Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, novembro 24, 2013

Leonid Slutsky, treinador do CSKA Moscou

"Ser treinador é uma arte", sintetiza o comandante do atual campeão russo

Equipe Universidade do Futebol*

Leonid Slutsky do CSKA Moscou emergiu como um dos mais promissores treinadores russos. No futebol daquele país, ele é relativamente jovem para ser um gestor técnico de campo, mas há evidência real de sua capacidade. Não só para lidar com um grupo de atletas, mas para liderá-los. Enquanto exibe uma clara consciência acerca da importância e da dinâmica de cada oportunidade para aprendizagem e desenvolvimento – a si mesmo e àqueles ao seu redor.

Nesta mesma entrevista concedida à Soccer Coaching International, parceira da Universidade do Futebol, Slutsky reconheceu a oportunidade para, possivelmente, aprender algo novo. E é só com esses atributos que ele se vê capaz de gerir as pressões de orquestrar uma equipe para jogar e aprender com os campeões da Premier League da Rússia.

A ascensão de Slutsky dentro do território natal dele é realmente extraordinária. Ele avançou a partir das ligas inferiores com o Olimpia Volgograd (1993-2001) a um dos principais postos de trabalho com o CSKA Moscou a partir de 2009. Mas como será que tal subida meteórica impactou o caráter pessoal e profissional?

"Não existe uma fórmula especial. Eu realmente não mudei como pessoa, mas eu tive que me adaptar muito como treinador. Foi muito difícil no início da minha carreira, mas sempre levei as coisas com constância no início, eu olhei para os outros para aprender. Isso me deixou na melhor posição para lidar com as demandas que enfrentamos hoje. Agora eu considero que eu assumo riscos, enquanto fico mais calmo do que antes”, revelou o treinador.

Neste bate-papo, ele também releva a preocupação com o desenvolvimento do futebol russo e por que ter estado por poucos minutos ao lado de José Mourinho influenciou tanto o seu jeito de pensar o jogo.
 


 

Universidade do Futebol – Fale um pouco sobre sua filosofia de trabalho à frente da equipe principal do CSKA Moscou.

Leonid Slutsky – Há dois aspectos principais no meu jeito de comandar o grupo. O primeiro é a gestão de pessoas. Asseguro que todos da comissão técnica têm possibilidade para refletir a partir de uma mesma ética de trabalho. Buscamos permanecer focados na tarefa, sempre a partir de um equilíbrio, buscando a felicidade no trabalho.

O segundo é o aspecto do futebol, dentro desta filosofia e da metodologia de treinamento, mas que está diretamente relacionado ao cumprimento do primeiro objetivo. 

A gestão certa de pessoas é a base para todos os detalhes. Isso se reflete na pressão de assumir o comando de 15 ou mais jogadores estrangeiros, cada qual focado apenas no próprio crescimento e desempenho profissional, e não realmente interessado no que o treinador pode ensiná-lo.

De certa forma, isso simplifica a minha tarefa de incutir disciplina e fazer com que os jogadores atuem da maneira que eu necessito para o time.

Neste nível, eu tenho me tornado mais “cínico” como treinador: sou mais exigente e explico menos as minhas decisões. Esta estrutura simples mantém relações entre os jogadores e o corpo técnico, e isso é mais importante para mim do que a sua atitude individual.



Para treinador do CSKA Moscou, gestão certa de pessoas é a base para todos os demais detalhes no futebol

 

Universidade do Futebol – E já teve de encarar muitos problemas? Como é o seu contato com os jogadores mais jovens?

Leonid Slutsky – Recentemente, Oleg Veretennikov, ex-atacante russo e recordista de gols de todos os tempos no país (257) veio até a minha comissão para pedir um estágio, e enquanto ele estava lá, eu perguntei a alguns dos meus jogadores se eles o reconheceriam. Nenhum o reconheceu!

Mesmo quando eu lhes disse o nome, eles ainda estavam se perguntando: “Quem é?”.

É ainda muito estranho que no clube muitos jogadores nem sequer sabiam o nome de Oleg Blokhin, lenda absoluta do futebol soviético, que venceu sete campeonatos nacionais (URSS) com o Dinamo de Kiev, três copas européias e foi condecorado com a Bola de Ouro em 1975.

Universidade do Futebol – De que maneira os treinamentos podem beneficiar a produção de seus atletas nos jogos?

Leonid Slutsky – Minha principal tarefa com a organização da sessão de treinamento é fazer com que cada jogador pense que o treinamento é individual, para ele, para que cada exercício ou aspecto do treinamento seja efetivo para a sua própria melhoria. E tal situação é difícil de ser criada.

É muito importante determinar as características dos jogadores que podem ser melhoradas. Estou me concentrando atualmente em melhorar os pontos fortes dos jogadores, mas não excluindo as fraquezas. Se um jogador de 23 anos não é capaz de realizar um chute preciso com o pé não dominante, eu não vou ensiná-lo a fazer. O resultado máximo dos meus esforços será de 10% de progresso. Não vale a pena o alto percentual de informação que eu precisaria investir em um pequeno incremento do desenvolvimento dele.

Nós sempre prestamos atenção especial aos jogadores e à equipe adversária: quais são os pontos fortes, onde estão os pontos fracos, quais as áreas do jogo e em que zonas eles costuma atuar mais, etc. Usamos essa análise para construir a preparação do treinamento e o desenvolvimento da estratégia de jogo. Esta perspectiva é uma ferramenta muito valiosa.

