Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, setembro 30, 2010

Após queda, Juventude quer centenário na Série B

EDUARDO LOPES
Da Máquina do Esporte, São Paulo - SP

O Juventude ficou por 13 anos seguidos na primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Nesse período, teve glórias como um título estadual e uma Copa do Brasil, em 1998 e 1999, respectivamente. No entanto, após as sucessivas quedas desde 2007, hoje o clube tenta juntar os cacos espalhados pelo caminho, que foram evidenciados com o recente rebaixamento à Série D. O objetivo é recuperar o time até 2013, data do seu centenário.

Para alcançar seus mais ambiciosos objetivos, o marketing do Juventude tenta mudar a imagem passada pelo clube atualmente, de crise, para aquela que o marcou durante a década de 1990, de time grande no cenário nacional. O vice-presidente de marketing, Mauro Trojan, explica qual é a intenção: “O nosso planejamento não pode ser de curto prazo. Nós queremos parceiros que acreditem no nosso projeto de quatro anos”.

Esse projeto consiste em conseguir investimentos com novas oportunidades de negócios. Um exemplo é o uso do estádio Alfredo Jaconi. Localizado em uma área nobre de Caxias do Sul, a diretoria do clube quer transformar o local em uma arena de fato, ou seja, com outras possibilidades além do futebol.

A ideia é vender os espaços dentro do estádio para empresas, transformando-o em um centro comercial. A diretoria tem como trunfo nesse quesito a boa conservação do Alfredo Jaconi. Com capacidade para um pouco menos de 25 mil pessoas, o local foi recentemente reformado e, hoje, está até com uma nova pintura.

Para a captação de novos torcedores, o clube quer atingir os mais jovens, precisamente aqueles entre 6 e 12 anos. Esse é o público prioritário do projeto Geração Papo, que consiste em receber visitas de escolas da cidade no estádio do time. Cada um que participa ganha como brinde uma assinatura do programa de sócio-torcedor do Juventude, em um pacote com gratuidade por um ano. Com o projeto, o clube já recebeu 4 mil jovens.

Outra vertente para novos torcedores está nos projetos sociais desenvolvidos pelo clube. O intuito é fazer visitas aos bairros mais pobres da cidades, passando experiências e benefícios e, por conseguinte, fidelizando informalmente esse público ao Juventude.

Para Mauro Trojan, essas ações visam a “valorização do clube, e não da equipe atual, que não está bem”. A ideia é conseguir parceiros para um projeto longo, algo como já foi feito na década de 1990; na época o time tinha a Parmalat como patrocinadora. Hoje a situação é de difícil sustentação: “Temos estrutura e gastos de Série A, mas em um calendário de Série C e D, que deixa o time seis meses sem jogar”, reclamou Trojan.

Caso o Juventude consiga os investimentos necessários, a direção do clube aposta em uma ascensão tão vertiginosa como a apresentada em sua queda. Subindo de divisão em todos os anos, o time estaria na Série B em 2013, ano do seu centenário. A intenção é comemorar a data festejando a eminente volta à Série A.

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ABC investirá R$ 1,5 milhão em campanha por sócios

REDAÇÃO
Da Máquina do Esporte, São Paulo - SP

O ABC lançou na última terça-feira o novo projeto do clube potiguar para arregimentar novos sócios. O clube fará um investimento de R$ 1,5 milhão na campanha, e a meta é ter ao menos cinco mil filiados em um mês.

“O clube está num momento crucial de sua história, e ficará mais fortalecido com a vinda de novos sócios. Quem partiu por esse caminho já está colhendo bons frutos, e precisamos atingir a meta de cinco mil sócios até o dia 24 de outubro para podermos arcar com os custos do futebol”, disse o vice-presidente de marketing da equipe, José Paiva Torres, ao jornal “Tribuna do Norte”.

O projeto para conseguir novos sócios será baseado em extensa campanha de mídia. Haverá spots de rádio, TV e mídia impressa, e o mote da comunicação será a vantagem financeira do plano.

Há quatro modalidades de sócios no ABC. Todas as categorias têm uma taxa de inscrição de R$ 30, e cada uma delas oferece um nível diferente de vantagem. Os benefícios vão de descontos a ingressos para determinados setores em jogos da equipe.

O plano de sócios ainda oferece descontos na compra de produtos, sorteios e promoções exclusivas. Os filiados também têm direito a voto e participação na vida política do clube.

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Vitória retoma planejamento e aposta em público infantil

RODRIGO CAPELO
Da Máquina do Esporte, São Paulo - SP

O Vitória está voltando gradativamente ao planejamento traçado no início do ano. Com a inesperada chegada da equipe às finais da Copa Kia do Brasil, as ações pensadas em janeiro tiveram de ser colocadas em segundo plano para aproveitar o bom momento. Agora, depois da perda do título e com o decorrer do Campeonato Brasileiro, o time retoma o plano inicial e busca atingir o público infantil.

O clube baiano se baseia em pesquisas para afirmar que, entre torcedores com até dez anos, é muito superior a rivais como Bahia. "Segundo nossa análise, nosso maior potencial de crescer em demanda para produtos licenciados está nesse público", explica o diretor de marketing do Vitória, Ricardo Azevedo, à Máquina do Esporte. "Para adultos temos vários produtos, mas para crianças, não".

Para cumprir esse objetivo, a direção do time rubronegro criou um espaço no estádio Barradão dedicado às crianças. Os pais que vão à arena para assistir às partidas podem deixar os filhos nesse local, ornamentado com personagens infantis e televisões. Os responsáveis não pagam para deixar as crianças nesse lugar, mas terão à disposição produtos licenciados específicos para elas à venda.

No site oficial do Vitória, ainda será criado uma área exclusiva para torcedores mirins, com linguagem adequada e conteúdo interativo. Em todos as ações, tanto em site quanto no Barradão, serão usados personagens criados especificamente para o time baiano. O responsável pelos desenhos é o cartunista e escritor Luis Augusto, do estúdio Fala Menino.

A expectativa, contudo, é que os frutos do trabalho com público infantil sejam colhidos somente em médio e longo prazo, de acordo com o diretor de marketing. "A estratégia não é impactante em um primeiro momento, mas tem consistência para durar bastante", explica. Em curto prazo, diz Azevedo, o maior benefício será o aumento de vendas de licenciados.

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Real Madrid e Barcelona têm faturamento de Série A

REDAÇÃO
Da Máquina do Esporte, São Paulo – SP

Os clubes brasileiros têm comemorado o aumento de receitas nos últimos anos, mas, segundo estudo da empresa Prime Time Sport, os resultados ainda estão bem longes dos faturamentos alcançados pelos principais times do velho continente. Segundo os números apresentados, Barcelona tem previsão de receber R$ 931 milhões, enquanto o rival Real Madrid deve arrecadar R$ 970 milhões.

Somados, os números dos dois times chega-se a quantia de R$ 1,9 bilhão, o que representa o faturamento de todos os clubes brasileiros da Série A somados, considerando os valores apresentados no levantamento realizado pela Crowe Horwath RCS.

O estudo apresentado pela Prime Time Sport apresenta também que as receitas dos dois gigantes espanhóis são divididas em três, com proporções semelhantes. O dinheiros dos clubes vêm do departamento de marketing, dos direitos de transmissão e do uso de seus respectivos estádios.

A alta receita com estádio, 28% no Real Madrid com o Santiago Bernabéu e 30,5% no Barcelona com o Camp Nou, é um exemplo que o Corinthians, líder em receita no Brasil, quer seguir. Com o estádio que será construído em Itaquera, o clube espera faturar cerca de R$ 60 milhões anualmente, no mínimo. Isso iria representar cerca de 25% da receita corintiana, comparada aos números atualmente apresentados.

Coritiba tenta maior alcance entre mulheres e crianças

RODRIGO CAPELO
Da Máquina do Esporte, São Paulo - SP

A confusão generalizada no Couto Pereira, estádio do Coritiba, em dezembro de 2009, ainda dá sinais de ter alterado parcialmente algumas diretrizes do marketing alviverde. Depois de romper relações e proibir a presença de torcidas organizadas, o time paranaense pretende ampliar o número de sócios e torcedores entre mulheres e crianças, com o intuito de criar ambiente familiar na arena.

"As pessoas que entram em nosso site, leem os principais jornais e assistem aos principais programas esportivos sabem de tudo o que estamos fazendo", explica o diretor de marketing, Roberto Pinto Júnior, à Máquina do Esporte. "Estamos tentando buscar um público diferenciado, que não está acostumado a acompanhar nossas ações".

Para atingir essa meta, o departamento desenvolveu nova estratégia de comunicação e criou postos móveis com atendimento ao torcedor. Essas ferramentas foram espalhadas entre supermercados, parques, praças e cabeleireiros. "Antes só usávamos os meios voltados para o público masculino", conta. "Agora utilizamos novelas, jornais e programação em horário infantil para divulgar campanhas".

O atendimento móvel tem agradado muito a direção do Coritiba. Até a volta ao Couto Pereira, após meses afastado devido à punição do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), o número de sócios adimplentes foi ampliado para 16 mil, número que esteve em 2,5 mil após a confusão no fim de 2009. O diretor afirma que famílias que romperam a filiação estão voltando aos poucos ao clube.

Com o intuito de incentivar a presença de crianças no estádio, por exemplo, o Coritiba lançou promoção na qual são distribuídos ingressos para meninos e meninas. Acompanhados de um responsável, ambos têm entrada gratuita para jogos. "Mas o pai tem de estar com a criança", conclui Pinto Júnior. "Sozinho, não entra".

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terça-feira, setembro 28, 2010

O ócio traz felicidade?

O segredo para não ter uma vida completa apenas de ócio nem agitada demais é manter o equilíbrio e organizar as atividades que são importantes para você

Por Christian Barbosa

É comum nos depararmos com o pensamento: "como eu queria estar, neste momento, no sofá da minha casa sem fazer nada". E mais, achamos realmente que essa atividade, ou essa "não-atividade", nos deixaria mais felizes e realizados do que continuar cumprindo as tarefas chatas, difíceis, coisas do trabalho ou aquelas que fazem parte da rotina diária, como estudar, olhar as crianças, cuidar da casa, etc. A verdade é que esse desejo momentâneo de não fazer nada não nos traria a mesma felicidade que temos ao cumprir as nossas atividades diárias.

Essa é a avaliação de uma pesquisa realizada pela Universidade de Chicago (EUA) e publicada no periódico Psychological Science. O estudo apontou que as pessoas com o número maior de atividades realizadas por dia tendem a ser mais felizes quando comparadas aquelas que não fazem nada. Ou seja, imaginar que a sua vida seria muito melhor, caso ficasse em casa sem nada para fazer ou sem algum papel para desempenhar, é uma vaga ilusão. Mas isso não significa que você deve realizar tarefas freneticamente sem ter uma pausa para descanso, lazer ou meditação. Ao contrário, esse extremo não o deixará mais feliz e possivelmente aumentará a irritabilidade e o estresse, podendo até prejudicar a sua saúde.

