Eduardo Cecconi
Pai do 4-2-3-1, sistema hoje consagrado como verdadeira COQUELUCHE mundial, e maestro dos INVENCÍVEIS – geração que conquistou a Premier League sem perder nenhuma partida na temporada 2003/2004 – Arsene Wenger vinha sofrendo grande oposição na Inglaterra. Perdera a mão, diziam muitos, enraizado em seu jogo de posse ofensiva, movimentação, trocas, ultrapassagens e passes rápidos. Mas a contratação de Özil mostra que Wenger não estava CADUCO, apenas lhe faltava um camisa 10 decente. E, com o alemão, as melancias dos Gunners se ajeitaram sobremaneira.
Wenger segue fiel ao 4-2-3-1 que, se não foi inventado por ele, teve no técnico francês o principal desenvolvedor. Com Özil, Cazorla e Rosicky na linha de meias ofensivos, consegue reprisar aquela movimentação constante, com trocas de posições e abertura de espaços, que tanto encantaram nos tempos de Bergkamp, Ljungberg e Pires. E, com Ramsey, ainda conta com as ultrapassagens à moda Vieira. A engrenagem voltou a rodar. Notem, a cada foto do post, que os três meias estão dispostos em ordem diferente, assim como Giroud e Ramsey: distribuem-se ou concentram-se em lugares diferentes, e de maneiras diferentes. Assim que se faz.
No último final de semana, quem não parece ter compreendido a complexidade do problema foi o técnico Brendan Rodgers. Ele manteve no Liverpool o 3-1-4-2 que vem utilizando, quase INEXPLICAVELMENTE, depois de chegar à liderança do campeonato jogando no 4-4-2 duas linhas.
QUAL O PROBLEMA? – vocês podem perguntar. Bem, Rodgers coloca, como em quase todos os 3-5-2′s e assemelhados, seus alas a marcarem prioritariamente os laterais adversários (salvo situações de exceção). Com isso, ele deixa o trio de zagueiros absolutamente vulnerável. Afinal, quem marca os pontas? Se forem os zagueiros, perde-se a sobra (2 pontas + 1 centroavante = 3 zagueiros). Além disso, se os pontas oponentes vierem tramar por dentro, os zagueiros não ficam BÊBADOS na jogada (3 marcando 1) enquanto o tripé de meio-campo se verá em inferioridade no corredor central (4 ou 5 contra 3)?
SIM, foi exatamente isso que aconteceu. Vejam a sequência de frames táticos ilustrando os descompassos do enfrentamento 3-5-2 x 4-2-3-1 descritos acima.
Comecemos mostrando que os alas têm como primeira ação defensiva vigiar os laterais adversários. Nesta imagem, Flanagan e Cissokho estão respectivamente em Gibbs e Sagna:
P.S: para piorar, Arteta tem muito campo para conduzir, sem sofrer pressão (pode levantar a cabeça, parar, pensar e escolher o melhor passe)
Com os alas atentos aos laterais, cria-se um VÁCUO entre eles, os zagueiros e os meias, nos dois lados do campo. E ali Wenger começou a ganhar o jogo, fazendo seus pontas (Rosicky e Cazorla) recuarem para receber livres, aproveitando-se da indefinição na marcação do Liverpool:
Com Rosicky e Cazorla centralizando, junto com Özil, Giroud e Ramsey, os zagueiros do Liverpool ficaram expostos, a sobra imaginada acabou-se, e o tripé de meio-campo do Liverpool perdeu as referências. Não foram poucas as vezes que os jogadores do Arsenal se acharam livres ENTRE-LINHAS, pegando os zagueiros de frente, com espaço, às costas do trio Gerrard-Henderson-Lucas:
O Arsenal seguiu “brincando” com a organização defensiva do Liverpool, ora jogando iscas para os alas adiantarem e abrirem espaços, ora fazendo o ala oposto ficar fora de ação, ora expondo os zagueiros ao confronto direto sem sobra, ora – como no frame abaixo – deixando Lucas completamente só no corredor central contra QUATRO adversários. Enquanto isso, três zagueiros marcam Giroud. E, novamente, homem da bola NÃO SOFRE PRESSÃO – o que facilita achar o melhor passe:
Aqui, cansado de ver os adversários progredirem sem sofrer pressão na frente da área, Sakho sai da defesa e vem atacar Özil. Mas, notem que isso provoca outro problema: zagueiros no mano-a-mano dentro da área (foi-se a sobra, de novo). E, ainda pior…os volantes saem estabanados, e abrem a frente da área para Ramsey, que ultrapassa livre para receber:
Falando em Ramsey, dizem os gunners que é ELE, não Özil, a principal “contratação” da temporada. O jogador, livre de lesões, tem se destacado demais nestas ultrapassagens que FURAM as linhas adversárias e oferecem opções de passe verticais, em direção ao gol. Neste lance, a bola entra em Özil, que aciona o pivô de Giroud enquanto Ramsey rasga para receber o passe do centroavante às costas dos zagueiros. Notem que, neste caso, o zagueiro da sobra serve UNICAMENTE para LEGALIZAR a posição do ataque adversário:
No 2º tempo, perdendo de 1 a 0 (gol do Cazorla) e sem ver a bola, Brendan Rodgers voltou ao 4-4-2 duas linhas, colocando Philippe Coutinho em lugar de um zagueiro. Mas o PRINCIPAL problema defensivo persistiu: uma combinação de POUCA PRESSÃO NO HOMEM DA BOLA com ESPAÇO ENTRE-LINHAS. Aí o Arsenal, com muita movimentação do trio de meias, do centroavante, e de um dos volantes, novamente acha Ramsey livre entre-linhas. Dali, ele disparou o 2 a 0 final:
Para terminar o post, uma CURIOSIDADE. Nas faltas laterais, Wenger está fazendo o mesmo que TITE faz no Corinthians (talvez o único clube brasileiro a adotar tal marcação na bola parada defensiva): nas faltas laterais, a linha de marcação fica praticamente na altura da barreira, além da meia-lua, dificultando o cruzamento e deixando todo mundo impedido. O que fazer numa situação destas?
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Benê Lima