Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, novembro 28, 2012

Negócios colaborativos: você está preparado?

"Uma pá de cal sobre as teorias estratégicas que apontam para competição como foco estratégico e lucros como único objetivo relevante."

Por Flávio Ferrari

O recente pedido de falência do Monitor Group, empresa de consultoria do guru da competitividade, Michael Porter, deixa claro que os modelos estratégicos tradicionais já não dão conta do novo mundo.

O modelo das 5 forças de Porter é baseado nas ameaças competitivas:

  1. Rivalidade dos concorrentes
  2. Poder de barganha dos clientes
  3. Poder de barganha dos fornecedores
  4. Produtos substitutos
  5. Novos competidores

Porter recomenda que a estratégia das empresas seja construída a partir da avaliação dessas forças, com base numa análise SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças).

Não podemos ignorar a importância da avaliação do cenário competitivo.

Mas o que Porter e muitos outros consultores tradicionais propõem é a incansável busca da lucratividade através de uma estratégia baseada na antecipação de ameaças e na construção de uma posição de força.

colaboração
(imagem: Shutterstock)

 

A história demonstra que grandes impérios foram construídos dessa forma.

E essa mesma história comprova que todo grande império é cercado de inimigos que tramam sua destruição. Conquistadores são temidos, mas também temem: é o circuito do medo.

Nosso mundo vem evoluindo para um novo patamar de consciência. Essa é uma afirmação vaga e de difícil comprovação, mas que tem o valor de instigar o livre pensar.

Alguns indicadores dessa transformação são concretos e sensíveis, particularmente para os temas relacionados com direitos humanos, preservação do planeta e cidadania.

Outros são mais abstratos e revelados através de atitudes coletivas como o crescente repúdio a autoridades externas (principalmente as institucionais), o desejo de protagonizar e a ênfase no desenvolvimento pessoal.

Presenciamos a valorização do indivíduo e o reconhecimento da interdependência como caminho para uma vida melhor.

As implicações dessa nova consciência para os negócios não são poucas e nem triviais.

Uma das mais importantes, e que "explica" a falência do modelo de Porter, é a relevância da "inclusão". Não aceitamos ser excluídos com a mesma resignação de antes.

Essa atitude algo "rebelde" oferece a interessante oportunidade de revisão do caminho estratégico indicado por Porter, onde "competir" dá lugar a "colaborar".

As forças ameaçadoras, se "incluídas", podem adquirir o status de forças construtoras do negócio.

Pedi a um psicanalista, certa feita, que definisse o amor. Sua resposta foi "amor é o legítimo interesse pela felicidade do outro".

Falar de "amor" no contexto de negócios pode parecer tão estranho como falar de "medo".

Então vamos parafrasear a definição do psicanalista e ater-nos ao conceito: "o legítimo interesse pela satisfação do outro".

Esse é o conceito fundamental para os negócios no contexto da nova consciência social, capaz de construir novos "impérios" que serão sustentáveis porque serão "inclusivos", ou seja, terão como missão a satisfação (negociada) das partes interessadas.

Colaboração requer confiança e implica em compartilhamento de decisões e disposição para negociar.

Quem não estiver preparado para isso irá continuar consumindo seus recursos para construir muralhas e tentar impedir que os inimigos as derrubem.

Plataforma para desenvolvimento social e parcerias inovadoras

FIFA - Plataforma

 

FIFA - Football for Hope - como particpar

segunda-feira, novembro 26, 2012

10 Razões para Guardiola na Seleção Brasileira

Pluri Consultoria / Fernando Ferreira

Logo após a saída de Mano Menezes, o diário Lance! trouxe a informação
de que Pep Guardiola estaria disposto a assumir o posto de Técnico da
Seleção Brasileira, caso houvesse o convite da CBF. 

Há riscos importantes para ambos os lados numa decisão dessas, como o
pouco prazo até a Copa e a impossibilidade de um trabalho intensivo, já que a
Seleção se reúne esporadicamente. Mas esses problemas acompanharão
qualquer um que venha a ser o técnico escolhido, independente de sua
nacionalidade, e são fruto do erro inicial de substituir (ou demorar a
substituir) o técnico Mano Menezes. A grande questão aqui é a velha
adaptação cultural, já que há um abismo entre a maneira como vemos e
trabalhamos o futebol no Brasil, comparado com a Europa, e nesse
caso quem corre mais riscos é Guardiola, e não a CBF.

Porém, à despeito do risco de adaptação, há argumentos favoráveis de
sobra que justificam a contratação de Guardiola, e vão além da Seleção
Brasileira em si, representam uma oportunidade para o Futebol Brasileiro
como um todo:
 
o Futebol melhor. Estamos em pleno “apagão tático”, não surge nada de
novo por aqui há anos. Com Guardiola aumentam as chances (não é
nenhuma garantia de sucesso) de resgatar uma forma  de jogar que
combine eficiência e qualidade;

o Abalar estruturas. Há anos estamos acomodados com a forma como o
futebol vem sendo praticado (dentro e fora de campo) por aqui, com
nítida redução de qualidade e interesse por parte dos torcedores. A vinda
de Guardiola contribui para dar um choque na inércia. Certamente não é
a solução, mas um bom começo.

