Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, junho 22, 2016

Uma reflexão sobre o estreitamento da relação entre o futebol e a política


Futebol e Política: A revolução virá das arquibancadas

Victor de Leonardo Figols

Nessa última parte da série Futebol e Política, vamos tratar das torcidas que se organizam para construir um futebol mais justo, seja questionando a estrutura mercantil vigente no esporte, seja lutando por direitos civis dentro e fora dos estádios.
É difícil pontuar em qual momento histórico as torcidas começaram a assumir pautas políticas e levar para o terreno de jogo. Se lembrarmos da história FC Barcelona, ou mesmo do Athletic Club, as lutas separatistas dos dois clubes datam dos primeiros anos do século XX, e se intensificam depois dos anos 1940, a ditadura de Francisco Franco. Na Itália, como mencionamos no texto anterior, a torcida dos dois clubes da capital tomaram rumos diferentes, os torcedores da Lazio assumiram o caminho da extrema-direita, enquanto os da Roma, em sua maioria, assumiram uma postura de esquerda. Na Alemanha, devido ao passado nazista, muitas torcidas adotaram posturas mais progressistas, outras mais a esquerda, como é o caso do St. Pauli.
Talvez a Inglaterra seja o país mais fácil de localizar o envolvimento das torcidas com a política. Foi em meados dos anos 1980 que torcedores assumiram uma postura de resistência, principalmente com relação aos ataques a sociabilidade que a política anti-hooligan da Margaret Thatcher proporcionava através do Relatório Taylor. É bem verdade que as políticas da Dama de Ferro assumiram os interesses da classe média alta, colocando na marginalidade as classes mais baixas (curiosamente o maior número de torcedores hooligans pertenciam a essas classes mais baixas) que sofreram com restrições tanto no âmbito político-social, quanto cultural.
Todavia, antes dessa cultura de resistência tomar conta das torcidas inglesas, é preciso lembrar que o movimento começou timidamente. Como bem aponta o sociólogo Richard Giulianotti [1], os primeiros movimentos de contestação foram por meio dos fanzines, uma espécie de revistas feita por torcedores para os torcedores (seguindo a cultura Punk dos anos 1970, “do it yourself”), em que discutiam diversos assuntos com relação ao jogo, e que aos poucos a pauta política começou a aparecer. Foi após tragédia de Heysel (1985), um confronto entre torcedores do Liverpool (Inglaterra) e da Juventus (Itália) causou a morte de 39 pessoas e feriu outras 600, que o combate ao hooliganismo se intensificou, e em resposta, a produção de fanzines mais contundentes, denunciando a política perversa por trás do discurso anti-hooligan, também cresceu.
Rapidamente os fanzines se tornaram um dos principais veículos de comunicação entre os torcedores para discutir formas de resistência, além de denunciar a expulsão das classes populares dos estádios. Essa discussão deixou os papeis e se tornou pública, diversos coletivos começaram a se organizar em protestos que questionavam as práticas comerciais do clube. Ainda que não fosse denominado assim, esse pode ser considerado um dos primeiros movimentos contra um novo futebol que estava sendo colocado na Inglaterra do começo dos anos 1990, o futebol moderno.
Como bem mostra Irlan Simões [2], o movimento “contra o futebol moderno” surgiu de forma oficial 1999, quando torcedores da AS Roma fizeram um manifesto se posicionando contrários as mudanças que o futebol sofrera na última década, isto é, a crescente mercantilização, espetacularização e midiatização do futebol. Os clubes da Europa viram o futebol se tornar uma grande indústria, comandada, sobretudo, pelas grandes empresas de comunicação. Em outras palavras, o futebol passou a ser visto como um produto, e os clubes como empresas.
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Torcedores do São Paulo protestam contra o futebol moderno. Foto: Fábio Soares/futeboldecampo.net.
