Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, outubro 29, 2007

Com Pé e Cabeça - 99

"O futebol cearense existe, e precisa ser reinventado.” (Benê Lima)

Opinião
O FUTURO DO FUTEBOL CEARENSE EM JOGO

A necessidade de repensarmos nosso futebol a partir de sua entidade de administração é tarefa que se impõe As
torcidas de Ceará e Fortaleza juntas, fazem de nossa federação uma campeã tanto em arrecadação quanto em público pagante. Os oito clubes paulistas juntos não ameaçam, nem de longe, a hegemonia da FCF. Pergunta-se: Isso, por si só, já não era para ter suscitado dos dirigentes da entidade o desejo e o estímulo pela busca em corresponder ao poderio que vem das arquibancadas, das nossas duas maiores torcidas?

O que se vê, contudo, é um quadro de total e direta dependência da entidade em relação a Ceará e Fortaleza. E essa situação cômoda da ‘mentora’ lhe é assegurada, no caso do campeonato cearense, pelo próprio regulamento da competição, que prevê um percentual de dedução de 28% (em 2007) sobre a renda bruta dos jogos de clubes da capital. Daí se estabelece a cota da FCF, que consiste no saldo entre o limite de dedução (28%) e as despesas previstas. Para que se tenha uma idéia do que isso representa, numa situação típica de jogos em que Ceará e Fortaleza atuam como mandantes, cabe à FCF uma cota ao redor de 8 a 12 mil reais. Entretanto, numa situação atípica como a que envolveu o 1º clássico entre Ceará e Fortaleza no início da temporada (11/02/07), a cota da FCF foi de R$69.024, 57.

Percebe-se que a acomodação tem tomado conta das gerações de gestores da FCF, quando ações simples como a busca da expansão do público pagante já trariam aumento proporcional da receita do órgão. Secundada pelas ações de marketing e promoções, tais iniciativas fariam com que nossa federação criasse as precondições para dar um salto qualitativo em sua gestão. Ademais, as receitas suplementares que adviriam, dariam o sustentáculo requerido para novos investimentos, bem como financiariam o desenvolvimento tanto do futebol profissional (1ª, 2ª e 3ª divisões) quanto das demais categorias (amadoras). Desse modo, a FCF passaria a, de fato, ser um dos indutores do progresso do futebol cearense, assim cumprindo sua principal finalidade acessória.

Muito se fala e se cobra dos nossos clubes, no sentido de vê-los dotados de estrutura capaz de torná-los auto-sustentáveis. Porém, antes precisamos estimular a que se faça o mesmo em relação à entidade de administração do futebol cearense, a FCF, já que ela precisa oferecer garantias, através de seu bom funcionamento, de que aos clubes serão dadas as condições básicas para seu crescimento. E à FCF cabe promover e organizar as competições de base referentes a todas as categorias – o que não vem sendo feito.

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EFEMÉRIDES

O ridículo revisitado
O Ituano atraiu seu dessemelhante - o Fortaleza - para a prática de seu medíocre futebol (dele, Ituano), fazendo do Tricolor do Pici seu semelhante em mediocridade. Resumo da opereta: Ô futebolzinho ruim! E pensar que na rodada tudo conspirou a favor do time leonino e ele (...) pisou e quebrou a bola. Revimos o Fortaleza da dupla Marco Aurélio e Amauri Knevitz: insípido ao extremo; desenxabido até chegar ao tédio. Do ponto de vista individual, atuações caricatas, outras desinteressadas. Descontadas as pré-condições que dificultam o bom espetáculo, tais como temperatura inadequada, piso do campo de jogo duríssimo, estado do gramado ruim, entre outros, ainda assim não se justifica tamanha acomodação da equipe tricolor, além do péssimo futebol. Podemos culpar o treinador Zetti pelo que vimos de ruim e pelo que não vimos de bom? Creio que não. Desta vez Zetti não deve ser considerado responsável relevante, sendo esta uma condição que cabe tributá-la, antes de tudo, aos atletas tricolores.

1º e 2º tempo indigentes
Dos dez menores públicos pagantes, o Ituano detém nove deles. Das dez piores partidas do Brasileirão da B, técnica e plasticamente falando, a equipe de Itu é séria candidata aos dez, levando na lufada de 27 de outubro deste o tricolor cearense. Um caso típico de sinistra contaminação por mau futebol. O Ituano foi uma das poucas – senão a única – equipe que conseguiu ter uma piora progressiva na competição. Pensávamos que o time do Ituano fosse ruim, mas não tanto. O Fortaleza enfrentou a um só tempo a pior defesa e o pior ataque da competição. E sob a égide da melhor campanha de seis rodadas para cá, o time leonino fez o jogo dos opostos, permitindo-se descer ao nível da mediocridade. Perder – sabemos – está no ‘script’; o que não se roteiriza é ‘entregar’ o jogo. A maneira como se perdeu é que intriga. Sem querer ‘rifar’ ninguém, mas uma análise individual se faz apropriada. Simão esqueceu de jogar futebol e ainda provoca sua expulsão. César anda tropeçando nas próprias pernas. Cleiton Cearense foi obtuso e inócuo. Rogério mais passeou em campo. Léo maltratou a bola de montão. Paulo Isidoro e Cristian foram de uma ineficiência pouco comum. Já os problemas de Edenilson e Cleiton (o atacante) transparecem a nós como ‘mau futebol encravado’ mesmo.

A simbologia de Itu
A cidade que se apresenta como ‘mãe do exagero’, tem em seu representante um exagero de mau futebol. Nos primeiros minutos de jogo já era evidente a dificuldade do Ituano em dar seqüência aos lances. Time limitadíssimo, nada mais natural não ter sustentação ofensiva. Sua peça de ataque vivia da velocidade do também limitado Júlio César. Apesar disto, com 4 min e 30 s de partida o lateral Simão já havia cometido 3 faltas. Aliás, as expulsões e 3ºs amarelos dos atletas tricolores quando jogam no eixo sudeste-sul devem fazer parte de algum ‘bom’ planejamento (ou não?). Impressionante!

Tática equivocada
25 minutos do 1º tempo foram suficientes para fazermos o seguinte diagnóstico. O posicionamento da equipe de Zetti, Silas e Moreno era incorreto. Em função do campo de jogo, da mediocridade e da covardia do Ituano, o Fortaleza deveria ter adiantado sua marcação, encurtando o espaço. Isto propiciaria um menor desgaste físico à equipe, além de colocá-la permanentemente mais próxima ao gol adversário. Afinal, pelas condições descritas, o contra-ataque não era a melhor opção. As triangulações não foram priorizadas, e quando foram tentadas só funcionou – parcialmente – pelo setor direito. O setor esquerdo do ataque tricolor praticamente inexistiu. Detalhe. Todas as vezes que a equipe acelerou o jogo o Ituano demonstrou sua fragilidade defensiva.

