Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

terça-feira, abril 30, 2013

Como você enxerga o jogo?

Analisar uma partida de futebol vai muito além do óbvio

Felipe D. Bressan* / Universidade do Futebol

1. INTRODUÇÃO

São inegáveis os inúmeros avanços que o futebol vem sofrendo nos últimos anos. E, ainda que lentamente, essa evolução já tem se apresentado em alguns setores do futebol brasileiro.

Apesar de ser uma das modalidades esportivas que mais resistiu à evolução pela ciência, já se faz presente o aparecimento de novas metodologias que vem rompendo com o pragmatismo habitual.

Com isso a forma de se observar e analisar uma partida de futebol também se modifica. Faz-se necessário entender e estudar o jogo de futebol em sua complexidade.

2. DISCUSSÃO

Pode-se definir o futebol como uma estrutura complexa composta por duas subestruturas (equipes) que interagem entre si continuamente, em uma relação de oposição, através de seus componentes (jogadores, linhas) e em relações dinâmicas de forças representadas pelas fases do jogo na qual se buscam organizações eficazes (DI PASQUALE, 2012).

As observações e análises vão muito além do sistema de jogo de uma equipe em campo (1-4-3-3, 1-4-2-3-1, 1-4-4-2, etc.), de quais são os referenciais de marcação os jogadores durante a partida, da porcentagem da posse de bola, do número de passes certos ou errados, entre outros dados.

Uma forma de se visualizar como essa análise de forma simplista seria observar duas equipes que partem de um mesmo sistema de jogo (-1-4-2 3-1), porém se comportam em campo de maneiras totalmente deferentes. 

Essas equipes podem utilizar-se de princípios distintos para a resolução de um mesmo problema levando a um modelo de jogo que as diferem e as identificam em campo. Portanto, sabemos de fato o que estamos observando em um jogo de futebol?

Como associar esse tipo de informação a complexidade do jogo sem que se tornem apenas “dados de efeito sem efeito aparente”?  Por ser uma estrutura complexa, o jogo de futebol possui elementos que constituem uma organização coletiva que não pode ser compreendida pela análise descontextualizada das diferentes partes que a compõem (PIVETTI, 2012).

Antes de qualquer análise deve-se entender com clareza a estrutura do jogo e as relações dinâmicas que ocorrem no durante uma partida.

Para tanto, e fundamentalmente, há a necessidade de se compreender a Dinâmica do Jogo e o que vem a ser um Modelo de Jogo. Em que se baseiam as ações de uma equipe de futebol nos diferentes momentos de uma partida, para a partir desse ponto poder-se compreender e avaliar o todo.

O fato é que esse artigo não intenciona apresentar os pormenores de um jogo de futebol e entrar em discussões muito complexas, mas de expor de forma resumida e objetiva a estrutura de uma partida de futebol e gerar uma reflexão ao leitor sobre determinado ponto de vista e sua real compreensão ao realizar uma analise do jogo. Contudo se necessita definir a Dinâmica do Jogo e o Modelo de Jogo.

A Dinâmica do Jogo consiste em sucessivas ações nas quais as equipes passam de uma fase ofensiva para uma fase defensiva ou o inverso, através da perda ou da recuperação da posse da bola. Entre uma fase defensiva e uma fase ofensiva encontram-se as fases de transição defensiva (ataque-defesa) e transição ofensiva (defesa-ataque).

Não menos importante, acrescenta-se às fases do jogo as ações bolas paradas ofensivas e defensivas, que atualmente possuem uma grande parcela para o resultado final de uma partida.



O que se visualiza no diagrama supracitado (figura 1) é cada uma das fases que podem ser observadas durante uma partida de futebol e as possíveis ações gerais subsequentes de uma equipe em caso da perda ou da recuperação da posse da bola.

Cada uma dessas ações gerais é marcada por determinados princípios e subprincípios, sejam eles individuais ou coletivos, que conferem identidade a uma equipe de futebol dentro do jogo.

Esses princípios e subprincípios são as ferramentas utilizadas pela equipe ou pelo jogador para a resolução dos problemas que se apresentam durante uma partida.

O princípio de jogo é o início de um comportamento que um treinador quer que sua equipe assuma em termos coletivos e os jogadores em termos individuais. Deste modo os princípios de jogo potencializam determinados comportamentos. (SILVA, 2008)

Essas ações pré-determinadas estão baseadas no Modelo de Jogo de uma equipe que pode ser definido como o sistema de relações das unidades de resoluções táticas que configuram uma equipe de futebol definida pelos princípios e ideais do jogo. De uma maneira mais informal, seria estabelecer a forma como o treinador deseja que sua equipe jogue em cada uma das fases do jogo.