Com a crescente mercantilização do esporte, os torcedores assumiram o papel de consumidores. A relação clube-torcedor foi deformada, e transformada em uma relação entre cliente e empresa, assim, abriu-se um abismo entre o clube e sua torcida. Nesse sentido, esse futebol moderno corrói todas as relações entre clube e torcida, e afetam diretamente as tradições clubísticas.
Foi dentro deste contexto que diversas torcidas se organizaram para questionar os altos valores gastos nas contratações de jogadores, a midiatização do futebol promovida pelas emissoras de televisão, a expulsão das camadas populares dos estádios, e consequentemente, a elitização dos estádios. O fato de o futebol ser tratado como produto, e o torcedor como consumidor era uma das principais críticas, as torcidas estavam se rebelando contra o sistema, contra o capitalismo.
Essa luta anticapitalista originou de maneira espontânea e orgânica diversos coletivos dentro das torcidas, e em alguns casos, até clubes de futebol. Na Alemanha, o St. Pauli foi praticamente refundado por torcedores que passaram a fazer a gestão do clube, colocando em uma perspectiva crítica a mercantilização do jogo. Questões como a luta contra o racismo, o machismo, a homofobia, e até mesmo contra xenofobia foram levadas para as arquibancadas. Na Inglaterra, o FC United of Manchester nasceu em resposta a mercantilização do futebol. Torcedores o Manchester United romperam os seus laços clubísticos quando o clube foi comprado por um milionário americano. Os torcedores decidiram fundar um clube mais representativo, ligado à origem operária da cidade de Manchester, e assim, passaram a questionar fortemente a mercantilização do futebol. No Brasil, a torcida Setor 2 resgata a origem operária do Juventus da Mooca e levantam uma bandeira contra altos valores de dinheiro que circulam no futebol, questionado os impactos da transformação do clube em empresa, que em larga medida, levaria a uma elitização das formas de torcer. Sobre essas três torcidas há um série produzida pelo blog O Campo e compartilhada aqui no Ludopédio [3].
Outra torcida com um grande protagonismo na luta contra futebol moderno é a Bukaneros, do Rayo Vallecano da Espanha. Trata-se de uma torcida fortemente ligada ao bairro operário de Vallecas, em Madrid, que questiona o abismo criado pela televisão espanhola entre os Real Madrid e Barcelona com relação aos outros times. O passado operário do bairro e do clube é resgatado, e pautas como o combate ao racismo, fascismo e homofobia são incorporadas à luta contra o futebol moderno.
Como já foi citado na segunda parte do texto, temos a torcida Brigate Autonome Livornesi do Livorno que é declaradamente comunista, e combate veementemente os torcedores ultras de extrema-direita. No Brasil, a Gaviões da Fiel vem demostrando atitudes bem progressistas, denunciando a forma como o futebol brasileiro vem sendo conduzido pela Rede Globo, CBF e FPF, mas também assumindo pautas mais abrangentes, como a denuncia da Máfia da Merenda no Estado de São Paulo, e recentemente se posicionaram contrários ao Golpe a presidenta Dilma, além buscar medidas para reduzir os gritos homofóbicos no estádio de Itaquera.
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Torcida do Corinthians com sinalizadores em partida pela Libertadores de 2016. Foto: Fábio Soares/futeboldecampo.net.
Seguindo essa postura de esquerda, temos a Galo Marx do Atlético-MG orientação marxista, e a Porcomunas do Palmeiras de que agrega as diversas releituras do marxismo. Em ambos os casos, o que está em discussão é a luta contra as mazelas do capitalismo, dentro e fora dos estádios. Também há um esforço por parte dessas torcidas em se resgatar a tradição operária desses clubes. Além desses dois grupos, temos diversas outas torcidas que levantam uma bandeira progressista, como é o caso das torcidas antifascista. Talvez a mais antiga seja a Ultras Resistência Coral, Ferroviário Atlético Clube do Ceará [4].