o Visibilidade e interesse. Guardiola é tido como o maior técnico do
Mundo e todos acompanham seus movimentos. Sua vinda aumentará a
atenção não apenas para a Seleção, mas para o Futebol praticado no
Brasil, que é pouco conhecido e desperta interesse  quase nulo no
exterior;

o Inserção internacional. Somos como uma ilha, estamos longe do resto
do Mundo tanto em aprimoramento do futebol (em campo e fora dele),
quanto em conhecimento do que acontece nos principais mercados. Esse
distanciamento contribui para sermos vistos como um mercado de
qualidade inferior, gerando pouco interesse dos torcedores estrangeiros e
reduzindo as oportunidades comerciais para nossos clubes;

o Abrir mercado para os técnicos estrangeiros no Brasil. Os clubes
Brasileiros pagam salários cada vez mais próximos aos Europeus, mas
poucos técnicos estrangeiros atuam por aqui, mantendo nosso isolamento
e perpetuando o “apagão tático”;

o Abrir mercado para os técnicos Brasileiros no Exterior.  Com maior
visibilidade e interesse internacional, aumentam as chances de termos
mais técnicos Brasileiros dirigindo clubes Europeus, e não asiáticos e do
Oriente Médio; 

o Aumentaria o interesse de jogadores estrangeiros por atuar no
Brasil.
Pagamos salários altíssimos no Brasil, cada vez pais próximos dos
mercados internacionais, mas jogadores estrangeiros no auge de suas
carreiras ainda não veem o Brasil como um mercado potencial de
atuação. Estamos começando a ser observados apenas pelos veteranos,
quando já não tem mais o mesmo mercado na Europa, ou quando tem
algum laço de identificação com o Brasil, como os casos de Seedorf e
Forlán;

o Qualificação. O mesmo aumento da oferta leva a uma maior
concorrência entre os profissionais, aumentando a qualidade do produto
final. Também significa introduzir mudanças de enfoque na forma como o
futebol brasileiro vem sendo jogado;

o Redução de custos. Com o crescente aumento de salários de técnicos e
jogadores praticados por nossos clubes, a redução da barreira cultural
(que só vem com maior integração) gera maior oferta de jogadores e
técnicos, com possibilidade de redução de custos para os clubes;

o Copa 2014. Temos talento e eficiência, com Guardiola aumentariam as
chances de o Brasil ser campeão do Mundo.

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quarta-feira, novembro 21, 2012

Dez anos, tempo para muita coisa

Futebol brasileiro sofre de soberba da autossuficiência. Se não soubermos aprender, não saberemos ensinar
Rodrigo Barp / Universidade do Futebol

 

O Partido Comunista, na China, escolheu e empossou seus novos líderes do país para os próximos 10 anos.

Isso mesmo. Na próxima década, o Grande Dragão terá os mesmos comandantes como responsáveis pelos rumos estratégicos nacionais.

São sete pessoas que compõem o Comitê Central, mas o grande protagonista é o chamado Secretário-Geral.

Em 10 anos, acontece muita coisa. Boa e ruim.

Em 10 anos, a estabilidade dentro de uma instituição pode servir para acomodar e escamotear práticas desastradas de gestão. Ou elevá-la a um patamar de crescimento e evolução.

Podemos mencionar alguns dos exemplos.

O SC Internacional dos últimos 10 anos.

Escapou do rebaixamento, num dramático jogo contra o Paysandu, na última rodada do Campeonato Brasileiro.

No meio desse período, foi bicampeão da Libertadores, campeão mundial e duas vezes vice-campeão nacional. Construiu um ciclo virtuoso.

O Palmeiras foi rebaixado em 2002. Perambulou pelo meio das tabelas das competições que disputou e, agora, está matematicamente rebaixado novamente. Não conseguiu se organizar como poderia e deveria.

Um caso interessante é o futsal. Não no Brasil, mas na Espanha.

Quando fui lá jogar, em 1995, no Deportivo La Coruña, com breve período no Egasa Coruña Futsal, o futsal já dava mostras de grande organização interna, contando também com jogadores brasileiros nas principais equipes profissionais.

Porém, ainda não havia grande protagonismo internacional e quase nenhum brasileiro naturalizado, bem como nenhuma conquista importante dos clubes.

Por outro lado, percebi, nitidamente, que a sede de aprender com o Brasil, berço do futsal mundial, era cada vez maior.

Abriram-se a portas, nos anos seguintes, ao intercâmbio técnico com nosso país.

Os resultados começaram a ser medidos de forma bastante objetiva.

Antes de ser derrotada pelo Brasil, neste domingo, na Copa do Mundo de Futsal, a seleção espanhola – que conta com dois brasileiros naturalizados – não perdia havia sete anos.

Ou, em 120 jogos, 107 vitórias e 12 empates...

E, dos 24 técnicos deste Mundial, cinco eram oriundos da Academia de Formação de Treinadores da Espanha.

O futsal espanhol foi pra escola em 10 anos. E, há 10 anos, vem fazendo escola.

Em 15 anos, foi cinco vezes campeão da Uefa. Bicampeão mundial e três vezes vice-campeão.

Deng Xiaoping, famoso líder chinês do século XX, profetizava: “Quando os nossos milhares de estudantes no estrangeiro voltarem para casa, vocês verão como a China irá se transformar”.

Hoje em dia, são 1,6 milhão de chineses estudando fora do país. Aprendendo com novas técnicas, culturas, processos, instituições.

Provavelmente, para depois ensinar bastante.

O futebol brasileiro sofre também de uma grave crise: a soberba da autossuficiência.

Se não soubermos aprender e promover intercâmbio de conhecimento, não saberemos ensinar.

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Os Detalhes são essenciais à função do treinador

O técnico deve ser o responsável em observar tudo. Ele trabalhará os detalhes específicos da profissão, porém precisa também conhecer as necessidades essenciais que serão trabalhadas por outros
João Guilherme Cren Chiminazzo* / Universidade do Futebol

“... detalhe que faz a diferença...”

Alguém já parou pra pensar o que são os detalhes? Os detalhes da vida, os detalhes de um carro, de uma casa, de uma pessoa... Será que são só detalhes? Ou será que fazem toda a diferença? Muitas vezes, para alguns, são coisas imperceptíveis, mas para outras pessoas são esses detalhes que fazem a diferença. Fazem uma casa custar mais caro, um carro ter um valor maior, uma pessoa ser mais atraente... Enfim, são os detalhes que fazem a diferença na nossa vida.