O segredo para não ter uma vida completa apenas de ócio nem agitada demais é manter o equilíbrio e organizar as atividades que são importantes para você. Para isso, imagine que a realização de tudo o que você faz no seu tempo pode ser dividido em três esferas: importância, urgência e circunstancial. Essa é a Tríade do Tempo, uma classificação da forma de como utilizamos o nosso tempo. Realizei uma pesquisa para saber como os brasileiros distribuíam a realização das suas atividades nessas esferas:

Distribuição das atividades

O brasileiro tem dividido a realização das suas atividades quase que igualitariamente. O modelo ideal seria um foco maior no que você considera importante, atividades que trazem retorno a sua carreira, sua empresa, sua família e seu equilíbrio. Infelizmente, nosso padrão é urgente, com muitas atividades desnecessárias e sem sentido, que chamo de circunstanciais. Para alterar essa estatística, é preciso adotar um método de planejamento antecipado, para reduzir as urgências, aumentar o tempo no importante e praticamente eliminar as atividades circunstanciais.

Quando deixamos de produzir tendemos a ficar desanimados, nos sentimos improdutivos. Imagine aquele dia produtivo, com reuniões, entrega de relatórios, estudos, academia, compras, jantar com a família. Com certeza se o dia teve mais atividades importantes a sensação é recompensadora.

Como o estudo mostrou, fazer nada não é tão bom assim a sua vida. É preciso ter equilíbrio entre as suas atividades, tempo de lazer, de "ócio criativo" e, se você quiser, um pouco também para não fazer nada. Nossa produtividade está cada vez associada à nossa capacidade de relaxar e entrar em equilíbrio com você mesmo. A vida passa rápido demais para quem só fica correndo no urgente e perdendo tempo no circunstancial. Use seu tempo com sabedoria e na velocidade certa.

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As 25 maiores transferências mundiais 2010/2011


Em 2010/2011 o mercado de transferências foi mais contido em relação aos valores recorde alcançados na temporada de 2009/2010. A maior transferência da temporada foi a contratação do avançado Espanhol David Villa por parte do FC Barcelona ao Valência por 40 milhões de Euros. Nada comparado com os 94 milhões de Euros pagos pelo Real Madrid por Cristiano Ronaldo, nem com os 65 milhões de Euros pagos por Kaká, ou mesmo os 50 milhões mais Eto´o que o FC Barcelona pagou ao Internazionale na temporada anterior.

A contratação de David Villa, coloca o jogador apenas como a 15ª transferência mais cara de sempre (ver “As maiores transferências de sempre do futebol mundial“), tal como na época anterior, o Manchester City continua a ser o clube com o maior número transferências a fazerem parte da tabela das 25 maiores, onde as aquisições de Touré, Balotelli, David Silva, Kolarov e Milner, estão colocadas entre as 9 maiores do ranking.

As 25 maiores transferências mundiais 2010/2011:

Tabela Futebol Finance

Notas: (A) A transferência de Di Maria poderá chegar os 36 milhões de Euros, consoante os objectivos alcançados. (B) Os 18 milhões de Euros pagos pelo AC Milan ao Manchester City são pelo empréstimo do jogador, o que torna esta transacção no maior valor pago pelo empréstimo de um jogador a outro clube.

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segunda-feira, setembro 27, 2010

Diretores espanhóis enaltecem filosofia de jogo e revelam busca por jovens ‘estáveis psicologicamente’

Sucesso da equipe principal, que venceu a última edição do Mundial, relaciona sucesso aos bons desempenhos nas categorias de base

Equipe Universidade do Futebol

Durante esta semana, foi realizada em Madri a conferência da Uefa para treinadores de seleções nacionais. Um dos pontos centrais do evento foi uma análise sobre o desempenho nos últimos anos das equipes espanholas – desde as categorias de base, chegando à principal, atual campeã do mundo. E o panorama e as justificativas ficaram muito claros: o trabalho de formação valorizando a filosofia local rende frutos no grupo profissional.

“O triunfo do Mundial é um reconhecimento para todos aqueles que trabalharam com os mais jovens ao longo de todos estes anos”, apontou Fernando Hierro, diretor esportivo da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF).

“A filosofia do futebol espanhol consiste em fazer evoluir os nossos jovens jogadores, desde a mais tenra idade, segundo a nossa personalidade, filosofia e estilo de futebol. É fácil dizer isto depois de vencer o Euro-08 e a Copa do Mundo, mas a nossa filosofia principal baseia-se nos sucessos do futebol jovem”, completou.

O ex-jogador e capitão histórico do Real Madrid tem razão, corroborada pelos triunfos em campo. A Espanha venceu em quatro oportunidades o campeonato europeu sub-19, além de se sagrar bicampeã do mesmo torneio na faixa sub-17.

Hierro enaltece a estrutura regional implementada pela RFEF e as excelentes relações com os clubes como as razões principais por trás dessa experiência no desenvolvimento de jovens talentos. Ginés Meléndez, diretor técnico da entidade, tem a mesma opinião.

“Procuramos jogadores muito estáveis, psicologicamente e emocionalmente. A euforia ou a desilusão depois de um jogo podem originar quebras de rendimento”, argumentou Meléndez.

Para ele, a coesão do grupo é muito importante. O futebol espanhol, explica ele, embasa-se em valores que são fundamentais não apenas na vida, mas também no desenvolvimento dos jogadores.

“Eles serão os melhores se forem boas pessoas. Temos dois objetivos fundamentais: treinar e educar os jovens jogadores. Os triunfos nos times de base deixam marcas para o futuro”, finalizou Meléndez, também em entrevista ao site oficial da Uefa.

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A questão dos cambistas sob a nova ótica do Estatuto do Torcedor

Pensador italiano Cesare Beccaria, no século XVIII, já entendia que a criminalização seria a última opção e que o Estado deveria sempre buscar a regulamentação e a intervenção mínima

Gustavo Lopes Pires de Souza*

Historicamente, eram considerados cambistas aqueles que se dedicavam ao câmbio nas feiras e nos núcleos urbanos no feudalismo. Cobravam taxas e para realizarem atividades como empréstimos, câmbio, emissão de títulos e pagamento de dívidas.

Eram bastante úteis à economia feudal, já que proporcionavam maior estabilidade às trocas comerciais, ao retirarem dos comerciantes os riscos do transporte de altos valores.

Com o passar do tempo, estes cambistas começaram a ser chamados de banqueiros, porque faziam empréstimos aos comerciantes mediante a cobrança de juros e criaram o sistema de pagamento em cheque.

Nos dias atuais, considera-se "cambistas" as pessoas que compram ingressos com antecedência para vendê-los posteriormente por um preço mais elevado para as pessoas que não puderam comprar o ingresso em tempo.

Durante os últimos anos vários estudos têm sido realizados a fim de diminuir a atividade dos cambistas nas partidas esportivas.

A atividade dos cambistas constitui crime contra a economia popular, previsto na Lei 1521/1951, em seu art. 2º, que diz serem crimes dessa natureza: transgredir tabelas oficiais de gêneros e mercadorias, ou de serviços essenciais, bem como expor à venda ou oferecer ao público ou vender tais gêneros, mercadorias ou serviços, por preço superior ao tabelado, assim como não manter afixadas, em lugar visível e de fácil leitura, as tabelas de preços aprovadas pelos órgãos competentes; não é claro e muito menos cumprido.

Apesar disso, as recentes alterações no Estatuto do Torcedor tipificaram a atividade do “cambismo” em seus arts 41-F e 41-G.

No primeiro caso, quem vender ingressos de evento esportivo, por preço superior ao estampado no bilhete será apenado com reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa.

Já o art. 41-G, estabelece como crime, fornecer, desviar ou facilitar a distribuição de ingressos para venda por preço superior ao estampado no bilhete, com pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. Neste caso, a pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o agente for servidor público, dirigente ou funcionário de entidade de prática desportiva, entidade responsável pela organização da competição, empresa contratada para o processo de emissão, distribuição e venda de ingressos ou torcida organizada.

Inicialmente, importante ressaltar que não é o tamanho da pena que irá impedir o ato ilícito, mas a repreensão policial e o fim da impunidade.

O pensador italiano Cesare Beccaria no clássico “Dos Delitos e Das Penas” ressalta que o castigo deve ser inevitável, mas que não é a severidade da pena que traz o temor, mas a certeza da punição ao defender que a perspectiva de um castigo moderado, mas inevitável, causará sempre uma impressão mais forte do que o vago temor de um suplício terrível, em relação ao qual se apresenta alguma esperança de impunidade. Ou seja, a prevenção dos crimes é melhor do que a punição.

Outrossim, o “cambismo” existe no mundo todo. E as copas do mundo de futebol já provaram isso. Em alguns países, inclusive, a prática de vender ingressos mais caros é válida. Os “cambistas” são cadastrados pela instituição que promoverá o evento e traz comodidade aos torcedores, pois evita que a fila. Por óbvio, cobra-se um preços mais altos por isso. Assim, lucra o evento e o “cambista” é um trabalhador comum.

O fato é que o Estatuto do Torcedor estabelece em seu art. 20 que os ingressos devam ser vendidos de forma organizada e transparente e a prática demonstrou a ineficiência das entidades de prática desportiva em fazê-lo.

Neste esteio, a atividade do cambista, desde que devidamente regulamentada, poderia trazer maior organização ao evento e comodidade aos torcedores, pois aqueles que não puderem ou não quiserem enfrentar filas poderão optar por pagar uma taxa a um trabalhador credenciado para receber seu ingresso sem enfrentar filas.

Destarte, o pensador italiano Cesare Beccaria, no século XVIII, já entendia que a criminalização seria a última opção e que o Estado deveria sempre buscar a regulamentação e a intervenção mínima.

Neste esteio, ao invés de se punir a atividade dos cambistas, perde-se a oportunidade de trazer uma roupagem mais moderna ao direito brasileiro regulamentando-se uma prática, ao invés de tipificá-la.

*Coordenador do Curso de Capacitação em Direito Desportivo da SATeducacional. Professor de Organização Jurídica do Esporte no MBA de Gestão em Eventos Esportivos das Faculdades Del Rey. Autor do livro: “Estatuto do Torcedor: A Evolução dos Direitos do Consumidor do Esporte” (Lei 10.671/2003) Formado em Direito pela PUC/MG, Pós Graduado em Direito Civil e Processual Civil pela Unipac, Membro e colunista do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo, Membro do Instituto Mineiro de Direito Desportivo e da Associação Portuguesa de Adepstos Colunista do Instituto de Direito Desportivo da Bahia e do portal “Papo de Bola”. Agraciado com a medalha “ Dom Serafim Fernandes de Araújo” pela eficiência na atuação jurídica. Jurista, Articulista, Advogado licenciado em razão de função pública no TJMG. Professor de matérias Jurídicas no MEGA CONCURSOS, FAMINAS e Arnaldo Jansen.

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Wall Street

Rodrigo Barp

Assim como personagem interpretado por Michael Douglas, Jean Michel Aulas, o presidente que reinventou o Lyon, é o Gordon Gekko do futebol mundial

“Ganância é bom”, dizia Gordon Gekko, o personagem de Michael Douglas no filme Wall Street – Poder e Cobiça, dirigido por Oliver Stone na década de 1980.