Em uma busca rápida no Facebook, foi possível localizar 28 coletivos de diferentes clubes brasileiros que assumem a postura antifascista, faço questão de citar todos eles: Ação Antifascista Joinville, Atlético Mineiro Antifascista – GALO Antifa, B16 – Bangu Antifascista, Bahia Antifascista, Botafogo-SP Antifascista, Ceará S.C. Antifascista, Clube de Regatas do Flamengo – Antifascista, Clube do Remo – Antifascista, Coral AntiFa, Corinthians Antifascista, Coritiba Antifascista, Fluminense Antifascista, Fortaleza E. C. – Antifascista, Galo Ultras Antifa, Grêmio Antifascista, Guarani Antifascista, Inter Antifascista, Internacional de Porto Alegre Antifascista, Londrina Esporte Clube Antifascista, Palmeiras Antifascista, Palmeiras Punk Rock – Antifascista, Ponte Preta Antifascista, Punk Santista, Santos Antifascista, Santos FC Antifascista, São Paulo FC – Antifascista, Vasco Antifascista.
É claro que existem outros coletivos de torcedores antifascistas que não se organizam por meio da rede-social, mas essa quantidade levantada mostra o quanto o futebol vem se politizando e assumindo pautas que buscam mudar não apenas o futebol, mas também a sociedade como um todo. Uma leitura interessante, já que se entende que o futebol não pode ser desvinculado da sociedade.
Existem outros coletivos de torcedores com pautas políticas menos abrangentes, mas de extrema importância, já que buscam reconhecimento, representatividade e respeito. É o caso das torcidas gays, como a Galo Queer, Bambi Tricolor, Palmeiras Livre e Gaivotas Fiéis que lutam pelo fim do preconceito dentro e fora dos estádios. Também há as torcidas femininas, que lutam, principalmente, contra o machismo. Talvez a mais conhecida delas seja a Schickeria München, do Bayern München, da Alemanha.
Se em uma definição simples, a torcida de futebol consegue agregar diversos indivíduos, em suas diferenças, em um único elemento: a paixão clubística. Ideias como igualdade, unidade e pertencimento estão colocadas entre os seus torcedores. Essa ideia de igualdade e pertencimento pode ser levada para o âmbito político, assim, as torcidas de futebol se uniriam em torno de um ideal, que não é mais clubístico, e sim político. O maior exemplo de união de torcidas é o caso do grupo Istanbul United.
Em 2013, durante os protestos na Praça Taskim, na Turquia, as três torcidas dos principais clubes de Istambul se uniram. Torcedores do Galatasaray, Fenerbahçe e Beşiktaş, que tinham um longo histórico de rivalidade e brigas entre eles, se uniram em nos protestos que começaram em torno da demolição do Parque Gezi, e que rapidamente tomou grandes proporções. O grupo ajudou os outros manifestantes no combate à repressão policial durante os protestos, uma vez que já possuíam uma longa experiência com os confrontos desse tipo, além disso, os torcedores engrossarem o movimento contra o AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento) do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan.
A ideia do Istanbul United é o caso mais concreto de como o futebol pode ser usado como ferramenta de luta e resistência. E mais do que isso, é um ótimo exemplo de como a união das forças das torcidas pode mudar a ordem vigente.
Ao questionar a lógica mercantil do futebol globalizado, a elitização dos estádios e as formas autoritárias dentro e fora do ambiente esportivo. Ao levar para as arquibancadas pautas como a luta contra o racismo, machismo, homofobia e a xenofobia. Ao colocarem em discussão um futebol mais justo, e uma sociedade mais justa, as torcidas assumem atitudes revolucionárias. São lutas anticapitalistas e antissistema, portanto, revolucionárias.
A revolução será com bandeirões, tambores e sinalizadores!
Referências
Recomendo