Muitos estão falando dos detalhes que fazem a diferença no esporte de alto nível. Ainda mais em época de Jogos Olímpicos, é comum ouvir que o atleta “perdeu por detalhes”, ou ainda, “que o detalhe fez a diferença”. Atletas de alto nível sempre buscam se aperfeiçoar nos detalhes e acreditam piamente que esses detalhes farão toda a diferença. Estão certos!

No mundo dos esportes, nada pode faltar. Um atleta que tem toda a estrutura necessária para dar conta do seu alto nível de competitividade é considerado um atleta 100%. Já um atleta que tem quase tudo, faltando, por exemplo, uma nutricionista para assessorá-lo no aspecto nutricional, é considerado um atleta 99%. Se estes dois atletas competirem entre si, é bem provável que o primeiro vença, pois é um atleta mais completo do que o segundo. Eu disse: “bem provável”. Claro que muitas variáveis poderão intervir na performance destes atletas. 

Mas se pensarmos em todas elas, com certeza, as chances do primeiro atleta errar serão menores e, com isso, o seu desempenho não corre o risco de ser prejudicado.

Uma das qualidades de um técnico esportivo é saber observar esses detalhes e aguçá-los, desenvolvê-los em prol do atleta, seja no sentido de minimizar os erros como também no sentido de maximizar os pontos fortes. Por isso, cabe lembrar: ser técnico é totalmente diferente de ter sido somente atleta. Ser técnico exige um conhecimento específico que será desenvolvido de acordo com a área de conhecimento responsável: a Educação Física!

O técnico deve ser o responsável em observar os detalhes que farão a diferença. Ele trabalhará pontualmente os detalhes específicos da sua profissão, porém precisa também conhecer as necessidades essenciais que serão trabalhadas por outros profissionais.

Mas um atleta não se faz somente de componentes técnicos. Alguém se lembra da imagem de um carro de Fórmula 1 durante um “pit stop”? Existem várias pessoas que cercam o carro na sua chegada e possuem poucos segundos para trocarem pneus, abastecer, entre outras coisas. Podemos imaginar um atleta como um carro de Fórmula 1. Existem diversos profissionais que devem atuar em função única e exclusivamente do atleta.

Hoje em dia, falamos de diversas áreas do conhecimento que devem compor uma comissão técnica de um atleta ou equipe esportiva. E todos os trabalhos, as ações, devem ser em função deste atleta ou desta equipe. É inconcebível, hoje em dia, com o avanço da tecnologia e da ciência, que um atleta queira disputar um alto nível de uma determinada modalidade esportiva sem ter um suporte no aspecto técnico, médico, estatístico, fisiológico, na preparação física, nutricional, fisioterápica, psicológica, no plano administrativo e operacional. E olha que enumerei o que seria essencial! A lista poderia ir longe. E todos, cada um na sua área, estariam trabalhando em função do atleta ou da equipe, fazendo com que o seu desempenho seja melhorado a cada sessão de treino.

Para encerrar, reforço a necessidade que nossos atletas têm de melhorar as condições de treinamento para que possam ter seus resultados superados. Não que isso deva ser feito nesta temporada de Jogos Olímpicos! Este é um investimento que deve ser feito desde cedo, de maneira planejada. Assim, aquele discurso de que o atleta “perdeu por detalhes”, ou ainda, que “o detalhe fez a diferença”, ganharia outra entonação. O discurso não seria reproduzido de forma incontrolada e a culpa não cairia mais nos “detalhes” de maneira descompromissada.

O problema está em “acusar” os detalhes deste modo descompromissado, como se o vilão, o responsável pela derrota, fosse algo desprezível: apenas detalhes! Não! Estes elementos são cruciais e devem ser trabalhados ao longo dos anos, dos meses, das semanas, dos dias, dos treinos... Pensem nisso e parem de culpar os “detalhes” num sentido torpe!

*João Guilherme Cren Chiminazzo é Mestre em Ciência do Treinamento – Unicamp, Docente Metrocamp e Unipinhal e Assessor e Consultor Esportivo – INC

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O Corinthians e a Caixa

Na atual conjuntura do mercado de patrocínio no país, o patrocínio não só se justifica como se transforma num grande trunfo para a empresa na disputa com a concorrência
Erich Beting* / Universidade do Futebol

Neste instante em que escrevo o post está programado o início da entrevista coletiva de imprensa em que será anunciado o patrocínio da Caixa ao Corinthians até 2014.

O ponto chave do negócio não é a grana envolvida, nem se há ou não interferência do ex-presidente Lula na concretização do acordo. Essas são duas relações ralas para tentar compreender o negócio. Na verdade, é preciso analisar toda a conjuntura do mercado de patrocínio esportivo, no Brasil e no mundo, para chegar-se a uma conclusão um tanto quanto óbvia.

É extremamente pertinente e coerente a realização do patrocínio da Caixa para o Corinthians.

O primeiro motivo é mercadológico. A Caixa está, hoje, entre os cinco maiores bancos do Brasil. Seus concorrentes diretos estão, todos, posicionados de forma estratégica no mercado de patrocínio esportivo. O Itaú lidera as ações com seleção brasileira e Copa do Mundo de 2014; o Bradesco vem a seguir com o patrocínio às Olimpíadas-2016 e outras seis confederações; o Santander fincou o pé no futebol com a Libertadores e Neymar; e o Banco do Brasil tem a força do vôlei e outros esportes de bom posicionamento estratégico como tênis e automobilismo.

