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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, julho 27, 2017

Futebol espetáculo é mais importante que as transferências de jogadores

AMIR SOMOGGI

Neste momento que estamos vivendo mais uma janela de transferências, com jogadores sendo contratados a peso de ouro, muitas pessoas acreditam erroneamente que este é o mais representativo segmento da Indústria do Futebol.

Especialmente no Brasil criou-se a tese que a venda de atletas é o principal fator para o desenvolvimento do nosso mercado.
E é exatamente por teses erradas como essa, que nossos clubes estão na segunda, terceira divisão do futebol mundial.
Mesmo com a evolução do nosso mercado, os clubes brasileiros permanecem acreditando que o melhor a fazer é formar jogadores e vendê-los para o mercado internacional, muitas vezes por valores baixíssimos.
Para piorar os times nem ao menos ficam com 100% dos valores, já que cederam antes à empresários os direitos econômicos dos atletas. Isso mostra como estão atrasados na gestão de seus negócios, viraram barrigas de aluguel de jogadores de empresários. Enfim, está tudo errado!
O mercado global de transferências segundo dados da FIFA movimenta US$ 5 bilhões por ano.
Um valor insignificante na comparação com o que se fatura com o futebol espetáculo.
O futebol é o esporte que mais movimenta dinheiro no planeta. Segundo cálculos da empresa AT Kearney cerca de 43% de toda a movimentação do esporte mundial fica com o futebol.
A espetacularização do futebol, com seus direitos de TV, patrocínios, licenciamentos, gastos nos estádios e apostas movimentam mais de 20 vezes o que se gasta com transferências.
Se incluirmos a venda de produtos no varejo a diferença é ainda maior.
Portanto, o total movimentando pelos times na compra e venda de jogadores é insignificante na comparação com o que se fatura com suas marcas e o espetáculo em si. Os atletas são contratados exatamente para fomentar as outras receitas.
É óbvio que se os clubes brasileiros quiserem evoluir terão que mudar a forma como lidam com as transferências.
Deixar de ser exportador de pé de obra é o único caminho para valorizar marcas, vender produtos, lotar estádios e atrair patrocínios.
Repito isso desde 2001 quando comecei a trabalhar com futebol no Brasil. depois de uma temporada de estudos na Europa. E infelizmente pouco evoluímos desde então.
Ídolos são essenciais para o negócio
Quando um clube europeu vende um jogador, até contabilmente os valores são registrados de forma diferente do padrão brasileiro.
Na Europa a transferência de um atleta é considerada como receita não operacional e, portanto, não é parte do faturamento do clube.
Isso significa que não é somada com as receitas de patrocínios, licenciamento, estádios e TV. Isso mostra a diferença na essência, já que o foco do clube não é vender jogadores e sim o espetáculo. Até a contabilidade lá está adaptada a essa realidade!
Quando um time vende um atleta o recurso é utilizado para a aquisição de outro jogador. A lógica é exatamente essa. A perda de ídolo exige na hora uma reposição.
Todo o negócio do clube depende dessa visão.
Ídolos são a mola propulsora de todo o negócio.
Por exemplo, para o Barcelona é mais importante manter Messi no time do que receber sua multa rescisória, por mais alta que ela seja.


A presença de um craque vai muito além dos gols e jogadas desconcertantes que ele possa fazer. É decisivo no fortalecimento da marca, aumento de torcedores, estádio lotado e mais patrocinadores, especialmente com foco no mercado global.
Enquanto isso, os clubes brasileiros preferem continuar sucateando nosso mercado, sem uma liga forte e competições valorizadas.
Sua gestão amadora e em muitos casos irresponsável é financiada pela venda precoce de jovens talentos.
Esse ciclo vicioso apenas serviu para manter nosso mercado limitado e subdesenvolvido.

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Benê Lima