 




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Universidade do Futebol – Poderia citar alguns exemplos práticos?

Leonid Slutsky – Sim! Quando cheguei ao CSKA, identifiquei os jogadores que realmente poderiam controlar a bola em inúmeras situações, sem perdê-la e, então, seriam capazes de distribui-la com qualidade. Para começar, eu diria que havia apenas cinco desses jogadores e, agora, há pelo menos oito. Houve progresso.

Aqui no clube nós não tentamos fazer com que os jogadores sejam completamente independentes, mas certamente devem saber suas funções e responsabilidades, tanto ofensiva, quanto defensivamente. Não importa apenas em que posição eles atuam dentro de campo – importa, também, a tomada de decisão de tratar com os aspectos do jogo: quando pressionar, interceptar, marcar, cobrir ou ficar no local de origem, quando passar, manter, ou correr com a bola, quando se mover e para onde, em que momento dar o apoio, quando jogar imaginativamente, etc. 


Universidade do Futebol – Como se dá a integração com o departamento de formação de atletas do clube?

Leonid Slutsky – Eu não tenho tanta influência sobre as categorias de base do CSKA. Não está dentro da minha jurisdição e não é minha filosofia ditar o que os treinadores devem fazer, mas posso, claro, dar a minha perspectiva sobre algumas coisas. E se eles precisam ou querem mais detalhes, a porta da minha sala está sempre aberta.

Coaching é uma arte, e ele está evoluindo o tempo todo no que você faz. Somos flexíveis para refletir e mudar o que já fazemos e também para sermos inovadores e criativos em cima de uma tela em branco.

Recentemente, descobrimos na base que dentro do grupo mais jovem, havia mais jogadores na equipe titular que vieram de fora de Moscou do que os nativos. Mas, com bastante frequência, com a idade de 16 ou 17 anos, este número de jogadores diminui com moscovitas em ascendência. A principal razão para isso é que aqueles estrangeiros estão em instalações e alojamentos, enquanto que os de Moscou são criados dentro de suas famílias, para que seja proporcionado um maior nível de cuidado pastoral e apoio.

Isso não quer dizer que aqueles de fora não recebam esses cuidados, porque o clube os proporciona. Mas é algo muito relevante, sim, contar com o suporte da família neste período de maturação.
 


"Não é minha filosofia ditar o que os treinadores devem fazer, mas posso, claro, dar a minha perspectiva sobre algumas coisas", diz Slutsky

 

Universidade do Futebol – Quais são as suas referências sobre futebol e como procura se manter informado?

Leonid Slutsky – Quando eu trabalhava no Olimpia Volgogrado, eu assistia a futebol 24 horas por dia, mas agora eu raramente faço isso. De qualquer maneira, posso facilmente citar os titulares e reservas de qualquer clube nas ligas europeias. E na Liga Russa, eu sei tudo sobre todos, desde estatísticas de desempenho, a aspectos individuais.

Em minha opinião, há cinco clubes que pensam mais à frente no sentido do futebol ofensivo: Barcelona, Manchester United, Bayern de Munique, Real Madrid e Borussia Dortmund. Eu tento assistir a cada jogo destas equipes e acompanhar todas as notícias delas. Eu também leio todas as entrevistas com os jogadores e treinadores destes clubes.

Ter encontrado o Mourinho, por exemplo, me influenciou muito. Conversamos por cerca de uma hora. E aqueles foram possivelmente os mais influentes 60 minutos na minha perspectiva de treinamento e filosofia.

Depois disso, eu conversei por mais quase três horas com o seu assistente, que também foi muito receptivo e interessante.

Sir Alex Ferguson não foi revolucionário ou inovador. Ele foi simplesmente fantástico na gestão de uma equipe de estrelas, fazendo uma função bastante comum, mas muito eficiente dentro dessa equipe.

Luciano Spalletti me impressionou, também, mesmo quando ele estava trabalhando na AS Roma. Eu me lembro que tivemos uma pré-temporada na capital italiana, e trabalhamos no campo daquele clube. Foi uma experiência única e gratificante.

 

Confira entrevista com Nuno Amieiro, ex-treinador adjunto do FC Porto e autor do livro "Mourinho: Porquê tantas vitórias" 


Universidade do Futebol – Como você enxerga o futuro do futebol russo?

Leonid Slutsky – A política dos clubes influencia muito o que fazemos, até mesmo o nosso estilo de uma forma direta. Sabemos quais as posições na equipe que devem ser ocupadas por jogadores russos e, como todos os novos jogadores vão ser jovens, temos que considerar quando cada um destes vai deixar o time.

Jogadores são importantes para o estilo de jogo da equipe, e no futebol a personalidade e o caráter das individualidades continua a crescer. E desenvolver a personalidade é tão importante quanto o futebol.

Eu não sou um treinador de categoria de base agora, e eu não posso subestimar o trabalho de um treinador de jovens atualmente. Precisamos de uma seleção de técnicos na Rússia a partir da vastidão de talento que temos e desenvolvê-los e dar-lhes a oportunidade de aprender e trabalhar em alto nível. Assim, isso será transferido para os jogadores.
 



"Precisamos de uma seleção de técnicos na Rússia a partir da vastidão de talento que temos e desenvolvê-los e dar-lhes a oportunidade de aprender e trabalhar em alto nível", crê Slutsky

 


*Tradução: Thales Peterson

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Benê Lima