Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, março 01, 2009

COM PÉ E CABEÇA – ANO IV – Nº145


“O futebol cearense existe de fato, mas precisa ser reinventado para ser notado e reconhecido.” (Benê Lima)


Opinião

O ARCAÍSMO DA CARTOLAGEM


A presunção do saber tem paralisado nossos cartolas, que se repetem em erros que impõem o atraso a nossos clubes.


Já tem algum tempo que o ambiente do futebol se serve da disciplinaridade, com sua característica de uma abordagem calcada no conhecimento especializado. Em meios de estrutura carente, a especialização dá lugar ao empirismo, termo tido como sinônimo de conhecimento prático (fragmentado).


O momento seguinte dessa escalada evolutiva do ambiente futebolístico, colocou-nos diante da multidisciplinaridade, e aí já encontramos uma situação de justaposição de duas ou mais disciplinas. Essa visão cooperativa tem sido a base da qual se tem servido a maioria dos clubes brasileiros, na exata medida da capacidade de investimento de cada um deles.


O terceiro estágio de desenvolvimento desse ambiente nos conduz a uma realidade de uma minoria de clubes, que não ultrapassa uma centena entre mil, os quais já incorporaram a realidade da abordagem e da prática da interdisciplinaridade, com seu grau de complexidade e interação entre as diferentes disciplinas. Aqui já temos uma elaborada construção do conhecimento, a partir de uma visão epistemológica.


O mais avançado estágio de produção do conhecimento atende pelo termo transdisciplinaridade, tendo como principal característica a busca de um conhecimento que reconhece a interdependência de todos os aspectos da realidade. Portanto, essa unidade do conhecimento é o objetivo principal da abordagem transdisciplinar, e isso pode ser traduzido pela lida não só com os aspectos estritamente objetivos, como também com aqueles considerados subjetivos, tais como “crenças, religiosidade, espiritualidade, cultura, costumes, tradições, valores, sentimentos, emoções, intuição” (Medina, João Paulo), entre outros.


A verdade é que precisamos descobrir e aprender a trabalhar ao menos com o terceiro estágio – o da interdisciplinaridade -, pois só assim teremos descoberto a identidade ‘transgênica’ da qual precisamos dotar o nosso ambiente do futebol.


Um futebol que não produz seu próprio conhecimento, que não disponibiliza um saber apropriado, que não forma dirigentes profissionais, que não pode contar com o capital intelectual dos profissionais de imprensa (rádios, jornais, televisões e multimeios) tem poucas chances de crescimento real. Por isso é preciso que ingressemos em um novo tipo de fazer, que seja fruto de um novo tipo de saber, para que possamos formar um novo estilo de ser.


A caduquice de um fazer futebolístico anacrônico, juramentada pela histrionice de certos apedeutas do futebol, têm sido o carro-chefe do nosso atraso. Não queremos com isso nos arvorar da condição de repositório das soluções para os problemas do nosso futebol. Nem mesmo de sermos ao menos um empirista em disponibilidade. Na verdade não devemos fazer melhor nem é este o nosso desafio. Nosso papel é o mesmo de um crítico de arte, ou de um crítico literário, de quem não é exigido fazer melhor que o artista ou escritor, bastando que seja competente para de suas obras fazer-lhe a crítica, seja qual for o teor de sua análise.


Insisto em que, um futebol que confunde crítica com perseguição, e que o elogio é tido como bajulação, não merece subir de divisão.




EFEMÉRIDES


Mediocridade que contamina


Fortaleza e Boa Viagem fizeram um jogo abaixo da média, tão ruim quanto Quixadá e Maranguape. Sabemos que as razões para o que vimos são de natureza diversa. No Fortaleza viceja a não-oportunização dos frugais recursos; no Boa Viagem, a insuficiência é a moda, e o ser pequeno é a regra.


O Quixadá tem como a maior descoberta dos últimos tempos, ter aprendido que sem apoio ‘prefeitural’ não é possível se fazer futebol em ambiente competitivo.

O Maranguape tem seus méritos, embora não tenha conseguido a fórmula da motivação para jogar o jogo contra os apequenados.


No Pici, em campo enlameado, um futebol de terceira divisão cearense, com todo o respeito que a terceirona me merece.


Se o Fortaleza não foi bem – e na verdade não o foi – pior ainda o Boa Viagem. Menos pela derrota, muito mais pelo que não produziu.


