Marcel Capretz / Universidade do Futebol
Nosso futebol foi construído, desenvolvido e vitorioso com base nas individualidades. O Brasil sempre se agarrou em craques, em jogadores que poderiam fazer a diferença. Em nossas conquistas, falamos muito mais de talentos específicos do que de esquemas coletivos bem ajustados. Sempre Pelé, Garrincha, Romário e Ronaldo serão mais lembrados do que engrenagens táticas, movimentos sincronizados entre setores, elos de ligação dentro da própria equipe potencializando todos e outros aspectos que de um jeito ou de outro vão existir sempre, com mais ou menos qualidade, por se tratar de um jogo coletivo.
"...temos impregnado em nossa cultura que a equipe que tiver os melhores jogadores é a que vai ganhar. Não existe mentira mais absurda do que essa!"
Como consequência disso temos impregnado em nossa cultura que a equipe que tiver os melhores jogadores é a que vai ganhar. Não existe mentira mais absurda do que essa! Me causa calafrios cada vez que ouço a expressão "time bom no papel". Como assim time no papel? Quer dizer que somando as partes (jogadores) teremos um todo (equipe) melhor? É claro que um grupo que conta com atletas inteligentes e competentes para melhor resolver os problemas do jogo terá uma vantagem. Mas apenas isso, uma vantagem.
O Corinthians de 2017, apontado como quarta força de São Paulo, é o exemplo que mais grita sobre tudo isso. No famigerado 'papel' a equipe parecia fraca para muitos. Porém, com sinergia entre os jogadores em campo, as ideias do técnico Fábio Carille e o bom ambiente entre todos os profissionais de campo parecia que o Corinthians tinha 14, 15 jogadores em campo e não apenas 11.
E para falar do ano atual, já dá para perceber claramente o erro de prognóstico de quem viu o desempenho de São Paulo e Corinthians na janela de contratações. Ao passo que o Tricolor foi mais bombástico, o Timão foi mais certeiro. Para quem achava que Pablo, Hernanes e cia. mudariam o patamar (outra expressão medonha!) da equipe são-paulina a eliminação para o Talleres na primeira fase da Libertadores já foi um banho de água fria. E venho sustentando em meus comentários que o Corinthians vai evoluir, vai criar mecanismos de jogo que o colocarão como favorito em toda competição que disputar. Falo isso por enxergar no elenco jogadores que se complementam e um treinador capaz de extrair o melhor de cada um.
Pagar fortunas para treinadores badalados não é sinônimo de privilegiar o jogo coletivo. Dirigentes usam técnicos que já foram vitoriosos como escudo. A fórmula para o sucesso no futebol envolve inúmeros fatores, alguns deles já conhecidos: planejamento e conhecimento na formulação do elenco, definição de uma ideia de jogo a ser desenvolvida e ambiente e mentalidade propícios a vitória. Com esses elementos, o time em campo terá muito mais chance de ser melhor do que no papel.
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Benê Lima