Até o anúncio do acordo com o Corinthians, a Caixa estava com o atletismo e o Comitê Paraolímpico Brasileiro. Propriedades interessantes, mas que estão longe de serem estratégicas como a dos concorrentes. Além disso, desde meados deste ano o banco já começava a entrar na propriedade que ainda está disponível no futebol, que é o patrocínio a clubes. Avaí, Figueirense e Atlético-PR possuem a marca da instituição financeira em suas camisas. Sendo assim, o patrocínio ao clube que hoje é o mais midiático do país tem um apelo gigantesco para a Caixa e é uma forma direta de ela se posicionar contra seus principais concorrentes.

Afinal, a partir do momento em que a Caixa ou qualquer outra empresa pública não tem regalia de marcado por ser do governo, ela tem de fazer uso das ferramentas de comunicação da mesma forma que seus concorrentes da iniciativa privada. Nesse caso, reclamar da injeção de dinheiro público em instituição privada é de uma tremenda burrice. Ou, então, é fazer com que o esporte pague uma conta que não lhe pertence.

As empresas públicas fazem uso recorrente da publicidade para comunicar suas ações e conquistar clientes. Por que então não é errado elas pagarem para fazer propaganda em veículos de mídia? Da mesma forma que a Caixa anuncia nos canais de TV que lhe interessa, ela pode colocar dinheiro apenas nos clubes que são mais vantajosos na estratégia de comunicação dela.

Aí entra a questão de conjuntura do patrocínio esportivo pelo mundo. Nós temos aqui no Brasil um comportamento absolutamente radical em relação à participação da iniciativa pública no esporte. Algo que, mundialmente, não acontece. Como já disse em outra oportunidade aqui no blog, geralmente os gestores esportivos no exterior fazem chantagem com a esfera pública para conseguir regalias e/ou incentivos. Nos EUA, diversos estádios e arenas privadas são construídos com dinheiro do governo. A diferença, lá, é que o esporte prova, com números, que haverá geração de empregos e impostos para retornar o investimento feito.

Por aqui, sem a capacitação do gestor esportivo, confundimos investimento público no esporte com troca de favores. A Caixa patrocinar o Corinthians é vista como uma ação que compete exclusivamente a Lula, como se todos os demais envolvidos nessa história fossem pessoas sem qualquer capacidade de negociação e análise de mercado. Se não houvesse qualquer motivo para que a Caixa investisse no futebol e, especificamente, no Corinthians, aí sim poderíamos creditar a Lula qualquer ingerência. Mas, na atual conjuntura do mercado de patrocínio no país, o patrocínio não só se justifica como se transforma num grande trunfo para a empresa na disputa com a concorrência.

Aí sim entramos em outra questão, que é o valor do acordo. A Caixa pagará R$ 1 milhão para ter a marca exposta nos dois jogos do Mundial de Clubes, outros R$ 30 milhões para 2013 e renovação automática para 2014 com o valor pago corrigido pelo índice IPCA. Com isso chegamos a duas conclusões: a primeira, de que realmente o negócio foi técnico, já que o montante pago está dentro de uma realidade de mercado. A segunda, de que as próprias empresas colocaram um freio na gastança sem sentido dentro do futebol. Dificilmente o valor do Corinthians, que será o topo entre os clubes do Brasil, ultrapassará os 30 milhões.

Com esse valor, a Caixa consegue, também, pagar menos para ter a maior exposição entre seus concorrentes. Como estará na camisa do clube durante todo o ano, a empresa terá exposição permanente sua marca na mídia. Todos os seus rivais gastam mais do que isso no ano para terem menor presença na mídia. O que, também, explica a lógica do negócio. Afinal, qual outra propriedade estava livre para investimento com um retorno tão alto?

*Erich Beting passou pela Folha de S.Paulo, foi repórter especial do diário Lance!, criou em 2005 a Máquina do Esporte, veículo pioneiro na cobertura dos negócios do esporte no Brasil e atua como comentarista do canal BandSports. Além disso,  é consultor editorial da Universidade do Futebol. A coluna foi originalmente publicada no blog do autor, no portal UOL.

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Futebol: a encruzilhada de jogar ou pensar?

Os jogadores têm sido educados para convencerem-se de que ganhar um campeonato é a única forma de resolver todos os seus problemas. Vencer não significa ser o melhor
Marcelo Ducart / Universidade do Futebol

"Um sistema para existir tem a necessidade de se criar vítimas" (Enrique Dussel)

A condição humana é uma trama que se discorre entre as tensões do prazer e do dever. A encruzilhada atual plantada entre o jogar e o pensar vai desenhando a paisagem subjetiva da motricidade desportiva.

Quando se planta a dita luta dialética entre a sensibilidade hedônica e a racionalidade instrumental, não podemos esquecer certamente das contribuições das dezenas de pensadores que abordaram de forma extensa a temática, especialmente desde a Filosofia¹.

Ao começar este caminho hermenêutico, aponto que a relação intrínseca existente entre a evolução da linguagem, as formas que se adquire a racionalidade na história (Cfr. Popper e Eccles, 1980; San Martin, 1997) associada estreitamente com a evolução da motricidade humana. Cada pequena mudança na posição ou movimento do nosso corpo, não só traz consigo toda uma semiótica não verbal, como que também contribui pouco a pouco com as estruturas anatômicas responsáveis pelo surgimento da fala e da inteligência, possibilitando o seu desenvolvimento.

Embora tenha se insistido muito que o movimento corporal é um pensamento de ato feito (García, 1991), o casamento entre movimento e pensamento nem sempre gozou de boa convivência.

As repetições rotineiras silenciosas de padrões de movimento, jogadas pré-fabricadas e outras estratégias pedagógicas usadas sem medida para causar reativamente a automação motriz, não deixam dúvidas a respeito. E, neste sentido, não significa descartar a importância do legado de Ivan Pavlov, mas a sua absolutização hierárquica.