Distante G-4
A Ceará e a Fortaleza lhes foram dado o direto à dúvida da esperança. Cada vez mais remota – é verdade! E o torcedor do Tricolor que se banqueteou com o empate do Marília diante do Alvinegro, agora leva o troco ainda maior de uma incrível derrota de seu time para o horrendo Ituano. O pior é que para os dois (Ceará e Fortaleza) não mais há margem para erro. Ganhar e/ou ganhar é a palavra-de-ordem. Antes, claro, garantir a permanência na Série-B. Outra coisa. Não se deve dizer que nossos times estão em posição igual. Ainda vejo o Fortaleza com um pouco mais de chance, por uma conjunção de fatores. O próprio discurso do técnico Heriberto da Cunha realça, de certa maneira, as limitações de seu elenco. Neste instante, é preciso olhar mais do que para a ‘tabula rasa’ da classificação.

Uma explicação
Ouvi de um torcedor do Ceará a queixa contra quem defendeu a tese de que as chances do Alvinegro são ligeiramente inferiores às do Fortaleza. O fundamento de tal análise estava – como ainda permanece – ancorado no fato do Tricolor ter estado com uma partida a menos e com pontos a mais. De outra parte, de ambos há que se levar em conta os adversários, o momento, as opções do elenco, a performance do time, o potencial de crescimento técnico e tático, o nível do estado físico dos atletas, e assim por diante. Que o torcedor se entregue a esse exercício com o máximo de isenção que puder, tirando assim suas próprias conclusões.

Sem deslumbramento
Fazer um programa semanal para uma torcida é muito mais fácil, sob todos os pontos de vista, que participar em diferentes níveis de dois programas diários, ora apresentando e produzindo, ora sendo co-partícipe em todos os seus processos. Como se não bastasse, a manutenção de mais três espaços produzindo textos e intertextos, de nós exige e muito, por isso estamos muito mais expostos. No entanto, nem isso nem nada me fazem tresvariar. Sabermos reconhecer o esforço dos outros – bem como a competência, quando for o caso – não constitui favor: é dever! Isenção e eqüidade fazem parte da minha vida por ideal e por ações, não por auto-intitulação. Compreendo que a falta do exercício da análise dessujeita, descativa, desapaixonada, imparcial enfim, é tarefa das mais difíceis, sobretudo quando se tem uma paixão como pano de fundo – o que não é o meu caso. Porém, resta lembrar que ninguém representa a medida de todas as coisas. Somos diferentes sim, mas isto deve ser mediado pela inteligência e pelo respeito.

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BREVES E SEMIBREVES ®

Miudeza. A impressão que tivemos é que a falta de público deixou os jogadores de Ituano e Fortaleza à vontade para realizarem um espetáculo de tão baixa qualidade. Enfim, não havia testemunhas visíveis.

’Sine die’. Assim tem sido adiada a passagem de nossos clubes à 1ª divisão do Brasileirão. E quem comenta precisa ter boa argumentação para não passar vergonha.

Aprendizado. Para quem acha que o volante Rogério já está no ponto, vale lembrar que além do combate a certa apatia, Rogério precisa saber o momento de cometer uma falta. Quando o adversário passeia horizontalmente, mesmo que de posse da bola, não há necessidade do cometimento da falta.

Em alta. O programa Domingo Esportivo, na Rádio Verdes Mares AM810, sob a batuta de Jurani Parente e Gualber Calado, tem marcado pontos como um dos agentes das mudanças que o futebol cearense tanto precisa. A repercuti-lo o próprio Blog do programa: domingoesportivo.blogspot.com.

Resposta. Radialista ligado ao Ceará promove pesquisa em programa de rádio, em que aparecem como pré-candidatos à presidência do Alvinegro os nomes de Eugênio Rabelo, Evandro Leitão, Getúlio Tadeu, Aragão e Castelo Camuça. Chamou-nos a atenção a falta de entusiasmo do torcedor alvinegro diante destes nomes.

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(*)”Combata sua inveja com o trabalho, e suas deformações de caráter com o exercício da generosidade.” (*) Benê Lima, R+C


Benê Lima
benecomentarista@yahoo.com.br
85 8898-5106

segunda-feira, outubro 22, 2007

Clubes grandes, comissões técnicas maiores

Autor: Rubem Dario
Revisão e intertexto: Benê Lima

O futebol moderno está cada vez mais se tornando um campo fértil de trabalho para especialistas e estudiosos de diversas áreas. A ciência, de um modo geral, invade os gramados em um caminho sem volta, que segue para um outro processo: o aumento das comissões técnicas.

A figura de maior destaque continua sendo o treinador, personagem que responde pela atuação de seus comandados em campo. Mas o staff por trás do técnico está cada vez maior. Figuras como fisiologistas, fisioterapeutas e nutricionistas já são uma realidade dentro das delegações e têm a mesma importância (em alguns casos até mais) do que os auxiliares técnicos, preparadores físicos, médicos e outros.

Isso é apenas o reflexo da nova realidade do futebol, um esporte que cada vez mais começa a ser vencido fora de campo, durante a fase de preparação.

O exemplo do líder do Brasileirão

“Esse é um caminho sem volta. Hoje o futebol mundial está muito nivelado. Os jogadores estão mais disciplinados na parte tática, a preparação física é muito igual e o talento não tem a mesma liberdade para aparecer. Portanto se um clube consegue recuperar seus atletas lesionados mais rapidamente, ou consegue oferecer algum diferencial em outra área, isso pode ser determinante para conquistas dentro do campo”, explica Marco Aurélio Cunha, diretor do São Paulo.

O São Paulo, atual líder e virtual campeão do Campeonato Brasileiro, conta com cerca de 20 profissionais em sua comissão técnica. Além disso, o clube possui uma estrutura de trabalho de primeira linha.

Entre os profissionais “diferenciados” que o clube tricolor possui, pode-se destacar um analista de desempenho, ligado diretamente a preparação física. A sua função é fazer um trabalho mais individualizado com os atletas, para saber como está seu condicionamento e servir como base dos trabalhos físicos.

Outro diferencial do time tricolor, é que importantes membros da comissão estão ligados diretamente ao clube, como o auxiliar técnico Milton Cruz, que é contratado do São Paulo, indiferente do treinador que está no comando.