“Ela clarifica e captura a essência do espírito evolutivo”, dizia o megainvestidor para o pupilo interpretado por Charlie Sheen.

O enredo do filme, que se tornou cult entre os que orbitavam nas bolsas de valores, corretoras e afins pelo mundo todo, tornava evidente a avidez por dinheiro rápido e um estilo de vida agressivo – na linha de sexo, drogas, rock and roll e pregões.

Nesta semana, pude acompanhar duas coisas muito interessantes ligadas à gestão e às finanças de clubes de futebol.

Na primeira, o programa Arena Sportv debatia, entre jornalistas e alguns dirigentes, os números do balanço dos principais clubes a partir do estudo da Crowe Horwath Auditores.

Sem entrar nos detalhes, percebe-se que o faturamento global aumentou bastante nos últimos anos, assim como as dívidas permaneceram estabilizadas e ou aumentaram em alguns casos.

Patrocínios, licenciamentos, venda de jogadores, até bilheteria, puxam o cenário favorável. Resta deixar o balanço no verde. Aliás, apenas três dos clubes abordados apresentaram superávit.

Na segunda, li a interessante reportagem da Fut Lance, sobre o Lyon, clube francês que, em 10 anos, foi alçado ao patamar dos principais clubes da Europa.

Um clube que nunca havia faturado nenhum título e passou a enfileirar sete ligas nacionais e figurar nas fases finais da Uefa Champions League.
A reviravolta se deu a partir de 1987, quando Jean Michel Aulas assumiu o clube, que dispunha de um orçamento de três milhões de dólares anuais.

E o presidente reconheceu que o sucesso havia sido alavancado pelo fato de o clube se tornar especialista no mercado de transferências de jogadores, tal qual na bolsa: comprar na baixa, vender na alta e, se possível, antes dos competidores, amparado em muita informação. E quanto mais dinheiro, mais títulos o Lyon ganharia, segundo ele.

Gekko, numa das cenas, fala a seu pupilo coisas pessoais sobre o jovem que o surpreendem na hora. E Gekko emenda: “Para mim, informação é a commodity mais valiosa”.

São estas as principais leis de Aulas na sua receita de sucesso:

1. Novos técnicos desperdiçam dinheiro com transferências. Corte as asinhas deles.
2. Astros de Copa do Mundo ou da Libertadores estão sobrevalorizados. Ignore-os.
3. Jogadores mais velhos são mais caros. Peça descontos ou, melhor, evite-os.
4. O melhor momento para comprar um jogador é quando ele tem 20 e poucos anos.
5. Venda qualquer jogador quando outro clube oferecer mais que ele vale.
6. Substitua seus melhores jogadores antes mesmo de vendê-los.
7. Ajude seus jogadores a se adaptarem.

A revista ainda tece o comentário que “costumamos achar um time lucrativo meio sem graça”, como torcedores, associando futebol e dinheiro a um tabu.

Jean Michel Aulas é o Gordon Gekko do futebol mundial.

E olha que ele nunca foi o típico cartola de futebol, tido no Brasil como alguém que se diz apaixonado pelo clube e faz tudo por amor e voluntarismo, como se a irracionalidade fosse determinar o êxito ou o fracasso na gestão.

Na juventude, ele jogava handebol.

E ainda não vi o novo filme Wall Street, cujo subtítulo é bem provocante: O dinheiro nunca dorme.

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Compensações táticas

Sob o ponto de vista da organização, equipe deve readequar posições e operações para manter o seu equilíbrio

Rodrigo Azevedo Leitão

Depois de uma recente palestra sobre “dinâmicas táticas de ataque”, em que falei de estruturas táticas “móveis” e “fixas”, recebi algumas mensagens pedindo para que escrevesse algo sobre o que são as “compensações táticas” do jogo de futebol.

Pois bem. Como na última semana esse conceito esteve à tona em um encontro de treinadores promovido pela Uefa, creio que valha a pena aproveitar o ensejo e falar um pouco sobre o tema.

Ainda que possa não parecer muito óbvio, o conceito de “compensação tática” é, até certo ponto, bem fácil de entender.

Imaginemos uma mesa com quatro apoios (quatro “pernas”), que carrega sobre ela 20 livros de mesmo tamanho e massa. Aceitemos que essa mesa é retangular, e que os livros estão distribuídos em sua superfície em quatro montes iguais, em cada um dos seus cantos.

Se retiramos da mesa uma das suas “pernas”, e mantivermos os livros distribuídos em montes iguais por seus quatro cantos, é possível que a partir de um desequilíbrio momentâneo a mesa venha ao chão com todos os livros.

Então, para evitar que isso aconteça, antes de retiramos um dos seus apoios, é preciso que remanejemos os livros pela superfície da mesa, de maneira a conseguirmos encontra uma posição de equilíbrio, que permita que a mesa, mesmo com apenas três “pernas”, permaneça “em pé”.

Esse remanejamento de livros na busca pelo equilíbrio é o que podemos chamar de compensação (eu compenso a falta de uma perna na mesa com uma realocação dos livros sobre ela, de maneira a equilibrar as massas e manter a mesa “em pé”).

A ideia sobre compensação tática cabe bem na analogia da mesa. Ela quer dizer, no futebol, uma readequação posicional e/ou de operação, que permita, sob o ponto de vista organizacional, manter o equilíbrio da equipe (seja para estruturar o espaço de jogo, seja para fazer valer uma regra de ação).

Então, se uma equipe quer atacar com boa amplitude e manter, por exemplo, cinco jogadores, mais o goleiro atrás da linha da bola, desenhando um balanço defensivo, precisará fazer compensações específicas, que podem ser iguais ou diferentes quando estiver jogando em um 1-3-5-2 ou em um 1-4-3-3.

Isso quer dizer que se em um 1-3-5-2 uma equipe mantém boa amplitude, utilizando-se dos alas bem abertos, e para seu balanço defensivo com cinco jogadores mais o goleiro, posiciona os três zagueiros mais os seus dois volantes (ou um volante e um meia) atrás da linha da bola, deverá, jogando em um 1-4-3-3, ter outros jogadores mantendo os mesmos posicionamentos.

Por exemplo, no 1-4-3-3, pode manter a amplitude com um dos laterais e um atacante, e desenhar o balanço defensivo com o goleiro, dois zagueiros, um lateral e dois volantes (ou um volante e um meia).

Vejamos as figuras:

Dentro de um mesmo esquema tático, por exemplo, o 1-4-3-3, se a equipe utilizar-se de uma ocupação espacial com estruturas móveis, também poderá fazer múltiplas compensações, de acordo com as necessidades das situações do jogo.

Então, da mesma forma que em esquemas táticos diferentes é necessário que haja compensações para manter a boa estruturação do espaço, para um mesmo esquema tático, em circunstâncias diferentes, também é necessário que elas (as compensações) aconteçam, para que uma equipe possa fazer valer sua geometria de ocupação (de acordo com as premissas de seu modelo de jogo).


Por hoje é isso!

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sexta-feira, setembro 24, 2010

Italianos adiam greve, mas mantêm reivindicações

Jogadores deverão manter negociações até o final de novembro

Equipe Universidade do Futebol

Os jogadores da primeira divisão da Itália decidiram adiar a greve que estava planejada para o próximo fim de semana, quando Internazionale e Roma irão se enfrentar. A partida reúne os dois melhores colocados da temporada anterior e a decisão dos atletas poderia interferir diretamente no resultado final do torneio.

"Eles anunciaram que a greve está suspensa", disse porta-voz das federações de futebol italianas. Essa foi a quarta rodada de negociações entre dirigentes dos times da Serie A e jogadores da associação. O adiamento foi decidido para que haja mais tempo para diálogos amigáveis, mas futuras greves não foram descartadas.

A associação dos jogadores está incomodada com a falta de flexibilidade de dirigentes em negociações coletivas. Há a preocupação de que atletas que não fazem parte dos planos das equipes podem ser forçados a aceitar transferências e, assim, serem afastados da elite italiana.

"Agora, iremos conversar até 30 de novembro", disse o líder do movimento, Sergio Campana. "Se nenhuma condição for alterada, haverá greve automática". Enquanto isso, o presidente da Federação Italiana de Futebol, Giancarlo Abete, disse estar comprometido em evitar que jogadores sejam afastados por meio de transferências indesejadas ou treinamentos separados.

Os jogadores já venceram a primeira batalha, que envolvia não disputar partidas oficiais em 6 de janeiro, feriado na Itália, e realizar esses jogos em 22 de dezembro. A última vez que houve ameaças de greve na Itália foi em 1996, quando a falta de partidas iria causar prejuízos generalizados a organizadores e canais televisivos.

Fonte: Máquina do Esporte

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Estudo aponta 200 horas de anúncios de futebol na TV espanhola

REDAÇÃO
Da Máquina do Esporte, São Paulo - SP

A agência Havas Sport & Entertainment apresentou nesta sexta-feira os resultados de um estudo chamado “Futebol espanhol, marcas e negócio”. O levantamento é o primeiro que a empresa faz sobre patrocínios esportivos, e uma das principais conclusões é que a TV espanhola teve 200 horas de anúncios relacionados a futebol apenas neste ano.

O estudo identificou que a Espanha tem 21 marcas superativas em negócios relacionados ao futebol. E que o setor cervejeiro é responsável por quase 30% do que é investido na modalidade.

Entre os clubes, a pesquisa ratificou uma concentração em torno de Barcelona e Real Madrid. Os dois principais clubes do país respondem por 63% do total de ações de publicidade relacionada a futebol na região.

A pesquisa ainda teve um report especial sobre a Copa do Mundo de 2010 e a seleção espanhola de futebol. Esse trecho mostrou a valorização da equipe nos últimos anos, turbinada pelos títulos da Eurocopa e do Mundial.

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Botafogo confirma apresentação de comédia no domingo

REDAÇÃO
Da Máquina do Esporte, São Paulo - SP

A diretoria do Botafogo confirmou que vai realizar um show de comédia stand-up antes do jogo contra o Atlético Paranaense, no próximo domingo, válido pelo Campeonato Brasileiro de futebol. A atração faz parte de um projeto do clube para incitar o público a chegar mais cedo ao estádio Engenhão.

A iniciativa começou com a exibição de um DVD sobre a trajetória vitoriosa do Botafogo no Estadual do Rio de Janeiro desta temporada. O filme foi colocado no telão do Engenhão no dia 4 de setembro, momentos antes de o clube alvinegro encarar o Grêmio.

No dia 12 de setembro, um show da cantora botafoguense Isabella Taviani precedeu o confronto entre Botafogo e São Paulo, também realizado no Engenhão.

A apresentação de stand-up no próximo domingo será feita por Marcelo Adnet, também torcedor declarado do Botafogo. As atrações são uma forma que a diretoria alvinegra encontrou para diluir e facilitar o acesso do público ao Engenhão. Além disso, o projeto aumenta o tempo de permanência dos adeptos no espaço, o que é benéfico para lojas e postos de venda de produtos no interior da arena.

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Um retrato lúcido e realista de um treinador em decadência

Quem te viu, quem te vê, demitido Vanderlei Luxemburgo…

Por Cosme Rímoli, jornalista

Os olhos vermelhos.

