No dia 26 de fevereiro, foi realizada a eleição que nomeou Gianni Infantino como o novo presidente da FIFA e sucessor de Joseph Blatter. Dias depois de assumir o cargo, Gianni participava da II Conferência Futebol Feminino e Liderança, organizada pela entidade em Zurique (Suíça), no dia 07 de março. O encontro teve como foco organizar reformas em prol da igualdade de gênero na modalidade, tanto para as mulheres que praticam futebol, quanto para as mulheres que almejam cargos na gestão desse esporte.
Uma das reformas aprovadas no evento é de que, pelo menos, seis mulheres serão incorporadas ao novo conselho que substituirá o Comitê Executivo (órgão responsável por tomar as principais decisões da instituição). Atualmente, o Comitê Executivo da FIFA conta com a presença de uma única mulher: Lydia Nsekera, que foi membro do Comitê Olímpico Internacional em 2009 e em 2012 foi a primeira mulher a integrar a organização.
Em fala, durante a II Conferência Futebol Feminino e Liderança, o então presidente, Gianni Infantino, assumiu o futebol feminino como prioritário: “O futebol feminino e a mulher no futebol são uma prioridade, são parte da solução para o futuro deste desporto”, disse. Não foi o primeiro momento em que o futebol feminino é mencionado como uma prioridade na FIFA; O ex-presidente Joseph Blatter, em janeiro de 2013, apostou alto no futebol feminino. Acreditava que a expansão mundial partia das federações nacionais e previa serem “as mulheres o futuro do futebol”.
Estas primeiras explanações surgem com o intuito de fazer um balanço a nível nacional das mudanças ocasionadas a partir da fala do presidente da maior entidade do futebol no ano de 2013, até os tempos atuais. Buscando perspectivas para os próximos anos e questionando: quanto o comandante da entidade suprema do futebol influencia nas ações brasileiras para o desenvolvimento do futebol feminino? O que mudou de uma fala para outra? Algumas ações já podem ser percebidas, tanto dentro, quanto fora de campo.
A CBF reiniciou em 2013, o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, que contou com apoio da Caixa Econômica Federal para seu financiamento. Participaram desta primeira edição as 20 melhores equipes ranqueadas pela entidade. A competição que trazia dúvidas em relação a sua continuidade já está na quarta edição. A novidade deste ano são os clubes de camisa que ingressaram no Brasileirão: América – MG, Corinthians – SP, Flamengo – RJ, Santos – SP e Vasco da Gama – RJ, o que de certa forma dá maior visibilidade à disputa. Com inicio no dia 20 de janeiro de 2016 e a participação de 20 times, o campeonato se encontra na fase das quartas-de-final. Em virtude da Copa Algarve, a competição sofreu uma pausa na metade de fevereiro reiniciando em março, com as oito melhores equipes já classificadas.
Na semana posterior à declaração de Gianni Infantino, a Seleção Brasileira estreava na Copa Algarve pela segunda vez. Esse campeonato acontece desde 1994, mas contou com a presença das brasileiras somente em 2015. Em sua primeira participação, a equipe canarinha finalizou a competição em sétimo lugar entre doze Seleções. Já em 2016, um ano após a criação da Seleção Permanente, as brasileiras conquistaram o segundo lugar, perdendo apenas para o Canadá na disputa final. Para quem não conhece ou nunca ouviu falar, a Seleção Permanente foi convocada pela primeira vez em janeiro de 2015, com objetivo de melhor preparar as jogadoras para as competições internacionais, principalmente, a Copa do Mundo do mesmo ano e os Jogos Olímpicos de 2016.
Envolveu a contratação de um grupo seleto de 27 jogadoras pela CBF, que fornece ao elenco as instalações da Granja Comary em tempo integral e salários mensais de até R$ 9 mil. O projeto tem seus pontos positivos e negativos. Uma das vantagens é a estabilidade salarial e de trabalho proporcionada às atletas, visto que em clubes que disputam o Campeonato Brasileiro, a remuneração não passa de R$ 2,5 mil mensais e por muitas vezes suas instalações são precárias e as condições de treinamento são inconstantes. Além disso, o benefício de se manter uma equipe em treinamento constante é de que a mesma se torna competitiva e de qualidade. E uma das desvantagens envolve exatamente esses clubes que participam de campeonatos nacionais e “perderam” suas jogadoras para a Seleção Permanente, resultando na queda de qualidade das equipes e no enfraquecimento das competições, uma vez que a maioria do elenco é oriunda dos clubes que mais se destacavam no cenário nacional. O projeto Seleção Permanente já colheu alguns frutos e resultados positivos, sendo eles dois títulos: dos Jogos Pan-Americanos e do Torneio Internacional de Natal, ambos em 2015.
