Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, agosto 08, 2016

RAZÕES DO FUTEBOL, por Romeu Castro

Seleções feminina e masculina olímpicas do Brasil. (Fotomontagem: Benê Lima)
No dia seguinte ao tropeço da nossa Seleção diante do Iraque, o ambiente do futebol brasileiro não poderia ser mais volátil. As críticas sobre a Seleção Masculina se propagam na mesma velocidade, com que o País redescobriu a magia do futebol moleque a atrevido da Seleção feminina. No ápice do orgulho nacional ferido, o narrador Galvão Bueno decretou a falência do futebol brasileiro e constatou que Marta é maior do que Neymar.

Cabe aqui alguma reflexão. O Futebol do Iraque há tempos surpreende em Competições Internacionais. Foi inclusive semifinalista Olímpico em 2004, e com o País mergulhado no caos entre a reconstrução após a guerra contra os Estados Unidos e os atos terroristas do Estado Islâmico, tem quase que a totalidade dos jogadores sobreviventes radicado no exterior. Durante o regime do ditador deposto, teve investimento permanente em futebol, e foi um mercado atraente para grandes treinadores brasileiros. Portanto uma equipe que tem talentos individuais e muitos motivos para lutar nos gramados, entre a glória política, as vidas perdidas e ideais políticos.

A Seleção Brasileira tem seus craques milionários, e um planejamento baseado no último Mundial Sub-20, quando nos sagramos vice-campeões. Sendo o Torneio Olímpico uma competição Sub-23, poderíamos questionar essa premissa na escolha dos jogadores e da própria comissão técnica. Mas para não alongar, o dedicado técnico Micale paga pelas escolhas que fez e pelo planejamento de trabalho.

Certamente o clima seco do Brasília foi muito bem assimilado pelos Iraquianos, meninos que cresceram correndo no deserto. Salvador chega como a possibilidade derradeira de renascimento desta equipe, e tem tudo para acolher e impulsionar a nossa Seleção. O clima, o calor humano e as bênçãos de santos e orixás da boa terra, me fazem acreditar no renascimento dessa Seleção.

É hora dos nossos dirigentes inflamarem a garotada, lembrando que há poucos meses Portugal naufragava na primeira fase da Eurocopa, com Cristiano Ronaldo quase acuado pela mídia a exemplo de Neymar, e a equipe renasceu para o título e para o mundo. Outras potências do futebol como Argentina e Alemanha sofrem no futebol masculino das Olimpíadas, e nem por isso questionam a qualidade das suas competições nacionais.

Sobre a soberana rainha Marta, uma das maiores craques de todos os tempos, seu lugar está assegurado eternamente entre as melhores. Mas continua a cultura de preconceito quando a enaltecemos não pelas suas conquistas, mas para tentar inferiorizar Pelé, Neymar, ou qualquer outro jogador com o qual não simpatizamos.

Ninguém da Imprensa lembrou que a imperatriz Sissi viveu momento semelhante ao ser aclamada por 60 mil torcedores no Morumbi, numa partida da equipe masculina do São Paulo. Ninguém compara a qualidade de Hortência e Oscar, Ana Mozer e Tande, e assim por diante. Mas querem que Marta e Cristiane tenham suas marcas comparadas a Pelé, Zico ou Neymar. Simplesmente não faz sentido. São categorias e realidades diferentes.

Gostaria de ver a mesma tenacidade na defesa de melhores salários para as nossas meninas, patrocínio para os clubes femininos de futebol e na solução da situação das jogadoras pioneiras, aquelas que conquistaram a América quatro vezes seguidas saindo dos morros e favelas, e não tem aposentadoria ou lugar na estrutura atual do futebol.

A nossa Seleção Feminina vai bem, e mais uma vez comove, mas terá duros e sérios desafios adiante. O resto, bem, deixemos por conta do tradicional passionalismo brasileiro...
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Benê Lima