A voz embargada.

A demissão por telefone.

O senhor de 58 anos encarou a realidade.

A goleada por 5 a 1.

Os R$ 6 milhões da multa rescisória não mudarão sua vida: é milionário.

Talvez não paguem a tristeza de ser apontado como derrotado, decadente.

Ele envergonhou não só a torcida do Atlético Mineiro, mas quem o viu por décadas ser um vencedor.

Foi um homem que trabalhou muito.

Conseguiu ter o respeito do Brasil todo.

Quem não sonhou ter Wanderley Luxemburgo de treinador.

Antes era assim: com w e com y.

Sua idade era outra.

Tudo mudou por causa da CPI do futebol.

Ele tinha a Seleção Brasileira principal e a olímpica nas mãos.

Foram tantas as acusações, a pressão.

O escárnio, as gozações...

Renata Alves...

Depois de um vexame na Olimpíada de Sydney foi demitido.

Perdeu a chance de levar a Seleção para a Coreia e o Japão.

Felipão levou e foi pentacampeão.

Enquanto isso, Luxemburgo depois de uma grande depressão tentou se reerguer.

Fez um trabalho brilhante no Cruzeiro.

Outro no Santos.

Foi para o Real Madrid e foi traído pelo despreparo e pela fraca Comissão Técnica que escolheu para acompanhá-lo.

Sim, sua cara Comissão Técnica sempre foi fraca.

Mas era formada por homens que não o questionavam, pelo contrário, insistiam que ele é o melhor técnico do mundo.

Fora outros funcionários que só têm duas funções na vida: a primeira bajulá-lo.

A segunda vigiar quem ousa falar mal de Luxemburgo.

Não bastasse o fracasso no Real Madrid, ele resolveu criar um instituto de futebol.

Por videoconferências, ele ensinaria como trabalhar nos quatro cantos do Brasil.

O Instituto Wanderley (sim, ele estava com saudade do w e do y) Luxemburgo foi um fracasso.

Envolvido em mil atividades, não teve como acompanhar o trabalho dos seus sócios no instituto.

Outra decepção.

Depois surgiu Palmas.

E a proposta para sair candidato a senador.

Outra situação mal encaminhada que não deu em nada, a não ser expor sua ambição.

Veio o Palmeiras, da Traffic, do seu irmão Jota Hawilla.

A Libertadores, o fracasso.

A demissão por insubordinação por causa de Keirrison.

Belluzzo o desmoralizou dizendo que queria mandar no clube mais do que o presidente.

Voltou para o Santos prometendo a Libertadores.

Outro retumbante fracasso.

Foi tentar ser cabo eleitoral de Marcelo Teixeira.

Com a derrota na eleição do seu presidente, Luís Álvaro o baniu da Vila Belmiro.

Nenhum clube paulista, carioca ou gaúcho se manifestou.

Só o Atlético Mineiro do empolgado Alexandre Kalil.

Se encantou com a possibilidade financeira do banco BMG.

Montou o time que quis.

Escolheu jogadores rodados, vividos.

Mas vaidosos e sem a menor ligação com os clubes que defenderam.

Para eles tanto fazia jogar de preto e branco, amarelo, roxo, verde.

O importante era o alto salário no final do mês.

Luxemburgo ganhou de presente o Campeonato Mineiro, quando Adílson Batista resolveu escalar um Cruzeiro reserva nas semifinais.

Ele estava preocupado com a Libertadores.

O resultado óbvio foi a conquista do Campeonato Mineiro, competição de dois clubes.

Depois de toda a festa, veio o Brasileiro.

E a verdade cruel.

O Atlético Mineiro é caro, formado por jogadores que detestam marcar e adoram ser tratados como estrelas.

E com péssimo preparo físico.

Luxemburgo fazia de conta que não via os sinais.

Ele nunca mexeria no seu preparador físico de confiança, Antônio Mello e sua caixa de areia.

O time foi perdendo, perdendo, perdendo.

A cada derrota, a confiança dos jogadores foi diminuindo.

Luxemburgo parecia ter perdido o encanto.

Sua neurolinguística não funcionava.

Ele gritava na hora errada e conversava quando não deveria.

Responsável pelos jogadores caros que trouxe, ele não tinha como sacá-los do time.

O Atlético Mineiro de Luxemburgo foi a equipe que mais perdeu no Brasileiro.

Conseguiu a façanha de vencer seis vezes, empatar três.

E ser derrotado 15 vezes.

A última, ontem, que culminou com sua demissão foi deprimente.

O time se escancarou contra o Fluminense.

Tomou gols infantis, típicos de equipes mal orientadas.

Jogadores experientes corriam como se estivessem em uma excursão pela praia e não lutando para salvar o Atlético Mineiro.

O Fluminense misturou piedade com falta de pontaria.

5 a 1 foi um placar acanhado demais para quem viu a partida.

Para quem não viu foi uma goleada vergonhosa.

O placar é mesmo chocante: o milionário Atlético Mineiro de Luxemburgo goleado por 5 a 1.

Depois, o telefonema de Alexandre Kalil ao diretor de futebol Eduardo Maluf.

Por telefone, Luxemburgo estava na rua.

Envergonhado, se despediu dos jogadores.

A demissão virou uma constante na sua carreira.

Cruzeiro, Real Madrid, Palmeiras, Atlético Mineiro.

É um profissional em plena decadência.

Suas palestras não funcionam, não motivam mais ninguém.

Parece um mágico amador em um congresso de mágicos profissionais.

Só durou tanto tempo no Atlético Mineiro por causa do seu passado vitorioso.

Mas o último título importante que ganhou foi em 2004, o Brasileiro com o Santos.

Depois alguns estaduais e só.

O pior em tudo isso é que existe uma pessoa muito iludida.

Ele mesmo.

A amigos, nos seus jantares com gente importante da imprensa, ele dizia que ainda seria o treinador do Brasil na Copa do Mundo de 2014.

Muita gente concordava apenas para não perder o amigo que aprendeu a escolher vinhos tão bem.

A paixão pelo pôquer também o complicou.

Perdia horas importantes jogando quando poderia estar estudando o que fazer com seu time.

Mas quem ousaria questioná-lo.

O que é mais lamentável é que Luxemburgo tem uma visão privilegiada de futebol.

Deus lhe deu esse dom.

Mas infelizmente não lhe deu a visão para se cercar de pessoas competentes.

Nem a humildade.

Ele vive de afagos diários no seu ego.

É uma compensação pela vida dura que teve como jogador ruim.

"Só ficou tanto tempo no Flamengo porque era um craque no carteado", revelou Zico.

Luxemburgo saiu do Engenhão prometendo fazer uma reciclagem, ver onde está errando.

Se ele tiver coragem de se livrar de muita gente que o cerca ele estará dando o primeiro passo certo.

Depois, largar o pôquer.

Não usar nunca mais a palavra com que se enrolou nos últimos anos: manager.

Parar também de apelar para esse tal de 'projeto'.

Viver o dia a dia do futebol.

Voltar a ter fome de conquistas.

Parar de arrotar vinho de R$ 5 mil a garrafa.

Querer mostrar para o mundo o quanto é sofisticado com seus ternos importados.

Esquecer o botox.

E se voltar para o dom que Deus lhe deu.

Se preocupar apenas em treinar uma equipe.

Comer de bandejão com os jogadores.

Não querer calar cada crítico seu.

E sim não dar motivos para crítica.

Ter uma vida mais espartana.

Eu pessoalmente tenho saudade do homem apaixonado por futebol que conheci no Bragantino.

Às vésperas da final do Campeonato Paulista de 1990, contra o Novorizontino de Nelsinho Baptista.

Entusiasmava a todos que fossem entrevistá-lo.

Queria vencer na vida, decorar cada plano tático dos melhores times do mundo.

Sonhava que as suas equipes seriam as mais ofensivas do Brasil sem serem vulneráveis.

Tanta dedicação se refletia em campo.

Foi um técnico brilhante.

Pena no que se transformou: alguém sem foco, sem conteúdo, sem paixão pelo futebol.

Envelhecer lhe fez muito mal.

Ainda mais cercado de inúteis sanguessugas.

Os mesmos que hoje de manhã estão lhe dizendo o quanto foi injustiçado no Atlético Mineiro.

Fazem isso com medo de perder a sua melhor fonte de renda.

Mas fica o conselho de um ácido crítico do homem em quem você se transformou, Vanderlei.

Volte a olhar as fotos amareladas do homem de cabelo black power, camisa aberta e medalhão no peito.

Esqueça a breguice das roupas.

Preste atenção no brilho dos olhos.

Aquele homem sabia o que queria da vida.

Bem diferente desse que saiu demitido por telefone do Engenhão...

Depois de uma humilhante goleada por 5 a 1 para o Fluminense.

E passou esta madrugada em claro, de tanta vergonha...

http://www.youtube.com/watch?v=a62maWloQHQ

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quinta-feira, setembro 23, 2010

Deschamps “enaltece” maus treinadores ao longo de sua carreira

Ex-jogador, técnico do Marseille revela aprendizado com treinadores ruins e aguarda confronto contra ex-time

Equipe Universidade do Futebol

Após uma passagem marcante pelo Chelsea em 1999 e 2000, quando conquistou a Taça da Inglaterra, Didier Deschamps se prepara para reencontrar os Blues, mas desta vez como adversário. Hoje treinador do Olympique de Marseille, o francês revelou, em entrevista para o portal Uefa.com, toda sua admiração pelo clube inglês e discursou sobre sua experiência como comandante de uma equipe.

"Apesar de o estádio ter sido renovado e de estar muito maior, o fantástico ambiente que eu ali vivi ainda se mantém igual. Os estádios ingleses sempre me pareceram cheios, e em Stamford Bridge estavam sempre muitas famílias e uma excelente atmosfera. Mas o Chelsea agora é uma equipa muito competitiva, com cerca de 20 jogadores internacionais pelos respectivos países – uma grande ajuda se alguém estiver lesionado ou castigado", disse.

Após se aposentar como jogador profissional pelo Valencia, Deschamps demorou apenas três dias para assumir sua nova função no futebol. 72 horas após pendurar as chuteiras, ele já se apresentava como novo técnico do AS Monaco FC, onde foi vicecampeão europeu de clubes, em 2004.

Após passagem pela Juventus, quando foi responsável por levar o time de volta à elite do futebol italiano, Didier voltou a treinar, desta vez no clube que o lançou para o futebol. No L'OM, conquistou de cara a Copa da Liga Francesa e o Campeonato Francês, acabando com um jejum de 18 anos sem títulos nacionais da agremiação.

"Tive a sorte de ter bastantes treinadores ao longo da carreira, e nomear os melhores é fácil, mas também considero ter aprendido com alguns maus treinadores. Do meu ponto de vista, eles fizeram algumas coisas que não foram as melhores, mas ainda assim não nos impediram de alcançar resultados muito bons. Não creio que os métodos de trabalho sejam muito diferentes de treinador para treinador. O que existe são personalidades diferentes. Alguns possuem mais credibilidade ou carisma do que outros", enfatizou o ex-jogador em declaração ao site. (Grifo deste blog)

Após ser derrotado em sua estréia para o Spartak Moskva, Deschamps espera diante do Chelsea retomar o caminho que o levou à final da Chmapions League em 2004, quando ainda comandava o Monaco. A partida válida pelo grupo F ocorrerá no próximo dia 28, em Londres.