Na mecanização da resposta a partir da quantificação do estímulo, o objetivo é não pensar, mas liberar o pensamento para atuar na base de um catálogo pré-definido de condutas tipificadas em busca de uma maior eficiência motriz.

De fato, o que tem gerado o futebol e o esporte em geral, tornou-se para muitos, em um equipamento não crítico que deixa muito pouco espaço para a criatividade e originalidade do jogo.

Neste sentido, poderia se postular a hipótese paradoxal da relação inversamente proporcional entre a criação do jogo e sua sistematização racional. Parece que a medida que se deixa o jogo aberto a sua singularidade, espontaneidade e imprevisibilidade, decai a possibilidade de análise preditiva. E, ao contrário, à medida que se avança na sistematização das estruturas táticas e técnicas, a originalidade perde sua capacidade de inovação.

No entanto, entendo que muitas equipes, treinadores e dirigentes esportivos não compreendem o paradoxo. A visibilidade não é somente distorcida pelo medo de perder a legitimidade em seus cargos, mas especialmente por não estar à altura de comunicar a sensação de segurança e domínio das variáveis preditivas a partir de discursos dogmáticos focados na estatística.

O sistema futebolístico atual tem a necessidade de comunicar uma certeza que vai além dos resultados aletaórios do azar. São muitas as pessoas que apostam em não perder seus lucros em busca de uma quimera lúdica. Os verdadeiros donos dos jogadores citados, treinadores e clubes, investem demasiadamente dinheiro para deixá-lo à mercê da imprevisibilidade do jogo. Necessitam algo mais do que bons prognósticos. Precisam de explicações baseadas em certezas lógicas, argumentos coerentes que dão conta de uma causalidade determinista que levem confiança a seus investidores.

Mas, os jogadores e os resultados de uma partida não se ajustam necessariamente às regras financeiras nem aos algoritmos da especulação do mercado de capitais. Isso resulta que, à medida que um sistema se torna bem sucedido, começa inevitavelmente o seu próprio fracasso. Como disse Sartre, o sucesso marca o início do falta de liberdade.

Entre a expansão racional e a implosão de criatividade

Nem sempre a inteligência de um sujeito vem acompanhada de criatividade e volume de jogo. A criatividade não está condicionada ao talento especial inato dos gênios ou ao exercício de técnicas e procedimentos de estimulação de pensamento divergente. Não está tanto na espetacularidade ou novidade de algo nem na mera produtividade de novas modas. Em tudo isso, podemos facilmente confundir o novo com o velho, o original com o bizarro, a criatividade com o esnobismo.

A criatividade deve localizar melhor a auto-expressão da liberdade. Aparece como fonte e origem em vez de como um produto de ações humanas. É uma atitude interior, mais do que uma produção material.

Uma atitude que certamente decai ante a especialização rotineira do jogo, convertendo em mero exercício tático. Quando observo alguns jogadores em campo, imagino suas mentes como minha caixa de emails. Eles parecem uma caixa de correios quando não se abre durante vários dias. Há tantos dados acumulados e sem processar que se produz uma espécie de bloqueio por excesso de informação. Isso mesmo passa em uma partida quando os jogadores não podem liberar-se das cargas de informações que pesam sobre suas decisões nem eleger as melhores respostas perante os problemas que se planta no jogo.

Um estado de overdose de informação e de excitação que fazem "verificar" a busca precisamente no momento de maior requerimento de energia. O stress excessivo produzido por essa superestimulação gera uma menor atenção inclusive pela confusão neuromotora, não lhe permitindo a psique metabolizar em tempo real os dados de percepção. E a pressão pela eficiência do jogo, entendida em termos de eficácia racional ou ajuste a um modelo pré-determinado, faz que a estrutura tática do jogo se desmotive.

Tanto o excesso quanto a carência impossibilitam a criação de sentido, reduzindo aspectos imaginativos e padronizando a fantasia, tanto subjetiva como coletiva. Nestes casos, um tem a sensação de que não basta gritar, ser autoritário ou ameaçar o jogador que não está à altura do sistema escolhido. A solução parece ser mais completa. O que faz falta é criar estrutura, situações que permitam aos jogadores aprender a fazer aquilo que não fazem durante os treinos, ou seja, concentrar-se no "desejo de aprender a aprender".

No entanto, para poder gerar quadros positivos de estimulação criativa, temos de ter resolvido o problema do tempo. Sim, o grande problema hoje em dia é a temporalidade. Estamos na sociedade do imediato, a sociedade do "eu quero tudo de uma vez e agora". Parece um progresso relacionado a toda uma série de coisas antigas, mas é também a origem de dificuldades que têm como primeira causa o imediatismo, um fato que não favorece a reflexão, a elaboração de um pensamento complexo, nem tampouco o desejo lúdico e a criatividade do jogo.

Sempre será necessário voltar a descobrir que, às vezes, o tempo e a cadência das experiências constituem uma maior necessidade que a racionalidade com que se dizem as coisas. Um bom treinador deve ser capaz de articular a exigência temporal com o sentimento de orgulho coletivo e pessoal. Porém, para que cada um dê o melhor de si mesmo e possa estar orgulhoso do que dá, necessita-se de uma exigência constante que não supere os ritmos temporais de aprendizado.

Muitas vezes, os jogadores com dificuldades são aqueles que nunca se sentem orgulhosos de seus jogos. Diz-se que um jogador fracassa porque não está motivado. Mas, talvez, seja o contrário. Os jogadores não estão motivados porque fracassam em seu sentimento de pertencer ao jogo. Quando um jogador está orgulhoso com o que tem feito, quando se consegue um pretexto para fazê-lo se sentir orgulhoso, então ele se sente motivado. A humilhação desmotiva, enquanto o orgulho motiva. Se formos capazes de fazer os alunos se sentirem orgulhosos, estarão motivados e toda motivação se converte no impulso privilegiado para estimular respostas criativas ante os problemas sem saída.

