Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, fevereiro 23, 2019

Clubes aprovam por unanimidade, e Campeonato Brasileiro terá VAR em todos os jogos

CBF arcará com os custos de tecnologia e infraestrutura, e as equipes vão ficar responsáveis pelas despesas com pessoal para utilização do árbitro de vídeo. Valor estimado por clube é R$ 350 mil


Por Gustavo Rotstein, Jorge Luiz Rodrigues e Raphael Zarko 

Clubes aprovam por unanimidade, e Campeonato Brasileiro terá VAR em todos os jogos

Os clubes aprovaram nesta sexta-feira, durante o Conselho Técnico da Série A do Campeonato Brasileiro, a proposta da CBF para que todos os 380 jogos da edição deste ano tenham o uso do árbitro de vídeo, popularmente conhecido como VAR (sigla em inglês para "video assistant referee"). A entidade vai arcar com os custos de tecnologia e infraestrutura, e as equipes vão ficar responsáveis pelas despesas de pessoal dos profissionais que vão operar a ferramento.
O árbitro de vídeo, que foi a principal novidade da Copa do Mundo da Rússia no ano passado, começou a ser usado no Brasil ainda em 2017. De lá para cá, foram 21 jogos com VAR no país: 13 na Copa do Brasil, três no Campeonato Carioca; dois no Campeonato Pernambucano; um no Campeonato Catarinense e outro no Campeonato Gaúcho.

Tecnologia do árbitro de vídeo já foi usado em 21 jogos em competições no Brasil — Foto: Daniel Teixeira/Agência Estado

O VAR chegou a ir a votação para o Campeonato Brasileiro, mas foi vetado pelos clubes com o placar de 12 a 7. Na época, o custo ficaria inteiro com as 20 equipes. Para este ano, a CBF mudou a proposta e decidiu se responsabilizar por arcar com os valores referentes à tecnologia e à infraestrutura, oferta aceita por todos os 20 clubes. O custo estimado para cada um deles é de R$ 350 mil para ter o árbitro de vídeo em todos os 19 jogos como mandante no campeonato.
Alexandre Faria, diretor de futebol do Vasco, que em 2018 se posicionou contra a inclusão do árbitro de vídeo no Brasileiro com o custo apresentado pela CBF, afirmou que o clube é favorável à tecnologia, mas faltaram algumas coisas para que essa fosse a posição também no ano passado:
- O Campello (Alexandre Campello, presidente do Vasco) não tinha posição contrária. No ano passado, tinha posição de mudar a regra no meio da competição, ele não é contrário ao VAR. A gente discutiu isso muito, é uma evolução, claro que precisa passar por adaptações e aprendizados, mas, como em qualquer evolução, isso é normal. O Vasco da Gama fica muito satisfeito, entendendo que a partir do momento em que o pessoal estiver muito bem treinado, vai ser muito interessante o uso do VAR - disse.
Faria afirmou ainda que a questão dos custos, desta vez melhor discutida, ficou "a contento". Em 2018, o custo apresentado pela CBF de R$ 50 mil por jogo a serem pagos inteiramente pelas equipes não convenceu os dirigentes.
- Foram apresentados todos os custos, a CBF fez uma licitação, os números foram apresentados e discutidos. Ficou a contento dos clubes.
Clubes vetam limitação da troca de técnicos
Em votação mais cedo nesta sexta-feira, os clubes vetaram a proposta da CBF de limitar a uma troca de técnico por equipe durante a edição deste ano do Brasileirão. As equipes também aprovaram o limite de 45 inscritos na competição, mas com duas ressalvas: está liberado o uso de jogadores sub-20 e é possível fazer cinco substituições na relação ao longo do torneio. Todos os 45 atletas precisam ser registrados até 30 de agosto.
- São as grandes medidas que foram aprovadas, uma delas não foi aprovada, que é a limitação do rodízio de treinadores nos clubes. Mas consideramos que foi um bom debate, bastante polêmico, com apresentação de quatro propostas, e a indicação de que isso seja amadurecido e discutido na próxima temporada - disse o secretário-geral da CBF, Walter Feldman.
Ele relatou que quatro propostas surgiram no debate e que acredita que o tema deve ser melhor discutido:
- Houve manifestações de todo tipo, experiências internacionais indicam que é uma boa medida. Mas é evidente que, como foi trazido pela primeira vez ao debate, criou uma discussão e várias propostas apresentadas. Por exemplo, que não fosse uma troca de técnico, fossem duas. Outra que fosse uma troca no primeiro turno e zerasse para o segundo. Outra para já amadurecer a ideia neste ano e implantar na próxima temporada. O que significa que é o início de um debate que interessa a todos - completou o dirigente.
O diretor de futebol do Vasco discursou na mesma linha de que é necessário um debate mais amplo sobre o rodízio de treinadores. Para Alexandre Faria, os clubes estão abertos ao que chamou de "evolução":
- Uma série de variáveis têm que ser discutidas, é um processo que precisa amadurecer. Por exemplo, se um treinador que vem um clube de fora e contrata, ou o treinador fica doente. Todos os clubes são favoráveis a essa evolução, esse assunto foi simplesmente adiado.
Outra novidade será a Supercopa do Brasil, novo torneio que vai opor o campeão do Campeonato Brasileiro e o campeão da Copa do Brasil no início da temporada seguinte - jogo único em local previamente determinado. A CBF divulgou a criação da nova competição na última quinta-feira.
- Foi a aprovada a possibilidade de no começo da temporada, a partir do dia 22 de janeiro, o campeão do Brasileirão disputar, em partida única, com o campeão da Copa do Brasil, em local a ser definido - disse Feldman.