O preço do ingresso, creio, deve estar desabituando o torcedor tricolor dos estádios. Isso sem falar na baixa qualidade do time e do elenco. Agora vem a falta de perspectiva em um futuro imediato melhor. Ou seja, estabelece-se um círculo vicioso com fator de retro alimentação. Nada mais contraproducente. Perigo a vista.


Mirandinha passou no primeiro teste de coerência. Talvez com nota oito. Fez o básico, sem invencionice nem histrionice. Experimentou uma lógica superior, escalando teoricamente o melhor onze. 1-4-4-2 de saída, com dois volantes em linha diagonal e não-paralela (Álvaro e Coutinho), com dois meias de ofício (Marllon e Bismarck) e dois atacantes de características diferentes (Bambam e Nicácio), embora posicionados equivocadamente.


Que o técnico tricolor não cometa o erro de apadrinhar jogadores pouco produtivos, como foram os casos, entre outros, de Bismarck em tempo integral e Jô como aposta. Giovani já teve as oportunidades que outros não tiveram, tendo provado que está abaixo de Rodrigo Brasília.


O time tricolor pode ser feito sem craques, só não pode abrir mão completamente do talento. Na mesmice que tomou conta da equipe, fica difícil vislumbrarmos um ‘acessório’ de salvação.


Com a palavra o departamento de futebol profissional do Fortaleza.


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Um campeão sem contestação


Hão de dizer que o Alvinegro ainda não ganhou nada. Eis uma meia verdade. Ganhou de forma incontestável o primeiro turno do Cearense e garantiu presença na final desta competição, também assegurando o título de vice-campeão; carimbou ‘passaporte’ para a Copa do Brasil de 2010.


Outro fator a ser comemorado é a maneira como se deu a conquista. E neste ponto o Ceará foi um pouco além da medida, ganhando com sobras o primeiro turno. Isso pode facilitar as coisas para o Alvinegro em nível de planejamento da sua participação nas duas competições que disputa: Campeonato Cearense e Copa do Brasil.


Está por vir uma maratona de jogos para a qual o Ceará precisa racionalizar sua participação, estabelecendo uma prioridade, mesmo que momentânea, para uma delas. E por certo isso deverá ser feito, privilegiando-se a competição nacional. Pelo menos é o que imagino.



Uma final sob controle


Em nenhum momento se viu a vantagem do Ceará sob ameaça. O time já possui algumas características marcantes: estuda o jogo do adversário e é pressionado nos primeiros quinze minutos até conseguir encaixar a marcação; a partir daí busca sair para o jogo, preferencialmente no erro do adversário.


Entre as qualidades do time do Ferroviário, falta-lhe a da verticalidade. É uma equipe que realiza boas tramas, trabalha a bola com relativo talento, mas esbarra na falta de profundidade de seu jogo ofensivo.


O Ceará, por sua vez, é uma equipe que tem sabido tirar proveito não só da maturidade, mas também de outras características de seus jogadores. O que disto resulta é uma visão contrastante, emque se vê de um lado um time adulto a encarar de outro um time de adolescentes.


É interessante vermos o Ceará ser pressionado, mas ao mesmo tempo sentirmos o risco maior rondando o gol do adversário.


Outro fator que atesta a maior consistência do time alvinegro é vermos que nem os equívocos cometidos por seu treinador têm interferido nos bons resultados obtidos pela equipe. Nem mesmo a ausente presença de Sérgio Alves tem atrapalhado.


Numa tarde-noite em que o Ceará não teve destaque e menos ainda destaques, o feijão-com-arroz bem dosado foi suficiente para, sem sustos, conjugar os verbos vencer e conquistar.


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BREVES E SEMIBREVES ®


Péssimo exemplo

O custeio dos departamentos de futebol de Santos e Palmeiras juntos chega a R$26.906.854,00 anuais, mas ainda assim eles gastam R$1.275.300,00 a menos que o Corinthians. Somente dois atacantes do Corinthians juntos, Souza e Ronaldo, representam uma despesa com salários da ordem de R$727.058,00. O pior é saber que o técnico Mano Menezes é parceiro de empresários.


Vanderlei ou Wanderley?

Seja como for, o IWL de Luxa vai de mal a pior. Uma escola elitizada, lidando com um esporte popular, comete o erro estratégico da escolha de um público-alvo que não tem real interesse pelo aprendizado das coisas do meio futebolístico. Quem possui real interesse acaba sendo condenado a viver de um empirismo acrítico e falto em metodologia e critério.


