Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, outubro 31, 2009

Tem princípio, meio e fim

COM PÉ E CABEÇA – ANO IV – Nº162

Colunista Benê Lima

”O aspecto tático tem incorporado cada vez mais componentes e crescido em importância no futebol, a ponto de podermos expressar que atualmente o futebol é mais dependente dos aspectos tático e físico que do componente técnico.” (Benê Lima)


Opinião
O DIREITO PELA ÓTICA DO DIREITO

A juridicidade com sua retórica eivada por sofismas, não deve jamais desmerecer o direito e a justiça, sob pena de desacreditar aquele diante do público, pela não promoção desta


Três casos relativamente recentes servem para ilustrar que a lógica do direito também está acessível aos que pensam, sem que haja a obrigatoriedade de que sejamos formalmente ‘iniciados’ na disciplina.

O ‘Caso Piva’ é o primeiro deles. Diante do alarde produzido à época, postei matéria em meu blog em que arriscava uma opinião sobre o caso. Adiantei que não ia dar em nada, e a fundamentação para isso – mencionei – era o texto de uma RDI editada em 1991, que confere às federações o poder de ‘anteciparem’ a condição de jogo dos atletas, no caso das competições estaduais, no que pese isso não desobrigá-las do encaminhamento da documentação à Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

O segundo e emblemático caso, envolveu o Caucaia Esporte Clube, que embora não tenha tido o nome de algumas de suas atletas publicadas no Boletim Informativo Diário (BID) da CBF, ainda assim conseguiu sua absolvição em julgamento ocorrido no âmbito da 4ª Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Importante, pois, é entendermos as razões de tal sucesso da agremiação caucaiense.

Entendo que, no que pese serem questões que guardam certa similaridade, o sucesso do ‘Caso Piva’ foi mais difícil de ser conseguido que o do ‘Caso Caucaia’. A razão disto é que em se tratando de atletas profissionais há uma mais ampla gama de documentação a acompanhar o pedido de registro na CBF, enquanto que no que concerne a atletas do futebol amador feminino não há registro de contrato a fazer, o que torna o processo extremamente sumário.

O Caucaia Esporte Clube juntou a documentação necessária para comprovar o vínculo das suas atletas com o clube, os Alvarás expedidos pela FCF, além de um Atestado da mesma FCF em que, implicitamente, admitia que, se falha houvera, esta não era de responsabilidade da entidade de prática desportiva, e sim da entidade local de administração do futebol – a FCF.

Ademais, o presidente do clube da região metropolitana de Fortaleza, levou consigo ao Rio de Janeiro, o Ofício protocolado pela FCF em que constava o pedido de registro junto à CBF das referidas atletas. Isto, junto a uma boa sustentação oral, produziu os efeitos desejados, além, obviamente, de haver promovido uma decisão, acima de tudo, justa.

Chegamos ao ‘Caso Guarani-Limoeiro’, que tem tudo para ter o mesmo desfecho dos demais casos. Ou seja, o ‘inexpugnável departamento de registro da federação cearense continua fazendo das ‘suas’, ou (?quem sabe?) servindo ao propósito de alguns arremedos de dirigentes.

Para nossa estranheza, sobre o caso em questão, o Pleno do TJDF-CE, até onde fomos informados, aceitou a tese da prescrição do prazo, e assim o mérito da questão deixou de ser apreciado. No entanto, entendemos que pouquíssimas são as chances de Tiradentes e Uniclinic, já que os antecedentes nos mostram que os erros, intencionais ou não, desde que produzidos em nome do departamento de registro da FCF, ou em última análise em nome da nossa federação, faz de seus executores instrumentos da impunidade, e das acusações que se lhes destinam meros libelos de uma juridicidade que decepciona o verdadeiro direito, e o autêntico significado de justiça.



EFEMÉRIDES

Alvinegro se sustenta em sua defesa


Nada de espetáculo. Longe disto. Nada de jogar pra frente e esquecer que o futebol de resultado é o que mais vale. Nem pensar em exibição em primeira plana, quando a meta na competição é, mais que ser eficiente, fazer a eficiência virar eficácia.

O time do Ceará da era PC Gusmão adquiriu uma consciência de grupo e de marcação incomum para o nosso futebol, fruto de uma metodologia de trabalho em que o pragmatismo conseguiu se impor, deixando-se de lado o sobrenatural, independente do sobrenome (se ...de almeida, se... da silva, enfim).

É verdade que desde que a equipe adquiriu a fisionomia de PC, não havia feito partida tão ruim. Mas, a razão para a não preocupação está na segurança de que o time pode e certamente produzirá bem mais, pois é indiscutível o potencial coletivo do time alvinegro.

Equivocadamente, dizem alguns que a vocação do time do Ceará é para atacar, quando na verdade sua vocação e aptidão são, antes de tudo, para marcar. Tanto que contra o Ipatinga, caberia uma nota ao redor de 7 (sete) para todo o sistema de marcação, contra uma nota beirando aí um 4 (quatro) para o sistema e a transição ofensiva.


Fortaleza submerge mais um pouco

O time começa perdido em campo, diante da forte pressão vascaína. A idéia do Vasco pareceu ser a de marcar seu gol nos primeiros dez minutos, passando a administrar o resultado. A estratégia não vingou.

A partir dos 15 minutos o Fortaleza passou a se encontrar em campo e conseguiu se ombrear em volume de jogo ao time vascaíno. Só que, o último reduto cruzmaltino tinha uma boa proteção, enquanto o do Tricolor do Pici mostrava-se, como de costume, vulnerável.

Louve-se, contudo, a coragem do técnico Roberto Fernandes em adotar um 4-4-2 com dois volantes (Leandro e Coutinho) e dois meias (Bismarck e Élton). Foi inclusive premiado com um belo gol de Bismarck.

Outro fator que conspirou contra o planejamento do técnico leonino, foi a necessidade que teve de substituir sem poder escolher. Lamentável é Bismarck e Leandro, dois jovens atletas, não suportarem 90 minutos de futebol.

Eusébio, esse tecnicamente, não cheirou nem fedeu. Atuação apagada e sempre cometendo os mesmos erros: marca mal e corre muito com a bola do lado errado (dá o lado da bola para o adversário).

Marcelo Nicácio mais uma vez esteve longe do atleta que conhecemos. Sem mobilidade, apagado, facilitou a marcação da defesa vascaína.

Douglas, sem dúvida, foi o melhor dentre os atletas tricolores.



BREVES E SEMIBREVES ®

Uma lágrima

Pela transição de um colega de rádio que detinha uma extraordinária força de trabalho, além de grande conhecimento técnico da atividade que tão bem desempenhava. Foi-se a competência e a bravura de Renato Martins; ficaram seus bons exemplos de um lutador incansável em prol do rádio, do profissionalismo e da família. Meu respeito.

Ironia
Detalhe curioso é ver o nome Fortaleza na manga da camisa alvinegra. Só a força do dinheiro para os mais radicais aceitarem algo assim. Creio que Eulino Oliveira não aceitaria, o que seria um erro. Certamente o Ceará ascenderá à divisão de elite do futebol brasileiro e o nome Fortaleza não dará azar.

Armação?
Tem torcedor que adora ver chifre em cabeça de cavalo. Muitos são os que acham que houve armação para que o Vasco seja o campeão da Série B. Ora, o Ipatinga era tido como um dos times fadados a subir e joga por último contra o Vasco. A revista Placar dava o Ceará como lutando para não cair e o Fortaleza cotadíssimo para subir. E aí, como armar diante de tamanho improviso?