Mudança na proposta por venda dos direitos internacionais do Brasileirão decepciona os clubes

Empresa oferece aproximadamente R$ 3 bilhões por 10 anos, mas descumpre edital de licitação


Por Jorge Luiz Rodrigues e Raphael Zarko 

Mudança na proposta por venda dos direitos internacionais do Brasileirão decepciona os clubes

Logo depois do Conselho Técnico da Série A do Campeonato Brasileiro, onde foi divulgada a tabela da competição e aprovado o VAR para todos os jogos, os 20 clubes da Primeira Divisão analisaram uma mudança na proposta pela venda dos direitos internacionais do campeonato.
Ha cerca de duas semanas, os clubes escolheram a do fundo americano "Prudent Equity Partners", que ofereceu US$ 800 milhões (aproximadamente R$ 3 bilhões na cotação atual) pelo direito de explorar os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro pelos próximos dez anos.
Do contrato, 10% iriam para a CBF, que repassaria aos clubes da Série B. O pagamento total do contrato seria dividido em dez anos - ou US$ 80 milhões (cerca de 300 milhões) por ano para ser rateado. Porém, não há a certeza de que os investidores possam cumprir com o prazo e as garantias, depois de descumprirem o edital de licitação.
Durante a semana, o "Prudent Equality Partners" acrescentou à proposta original os direitos sobre games e jogos na internet, placas virtuais de publicidade e um pedido de auditoria nos clubes. Nada disso estava previsto na proposta original.
- Ficou a impressão de que a nova proposta foi proposital para não fechar o acordo. Causou decepção aos presentes essa nova proposição, o que descumpre o edital - contou uma fonte da CBF, que participou da reunião.