Dívidas dos três clubes mineiros supera a casa dos R$ 800 milhões







Dívida dos clubes brasileiros da Série A


terça-feira, junho 21, 2016

O futebol brasileiro não precisa de heróis e vilões. Precisa de ideias e debate

O esporte mais popular do país anda mal das pernas, mas não acabou com os 7 a 1 do Mineirão
Por: Maurício Noriega / Universidade do Futebol

No Brasil dos dias de hoje quase tudo que se discute descamba para o dualismo fundamentalista. Ou você é do bem ou é do mal. Tudo depende de quem pensa ou não como você. O futebol não poderia escapar dessa armadilha tão brazuca. Preso a esse conceito que flerta com o fanatismo sectário o esporte – ainda – mais popular do País deixa de ser debatido com a seriedade e profundidade que precisa e merece.
O que vem sendo feito de errado há tanto tempo é de tal forma cristalino que não carece de demonização de pessoas e propostas. Assim como a santificação de ideias e defensores pouco ou nada contribui. O futebol brasileiro anda mal das pernas, mas não acabou com os 7 a 1 do Mineirão. Decretar que nada de bom existe em todas as esferas do futebol nacional é um equívoco perigoso – assim como negar que há muita, mas muita coisa errada e há muito, mas muito tempo.
Embora tente transmitir uma imagem de mudança e passar à opinião pública a mensagem de que está aberta ao debate e a novas ideias, a CBF segue prisioneira de pensamento e métodos cartesianos. Ao inventar uma comissão de notáveis para debater ideias e propostas para seu produto, a entidade parte da premissa de que abre suas janelas para entrada de ar fresco. Mas no fundo permite a entrada apenas do mesmo ar que vem sendo respirado há tempos, ao convocar um time formado por uma massa de apoiadores históricos e defensores do modelo vigente e evitar o confronto de ideias que poderia acontecer de forma saudável se fossem chamados ao debate personagens de pensamento diametralmente oposto e com visões antagônicas. Somente desse choque de propostas surgirão ideias efetivas. Quando estão à mesa partidários de uma mesma forma de pensar não há debate, apenas confirmação e perpetuação.
Perde-se tempo e energia preciosos no futebol brasileiro com o chamado desvio de foco. Quase sempre divididos por interesses individuais e necessidades urgentes provocadas por péssimas administrações, os clubes perdem força. Trazem para a discussão temas de arquibancada e boteco e deixam passar generosas oportunidades de entendimento ou, pelo menos, discussão de novas propostas.
A maioria dos clubes de futebol do Brasil tenta vender uma imagem de penúria, falta de apoio, abandono e desvalorização. Nos últimos 20 anos o futebol brasileiro recebeu investimentos como nunca antes. O dinheiro jorrou farto, vindo de cotas de TV, patrocínio de camisa, bilheteria, programas de sócio torcedor, marketing, venda de atletas. Quantos foram os clubes que efetivamente se aproveitaram desse momento, sanearam suas finanças e modernizaram suas administrações? Quantos se desvincularam da prática do mecenato? Certamente uma minoria. Quantos aumentaram suas dívidas e se penduraram em empréstimos bancários e negociações nas quais tiveram de abrir mão de generosas fatias de seus principais ativos em termos de mercado: os atletas?
Ao decretar verdades absolutas alguns debatedores sufocam o debate. Conceitos como “espanholização” ganham as redes sociais e quase nunca chegam acompanhado de dados e pesquisa sérios, relativizados. Pelo contrário. O modelo briga de arquibancada se impõe e a oportunidade se perde. Os pontos discordantes em termos de calendário seguem pelo mesmo caminho. Eu, por exemplo, sou radicalmente contra a adequação de nosso calendário ao das grandes ligas europeias. Mas procuro ouvir com atenção quem é favorável. Porque sou contra? Porque acredito que o mundo tem suas diferenças e particularidades e o futebol não está acima delas. Inclusive da questão geográfica, dos hemisférios, das estações do ano etc. Porque o calendário da Espanha tem esse formato, alguém já se perguntou? Simplesmente porque segue calendários importantes para aquele país, entre eles o escolar e o parlamentar, por exemplo. Além de evitar jogos nos meses mais quentes do ano e preservar o verão para as férias dos atletas profissionais, como quase sempre ocorre em qualquer país com grandes variações de temperatura.
