O ministro e as carteirinhas
Da FOLHA DE SÃO PAULO
Por Juca Kfouri
Por Juca Kfouri
Depois de sete anos de governo, enfim, cogita-se fazer algo contra a violência nos estádios. Mas, será?
EXISTE uma lei do esporte, dita Lei Pelé, que ora ele avaliza, ora Pelé desdenha, e um Estatuto do Torcedor.
Textos mais que suficientes para dar conta de toda e qualquer necessidade que se imponha nos estádios e ginásios nacionais, até porque são modernos como as legislações da Espanha, da Inglaterra etc.
Leis que dependem de eventuais detalhamentos nos regulamentos das competições, mas que, basicamente, apontam nas direções corretas e contemporâneas.
E que sempre que são objeto de reformas buscam atender aos que tiveram seus privilégios, em tese, prejudicados. E só em tese porque, na prática, apesar de alguns progressos óbvios, como o Brasileirão em pontos corridos, o fim do passe, a possibilidade de o torcedor acionar os promotores de jogos, pouco mudaram a vida da cartolagem, tanto que não tem nenhum cartola preso, como seria de se esperar.
Porque, desde que foram aprovadas, o que se viu foi uma maioria de ministros se acumpliciando com a superestrutura do esporte brasileiro, seja no COB, seja na CBF. Sim, parece inesgotável a capacidade de sedução de nossos cartolas, capazes de levar ao altar as mais diferentes autoridades do país, sejam elas da elite, seja o operário que chegou ao poder, este sabendo bem quem são os cartolas.
E tome reformas que buscam tirar a responsabilidade deles, que dão Timemanias umas atrás das outras, leis de incentivos e que, agora, para combater uma minoria facilmente identificável, buscam criminalizar a maioria pacífica. A carteirinha do torcedor é um bom exemplo.
Proposta pelo ministro do Esporte, que, quando presidiu a UNE, fez da carteirinha de estudante uma festa, a do torcedor quer impedir, já no ano que vem, que a sua mãe, raro leitor, possa entrar num estádio brasileiro com capacidade de receber mais de 10 mil torcedores.
Isso mesmo. Se a senhora sua mãe quiser ir ao Morumbi, ao Pacaembu, ao Prudentão, só poderá ir se estiver devidamente cadastrada, nos mínimos detalhes, algo que não passa de tola burocracia e, há quem diga na OAB, é até inconstitucional.
Ainda mais que as medidas para identificar os violentos podem ser facilmente impostas com a expedição de ingressos inteligentes e com a eficaz implantação dos lugares numerados, como está na lei.
Mas estamos em começo de fim de governo e o ministro do Esporte, que passou mais tempo como bajulador de cartolas e como papagaio de pirata, a exemplo de seu antecessor do mesmo PC do B, tem sonhos eleitorais, talvez como senador, ao menos como deputado. É hora, pois, de jogar para a plateia, mas jamais para a torcida, a verdadeira, composta por gente comum, como você.
Como num passe de mágica, resolver o problema da violência em torno do futebol que assola o país, de norte a sul e de leste a oeste, entrou na ordem do dia. Coisa séria, para valer, mesmo que tardiamente, quase não há, porque coisa séria, para valer, é artigo com o qual não se trabalha.
Daqui a pouco, alguém dirá que minimizar o flagelo do holliganismo, como na Inglaterra nos anos 90, é fácil, mas complicadíssimo num país de dimensões continentais como o Brasil.
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Benê Lima