É claro que esse modelo não é rígido, uma vez que pode sofrer algumas mudanças circunstanciais dependendo do adversário que se vai enfrentar. Porém existe sempre um padrão de ações que não se modificam e com a sequência dos treinamentos e jogos trarão consistência ao jogar dessa equipe e do atleta.

Ao analisar uma partida de futebol alguns problemas gerados pela oposição característica do jogo devem ser resolvidos, gerando questionamentos sobre quais princípios ou subprincípios do jogo seriam os mais adequados para determinada equipe em um momento específico.

Exemplos:

O que fazer ao perder a posse da bola? Tentar recuperá-la imediatamente ou temporizar e posicionar-se defensivamente? Depois de posicionado defensivamente qual o comportamento da equipe? Pressionar o adversário de forma organizada? Realizar uma defesa de contenção marcando atrás da linha da bola? Realizar uma defesa combinada?

Ao recuperar a posse da bola qual deve ser o comportamento da equipe? Ampliar o campo de jogo ou compactação? Realizar um contra-ataque ou um ataque organizado? Esse ataque organizado deve ser um ataque combinado ou direto?

3. CONCLUSÃO

Como havia mencionado no início deste artigo, não intenciono aprofundar ou entrar em discussões muito complexas, mas gerar reflexões sobre a análise do jogo.

O tema é extenso e seriam necessárias centenas de páginas para explorá-lo de forma minuciosa e ainda sim, talvez não se esgotassem todas as possibilidades, porém apenas com essa simples introdução se pode remeter a sua complexidade.

Se focarmos a análise do jogo simplesmente no posicionamento dos atletas em campo, nos referenciais de marcação, em dados numéricos aleatórios que não se associam ao modelo de jogo de determinada equipe, estaremos compreendendo de fato o que está acontecendo no jogo?

As respostas às perguntas estão presentes no modelo de jogo das equipes e na dinâmica do jogo.

Não existe resposta certa ou errada e sim o que melhor soluciona os problemas apresentados pela oposição gerada pelo adversário durante uma partida.

Por isso finalizo com um questionamento, o mesmo com a qual iniciei essa explanação: sabemos de fato analisar um jogo ao assistirmos uma partida de futebol?

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DI PASQUALE, R. La complessità del gioco del calcio e la metodologia operativa., 4o Convegno Sul Calcio Giovanile, 2012.

PIVETTI, B. M. F. Periodização Tática: o futebol arte alicerçado em critérios. São Paulo, Phorte Editora, 2012.

SILVA, M. O desenvolvimento do jogar segundo a periodização táctica. Tuy (Pontevedra), Espanha, MCsports, 2008.

*Bacharel em Esporte pela Universidade de São Paulo (USP), treinador de Futebol. 

Contato: homebressan@terra.com.br

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Recriação dos clubes] Pacotão de reforços

No Brasil, corre-se o risco de insucesso na tentativa de enquadrar o futebol a regras, se a CBF não estiver envolvida na construção do sistema de licenciamento

Rodrigo Barp / Universidade do Futebol

Vem aí um grande pacote de reforços prometido para salvar o futebol brasileiro da iminente insolvência econômica - historicamente acumulada – e instituir, em mais uma das tentativas, um marco regulatório no Brasil.

Junto da grande anistia aos clubes de futebol do país, o Governo Federal e o Ministério do Esporte pretendem incluir, no marco de gestão e responsabilidade fiscal, a limitação dos gastos com salários dos jogadores e comissão técnica, do tamanho dos elencos, além de alinhar o calendário de competições do Brasil com o da Europa.

A Europa já vem discutindo e implementando medidas no futebol continental, a partir do Sistema de Licenciamento de Clubes da Uefa, conjunto de normas e procedimentos regulatórios que versam sobre melhores práticas de governança corporativa, dirigidos aos clubes e associações nacionais.

De fato, as associações nacionais também se envolvem diretamente na aplicação de tais medidas, no âmbito de sua atuação nacional, e isso é um dos fatores de êxito do sistema.

Recentemente, após o período de adequação de clubes e associações ao sistema, alguns clubes foram punidos por não cumprirem com a previsão de respeitar as diretrizes orçamentárias.
As sanções variam de perda de pontos até a eliminação de competições continentais.

No Brasil, corre-se um grande risco de insucesso nessa tentativa de "enquadrar" o futebol a tais regras impositivas, se a própria CBF não estiver envolvida na construção do sistema de licenciamento.