Podologia a serviço do futebol

O Cruzeiro é outro clube que demonstra preocupação com esse aspecto. O vice-líder do Campeonato Brasileiro conta com um moderno centro de recuperação de atletas e, entre os profissionais que trabalham no futebol, pode-se destacar um grupo de podólogas, que atende diretamente os jogadores.

Multidisciplinaridade e interdisciplinaridade

Mas não é só na quantidade que as comissões técnicas começam a mudar. Além de profissionais como pedagogos, psicólogos, assistentes sociais e tantos outros ganharem importância no cenário futebolístico, o modo de agir de toda a comissão também começa a ser repensado.

“É preciso que a equipe de trabalho seja reformulada e um novo organograma seja produzido, de modo que se possa organizar uma característica interdisciplinar entre os profissionais, sejam eles técnicos, preparadores, fisiologistas, nutricionistas, psicólogos, pedagogos, assistentes sociais e outros”, explicou o professor Alcides Scaglia, doutor em pedagogia do movimento pela Unicamp.

Conscientização

Independente de quantos membros existe em uma comissão técnica, quais as funções que eles exerçam, ou quais os métodos de comunicação entre eles, os atletas também precisam se adequar a nova realidade. Para o ex-jogador Raí, que sempre foi tido como um exemplo de dedicação física e tática no futebol, o espaço para os “craques boêmios” está diminuindo.

Atualização

“Com a inclusão cada vez maior de especialistas no futebol, os jogadores também vão precisar se atualizar. Aquele atleta talentoso, mas que não gosto de se dedicar aos treinos ou de cumprir funções táticas, não vai ter uma regularidade. No futebol atual, só o talento não basta. É preciso inteligência e dedicação”, finalizou Raí.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Perfil do treinador ideal

(Texto foi inspirado nas respostas de Dunga à imprensa)

Autor: Antonio Afif
Revisão e intertexto: Benê Lima

As declarações de Dunga, treinador da seleção brasileira, novamente mostraram algumas falhas que um técnico que comanda equipes de projeção não deve cometer.

Desta vez, seu deslize de comunicação recaiu sobre o repórter Cícero Mello, na última segunda-feira. O problema surgiu quando o profissional da ESPN Brasil alongou-se ao formular sua pergunta.

Impaciente, Dunga pediu, ”por favor,” aos jornalistas, para que não fizessem monólogo ao dirigir seus questionamentos. “Isso é para me irritar”, reclamou. “Não sou inteligente como você para entender uma pergunta tão longa”, disse o técnico canarinho com uma ponta de ironia.

Essa colocação desnecessária de Dunga ao jornalista me fez pensar como deveria ser o perfil de um técnico que comanda grandes equipes. Alguns tópicos:

Educador

Os treinadores esportivos, principalmente aqueles que trabalham com jogadores em formação, devem se preocupar não apenas em orientar seus comandados dentro de campo, mas também incentivar os futuros craques a concluir seus estudos, mostrar as armadilhas da carreira e orientá-los em sua conduta pessoal.

Sistemas táticos

Os técnicos de futebol devem ser estudiosos do assunto e ficarem atentos às novas estratégias de sucesso empregadas por seus colegas do país e do exterior.

Metodologias de treinamento

Os técnicos devem ser pessoas abertas a novas idéias que resultem no aumento da qualidade e eficiência do seu trabalho. Por isso, precisam buscar métodos que os ajudem a estimular o desenvolvimento da criatividade dos jogadores, que é uma das características mais marcantes do futebol brasileiro.

Relacionamento com a imprensa

Técnicos de futebol vivem constantemente sob pressão. Por isso, é importante que eles se preparem adequadamente para falar com a imprensa e saber lidar com os problemas do dia-a-dia que cercam os times.

Imagem pessoal

Terno, roupa esportiva ou uniforme do clube? O ideal é que sua indumentária seja condizente à temperatura do local onde sua equipe terá de jogar, sempre evitando usar roupas espalhafatosas ou que não sejam condizentes com o cargo que ostenta. Outros aspectos desejados: ter um bom domínio da língua portuguesa (falar inglês também pode ajudá-lo em algumas circunstâncias), ter uma boa cultura geral e ter procedimentos que não firam a ética.

Familiaridade com a tecnologia
Os treinadores não precisam ser “hackers” em informática, mas precisam estar familiarizados com os recursos que a tecnologia oferece: informações, softwares para as mais diversas finalidades, dados estatísticos e várias outras ferramentas que podem ajudá-lo em sua atividade.

Visão holística

Esta é uma das mais importantes competências que um bom treinador deve ter. Um profissional que lida com pessoas, só conseguirá extrair o máximo dos seus comandados se compreender os jogadores em toda a complexidade inerente aos seres humanos, que possuem problemas, fraquezas, angústias, medo e vários outros aspectos que acabam interferindo no estado emocional dos atletas e, consequentemente, no seu desempenho. O treinador deve saber trabalhar de forma integrada, com bons interlocutores, dentro de uma visão interdisciplinar.

Logo ali - o mal exemplo que vem de fora

Autor: Oliver Seitz
Revisão e intertexto: Benê Lima

Imagine um lugar em que os clubes de futebol estão com gravíssimos problemas financeiros. Acumulam dívidas fiscais, dívidas com fornecedores e, principalmente, dívidas com jogadores. Afinal, com um péssimo controle financeiro, gastam mais do que ganham. Tudo em nome da performance em campo. Nesse mesmo lugar, os estádios estão velhos e caindo aos pedaços, e não há nada que os clubes possam fazer, uma vez que a imensa maioria não é realmente dona do seu estádio, que em geral pertence ao governo local.

O violento confronto entre torcidas, em sua maioria caracterizada por facções organizadas, composta principalmente por jovens das classes mais populares, caracteriza um tipo de comportamento que é reprimido pela polícia de forma por vezes ainda mais violenta. Com isso, os estádios tornam-se imensos campos de batalha, o que faz com que uma boa parte dos torcedores prefira acompanhar o seu time de casa, na frente da televisão.

Dessa forma, os clubes ficam extremamente dependentes da receita proveniente da venda dos direitos televisivos do campeonato nacional. Entretanto, como o valor da venda não é dividido de forma igualitária, os principais clubes do país recebem muito mais dinheiro do que as equipes menores, e acabam se perpetuando no poder. Porém, não é incomum ver um clube pequeno se dando bem no campeonato nacional e conseguindo uma vaga para o principal torneio continental.