Palmeiras é o atual campeão do Campeonato Brasileiro — Foto: Marcos Ribolli

- É surreal essa mudança. Como pode você ter uma propriedade sua para ser vendida e quem quer comprar querer auditar você? - ironizou um presidente de clube, presente à reunião, pedindo anonimato.
Por isso, pode haver uma reviravolta. Uma segunda proposta, feita pelo grupo "Sports Promotion", em conjunto com um investidor inglês, ofereceu US$ 460 milhões (em torno de R$ 1,7 bilhão) pelos mesmos 10 anos de contrato e somente pelos direitos internacionais do campeonato.
A decisão final deverá ser tomada nos próximos 15 dias, segundo uma fonte ouvida pelo GloboEsporte.com.
Foi o segundo passo atrás nas negociações. Em agosto do ano passado, a CBF havia intermediado o contrato com a empresa BRFOOT Mídia S.A., no valor de R$ 550 milhões por quatro anos. Do total, seriam R$ 440 milhões de placas de publicidade e R$ 110 milhões em transmissões.
O contrato previa o repasse de 50% aos times ainda em 2018 e o restante nos próximos anos, o que acabou não sendo cumprido, motivando o rompimento do acordo, em dezembro passado. A divisão seria feita de forma igualitária entre 17 clubes da Série A. Corinthians, Flamengo e Atlético-PR tinham optado por acordos individuais de publicidade estática naquela ocasião.

sexta-feira, fevereiro 22, 2019

CBF proporá novas pautas para o avanço do futebol brasileiro

Assessoria

Primeiro ponto da pauta é a adoção do árbitro de vídeo (VAR) nas 380 partidas do Brasileirão. CBF também tem proposta para reduzir troca de treinadores

Novo troféu tem o nome do Assaí, title sponsor da competição
Créditos: Fernando Torres / CBF


A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) apresentará, nesta sexta-feira (22), ao Conselho Técnico da Série A do Campeonato Brasileiro uma série de propostas para garantir avanços na organização e nos níveis técnico e disciplinar da competição. “Queremos elevar o patamar do Campeonato Brasileiro”, diz Rogério Caboclo, diretor executivo de Gestão da CBF. “Para isso, apresentaremos aos clubes uma pauta integrada, que passa pela arbitragem, pelos aspectos técnicos das partidas e pelo público nos estádios”.
O primeiro ponto da pauta é a adoção do árbitro de vídeo (VAR) nas 380 partidas do Brasileirão. A CBF assumirá, integralmente, os custos com tecnologia e infraestrutura, cabendo aos clubes apenas o pagamento das despesas com o capital humano, como ocorre, tradicionalmente, com as equipes de arbitragem.
A CBF vai fazer este ano uma campanha educativa em todas as competições nacionais pelo respeito à arbitragem e às regras do jogo. O objetivo é garantir mais tempo de bola rolando, menos punições disciplinares e um melhor produto para o público.
Outra proposta importante será a limitação nas trocas de treinadores. A CBF proporá aos clubes que possa ser feita apenas uma mudança de técnico durante a disputa da Série A. “Essa medida vai ajudar os clubes a racionalizarem sua gestão e a médio prazo permitirá a redução de custos”, afirma Rogério Caboclo.
A CBF proporá também a limitação do número de atletas inscritos a 40. “O número foi obtido depois de um levantamento estatístico sobre quantos jogadores foram utilizados em média pelas equipes, nas últimas edições do campeonato”, explica o diretor de Competições da entidade, Manoel Flores.
O campeão da Série A deste ano já abrirá 2020 disputando um título. No ano que vem, a temporada do futebol brasileiro começará com a disputa da Supercopa do Brasil, entre o vencedor do Brasileirão e o campeão da Copa do Brasil. Será uma disputa em jogo único, em local, previamente, definido.
Será apresentado aos clubes um projeto para aumentar o público no campeonato. São propostas para reduzir a capacidade ociosa dos estádios e ampliar a média de presença, que já foi recorde na edição de 2018.

sábado, fevereiro 16, 2019

Consultor explica desequilíbrio econômico da dupla Gre-Nal e aponta o caminho: "Investir em marketing"

Mateus Bruxel / Agencia RBS
A dívida total do Grêmio é de R$ 392 milhões e a o do Inter bate na casa de R$ 700 milhões, conforme Somoggi
Mateus Bruxel / Agencia RBS 