Destaques
Uma estrela para o time masculino do Caucaia e outra para seu técnico Wolney Dias, que mesmo correndo por fora desbancou América, Maguary e Crateús, com cerca de menos da metade do orçamento de dois deles. Mais duas estrelas para o time feminino do mesmo Caucaia, uma para as atletas outra para seu treinador Jardel Rocha, pelo ineditismo de uma campanha que já é tremendamente vitoriosa na Copa do Brasil. Parabéns!

Dois pontos relevantes
O Ceará deve subir quando o regulamento faculta o acesso das quatro equipes com melhor pontuação, e deve contar com o beneplácito da mudança que ocorrerá no ano que vem que autoriza a permanência de 18 equipes. Que bons ventos! Beleza!

Ajudando a sorte
Os dirigentes do Alvinegro de Porangabuçu não só agendam, mas já mantêm contato e solicitam propostas de alguns dos jogadores agendados, todos da Série B. Não só por isso, mas a natureza do trabalho que vem sendo realizado no Ceará tem feito grande diferença em favor do clube. A verdade é que a referência positiva mudou do Pici para Porangabuçu.


Benê Lima
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quarta-feira, outubro 28, 2009

A Copa Rio-São Paulo deve voltar?
Proposta esbarra em preferência dos dirigentes das grandes agremiações dos estados em atuar nos campeonatos regionais
Luis Filipe Chateaubriand

Nos artigos antepenúltimo e penúltimo em relação a este, defendi a volta da Copa Sul-Minas e da Copa do Nordeste - competições interestaduais de altíssimo potencial comercial. Então, seguindo a mesma linha de raciocínio, a Copa Rio-São Paulo também deveria reaparecer. Certo? Talvez não.

Pessoalmente, este signatário é a favor da volta do torneio. Se assim fosse, haveria uma liga fixa de clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo disputando a competição, e esses clubes, assim, não participariam, respectivamente, dos campeonatos carioca e paulista.

Mas será que a vontade deste escriba coincide com a vontade dos presidentes dos principais clubes do eixo Rio-São Paulo? Possivelmente, não. Mandatários das grandes agremiações paulistas preferem jogar o seu Estadual específico a jogar a Copa Rio-São Paulo; e os representantes cariocas, da mesma maneira, valorizam a disputa do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro em detrimento da proposta.

E, já que a vontade dos grandes clubes do eixo é seguirem disputando os estaduais, é algo que se deve respeitar e, com isso, se "abrir mão" da disputa da Copa Rio-São Paulo. Diferentemente do que acontece com a Copa do Nordeste - os presidentes de grandes clubes daquele região preferem jogar esta Copa aos campeonatos locais - e do que acontece com a Copa Sul-Minas, pelas mesma razão.

O que talvez possa causar curiosidade é por que os clubes do eixo Rio-São Paulo preferem disputar deficitários campeonatos ao invés de disputar uma potencialmente lucrativa copa interestadual. Quais seriam as dificuldades envolvidas?

A primeira delas parece ser a incompatibilidade de temperamentos entre cariocas e paulistas. Cariocas julgam que paulistas não sabem aproveitar a vida, paulistas julgam que cariocas não querem assumir responsabilidades. Para uns e outros, a incompreensão alheia gera uma vontade de se disputar competições com clubes do mesmo estado, e não com clubes vizinhos. Enfim, puro, e lamentável, provincianismo.

Em segundo lugar, os clubes do Rio, particularmente, sentem que, disputando contra clubes fortes da outra região, dificilmente serão campeões. É a pequenez de pensamento gerando falta de visão comercial e aversão ao profissionalismo.

Em terceiro lugar, há uma dificuldade natural para definir quantos, e quais, clubes disputariam a hipotética Copa Rio-São Paulo: seriam oito clubes (os quatro grandes de São Paulo e os quatro grandes do Rio), ou seriam 16? Se fosse este último número, seriam oito de cada localidade, ou nove de São Paulo e sete do Rio? Ou 10 de São Paulo e seis do Rio? Se, de São Paulo, fosse oito, quais seriam? E, se fossem nove, quais seriam? E, se fossem 10, quais seriam? E os oito, ou sete, ou seis, clubes representantes do Rio? Como tomar tal decisão?

Ao invés de os grandes clubes do Rio e de São Paulo reunirem-se para chegar a um consenso, preferem "abrir mão" de uma competição como essa, que geraria muito mais prosperidade econômica para as agremiações do que ultrapassados estaduais. Triste, mas real.

Fazer o quê? Que os grandes clubes paulistas disputem o seu tão amado Campeonato Paulista, e que os grandes clubes cariocas disputem o popular "me engana que eu gosto" Campeonato Estadual do Rio de Janeiro, como diz o jornalista Renato Maurício Prado. Nesse caso, sugere-se que a forma de disputa das referidas competições seja atraente do ponto de vista comercial, na medida do possível - claro, não será tão atraente como uma Copa Rio-São Paulo poderia ser.

Em tempo: para os leitores que ficaram curiosos a respeito, esclareço como seria o torneio que imagino: teria 16 clubes, nove de São Paulo - São Paulo, Santos, Corinthians, Palmeiras, Portuguesa, Juventus, Guarani, Ponte Preta, Botafogo, de Ribeirão Preto - e sete do Rio - Flamengo, Vasco da Gama, Fluminense, Botafogo, América, Bangu e CFZ.

A forma de disputa seria a mesma que a da Copa do Nordeste e da Copa Sul-Minas (consultar artigos anteriores a respeito). Acho justo que São Paulo tenha mais clubes que o Rio, mas não muito mais - nove contra sete parece razoável. Por outro lado, clubes artificiais, como São Caetano, Santo André, Barueri e Bragantino não deveriam jogar uma competição que seria destinada a clubes com tradição e/ou torcida e/ou projeto consistente.

*Luis Filipe Chateaubriand é autor do livro 'Futebol brasileiro: um projeto de calendário', pela editora Publit (www.publit.com.br).

sábado, outubro 24, 2009


O ocaso do treinador mandachuva
Sócrates


Crédito: Olga Vlahou
Os conflitos entre técnicos e dirigentes de clubes, como temos visto nos últimos tempos, tendem a se tornar cada vez mais frequentes. Recentemente, o “deus” Maradona, treinador da seleção de seu país, ameaçou deixar o cargo, aparentemente por culpa de divergências com os cartolas argentinos. Mas nem sempre as causas têm a ver com mudanças políticas ou incompatibilidade de gênios. O que está em curso, na verdade, é uma nova visão das funções desse profissional.


A centralização de poder oferecida a ele, e só a ele, e a possibilidade de determinar toda a política em relação aos jogadores definitivamente têm seus dias contados. Até por não ser razoável que funções tão importantes sejam exercidas exclusivamente por um profissional.


É o que chamamos de excesso de poder. A partir da mudança de mentalidade, o treinador deve ocupar (ou dividir com outros) a função específica referente às partes tática e técnica de uma equipe. E com direito a ser questionado por um superior com atribuição de coordenar. Esse diretor técnico deverá possuir capacitação abrangente e contemplar as diversas áreas da comissão técnica com conhecimentos em nutrição, preparação física, fisiologia, psicologia, ortopedia e fisioterapia, além das áreas citadas acima.