Os dirigentes, de um modo geral, tendem a não serem pessoas muito confiáveis e se perpetuam no poder, e muitos se valem da popularidade do futebol para almejar cargos públicos. Outros acabam gerenciando o clube de maneira não muito ética, o que eventualmente faz com que pipoquem na imprensa os escândalos de arbitragem e doping, e casos de subornos e lavagem de dinheiro.

Nesse lugar, tudo isso é de conhecimento público, o que não significa que o governo tome medidas enérgicas para coibir tal comportamento. Ele até faz uma coisinha aqui, outra ali, mas em geral tolera esse tipo de prática. Afinal, o país possui uma imensa tradição no mundo do futebol, e a sua seleção é uma das equipes mais vitoriosas da história, e está diretamente ligada ao orgulho e à identidade nacional.

Imaginou? Fácil, não é? Afinal, parece o Brasil. Parece, mas não é.

As condições acima descritas mostram a atual situação do futebol italiano. Coisa de primeiro mundo.

Das cinco maiores ligas de futebol do planeta (Itália, Franca, Alemanha, Espanha e Inglaterra), a Itália é, de longe, a que se encontra em situação mais complicada. Nos dez últimos anos, os clubes da Serie A acumularam um prejuízo de cerca de 1,3 bilhões de euros, muito por culpa do pouco controle financeiro sobre salários e transferências.

O choque maior ocorreu no começo da década, quando os clubes italianos tentaram acompanhar a escalada do valor de salários e transferências pela Europa, puxada principalmente pela Inglaterra, mas não conseguiram honrar seus compromissos. Clubes importantes como Lazio, Roma e Fiorentina sofreram graves conseqüências por esse processo.

Não ajuda em nada o fato do futebol italiano ainda se sustentar em cima da estrutura criada para a Copa de 90, quando a indústria do futebol ainda não havia alcançado o estado atual de racionalidade, e acabaram sendo construídos enormes elefantes brancos, muitos dos quais ainda permanecem em poder do governo local. Por conta disso, poucos clubes conseguem reformar seus estádios, o que acaba afastando o torcedor. Nos últimos anos, a média de público da Serie A tem caído vertiginosamente.

Para piorar, têm sido muito comum os escândalos de doping e manipulação de arbitragem, o que culminou com o rebaixamento da Juventus na temporada passada. Isso fez com que a já decrescente média de público caísse ainda mais. Para se ter uma idéia, a média de público da Serie A na temporada 97/98 foi de 31 mil pagantes por jogo. Na temporada 04/05, o número havia caído para 25 mil, uma redução de aproximadamente 20%. Por conta do recente escândalo envolvendo Juventus, Milan e afins, a temporada passada foi ainda pior, com uma média de apenas 19 mil pagantes por jogo. Uma redução de cerca de 24% em relação à temporada 04/05 e de quase 40% em relação à temporada 97/98. Das 5 maiores ligas mundiais, a italiana foi a pior em média de público.

Pouco público no estádio tende a significar muita dependência das receitas provenientes da televisão, o que no caso italiano significa cerca de 62%. Essa receita, entretanto, varia muito de clube para clube, uma vez que os direitos de televisão não são vendidos coletivamente. Clubes maiores, como Milan, Inter e Juventus, ganham muito, mas muito mais dinheiro do que o resto, o que eventualmente diminui a competitividade, o que fere o poder da Liga como um todo.

A situação do futebol italiano está bastante complicada e ninguém sabe dizer ao certo se existe alguma solução rápida e que não seja extremamente penosa para os clubes, principalmente para os maiores. Entretanto, alguns setores já começam a se mobilizar buscando a recuperação, notadamente o poder público, que contava com a Eurocopa de 2012 para dar uma revitalização geral no mercado. Ela acabou indo pra Polônia, mas ainda assim o governo disse que vai se mexer para modernizar o deficitário e problemático sistema atual. Caso consiga, será um grande exemplo para o mundo inteiro.
A Itália, de Totti, Zambrotta e Canavarro, não é logo ali – ao contrário da África do Sul. Entretanto, ela pode servir como um ótimo espelho para o futebol brasileiro. Estruturalmente, ela é mais parecida com o Brasil do que com seus vizinhos mais ricos.
É bom ficar de olho.

quarta-feira, outubro 10, 2007

O desafio da gestão desportiva

Benê Lima
benecomentarista@yahoo.com.br

A administração do futebol por si só já representa um enorme desafio. Este desafio é tanto maior, na medida em que os resultados intracampo não dão sustentação ao trabalho extracampo.

Houve época em que as ferramentas da administração do lar já davam conta do gerenciamento do futebol. Era o tempo do amadorismo. Com o passar do tempo, o marrom que se juntou à expressão amador passou a designar os primórdios do profissionalismo.

A partir deste ponto, os instrumentos da administração doméstica passaram a ser insuficientes para dar respostas ao crescimento das novas exigências. Para atender à demanda pela instrumentalização da gestão desportiva, o futebol teve que incorporar todo o saber da administração de empresas, ainda tendo que acrescentar uma experiência nova, única e repleta de peculiaridades, que é lidar com a imponderabilidade dos resultados intracampo.

Quando comparada com qualquer outra atividade, vê-se que a administração integral do futebol é tarefa das mais difíceis. Além das peculiaridades e especificidades da gestão esportiva, o outro aspecto que torna a tarefa um desafio sem precedentes é a necessidade de obtenção de resultados objetivamente positivos, a partir do trabalho individual ‘artesanal’ de cada atleta.

Os “atores do espetáculo futebol” são, em regra, muito suscetíveis a variações nos seus humores e estado emocional. Como executam uma atividade em que o aspecto da psicomotricidade é destacado, eles necessitam estar bem física e emocionalmente, a fim de que a motivação esteja sempre em alta.

Dirigir um clube de futebol é uma tarefa hercúlea, e por isso não deve ser entregue a uma única pessoa. Nesse particular, o torcedor daria uma grande contribuição ao valorizar o trabalho de toda uma diretoria e não apenas o de um presidente. E isso criaria, sem dúvida, uma espécie de círculo virtuoso, dando assim uma maior visibilidade a todos os setores de um clube, tornando mais participativo e atraente o trabalho de todos os departamentos, diferentemente do que hoje existe, onde o foco e os refletores são todos voltados para a figura dos presidentes das executivas.

O futebol cearense tem sido pródigo nos exemplos de concentração de poder nas mãos de presidentes de clubes. E, para justificar essa excrescência, constroem-se frases do tipo “manda quem tem dinheiro”, “quem paga é quem manda”, e coisas e loisas. Isso acaba provocando uma sobrecarga para o dirigente, ao tempo que provoca sua superexposição, com todos os prós e, principalmente contras, que a situação produz.