Aldo Rebelo e Toninho Nascimento

Não só de fato como de direito, a autonomia desportiva que a Constituição Federal lhe assegura e, consequentemente, aos clubes e federações estaduais, permite à CBF decidir quando e, se, deseja por em prática esse marco regulatório.

A não ser que o movimento para a instauração do licenciamento seja originário da Fifa e impulsione, ou até mesmo, obrigue a CBF a implantá-lo por aqui, dificilmente a iniciativa do Governo e Ministério do Esporte ganhe legitimidade junto ao futebol brasileiro, além da questão formal-legal definida na legislação federal.

Se for, obviamente, apenas para anistiar os clubes e não se lhes exigir, como contrapartida, o estabelecimento de melhores práticas de governança corporativa, em áreas estratégicas da gestão, como recursos humanos, jurídica, ética, administrativa, desportiva, financeira e de responsabilidade social, ficará muito fácil e tranquilo. Afinal, é muito simples proibir ou permitir.

Muito mais complexo é se criar um sistema baseado na ampla discussão, na educação e informação, visando regulamentar e contribuir com a evolução da gestão do futebol brasileiro, chamando a todos para discutir e assumirem responsabilidade sobre este marco regulatório – CBF, clubes, federações, atletas, poder público.

Nesse sentido, o horizonte pode ser positivo, não apenas impositivo.
E, no fim das contas, nós todos pagaremos a conta disso tudo.
Já pagamos outras tantas vezes. Não pretendo ver meu dinheiro, recolhido através dos impostos, sustentando instituições falidas que não entendam seu relevante papel social e assumam o ônus decorrente disso.

Porque o bônus já estamos cansados de oferecer.

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sábado, abril 20, 2013

Mesmo desigual, futebol brasileiro foge de 'espanholização' e caminha para modelo inglês

Bruno Doro e Rodrigo Farah 
Do UOL, em São Paulo

Em 2011, os clubes brasileiros passaram a negociar individualmente quanto receberiam da TV pela transmissão de seus jogos. O resultado disso foi que Corinthians e Flamengo passaram a ganhar muito, mas muito mais do que seus rivais. Especialistas logo alertaram contra a “espanholização” do futebol nacional, lembrando que Barcelona e Real Madrid concentram 55% da arrecadação dos clubes espanhóis. O UOL Esporte, no entanto, teve acesso a um estudo que mostra o Brasil mais próximo de outro gigante europeu: a Inglaterra.

“A minha primeira hipótese era de que caminhávamos em direção ao modelo espanhol, que conta com a polarização Real e Barcelona. Mas o estudo mostrou que estamos muito mais próximos da situação inglesa. E o motivo para isso são as características dos clubes brasileiros”, analisa Amir Somoggi, especialista em marketing e gestão esportiva e autor do estudo. “Corinthians e Flamengo realmente recebem mais das TVs e isso faz com que seu potencial de patrocínio seja maior, mas a distância para os outros não é tão grande, graças a ações de marketing que equilibram um pouco essa balança”, completa.

O modelo espanhol

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O futebol espanhol vive um momento único em sua história. A sua seleção é considerada a mais forte do mundo e seu campeonato nacional ganhou uma escala global de audiência. Tudo graças ao fortalecimento de seus dois principais clubes: Barcelona e Real Madrid. O problema é que esse fenômeno não foi seguido pelos demais clubes.

Em 2002, Barça e Real arrecadavam 38% do total gerado pelos 20 clubes do Campeonato Espanhol. Em 2012, essa marca deve atingir os 55%. “O processo de concentração de receitas nas mãos de apenas dois clubes foi prejudicial para a Liga como um todo, que se enfraqueceu. A diferença dos dois gigantes em valores arrecadados em comparação com os demais clubes é gigantesca. Nenhuma Liga do futebol mundial tem tamanha concentração de riqueza em apenas dois clubes”, analisa Somoggi.

A arrecadação total do futebol espanhol, em 2002, estava na casa dos 776 milhões de euros. Em 2012, pulou para 1,8 bilhão, um aumento de 134%. No mesmo período, Barça e Real aumentaram sua arrecadação em 242% (de 291 milhões para 996 milhões). E a diferença para os demais clubes chegou a um patamar insustentável: enquanto Real fatura 480 milhões e o Barcelona, 451 milhões, o Valencia, terceiro colocado na lista, ganha apenas 120 milhões de euros.

