origem a erros, devendo depois comprovar o processo de detecção e seleção de talentos, através de estratégias científicas adequadas, sem, no entanto, subestimar o papel dos treinadores e da observação pedagógica.

No que se refere especificamente ao debate traçado para este breve espaço, o autor aborda algumas questões de representação do futebol brasileiro, caracterizado como futebol arte, de extrema habilidade, e que hipoteticamente serve de referência aos selecionadores nas categorias de base, que buscariam a manutenção desse futebol. Antes, Paoli (2007) mostra que os treinadores e olheiros buscam jogadores que vão dar equilíbrio à equipe, sobretudo no meio de campo, dando suporte tanto para o setor defensivo quanto para o defensivo.

Na percepção dos nativos é raro atualmente, uma equipe no futebol brasileiro, seja nas categorias de base e profissional contar no elenco com jogadores oriundos de um único estado. Há uma diversificação expressiva de jogadores de todas as regiões do país, e, em alguns casos até com jogadores de outros países. O futebol brasileiro como um todo, ou seja, a escola brasileira de jogar futebol é um misto no que se refere às características dos jogadores e dos estilos de praticar o jogo(PAOLI, 2007, p. 237).

Ou seja, o futebol brasileiro não apresenta somente a característica de arte, de habilidade.

[...] a identidade do nosso futebol não é, e não foram constituídas apenas por estas características, mesmo nos seus mais brilhantes momentos. As representações contidas no futebol “força” e “arte” devem se articular para alcançar os resultados esperados nas competições. O equilíbrio entre as duas características é importante, pois é a partir daí que o futebol se estrutura (PAOLI, 2007, p. 238).

O autor com isso, nos mostra que o processo de seleção envolve tanto características do “futebol arte” quanto do “futebol força”. Toda a cadeia proposta para o desenvolvimento do atleta é determinante em sua seleção, culminando em valor de mercado. Ter um jogador habilidoso, mas que traz pouco resultado para o clube não interessa mais. Como “futebol força” devemos ter em mente algo além de uma forma pragmática de se praticar o futebol. Esse estilo, praticado por ingleses, alemães e italianos apresenta uma característica fundamental ao futebol: a disciplina.

O imaginário que cerca o futebol brasileiro é o da arte, da habilidade, do jogo desenvolvido com qualidade técnica insuperável, muitas vezes sendo lembrada a seleção tricampeã em 1970 como o baluarte para tal argumento. Em outro momento, percebemos que muito além da preparação técnica, a preparação física a qual foram submetidos os atletas, e o rendimento da equipe não deixa dúvida da importância da preparação científica para a conquista daquele título – claro, além da qualidade técnica dos jogadores. Essa raiz “futebol arte” está tão bem sedimentada no imaginário, que percebe-se nos discursos daqueles que selecionam os atletas na base, a assunção da habilidade dos jovens, relacionam ao futebol arte – reconhecimento do imaginário – mas que, no momento de definição daqueles que serão selecionados, outras perspectivas são observadas.

De todo o processo que se percebe para chegar ao jogador talentoso, dentro do entendimento de mercado, o futebol brasileiro parece já ter entendido o recado: trabalhar e valorizar o jogador de forma global, desde a sua detecção, seleção e promoção. E a forma global significa aliar o futebol arte, ao futebol força, culminado em um jogador completo, derrubando mais que um mito, e tratando as características identitárias do futebol, e sua evolução, de maneira coerente.

Biblioteca

COSTA, Felipe Rodrigues da. Detecção de talentos no futebol capixaba: critérios e relação com a representação cultural acerca do jogador brasileiro. 2005. 75p. Monografia (Licenciatura em Educação Física) – Centro de Educação Física e Desportos, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2005.

DAMO, Arlei Sander. Do dom à profissão: uma etnografia do futebol espetáculo a partir da formação de jogadores no Brasil e na França.2005. 435f. Tese (Doutorado em Antropologia Social), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.

PAOLI, Próspero Brum. Os estilos de futebol e os processos de seleção e detecção de talentos. Rio de Janeiro, 2007. Tese (Doutorado em Educação Física) – Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 2007.

PAVANELLI, Cláudio. Testes de avaliação no futebol. In: BARROS, Turíbio Leite de; GUERRA, Isabela (Org.). Ciência do futebol. São Paulo: Manole, 2004. p. 67 – 84.