Teríamos assim o esqueleto de um verdadeiro organograma, coisa rara no meio futebolístico. Além disso, será flagrante a diminuição do valor que se dará ao profissional de campo. Lentamente ele será levado ao real patamar de sua importância dentro da estrutura. Com isso, também os salários terão de se adaptar à nova ordem.


Está no fim o tempo em que ele fazia a programação física, decidia a dieta, dava palpites na recuperação dos atletas, indicava jogadores sem uma avaliação formal por parte de quem o contratava e, além disso, definia todo o planejamento. Na nova ordem, só os definitivamente competentes é que terão lugar no comando.


E como exemplo da, digamos, falta de sensibilidade dos treinadores de futebol, lembremo-nos da decisão por pênaltis no Mundial Sub-20. Demonstrou o que tem sido uma constante em torneios curtos como aquele e, por isso, cabe um olhar mais detido nesse ponto. Em geral, há certa dose de incompreensão acerca dos fenômenos que envolvem ocasiões como essas. E quase todos eles têm relação estreita com o que aconteceu na partida até ali e suas sequelas sobre o equilíbrio emocional das equipes e de cada jogador em particular. De resto, só a questão física pode influir caso tenham jogado uma prorrogação.


Percebe-se, então, que normalmente as condições físicas e psicológicas dos atletas encontram-se prejudicadas. Notamos, contudo, muito mais do que isso. Há um nervosismo latente a extrapolar a intensidade do estímulo. Ou seja: estão mais estressados do que seria razoável supor. Essa situação provavelmente se deve à insegurança provocada pela falta de autoconfiança nesse fundamento.


Qualificação que competiria ao técnico oferecer aos seus jogadores, mas que não o fazem por absoluta ignorância no assunto. Isso sem falar de como se comportam em público. Muitos são arrogantes mesmo que pouco tenham para se arrogar. Nunca deveríamos esquecer de quão pequenos somos nós, porém muita gente quando se encontra em situação superior faz questão de menosprezar, intimidar e minimizar o resto da humanidade como se donos da verdade fossem. Felizmente, o passo a passo da vida invariavelmente nos derruba dos tamancos. Por nos tirar do limbo em que nos colocamos, expor nossa mediocridade e desnudar a nossa insensatez.


Mas, voltemos a Maradona, que sempre fez absoluta questão de se intitular o maior de todos os tempos. E não só ele, o próprio Pelé e outros mais se digladiam cotidianamente por esse título de nobreza, como se dele extraíssem o néctar que os mantém vivos.


Ainda assim, acho que todos aplaudiram a coragem de “dom” Diego ao aceitar ser o treinador da seleção argentina e desse modo descer do céu onde os seus patrícios o colocaram. Não dá, porém, para engolir (usufruindo de um verbo bastante conhecido dos brasileiros e muito usado no futebol pelo mesmo motivo) a sua reação após a vitória contra os uruguaios que acabou por classificar a Argentina para a Copa da África do Sul. Ainda que possamos assimilá-la, levando em conta o seu estado de espírito, os termos utilizados são de extremo mau gosto e agressivos para grande parte do público. E demonstram imensa incapacidade de conviver com opiniões críticas. 

A CÉZAR O QUE É DE CÉZAR... A FERRUCIO O QUE É DE FERRUCIO

Paulo Medeiros*

Como o prezado leitor deve estar começando a perceber nestes artigos quinzenais, que através da benevolência do meu amigo Benê Lima tenho tido a oportunidade de apresentar, a independência de minhas colocações, muitas vezes críticas veementes, prezam o respeito à verdade e aos fatos, o que não é uma qualidade, mas uma obrigação.

Não posso me furtar, então, de reconhecer as qualidades do Exmo. Secretário Estadual de Esportes do Ceará (SESPORTE), Sr. Ferrucio Petri, demonstradas durante e após reunião realizada com representantes de ligas do futebol amador da região metropolitana de Fortaleza no início deste mês (outubro/2009), que tive a oportunidade de participar como convidado desses representantes de ligas, e em caráter voluntário.

A começar pela própria iniciativa do Secretário de provocar esta reunião de maneira inusitada: quando questionado em audiência pública na Assembléia Legislativa sobre as dificuldades destes representantes no acesso à instituição por ele comandada, o Secretário respondeu que desconhecia este fato, quando então foi solicitado a autorizar o agendamento de uma reunião “o mais breve possível”. De pronto o Secretário indagou: ”o mais breve possível não, vamos nos reunir amanhã 8hs da manhã”, o que de fato aconteceu.

Como convidado das ligas, confesso que senti certo constrangimento durante a reunião ao perceber o esforço do Exmo. Secretário em tornar esta reunião produtiva em relação aos pleitos das ligas, porém nada lhe era apresentando de forma concreta e objetiva. Além de retóricas do tipo “antes a gente tinha isso e aquilo, e agora não temos mais”, o que se viu claramente é a desunião destas ligas, que começa na disputa pela sua representatividade entre as instituições Sindicato das Ligas e Federação das Ligas, e a falta de um projeto efetivo para estes pleitos. Detalhe lamentável: isto tudo em pleno andamento de uma reunião executiva com o Secretário de Esportes do Estado do Ceará.

Ao final da reunião, aproveitando a oportunidade, relatei resumidamente ao Secretário o perfil básico do projeto de inclusão social Meninas da Bola que está sendo elaborado, com nossa colaboração, pela Liga Cearense de Futebol Feminino, e que contempla objetivos para favorecer estas crianças como redução da prostituição infantil, da violência doméstica e urbana, do ingresso na criminalidade e da evasão escolar. Imediatamente o Sr. Ferrucio determinou à sua assessoria que agendasse reunião para conhecer os detalhes deste projeto e incluir a SESPORTE na sua implantação.

Portanto, como na Roma antiga, a Ferrucio o que é de Ferrucio. Não posso deixar de reconhecer o mérito do Exmo. Sr. Secretário Ferrucio Petri em atuar com dinamismo e objetividade à frente da SESPORTE, e sugerir a alguns dirigentes que sejam mais organizados em seus pleitos junto a esta instituição.

Ficou evidente o desapego do Exmo. Secretário a favorecimentos e ingerências políticas, e mais evidente ainda o encaminhamento social que tem destinado às prioridades da entidade sob seu comando.

*apaixonado por esportes e PhD em economia

A tática - o Código Da Vinci (!?)
Em outras palavras, em ?centros futebolísticos? distintos, com diferentes evoluções do jogar, qualquer dinâmica de jogo pode ser boa para resolver problemas

Rodrigo Azevedo Leitão

O futebol tem regras que o caracterizam como jogo. Jogado em qualquer lugar do mundo, respeitando-se oficialmente estas regras, ele traz à tona problemas para serem resolvidos.

Ainda que muitos desses problemas (que vou chamar de problemas primários) tenham em seus cernes as mesmas origens, as soluções para eles, em culturas de jogo diferentes, têm sido também diferentes.

Isso quer dizer, em outras palavras, que, em “centros futebolísticos” específicos (por exemplo, América Central, América do Sul, Europa Ocidental, Europa Oriental, Ásia, África, etc. e também alguns “países polarizadores” dentro desses “centros”) as dinâmicas do jogo de futebol evoluíram de maneiras distintas.

Essa evolução trouxe à tona o que vou chamar de “problemas secundários” do jogo. Não são secundários porque são menos importantes; são secundários, porque surgiram das diferentes dinâmicas que foram nascendo e se desenvolvendo (com suas particularidades) nos diferentes “centros futebolísticos”, a partir dos problemas primários.