Distante da aldeia Gre-Nal, mas muito familiar aos números da Dupla, o paulista Amir Somoggi, 43 anos,  é um dos principais especialistas na economia dos grandes clubes de futebol do Brasil – o que inclui Grêmio e Inter
Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal/ZH
Amir Somoggi é santista
Santista de coração, sócio diretor da Sports Value, especializada em marketing esportivo, branding e patrocínios, o pós-graduado em marketing esportivo em Barcelona está mais otimista com o Grêmio do que com o Inter.
Mas não retira o valor de nenhum deles e acredita no futuro de ambos. Com 20 anos de experiência no mercado, mostra que os dois têm potencial para valorizar ainda mais as suas marcas, inclusive além das fronteiras do país. Para isso, no entanto, reforça: investir em marketing será fundamental. Só com ele será possível se tornar maior. Confira a entrevista:
Como você avalia o momento econômico de Grêmio e Inter no contexto dos grandes clubes brasileiros?O que aconteceu nos últimos anos foi uma mudança radical na vida da dupla Gre-Nal. Quem ganhava os títulos, quem faturava mais, era o Inter, campeão do mundo em 2006. O Grêmio se reestruturou em todos os sentidos mais recentemente, investiu, formou um elenco barato e acertou na contratação de um técnico eficiente. Conquistou títulos. Entre erros e acertos de cada lado, o cenário mudou totalmente de cinco anos para cá. A diferença entre Grêmio e Inter cresceu – para o outro lado. Vejo o caso do Inter como o do São Paulo: dois clubes que alcançaram o topo, em termos de título e de relevância de gestão, e depois caíram. Perderam espaço para Flamengo, Palmeiras e para o próprio Grêmio.

Quando você olha Grêmio e Inter, observa que, em termos de receita, o Tricolor está à frente do Colorado. A torcida do Inter não vai gostar de ouvir. Mas são números oficiais

O que os números contam sobre a vida econômica da dupla Gre-Nal hoje?Quando você olha Grêmio e Inter, observa que, em termos de receita, o Tricolor está à frente do Colorado. A torcida do Inter não vai gostar de ouvir. Mas são números oficiais. Dados de 2017 (último balanço disponível) mostram o Grêmio com R$ 341 milhões de faturamento, muito em função do bom desempenho em diferentes áreas. O Inter fechou o mesmo período com R$ 246 milhões. O Grêmio está em sexto entre os clubes brasileiro. O Inter é o décimo. A série histórica que faço todos os anos, analisando os números dos clubes, tem 2011 como início, pois 2011 foi o ano da virada, quando acabou o Clube dos 13 (que unia os mais importantes do país) e o futebol brasileiro entrou em uma nova era. Naquele ano, o Inter, que chegava da conquista de um título da Libertadores em 2010, faturou R$ 188 milhões. O Grêmio alcançava R$ 143 milhões. De lá para cá, o Grêmio cresceu 136%. Sabe quanto cresceu seu grande rival? Apenas 