De outra parte, essa concentração de poder e de tarefas juntamente com a superexposição, elas provocam o desgaste prematuro do dirigente, pela potencialização de seus equívocos em discursos e ações. Daí ser importante a boa interlocução, daí ser recomendável a alternância do discurso e do discursista.

Delegar, portanto, constitui mais que uma virtude para quem exerce posição de liderança: consiste, antes, numa injunção descentralizadora e democrática, sob a qual se constrói um ambiente corporativo propício ao surgimento de novas lideranças, e à divisão de trabalho.

Qualidade dos serviços - uma visão metodológica

Muito se tem discutido sobre a importância do marketing esportivo no aspecto econômico e financeiro. De fato, isso procede na medida em que o volume de investimentos é cada vez maior, seja na contratação de atletas, nas inúmeras formas de patrocínio que o esporte proporciona ou na negociação dos direitos de televisionamento dos eventos esportivos. Como o esporte está inserido no setor de entretenimento e lazer das pessoas (o Produto Esporte acontece exatamente nesses momentos), é preciso considerar a existência de outras abordagens que podem contribuir para o sucesso de programas de marketing esportivo.

Uma dessas abordagens, cujo título é "Qualidade dos Serviços Prestados e Oferecidos em um Estádio de Futebol: Um Estudo de Caso" faz menção à qualidade dos serviços prestados em eventos esportivos, e é parte integrante do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS).

O trabalho foi desenvolvido junto aos sócios do Sport Club Internacional, que conta com cerca de 6 milhões de torcedores e é detentor de 3 títulos de Campeão Brasileiro (1975, 1976 e 1979 - sendo neste ano de forma invicta), 1 título da Copa do Brasil (1992), 36 títulos regionais, entre outros feitos nacionais e internacionais.

A razão pela qual somente os sócios foram entrevistados ao longo do trabalho é que eles possuem um vínculo maior com o Clube, tanto no aspecto financeiro (eles pagam uma mensalidade de R$ 30 para terem acesso gratuito no estádio), como também no aspecto político. De acordo com o estatuto colorado, os sócios podem votar e serem votados nas eleições, com a possibilidade de tornarem-se conselheiros e até mesmo presidente.

Para a pesquisa junto aos associados, foi utilizado o cadastro denominado "Paixão Colorada", elaborado a partir de seu site oficial e que tinha a função, quando da sua criação, de proporcionar conteúdo e promoções exclusivas aos torcedores que participassem do cadastro. Além de serem sócios, estes torcedores deveriam ter uma freqüência de 1 a 3 jogos por mês no estádio e terem assistido a algumas partidas relacionadas no questionário do setor denominado "Social" do estádio. Uma das limitações do trabalho é que a avaliação não foi feita no exato momento em que o serviço é prestado. Isso, porém, não impediu que a paixão dos torcedores pelo Clube falasse mais alto: no total, foram 1.691 respostas obtidas, de um total de 8.942 e-mails cadastrados, sendo que 330 atendiam às condições acima descritas.

Os serviços avaliados foram: bares, banheiros, estacionamento, portões de acesso, central de atendimento ao sócio-colorado (Secretaria), mensalidades, assentos, quiosques de alimentação, ambulantes e Ouvidoria. Todos estes serviços encontram semelhança com a bibliografia utilizada ao longo do trabalho, na sua maior parte estrangeira. A única exceção é em relação à Ouvidoria, uma realidade tipicamente brasileira e instituída a partir da publicação do Estatuto do Torcedor. A escala de avaliação Likert utilizada variava de (1) Muito Insatisfeito a (5) Muito Satisfeito. No total, foram 64 itens avaliados e relacionados aos serviços abordados na pesquisa. Desse número, em 46 itens (71,88%) os sócios encontram-se satisfeitos. Em 18 itens (28,18%), porém, a avaliação dos associados varia de insatisfeito a pouco satisfeito. Somente os itens relacionados aos portões de acesso, à Secretaria do Clube e às mensalidades pagas não apresentaram nenhuma avaliação inferior a 3,0 de média. Nos demais serviços com avaliação inferior a 3,0 pontos, a média de avaliação variou de 1,86 a 2,98.

Além da avaliação feita, foi calculada também a ordem de influência (ou de importância) de cada item dentro da dimensão do serviço avaliado e foram feitas comparações entre os itens do questionário de pesquisa conforme o sexo, a idade, a cidade onde mora, a escolaridade e a renda do entrevistado. Os resultados obtidos possibilitaram identificar quais os itens os associados do Clube consideram como os mais importantes nos serviços prestados, além das diferenças de expectativas existentes de acordo com o perfil identificado dos associados.


Ao final da dissertação de mestrado são apresentadas sugestões de oportunidades de melhoria para aqueles serviços que se encontram com alguma insatisfação dos seus associados. Dentre estas sugestões, estão a colocação de dispositivos para o uso de papéis nos banheiros (e freqüentemente utilizados em shopping centers), promoções baseadas em datas históricas do Clube e em datas festivas com o objetivo de reduzir os impactos dos preços praticados nos bares e quiosques de alimentação, o uso de orientadores no estacionamento ao longo da área do estádio logo após o encerramento das partidas com o objetivo de disciplinar a saída dos automóveis e a profissionalização da Ouvidoria do Clube, implantando protocolos para as sugestões e reclamações recebidas e a definição de prazos para responder aos encaminhamentos feitos pelos sócios e torcedores colorados.

A implantação da Gestão de Serviços como sugestão de melhoria teria como principal função controlar todos os serviços existentes durante os jogos no estádio Beira-Rio (bares, banheiros, estacionamento, portões de acesso, Secretaria, mensalidades, assentos, quiosques de alimentação, ambulantes e Ouvidoria). Ela estaria inserida na "parte invisível na organização de eventos esportivos", do modelo proposto por Shilbury (1994) e teria um papel fundamental para que todos os serviços fossem prestados de acordo com as expectativas dos associados. O modelo TREIN também poderia ser utilizado em outros clubes e no planejamento de qualquer evento esportivo.

