Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, março 13, 2015

"A capacidade de gerar mudança pode ser treinada, melhorada, como qualquer habilidade"

Ashoka significa, em sânscrito, "ausência de sofrimento". Ashoka também foi o nome de um imperador que governou a Índia durante o século III a.C e que é lembrado como um dos maiores inovadores sociais da história. Mas qual a relação dessa palavra com Empreendedorismo Social?

 

A Ashoka, organização mundial sem fins lucrativos presente em mais de 60 paises, é pioneira no campo da inovação social, trabalho e apoio aos empreendedores sociais. Trabalha com diferentes públicos comprometidos com a mudança do mundo, promovendo protagonismo, transformação e empatia em diversas esferas na sociedade.

 

 

Aqui trazemos uma entrevista exclusiva com Isabela Carvalho, da Ashoka Brasil, que nos fala um pouco sobre aspectos conceituais e práticos do empreendedorismo social, as atividades da Ashoka e nos oferece dicas e preciosas reflexões sobre o tema. Confira!

 

Isabela, há uma grande confusão entre os termos empreendedorismo social, responsabilidade social corporativa e negócios sociais. Como a Ashoka compreende esses três conceitos e qual é a sua área de atuação?

 

De fato, são termos que tendem a confundir muita gente. O empreendedorismo social é um grande leque que abarca iniciativas – com ou sem fins lucrativos – que tenham como objetivo o impacto social. Então, os negócios sociais podem ser considerados empreendimentos sociais. E o que são os negócios sociais? São projetos que tem um braço lucrativo, mas cujo core business é impacto social.

 

Já a responsabilidade social corporativo é o conjunto de ações de uma empresa que, voluntariamente, promovem bem estar e impacto positivo para seus públicos interno e externo. Em geral, as ações estão relacionadas ao seu ambiente de negócios e aos seus funcionários, por exemplo. É importante, no entanto, entender que a  responsabilidade social deve ser visto como um processo contínuo, de melhoria da relação da empresa com seu meio, de forma que realmente entendam e coloquem em prática seus papeis no cenário social.

 

E como a Ashoka analisa o cenário de Empreendedorismo Social e Negócios Sociais no Brasil? Quais são as perspectivas para 2015?

 

O espírito empreendedor do brasileiro é inegável. Existe uma necessidade histórica de identificar soluções em momentos de crise e capacidade de se reinventar e inovar em situações que requerem criatividade e espírito de equipe. Diante disso, o empreendedorismo social é crescente. Não é à toa que hoje o Brasil é o país que mais selecionou empreendedores sociais para a rede da Ashoka (350 dos cerca de 3000 atualmente).

 

Claro que ainda temos algumas barreiras, como elementos legislativos e tributários, mas já existem muitos processos em andamento para de alguma forma amenizarem esses desafios e levarem mais fluidez no caminho de pessoas que querem se tornar empreendedores sociais. O Marco Civil, por exemplo, trará mudanças no cenário do setor social e possivelmente gerará ainda mais profissionalização a organização civis.

 

O meio acadêmico também está abraçando o empreendedorismo social de forma expressiva. Já existem disciplinas nas principais universidades​ do país exclusivamente focadas em empreendedorismo social. Isso tende a formar profissionais já conscientes da relevância do assunto e capazes de criar empreendimento de impacto sustentável.

 

A Ashoka possui diversos programas de incentivo à transformação e a ações de impacto social. Quais são aqueles mais procurados pelos brasileiros?

 

A Ashoka surgiu em 1980, quando seu fundador, o americano Bill Drayton, identificou indivíduos que tinham características muito semelhantes aos empreendedores (perseverança, capacidade de criar redes de suporte, visão de médio e longo prazo, atenção a riscos, planejamento estratégico etc), mas seus objetivos tinham fins sociais. Ou seja, tinham como objetivo amenizar ou pôr fim a um problema social. Foi então que ele cunhou o termo ‘empreendedorismo social’.

 

A busca e seleção de empreendedores sociais ainda é o coração da Ashoka, e foi nesse processo que fomos protagonista no desenvolvimento do ecossistema do empreendedorismo social. No entanto, hoje já temos diversos programas que têm como foco identificar e potencializar o que chamamos de ‘changemakers’ – agentes de transformação.

 

Posso citar alguns relevantes por aqui, como o programa Changemakers, que realiza parcerias com empresas e fundações para ativar redes através de desafios colaborativos e temáticos. Esses desafios mapeiam inovações sociais em todo o mundo.