Se alguém acha sinceramente que simplesmente atrelar nosso calendário ao dos maiores clubes do planeta resolverá alguma coisa, porque então não funcionou na Argentina? Ou não seria mais produtivo buscar uma solução que atendesse aos interesses dos clubes brasileiros dentro da realidade brasileira em termos de calendário? Porque se fosse fácil permito-me uma analogia: se adotássemos a mão inglesa na direção nosso trânsito alcançaria níveis ingleses ou japoneses de segurança? Duvido, porque a falta de educação continuaria vigente, trafegando pela direita ou pela esquerda. Não se pega a realidade de países de pequena extensão territorial e grande desenvolvimento humano da Europa e simplesmente se procura encaixá-la no Brasil. Como se fosse uma brincadeira de mapas, ao sobrepor o da Espanha e da Inglaterra, por exemplo, ao nosso, sobraria um espaço continental. Espero que a analogia seja compreendida.
Outro ponto que viralizou: nossos treinadores estão ultrapassados. Será? Todos eles? Porque não prestar mais atenção em trabalhos interessantes que estão sendo feitos, não apenas por figuras estelares, mas em equipes de menor expressão e nas categorias de base? Existe muita gente sintonizada com o que há de mais moderno em termos de treinamento e tática e procura “traduzir” essa informação em conhecimento adaptado à nossa realidade.
A alma nacional anda tão contaminada pelo espírito de chimangos contra maragatos (referência ao Sul, que sempre traz boas ideias e mostra Grêmio e Internacional buscando seus caminhos mesmo sem estar no epicentro econômico e político) que o bem e o mal estão claramente determinados em alguns debates e debatedores. Boas ideias chegam do Nordeste, com exemplos de reconstrução como o Santa Cruz e de consistência como o Sport. Além de desejos sinceros de mudança de conceito como o Bahia, por exemplo. Infelizmente, alguns debatedores e formadores de opinião se arvoram profetas da guerra santa e partem para uma cruzada suja que joga no mesmo balaio estratégia empresarial e opinião individual. Sempre buscando refúgio na memória seletiva. Covardia.
Não existe verdade absoluta e nem solução definitiva. Para preservar os atores e estrelas do espetáculo é preciso ouvir o amplo espectro do negócio. Todos os jogadores, com o perdão da redundância temática, devem participar amplamente, colocar suas necessidades, desejos e buscar uma solução ampla e adequada à nossa realidade. Respeitando diferenças de clima, sotaque e propostas.
É uma ilusão acreditar que não existirão times grandes, médios e pequenos, equipes de maior torcida e apelo financeiro, político e midiático. É assim no mundo todo. A Juve é odiada por quase todos os demais torcedores da Itália por isso. O Real Madri na Espanha, idem. O Barcelona ainda goza de uma espécie de licença poética pelos tempos de resistência catalã, mas seu poderio incomoda tanto quanto o do grande rival. Na França praticamente não existe mais disputa. Que dirá da Alemanha? Em quase todas as grandes nações do futebol há dois, três, quatro times disputando títulos. Grandes fortunas individuais e gigantescas corporações (algumas com conexões perigosas) estão dominando o mercado. O Brasil tem pelo menos 12 grandes clubes de expressão nacional. Ainda conta com um fenômeno local que são os grandes clubes de expressão regional. Em vez de criar problemas isso deveria ser saudado como uma grande oportunidade para melhorar e profissionalizar métodos e torneios e distribuir melhor a geração de riqueza. Nos últimos 25 anos, 11 clubes diferentes venceram o Campeonato Brasileiro. Em igual espaço de tempo, 15 equipes diferentes conquistaram a Copa do Brasil. Impossível não tirar desses dados uma lição de produtividade.
Essa riqueza não pode fugir aos olhos de quem debate. O clima de guerra santa provoca cegueira intelectual e apaga a chama do pensamento claro e das boas ideias. A mudança urge, mas precisa vir de um debate amplo, geral e irrestrito. Sob pena de, ao propor heróis, surgirem novos vilões.