A importância da qualidade em serviços em eventos esportivos vem sendo destacada por diversos autores no mundo inteiro, sendo que as escolas mais tradicionais no assunto são a americana e a australiana. Alguns desses autores propõem a utilização de ferramentas criadas para a avaliação da qualidade em serviços como TeamQual e SportServ. Outros reforçam a importância da qualidade em serviços em eventos esportivos, não apenas para satisfazer os seus espectadores e torcedores, mas também como formas alternativas de receitas e citam o princípio da "experiência completa de entretenimento" como ferramentas para se obtê-las. Ações de hospitality (hospitalidade, em inglês) envolvendo jogadores e torcedores funcionam bem no lançamento de novos produtos durante eventos esportivos, bem como serviços diferenciados à disposição daqueles torcedores mais endinheirados. Ao invés do tradicional cachorro-quente de pão, salsicha e molho, por que não um cardápio um pouco mais requintado?

Os estádios, sem dúvida, devem estar preparados para essa nova realidade, mas de nada adianta se o serviço prestado for de baixa qualidade, ou seja, os funcionários assumem um papel importante nesse momento. É preciso entender que os concorrentes do esporte e mais especificamente do futebol, como restaurantes e shoppings, já têm há mais tempo essa preocupação de atender bem na primeira vez em que o serviço é consumido e encontram-se em ampla vantagem em comparação com os nossos clubes de futebol. Está na hora dos clubes, organizadores de eventos esportivos e profissionais de marketing esportivo também se preocuparem com estas questões. Tratar bem o torcedor (cliente) significa criar um relacionamento de longa duração, aumentando a presença da torcida nos estádios e nos eventos, garantindo uma receita de bilheteria maior e a possibilidade de atrair mais patrocinadores, ou seja, melhorar a qualidade dos serviços em eventos esportivos pode alavancar novas oportunidades de negócios.

Autor: Fernando Trein
Revisão e adaptação: Benê Lima

sexta-feira, outubro 05, 2007

Dirigente tipo exportação - Partes 1 e 2

Benê Lima

Há muitas histórias matizadas por uma atitude piegas, feitas para construir falsos heróis. Não é o caso da presente, cujo personagem é real, sujeito a erros e acertos, condição da qual ele próprio tem consciência.

Outra coisa que é importante considerar é o contexto no qual está inserido o personagem, pois, o que a nós brasileiros causa admiração, pode revelar-se um comportamento comum a outros povos. Mas, como o que nos interessa é o protagonista devidamente contextualizado e suas ações meritórias, vamos a alguns fatos.

José Ribamar Felipe Bezerra, ou abreviadamente Ribamar Bezerra é um homem de origem simples, de uma época em que a humildade não andava lado a lado com a indignidade. A estrutura de seu caráter parece ter sobrevivido incólume à investida dos contra-valores. É nessa linha que foram forjados o homem e o profissional: pelo aprendizado da prática educacional familiar; pelo preparo da formação educacional escolar; pelo aspecto empírico do trabalho.

Depois de transformar-se em um empresário de sucesso, Ribamar Bezerra passou a ter uma maior aproximação com o seu time de coração, o Fortaleza Esporte Clube. Essa aproximação teve um custo para o então apenas colaborador, que foram os sucessivos aportes em capital, com os quais ele ajudou o clube.

O ápice desse ciclo de auxílio ao clube ainda estava por vir. No entanto, não se pode deixar de mencionar uma experiência até certo ponto inovadora e vitoriosa da qual Ribamar participou, que foi a implantação de um sistema de co-gestão no clube em que ele viria a se tornar presidente.

Em 2004, logo após a queda do time para a 2ª divisão do Brasileirão, um grupo de torcedores do Fortaleza resolveu unir-se em apoio à diretoria do clube, iniciativa que foi imediatamente aceita pelo presidente da época, o pacificador Clayton Veras. Desse modo Veras conseguiu congregar o apoio desses torcedores e do patrocinador do clube, a Santana Têxtil do Brasil, o que contribuiu decisivamente para uma campanha vitoriosa, culminando com nova ascensão do clube à divisão de elite nacional.

Mas as conquistas desse grupo gestor não ficaram por aí. Uma nova maneira de gestão do futebol foi inaugurada no estado do Ceará, dotando as decisões e atitudes dos dirigentes de maior transparência, de mais eficiência, de mais profissionalismo enfim. Isso, todavia, alterava substancialmente o nível de exigência sobre os dirigentes dali em diante. Esse ‘Grupo Gestor’ passaria a ser o parâmetro para as próximas administrações.


Dirigente tipo exportação - Parte 2

Foi nesse ambiente novo e exigente que o colaborador Ribamar Bezerra se transformou, através da legitimidade do processo sucessório normatizado pelo estatuto do clube, em seu presidente da executiva. Mal sabia ele o tamanho do desafio que teria pela frente. Mas, também, se soubesse sem dúvida o teria aceitado do mesmo modo. Afinal, encarar os desafios sempre fez parte das pautas da vida do homem intrépido que é Ribamar.

Com o Fortaleza Esporte Clube na 1ª divisão, mas com um passivo de curto prazo a ser encarado e, o que é pior, com um time para ser formado e uma embrionária estrutura para ser mantida, além de sonhos para serem sonhados, como a construção de um centro de formação e treinamento de atletas, eis o mínimo que se pode dizer acerca dos tais desafios a serem transpostos pelo agora dirigente Ribamar Bezerra, para o biênio 2005/2006.

Àquela altura, seria natural que esperássemos um primeiro ano de mandato de muitas dificuldades e de poucos resultados positivos. Já no segundo ano – ai sim! – poderíamos nos deparar com melhores resultados. Contudo, já em 2005 os bons resultados saltaram aos olhos, se bem que patrocinados, fundamentalmente, pelo próprio dirigente. Seguidos aportes financeiros foram necessários para manter o clube com o status de 1ª divisão, e todos estes recursos extras tiveram como fonte de origem o patrimônio do dirigente Ribamar Bezerra.

Ao tempo em que Ribamar bancava sua ousadia, também procurava dar exeqüibilidade ao sonho dos tricolores de construção de um centro de formação e treinamento de atletas. Para tanto, criou uma Organização Não Governamental (ONG), cujo nome é Instituto Fortaleza Esporte Clube (IFEC), que passou a cuidar do projeto, tendo à frente ele próprio. Hoje, já na condição de ex-presidente, ele coordena, com o pragmatismo que lhe é característico, as primeiras ações para o lançamento da pedra fundamental da tão aguardada obra.

Antes, porém, de passar o bastão a seu sucessor, Ribamar ainda conseguiu impressionar aos mais reflexivos componentes da crônica esportiva cearense, ao entregar ao novo presidente dos tricolores, um clube salubrizado, saneado, a ponto de, antes do final de dezembro p.p., ter quitado a folha deste mês dentro do próprio mês. Além disto, 13º de funcionários e atletas, rescisões, encargos, tributos, tudo enfim devidamente quitado.