Então, enquanto os “problemas primários” surgiram das regras formais do jogo, os “problemas secundários” surgiram das dinâmicas de jogo das equipes para solucionar os problemas primários.

Os “problemas secundários” deveriam servir ao jogo (e sua lógica!), assim como servem os “problemas primários”.

Isso quer dizer, que quando uma solução a um problema secundário, não consegue dar conta de resolvê-lo, dever-se-ia buscar uma resposta associada ao problema primário, e não a ajustes que solucionem o problema secundário.

Em outras palavras, em “centros futebolísticos” distintos, com diferentes evoluções do jogar, qualquer dinâmica de jogo pode ser boa para resolver problemas. Porém, quando se busca a solução para problemas que não estão sendo resolvidos nas próprias dinâmicas do jogo das equipes, é possível que mesmo encontrando as respostas, estas sirvam mais para a manutenção de uma forma de jogar das equipes, do que para resolver questões do jogo – apesar de muitas vezes resolvê-las (?!).

Isso se torna um problema muito grave e evidente, quando equipes de culturas de jogo diferentes entram em confronto.

Infelizmente, com tantos jogadores “selecionáveis”, de distintas nacionalidades concentrados especialmente no futebol europeu, as Copas do Mundo de Futebol não têm mais evidenciado esses problemas. Em competições como a Champions League, Copa da Uefa (que mudou de nome), Taça Libertadores da América e Mundial Interclubes isso é mais aflorado – e talvez explique porque alguns treinadores tem mais sucesso do que outros nessas competições.

O fato, é que os problemas secundários, tendo como “pais” as dinâmicas das equipes e não o jogo, acabam por gerar, quase que espontaneamente, respostas que muitas vezes distanciam a solução da essência do jogo.

E aí, o de sempre: equipes ganham e perdem sem saber por quê.

Estudo da CBF aponta que o país possui 783 clubes profissionais
A região com mais agremiações é a sudeste, com 235 times. O principal estado é São Paulo, com 132
Equipe Universidade do Futebol

Uma pesquisa realizada pela Diretoria de Competições da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) concluiu que, atualmente, o futebol nacional possui 783 clubes profissionais em atividade.

O estudo levou em consideração os três últimos anos a modalidade, e foi retratado no Cadastro Nacional de Clubes de Futebol. Uma das importâncias de se saber a quantidade de times profissionais é a possibilidade de mudança no calendário do futebol brasileiro, por exemplo.

De acordo com dados da CBF, a região sudeste do país é a que concentra o maior número de equipes. São 235 times profissionais, o que equivale a 30% do total do Brasil. São Paulo lidera o ranking dos estados com 132 times paulistas. Logo atrás do sudeste está a região nordeste, com 227 agremiações, representando 29% do todo.

Segundo a entidade que comanda o futebol brasileiro, os dados da pesquisa foram fornecidos pelos clubes e federações estaduais.

De olho na Copa 2014 e no turismo

Para atender fluxo de pessoas durante Copa-14, Fortaleza amplia terminal de aeroporto
Capital cearense investirá meio milhão de reais em obras que deverão se iniciar no início de 2011 ou 2012
Equipe Universidade do Futebol

Fortaleza é pródiga na recepção de turistas e por ser uma das cidades mais procuradas em época de férias de verão. Em uma outra concepção, agora como sede organizadora da Copa do Mundo de 2014, o preparo será para atender um número muito maior de pessoas, de dentro e fora do país. E o alvo é o aeroporto internacional Pinto Martins.

Porta de entrada e saída da capital, o local passará por uma reforma e terá ampliado o terminal de passageiros. Além disso, será construído um edifício-garagem com mil vagas, agregando-se às outras 900 existentes.

De acordo com informações do Diário do Nordeste, o investimento total para as obras é de R$ 500 milhões. Tal verba deverá ser repartida entre a Infraero e os governos federal e estadual - há ainda a possibilidade de captação de recursos por intermédio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O novo terminal ampliará a capacidade do aeroporto de três milhões para oito milhões de passageiros por ano. A edificação do mesmo ocorrerá onde funciona atualmente o terminal de cargas.

O projeto deverá ser concluído no próximo ano. Já as obras devem ter início em 2011 ou 2012, mas ainda não existe data definida para o encerramento, prevê a empresa responsável.

Seleção brasileira: a evolução do modelo de jogo
Com menos de um ano para a Copa do Mundo, alguns detalhes ainda podem (e devem) ser acertados. Independentemente disso, Dunga merece a credibilidade de todos
Leandro Calixto Zago

São incontestáveis os resultados obtidos pela seleção brasileira no ano de 2009, principalmente nas competições oficiais em que conquistou o título da Copa das Confederações e a classificação antecipada para a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, com uma vitória em Rosário sobre a Argentina.

Após um ano de 2008 em que o Brasil não marcou um gol sequer jogando em casa pelas Eliminatórias Sul-Americanas, a equipe vem apresentando uma evolução considerável e desde a goleada por 6 a 2 contra Portugal (jogo amistoso ainda em 2008) tem ganhado partidas de adversários tradicionais por placares destacados como por exemplo a vitória contra o Uruguai em Montevidéu por 4 a 0 e o 3 a 0 diante da Itália, pela Copa das Confederações.

Do ponto de vista da dominante tática, pode-se perceber que Dunga abriu mão da rigidez de realizar a recuperação da bola através de uma única plataforma tática e prepara a equipe para organizar-se espacialmente de acordo com a linha da bola, aumentando a flexibilidade posicional e a capacidade de adequação às situações-problema do jogo. Com essas alterações, em muitas ocasiões do duelo, um problema do Brasil (recuperar a bola) tem se tornado um problema para o adversário (não perder a bola), o que muda essencialmente o jogo e a tomada de decisão do mesmo (o adversário).


Figura 1 – As variantes da Plataforma Tática Matriz

Em um momento inicial e pelas características dos jogadores, a plataforma tática que se configura é a 1-4-3-1-2 (figura 1 – A), que funciona como uma matriz para o aparecimento de novas configurações para as situações do jogo que vão se delineando. E como a partir das situações do jogo novas plataformas vão se apresentando com regularidade, constata-se que realmente vão além de adequações posicionais da matriz para emergirem como alternativas a fim de resolver as necessidades da equipe, principalmente quando se está sem a bola.

No momento em que o adversário inicia a circulação da bola no campo defensivo, o Brasil adianta a primeira linha de marcação até a intermediária ofensiva (figura 1 – B). Robinho e Elano adiantam-se nas faixas laterais e Luís Fabiano na faixa central, com Kaká também centralizado, porém um pouco mais atrás, formando um grande losango.

Duas tarefas parecem balizar esse quarteto: manter a bola em circulação pela linha defensiva pelo maior tempo possível (aumentando as chances de um erro ser cometido pelos rivais e fazendo com que os mesmos tomem decisões precipitadas) e, se o adversário quiser aprofundar o jogo, direcioná-lo para o centro do losango, onde sofrerá pressão imediata.

Caso a bola entre nesse espaço e não seja imediatamente recuperada, Elano e Robinho recuam até a linha de Kaká, dando origem à plataforma 1-4-2-3-1 (figura 1 – C). Com essa formação, a referência é direcionar o adversário para as laterais, onde ele será pressionado.