Em muitas partidas, observa-se a fisionomia dos jogadores que carregam suas mochilas de jogo como reféns de seu passado recente. Eles têm sido educados para convencerem-se de que ganhar um torneio é a única forma de resolver os problemas.

Vencer não significa ser melhor, como também ser eliminado nas quartas de final não significa ser o pior. Isso significa que se pode resolver antes que o adversário; o enigma colocado pelo jogo. E o enigma não tem a ver somente com um problema de configuração com o desenho tático, nem com desempenho, nem com condições psicomotoras individuais, mas também com o modo de liberar as energias criativas no momento e espaço indicado. Vimos um exemplo disto na Copa América 2011, disputado na Argentina, onde nem Mano Menezes nem Sergio Batista puderam liberar-se das encruzilhadas que plantaram nesses sistemas fechados de jogo.

É necessário voltar a promover ainda mais o esporte de alto nível, o jogo. Sim, assim como se sonha. Neste momento, não somente jogam autenticamente as crianças nem tampouco jogam os adultos. O nível de exigência é tal que impõe a situação atual, que há pouca capacidade e tempo para criar e, paradoxalmente, a única perspectiva que se vê para o futuro é a de produzir indivíduos com mentes criativas. Impõe-se sobre os jogadores uma extraordinária carga de conhecimentos, tecnologias científicas colocadas a serviço do esporte, porque, na realidade, tem-se medo de não estar à altura das expectativas sociais dos patrocinadores ou da opinião pública.

No entanto, os conhecimentos mudam com tal velocidade que o único que se pode fazer é produzir indivíduos capazes de aprender e não capazes de repetir jogadas ou posições em campo. No futebol, você tem de reinventar o jogo, apesar de parecer uma contradição, porque a essência da nossa história do futebol, aquilo que nos diferencia da máquina rotineira moderna, aquilo que permite um mestre de xadrez superar um computador mais rápido, é sua capacidade de excentricidade, de inovação, de imprevisibilidade, da leitura rápida do adversário, e em definitivo, a criatividade.

No futebol, como na vida cotidiana, não importa tanto o que os outros fazem conosco, e sim o que nós podemos produzir com o que fazem os outros de nós. E, neste sentido, obtêm-se melhores resultados aquelas equipes que conseguem desarticular primeiro o enigma desde ao qual se articula coletivamente o núcleo tático do adversário a partir de como se gera a criatividade de jogo.

E na vida corriqueira vêm, primeiramente, os problemas e depois as intenções de solução. Um feito que nem sempre se observa no sequenciamento esportivo nem pedagógico. Em muitos treinos táticos, altera-se e inverte-se o processo pedagógico, apresentando primeiro as respostas aos problemas do jogo. É preciso aceitar o desafio de tropeçar e cair. Porque o erro é o melhor motor do aprendizado. Saber não é somente acumular a fórmula de conhecimentos de possíveis situações, mas poder resolver os problemas que surgem em um tempo exíguo e por determinadas pressões contextuais.

Para avançar no conhecimento, há de ser capaz de converter os dados do jogo em problemas de jogo. Quando não se é capaz de problematizar o jogo, não há problemas que resolver e, portanto, não há a necessidade de modificar os esquemas de pensamento. A qualidade para se criar novos problemas e questões que coloquem em crise as respostas tradicionais é decisiva a hora de estimular criativamente soluções inovadoras.

Sentido da crise e do jogo democrático

A crise do futebol é apenas uma peça a mais da crise cultural e do conhecimento global. É a crise do paradigma de conhecimento centrado no dogma da simplicidade das respostas a outro mais propenso a incorporar a complexidade. Colocar em crise os fundamentos do esporte é uma aposta epistemológica muito interessante de intervenção (Fensterseifer, 2001). Porque o bom da crise é que, ao problematizar os sentidos dominantes desde os quais se legitima a atividade, aflora a certeza de que os estados de convulsão revolucionariam ir de mãos dadas com os períodos democráticos.

Se assim for, a crise do futebol, a crise dos sistemas táticos do jogo, a crise dos grandes times, que perdem referencialidade histórica, faria não somente questões esportivas ou antropológicas, mas especialmente as éticas e políticas. Porque nunca há crises nas sociedades totalitárias. A crise é o contrário do vazio que colocamos no coração da mesma sociedade. A democracia afirma que o lugar do poder está intrinsecamente vazio, nada em si está habilitado a ocupar esse lugar de poder, nem o intelectual, nem o homem providencial: o lugar do poder está vazio e deve permanecer assim, somente pode ser ocupado "provisoriamente" por homens que aceitem ser os mandantes daqueles que confiam temporariamente no dito poder. É como aceitar viver o preço da incerteza democrática.

Desde quando as razões esportivas começam a ativar as molas democráticas na tomada de decisões, se começa a perceber ao mesmo tempo, que não há poderes absolutos em si mesmo e que são os homens que querem assumir o dito poder. Então, não se pode impor uma direção única, uma trajetória que seja a mesma para todos, em todos os lugares e em diferentes tempos históricos.

Em contrapartida, a ditadura da mídia, sustentada pelo poder absoluto do mercado, exacerba a infantilidade nos mecanismos da tomada de decisão. A publicidade em todos os seus níveis reduz ao indivíduo a condição de mero consumidor, que é aquele que está em estado de regressão infantil como próprio ritual de lucro. Porque na sociedade de consumo, o motor da economia é o escoramento virtual do capricho. Ou como expressam alguns psicanalistas, o impulso da compra. A tensão se expande à medida que a cultura diz a cada ser humano: "seus desejos são uma ordem". E em outros cenários, o educador terá de lembrar dos limites de seu narcisismo.

