Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, março 09, 2015

Organizadas: Um problema sem fim?

POR: BENÊ LIMA

 

Organizadas - conflitos 2Briga entre torcedores do mesmo time (divulgação)

 

Não vejo a mínima razoabilidade em se punir os clubes de futebol por atitudes de seus torcedores. A pessoa jurídica, embora em alguns casos seja solidária como reflexo do comportamento de seus sócios e associados em termos creditício, no que se refere aos atos de violência entendemos que a maneira mais adequada de enfrentarmos o problema é pela via da responsabilização das pessoas físicas.

Se o verdadeiro infrator não sentir os efeitos de seus atos e por eles não forem responsabilizados e punidos, nada mudará esse cenário sombrio. Ademais, não existe meio-termo na abordagem da questão da violência das organizadas. No entanto, creio que a maneira de desmobilizá-las é dar-lhes mais importância, através de órgãos como as coordenadorias de juventude dos municípios. Sei que isso parece um contrassenso, mas na verdade trata-se de uma estratégia, com o objetivo de termos a banda boa destas torcidas interagindo com a chamada banda podre, a fim de torná-la menos problemática.

Capacitar os gestores das organizadas, criar as condições para a efetiva consolidação do cadastramento biométrico de seus membros, trabalhar pela inclusão social deles e até buscar torná-los protagonistas e não deixa-los a margem, tudo isso constitui medidas que visam a inverter a lógica reinante. Afinal, jogar o “lixo” para debaixo do tapete não resolve o problema.

Outro fator importante em investirmos na recuperação das organizadas, é não admitirmos a falência das nossas instituições responsáveis pela segurança pública. Devemos reagir a esse estado de coisas de maneira inteligente, estratégica, criativa, inclusiva e buscando a parceria de quem conhece o problema, por dar-lhe causa.

Veja este texto também no Lance Activo!

Organizadas; Sociologia; Gestão

COMENTÁRIO(S):


Antonio Rodrigues, advogado e auditor do TJDF-CE -

Não creio que acabar com as torcidas organizadas seja a saída.

Vale lembrar o Art. 5º, inciso XVII, da Constituição federal - É PLENA A LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO PARA FINS LÍCITOS, VEDADA A DE CARÁTER PARAMILITAR.

As torcidas organizadas em sua essência têm fins lícitos.

Começam a proibir torcidas organizadas, depois proíbem os sindicatos, depois proíbem certas religiões, depois proíbem a reunião de mais de três pessoas nas ruas e aí, sem que se perceba, vivemos uma tirania.

Também devemos lembrar que quando no passado recente, quando uma ou outra torcida organizada foi proibida de ir ao estádio, a violência não diminuiu, e não diminuiu porque os marginais continuam indo ao estádio. A diferença é que não estão com a camisa da torcida punida.

É preciso que o Poder Público interfira de tal modo, e com tamanha eficiência, que o marginal seja retirado do estádio, e quando preso em flagrante, não saia da delegacia em apenas meia hora, e quando julgado dentro do devido processo legal receba uma punição dura, com a proibição de frequentar estádios por anos, além de outras punições.

O que não se pode conceber é a atuação do poder constituído na repressão, se limitar somente no episódio “pós-jogo”, e nessa “meia hora de delegacia”.

A atuação do Poder Executivo, do legislativo e do judiciário neste problema nacional de violência das torcidas organizadas, lembra muito a figura de Pôncio Pilatos, o que é lamentável, se levarmos em conta que no famoso evento de Pilatos, o tumulto crescia em relação a Jesus e o povo disse: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”.

É isso aí, enquanto o estado assume a postura de Pilatos, sangue advindo da violência das torcidas nos jogos será derramado.


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Benê Lima