SOARES, Antonio Jorge; LOVISOLO, Hugo. Futebol: a construção histórica do estilo nacional. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 25, n. 1, p. 129-143, set. 2003.

2010: o Ano do Kiwi
De um jeito ou de outro, o planejamento está presente para todos (indivíduos e instituições); queira-se ou não

Rodrigo Barp

Chegamos ao momento do ano em que pessoas e empresas planejam.

No caso das pessoas, chama-se de resoluções de ano novo o ato de planejar, naquilo que nos cabe, o ano seguinte.

Nas empresas e instituições, chama-se planejamento estratégico, no mais das vezes, o período em que se discutem as ações vindouras da temporada de negócios.

Uns se socorrem dos seus oráculos: cartomantes, tarólogos, búzios, orixás, santos, videntes, astrólogos, na ânsia de iluminação para conduzir a vida que segue.

Outros se reúnem em intermináveis discussões, com gerentes e diretores dos diversos departamentos, debruçados em relatórios, números, projeções e análises, para tomar as melhores decisões sobre o rumo dos negócios.

De um jeito ou de outro, o planejamento está presente no dia-a-dia de ambos os grupos. Dos indivíduos ou das instituições. Queira-se ou não.

Planejamento é uma expressão que causa arrepio na maioria absoluta dos dirigentes esportivos do Brasil. Ou por não saber fazer, ou por não querer que ele aconteça. Pois dá muito trabalho e pode revelar coisas indigestas.

Tive acesso ao planejamento estratégico da Federação de Futebol da Nova Zelândia para o período 2006-2010.

Os neozelandeses são conhecidos como kiwi, dada a ave-símbolo do país, que também batizou a fruta que conhecemos bem.

Para quem já esteve em contato com a tradicional elaboração de um plano estratégico, não há nada de surpreendente no conteúdo do documento. A surpresa maior são os resultados obtidos – que é o que se espera de um planejamento bem feito...

Em resumo, contém: a visão do cenário e os objetivos gerais; seis desafios estratégicos a superar; o mapa da estratégia; orçamento; análise PEST e análise SWOT.

1. Alinhar o esporte e controlar o jogo. 2. Atingir sustentabilidade financeira. 3. Desenvolver o jogo. 4. Atingir sucesso internacional. 5. Melhorar a comunicação. 6. Otimizar a capacitação interna.

O primeiro desafio diz respeito à necessidade de unificar a gestão, governança e liderança, por parte da Federação, junto a um esporte de prática e controle fragmentados no país.

O segundo e o terceiro desafios são auto-explicativos.

Melhorar a comunicação refere-se ao incremento do nível de relacionamento com todos os stakeholders junto aos processos administrativos da Federação.

Otimizar a capacitação pressupõe a melhoria na formação dos profissionais de todos os setores envolvidos na indústria do futebol do país.

Voltemos ao quarto desafio. Atingir sucesso internacional. Os objetivos específicos, aqui, eram classificar-se para todas as principais competições da Fifa, tanto no masculino quanto no feminino, bem como melhorar a posição no ranking até 2010 (homens entre as 80 melhores seleções do mundo e mulheres entre as 15 maiores).

No masculino, vaga garantida para a Copa 2010. Em abril de 2007,já havia estado na posição 77 do ranking, e manteve até há pouco. Agora está em 82º.

No feminino, está em 23º lugar. A melhor posição foi a 20ª, em 2005.

Esse quadro, grosso modo, comprova o planejamento bem feito e com convicção de propósitos, alinhado às possibilidades de conclusão das metas. Sem segredos, porque o segredo está no trabalho enunciado no meio do planejamento.

Mas, por que planejar as coisas, uma vez que o Flamengo nem sonhava em ser o campeão brasileiro de 2009 e acabou conquistando o título?

De qualquer maneira, meu horóscopo aponta que 2010 será o ano do kiwi, porque, se não fizer minha parte, nenhum santo vai ajudar.

Especial: o mercado do marketing

GUILHERME COSTA
Da Máquina do Esporte, em São Paulo


O fim da temporada do futebol nacional sempre abre espaço para tabelas e relatórios sobre movimentação do mercado de jogadores. Em 2009, a Máquina do Esporte resolveu aproveitar essa época para fazer algo voltado ao nosso segmento. Portanto, o que você vê abaixo é um registro de mudanças no marketing dos clubes brasileiros.