Figura 2 – O Brasil no campo de defesa e o Balanço Defensivo

Mesmo quando o adversário progride rapidamente, o Brasil consegue defender-se com pelo menos oito jogadores (goleiro + sete) atrás da linha da bola. Caso o ataque rápido ou contra-ataque do adversário seja desacelerado e ele comece a circular a bola na busca de espaços para finalizar (ataque posicional), Robinho recua um pouco mais e mantém o equilíbrio horizontal da equipe assegurado (figura 2 – A), apontando para uma outra plataforma, o 1-4-4-1-1, com nove (goleiro + oito) jogadores atrás da linha da bola.

A organização defensiva brasileira enfrenta os seus maiores problemas quando tem que se defender muito próximo a seu gol. E isso não acontece simplesmente pela proximidade que o adversário está da sua meta, mas também porque nessa zona do campo a equipe nacional ainda demonstra uma considerável confusão em relação às referências para a marcação.

Alguns jogadores mantêm as estruturas com referências no espaço, outros acompanham o adversário direto, com pouca coordenação entre esses movimentos. Esse fato leva o Brasil a desorganizar-se e a recuperar a bola (com certa dificuldade e em zonas que não favorecem a manutenção ou a progressão) muito próximo do gol que defende, tendo interferência direta na transição ofensiva que fica prejudicada. Nesses momentos do jogo, a seleção fica em sua maioria na intermediária defensiva, sofrendo alguns ataques consecutivos (figura 2 – E).

O Brasil tem obtido muito êxito em ataques rápidos e contra-ataques, porém quando o adversário consegue construir situações que o induzem a circular com uma certa frequência (ataque posicional), alguns problemas são apresentados. O principal deles é no balanço defensivo, que pode ser observado quando a seleção enfrenta equipes que têm como princípio recuperar a bola e sair rápido para o campo de ataque.

Os locais onde o risco é mais evidente nas últimas partidas são as faixas laterais (figura 2 – F), porque jogando contra equipes compactas, o Brasil busca penetrações por essa região na tentativa de dar melhor amplitude ao ataque.

Com três anos de trabalho sob o comando do técnico Dunga, fica evidente a evolução que a seleção brasileira teve desde que ele assumiu. Com menos de um ano para a Copa do Mundo, alguns detalhes ainda podem (e devem) ser acertados. Independentemente disso, o treinador chegará ao Mundial da África merecendo a credibilidade (que ele conquistou com bons resultados) de todos.

sexta-feira, outubro 23, 2009

Brasileirão em pontos corridos ou com fase classificatória e 'playoffs'? O que Max Weber tem a ver com isso
Filósofo alemão define os elementos que caracterizariam a influência racional, considerada o tipo ideal, e a presença do mérito, imprescindível no processo
Luis Filipe Chateaubriand

Na semana passada, o jornalista Juca Kfouri divulgou que a Rede Globo de Televisão apresentará à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) uma proposta de modificação da forma de disputa do Campeonato Brasileiro.

Em resumo, a forma de disputa proposta é a seguinte: todos os clubes jogam entre si em turno e returno, sendo que os oito melhores colocados classificam-se aos “playoffs”; os oito classificados são divididos em quatro grupos de dois, com jogos de ida e volta; os quatro classificados são divididos em dois grupos de dois, com jogos de ida e volta; os dois clubes finalistas decidem o título em jogos de ida e volta; classificam-se para a Copa Libertadores da América os três clubes de melhor classificação na fase de pontos corridos, mais o clube campeão ou, em caso do clube campeão ser um desses três, mais o quarto colocado da fase de pontos corridos.

Na prática, a proposta feita ressuscita a polêmica se o Campeonato Brasileiro deve ser disputado em pontos corridos ou em sistema de fase classificatória e “playoffs”. Os defensores do sistema de fase classificatória e “playoffs” chamam os defensores dos pontos corridos de “imitadores do modelo europeu”. Por sua vez, são chamados, por estes, de “imitadores do modelo do basquete norte-americano”. E a polêmica segue, sólida, ao longo dos anos.

Acompanhando esse debate, ocorreu a este escriba refletir sobre o que o sociólogo alemão Max Weber (1864 – 1920) pensaria do imbróglio tupiniquim.

Segundo o renomado intelectual, existem três tipos de capacidades de influenciar pessoas: a tradicional, a carismática e a racional.

A influência tradicional é a que se faz a partir de uma proeminência de determinada família. O patriarca da família é considerado autoridade moral, e todos devem segui-lo. Com o seu falecimento, a autoridade é automaticamente transferida para o primogênito homem, que passa a ser o novo patriarca.

A influência carismática é a que se faz a partir de um líder com personalidade marcante em relação aos seus seguidores. Os seguidores aceitam as instruções do líder, porque ele legitima sua autoridade a partir de seu carisma.

A influência racional é baseada em argumentos calcados na razão: quem influencia, o faz a partir de preceitos considerados científicos, normalmente amparados pela lei e por um corpo de funcionários qualificados, chamados burocracia (no bom sentido da palavra).

Weber define o tipo de influência racional como tipo ideal. O carismático poderia ser usado para se fazer o certo ou o errado, dependendo da personalidade do líder. O tradicional seria o tipo mais retrógrado de dominação.

E o que tudo isso tem a ver com futebol? Simples: Weber define os elementos que caracterizariam a influência racional, considerada o tipo ideal, e a presença do mérito é considerada elemento imprescindível. Garantir que se respeite quem tem mérito – sejam pessoas, sejam Instituições – é algo fundamental quando se fala em sociedade que se pretende racional, ou desenvolvida.

Então, é só pensar: qual o sistema de disputa, para o principal campeonato em disputa em nosso país, que promove o mérito? O no qual todos os clubes jogam entre si duas vezes, com um mando de campo para cada time, e o clube campeão é o que faz maior número de pontos. Mérito puro!

Como bem sabem os diversos cidadãos envolvidos com alguma atividade de Administração de Organizações, Max Weber é considerado um ícone para estudos nessa área. Se vivesse nos dias atuais, no Brasil, e gostasse de futebol, não há dúvidas: seria um árduo defensor da forma de disputa em pontos corridos.

*Luis Filipe Chateaubriand é autor do livro 'Futebol brasileiro: um projeto de calendário', pela editora Publit (www.publit.com.br).

A evolução dos clubes de futebol e a Copa do Mundo de 2014
Agremiações que modernizaram seus processos de gestão, constituídos sob padrão empresarial e comandados por dirigentes e profissionais capacitados, já começam a desfrutar os benefícios
Élio Carravetta

A história recente de diversos clubes brasileiros revela que os dirigentes e os conselhos deliberativos representavam, até há pouco, o continuísmo elitista do futebol. Alguns dirigentes, para sustentar a apropriação do poder e seus interesses pessoais, mantinham suas gestões amparadas por modelos estereotipados, prontos, acabados e referenciados em experiências práticas fechadas em si mesmas. Não aceitavam as relações de forma integrada; apenas perseguiam, individualmente e a qualquer preço, resultados fragmentados, que pudessem garanti-los no poder. Assim orientados, eles dificultavam o intercâmbio das informações, das expressões dissonantes e de novas idéias no interior de seus clubes.

