Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, março 19, 2009

COM PÉ E CABEÇA – ANO IV – Nº146

“O futebol cearense existe de fato, mas precisa ser reinventado para ser notado e reconhecido.” (Benê Lima)

Opinião
NOSSO MUNDINHO MICRO, NO MUNDO DE CEARÁ E FORTALEZA


Nossos dois times ditos ‘grandes’, vivem em mundos que representam uma caricatura mal-construída da realidade dos grandes clubes brasileiros. E reparem que falei em times e não em clubes. E é bom que fique claro para a minoria que há uma enorme diferença entre time de futebol e clube de futebol.

Pois bem. Como times de futebol, Ceará e Fortaleza representam o aspecto macro do estágio de desenvolvimento do futebol cearense. Outra vez peço que reparem e dêem conta do nosso atraso. Sim, pois o que enxergamos abaixo dos modelos do atraso que ambos encerram, é algo incomparavelmente pior.

Pois, para quem não sabe, existe um ‘asteróide’ que gravita em torno dos mundos alvinegro e tricolor, em que habita o ‘dirigente de neandertal’. Nesse mundinho ainda subsistem alguns espécimes de velhas e rabugentas raposas, que em meio ao cinismo e anacronismo de suas práticas, ainda se consideram como portadores da saberia universal do meio futebolístico. Por isso, esses falsos ‘portadores do archote’ (da iluminação mística) insistem em produzir seus ‘transgênicos’, verdadeiros ‘frankesteins’, autênticos quasímodos.

Nesse ‘asteróide’ quasimodesco, coabitam as personalidades ‘raposóides’, algumas das quais nem sequer chegaram ao estágio do anacrônico, já que ainda permanecem no estágio primitivo que beira a barbárie. Suas democracias não são comestíveis, mas comezinhamente abomináveis. Expurgam valores e elegem bionicamente contra-valores. Sacrificam o que é certo e ignoram o que é justo. Desvalorizam o conhecimento e convivem com a ignomínia.

Nossas três divisões do futebol profissional possuem muitos desses ‘alienígenas’, e não há leviandade em se dizer que o progresso do nosso futebol e do nosso meio radiofônico-televisivo, passa, inexoravelmente, também pelos portais dos cemitérios.

Um lapidar exemplo do conteúdo deste discurso pode ser encontrado bem perto de nós, fortalezenses, onde sei do aporte de projetos que são simbolicamente engavetados, porque a mente putrefeita do cartola não resiste à idéia de divisão dos méritos. Em sendo assim, seu arremedo de clube permanecerá no limbo do nosso futebol, como resultante de um centralismo altamente personalístico e excludente.

Quem duvida da necessidade de modernização dos nossos clubes, quem não acredita que o futebol é também uma ciência, não só envelheceu, mas, petrificou-se.

Como tenho dito sempre, o estágio multidisciplinar do esporte foi vencido; o estágio interdisciplinar está em curso; e o estágio superior da transdisciplinaridade está aí para ser incorporado. Não sem que antes façamos nossa própria revolução interior.

(...)


A APCEDEC DE HOJE PROJETADA PARA O AMANHÃ

Ajudar a construir uma entidade minimamente respeitável é tarefa de todo cronista que se quer respeitado

Alguns companheiros da Crônica Esportiva já me procuraram, tecendo comentários críticos acerca do que não é feito pelo cronista esportivo. Invocaram alguns casos emblemáticos, sendo o mais recente deles o que envolveu o companheiro Paulo Rodrigues, plantonista da Verdinha.

Indiscutivelmente, o tema representa um mote importante para discussão, principalmente em tempos de eleição em nossa entidade de classe.

Sem dúvida, é elogiável a preocupação que está por trás da atitude crítica desses companheiros. A eles lhes fiz transparecer minha concordância, meu apoio e até mesmo certa dose de indignação. Ou não é triste e constrangedor saber de companheiros em situação de verdadeiro abandono?

Em minha fala também expus a necessidade de nós, cronistas esportivos filiados à APCDEC, deixarmos de lado quaisquer atitudes em que a hipocrisia esteja presente, e pensarmos seriamente em dar apoio à nossa entidade, no sentido de dotá-la de receita mínima que possibilite o desenvolvimento de uma política de assistência a seus membros. E uma das formas que vislumbro, passa pelo aumento do percentual de sua participação na renda líquida dos jogos.