Esqueça o jogador que foi contratado ou o nome que é especulado como possível reforço para seu time. Aqui você acompanha mudanças nas diretorias, que vão desde os nomes dos funcionários até a estrutura de todo o departamento.

Confira o caminho escolhido pelos clubes em 2009 e veja como as opções são diferentes (manutenção, extinção, reforço, mudança...). A explicação para a contratação de um grande reforço ou para o sucesso de uma campanha pode estar exatamente aí.

Minas Gerais

A temporada foi marcada por caminhos bem diferentes nos dois rivais mineiros. O presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, decidiu extinguir o departamento de marketing no início do ano. A justificativa: o setor consumiu R$ 3 milhões em 2008 e não gerou o retorno esperado.

"Marketing é piada. Temos um problema de consumo, não podemos comparar os hábitos de brasileiro e de europeu. O Brasil precisa caminhar com seu modelo, suas próprias pernas. Nosso departamento de marketing é a diretoria do Atlético enxuta. Quem quer fazer contato, fala é com o presidente", disse o mandatário alvinegro.

No Cruzeiro, em contrapartida, houve uma reformulação que fortaleceu o marketing. O time celeste promoveu três profissionais que já estavam na área e incorporou um funcionário que estava no departamento de comunicação.

Os três promovidos são Alexandre Horta, Carlos Humberto e Simone Guedes. Além disso, Marcone Barbosa, que desde 2004 trabalhava como assessor de imprensa do clube, assumiu a gerência de marketing.

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, a principal novidade do marketing foi a mudança do comando do setor no Vasco. A vice-presidência estava vaga desde a saída de José Henrique Coelho e foi ocupada em abril por Fábio Fernandes, presidente da agência F/Nazca.

Convidado pelo presidente Roberto Dinamite, Fernandes foi o principal artífice das ações que o Vasco desenvolveu durante a trajetória do retorno à primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

O Botafogo também mudou o marketing. Em janeiro, Marcelo Guimarães, de 48 anos, foi contratado para exercer a função e formar um tripé de funcionários remunerados - os outros eram Anderson Barros, no futebol, e Sérgio Landau, nas finanças.

Durante o ano, Márcio Padilha substituiu Guimarães no marketing. Sérgio Landau, por sua vez, foi deslocado para o cargo de diretor-executivo do clube (o setor financeiro passou a ser comandado por Renato Blaute).

O Fluminense também mudou o marketing. Em 2009, contratou Ricardo Silva Rosa, que já havia trabalhado no Botafogo e no Atlético-PR. Contudo, foi o clube do Rio de Janeiro que menos produziu na área em 2009. A principal razão para isso é o cenário político conturbado da equipe, que passou boa parte da temporada brigando com a Unimed, sua patrocinadora máster e principal mecenas do departamento de futebol.

Enquanto os outros mudaram ou tiveram dificuldade para trabalhar, o Flamengo tinha tudo para ter a situação mais tranquila do Estado. O time foi campeão brasileiro pela primeira vez desde 1992. Além disso, trocou seus patrocinadores (saiu a Petrobras, entraram postos ALE e Bozzano) e mudou seu fornecedor de material esportivo (a Nike foi substituída pela Olympikus). Em menos de seis meses, vendeu mais de um milhão de camisas.

Tudo isso, porém, esbarrou na política. O clube viveu um período de sucessão presidencial em dezembro. A nadadora Patrícia Amorim venceu o pleito, derrotou a chapa da situação e ainda não anunciou o que fará do marketing. "Ela pediu para focarmos nossos esforços nas negociações de patrocínio, mas não disse nada além disso", explicou Ricardo Hinrichsen, diretor do setor, quando revelou que o clube fechou com o grupo Hypermarcas para receber R$ 28 milhões em 2010.

São Paulo

A efervescência do Rio de Janeiro contrasta com a situação do mercado de São Paulo. O Santos, que substituiu o presidente Marcelo Teixeira por Luis Álvaro de Oliveira, também vive período de incerteza no marketing (Alex Fernandes, que era gerente da área, não seguirá no clube, mas a cúpula alvinegra não divulgou se fará outras mudanças).

Os outros grandes clubes de São Paulo (Corinthians, Palmeiras e São Paulo) mantiveram suas diretorias neste ano.