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Clube dos 13 terá reunião para debater cotas de TV

GUILHERME COSTA
Da Máquina do Esporte, São Paulo - SP

A divisão de cotas de TV entre as instituições que fazem parte do Clube dos 13 deverá ser um dos principais assuntos da próxima reunião da entidade. O tema motivou grande polêmica na última plenária por conta de uma reclamação de Luís Álvaro e Oliveira Ribeiro, presidente do Santos, que criticou o critério utilizado pela Rede Globo para aferir a quantidade de assinanteds de pay-per-view (PPV) ligada a cada clube.

Desde 2009, Clube dos 13 e Globo usam pesquisas sobre o PPV para balizar a divisão de cotas de TV entre as equipes. Os valores desembolsados pela emissora são repartidos pelos times de acordo com o desempenho de cada um nas vendas.

O problema é que esse desempenho é calculado a partir de uma média entre pesquisas encomendadas pela Globo aos institutos Datafolha e Ibope. Esses levantamentos consideram apenas capitais que tenham pelo menos 1,5% de assinantes do PPV.

Nesse cenário, não há pesquisas sobre a quantidade de compradores de pacotes em Santos, Campinas ou Recife, cidades que têm representantes no Clube dos 13 (Santos, Guarani e Sport, respectivamente). Essas equipes formam o pelotão dos insatisfeitos com o atual modelo.

Luis Álvaro levantou o tema na última reunião, mas a discussão sobre isso não pôde avançar porque a plenária foi exatamente a apresentação da Globo sobre PPV. O C13 pretende negociar as propriedades separadamente para o próximo contrato, e essa será a primeira plataforma que a entidade levará ao mercado.

“Nós não questionamos a divisão, mas a metodologia usada na pesquisa. Santos tem a melhor média de assinantes de TV a cabo por quantidade de habitantes no Brasil, mas nós ficamos lá embaixo. O critério tem de ser mais justo”, ponderou Armênio Neto, gerente de marketing do time da Vila Belmiro.

A meta do Santos é aproveitar a negociação do novo contrato para tentar mudar o modelo de aferição da quantidade de assinantes. O clube já até contratou dois especialistas para fazerem um laudo do negócio e proporem uma nova metodologia de pesquisa.

O Guarani também tem um movimento próprio para tentar combater o atual modelo. Informalmente, o time de Campinas faz pesquisa entre seus conselheiros e sócio-torcedores para ver quem tem PPV em casa. A ideia é apresentar o número ao C13 e mostrar que o critério da pesquisa da Globo não condiz com a realidade.

“Sabemos que essa questão aconteceu por um erro estratégico ou de comunicação, mas acreditamos que vamos chegar a um denominador comum”, opinou Mercival Piron, diretor de marketing do Guarani.

O Sport pretende propor que a pesquisa seja feita pela própria Globo. “Conversando com torcedores na internet, muitos reclamaram que ninguém faz essa pergunta quando eles compram um pacote. Não há essa opção de informar na hora, e isso seria importante para conhecermos a torcida”, lembrou Sid Vasconcelos, vice-presidente de marketing da equipe pernambucana.

O principal problema referente às críticas dos clubes sobre a pesquisa é a possibilidade de uma mudança criar desequilíbrio. Se o levantamento feito pela Globo incluir Santos e Campinas, por exemplo, vai pinçar regiões em que as torcidas de Corinthians, Palmeiras e São Paulo também são grandes. Outros centros, como Minas Gerais e o Rio de Janeiro, estariam representados apenas pela capital.

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quarta-feira, setembro 22, 2010

O que explica o rebaixamento?

Geraldo Campestrini

O acompanhamento de novas tendências e a capacidade de inovar são essenciais na gestão de um clube de futebol

É difícil arriscar palpites sobre o rebaixamento ou o fato de clubes tradicionais do futebol brasileiro estarem em divisões que não honram suas glórias do passado. Colocar a culpa somente na gestão também pode parecer leviano, mas explica muita coisa. O caso em evidência agora é o do Juventude-RS, que desde o título da Copa do Brasil em 1999 desceu ladeira, culminando com o seu rebaixamento para a Série D do Campeonato Brasileiro em 2010.

Traçando um paralelo com o mercado corporativo, de inúmeros que poderíamos adotar, vamos falar rapidamente na empresa Olivetti, que foi comprada recentemente pela Telecom Itália para um processo de revitalização da marca. Antes, porém, a empresa, que era líder, e praticamente soberana, na comercialização de máquinas de escrever e calculadoras há 20-30 anos, ignorou completamente a inovação e foi praticamente atropelada pela concorrência ávida por novas tecnologias em respeito aos anseios dos consumidores.

Esse simples caso nos ensina aquilo que muitos especialistas falam e publicam: sem inovação e acompanhamento de tendências, a organização está fadada ao insucesso. É verdade que o mercado do futebol é um pouco diferente, uma vez que os consumidores da marca dos clubes são fiéis às mesmas e, por tal razão, conseguem sustentar por algum período a grandeza de seus amados clubes – o que acaba por ser o sustentáculo importante de inúmeros trabalhos mal-sucedidos em termos de gestão.

Casos como os de Juventude, Santa Cruz, Fortaleza, Remo, Paysandu e tantos outros Brasil afora fazem parte de um conjunto de clubes que não conseguiram acompanhar as mudanças face à modernização em seus processos de gestão. Permanecem em uma gangorra que os leva a resultados esportivos incríveis e que, por falta de planejamento e estruturação administrativa, caem vertiginosamente rumo ao ostracismo.

Esses clubes não compreendem que o que deu certo no passado pode não funcionar em questão de anos ou até meses, dada a velocidade nas mudanças que vivenciamos dia após dia.

O acúmulo de conhecimentos multidisciplinares são peças-chave para as organizações bem sucedidas, incluindo-se aí o capital humano de alta qualidade gerencial e operacional que sejam capazes de determinar rotinas eficazes de trabalho afim de utilizar e adotar novas ideias dentro da organização.

Sem o investimento adequado em pessoas não se é possível inovar. Sem inovação, não há sobrevivência organizacional no médio-longo prazo. A inovação acaba por ser o resultado de interações complexas entre conhecimento, produção, marketing e pessoas a partir de uma rede complexa de aprendizagem, seja internamente ou mesmo externamente.

É possível fazer uma repaginação do futuro destes clubes a partir de agora? Sim, desde que invistam em pessoas e se procure alternativas para inovar, antecipando-se às novas e desconhecidas perspectivas do mercado esportivo que hão de vir.

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Ceará ganha 5 mil sócios com benefícios extras

EDUARDO LOPES
Da Máquina do Esporte, São Paulo - SP

A maior parte dos programas de sócio-torcedor do país tem como principal objetivo facilitar a compra e a venda de ingressos para os jogos. Grande parte desses programas, no entanto, se restringem a esse privilégio, sem passar outras vantagens que poderiam atrair aquele torcedor que não vai com tanta frequência ao estádio. O Ceará, por outro lado, vem incrementando as vantagens nos últimos meses e, com isso, ganhou novos adeptos.

Até o início do ano, o time tinha 15 mil torcedores cadastrados no programa “Sou Mais Ceará”. Hoje, o clube já conta com 20 mil filiados. Esses sócios têm, além de vantagens na compra de ingresso, 15% de descontos em produtos oficiais, vantagens como uma agência de viagens destinada aos torcedores e descontos em mais de 200 estabelecimentos comerciais em Fortaleza.

Nos últimos meses, o intuito do clube tem sido aumentar o número de benefícios com promoções semanais. Na última semana, por exemplo, o marketing cearense fez uma parceria com a Sony Pictures que sorteou ingressos entre os sócios para assistir ao filme Karatê Kid, que estreou nos cinemas brasileiros recentemente. A ideia, já posta em prática, é ter pelo menos uma ação como esta por semana.

Maurício Dias, diretor da Fã Clube, empresa responsável pelo marketing do Ceará, explica que o público do programa “Sou Mais Ceará” é essencialmente elitizado e que consome em peso as novas possibilidades. “Apesar de 95% de o plano ser para a arquibancada, 50% dos sócios são de alto padrão econômico”, afirma Dias. Hoje a média de público do time é 21 mil pessoas, sendo 12 mil apenas de sócios.

Além de atrair cada vez mais torcedores, o time quer evitar a vazão dos sócios quando o Castelão, estádio utilizado pelo clube, for fechado para as reformas para a Copa do Mundo de 2014. Como o local utilizado no futuro terá com capacidade reduzida, a diretoria fechará, então, a entrada de planos que incluem a compra de ingressos, focando apenas nas ações envolvidas com os torcedores.

Mesmo com essa restrição, a meta permanece ambiciosa: “Queremos popularizar o programa e chegar aos 70 mil sócios ao longo de 2011”, afirma Dias. A esperança é que o clube consiga receitas tão generosas quanto às recebidas pelo Internacional com o seu plano, e evite o fiasco vivido pelo Cruzeiro, que perdeu 70% dos seus associados quando o Mineirão fechou para reformas.

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O microfone apaixonado

Por Nodge Nogueira

Nodge Nogueira A crônica esportiva cearense tem sofrido nos últimos anos, um processo natural de renovação, muito embora alguns ícones estejam quase que perpetuados no âmbito da classe, e a grande maioria deles deixará sem dúvida, muita saudade quando pendurarem seus microfones.

Entretanto toda mudança tem um preço, e nesse contexto em que me insiro, temos percebido comportamentos inaceitáveis, de pessoas a quem foram concedidas credenciais que os intitulam de profissionais de imprensa, mas que na verdade são torcedores, que mudaram apenas de local no estádio. Saíram das arquibancadas e desceram para a pista de reportagem, e o que é pior, envergando o colete da invicta APCDEC.

O fato de se ter preferência por uma ou outra agremiação é perfeitamente normal, principalmente para quem vive no meio do futebol. O que não se admite são as manifestações explícitas de suas paixões em seus locais de trabalho, como tem acontecido ao longo do tempo, em jogos no estádio Castelão, seja do Fortaleza, do Ceará, ou quando ambos se encontram.

Cenas lamentáveis, como foram observadas por ocasião do jogo Ceará x Goiás, acontecido no último domingo (19), quando “repórteres” que fazem a cobertura diária do alvinegro, se abraçaram e comemoraram efusivamente, como se estivessem nas arquibancadas, com direito a pulinhos de alegria, pasmem, o gol do Águia de Marabá, que naquele momento jogava contra o Fortaleza no interior do Estado do Pará. Vale salientar que essas comemorações foram alvo de discussões e motivo de espanto entre cronistas, alguns deles de fora do Estado.

A rivalidade entre alvinegros e tricolores em nosso estado, remonta à existência dos dois clubes, e é algo natural e motivador, desde que dentro das medidas da racionalidade. Isso entre torcedores tradicionais, nos pontos de encontro, nas discussões em semana de clássico, nas arquibancadas ou fora delas, mas nunca envolvendo profissionais de imprensa, à beira do gramado, com demonstrações acintosas como temos presenciado aqui.