Para que se tenha uma idéia, a menor participação, seja sobre a renda bruta seja sobre a líquida, cabe à APCDEC, que detém tão-somente 1% da RL (renda líquida), o que representa algo ao redor de 0,6% da RB (renda bruta). Vamos a alguns exemplos pautados na realidade deste Campeonato Cearense:

- Na partida Fortaleza x Icasa, a quota da APCDEC foi de R$140,33;

- No jogo Itapipoca x Maranguape, coube-lhe a quantia irrisória de R$36,86;

- No Boa Viagem x Ceará, o valor destinado foi de R$23,43.

Vê-se, portanto, que se a entidade destinar um simples lanche para 50 cronistas que trabalhem em um jogo de médio porte, do qual participem Ceará ou Fortaleza, ela gastará com apenas essa despesa, cerca de 200,00 a R$250,00. Isso já representaria um déficit ao redor de R$100,00.

Diante de tão simples exposição, creio estar justificada a situação de extrema dificuldade em que vive a entidade, razão pela qual se torna inviável para ela atender à expectativa até mesmo dos menos exigentes.

Proponho, pois, que seja retomada a situação pretérita, em que a entidade detinha 3% da RL (renda líquida) dos jogos, o que corresponde a aproximadamente 1,9% da RB (renda bruta). Ainda assim ele seria deficitária, mas caberia a seus dirigentes buscarem recursos suplementares para o equilíbrio de suas contas.

Antes, pois, das cobranças e de se nutrir expectativas mirabolantes acerca de possíveis realizações da APCDEC, tratemos de primeiro ajudá-la a montar o bolo, para depois pensarmos na sua distribuição.

O próprio companheiro Alano Maia, que no passado foi um crítico da entidade, hoje reconhece o quanto é difícil conduzi-la. No entanto, Alano não foge da luta, e certamente espera contar com o apoio de todo os cronistas conscientes.


EFEMÉRIDES

Sob sol ou chuva, só dá Guarany


Se com Fernando Polozzi o Guarany de Sobral já deu um salto de qualidade em relação a sua estréia neste campeonato, sob a batuta de Oliveira Lopes na matéria técnico-tática, e de Roberto Farias na preparação física, o time dos polêmicos regentes Luiz e Luizinho Torquato passou a tocar praticamente sem desafinação nem semitons.

Um time comum, mas não amorfo. Uma equipe que não se exibe, mas joga o jogo. Um comando técnico que não inventa, mas tem identidade. Um time que conseguiu estabelecer um vínculo emocional com seu torcedor, que em bom número comparece a seus jogos no Junco.

O Fortaleza enfrentou esse Guarany de 1ª divisão cearense. E como o time tricolor cambaleia na presente competição, não conseguiu batê-lo, no que pese o esforço empreendido.

Aliás, com todo o respeito aos dois, esse Fortaleza que aí está e o ausente Rodrigues Mendes têm dado origem a muitas frustrações para o torcedor leonino.

O técnico Mirandinha precisa dar um maior equilíbrio à equipe. Com zagueiro tentando fazer a função de armador, com goleiros que não inspiram confiança e com uma planificação tática que empobrece a criação, torna-se ainda mais desafiadora a tarefa corretiva e autocorretiva de Miranda.

A bem da verdade é perceptível certo padrão tático da equipe do Pici no 1º tempo das partidas. Todavia, o próprio treinador desfaz o que fez, numa atitude que beira o desespero de quem quer fazer omelete sem ovos.


Ceará pára na ladeira em ponto-morto

Ganhar o primeiro turno parece ter feito mal ao Alvinegro. Em Porangabuçu – e não só por lá – parece ter virado utopia se pensar em conquista de campeonato do tipo arrastão. Pior ainda se pretender uma conquista invicta.

Parece-me que, para os técnicos atuais, reproduzir o comportamento das equipes do sul e principalmente do sudeste, é questão de honra – ou sei lá quê. Mal e mal conseguimos formar um time A, e ainda há quem pense na composição de um time B. Nem bem conseguimos cumprir o calendário doméstico, e há quem, em nossos clubes (?), pense em dar cabo da conjunção dos calendários estadual e nacional, pela via da priorização desta ou daquela competição.

Para quem como eu, com a mais plena convicção advoga a manutenção dos certames estaduais, começo a me render ao relativo desinteresse dos clubes, por suas competições de origem.

