Painel Tático
Os times de Porto Alegre não estão indo bem em seus últimos jogos. O Grêmio chegou à 3º derrota consecutiva no Brasileirão com uma atuação histórica do goleiro Douglas, do Avaí, e o Inter segue a sina da Série B após suar um empate com o Criciúma em pleno Beira-Rio. Além dos resultados, o desempenho dos arqui-rivais é bem semelhante: times de posse, ofensivos e que sofrem contra os pequenos.
Nunca na história do jogo foi tão difícil propor, ter o controle e empilhar gols a partir da posse de bola. É um traço característico da evolução do futebol. Não parece, mas aquele Barcelona que fez 4x0 no Santos irá completar 6 anos. E, no mundo globalizado e na era da informação, 6 anos equivalem a 60. Analistas, técnicos e jornalistas viram e reviram partidas, e o controle da bola já não é mais o objetivo do jogo. Cruyff, se estivesse vivo, não iria gostar. Mas nunca foi tão complicado ser um time holandês ou catalão.
A questão não é mais ficar atrás e especular contra-ataques. É conseguir fazer com que essa organização defensiva tire a velocidade do jogo e dos passes do rival, o grande responsável por criar espaços. O Grêmio é um bom exemplo: no 4-2-3-1 de Renato, Barrios funciona como o pivô que sustenta e contrói de costas, escorando para as diagonais dos pontas ou o jogo de Luan. Quando não há opções à sua frente - como na imagem - e Luan fica na frente dos volantes, o Grêmio trava. Precisa finalizar de longa distância, já que as tabelas não conseguem ter a velocidade para superar e deixar adversários de costas.O Criciúma também fez isso após conseguir um gol de bate-rebate na área. Aliás, o peso da bola parada vem sendo cada vez mais importante nos resultados finais de jogos - lembre-se que o Palmeiras findou um jejum de 22 anos com quase 50% dos gols feitos assim. Não basta mais ter uma linha de defesa bem posicionada. Quando essa linha está virada para a bola, pronta para interceptar, e o meio-campo está pressionando o portador - como na imagem - torna-se muito difícil escapar dessa maracutaia defensiva.Não se pode mais resumir a complexidade dessas ideias no simples conceito de “retranca”. O jogo defensivo nunca teve tantas nuances - linha de 3, linha de 4 ou de 5, alas por dentro ou espetados, bola longa ou jogo pelo chão, contra-ataque rápido ou “Cucabol”. Basicamente, já não é mais necessário ter jogadores talentosos ou habilidosos para formar uma equipe que jogue dessa maneira.
Controlar os espaços é um modelo acessível e, se a ideia é comprada de cara, fácil de implementar até na loucura de demissões do Brasil.
Por isso a dupla gre-nal vem sofrendo. Não apenas ela, mas o Santos teve um acréscimo de resultados e um decréscimo de organização com Levir Culpi quando passou a adotar um jogo reativo - e por reativo, entenda de reação ao adversário, de recuperar e sair rápido. Fluminense e Cruzeiro fizeram bons jogos assim, e o Botafogo assombra qualquer grande parecendo o Atlético de Madrid. O Grêmio foi o "melhor futebol do Brasil" quando teve a velocidade certa para desorganizar o adversário. Mais estudado, já não consegue reprisar os bons desempenhos.
Não é preciso gostar. Mas o Brasileirão e o caminho do futebol é o jogo reativo. O jogo de linha compacta e fora da área. Ou melhor, se você realmente gostar do termo, é a era da retranca. A missão de criar espaços nunca foi tão árdua - e complexa.
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Benê Lima