A sétima edição da Copa do Mundo foi sediada pelo Canadá e teve inicio dia 06 de junho. Foi marcada pela quantidade de equipes na competição que passou de 16 para 24 seleções. O Brasil encerrou a participação nas oitavas de final, sendo derrotado pela Austrália pelo placar de 1 a 0. Nessa edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino, outra novidade foi o lançamento do álbum de figurinhas da Copa com todas atletas das Seleções participantes. Em 2011 na Copa do Mundo da Alemanha, o álbum circulou somente do país sede, como o resultado surpreendeu, a Panini expandiu a destribuição para os demais países participantes da competição na edição de 2015. Com isso, as vendas no Brasil tiveram inicio em maio do mesmo ano.
No ano de 2015 a CBF investiu R$ 18,258 milhões no futebol feminino, quase o dobro do valor do ano anterior (R$ 9,583). Do legado da Copa do Mundo de 2014, R$ 45 milhões foram destinados ao futebol feminino, a quantia ainda é considerada pequena para um país como o Brasil, mas devemos admitir que nunca se aplicou tanto na modalidade. E os investimentos não chegam apenas por parte da Confederação Brasileira de Futebol. Um grande apoiador tem sido o Ministério do Esporte através de algumas intervenções feitas pela entidade. Entre elas, o aporte ao Campeonato Brasileiro desde 2013 e à Copa Libertadores da América desde 2012. São 137 jogadoras beneficiadas com a Bolsa Atleta, e 22 atletas que servem a Seleção, com o provento do Plano Brasil Medalha. Por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, será construído em Foz do Iguaçu (Paraná), um Centro de Excelência de Futebol Feminino, que contará com dois campos, alojamento, academia, ginásio e vestiários. O CT servirá de base para treinamentos de times e seleções de futebol feminino., mas ainda sem data para inauguração.
Em 04 de agosto de 2015, o governo implantou uma lei, que se pode compreender como incentivo ao futebol feminino, foi a criação do Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (PROFUT) – um programa do governo para clubes prolongarem o prazo para quitar dívidas e pendências – mas há uma exigência na Seção X do Artigo 4º onde os clubes terão que apresentar um investimento mínimo na formação de atletas e no futebol feminino. Já são 111 times que aderiram ao PROFUT, com isso, houve o crescimento na participação de times de camisa no Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, como dito anteriormente.
Além de investimentos, a visibilidade para o futebol feminino e para a história das mulheres nesse esporte vem aumentando. Citamos algumas estratégias extracampo que estão mobilizando a modalidade. Está acontecendo desde o dia 08 de janeiro no SESC SP, a Exposição Futebol Delas, organizada pela jornalista Lu Castro – Exposição que retrata por meio de textos, vídeos, fotografias e objetos pessoais de atletas e comissão técnica, a história de 20 anos da participação da seleção brasileira de futebol feminino nas cinco edições do torneio olímpico. E no Museu do Futebol há Exposição da Visibilidade para o Futebol Feminino, até o dia 08 de abril, onde conta a história das mulheres que lutaram pelo direito de jogar, com objetivo evidenciar o futebol feminino provocando nossa forma de enxergar a história desse esporte.
Analisando estes três anos que se passaram, podemos concluir que a nível nacional, tivemos avanços significativos no futebol feminino, no entanto, não se pode afirmar que tais avanços foram diretamente influenciados pelo ex-presidente da FIFA Joseph Blatter ou simplesmente pela pressão interna de quem faz parte da modalidade no país. Destacamos os esforços para o desenvolvimento e fomentação do futebol feminino brasileiro, assim como deixamos a avaliação de que ainda há muito para evoluir, por exemplo, os campeonatos estaduais praticamente não tiveram alterações. Os esforços em prol da modalidade parecem estar voltados prioritariamente para a seleção nacional. O Brasil segue como um dos países mais conservadores quando se trata de futebol e mulheres, principalmente em relação ao preconceito e visibilidade. Mas hoje, podemos arriscar que finalmente vislumbramos um futuro na modalidade. E as palavras de Gianni Infantino, além de esperança, nos dão fôlego.
Muito bacana o texto e melhor ainda sabermos e podermos divulgar tais iniciativa, que quando conjugadas com o verbo ESPERANÇAR, em sua melhor conotação, representando trabalharmos para realizar, certamente isso criará uma situação real de difusão e desenvolvimento do futebol feminino.
ResponderExcluirCreio que seja importante termos em mente que o futebol feminino tem alguns gargalos que precisam ser alargados, a fim de que ele possa enveredar por caminhos que o levem ao desenvolvimento que queremos. A conjunção de ações privadas, representadas por FIFA, CBF e federações estaduais, às iniciativas do nosso setor público são essenciais para alcançarmos um novo estágio desenvolvimentista. Portanto, ações como a recém criada I Liga Sub-20 da modalidade, pelo Ministério do Esporte, devem ser replicadas, bem como o investimento na formação, tanto ou mais que numa seleção principal.
(Benê Lima, cronista esportivo, presidente da Liga Cearense de Futebol Feminino, coordenador de futebol feminino da Federação Cearense de Futebol, membro do Conselho do Desporto do Estado do Ceará)