Rio Grande do Sul

Grêmio e Internacional também mantiveram suas diretorias de marketing em 2009, com destaque para o time colorado, que realizou um planejamento especial para comemorar seu centenário de fundação.

Além de seguirem com as mesmas diretorias de marketing, os dois clubes gaúchos renovaram com seu patrocinador máster. O contrato com o Banrisul foi estendido por mais duas temporadas, com um aporte de R$ 7 milhões a cada um no primeiro ano de acordo.

Paraná

Outro time que teve uma temporada cheia de ações relacionadas a seu centenário foi o Coritiba. O planejamento foi duramente afetado pelo rebaixamento do clube para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro e as cenas de selvageria que seguiram o empate por 1 a 1 com o Fluminense.

Pouco depois, contudo, o Coritiba lançou uma campanha para resgatar a autoestima do clube. A ação foi criada para incitar os torcedores a demonstrarem seu amor pelo clube e apagarem a imagem negativa deixada no fim do torneio nacional.

A gerência de marketing do Coritiba ainda é exercida por Roberto Pinto Júnior, que neste ano coordenou a comissão do centenário. No entanto, o time paranaense mudou oito dos nove integrantes de sua diretoria em dezembro - a exceção foi o presidente, Jair Cirino -, e isso criou um cenário incerto para o setor.

A situação do marketing do Atlético-PR é mais clara. O time rubro-negro fez uma reestruturação na área em abril de 2009, quando passou a unir comunicação, relacionamento e comercial em uma só diretoria.

O diretor responsável pelo marketing, que agora engloba os outros setores, é Henrique Gaede. Ele tem auxílio de Roberto Karam e Nelson Fanaya Filho, que desempenha a função de coordenador-geral de marketing.

Santa Catarina

Também houve uma mudança estrutural no Avaí nesta temporada. O time catarinense precisou adaptar seu organograma para as demandas surgidas após a boa campanha na Série A do Campeonato Brasileiro, e por isso deslocou Amaro Lúcio da diretoria de marketing para a assessoria da presidência.

O lugar de Lúcio foi ocupado por Otilia Pagani, que já trabalhava no clube e comandava a área de licenciamentos.

Bahia

A principal novidade concreta no marketing dos clubes baianos é um crescimento do setor no Vitória, que incorporou as ações de sustentabilidade a essa área. O lançamento do novo formato foi a venda de pedaços da grama do estádio Barradão - o campo foi retirado para ser reformado no fim do ano.

Curiosamente, porém, a notícia mais polêmica no marketing do Estado ainda não passa de especulação. O publicitário Duda Mendonça, especializado em campanhas políticas, deu entrevista ao jornal "A Tarde" dizendo que pode assessorar a área no Bahia em 2010.

Mendonça trabalhou na campanha que levou Luiz Inácio Lula da Silva à presidência, mas depois esteve envolvido no escândalo de desvio de divisas do Partido dos Trabalhadores (PT) que ficou conhecido como Mensalão.

Pernambuco

Em Pernambuco, o Sport seguiu exemplo dado pelo Atlético-MG e desativou seu departamento de marketing. O setor deixou de existir em setembro, quando Carlos Frederico, que ocupava a vice-presidência da área, anunciou em seu perfil no site de microblogs Twitter que havia se desligado da equipe.

A saída de Frederico foi motivada pela demissão de Kelli Jhan, que ocupava a gerência da área. A saída da executiva foi decidida sem o consentimento do vice-presidente, que não tolerou a ingerência.

Desde a saída de Frederico, o Sport não repôs a vice-presidência. As negociações de patrocínio para a próxima temporada têm sido tocadas diretamente pelo presidente do clube, Silvio Guimarães.

Outro time do Estado que não conta com diretoria específica de marketing atualmente é o Santa Cruz. O Náutico, por sua vez, ainda conta com Roberto Varela no comando do segmento.

Goiás

Em Goiás, o Goiás manteve Marco Goulart na gerência de marketing. A área tem Paulo Augusto Siqueira de Pádua como diretor, com Hailé de Carvalho Pinheiro e Fernando Morais Pinheiro como adjuntos.


terça-feira, dezembro 29, 2009

Ivá Monteiro estréia no próximo dia 4, no Karam x Karam

Polêmica não vai faltar


De efeito. O peitudo Paulo Karam (foto), que faz um muito bom programa na Cidade AM860, numa atitude arrojada – mais que ousada -, leva mais um polêmico para sua equipe: o competente Ivá Monteiro. Ivá, por sua vez, promete seguir uma linha mais reflexiva e conceitual, mas não quer tirar nota dez no quesito comportamento. Cumprimento a ambos: Karam e Ivá, prometendo me ligar mais e mais no Karam&Cia.