Como se não bastasse, fez referência à moção do presidente do conselho deliberativo do clube, quando este propôs o reconhecimento e o escalonamento do pagamento dos recursos que ele injetou no clube, dizendo que, se no futuro o clube tivesse condições de ressarci-lo, que os recursos fossem destinados para a construção da obra do centro de formação e treinamento de atletas.

Com esse breve relato, o que pretendemos é propagar os bons exemplos, tanto como forma de promoção da justiça, como forma de incentivo aos dirigentes que, verdadeiramente, fazem bem ao ambiente do futebol.

O Brasil que engatou marcha à ré

Benê Lima

Um simples olhar de relance pelas cercanias do ponto cardeal norte do Brasil, mostra-nos um vazio de representatividade, e esse vazio só não é total, por enxergarmos um simbólico ponto no estado do Pará, em que o Clube do Remo o preenche.

Afora o time paraense, nenhuma outra agremiação da região conseguiu sequer o ‘status’ de participante do grupo intermediário dos clubes pertencentes à Série-B, a segunda divisão nacional. Assim, o norte altaneiro perdeu o seu norte futebolístico.

Mas, imaginar que a realidade dos clubes de futebol dessa região é a Série-C e a Copa do Brasil é mostrar desconhecimento sobre estas competições. Pois, ainda não serão as competições nacionais, nos moldes em que as conhecemos que poderão abastecer os times do norte.

Na verdade, a principal alternativa para dotar as equipes da região de melhores condições de sobrevivência, passa, necessariamente, pelo fortalecimento das competições estaduais em um primeiro momento. No segundo momento, pensar em opções como a criação ou recriação de competições regionais constituiria tarefa indispensável.

A construção de uma agenda ou calendário para a região norte precisa fazer parte do planejamento do calendário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Respeitar as peculiaridades da região, levando em conta a realidade dos times a ela pertencentes, constitui o ponto de partida para preservar esses times.

A regra de se dar aos desiguais com desigualdade é a política mais acertada para a região. Isso não só oxigenaria a times tradicionais, como irrigaria as antigas sementeiras produtoras de valores, potencializando o surgimento de outras tantas.

O futebol brasileiro, especialmente o Clube dos Treze, precisa entender a importância de dotar de maior capilaridade toda a rede que integra os clubes brasileiros. De fato, fazer do Brasil um grande centro de treinamento e formação de atletas trará benefícios para todos.

Sugerimos até, que a Escola Brasileira de Futebol (EBF), seja o instrumento que possibilitará a transmissão do conhecimento sobre a gestão desportiva, nos diversos quadrantes do País. Afinal, entendemos que entre as funções da CBF está a de promoção do desenvolvimento desse esporte, em todo o território nacional.

Contudo, enquanto o sonho não é sonhado por todos, já nos consola saber que alguns times do norte empreendem lutas isoladas no sentido de escreverem uma nova, diferente e mais vitoriosa história. Entre eles há os que acreditam em altos vôos no âmbito de seus estados, o que os credenciaria a participarem da terceira divisão nacional, e, por conseguinte, a estarem inseridos no ranking da Copa do Brasil.

Os estados do Amazonas e Pará, historicamente os detentores da hegemonia do norte, apresentam-se como os propulsores de qualquer projeto de recuperação do futebol da região. Conquanto saibamos da necessidade de uma revisão do comportamento ético dos cartolas da região, ainda assim vale à pena a transferência dos diferentes recursos para ela.

Usar a caixa de mudança desde já, engatando a primeira marcha que permitirá o início de uma viagem rumo ao progresso, representa mais que uma opção: poderá significar, pelo menos para alguns, a diferença entre viver ou perecer.

quinta-feira, outubro 04, 2007

Computação no futebol


A visão da tecnologia

"Computação não se relaciona mais a computadores. Relaciona-se a viver."
Nicholas Negroponte

O mundo é complexo. Estudar o funcionamento de tudo é uma tarefa impossível. A fragmentação do conhecimento é uma maneira de se tornar o aprendizado mais simples. Pode-se notar melhor essa tendência analisando o crescente aumento dos cursos de graduação e pós-graduação no Brasil. Tal simplificação, por outro lado, complicou a compreensão de fenômenos mais complexos. Para esses casos existe a necessidade de integrar diferentes áreas para superar uma barreira, a tão discutida interdisciplinaridade. A computação, dada sua velocidade e precisão, possui excelente inserção como agregadora nestas situações.

Durante o processo de formação do profissional da computação, o mesmo é capacitado para desenvolver ferramentas que solucionem um problema. A principal dificuldade na solução de um problema passa pela definição do mesmo. Portanto, a presença de especialistas que utilizarão essas ferramentas é primordial para o funcionamento da mesma, ou seja, para o detalhamento do problema.

Na Scoutonline a presença de profissionais da área esportiva é intensa. A definição e o destrinchamento do problema são realizados toda por eles, sempre em contato com profissionais atuante da área. Cabe aos profissionais da parte de computação transformar a teoria em prática e desenvolver softwares (ferramentas) para facilitar a vida deles.

A definição da metodologia adotada é estudada, debatida, aplicada e constantemente aperfeiçoada e, junto à coleta de dados em tempo real, sendo esta realizada pelos profissionais esportivos, após um intensivo treinamento. É primordial que para tal interdisciplinaridade exista uma sincronia, aprofundamento e exploração dos conhecimentos de cada área, trazendo à tona as habilidades e competências que se complementam.

A definição dos filtros (mecanismos e dinâmicas de consultas às informações) e imagens geradas através dos dados do jogo também é proposta pelos profissionais esportivos. Informações tais como:
Ÿ passes efetuados – para quem um jogador passa a bola;
Ÿ passes recebidos – de quem um jogador recebe a bola;
Ÿ fluxo de passes;
Ÿ posicionamento tático por peso de ações;
Ÿ distribuição da posse de bola - é toda realizada por tais profissionais.

Cabe ao pessoal da computação criar os recursos necessários, o onde muitas vezes se torna necessário a criação ou adaptação de hardwares, para automatizar o processo.

Os softwares desenvolvidos permitem analisar rapidamente os dados e gerar informações tais como imagens através das quais se consegue visualizar situações que não estejam claras a olho nu. O computador, portanto, está cada dia mais presente nas nossas vidas como elemento facilitador.


Autor: Rodrigo Grassi Martins. Mestre em Ciência da Computação
Revisão e intertexto: Benê Lima

quarta-feira, outubro 03, 2007

Scout é aliado do futebol

Autores:Eduardo Fantato e Nicolas Bacic
Revisão e intertexto: Benê Lima

Futebol, um esporte avesso a novidades (...)