Esse tipo de comportamento depõe contra a classe, bem como repercute mal para as emissoras as quais esses torcedores repórteres estão ligados. Basta lembrar, que o futebol cearense está disputando a primeira divisão do futebol brasileiro, e que a cada semana passam por aqui clubes e cronistas dos mais adiantados centros do País.

Porém, quando se trata de futebol cearense, onde o cronista não tem acesso ao gramado, e ainda por cima é revistado na entrada do estádio, numa total falta de respeito e consideração ao profissional em seu sagrado local de trabalho, nada mais me surpreende, nem mesmo um microfone apaixonado.

*Nodge Nogueira é jornalista, radialista, com atuação na área esportiva na Rádio Clube AM 1200 e site Artilheiro.com.br

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terça-feira, setembro 21, 2010

Clubes de Futebol no Brasil, só mudam o endereço… (2)

Francisco Eduardo Del Rio Andrade

Santa Cruz torcida2

Depois do trabalho no Botafogo de Ribeirão Preto,  outros clubes nos chamaram para prestar serviços. Não falei no artigo anterior, mas éramos um Consórcio formado por um tripé: administração financeira, marketing e futebol. O Consórcio – Futinvest – nunca chegou a ser veiculado. Talvez por uma falha nossa. Esse nome e a logomarca foram minhas criações. Só em alguns jornais esse nome foi publicado. A primeira perna, administrativa financeira era o Banco Axial. Um pequeno banco de um único dono, o suíço Pierre Landolt, um excêntrico bilionário que gostava de futebol e de música popular brasileira.

Ele é quem levava artistas brasileiros para os festivais na Europa. Tinha um castelo em Vevey na Suíça e uma fazenda em Patos na Paraíba… Outra perna, a do futebol era a Brunoro Sports, com o José Carlos Brunoro. Era sem dúvida o cara que tinha o carisma para a isso. O case Palmeiras Parmalat era a sua bandeira. Dispensava apresentação. E a terceira perna era o marketing esportivo. Nessa época eu era sócio de uma empresa a NetSports Marketing, com Sérgio Freixo (que acabou falecendo) e Paulo H.D. Mira.

Mas, o desgaste entre as pessoas nesse trabalho foi muito grande. E acabou por acabar com o Consórcio. No total desse trabalho eram por volta de 18 a 20 pessoas entre todos os envolvidos direta e indiretamente. No final de 2.000, Brunoro me convidou para ir com ele atender a um chamado do Santa Cruz F.C. no Recife. Fomos em janeiro de 2.001 e acabaram contratando os meus serviços de marketing. Acabei morando em Recife por um ano inteiro. A estrutura de lá era bem melhor e com mais força política do que em Ribeirão. Arregacei as mangas e comecei a trabalhar. A estrutura do marketing era meu vice-presidente e eu e foi assim até o final. O vice-presidente (filho do presidente João Mendonça) nunca apareceu para trabalhar no clube.

Graças ao apoio que tive de João Caixéro, figura maravilhosa e historicamente um grande abnegado (no sentido positivo da palavra). Logo no início dos trabalhos, comecei um levantamento no Arrudão (Estádio José do Rego Maciel) com capacidade atual de 65.000 assentos (chegou a ser o 2º. do Brasil e 4º. do mundo – o maior público foi no Jogo das Eliminatórias da Copa do mundo em 93 quando a seleção brasileira ganhou da seleção boliviana por 6×0. Neste jogo estavam presentes nada menos que 93.200 espectadores). Era uma cidade em tamanho. Essa preocupação foi motivada por me alertarem que se eu conseguísse diminuir a evasão de torcedores em dias de jogos, já seria de bom tamanho… Pois bem, nesse levantamento encontramos uma família morando dentro do Estádio já há 3 anos… morando em um barraco que construíram embaixo das arquibancadas… era uma área afastada e dificilmente (muito dificilmente) alguém ia até lá.

Primeira providencia sob o protesto do chefe da família que residia lá, colocamos todos para fora, com auxílio da prefeitura local. Não bastasse esse absurdo, um cara ir de São Paulo para Recife e descobrir isso, existiam ainda outros até maiores… Até o dia que assisti ao primeiro jogo no Arruda. Fiquei chocado com os produtos que eram içados de fora para dentro do estádio. Com o pessoal que pulava os muros. Enfim, uma bagunça. Imaginem que encontrei no estádio um dos únicos mega telão do país (na época) e para variar quase todo queimado. Providencei os reparos e colocamos para funcionar. Só com ele as receitas começaram a aparecer. Refiz o lay-out das placas de publicidade e contratei uma agência (Aliança Comunicação) para comercializar, bem como, lançamos diversas campanhas para vendas antecipadas, sócios, etc. Mexí nos contratos em vigor de Licenciamento e conseguímos atrair uma série de contratos novos. Reativamos a boutique interna. Contratos de uniformes. Lançamentos de novas camisas. É importante comentar que o Santa Cruz é o clube mais querido pelo povão pernambucano.

O Sport e o Náutico são mais elitizados. A maior facilidade no clube é realmente seu envolvimento político. Bastava um telefonema de um dos diretores para que portas se abrissem na iniciativa privada e governamental. Minha passagem por lá aconteceu quando o vice-presidente da República do Brasil era simplesmente o sr. Marco Maciel, filho do nome do estádio Arruda. Isso era uma facilidade e tanto. Para o contrato de patrocínio da camisa tivemos simplesmente a visita do mega empresário italiano sr. Sérgio Cragnotti (que foi dono da Bom Bril, Cirio, Peixe) e assinamos um acordo com a Peixe.

No Santa Cruz particpei de reuniões inclusive para solucionar os problemas no time, que tinha excesso de atletas (mais de 50) e tinha que reduzir o elenco. Lembro bem que um desses dispensados era o Grafite… (!)

Lá também agi como no Botafogo. Saia da minha sala, comprava meu ingresso e sentava depois no camarote do clube. Que com o tempo comecei a evitar porque o que se bebia nesse local, não tá escrito. E os diretores em geral viravam pit-bulls em rinha de cachorro grande. E por falar nisso, aproveito para comentar minha grande idéia para solucionar de vez os problemas de evasão no estádio. Aliás foi um sucesso enquanto durou. E não durou muito para minha desilusão. Nos levantamentos que fiz, percebi que no entorno do estádio, havia uma série de espaços entre os muros e a estrutura do estádio.

Perguntei ao Caixéro se ele conhecia algum tratador de cachorros na cidade. Conseguí uns cinco endereços e chamei os caras. Nos vários espaços existentes, contratei cachorros rottwailer, pit-bulls e pastores alemães. Em cada espaço uns 3 cachorros soltos com um tratador. Tinha gente que no dia do jogo ficava pendurado nos muros para assistir os cachorros latindo para evitar as invasões. Nos tres jogos daquele mês, foi um sucesso. Nos resultados das bilheterias era fácil comprovar que de fato a evasão tinha diminuído e muito. As vendas de bebidas e lanches, os resultados eram outros. Positivos. Até que no final do mês, os responsáveis pelos canis, foram receber o que tínhamos combinado e contratado. Quando a responsável pelos pagamentos pegou a nota fiscal, olhou o valor e viu que era sobre a contratação dos cachorros que ela mesma havia elogiado dias antes, soltou um grito de horror…: -“ os cachorros vão ganhar mais do que eu que estou aqui já há dez anos…” pronto, isso bastou para colocar em xeque a boa idéia versus o salário praticado pelo próprio clube. E como um clube é um clube, um dos diretores me aconselhou a acabar com a cachorrada.

Outra coisa que no final acabou por me deixar muito chateado foi quando fui apresentar meu planejamento para os Conselhos (tinham tres Conselhos – o Deliberativo, o Fiscal e o de antigos presidentes) e entre o power point com as ações e a planilha de excel que provava por A + B que disputando e dando prioridade para o Brasileirão, o clube teria um superavit de (aqui é como exemplo já que os números são cofidenciais) R$ 500 mil e ao contrário, ficando de fora da série A e disputando o campeonato estadual, teriam um deficit de R$ 300 mil. Para a minha incredulidade e aprendizado ouvi como comentário geral: – “esqueça o Brasileiro, aqui o que conta é o estadual…“. Pois bem, é complicado mostrar o resultado que tive com esse trabalho depois de ouvir o que eu acabei ouvindo. “E vocês em Sun Paulo não sabem disso..”. Mas i que motivou minha vinda definitiva para Sun Paulo, foi o fato de que eu recebia no final do mês o cheque correspondente ao meu trabalho. A coisa foi apertando para o clube e eles começaram a me pagar com dinheiro vivo, logo depois de apurarem a arrecadação dos jogos… Imagine seu salário em cedulas de 2 e 5 reais. Por menor que seja, o volume é bem grande e o clube me oferecia dois seguranças com fuzis que me acompanhavam até o hotel que estava morando. Na terceira vez que isso aconteceu, achei, melhor pedir demissão e voltar para casa antes que eu fosse alvo de sequestro, ou coisa pior…

Foi um dos melhores anos de minha vida. Recife é simplesmente deslumbrante. Restaurantes, bares, mulheres, passeios, praias, um calor da porra, mas a brisa quando bate é mil. Uma coisa que estranhei é que as cinco da tarde já era noite. Até acostumar levou um tempo. Morei em Olinda e depois na Boa Viagem. Quando dava, fugia até Porto de Galinhas. Agora assistir a um Santa Cruz x Sport no Arrudão não tem preço…

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Renato Buscariolli de Oliveira, preparador físico e especialista em Treinamento Desportivo

Professor que atuou na base de clubes paulistas discorre sobre o estímulo da autonomia em jovens

Bruno Camarão

“O futebol encontra-se em uma fase de transição no que diz respeito aos modelos de treinamento”. O apontamento realizado por Renato Buscariolli de Oliveira, Bacharel e Licenciado em Treinamento Desportivo pela Faculdade de Educação Física da Unicamp, deve ser levado em consideração. Além da formação especializada nessa área específica, o jovem docente tem a experiência cotidiana em departamentos de formação de clubes brasileiros e o contato com uma série de profissionais ligados às ciências do esporte.

Na avaliação de Buscariolli, os modelos de treino estão cada vez mais específicos – em outras palavras, mais inseridos na realidade do jogo, respeitando um princípio tradicional do treinamento desportivo: a especificidade. Assim, indica, o modelo fragmentado está aos poucos sendo substituído pelo integrado. Um caminho que o Professor Adjunto do Curso de Especialização em “Bioquímica, Fisiologia, Treinamento e Nutrição Desportiva” oferecido pelo Laboratório de Bioquímica do Exercício (Labex) vê com bons olhos.

Preparador físico em categorias de base na modalidade desde 2006, atuou nesta função e como assistente técnico em times do sub-11 ao sub-20 do Paulínia Futebol Clube. Na equipe interiorana do Estado de São Paulo, desenvolveu com um grupo especial o conceito de "Periodização Integrada", cujo objetivo maior foi trabalhar as diversas capacidades físicas inerentes ao futebol de forma sistematizada e controlada em contexto de jogo.