Dosagem em campo e liderança fora: a função de D'Alessandro no Inter

Por quê?
Um dos sólidos movimentos do Grêmio foi em direção aos direitos de transmissão da TV. Os dois clubes de Porto Alegre sempre tiveram o mesmo contrato nos tempos do Clube dos 13. Depois, o Grêmio se posicionou ao lado da Globo em todos os momentos. É uma verdade. O Inter seguiu novos caminhos, assinando parceria com o Esporte Interativo, e paga por essa sua decisão. A instabilidade do Esporte Interativo e os problemas ocorridos na gestão do ex-presidente Vitorio Piffero não fizeram bem ao Inter. Os números mostram isso.
Quem investe mais em futebol?Em 2017, o Grêmio investiu R$ 250 milhões. Foi o ano de sua terceira conquista de Libertadores, um momento histórico. Foi o quinto clube que mais aplicou dinheiro no setor no Brasil e o sexto em faturamento. O Inter foi o oitavo: gastou R$ 213 milhões com o seu departamento de futebol, mesmo passando a temporada na Série B. Nem sempre foi assim nas contas dos dois. O Inter já esteve à frente do vizinho. Em 2011, o Grêmio gastava R$ 96 milhões, e o Inter, R$ 147 milhões.
O que aconteceu para essa queda colorada?
Se você voltar no tempo e avaliar 2011, notará que o Grêmio investia muito pouco em futebol. O Inter, por outro lado, gastava muito, mas fechava a conta porque negociava jogadores, jovens criados na base, com diferentes mercados,  especialmente com a Europa – vendia bem, em euros. Mas tinha um problema: para manter o time competitivo, pagar as contas em dia, cedeu parcelas significativas de seus jovens jogadores a empresários e investidores, tornando-se uma espécie de barriga de aluguel. Isso começou a asfixiar economicamente o clube. Ao vender um talento e arrecadar somente 45% ou 50% do valor cobrado, o clube começou a ter prejuízo. É isso que identifico como o grande motivo do enfraquecimento do Inter. O Grêmio também paga participação aos investidores. Mas registra no balanço, no líquido, destacando a parte dos empresários. Não é inteligente escrever no balanço números que não são seus, que envolvem também terceiros. Isso maquia os problemas. O balanço do Inter indicava muito dinheiro, vendas por 10 milhões de euros, 15 milhões de euros... Mas era algo maquiado. O Inter era o maior vendedor de jogadores do país. Perdeu o posto – agora é o São Paulo. O Inter financiou toda sua engrenagem cara, negociado jogadores enquanto pode, até que, no meio do caminho, encontrou a gestão Piffero. Ali, tudo mudou.

Com todo o respeito aos clubes do Interior, o Inter não é um clube de Interior. Precisa vender sua marca. Tem de arrecadar mais com patrocínios, lotar o estádio, atrair sócios. Mas o Inter estagnou, inclusive no seu marketing.

Quanto Inter e Grêmio faturam negociando jogadores?O Inter levantou, entre 2007 e 2017, R$ 680 milhões com a vendas de jogadores. No mesmo período, o Grêmio ganhou R$ 343 milhões. A diferença entre um e outro é enorme. Só que, desses R$ 680 milhões dos colorados, mais de R$ 300 milhões o Inter gastou em direitos econômicos, apesar de aparecerem como dinheiro que o clube faturou. Na verdade, o dinheiro era de investidores, que o receberam como contrapartida pela aplicação de recursos na contratação de jogadores. Note a queda: em 2017, o Inter arrecadou apenas R$ 26 milhões com jogadores. Em 2013, quatro anos antes, havia arrecadado R$ 124 milhões. Esse dinheiro fez falta. Não só para pagar as contas, mas para a competitividade do clube.
As vendas de jogadores sustentaram o clube durante esses anos?Sim, mas não é algo real. O modelo de funcionamento de um clube grande não pode ter como base a venda de jogadores. Com todo o respeito aos clubes do Interior, o Inter não é um clube de Interior. Precisa vender sua marca. Tem de arrecadar mais com patrocínios, lotar o estádio, atrair sócios. Mas o Inter estagnou, inclusive no seu marketing. O Grêmio superou o Inter em marketing e em direitos de televisão. Arrecada mais dinheiro do que o rival.

O presidente Romildo Bolzan Jr. pegou o Grêmio no pior momento de sua dívida. E reduziu esse valor. Não há o que discutir: sua gestão é a melhor do Grêmio em muitos anos