Como decorrências da cultura organizacional dominante, os departamentos de futebol mantinham o monopólio da informação, limitavam os canais de comunicação em suas unidades funcionais, obstruíam processos de relações, e rechaçavam com veemência qualquer ameaça de invasão. Muitos treinadores reinavam como soberanos, inatingíveis, no seu território do saber; frequentemente, ultrapassavam as fronteiras do seu campo de atuação, interferindo nas diferentes áreas do clube. Era comum, por exemplo, que exercessem um domínio desmedido sobre as categorias de base, os setores de saúde, as negociações, a administração e a logística.

Tais treinadores, autocentrados, explicavam toda a realidade de maneira fracionada, apenas pela especificidade dos resultados de campo. A relação recíproca com a linha de pensamento dos dirigentes reforçava a visão individualista e conservadora, que geralmente resistia às inovações tecnológicas, econômicas, científicas, culturais, administrativas e mercadológicas.

Nesse desenvolvimento histórico, muitas matérias fundamentais à existência dos clubes foram tratadas de forma irresponsável e amadora, de modo a salvaguardar, em determinadas situações, os interesses ilícitos de alguns colaboradores ou integrantes da cúpula diretiva. Essas atitudes levaram muitos clubes brasileiros a uma situação financeira falimentar, com astronômicas dívidas e patrimônio hipotecado.

No momento em que o Clube dos Treze potencializa os recursos financeiros dos clubes - com as negociações dos direitos de transmissão da TV - e estreita o diálogo com a CBF acerca da forma de disputa do campeonato brasileiro, o panorama muda. Os clubes do futebol nacional começam a ter perspectivas de ocupar um espaço privilegiado no mundo global dos negócios e na indústria do entretenimento.

Na esteira dessa transformação, uma forte pressão social, na última década, determinou alterações na legislação desportiva brasileira. Os clubes iniciaram, então, um processo de mudanças que rebateu a ineficácia política e administrativa na gestão. Como reflexo, os mandatários políticos passaram a liderar movimentos de alteração de estatutos e regimentos internos, a propor eleições diretas para presidente e eleições proporcionais para o conselho deliberativo, e, em linhas gerais, a induzir um novo modelo de comportamento político-organizacional nos clubes.

A partir daí, o mercado consumidor e a nova legislação estabelecem uma aproximação dos torcedores com o clube. Os aficionados passam a representar o mais expressivo patrimônio do clube - por fidelidade, amor, entusiasmo, paixão e, decorrência disso tudo, pelo potencial de gerar receitas. Os torcedores, assim, são estimulados a se associar ao clube, para participar do colégio eleitoral e, nessa via, eleger o presidente, aspirar a cargos políticos, escolher representantes para o conselho deliberativo, enfim, tomar parte de sua vida política.

Alguns clubes brasileiros, portanto, começam a viver uma transição política que os impele ao dinamismo e à eficácia das gestões. Há a introdução gradativa de modelos sistêmicos atrelados aos novos conceitos administrativos de planejamento e o fomento de estratégias voltadas a potencializar a criatividade, a eficiência, o lucro, as relações com o mercado consumidor, a formação permanente dos jogadores, a excelência do desenvolvimento competitivo e a efetiva participação dos atores no cotidiano do clube.

No campo da profissionalização da gestão técnica e administrativa, esses clubes partiram para o ataque. Foi a vitória irrevogável da modernização dos processos de gestão sobre as mentalidades anacrônicas do antigo dirigente. A redescoberta do torcedor, a valorização do quadro social, a transformação do emblema e das cores em marca licenciada, o estabelecimento de parcerias públicas e privadas visando ao desempenho mercadológico, a implantação de planejamentos estratégicos, a inovação tecnológica no interior do clube, o investimento em novos estádios e campos de treinamento, e, sobretudo, o incremento técnico no processo de formação de jogadores: são, todos, indícios dessa vitória.

Os clubes que modernizaram seus processos de gestão, constituídos sob padrão empresarial e comandados por dirigentes e profissionais capacitados, já começam a desfrutar os benefícios: uma economia mais forte e consolidada, um elevado quadro de associados, resultados relevantes na formação de jogadores e, fundamental, conquistas de títulos expressivos. As cotas de televisão hoje representam, em média, 35% de sua arrecadação mensal; os outros 65% dizem respeito a: transferências de jogadores, sócios, bilheteria, patrocínios e publicidade.

Lamentavelmente, uma parcela significativa de clubes brasileiros ainda não se adaptou às novas exigências do mercado. Tais clubes continuam evocando um modelo centralizador, egocêntrico e conservador; estão acomodados com os rendimentos da televisão, que representam em torno de 85% de seu faturamento mensal. Permanecem, naturalmente, acumulando avultadas dívidas.

A Copa do Mundo de 2014, é bem provável, contribuirá para impulsionar o crescimento dos clubes do futebol brasileiro, sobretudo através da mobilização de empreendimentos e de parceiras públicas e privadas. Para tanto, os clubes, por meio da mobilização dos seus dirigentes e torcedores, necessitam se adaptar à modernidade técnica e administrativa. Esse é o divisor de águas na transformação de suas estruturas coorporativas, antes obsoletas e fechadas, em estruturas abertas, dinâmicas, evolutivas. É um avanço que se traduz no enquadramento a uma nova perspectiva da gestão do futebol brasileiro e, em última instância, ao próprio mercado internacional.


*Elio Carravetta é especialista em Ciência do Esporte pela Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre, com mestrado em Métodos e Técnicas de Ensino pela PUC-RS e doutorado em Filosofia da Ciência da Educação pela Universidade de Barcelona, na Espanha.

Também é coordenador de Preparação Física do Sport Club Internacional e professor do Centro Universitário Metodista IPA.


O artigo foi baseado no livro de sua autoria, intitulado 'Modernização da Gestão do Futebol Brasileiro. Perspectivas para qualificação do rendimento competitivo'. Porto Alegre: AGE, 2006

Talento esportivo e as 'peneiras'
Cada categoria terá sua individualidade, sua complexidade e determinado desempenho, contrariando essa padronização imprudente da dimensão física que acaba acontecendo de maneira genérica
Rodrigo Vicenzi Casarin, Dênis de Lima Greboggy

“Desvendar os absurdos que condicionam nossos pensamentos e nos acompanham disfarçados de tópicos, idéias preconcebidas, falsos paradigmas e demais formas de pensamentos não é tarefa fácil”.

(MATEO, J.; VALLE, J.)

No Brasil, sabe-se que para adentrar no mundo futebolístico, em alguns momentos, os jovens necessitam passar por certas exigências, certos dogmas criados, que os afastam da realidade específica do desporto. Designadamente, na seleção de talentos nos últimos tempos, tem-se notado uma exacerbação da dimensão física. Essa tendência confirma que ainda em nosso país esse quesito está em primeiro plano.

Quando se trata de seleção de um possível talento no futebol, de acordo com alguns escritores especializados, podem-se observar dois métodos básicos: o natural e o científico.

A seleção natural é uma abordagem mais simples, o meio comum de desenvolvimento do sujeito em um desporto, como a prática informal nas escolas, jogos nas ruas e praças, entre outros. Esse tipo de seleção é típico dos famosos “olheiros” que os clubes contratam para observar as ditas “peladas” de campo de várzea e analisar, com seu “olhar clínico”, os potenciais futuros craques.

O método parte do princípio de que poucos jogos observados são suficientes para inferir se determinado sujeito pode ou não se tornar um jogador profissional, principalmente se o jovem em questão tiver os requisitos necessários para a prática do futebol moderno, como força, potência, resistência, estatura, entre outros.