Após o alcance de alguns resultados, com respectiva produção de material científico, migrou em 2010 para a Ponte Preta, de Campinas, agremiação na qual trabalhou como preparador físico do sub-15, categoria que merece uma atenção diferenciada.

“Essa fase é transiente e requer paciência e consciência tanto por parte dos atletas como pela comissão técnica responsável para que esta não cometa nenhum equívoco privilegiando atletas com maturação precoce em detrimento dos mais tardios, visto que os últimos podem apresentar maior potencial do que os primeiros”, justificou Buscariolli, nesta entrevista concedida à Universidade do Futebol.

A obtenção de êxito nesse processo, então, passa pelo significado dado aos treinos, bem como a conscientização da importância de cada um dos jovens, desde a necessidade de se trabalhar a perna não-dominante até o papel profilático do trabalho de força dentro da sala de musculação. Mas nem sempre a realidade é reproduzida nas agremiações.

“Infelizmente, não há uma real preocupação didática em explicar e discutir o significado dos treinos com os atletas. Isto é fruto de um processo cultural, uma vez que os jovens atletas encontram-se em uma escala hierárquica mais baixa e isso não lhes dá o direito de questionar, sendo passível de punição aquele que o faz”, afirmou o futuro mestre – o projeto orientado pelos doutores Denise Vaz de Macedo e Rodrigo Hohl, relacionado ao overtraining, está em fase final.

Entre outras temáticas, Buscariolli fala ainda sobre o desenvolvimento de jogos que facilitam a aprendizagem da estruturação do espaço e a comunicação nas ações, aspectos da pedagogia do treinamento e como alimentar a autonomia dos atletas diante da comissão técnica.

“Para estimular que os jovens atletas exerçam desde cedo a tomada de decisão é preciso montar treinos que levem a isso desde o início do processo de formação. Desta forma, de maneira geral, treinos em contexto de jogo cumprem esta função, já que a todo o momento o atleta decide o que fazer na interação com seus companheiros de equipe e adversários”, disse.
Universidade do Futebol – O jogo de futebol não é feito apenas de fundamentos, movimentos técnicos, sendo a relação com a bola apenas uma das competências essenciais dessa prática. Como desenvolver esses mesmos jogos facilitando a aprendizagem da estruturação do espaço e da comunicação na ação?

Renato Buscariolli – As competências essenciais (“relação com a bola”, “estruturação do espaço” e “comunicação na ação”) do jogo de futebol são inerentes ao jogo, ou seja, acontecem o tempo inteiro. Desta forma, como estão presentes em toda e qualquer situação de jogo (i.e jogos reduzidos e com regras adaptadas), as mesmas podem ser desenvolvidas a partir do direcionamento das regras nos jogos pré-desportivos ou até mesmo pela abordagem do treinador.

Neste sentido, em um nível geral (básico), jogos que possuam diferentes alvos podem ser utilizados para potencializar a estruturação do espaço enquanto que jogos que enfatizem a utilização da perna não-dominante podem ser utilizados para otimizar a relação com a bola.

Logo, a relação com a bola, pode ser (e é) desenvolvida em conjunto com as outras competências essenciais, desde que se utilize situações de jogo. Caso contrário, tanto a estruturação de espaço como a comunicação na ação deixarão de ser exploradas, enfatizando apenas a relação com a bola sem uma tomada de decisão, ou seja, sem uma intencionalidade (ação motora por si), algo que não acontece no jogo.


Em 2010, Buscariolli atuou na preparação física dos jovens atletas da Ponte Preta; experiência anterior foi no rival Guarani e no Paulínia

Universidade do Futebol – O fato de as crianças não brincarem mais tanto de futebol, desenvolvendo essa atividade majoritariamente em escolinhas ao comando de um professor muitas vezes tecnicista, pode acarretar em uma perda da identidade brasileira ao longo do tempo?

Renato Buscariolli – Apesar de o número de crianças que praticam futebol em escolinhas ter aumentado nos últimos anos, não acredito que isto possa levar a uma “perda da identidade brasileira ao longo do tempo”. Isto porque o Brasil é um país de proporções continentais e “vítima” de uma monocultura esportiva, o futebol.

Desta forma, o número de praticantes da modalidade é muito grande, o que leva ao aparecimento de novos talentos periodicamente, independentemente da metodologia do trabalho desenvolvida. Inclusive este é um fator que mascara as deficiências existentes tanto nas categorias de base, quanto nas equipes profissionais no meio futebolístico.

Diferentemente do que ocorre em outras modalidades, nas quais o número de praticantes é restrito, caso o trabalho não seja bem planejado, os resultados não aparecem. Nesse sentido, o voleibol brasileiro é um bom exemplo de competência e profissionalismo, adquirindo uma soberania mundial, mesmo em um país cuja modalidade não é largamente praticada. Dessa forma, penso que novos “Robinhos”, “Kakás” e “Gansos” sempre surgirão, mantendo a identidade brasileira.

Universidade do Futebol – De maneira geral nos departamentos de formação dos clubes brasileiros, há uma real preocupação didática do profissional que se responsabiliza por essa área em explicar e discutir os treinos? Como os atletas jovens podem desenvolver esse processo de autonomia e participar da construção de uma atividade?

Renato Buscariolli – Infelizmente, na grande maioria das agremiações não há uma real preocupação didática em explicar e discutir o significado dos treinos com os atletas. Isto é fruto de um processo cultural, uma vez que os jovens atletas encontram-se em uma escala hierárquica mais baixa e isso não lhes dá o direito de questionar, sendo passível de punição aquele que o faz.

Isso se perpetua e corrobora para o ciclo vicioso do “é assim porque eu estou mandando” ou ainda “isto é assim porque eu joguei e fazia desta forma”. Nesse sentido, como todo e qualquer ser humano é passível de aprendizado (mesmo considerando as diferenças sócio-culturais), creio ser função do responsável pela formação dos atletas da base conscientizá-los daquilo que estão fazendo. Após essa tomada de consciência (oriunda de uma construção diária), com a devida abertura por parte dos comandantes, os atletas sentem-se à vontade para opinar. A partir dessas opiniões, pequenos ajustem podem ser realizados no planejamento, tornando-os sujeitos ativos desta construção.

Todavia, isso só é possível se além do líder possuir conhecimento, liderança e a confiança dos comandados, se utilize de atividades que gerem discussão, ou seja, atividades que criem situações-problemas e dificuldades que tenham que ser resolvidas coletiva ou individualmente na rotina de treino. Para tal, ferramentas como vídeos, palestras e discussão de conceitos inerentes ao jogo se faz necessário, cabendo ao responsável saber “como” e “quando” utilizá-los.


"Não há uma real preocupação didática em explicar e discutir o significado dos treinos com os atletas", afirma o especialista em Treinamento Desportivo

Universidade do Futebol – O treinador português Jose Mourinho defende um modelo de treino integrado, em que não há separação entre o que é físico, técnico, tático e psicológico. O que você pensa a respeito disso?

Renato Buscariolli – Dentro de uma perspectiva cronológica entendo que o futebol encontra-se em uma fase de transição no que diz respeito aos modelos de treinamento. No Brasil, nas décadas de 1950 e 1960, a preparação física foi impulsionada pela figura do então preparador físico da seleção brasileira Paulo Amaral e adquiriu grande importância nos modelos de treino. Como fora importada de modalidades do atletismo para o futebol, era desenvolvida de forma fragmentada e descontextualizada do jogo, respeitando modelos clássicos de periodização.

Processo semelhante ocorria com a parte técnica e tática de forma que cada um destes conteúdos do jogo tinha seu respectivo momento no dia-a-dia de treino. Este modelo mostrou-se eficaz para a época e sem dúvida foi revolucionário. Todavia, decorreram-se mais de quarenta anos e apesar das regras permanecerem praticamente as mesmas, o futebol mudou, tornou-se mais dinâmico, mais veloz e mais equilibrado. Como não poderia deixar de ser, vagarosamente os treinamentos estão mudando e acompanhando essa evolução.

Hoje, impulsionado por personalidades como o treinador José Mourinho, os modelos de treino estão cada vez mais específicos, ou seja, estão cada vez mais inseridos na realidade do jogo, respeitando um velho princípio do treinamento desportivo: a especificidade. Dessa forma, o modelo fragmentado está aos poucos sendo substituído pelo integrado e sem dúvida este parece ser um bom caminho.

Universidade do Futebol – Como você vê a aplicação de idéias como essa no futebol brasileiro?

Renato Buscariolli – Acredito que é possível a aplicação dessas ideias no futebol brasileiro. Porém, em minha opinião, esses modelos ainda carecem de dados científicos e de um controle mais robusto. Nesse sentido, uma das possíveis ideias para o meu futuro doutorado será controlar de forma aguda e crônica um planejamento desenvolvido dentro desta perspectiva.

Vale ressaltar que um paradigma de anos de história está sendo rompido e sabemos que toda mudança requer tempo e energia. Além disso, há muito modismo nesta área e atualmente termos como “periodização tática”, “treinamento integrado”, “modelo de jogo”, entre outros, acabam sendo usados de forma indiscriminada sem o devido conhecimento/aprofundamento.

Universidade do Futebol – Pode-se dizer que o método tecnicista ainda está fortemente arraigado no inconsciente coletivo dos profissionais de futebol? Há uma grande dificuldade em compreender como é possível ensinar e aperfeiçoar a técnica dentro do contexto de jogo, ou como se teoriza, ensinar a técnica por meio da ação tática?

Renato Buscariolli – Sim. Pelo que tenho observado em cursos e congressos voltados para essa área e também pelas experiências vividas na prática, podemos afirmar que o método tecnicista ainda impera no meio futebolístico, tanto na base como no profissional. De fato há uma real dificuldade em se entender como é possível ensinar e aperfeiçoar a técnica por meio da ação tática, principalmente pela falta de informação.

O método tecnicista, pelo fato de estar arraigado e ser largamente praticado, prescinde de grandes respaldos teóricos. Já o método integrado, que está inserido na teoria da complexidade, é algo mais recente, e infelizmente o “novo” assusta, principalmente no que tange o futebol. A partir disso, ao invés de os profissionais reciclarem seu conhecimento e aumentarem sua bagagem teórico-prática, acabam afastando aquilo que é desconhecido, por receio, desinteresse ou mesmo ignorância, contribuindo para este cenário.

Reforço aqui que não estou defendendo a ausência do método tecnicista, até porque utilizo o mesmo no meu planejamento. O que defendo é a constante busca pelo conhecimento teórico para que se respalde a prática. Há cinco anos, eu mesmo me deparei com esta discussão, no primeiro clube no qual trabalhei. Na época, possuía um forte viés tecnicista em minha formação já que havia jogado três anos nas categorias de base do Guarani Futebol Clube e não havia mudado esta concepção durante a faculdade. Hoje, através do conhecimento teórico adquirido depois de formado e a partir das minhas vivências práticas, tenho subsídio para respaldar minhas condutas nos treinos.

Pedagogia do Treinamento: Oito ou Oitenta?

