Debate entre clubes e Turner mostra modelo brasileiro de gestão "cansado"; paralisação é momento para mudanças
Por Duda Lopes - São Paulo (SP)
A paralisação do futebol deve servir para uma série de reflexões. Clubes vivem em eterna instabilidade financeira e se mostram, a cada temporada, incapazes de criar laços comerciais sustentáveis. Sem jogos, está na hora de afastar as supostas diferenças para, enfim, juntar forças e fazer do futebol um negócio economicamente mais saudável. E o primeiro caminho é a criação de uma liga.
Para quem ainda era cético quanto à importância de um grupo formado para gerir a principal competição do país, o quiproquó gerado pelo acordo entre Turner, clubes e Globo deixa claro que o modelo de negociação precisa ser repensado. As vendas individuais de direitos de televisão já geraram situações bizarras na última temporada, e agora fica claro que o modo de assinar contratos pode derrubar a indústria.
A televisão é responsável por quase metade do faturamento da grande maioria dos times brasileiros. E, ainda assim, a incapacidade de criar um projeto único e consistente pode afastar uma empresa do porte da Turner do futebol nacional.
É completamente surreal que uma companhia como a Turner queira entrar no futebol brasileiro, mas tenha dificuldade em administrar seus parceiros. Vale a lembrança: a empresa faz parte da Warner, um dos maiores conglomerados de mídia do mundo, com faturamento de US$ 57 bilhões em 2019. Se os clubes não conseguem manter a Turner e a Globo, o maior grupo de mídia do país, com conforto e segurança, o que resta para oferecer ao mercado? As negociações individuais, somadas às caóticas gestões de cada um dos clubes, formam um doloroso processo de autossabotagem.
A criação de uma liga não seria a resolução de todos os problemas, claro. Mas seria um passo fundamental para tornar algumas negociações-chave mais profissionais. Algo que pode render mais em televisão e licenciados, áreas que parecem engessadas no futebol brasileiro, apesar dos notórios avanços dos últimos anos. Por fim, o processo profissionalizante naturalmente teria um efeito cascata na gestão do esporte.
Essa não é uma sugestão de outro mundo, nem uma proposta de um modelo novo dentro do universo do esporte. Ao contrário. Uma liga forte foi o primeiro passo para maiores avanços comerciais na maioria dos grandes mercados esportivos, seja na Europa ou nos Estados Unidos. A ideia de que os times são concorrentes nos bastidores é uma infantilidade totalmente incompatível com o nível de profissionalização esperado. Se os clubes quiserem grandes parceiros, essa é a hora da mudança.
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Benê Lima