O Ceará certamente voltará a ter a cara do turno inaugural, no momento do jogo contra seu maior rival, o Fortaleza. Isso, contudo, não é estratégia válida. É engodo. É desrespeito ao torcedor alvinegro. Em face do discurso genérico da ‘glorificação’, tão comum às religiões ditas novas e de aluguel, na prática salta aos olhos a carência de uma ‘glorificação’ da motivação.


BREVES E SEMIBREVES ®

Arbitragem
Luzimar Siqueira desta vez não brilhou tanto. As imagens da televisão, sempre tão cruéis e desiguais em relação ao olhar de árbitros e assistentes, mostraram-nos alguns equívocos interpretativos de Luzimar. Nota sete, como incentivo a este bom árbitro. Já Marcos Antonio Sampaio, não creio que ainda possa evoluir. Sua principal limitação é não convencer os atletas de que é um bom árbitro. E árbitro tem de estar ligado durante todo o jogo.

Feminino assumido
O Fortaleza parece ter assumido sua equipe de futebol feminino. O site oficial do clube abre um link para a modalidade, embora ainda não haja um tratamento como algo que veio para ficar. Já o Ceará ainda age como se fora barriga-de-aluguel. No site do clube não se vê referência ao time feminino. Lamenta-se.

Sub-18 em ação
Vem aí o Campeonato Cearense de Futebol Amador, categoria sub-18. Nos corredores da FCF, é dada como certa a presença de Ceará e Fortaleza na próxima Copa São Paulo de Juniores, em janeiro de 2010. Fale-se ainda em mais duas vagas cearenses, distribuídas entre o grupo dos clubes não-profissionais, a partir dos resultados desta competição.

FCF ainda não
De fato parece haver uma espécie de sinergia entre a atitude de torcedores retrógrados e a da FCF, no tocante ao preconceito contra a renovação. A grande maioria dos torcedores critica o que eles chamam de ‘imprensa velha’, mas não dão a mínima chance para a nova não segmentada. A FCF age corretamente ao enviar convite para seus ‘algozes’, mas esquece de prestigiar os verdadeiros agentes da renovação.

Relação incestuosa?
Tem sido dificílimo para nós, que inauguramos programa esportivo que também contempla entrevistas, contarmos com a boa-vontade das personalidades do nosso futebol. É flagrante a má-vontade da maioria delas, e as exceções têm apenas confirmado a regra. Por enquanto, vou preferir não dar nomes aos que seguem a regra.

Não é fácil
Fazer rádio com seriedade não é tarefa para amigos, e sim para profissionais. Mas aqui, ter opinião é defeito e não virtude. E nem precisa ser uma opinião consistente. Cinicamente, dá-se mais valor ao estilo que ao conteúdo. Vinte ou quem sabe dez anos de prostituição, quer-se que valha mais que cinco anos de luta honesta e sincera por uma Crônica Esportiva melhor. À atitude conivente, deseja-se rotulá-la de comportamento ético. Prefiro a ética da verdade que a da mentira.

Isto sim!
Deu prazer ouvir a entrevista de Vagner Mancini a repórteres que faziam a cobertura do Santos. Perguntas inteligentes e carregadas de opinião, às quais Mancini em momento algum as considerou agressivas, nem disse que os repórteres estavam enganados. Jornalismo esportivo da melhor qualidade foi o que ouvi. Pergunta: Será que um dia ouviremos por aqui algo parecido?

Será mera coincidência?
Quase na mesma proporção que nossa imprensa radiofônica enveredou pela segmentação, nossos clubes são menos clubes e nossos times menos times. A ausência de uma metodologia crítica-analítica tem dado lugar a uma critiquice de fundo eminentemente emocional. E ainda há torcedor que fala em jornalismo investigativo. Ah! Alice...

Vale o registro
Domingo Esportivo é um programa diferente de tudo que tem sido feito no rádio esportivo local. Não é nenhuma doutrina espírita que a tudo propõe resposta, mas ao menos faz os mais pertinentes questionamentos, e ainda busca quem os possa responder. Na grande maioria das vezes não encontra as pessoas certas para tal, mas isso não invalida as tentativas.

Mas vale a pena
O pior momento do talentoso Domingo Esportivo é quando o ouvinte participa. Para Jurani Parente, Gualber Calado e sua turma, deve ser frustrante solicitar idéias, sugestões, soluções e do ouvinte ter como contrapartida um besteirol de provocar calosidade nos ouvidos.


Benê Lima
benecomentarista@gmail.com
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(85) 99898-5106


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