 

Temos também o programa Escolas Transformadoras, que identifica centros de ensino que atuem com uma proposta de educação integral, com foco em 4 habilidades fundamentais: empatia, trabalho entre equipes, liderança colaborativa e atitude transformador.

 

Nosso objetivo com esses programas e com a seleção de empreendedores sociais líderes é construir um mundo em que todo e qualquer indivíduos se reconheça como um changemaker.

 

Percebemos que muitos jovens estão dispostos a melhorar a comunidade e sociedade que vivem, mas muitas vezes não sabem como fazer isso ou mesmo começar. Qual a orientação que a Ashoka daria para esses jovens?

 

O primeiro passo é ter a certeza de que todos têm capacidade e potencial para promover mudanças em seus entornos. Trabalhar essa mentalidade é fundamental.

Temos um programa global focado em juventude, que é liderado na  América Latina pela Cristiane Benvenuto. Sobre isso, ela diz:

 

“A capacidade de gerar mudança pode ser treinada, melhorada, como qualquer habilidade. Quanto mais cedo a pessoa começar a praticar, melhor. Eu digo: apenas comece, sem se preocupar em ser perfeito ou fazer algo muito grande. O primeiro projeto não não precisa ser perfeito, mas  precisa resolver um problema com o qual você se preocupe na sua escola, na sua casa, na sua comunidade ou em qualquer outro lugar. Para ter mais e mais impacto você vai precisar treinar formas de inspirar outras pessoas e trabalhar bem com elas. Mas tudo começa com algo que realmente te importa.

 

Em nossos Fellows, cerca de 80% começou algo novo durante a adolescência e isso deixou uma marca importante. A gente percebe que uma das maiores barreiras para os jovens começarem alguma coisas é o fato de ouvirem a vida inteira que não estão prontos, não devem ou simplesmente não podem mudar as coisas. A pessoa acaba não se permitindo dar o primeiro passo ou pensar grande, pensar diferente. Mas o ideal seria que nossa sociedade criasse um ambiente em que a coisa lógica a ser feita quando se tem um problema é criar uma solução, criar um time para resolver o problema, seja na escola, na igreja ou em casa. Sonhar e fazer!

 

Um jovem engajado e empreendedor incomoda muita gente que cresceu no paradigma passivo, onde nada pode, e essas pessoas costumam ser muito duras com ele. Por isso também explicamos ao jovem que é importante saber lidar de forma respeitosa com quem quer barrar seu esforço, mas seguir adiante. É importante ouvir, entender o ponto, mas não desistir".

 

E quais as principais dificuldades que o empreendedor social enfrenta? Elas são semelhantes em todo o mundo ou no Brasil existem questões especiais? Como se preparar para superar tais dificuldades?

 

Em todo o mundo, a questão da captação de recursos tende a ser uma das dificuldades mais frequentes. No Brasil, também percebemos que muitos empreendedores se sentem muito sozinhos durante suas empreitadas, já que é um universo relativamente novo, que ainda carece, por exemplo, de uma legislação suficientemente significativa e de uma profissionalização que dê conta das demandas que surgem.

 

Mas isso vem mudando, porque cada vez mais pessoas estão entendendo a importância de estarem envolvidas em processos de mudança social. Hoje, não é incomum vermos pessoas deixando seus empregos para trabalharem em algo que tenha significado e impacto social. Além disso, as empresas estão percebendo que elas têm um papel fundamental na construção de uma sociedade mais sustentável, e que mirar somente o lucro é um grande tiro no pé.

 

Por fim, gostaria de deixar esse último espaço livre para que a Ashoka mande uma mensagem aos leitores do blog.

 

Durante mais de 30 anos, a Ashoka vem identificando indivíduos que estão gerando verdadeiras mudanças sistêmicas em seus meios e no mundo. Hoje entendemos que esse ecossistema de empreendedorismo social está se solidificando de maneira crescente. No entanto, sabemos também que para que o mundo torne-se plenamente sustentável, é preciso que todos se vejam como agentes de transformação, empoderados e providos das competências e talentos que os permita promover mudanças positivias.

 

Na construção da atual visão da Ashoka – Everyone a Changemakers (que traduzimos como Todos Podemos Ser Agentes de Transformação), identificamos quatro habilidades que são fundamentais para isso: empatia, trabalho em e entre equipes, atitude transformadora e liderança colaborativa.

 

Atualmente, essas habilidades permeiam todo o trabalho da Ashoka, seus programas e suas parcerias.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por seu comentário.
Em breve ele será moderado.
Benê Lima