Dessa forma, torna-se claro que os critérios que os “olheiros” utilizam mostram-se insuficientes para a escolha de talentos. Sem bases científicas sólidas, os mesmos fundamentam-se por avaliações subjetivas, por idéias preconizadas, e acabam infelizmente afirmando que essa tendência de análise prioritariamente física nada mais é do que uma adaptação das avaliações ao futebol contemporâneo.

O segundo meio é a seleção científica, no qual os responsáveis escolhem jovens com algumas habilidades naturais através de testes, para posteriormente passarem por períodos (semanas, meses) de treinamentos para ser analisados e julgados com mais detalhes e mais critérios. Mas também neste modelo de avaliação os atletas terão que ter obrigatoriamente os apreciados requisitos físicos para serem inseridos no laboratório do futebol.

De acordo com alguns pesquisadores, ao contrário dos demais desportos, em que se opta pelos atletas mais altos, como no basquetebol, ou como no atletismo, em que se opta pelos mais rápidos ou resistentes, todos podem potencialmente jogar futebol. Na modalidade mais popular do mundo participam os altos e os baixos, os rápidos e os menos rápidos, desde que pensem e tenham talento (habilidade e competência). Esse contexto resulta, entre outros aspectos, da possibilidade que o futebol oferece, por exemplo, de um sujeito ser potente sem possuir as características de um velocista de 100 metros.

Portanto, torna-se claro que as características inerentes ao futebol se diferem dos demais desportos, principalmente os individuais. Deve-se entender que o futebol, sendo um jogo desportivo coletivo, de invasão e oposição, tem a dimensão tática assumida como o suporte para o rendimento. Os demais aspectos, como os técnicos, psicológicos e físicos surgem em consequência do comportamento tático.

Na visão do famoso e estudioso técnico português José Mourinho, existe uma interdependência que é impossível de se fragmentar das variáveis táticas, técnicas, fisiológicas, psicológicas, sociais, geográficas, históricas, e inúmeras outras que devem ser consideradas com a mesma importância.

Nesse contexto, fica explicito que essa questão também deveria ser encarada no processo de captação de talentos, mas infelizmente o futebol brasileiro foi contaminado por ideias cerradas e absolutas, onde todas as suas esferas refletem os mesmos conceitos. Ou seja, nas “peneiras” inicia-se o processo de avaliação de atletas erroneamente, seguindo do processo de formação e por fim da profissionalização. Essas ideias redutoras confirmam o que se vê atualmente: atletas estultos que não entendem o jogo, que executam situações sem raciocinar, e continuam não entendendo o jogo após se aposentarem. Então, se tudo começa tortuoso desde as “peneiras”, será que o restante será correto?

Dessa forma, fica evidente que a questão paradigmática das “peneiras” necessita de uma revisão conceitual. Muitos talentos são desperdiçados, “jogados no lixo”, por não se adequarem a esse estereótipo, que se tornou por muito tempo no Brasil uma espécie de lei.

A partir disso, questiona-se se o futebol é um esporte que requer primeiramente uma preparação física ideal, porque o critério de seleções de talentos na sua maioria ainda é, infelizmente, baseando apenas na estrutura e desenvolvimento físico precoce. Sendo assim, há a necessidade do conhecimento de que esse erro conceitual elimina precocemente jovens com capacidades de que o esporte precisa, como inteligência físico-cinestésica, percepção e leitura do jogo, dentre outros aspectos que são de fundamental importância para a seleção de um possível talento.

Nesse entendimento, o futebolista jovem deve ser observado nas ditas “peneiras” por padrões que estejam realmente de acordo com as características do jogo naquela determinada faixa etária. Por exemplo, a categoria sub-14 exige padrões comportamentais táticos, técnicos, psicológicos e, consequentemente, físicos, diferentes da categoria sub-16; ou seja, cada categoria terá sua individualidade, sua complexidade e determinado desempenho, contrariando essa padronização imprudente da dimensão física que acaba acontecendo de maneira genérica.

Assim, o aparecimento de talentos para o futebol deve ser entendido como um processo complexo, desenvolvido dentro de sua própria especificidade. Nesta visão, o futebol sendo um desporto transdimensional, torna-se impossível identificar somente uma variável que represente completamente o conceito de êxito no desporto. Evidente que essa ideia satisfaz poucos, já que a construção de um instrumento de avaliação nesses parâmetros, que seja sólido e judicioso, requer enorme criatividade e um grande conhecimento sobre o jogo e o humano-atleta nas diversas faixas-etárias. Afinal, é bem mais cômodo selecionar jovens altos, fortes, velozes, resistentes, futuros mini-homens, mini-atletas e mini-robôs.

Portanto, não se pode classificar nas “peneiras” jovens prioritariamente por questões de ordem física, sendo que as capacidades físicas são componentes integrantes de um todo deste desporto primeiramente tático.

O futebol é muito mais que um desporto linear mecânico. É uma convergência de fatores que interagem a todo instante. E, como menciona o filósofo e criador das Ciências da Motricidade Humana, Manuel Sérgio, poucos enxergam o jogo como um todo, como um fenômeno complexo, como sendo uma “floresta”. O que é visto é apenas uma “árvore” no meio de muitas outras.

quarta-feira, outubro 21, 2009



COM PÉ E CABEÇA – ANO IV – Nº161

“Porque existem coisas sem pé nem cabeça”


“Há os que ruminam uma retórica burlesca, como se isso fosse um elemento confiável de uma dialética verdadeira.” (Benê Lima)


Opinião

VIRTUDES E DEFEITOS DE UM MODELO ULTRAPASSADO DE ARBITRAGEM

Poucos são os que falam sobre o tema arbitragem com humanidade e responsabilidade

Por onde ando e me deparo com o polêmico tema arbitragem, procuro tratá-lo dentro da real perspectiva que lhe é inerente. Ou seja, considerando as dificuldades que lhe são próprias, desconsiderando as imagens (principalmente as da televisão), pois não considero nem equânime nem lícito, a concorrência de pós-imagens nem sempre esclarecedoras (e mesmo que o fossem), confrontadas com as decisões instantâneas que a arbitragem tem de tomar.

Diante dos diferentes pontos de vista das câmaras e de exaustivas repetições, incontáveis são as vezes em que vemos a falta de consenso entre os comentaristas. Portanto, o que dizer da dificuldade de árbitros e assistentes que, sem direito a rever os lances nem a nenhum outro recurso de recuperação de imagem, têm de tomar decisões em um brevíssimo lapso de tempo? E o pior: tendo um único ângulo e perspectiva do lance.

Ademais, mesmo que levemos em conta a ótica maquiavelista, o ‘preço’ de um árbitro deveria ser o valor que ele recebe por uma partida, multiplicado pelo número potencial de todas as partidas que ele ainda realizaria em sua vida profissional. E como forma simbólica de restituir – como se isso fosse possível – a perda moral que a ele atingiria, o valor extraído como resultado da multiplicação seria duplicado. E talvez, quem sabe, valeria a pena dinheiro no bolso, reputação na lama, e, também, quem sabe, uma passagem de ida para o inferno. Será? Não sei!

Breve contabilidade

Um árbitro que trabalhe em apenas duas partidas por mês, ao fim de dez anos ganhando em média R$500 por partida, terá auferido R$120 mil. Árbitros de maior remuneração ultrapassam a soma mínima de R$360 mil.