E quanto às dívidas? Clubes de futebol têm sido assolados por estarem devendo valores muito altos.Se um clube está crescendo e mantém uma dívida constante, é possível dizer que está melhorando. A questão é esta: é preciso controlar a dívida. Ninguém zera uma dívida fiscal de R$ 200 milhões. Você terá 20, 30 anos para pagar. Se todo o ano cair um pouquinho, em 10 anos a situação será outra. A questão é controlá-la. A dívida do Grêmio, hoje, é de R$ 392 milhões. Está abaixo dos R$ 423 milhões que era em 2015. As dívidas de curto prazo caíram de R$ 173 milhões, em dezembro de 2017, para R$ 110 milhões, em setembro de 2018. O presidente Romildo Bolzan Jr. pegou o Grêmio no pior momento de sua dívida. E reduziu esse valor. Não há o que discutir: sua gestão é a melhor do Grêmio em muitos anos. O Inter, em contrapartida, teve seu balanço de 2017 todo republicado após a contratação de uma auditoria. O número mais atual da dívida, auditada, é de R$ 700 milhões. Só perde para o Botafogo, que mostra inacreditáveis R$ 719 milhões e é o clube de futebol que mais deve no Brasil. O Fluminense, terceiro colocado, deve R$ 561 milhões. O cenário apresenta o Inter como um dos três clubes mais endividados do Brasil, junto a outros dois que não têm seu tamanho. É inacreditável, dado que há tão pouco tempo o Inter era um clube tão vencedor.

O Inter tem de ter média de 40 mil torcedores por partida. O Grêmio tem de ter 50 mil.Onde estão os sócios-torcedores?

Os sócios-torcedores, modalidade festejada pelos clubes alguns anos atrás, hoje não tem mais o mesmo peso, ao que parece. Por quê?Fiz um levantamento, analisando os sócios-torcedores da Europa e do Brasil, e fiquei assustado. Nossos clubes têm muitos, só que, quando você observa as médias de público, constata que elas não acompanham esses números. O Barcelona tem 160 mil sócios, e seu estádio recebe 80 mil pessoas por jogo. É um clube que ainda tem espaço para crescer, pois, na média, contando os jogos menores, fecha a temporada com quase 20% do seu estádio vazio. O Inter ocupa 55% do seu estádio, com média de 27 mil pessoas por jogo. O Grêmio, que tem um estádio maior, 39%. A média nacional é de 43%. Não pode ser assim. O Inter tem de ter média de 40 mil torcedores por partida. O Grêmio tem de ter 50 mil.Onde estão os sócios-torcedores?
Clubes com torcidas essencialmente regionais, como os dois grandes gaúchos, têm futuro no futebol internacional?O crescimento do Grêmio é muito parecido com o do Palmeiras. O clube vinha de gestões que acumulavam perdas importantes e dívidas monstruosas. Mas voltou a vencer e, como os paulistas, refez sua gestão. O Palmeiras ganhou um gás econômico e conquistou títulos. Hoje, o Grêmio lidera entre as forças regionais do país. É importante que o futebol brasileiro não viva somente a partir de Rio e São Paulo. Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Pernambuco podem fazer muita diferença no futebol brasileiro, pois contam com clubes tradicionais, torcidas numerosas e fiéis.
Qual é a receita para crescer, ganhar espaço, competir e levantar taças?É o marketing. Não dá mais para ficar reclamando de que TV Globo não passa regularmente jogos dos times em diferentes competições, chorar e ficar sentado. Grêmio e Inter, que são gigantes, têm a obrigação de avançar, aproximando-se de São Paulo, marcando presença no Nordeste, fincando bandeira em outros lugares. Há muito potencial desperdiçado em outras regiões, especialmente entre os gaúchos que têm endereço fora do seu Estado. É preciso internacionalizar a marca. Vi que o Grêmio fez um Twitter em inglês, outro em espanhol, o que é ótimo. É um caminho sem volta, decisivo. O Inter terá um em espanhol, com a chegada de Guerrero.