O futebol tem medo do futuro! Sempre teve!

Onde já se viu uma seleção de futebol levar médicos, preparadores físicos, psicólogo e pasmem: um dentista para uma Copa do Mundo?

Em 1958, Paulo Machado de Carvalho (o nome do Pacaembu), então chefe da delegação brasileira da Copa do Mundo da Suécia, posteriormente coroado como o “Marechal da vitória”, foi massacrado com argumentos similares por apresentar um plano de trabalho que envolvia esses profissionais na comissão técnica.

Sabe-se que o tal dentista, Mario Trigo, coordenou um trabalho de cerca de 500 obturações nos 33 atletas brasileiros, levantando as questões sobre os focos de infecções dentárias interferirem na recuperação de lesões dos atletas.

Em 1966, a Inglaterra iniciou de forma mais organizada um sistema de marcação homem a homem, que exigia um condicionamento físico mais apurado. Era para alguns “o início do fim” da técnica, do futebol arte.

Zico, o atleta de laboratório, ganhou 17 centímetros e 33 quilos sob muitas criticas. Kaká passou por processo similar, ganhando 11 quilos e aumentando sua massa de 64% para 74%, também com criticas.

Tudo por conta da inserção de recursos tecnológicos e conseqüente aprimoramento de fisiologistas, preparadores físicos, etc.

As inovações e melhorias dos processos sempre passam por um questionamento forte e incisivo, seja pelo lado romântico do futebol, seja pelos críticos de carteirinha. Mas isso não impede os avanços. Qual clube hoje não possui uma equipe de preparadores físicos, um staff médico, e mesmo fisiologistas atuando próximo aos treinadores? Esses profissionais foram criticados veementemente e ainda o são quando “ameaçam” (propõem) com novidades.

Hoje se observa uma tendência voltada à preocupação com informação de cunho técnico e tático. Os clubes em sua maioria já têm seus ‘olheiros’ de papel e prancheta na mão, mas ainda receiam uma organização e recursos tecnológicos que facilitem esse trabalho.

Ora, em tempos de velocidade de informação não se pode recusar recursos tecnológicos que facilitem o acesso às informações, sejam elas num pós-jogo para o planejamento semanal, sejam elas no decorrer do próprio jogo. Afinal, se o gol é um mero detalhe, fiquemos atentos aos detalhes.

O scout, ferramenta que vai além da estatística, permite uma integração de informações e análises, que deve chegar rapidamente e de forma dinâmica às mãos da comissão técnica, não subestimando o trabalho de alguns, mas sim os instrumentalizando e otimizando seu tempo. Liberados de papel e prancheta podem extrair mais informações, mais detalhes.

Ainda que imerso em críticas o esporte já vem apresentando algumas estruturas e recursos para lidar com esse aspecto que podemos chamar Central de Inteligência de Jogo (CIJ), no qual se encontram estatísticas, scout, análise, avaliações de jogo e desempenho.

No futebol, o exemplo do Chelsea, ex-time do português José Mourinho, tem em seu corpo técnico, além de funções tradicionais como preparadores físicos, assistente-técnicos, médicos, entre outros, uma grande equipe responsável pela CIJ, dentre os quais encontramos o que eles nomeiam de:
- Match Observer Scout,
- Head Opposition Scout,
- Chief Scout e
- Match Analyst.

Assim como a equipe multidisciplinar (fator hoje mais do que essencial aos clubes de futebol) de Paulo Machado em 1958 foi recebida e encarada com muito medo e receio, o scout como recurso tecnológico, bem como qualquer outra inovação que chega ao futebol tem suas barreiras, seus críticos.

segunda-feira, outubro 01, 2007

O vislumbre de um futuro sombrio

Benê Lima

Encontramos-nos em estado de despreparo para lidarmos com a sistemática de um novo fazer futebolístico; mas podemos preparar-nos

O futebol cearense, em condições normais, já convive com os problemas criados por seus próprios dirigentes, tais como a falta de profissionalismo de suas administrações, a total ausência de investimento na aquisição do capital intelectual, o descaso para com os ativos dos clubes, a inexistência de projetos e de planejamento estratégico para as gestões de quem os dirige.

Além disto, a eclipsada visão de marketing – marca dos dirigentes locais – funciona como amarra para o progresso dos clubes cearenses. Destarte, Ceará e Fortaleza nem exploram suas marcas nem trabalham suficientemente para se tornarem bons produtos. Em razão disto, ambos se tornaram ‘indigentes em marketing’, situação que agrava o quadro de ultra dependência a que os dois estão sujeitos.

Se considerarmos as adversidades do contexto nacional, e a ela somarmos um ambiente global desfavorável, constataremos sem maior esforço um ambiente inóspito para a sobrevivência de Ceará e de Fortaleza.

Existem as competições abertas das quais nossos dois principais clubes participam - tais como o Brasileirão/Série-B -, mas há também uma competição velada que pouquíssimos se dão conta, que se estabelece à revelia deles. Trata-se da ‘corrida por apoio’, que tanto se traduz pela luta por atração de recursos provindos do capital financeiro e do capital intelectual, quanto pela arregimentação de adesões para projetos de interesse dos clubes de futebol.

Tem sido em meio a essa ambiência malpropícia que Ceará e Fortaleza têm sobrevivido, muito mais pela abnegação e pela tenacidade de seus torcedores/dirigentes do que pela adequação destes ditos clubes ao mundo do futebol.

Desde a atitude competitiva de alguns dos concorrentes dos dois clubes cearenses, de dotarem seus dirigentes de uma melhor formação na gestão do futebol, indo até ao apoio governamental de alguns estados a seus representantes – o que os coloca em posição de superioridade em relação aos nossos -, todo esse contexto acaba provocando a apoplexia do modelo gerencial dos clubes locais. Ao considerarmos igualmente tanto a imobilidade dos dirigentes da nossa entidade de administração – a FCF – quanto a dos dirigentes das entidades de prática desportiva – os clubes -, acabamos por entender o atraso do nosso futebol.

Para que possamos, pois, estar inseridos no ambiente das disputas extracampo, precisamos prover pelo menos a Ceará e a Fortaleza de recursos humanos e tecnicistas adequados, através de ações gerenciais congruentes com as necessidades desses novos tempos.

Neste ponto, vale ressaltar a necessidade de atualização da crítica, cujo esteio deve estar consolidado na multidisciplinaridade e na interdisciplinaridade, condição essencial e sem a qual não haverá progresso.