Além dos imperativos categóricos, o esporte como jogo democrático, inaugura um espaço privilegiado para aprender a superar os caprichos pessoais. O combustível social não pode ser sempre o impulso imediato da satisfação onipotente de todos os nossos desejos. Já que o desejo nem sempre faz a lei nem coincide com ela. É difícil e doloroso sair da onipotência, sobretudo, quando se vive em um mundo de aparências que nos convida a ela todo o tempo.

Se entendermos com Hannah Arendt, que o ser humano é um "ser para o nascimento", um começo permanente e contínuo para superar a nostalgia de uma felicidade solitária e pré-natal, tenderemos a admitir que os duelos da satisfação egoísta de todos os nossos desejos e instintos não terminam nunca; e neste ponto nascemos e renascemos a cada momento até o momento final, que é a de nossa morte.

O nascimento no jogo, que poderia muito bem ser a descoberta de um papel reconhecido coletivamente em uma equipe, na realidade, é o surgimento de um sujeito capaz de dotar-se de projetos e, portanto, projetar-se no futuro de fazer escolhas, de tomar decisões, de deixar de lado e darem-se prioridades; e a prioridade, é claro, é sair daquilo que os psicólogos chamam de egocentrismo inicial, o do "rei criança".

Amadurecer no jogo é aceitar que o mundo existe fora de nós, que somos onipotentes, que o mundo nos oferece resistência e que não depende da nossa própria vontade, que devemos renunciar a interpretá-lo totalmente desde nossos parâmetros reduzidos e saber ter o tempo para examinar as consequências dos atos. Isto é um aprendizado muito difícil para todo jogador e treinador esportivo; a aprendizagem de alteridade. A aprendizagem do rosto do outro, como disse Emmanuel Lévinas, aparece em forma progressiva, como uma interpelação obrigatória e misteriosa porque jamais se sabe quem é o outro e sua consciência se escapa radicalmente.

Formar um jogador democraticamente é ajudá-lo a atenuar seu narcisismo, para refletir sobre o que poderia ser o bem comum e o interesse coletivo da equipe. E, nesta direção, Rivero (2009) traz ao jogo como uma ação coletiva de superação individualista. Tendo em conta tudo o que foi dito, a formação esportiva tem a ver não somente com o técnico, a metodologia ou outros aspectos da competência. Mas, também com a ética e a política. A política é fazer nascer a sociedade democrática dentro de uma equipe.

Uma equipe de futebol não é uma comunidade. Em uma comunidade, vivemos juntos porque compartilhamos o mesmo passado, os mesmos gostos, as mesmas escolhas. Uma sociedade desportiva é um conjunto de comunidades que aceita que existem leis que transcendam a sua pertinência comunitária, sua temporalidade e espacialidade de seus interesses.

Para se concluir. Obstáculos que tornam-se oportunidades

"Para o que a lagarta chama de fim do mundo, o resto do mundo chama de borboleta" (Bach)

Devemos voltar a reintroduzir o jogo criativo, mas além da racionalidade técnica dominante e das rachaduras agonísticas atuais. A situação é que os acontecimentos recentes do espetáculo desportivo atual foram engolindo uma enorme quantidade de inteligência lúdica dispersada que, neste momento, não encontra um canal para repensar a situação. É como a queda das utopias fortes dentro do futebol tivesse deixado muitos intelectuais do esporte desprovidos da capacidade para pensar novas opções, superando um mundo complexo.

Tanto um treinador quanto um jogador, ou até um dirigente, devem saber que, apesar de os resultados terem se configurado como a única realidade, na verdade, são uma realidade entre outras tantas possíveis. Lembrar a realidade é descobrir que "não há memória sem conflito", é dizer que, a cada memória desportiva ativada, há outras reprimidas, desativadas, emudecidas; por cada memória legitimada, há uma grande quantidade de memórias excluídas (Martín-Barbero, 1998). Um intelectual do esporte atual deve ser capaz de pensar muito além do que os relatos de fãs e jornalistas de plantão podem pensar.

A profissionalização radical tem feito muitos técnicos saber nada além do futebol, e sem saber nada além do futebol não se sabe nada de futebol nem da vida em geral, como diz tão sabiamente Manuel Sergio. Sob este cenário, não se alcança a pensar nada além do que é imediato. O dogmatismo de muitos treinadores que se agarram a paradigmas táticos insustentáveis sob o céu da incerteza constante acaba em repetições ritualizadas como modos de pertinência e não como uma forma de apropriação de conhecimentos. Neste sentido, o que garante a persistência do erro em muitos intelectuais do esporte atual é a ausência de toda a novidade criativa. Ao invés de buscar molas que possibilitariam identificar a persistência do fracasso, eles passam a autojustificar-se sobre sua condição de vítimas de estruturas fechadas de jogo e de realidades que os ultrapassam.

Para finalizar, gostaria de enfatizar a idéia de que se não há sonhos de qualquer projeto humano ou desportivo é impossível aumentar a criatividade do jogo. Muitos jogadores e técnicos têm perdido a frescura e a originalidade de seu jogo simplesmente porque têm deixado de sonhar. Eles têm tudo na vida, tudo ao alcance das mãos, tudo se pode prever e antecipar estatisticamente que o mesmo jogo fica preso como mais uma vítima do sistema. Porém, somente os sonhos que nascem das carências empurram os limites do que o possível fazia do impossível. Na realidade, estes momentos estão sendo muito difíceis não somente de adquirir a racionalidade do bom jogo e seus resultados, mas, sobretudo, desejar a aprender novas formas de jogar em liberdade. De sonhos também vive o esporte.

