"Dizer a posteriori como confissão não vale. Destacamos este trecho da Coluna do Tostão, para demonstrar que quem nos acompanha no Programa Companhia do Esporte sabe o que temos falado." -- (Benê Lima)
A atuação nos 90 minutos foi brilhante, péssima e anárquica. No primeiro tempo, graças ao gol no primeiro minuto, à pouca qualidade individual dos defensores reservas do Uruguai e aos grandes espaços que tinham os velozes e hábeis meias-atacantes brasileiros, o Brasil foi muito superior. Neymar voltava para recebera bola, driblava, passava e criava chances de gol. Parecia que seria uma goleada.
No segundo tempo, o mestre Óscar Tabárez mudou o sistema tático e o jogo. O Brasil não teve uma única chance para marcar. O Uruguai empatou e teve tudo para vencer a partida. Enquanto isso, as substituições feitas por Dunga provocaram uma tremenda confusão tática. Suárez, um touro com enorme talento, infernizou os zagueiros brasileiros. David Luiz foi muito mal. É absurda a ausência de Thiago Silva.
Por causa das características dos meias-atacantes brasileiros, que vivem de lances isolados, desconectados do jogo coletivo, haverá, com frequência, essa irregularidade. Além disso, não há um único excepcional meio-campista. Isso é tão evidente, que Renato Augusto, mesmo jogando na China, é o melhor armador brasileiro. Fez um belo gol.
A principal razão de Dunga escalar Neymar, Douglas Costa e Willian é a que são hoje os melhores meias-atacantes brasileiros. Nesta semana, citaram a seleção de 1970 e Zagallo, que também escolheu os melhores, independentemente das posições. É um ótimo argumento, desde que o craque da equipe não seja ofuscado pelo sistema tático. Seria como se Zagallo escalasse Pelé de centroavante, fora de sua posição, e me colocasse, um coadjuvante, mais recuado, como jogava no Cruzeiro.
Uma das grandes qualidades de um técnico é formar um ótimo conjunto e ajudar os melhores a jogar tudo o que sabem. É preciso também que o craque tenha obrigações coletivas, mas dizer que ele tem de se adaptar à maneira de jogar da equipe é uma balela e uma burrice.
Tão ou mais importante que o posicionamento dos jogadores é unir suas características para se completarem em campo. Na Copa de 1970, entre dois atacantes agressivos e magistrais, como Pelé e Jairzinho, era necessário ter um centroavante mais técnico. No mesmo raciocínio, entre Neymar e Douglas Costa (ou Willian), é preciso ter um centroavante habilidoso, que se movimente mais e que abra espaços para Neymar. Firmino, contundido, seria a melhor opção.
Dos cinco jogos pelas Eliminatórias, o Brasil só ganhou dois, em casa e contra duas das três piores seleções. Todas as outras sete, com chances de classificação, devem ganhar também, em casa, de Peru, Venezuela e Bolívia. Das sete, duas vão ficar fora da Copa. Paraguai, próximo adversário do Brasil, é, individualmente, a pior das sete melhores, mas é um time aguerrido, disciplinado, que costuma jogar mais do que se espera, ainda mais em casa e com o Brasil sem Neymar.
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Benê Lima