Um exemplo para nossos clubes de menor porte

Coca-Cola patrocina Operário

REDAÇÃO
Da Máquina do Esporte, em São Paulo


O Operário de Mato Grosso disputará o campeonato estadual com o patrocínio da Coca-Cola, representada na região pelo Grupo Renosa. O contrato é de R$ 50 mil, dividido em cinco cotas de R$ 10 mil.

O acordo foi costurado pelo secretário da Fazenda de Mato Grosso, Eder Moraes, que também é presidente da Associação de Futebol e Amigos do Mixto (Afam), arquirrival do Operário.

Além da Coca-Cola, o clube terá o apoio da Drebor, empresa dirigida pelo presidente Wendel Rodrigues, e da Bioflora. Uma quarta companhia, cujo nome não foi divulgado, ainda negocia para estampar sua logomarca nos uniformes da equipe.

"É uma alegria muito grande tomar conhecimento de que uma empresa de renome internacional igual à Coca-Cola vai estar estampada na camisa de nosso clube. O Eder Moraes está contribuindo com o futebol profissional do nosso Estado, principalmente com Mixto e Operário, dois dos principais clubes do Mato Grosso", disse Eder Taques, técnico do Operário.

Crédito opõe leis de esporte e cultura

GUILHERME COSTA
Da Máquina do Esporte, em São Paulo


A lei Rouanet, plano de incentivos fiscais à cultura, captou R$ 804 milhões em recursos em 2008, montante que supera em mais de quatro vezes o total da Lei de Incentivo ao Esporte em três anos (R$ 164 milhões). Essa disparidade ainda é um dos principais temas de discussão quando o assunto é a comparação entre os dois regulamentos. E de uma forma geral, a resposta para a diferença passa por uma explicação: credibilidade.

Apesar de a lei que incentiva projetos culturais ter mais tempo de vigência, o que os juristas identificam é que a mão de obra no esporte ainda é escassa. A lei de incentivo aprovou R$ 264 milhões para captação em 2009, mas só R$ 31 milhões foram efetivamente captados.

"Os números mostram que o esporte tem um potencial incrível. Podemos ter um crescimento de ao menos 400% para atingirmos um nível de captação parecido com o da cultura. Existe um caminho maravilhoso pela frente, mas falta mão de obra especializada e preparada", confirmou Jorge Ayoub, diretor de planejamento e vendas da J.Cocco Comunicação e Marketing, em evento realizado em São Paulo para debater a Lei de Incentivo ao Esporte.

Segundo Ayoub, o fato de a legislação de renúncia fiscal existir há mais tempo no segmento da cultura fez com que os projetos dessa área atingissem um nível que o esporte ainda não encontrou. Sobretudo quando o assunto é o retorno do valor investido pelas empresas.

"A maioria das companhias ainda não tem gestores especializados em análise de marketing esportivo e não tem agências focadas nisso. O que nós vemos é que elas não sentem profissionalismo no esporte. Elas investem o dinheiro, mas não sabem como vão aparecer. A cultura já tem um padrão de pensar mais nisso, de apresentar às empresas projetos que têm muito mais a cara delas. Essa questão mais adaptada é fundamental para que o projeto, mesmo depois de aprovado, consiga captar o dinheiro", completou o executivo.

Também em palestra recente em São Paulo, Ricardo Capelli, presidente da Lei de Incentivo ao Esporte, usou argumentação semelhante. Ele lembrou que 80% das propostas apresentadas no esporte não são admitidas como projetos por falta de documentação. E que 92% das ideias aprovadas são provenientes de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

"Mais importante do que discutir para quem vai o recurso é buscar maneiras de aproveitá-lo totalmente. Temos um espaço de crescimento muito grande ainda. Se tivermos mais qualidade nos projetos e um número maior de inscrições, poderemos atingir um volume mais próximo do limite. Mais do que discutir se A é beneficiado ou B é preterido, é importante usarmos tudo que a lei nos oferece", ponderou o jurista.