Natal 2014

A capital do Rio Grande do Norte parte na frente na disputa pela condição de sub-sede da Copa de 2014, ao apresentar um projeto que vai além da construção de um estádio. Uma parceria público-privada possibilitará ainda a construção de edifícios de habitação e escritórios, shopping center e outros equipamentos urbanos. O projeto de arquitetura será executado pela HOK SVE da Inglaterra, responsável, dentre outros, pelos estádios de Wembley e Emirates (Arsenal) na Inglaterra e Olímpico de Sidney na Austrália.


Cabide de emprego

O ministro Orlando Silva pretende criar uma Secretaria Nacional do Futebol, mas o foco de tal criação nos parece equivocado, ao eleger como vilões cambistas e árbitros corruptos. A violência das organizadas e/ou uniformizadas – estas sim! - é que representa o grande câncer do futebol. Já diz Quartarollo que, “quando o Executivo se mete no esporte, normalmente alguém fica mais rico e o esporte fica mais pobre e com mais problema”.


Aos que fazem o Alvinegro

Essa estória de posar para a torcida não condiz com a postura de um grande dirigente. Lembrando também que dirigente não é somente o diretor. A postura do dirigente responsável não é a que reproduz o comportamento do torcedor. A influência deve se dar no sentido inverso: o bom comportamento do dirigente ‘mimetizando’ a conduta do torcedor.


O ovo ou a galinha?

Os nossos dirigentes são abaixo da média por que nossa crônica também o é, ou nossa crônica é como é por que nossos dirigentes são como são? Tenho buscado insistentemente o responsável pela nossa CEAF para uma entrevista, e as 10h15 de um belo dia, ele já me deu como resposta que estava dormindo. Será que tem a ver com o prefixo?


Em confidência

A coisa no Tricolor do Pici é um pouco pior do que parece. Rio que tem piranha, risco é atravessá-lo. O Pici só não é o novo eldorado dos empresários por falta dos metais preciosos. Ainda assim o interesse pelos ‘balangandãs’ tem causado certo furor, pela simples expectativa da presença do vil metal.


Constatação

Cada vez mais me convenço de que, dentre os modelos inacabados – e é assim que deve ser – de como reportar no futebol, Danilo Queiroz encontra-se em posição de destaque, principalmente pelo equilíbrio, pela sobriedade, pela sinceridade, e pela rejeição ao estrelismo presunçoso. Palavra de quem foi treinado para observar.


Sob medida

Diariamente, das 10 às 11 horas da manhã, na Rádio Metropolitana AM930, você tem uma opção para atualizar-se com as novas abordagens que permeiam, especialmente, o ambiente do futebol. Através do programa METRO NOS ESPORTES – o esporte feito sob medida – você confere algumas informações do futebol profissional, do esporte amador, opiniões e entrevistas, além da amostragem da participação do ouvinte. Ligue-se!


Tuf, tuf

Faixa correu pelo Pici, com os seguintes dizeres: “Se você quer ver o Kanal campeão, Lúcio Bomfim é a solução”. Um velho enredo de uma peça que só faz sucesso pela faceta imbecil que em muitos habita. Aliás, a TUF precisa fazer um ‘eu confesso’, nem que seja intramuros.


Bomfim, o temível

Um estrondoso choque de altíssima tensão sofreu a torcida tricolor que ouviu a entrevista do presidente do Fortaleza, na última sexta à noite. A natureza do choque foi de realidade. Era necessário. Mas deve ter sido profundamente desalentador. Desolador? Nem tanto. A reconstrução é possível. Mas começa pela construção de um ambiente favorável ao reconhecimento da ‘pobreza’.


Fantástico!

Surpreendentes os números da parceria entre o Ceará Sporting e seu torcedor. Fazer futebol com moderado nível de preocupação é dar asas ao ‘ócio criativo’ de De Masi, famoso sociólogo italiano. O Alvinegro, a meu juízo, representa hoje um bom exemplo da transformação que o capital intelectual é capaz de operar.


The best

Arnaldo Lira, embora não tenha ganho o primeiro turno, a mim me pareceu o melhor técnico do Cearense até aqui. Para tanto, precisamos levar em conta as dificuldades enfrentadas pelo treinador coral.


Arbitragem em alta

Assegura-me o confiável Gualber Calado, que Cleuton Lima conduziu-me muito bem na direção de Maranguape e Guarany. Luzimar Siqueira teve ótimo desempenho na condução de Fortaleza e Boa Viagem. E finalmente o gaúcho Simon fez uma boa arbitragem por aqui. Continuo apostando na arbitragem cearense.



Benê Lima

benecomentarista@gmail.com

(85) 8898-5106

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Benê Lima