A situação brasileira

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Esse abismo não aparece no futebol brasileiro. Mesmo com Corinthians e Flamengo ganhando muito mais com TV do que seus rivais, a diferença de arrecadação é menor. Em 2011, por exemplo, os dois clubes receberam, somados, R$ 206 milhões (R$ 112 mi do Corinthians, R$ 94 mi do Fla) da Globo. O terceiro clube da lista, o São Paulo, recebeu apenas R$ 67 milhões, mais de 40% a menos do maior valor.

Em arrecadação total, somando bilheterias e ações de marketing, no entanto, a diferença é bem menor. O São Paulo foi o segundo time que mais ganhou no país em 2011, com R$ 226 milhões, contra R$ 290 mi do Corinthians. O mesmo acontece com o Internacional, terceiro da lista: mesmo recebendo da TV apenas R$ 51 milhões em 2011, arrecadou R$ 198 mi na temporada. O Flamengo, segundo na lista de TV, é só o quinto em arrecadação, com R$ 185 milhões.

“As ações de marketing fazem a diferença. E o Internacional é o maior exemplo disso. Tem um programa de sócio torcedor muito organizado e, com isso, consegue arrecadar mais em bilheteria do que o Corinthians, que tem uma torcida muito maior. Em contra-partida, o Flamengo nem mesmo tem um programa de sócio torcedor ativo”, analisa Somoggi.

O modelo inglês

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Esse equilíbrio que o Brasil mostra aproxima o modelo verde-amarelo muito mais ao que acontece na Inglaterra, que conta com um grupo de quatro ou cinco clubes grandes. Na última versão do relatório Football Money League, informativo da consultoria Deloitte sobre a movimentação financeira do futebol, oito clubes ingleses aparecem entre os 20 mais ricos da Europa - cinco deles entre os dez primeiros.

A explicação para tantos times fortes economicamente é, justamente, a divisão das cotas de TV. Por lá, a negociação é coletiva: os times recebem cotas básicas iguais, mas o valor sobe de acordo com rendimento e número de partidas televisionadas. Com isso, os times grandes recebem mais, mas o sistema da meritocracia garante que a diferença não seja esmagadora, como no caso espanhol.

“É um modelo muito mais racional do que o brasileiro. O ideal era adotar a postura alemã. Na Bundesliga, a divisão é igual e você tem, tirando o Bayer de Munique, um equilíbrio muito maior nas finanças”, fala Somoggi.

Preocupação com o futuro

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Apesar do cenário não ser tão negro quanto na Espanha, o Brasil ainda vive uma concentração de poder na mão de poucos clubes. E isso já está evidente nos resultados recentes dos campeonatos nacionais. Desde 2003, quando o modelo de pontos corridos foi adotado, times do estado de São Paulo levaram o título seis vezes (três do São Paulo, dois do Corinthians e um do Santos). Clubes cariocas foram campeões três vezes (Fluminense, duas, e Flamengo, uma) e Minas Gerais, com o Cruzeiro em 2003, só tem um título.

Isso já é resultado da divisão de finanças desigual: os quatro grandes de São Paulo, por exemplo, abocanharam, em 2011, 38% do total que os 20 clubes mais ricos do país arrecadaram no ano. Já os quatro grandes do Rio de Janeiro, pouco mais de 20%. Isso quer dizer que 40% dos times ficaram com quase 60% da arrecadação.

“Estamos indo na contramão do resto do mundo. Nesse modelo, a tendência à concentração é inequívoca. E o problema é que não é só na TV que isso está sendo usado. Em outras receitas também. A criação do sócio-torcedor com a Ambev vai nessa direção. Os maiores ganham mais benefícios e isso gera diminuição das torcidas dos menores. Uma parte dessa diferença é quase incontrolável. É questão de mercado e acontece no mundo inteiro. Mas nós estamos acelerando este processo”, analisa Fernando Ferreira, da Pluri Consultoria, especializada em análises do mercado do futebol nacional.

Com esse panorama traçado, os clubes admitem que o risco de uma polarização extrema assusta. Um dirigente ouvido pela reportagem, que pediu para não ser identificado, admitiu que foi contra a implementação do modelo de negociação individual das cotas de TV. “Não há como esse modelo ser bom. Você pode ganhar mais a curto prazo, mas só vai aumentar a distância para a concorrência. E você precisa de times fortes para ter um campeonato forte. E só com um campeonato forte você passa a valer mais. Fui contra na época e continuo sendo contra agora”, disse o cartola.

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Ferroviário] Só restam contas (Será?)

