Modelo de gestão dos clubes do futebol nacional deve ser repensado; fortes defensivamente, São Paulo e Sport se destacam
Rafael Faéco Pinto
Observamos poucas vezes no Brasil os times manterem uma base importante do elenco de uma temporada para outra. Essa cultura do futebol nacional de contratar praticamente um time todo a cada temporada se reflete diretamente na produção dentro de campo.
Cito como exemplo o São Paulo e o Sport Clube do Recife, duas agremiações que mantêm seus jogadores com o passar dos anos principalmente em um setor do campo: a defesa
Fatos que ninguém pode contestar, pois um é candidato ao título do Campeonato Paulista de 2009 e atual tri-campeão Brasileiro, e o outro invicto no Pernambucano e atual campeão da Copa do Brasil. Os dois detêm os maiores títulos nos campeonatos realizados no Brasil no ano e estão representando o país na Copa Libertadores da América.
No Sport, parte do elenco atua junto há pelo menos três anos. Jogadores como Magrão e Cléber (goleiros), Durval, Igor e César (zagueiros), Dutra (lateral-esquerdo), Daniel Paulista, Andrade e Sandro Goiano (volantes) e Fumagalli (meia).
Na equipe do São Paulo também com grande parte do elenco atuando junto pelo mesmo período. Temos Rogério Ceni e Bosco (goleiros), Miranda e André Dias (zagueiros), Richarlyson e Jorge Wagner (laterais-volantes), Hernanes (volante- meia) e alguns que saíram há pouco, como Junior (lateral-esquerdo), Souza (lateral-meia), e Aloysio (atacante).
Como podemos observar, a manutenção dos jogadores é evidente na defesa e na região de primeira marcação no meio-campo. Por isso fazem times competitivos e que tomam poucos gols.
Sempre lembro de uma frase que o professor Muricy Ramalho (atual treinador do São Paulo), com o qual tive o prazer de trabalhar junto quando atuava pelo Náutico, nos falou no início de um campeonato: “Time que não toma gol sempre chega”.
E pude constatar que é a pura verdade, pois dificilmente goleávamos, mas acabamos campeões naquele ano. Tínhamos uma defesa muito forte e entrosada com Lima, Sílvio e Sangaletti, que vinham há dois anos atuando juntos.
O futebol considerado modelo no mundo, em organização e competitividade, é o Europeu, e não vemos Manchester United, Barcelona, Chelsea, Arsenal e Lyon, por exemplo, mudando seus times ano após ano. Ao contrário: sabemos até a escalação dessas equipes, anos-luz à frente dos times brasileiros em questão de gestão, organização, marketing, divulgação de marca e exploração de imagens de seus atletas e do próprio clube.
O que questiono muito e sempre ouvi desculpas dos dirigentes dos clubes é sobre a manutenção do elenco. É nítido que se o clube mantiver uma base boa certamente irá colher bons frutos no futuro, mas infelizmente essa não é a cultura nacional.
Há clubes que disputam a Série B e até a Série A do Campeonato Brasileiro que disputam o Estadual e, ao fim dele, mandam 70% do elenco embora e contratam jogadores novos, tendo praticamente dez dias para o início da competição.
Isso é um absurdo, pois acabam acontecendo vários problemas em cadeia. Dentre eles, a falta de entrosamento dos atletas remanescentes com os que estão chegando, a dificuldade dos preparadores físicos e fisiologistas que têm de deixar os atletas em igualdade de condições, pois cada atleta chega em um nível diferente de preparo físico, além dos que chegam muito mal fisicamente e são colocados para jogar sob o risco de lesões.
Além da cobrança por bons resultados pela imprensa e torcida, a comissão técnica muitas vezes não tem nem tempo de implantar seu trabalho, pois após alguns resultados negativos já está vulnerável a passar por uma troca de comando e de alguns jogadores. Isso é normal no Brasil e uma coisa que já deveria estar mudando, mas não vejo muitas perspectivas de isso ocorrer.
Grande parcela de culpa têm os dirigentes de futebol que, muitas vezes, não querem assimilar nenhum tipo de pressão, ouvem demais opiniões da imprensa e torcida e jogam tudo nas costas dos jogadores e da comissão técnica.
Lembrando que não estou generalizado – claro que existem bons dirigentes e que entendem de gestão de futebol, mas num contexto geral, temos muito o que aprender e melhorar para sermos realmente o país do futebol, profissional, organizado, planejado e, principalmente, com respeito aos profissionais da área.
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Benê Lima