1. Embora existam muitos pensadores, insisto em alguns representantes da Escola de Frankfurt, incluindo Horkheimer (2010), Adorno (2007), Habermas (2002) e, especialmente, os trabalhos de Deleuze e Guattari (1985). Alguns filósofos locais, tais como: Perez Zabala (2005), Ortiz (2000). Mais próximos à Educação Física, a vasta produção de Manuel Sérgio sobre a Ciência da Motricidade Humana (CMH), em especial o seu livro Filosofia do Futebol (2011)

Referências bibliográficas:

Boeder, Heriberto (2006) El final de juego de Jacques Derrida; Editorial Quadrata, Bs.As.

Centurión, Sergio (2011) Después del disciplinamiento y la disciplina ¿Qué?; en Ponencia Congreso Conbrace, Porto Alegre, Brasil

Craig, Grece (2001) Desarrollo Psicológico. Cuarta Edición, México
Deleuze, Gilles (1985) El anti-edipo; Editorial Paidos, Bs.As.

Ducart, Marcelo (2009) El deporte actual como encrucijada de valores; ponencia en I Congreso Nacional de Educación Física del centro del país y "VI Jornadas en Educación Física", UNRC.

Ducart, Marcelo (2011 "Vivendo na bolha. Ecos da Copa América 2011"; Universidad Abierta de Fútbol. disponible en internet desde el 26/07/2011 en www.universidadedofutebol.com.br/artigos; Brasil
Dunning, E. (1992) La dinámica del deporte moderno. Notas sobre la búsqueda de triunfos y la importancia social del deporte, en Elias, N. y Dunning, E. (1992): Deporte y ocio en el proceso de la civilización, pp. 247-270. Fondo de Cultura Económica. Madrid (ed. original en 1986).

Elías, N. e Dunning (1992) Memória e Sociedade a Busca da Excitação. Difel, Lisboa

Fensterseifer, P (2001) Educación Física y Epistemología: Conocimiento, epistemología e intervención. Revista Gymnos. Año 2 – Nº 2., Bs.As.

García, Antonio (1991) Teoría de la Educación Física; Ed. del autor. Córdoba

Habermas, Jurgen (2002) El futuro de la naturaleza humana. ¿Hacia una eugenesia liberal? Paidós, Barcelona

Horkheimer, Max (2010) Crítica de la razón instrumental. Trotta, 2º Edición

Adorno, Theodor (2007) Dialéctica de la Ilustración; Ediciones Akal, Madrid

Popper, K y Eccles, J (1980) El yo y su cerebro. Labor. Barcelona.

Rivero, Ivana (2009 La acción de jugar. El desafío de develar el lenguaje del juego. En: "Juego y deporte: reflexiones conceptuales hacia la inclusión". Primera edición. Serie Expomotricidad. Funámbulos editores. Universidad de Antioquia. Medellín. Colombia.

San Martín, J. (1997) Manual de Filosofía de la Educación Física; E.F.U.N.A.R.C, UNRC

Testero, Jorge (2010) Silvia Bleichmar: superar la inmediatez. Un modo de pensar nuestro tiempo; Ediciones del CCC, Bs.As.

sábado, novembro 17, 2012

Projeto de lei prevê cadeia para dirigentes de clubes

Texto que deverá ser votado pela Câmara responsabiliza criminalmente os dirigentes de clubes e federações flagrados usando dinheiro da entidade em proveito próprio

Ivan Richard, Agência Brasil

Circula muito dinheiro no universo do futebol. Projeto quer responsabilizar criminalmente o que hoje a Lei Pelé faz apenas no âmbito civil: punir com multa e cadeia dirigentes flagrados em atos fraudulentos

Brasília - Pronto para ser votado pelo plenário da Câmara, o Projeto de Lei 2.832 de 2011 pretende modificar a Lei 9.615, de 1998, conhecida como Lei Pelé, para possibilitar que dirigentes de clubes, federações e confederações que cometerem atos fraudulentos sejam responsabilizados criminalmente. Pelo texto, os dirigentes que se aplicarem créditos ou bens sociais da entidade em proveito próprio ou de terceiros poderão ser penalizados de um a quatro anos de prisão e pagamento de multa.

Atualmente, a Lei Pelé prevê apenas a responsabilização civil e não criminal dos dirigentes que são flagrados em atos fraudulentos. A intenção do projeto é enquadrar os dirigentes que cometam fraudes na administração esportiva no crime de apropriação indébita, previsto no Código Penal.

De acordo com o autor da proposta, deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), a atual legislação desportiva é insuficiente para coibir ações prejudiciais a clubes de futebol e demais entidades esportivas.

“É sabido que os clubes, particularmente os voltados à prática do futebol, mobilizam a paixão de grande parte do povo brasileiro, sendo o seu dia a dia acompanhado com atenção pelos cidadãos. Os casos de notório enriquecimento ilícito de dirigentes, que nunca são punidos, desmoralizam, pelo mau exemplo, tentativas de construção de um país que respeite padrões mínimos de honestidade”, disse Moreira na justificativa do projeto.

Relator do projeto na Comissão de Turismo e Desporto, o ex-jogador e deputado Romário (PSB-RJ), ressaltou que a gestão amadora e “muitas vezes questionável” dos clubes brasileiros tem prejudicado o esporte no pais.

“De longe, o futebol é a modalidade desportiva mais praticada no país e um dos assuntos mais discutidos diariamente pelos brasileiros. Infelizmente, a gestão amadora, temerária e muitas vezes eticamente questionável dos dirigentes de clubes tem prejudicado o andamento e a evolução desse esporte, desse lazer, dessa profissão, no Brasil”, ressaltou Romário ao justificar seu voto favorável à matéria.