Ninguém fatura tanto no Brasil, em licenciamento, quanto o Grêmio

Onde buscar o dinheiro?
O Inter está tentando voltar, há um esforço da direção, embora seu marketing fature muito pouco: arrecadou só R$ 35 milhões em 2017. Olha a diferença: o mesmo setor, no Grêmio, levantou R$ 53 milhões no mesmo ano. O Grêmio, nesse ponto, está no mesmo patamar do São Paulo. O Grêmio ocupa a liderança nacional em licenciamento de marca, com R$ 18,7 milhões, o que é uma conquista impressionante. O rico Palmeiras fatura menos de R$ 6 milhões. Ninguém fatura tanto no Brasil, em licenciamento, quanto o Grêmio.
É uma boa ideia para o Grêmio adquirir a gestão da Arena agora, e não daqui a 13 anos, quando se encerra o contrato de gestão compartilhada com a OAS?O Grêmio tem uma dívida de longo prazo de R$ 129 milhões com a OAS. Sem acesso às receitas de bilheteria dos jogos, o clube tem dificuldade de crescimento. Se resolver, revendo o negócio e assumindo a gestão, tem tudo para incrementar suas receitas em uns R$ 40 milhões, R$ 50 milhões por ano. Em 2017, as receitas com sócios foram de R$ 66 milhões, devem fechar em 2018 em R$ 73 milhões. A gestão da Arena ajudaria a arrecadar mais, inclusive para pagar as dívidas. 

O Grêmio precisa morder um naco da bilheteria. É inaceitável levar 55 mil pessoas em um jogo e não receber nada por isso. O modelo de negócio está errado

Então seria bom.
A dívida ainda é muito alta, mas a Arena é fundamental. O clube precisa construir financeiramente um projeto. Deveria, por exemplo, criar um fundo, segundo o qual seria sócio minoritário, ao menos no começo. Poderia ganhar R$ 5 milhões no primeiro ano, depois R$ 10 milhões, R$ 30 milhões, e assim por diante, até chegar a 100%. Demoraria um pouco, mas elevaria os ganhos. O Grêmio precisa morder um naco da bilheteria. É inaceitável levar 55 mil pessoas em um jogo e não receber nada por isso. O modelo de negócio está errado, porque a bilheteria é o conteúdo principal do negócio de um estádio. Então, mesmo sem capacidade financeira para assumir totalmente a gestão agora, é preciso fazer algo, construir um projeto e buscar uma aquisição que lhe permita, mesmo que por meio de um fundo, ganhar parte da bilheteria.
E como vai o negócio de compartilhamento de espaço entre Inter e Andrade Gutiérrez?O Inter apresentou, no balanço de 2017, um enorme endividamento com o BRIO (sociedade da Andrade Gutierrez com o banco BTG Pactual, que conduziu a reforma do estádio Beira-Rio). A dívida, por conta do estádio, é de R$ 331 milhões. Por outro lado, o clube teve receitas de R$ 68 milhões entre sócios e bilheteria em 2017. Há outros R$ 144 milhões de adiantamentos de contratos, que fizeram com que a dívida atingisse valores gigantescos. São outros números, porque os negócios envolvendo Arena do Grêmio e Beira-Rio são diferentes. O Inter foi mais inteligente do que o Grêmio na negociação. Ficou com a bilheteria. Imagina o Grêmio com R$ 50 milhões a mais de faturamento obtido com a bilheteria do estádio. Esse clube estaria competindo com o Palmeiras em faturamento. O Inter tem uma parceria com uma construtora,  como o Grêmio, e também tem uma dívida com o seu estádio, porque ter um estádio assim custa dinheiro. Mesmo com a melhor possibilidade de gestão, o Inter tem esse problema da dívida do Beira-Rio, que é um problema grande.
Como Grêmio e Inter podem ampliar seu alcance de torcedores?Criando uma conexão com os torcedores de fora do Estado. Eles podem ajudar no crescimento das receitas. O clube precisa estar no Mato Grosso, no interior do Paraná, em Salvador, em Goiânia, em ações coordenadas. Aumentar a torcida é muito difícil, demora, mas é preciso. Fazer um projeto para alcançar 3 milhões de pessoas a mais, por exemplo. Pensar a longo prazo, com trabalho lento, elaborado. Isso é fundamental para ser maior. O Grêmio tem um case recente que vale a pena olhar com atenção. Em 2017, venceu uma Libertadores gastando bem menos do que Corinthians, Flamengo e Palmeiras. Com pouco dinheiro, mas uma gestão eficaz e um plano esportivo bem desenhado, conseguiu superar clubes com mais potencial de investimento. É imperioso ter uma boa gestão. Colabora para isso ter uma torcida engajada. A do Grêmio é muito, tanto que o clube é um exemplo de faturamento com licenciamento. E agora está se comunicando com seu público em espanhol e inglês. Tem uma estratégia aí que leva às vitórias.
O faturamento dos clubes europeus supera o dos brasileiros em milhões de euros. Há uma maneira de ficarmos mais próximos?O Barcelona faturou R$ 4,2 bilhões em 2017. O Flamengo, clube que mais ganhou dinheiro no Brasil, arrecadou R$ 649 milhões no mesmo período. O que os europeus têm que o Brasil ainda busca, ou precisa buscar? Cito a gestão da marca e o negócio altamente profissional, envolvendo marketing e comunicação global, ídolos internacionais, dezenas de patrocinadores, poder no mundo digital, títulos de relevância internacional. Segundo dados da Result Sports da Alemanha, o Barcelona tem mais de 233 milhões de fãs nas redes sociais. No Brasil, conforme o Ibope Repucom, o número de fãs nas redes sociais dos 20 maiores times, somados, é 120 milhões. A diferença é brutal. Com gestão profissional e marketing global, os números se potencializam de um modo impressionante.