Tubarão da Barra entra em campo hoje contra Horizonte, mas maior desafio é redimensionar planilha de custos

A segunda etapa do Campeonato do Cearense foi duplamente ruim para o Ferroviário. Jogo a jogo, a derrocada o levou à última posição da tabela. Mas até mais impactante que a queda na tábua de classificação foi a perda financeira, ou melhor, o que o clube deixou de arrecadar por conta das péssimas atuações. O Tubarão da Barra está mais pobre. Antes de entrar em campo, hoje, às 16h, contra o Horizonte, no Domingão, a diretoria tem apenas uma certeza: de que precisa pegar lápis e papel e refazer as contas, urgentemente.

No 2º turno, o clube chegou a pagar para jogar, salvo raras exceções. Foto: Kid Júnior

A renda média do time proveniente exclusivamente do estádio caiu 88% da primeira para a segunda fase do certame. O Ferroviário, como mandante, embolsou líquido, R$ 6.368,13 em média, a cada partida realizada no primeiro momento da competição. Na segunda parte do Cearense, o clube passou a arrecadar apenas R$ 783,79 líquidos por jogo. A cada partida que saía de campo derrotado, o Tubarão deixava de por no bolso R$ 5.584,34. O impacto foi imediato. A diretoria coral teve de mudar tudo o que havia planejado.

Prejuízos

Segundo o presidente do clube, Edmilson Júnior, todo o planejamento financeiro do clube foi prejudicado por conta do desempenho irreconhecível do time em relação à campanha da primeira fase. "O trabalho que havíamos projetado ficou totalmente comprometido. Desarticulou bastante as nossas pretensões", revela, aceitando que tudo se resumiu em virtude do que ocorreu dentro de campo.

"Isso é reflexo dos resultados do time. A projeção do nosso planejamento administrativo financeiro foi completamente modificada. Redirecionamos a nossa planilha e estamos redimensionando os custos", conta.

O campeonato conheceu dois Ferroviários distintos, um em cada etapa da competição. O da primeira fase, do artilheiro da competição Giancarlo, com superávit de arrecadação em todos os jogos; o de média de público acima de mil torcedores por partida, e que finalizou os oito jogos como mandante com R$ 50.945 em caixa - dinheiro provindo exclusivamente da presença da torcida no estádio. E conheceu um outro Ferroviário extremamente distinto na etapa atual. O de arrecadações pífias, dos resultados negativos, da fraca presença de público. O time chegou a pagar para jogar, salvo raras exceções como o jogo contra o Ceará, onde levou pouco mais de R$ 25 mil para a Barra do Ceará.

No último jogo, por exemplo, quando perdeu para o Guarany de Sobral por 2 a 1 na Arena Castelão, apenas 200 pessoas foram ao estádio, sendo que 12 eram sócio-torcedores e 81 entraram com cortesia.

Perguntado sobre a possibilidade do contrato com o Castelão ter sido um erro, o presidente do clube considerou que não foi essa a razão do recuo na receita. "Os gastos são equivalentes. Foi futebol dentro de campo que resultou nisso. Se a equipe tivesse ido bem, seria diferente".

Futuro em 2013

Segundo ele, o Tubarão vai passar a equilibrar ainda mais as duas folhas de pagamento (a do passado e a do presente) até o fim do ano. "Fizemos uma opção, de honrar os compromissos passados e investir menos, buscando um equilíbrio. Vamos continuar até o fim do ano com uma despesa mensal entre R$ 45 mil a R$ 50 mil até novamente ter capacidade de investir".






 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Equilibrar custos e investir na prata da casa

O presidente do Ferroviário, Edmilson Júnior, acredita em duas saídas para o clube. Segundo ele, ambas já estão sendo feitas. "A primeira é fazer duas planilhas de custos, como já fizemos. Uma do presente e outra do passado. Já renegociamos 50% das 158 dívidas trabalhistas fora os demais compromissos", conta. Ele revela que, no início deste ano, a cada R$ 3 arrecadados pelo clube, R$ 2 eram destinados para dívidas antigas, e sobrava apenas R$ 1 para por no time.

A segunda providência, conforme Edmilson, é investir na prata da casa. "O Ferroviário voltou a ter divisões de base. A única saída nossa é formar jogadores, gerando ativos para depois negociá-los", confessa, ressaltando que, quando assumiu o clube, não existia categorias anteriores ao profissional. "Só havia dois jogadores e ainda estavam com os salários atrasados", conta.

Segundo ele, não dá para manter o clube apenas com renda de estádio. "Temos de gerar nossa própria renda e resgatar essa tradição do Ferroviário de revelar jogadores", observa.

Ilo Santiago Jr.
Repórter