Ficam as indagações: Quem estaria disposto a pagar o valor mínimo pela degradação de uma carreira? E quem estaria disposto a degradar sua carreira por um valor mínimo?

Sabemos, contudo, que a estupidez humana às vezes sucumbe ao poder de sedução do vil papel-moeda, em face da deformação do caráter individual. Mas, felizmente, isso não representa a regra.

A outra face da questão

Tenho acompanhado por amostragem, mas com maior proximidade, a conduta de nossa arbitragem, sobretudo nos jogos da 3ª Divisão Cearense de Profissionais. E o que me é dado observar, é suficiente para que eu possa elaborar alguns juízos acerca do nível dessas arbitragens, especialmente no que se refere à postura dos profissionais envolvidos (árbitros, assistentes, 4º árbitro e delegado ou representante).

Não pretendo neste espaço fazer uma retrospectiva sobre o que já falei em minhas colunas, tanto no Artilheiro como em meu blog, mas sim fazer acréscimos ao que já mencionei em oportunidades passadas.

Observando a mais uma partida, novamente me deparei com algumas atitudes que denotaram pusilanimidade por parte da arbitragem. Vale salientar neste ponto que essa característica (a da pusilanimidade) nem sempre toma conta de todo o grupo nela envolvida. E isto foi o que sentimos no sábado p.p., no estádio Juvenal Melo, em Crateús, quando do confronto pela Terceirona Cearense, entre as equipes do Crateús e do Caucaia.

De acordo com nossa observação, exceção feita ao árbitro Luzimar Siqueira, ficaram patentes alguns aspectos de uma arbitragem ‘caseira’. Senão vejamos.

a) Aceitação, por parte do 4º árbitro, da atitude imprópria dos atletas suplentes e principalmente do preparador físico da equipe local, que repetidamente adentravam à área técnica;

b) Atitude também imprópria foi vista com freqüência por parte do técnico da equipe local, conforme pode ser comprovado em foto publicada em nosso blog (www.blogdobenelima.blogspot.com);

c) Decisão acertada do 4º árbitro, em solicitar ao policiamento a retirada do auxiliar técnico e do roupeiro do Caucaia de um dos túneis de acesso ao gramado, todavia, a decisão mostrou-se tendenciosa por não ter sido estendida aos integrantes do Crateús, equipe local;

d) Registramos ainda o assistente número um dividindo uma garrafa que parecia conter água, ou algum outro líquido, com os atletas do time local, o que no mínimo configura despreparo do referido profissional;

Vale ressaltar que, alguns aspectos que envolveriam interpretação e a consideração de questões subjetivas de aplicação do árbitro Luzimar Siqueira, estão sendo deixados de lado, como por exemplo, os três minutos de acréscimos, seguidos de mais um, além de neste período a marcação de três faltas frontais a favor do time da casa.

Concluímos, pois, que pelo que vimos nas partidas dos mandantes América (17/10/09) e Crateús (17/10/09), que a arbitragem precisa ser reorientada e um pouco mais prestigiada, a fim de que um mais estável clima de neutralidade seja instaurado, o que certamente reprimiria o desejo sempre latente dos mandantes de obterem algum tipo de vantagem da arbitragem.

(...)



EFEMÉRIDES

O fantasma do rebaixamento

Há pelo menos duas maneiras de encarar a derrota do Fortaleza para o Atlético Goianiense. Uma delas é bater na tecla desgastada dos defeitos e erros cometidos, que deram à equipe o espectro de um time com característica de rebaixado. A outra que é a de nossa preferência neste instante, é ressaltar que a equipe produziu para ganhar, mas não se preparou para poder acumular ‘gordura’ para perder sem merecer.

Muitas foram as vezes nesta competição em que o Fortaleza perdeu por não merecer ganhar. Mas, contra o Atlético/GO, não foi esse o script. O Tricolor do Pici conseguiu, progressivamente dentro da partida, sair de uma situação de dominado à de dominador, de inferiorizado em volume de jogo e organização tática a massacrador. Por isso, pelos prismas de maior consistência a que fizemos referência, a derrota do Fortaleza pode até ter representado um justo castigo dentro do plano geral do desempenho da equipe ao longo da competição. Contudo, ao focalizarmos somente a partida de ontem, podemos dizer que assistimos a mais uma daquelas homéricas injustiças que só o futebol sabe produzir.

Conclusão. Sem dúvida, para o Fortaleza a tarefa de permanência na 2ª Divisão do Brasileirão adquiriu ares de dramaticidade.

Sem Mota o ataque do Ceará desbota

A concepção da força coletiva de um time de futebol é uma realidade inquestionável – sabemos. Por isso, por razões de bom senso e coerência, não se deve supervalorizar a individualidade. E sobre isso, os exemplos estão aí aos borbotões.

Mota representou acréscimo ao ataque alvinegro, e justo em um momento de decisão, em que as equipes abrem a ‘borboleta do turbo-compressor’, sua ausência passa a ser fator determinante para uma sensível diminuição do poder de fogo da equipe.

Do ponto de vista da Portuguesa, seu técnico Wagner Benazzi passou apuros no 1º tempo, mas soube modificar o panorama da partida, tanto pelas substituições que promoveu como pelas mudanças táticas adotadas.

Já a PC Gusmão faltou um pouco mais de inspiração, mas também é preciso que se leve em conta as poucas opções de banco de que ele dispunha.

Vale pontuar dois aspectos determinantes para a queda de produção da equipe no 2º tempo: a queda do rendimento físico e a baixa produção individual de alguns atletas. Além, é claro, dos méritos da equipe adversária.



BREVES E SEMIBREVES ®

Luis Carlos

Nenhuma novidade. Apenas a eclosão de um problema pré-anunciado. Não que o ‘hulk’ não tenha falado algumas verdades. Tanto falou que se espera que daqui por diante, alguns de seus opositores dentro do grupo passem a jogar mais, bem mais.

Mota

De sua passagem anterior pelo Ceará até aqui, o futebol de Mota evoluiu. Mais maduro, mais cooperativo, mais tático e mais conhecedor dos atalhos dos campos. Apesar da estrondosa característica coletiva do time alvinegro, a ausência de Mota se faz sentir, a ponto de quase desfigurar o ataque de sua equipe.

Roberto Fernandes

Sem extremismo, seja para mais ou para menos, é justo que se diga que o atual comandante técnico do Fortaleza tem passado uma imagem de muita competência, aliada a boa dose de transparência. Suas falas, em regra, têm carregado o componente da lucidez, no mais das vezes elucidando questões e emprestando aos fatos do futebol uma maior compreensão por parte do público.

Não se enganem

A saída de Luis Carlos também foi uma medida que serviu de estímulo, para que o técnico Roberto Fernandes continuasse a frente do comando técnico leonino. E se Fernandes for até o final da competição, estará dando uma demonstração de muita coragem.

Ficaram devendo

Na partida contra a Portuguesa, em Mogi Mirim, os atletas Geraldo, Welington Amorim e principalmente Fábio Vidal estiveram abaixo do que podem render. Foram aplicados, mas ficaram devendo tecnicamente. Isso comprometeu o rendimento ofensivo da equipe, sobretudo no 2º tempo.

Discordo

Querem transformar o zagueiro Everaldo em mais um bode expiatório dos problemas do Fortaleza. Everaldo não é mau jogador. Tem razão o técnico tricolor, que na atual situação passou a prestigiar o rapaz.