Os clubes (brasileiros) carecem de uma liga que os una em prol de ganhos coletivos. O futebol da Europa deu certo devido às fortes ligas nacionais

É possível alcançar os europeus?Antes de pensar nisso, os clubes brasileiros precisam parar de olhar só para o próprio umbigo e se unirem. Mesmo que um precise do outro, o Grêmio, do Inter, o São Paulo, do Palmeiras, e assim por diante, eles não se dão conta. Os clubes carecem de uma liga que os una em prol de ganhos coletivos. O futebol da Europa deu certo devido às fortes ligas nacionais. A TV não é a única receita. Nem deve ser. No Brasil, os clubes dependem demais da televisão. Deveriam depender do marketing. O Barcelona arrecadou R$ 1,3 bilhão em marketing. Isso é muito mais do que a soma detodos os clubes da Série A do Brasil.

Estima-se que o mercado do futebol represente R$ 6,2 bi no Brasil. Desse montante, R$ 5,05 bilhões é o total de receitas vinculadas apenas aos 20 principais clubes de futebol do país. Grêmio e Inter, somados, geram R$ 587 milhões desse total

Turbinar o marketing é, então, o caminho.O estádio é limitado, tem uma capacidade definida. E o clube sabe quanto fica após um jogo. A TV, embora dependa do mercado publicitário, tem previsão confiável. Já o marketing não tem limite. Note que os europeus têm poucas marcas nas camisas, ao contrário dos times brasileiros. Uma cervejaria não está no uniforme de um clube de lá, mas o patrocina associando sua marca ao time – que é aproveitada de outras maneiras que não estampando sua marca na camiseta. Há muitas possibilidades que não são exploradas pelos clubes brasileiros. O plano de saúde pode ser uma razão para uma parceria, assim como uma cadeia de lojas esportivas, e por aí vai. E assim, examinando as possibilidades, que são infinitas, os clubes europeus têm uma série de parceiros estratégicos. Alguns têm 15, outros chegam a 20. Na soma, dá muito dinheiro. Um bom marketing faz uma grande diferença. Pergunte aos executivos do Barça. Estima-se que o mercado do futebol represente R$ 6,2 bi no Brasil. Desse montante, R$ 5,05 bilhões é o total de receitas vinculadas apenas aos 20 principais clubes de futebol do país. Grêmio e Inter, somados, geram R$ 587 milhões desse total, menos do que os R$ 648 milhões que o Flamengo, time mais popular do Brasil, faturou em 2017 (último balanço disponível).