Universidade do Futebol – Atualmente, a fisiologia do esporte aplicada ao futebol ultrapassou as ações laboratoriais e tem atuação direta no cotidiano das agremiações? Qual é o novo papel do fisiologista?

Renato Buscariolli – Sim, a fisiologia do esporte está cada vez mais específica, ou seja, cada vez mais aplicada ao futebol, levantando informações realmente importantes no dia-a-dia de treinamento. Nesse sentido, o fisiologista é o profissional responsável por planejamento, organização e operacionalização do controle fisiológico das cargas de treino e da performance dos atletas ao longo da temporada.

Sobre o controle em longo prazo, em conjunto com a comissão técnica (em especial o preparador físico e o bioquímico, caso exista este profissional), ele participa da montagem da periodização do trabalho, determina quais devem ser os controles de desempenho (testes físicos e marcadores sanguíneos), assim como os momentos de coleta. Faz parte das atribuições do fisiologista no futebol monitorar as variáveis do treino, como o tempo de estímulo, distância percorrida, ações motoras, caráter metabólico, etc., de forma a auxiliar a comissão técnica na operacionalização dos treinamentos.

Cabe a este profissional, também, transformar os dados coletados em informações palpáveis com o intuito de modificar as atitudes práticas cotidianas, como por exemplo, reduzir cargas de treino ou individualizar os treinamentos. Uma conduta que julgo importante para potencializar o trabalho deste profissional é o acompanhamento diário dos treinamentos. Isto reduz o “ruído” na comunicação entre este e os demais profissionais da comissão, facilitando a troca de informações, vital para o desenvolvimento do trabalho.

Considero ainda papel deste a capacitação não só dos profissionais de campo envolvidos, bem como diretores e atletas, objetivando um maior entendimento e consequentemente, valorização do seu trabalho.

Universidade do Futebol – Em um artigo intitulado “Pais ajudam ou atrapalham na formação de um atleta de futebol?”, você elenca, ao lado dos outros autores, a partir da experiência própria, alguns “tipos de pais” presentes no ambiente de formação esportivo. Poderia falar um pouco sobre essa relação comportamental dos responsáveis pelos aspirantes a jogador profissional?

Renato Buscariolli – Naquela oportunidade, tanto eu, quanto o Prof. William Sander Figueiredo e o Prof. Fábio Fontão, estávamos envolvidos nas categorias sub-13 e sub-11 e optamos por produzir um texto sobre a influência que os pais exercem no futuro desportivo dos atletas em virtude de algumas situações que observamos naquela época. Em suma, como colocado no próprio texto, podemos afirmar que os pais (principalmente a figura paterna, mais presente nesse contexto) possuem uma importância enorme no processo de formação desse jovem atleta, uma vez que atuam diretamente na educação deste.

Assim, valores como respeito (à decisão do treinador que, por ventura, não tenha escalado o jovem), companheirismo (com os demais colegas de equipe que possam estar momentaneamente ocupando a vaga deste), volitividade (realizar as atividades propostas com o máximo de intensidade), ou mesmo comportamento (bom rendimento escolar e respeito ao próximo, independentemente do “status” dentro de campo), são cultivados não apenas no dia-a-dia de treino, mas também – e principalmente - na interação pai e filho.

Se o pai não respeita a decisão do treinador e deixa isso explícito, como o filho vai fazê-lo? Além disso, muitos pais acabam decidindo qual equipe seus filhos irão atuar (principalmente quando o atleta possui muita qualidade e diversas propostas) e, atualmente, muitas equipes de renome nacional estão perdendo espaço para novos projetos que contam com alto profissionalismo. Assim, pais mais conscientes buscam o melhor local para o crescimento e aprendizado dos seus respectivos filhos, preocupando-se com os responsáveis pela educação deste e não apenas com o “status” do momento presente.

Universidade do Futebol – O jogo de futebol possui dinâmicas bem particulares em que a todo tempo é necessário que o jogador tome decisões simultâneas, muitas vezes sob a pressão do tempo e do espaço. Como estimular os atletas desde cedo a essa contexto?

Renato Buscariolli – Para estimular que os jovens atletas exerçam desde cedo a tomada de decisão é preciso montar treinos que levem a isso desde o início do processo de formação. Desta forma, de maneira geral, treinos em contexto de jogo cumprem esta função, já que a todo o momento o atleta decide o que fazer na interação com seus companheiros de equipe e adversários.

A manipulação das regras, número de participantes, espaço utilizado, densidade e o estado emocional dos envolvidos levarão a uma maior ou menor pressão de tempo e espaço para a tomada de decisão. A determinação dessas variáveis deverá ir de encontro ao objetivo da sessão de treino que, por sua vez, deverá estar em acordo com um planejamento prévio.

Autonomia do jogador de futebol: das quatro linhas para o mundo

Universidade do Futebol – Em outra produção, você coloca em questão a categoria sub-15 como um dos grandes desafios das categorias de base no futebol. Quais são os principais pontos a se destacar nos jovens dessa faixa etária?

Renato Buscariolli – De acordo com o texto, construído em parceria com o preparador de goleiros, Gustavo Querido, e o treinador, William Sander Figueiredo, elencamos quatro pontos de destaque inerentes à categoria sub-15: influência do processo maturacional; iniciação à sistematização dos treinos; iniciação ao ambiente do futebol de alto nível e o afastamento dos pais e responsáveis.

Assim, de forma sucinta, o primeiro ponto de destaque inerente ao sub-15 diz respeito ao processo maturacional. Como é de conhecimento geral, a faixa etária que se estende dos 13 aos 16 anos (nos meninos) é também conhecida como a “fase do estirão”. É justamente nesta fase do crescimento e desenvolvimento da criança que ocorrem grandes transformações morfológicas que vão desde alterações na voz, crescimento de pêlos, desenvolvimento do pênis e escroto até aumento de massa muscular e ganho de estatura. Ou seja, o corpo destes jovens atletas passa por uma série de transformações que trazem grandes implicações dentro do processo de formação.

Essa fase é transiente e requer paciência e consciência tanto por parte dos atletas como pela comissão técnica responsável para que esta não cometa nenhum equívoco privilegiando atletas com maturação precoce em detrimento dos mais tardios, visto que os últimos podem apresentar maior potencial do que os primeiros.

Sobre o início da sistematização do treinamento, os atletas que chegam ao início da temporada para compor o elenco de um grande clube são em sua maioria atletas que nunca passaram por esse processo, sendo quase sempre meninos que se destacam em suas cidades e em clubes onde disputam competições de nível municipal. Assim sendo, desde os conteúdos técnico-táticos até aos ditos físicos, faz-se necessária uma abordagem pedagógica do treinamento, já que a sistematização deste processo por si só é algo novo para estes atletas.

Dar significado aos treinos assim como a conscientização da importância de cada um deles (desde a necessidade de se trabalhar a perna não-dominante até o papel profilático do trabalho de força dentro da sala de musculação) é específico desta etapa, visto que em categorias maiores tais condutas devem estar incorporadas.

Em relação à iniciação ao ambiente do futebol, esses jovens apresentam algumas dificuldades relacionadas à disciplina, devido à imaturidade, ou mesmo decorrente do não entendimento do modus operandi de um grande clube - desde a divisão de tarefas até as hierarquias presentes nestas instituições. Além disso, é nessa fase que geralmente ocorre a primeira separação dos seus pais, quando necessitam alojar nos clubes e passam a viver longe de casa para lutar pelos seus sonhos.

Esse é um momento delicado que exige bastante carinho e compreensão tanto por parte dos pais, como por parte dos profissionais envolvidos, visto que este processo atinge não apenas no desempenho dentro de campo, como também as demais tarefas diárias, interferindo diretamente em seu futuro.

Sub-15: o maior desafio das categorias de base?

Universidade do Futebol – Em se considerando a integração dos trabalhos físicos e táticos aplicados, nessa perspectiva, como você vê a inserção do preparador físico na comissão técnica daqui a alguns anos? Você acredita que existe chance dessa função perder sua aplicação?

Renato Buscariolli – Não, não vejo nenhuma chance de o preparador físico perder sua função no futuro, até porque dentro da perspectiva da complexidade, todas as partes são trabalhadas simultaneamente. O que eu acredito que irá acontecer (e já está acontecendo) é uma readequação deste profissional à nova realidade que vem se desenhando. Desta forma, com o aumento da utilização do modelo integrado, apenas o conhecimento bioquímico-fisiológico das adaptações orgânicas ao treinamento, bem como a periodização das diversas capacidades físicas, não será suficiente para que esse profissional sobreviva no meio.

Creio que além desse conhecimento, o mesmo deverá entender sobre o jogo de futebol, ou seja, entender seus princípios operacionais, seus meios táticos, as competências essenciais, as nuances entre os diferentes modelos de jogo e plataformas etc., atuando como um “auxiliar técnico-físico”, e não mais como um preparador apenas “físico”. Assim, ele participará ativamente da construção dos treinamentos (quase sempre em contexto de jogo) e será responsável tanto pela modulação biológica das cargas de treino (em conjunto com o fisiologista), como dos aspectos inerentes ao jogo.

Para que esse processo se efetive, faz-se necessário um bom “casamento” entre este profissional e o treinador, caso contrário o trabalho continua fragmentado. Atualmente, venho trabalhando com o técnico William Sander Figueiredo e temos obtido ótimos resultados dentro desta concepção.


Buscariolli não crê em extinção do preparador físico e vê modelo fragmentado sendo substituído aos poucos pelo treinamento integrado

Universidade do Futebol – Qual é a relevância da área acadêmica para o diálogo e para a melhoria da atuação da comissão técnica e das demais áreas em um clube de futebol?

Renato Buscariolli – O conhecimento sempre é benvindo, e no futebol não é diferente. Impulsionado pela Dra. Denise Vaz de Macedo, que oficialmente coordena o Labex desde 1997 e desde então vem levando ciência para o futebol, e pelo Prof. Dr. Alcides Scaglia, acredito que a área acadêmica pode ter um papel fundamental no desenvolvimento de um clube.

Em minha opinião, a maior contribuição que a área acadêmica pode levar aos clubes é a implantação de uma filosofia, ou seja, a filosofia que rege a ciência. Tal filosofia baseia-se na dúvida - “A dúvida é a escola da verdade”, dizia Francis Bacon - e é justamente a dúvida, ou melhor, a tentativa de saná-la e buscar sempre o melhor caminho, que faz com que haja evolução de conhecimento.

Assim, penso que se um clube direcionar-se através da busca pelo melhor caminho, a abertura a novas propostas, bem como o diálogo entre a comissão técnica e as demais áreas no futebol, tudo será facilitado. Alguns clubes apresentam tal perfil e estão colhendo bons frutos. Todavia, de maneira geral, a interação entre o meio acadêmico e o futebol nem sempre é frutífera.

De qualquer forma, acredito que profissionais que conseguem dialogar nesses dois ambientes (o meio acadêmico e o campo), possuem um papel fundamental na aproximação entre a teoria e a prática e é justamente este um dos motores que me movem nesta profissão tão fascinante.

*Para interagir com o entrevistado: buscariolli80@hotmail.com

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