Cosme Rímoli
Vingança.
Pura e simples.
Com o estranho silêncio do CADE.
Para quem não é familiar com a sigla, vale detalhá-la. Se trata do Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça, que tem como objetivo orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos do poder econômico.
Criado em 1962 pelo presidente João Goulart, inspirado em órgãos parecidos dos Estados Unidos e na Europa, a missão do CADE é garantir a livre concorrência entre as empresas. Preservar os consumidores. Evitar cartéis de empresas que combinam preços. Ou monopólios sobre qualquer produto ou serviço.
O futebol sempre foi um produto que o CADE ameaçou interferir e, na prática, pode fazer. A TV Globo mantém o domínio do esporte no país desde os tempos da Ditadura Militar. Com profunda ligação com a CBD e depois CBF, a emissora carioca conseguiu também o domínio das Copas do Mundo. A ponto de as duas próximas, a Fifa não ter nem aberto concorrência, já avisou que são da Globo.
O cenário seguia no marasmo, até que grandes grupos acordaram para a força financeira do futebol na América Latina. O grupo Fox investiu pesado e comprou os direitos da Libertadores, acabando com privilégios da Globo. A emissora viu se tornar rotina a concorrente mostrar jogos do Flamengo e do Corinthians de forma exclusiva. Sem poder reagir.
capitalismo selvagem segue imperando e a Disney comprou o grupo Fox por US$ 52 bilhões, R$ 167 bilhões. Ninguém sabe o que acontecerá com a Fox Sports, por exemplo. A emissora tem eventos comprados até o final deste ano. Depois, é uma incógnita.
Mas a Globo não tem nem como comemorar o enfraquecimento da concorrência. O grupo Time Warner, dono de um conglomerado gigantesco de mídias, aportou no Brasil. Uma de suas ramificações, o grupo Turner comprou o Esporte Interativo. O que já era poderoso se tornou incrível, com a fusão com a AT&T. Acordo para mais de US$ 300 bilhões, cerca de R$ 967 bilhões.
O governo americano entrou com um processo questionando se a união das empresas não seria prejudicial ao consumidor. O resultado da questão só em março de 2019.
Mas enquanto isso não acontece, bastou o dinheiro da Turner, que foi incorporada pela Warner, que está para ser incorporada pela AT&T. E a Globo teve o seu maior revés. A derrota inesperada.
Trabalhando em silêncio, negociando diretamente com os clubes, o Esporte Interativo conseguiu convencer 17 equipes a vender os direitos de transmissão por cabo, dos Brasileiros de 2019 a 2024. Foram 17 clubes a virarem as costas para o canal fechado da Globo, o Sportv.
Da Série A, Palmeiras, Santos, Internacional, Bahia e Atlético Paranaense.
José Carlos Peres cedeu. E aceitou assinar com a Globo ganhando 20% a menos
Santos FC
Estes clubes decidiram formar um grupo para renovar em conjunto com a Globo na tevê aberta e no pay-per-view. Os dirigentes tinham certeza que a Globo iria se vingar, buscar represália.
Tanto que ela se efetivou.
A emissora carioca decidiu oferecer 20% a menos do que pagava na tevê aberta. E cerca de 5,27% por partida transmitida no pay-per-view.
Uma lição aos rebeldes.
Só que havia ainda a possibilidade de a tevê, mesmo comprandos direitos dos jogos, evitar mostrar os clubes na aberta. O que prejudicaria diretamente a negociação com os patrocinadores.
Modesto Roma estava disposto a enfrentar a Globo. Mas o novo presidente José Carlos Peres, não. E rompeu o acordo com Palmeiras, Santos, Internacional, Bahia e Atlético Paranaense. Aceitou ganhar menos. E enfraqueceu o bloco. Houve enorme decepção com o dirigente por parte dos outros 'rebeldes'. Justo o Santos que é o clube com menos transmissão entre os grandes em São Paulo, há anos e anos. A ponto de sua torcida boicotar a emissora carioca.
A direção do Palmeiras é a mais revoltada com a vingança da Globo. Como o time está muito bem financeiramente, busca até alternativas para tentar mostrar seus jogos, de forma independente. Analisa um canal só seu, pago no youtube. Com uma equipe de transmissão formada por narradores, comentaristas e repórteres assumidamente palmeirenses. Não quer ficar 'de joelhos' para a dona do monopólio na tevê aberta.
O que impressiona é a postura passiva do CADE.
Dona do monopólio do futebol, a Globo faz o que quer há décadas. Não tem nem mais a parceria da Band. A emissora paulista se cansou de pagar para a Globo e ser obrigada a mostrar o mesmo jogo da 'co-irmã'.
Sozinha no mercado, a Globo resolveu se vingar. Punir financeiramente quem teve a ousadia de assinar com o concorrente na tevê fechada. Assume que paga 20% a menos na aberta. E 5,27% no pay-per-view.
Mauricio Galiotte, revoltado, busca alternativas para fugir do domínio da Globo
Palmeiras/Divulgação
Os clubes buscam alternativas diante da vingança.
O Santos já cedeu.
Virou as costas e enfraqueceu os rebeldes.
E o CADE avisa que não se manifesta.
Não foi aberto nenhum procedimento administrativo.
O órgão silencioso é ligado ao Ministério da Justiça, que também está calado
É inaceitável a maneira que os clubes estão lançados à própria sorte.
Por isso a Globo faz o que quer neste país...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por seu comentário.
Em breve ele será moderado.
Benê Lima