DO "WASHINGTON POST"
George Soros, filantropo bilionário e grande doador de verbas para causas progressistas, previu na quinta-feira (25) que regulamentação e impostos em breve destronarão o Facebook e o Google, descrevendo as grandes empresas do setor de tecnologia como poderosos monopólios que prejudicam pessoas, a inovação no mercado e a democracia.
Em um discurso feroz e de tema ambicioso, feito durante um jantar no Fórum Econômico Mundial de Davos, Soros aplaudiu a fiscalização reforçada da União Europeia aos gigantes da web. Também apelou por mais regulamentação do setor de tecnologia, para aproveitar as reações cada vez mais negativas aos gigantes do Vale do Silício.
"Facebook e Google se tornaram monopólios cada vez mais poderosos, criaram obstáculos à inovação, e causaram diversos problemas dos quais estamos apenas começando a nos conscientizar", disse Soros.
As declarações surgiram em um momento de escrutínio reforçado sobre o setor, por parte das autoridades de Washington e de críticos da tecnologia. Há pressão quanto a diversas questões, sendo a mais importante delas a publicidade on-line, seguida pela difusão de desinformações nas plataformas populares de mídia social.
Em resposta, Facebook e Google declararam que estão abertos a maior fiscalização governamental de suas operações publicitárias. O Facebook foi ainda mais longe, nas últimas semanas, discutindo publicamente o seu papel na sociedade mundial. Na semana passada, o Facebook admitiu em um post que a mídia social pode prejudicar a democracia, em certas circunstâncias.
Soros sugeriu que as autoridades dos Estados Unidos se inspirem nas ações de seus colegas europeus, especialmente Margrethe Vestager, a comissária de defesa da competição da União Europeia, a quem ele descreveu como "nêmese" dos monopólios tecnológicos norte-americanos.
Vestager, antiga ministra da Economia dinamarquesa, e outros dirigentes da União Europeia recentemente adotaram diversas medidas de regulamentação contra importantes empresas de tecnologia norte-americanas.
A União Europeia abriu um processo contra o Google por suposta violação das leis antitruste em seu serviço de buscas, seu sistema operacional para celulares e tablets, e sua plataforma publicitária. Em 2016, as autoridades de defesa da competição ordenaram que a Apple pagasse mais de US$ 15 bilhões em impostos não recolhidos na Irlanda, e o Facebook foi penalizado por diversas agências de proteção da privacidade por violar regras de proteção de dados.
Soros reconheceu que a abordagem europeia é diferente da norte-americana quanto às leis e regulamentos antitruste. Mas suas críticas ao Facebook e Google podem inspirar o Partido Democrata norte-americano, que já expressou ceticismo sobre o Vale do Silício e o mundo mais amplo da tecnologia e telecomunicações.
Em outubro, por exemplo, democratas do Congresso norte-americano, com o notável apoio do senador John McCain, republicano do Arizona, apresentaram um projeto de lei que imporia requisitos de informação mais firmes às plataformas de web que veiculem anúncios políticos.
Os legisladores que propuseram a medida dizem que as regras ajudarão a impedir que a Rússia e outras potências estrangeiras explorem a mídia social para solapar as eleições dos Estados Unidos. E na metade do ano passado, o Partido Democrata divulgou sua nova agenda econômica, intitulada "Better Deal", que inclui aplicação mais firme das leis antitruste e combate aos monopólios empresariais.
Embora Soros costume ser criticado por figuras conservadoras que se opõem aos seus projetos políticos, o ataque dele aos gigantes da tecnologia sublinha a convergência que começa a surgir entre a esquerda e a direita, que passaram a encarar o Vale do Silício como uma influência perversa sobre o país.
"É só questão de tempo para que o domínio mundial dos monopólios norte-americanos de tecnologia da informação seja derrubado", disse Soros. "Davos é um bom lugar onde anunciar que os dias deles estão contados".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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Benê Lima