Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, agosto 06, 2016

Crise técnica do futebol brasileiro

Após o 7x1 na Copa do Mundo, a ideia de crise ganhou ainda mais força e argumentos para sustentar esse pensamento não faltam
Danilo Benjamim
Olá, prazer! Meu nome é Danilo Benjamim, sou formado em Bacharel em Treinamento Esportivo e trabalho com futebol há cerca de 10 anos. Atualmente sou treinador do sub-11 e auxiliar do sub-20 do Coritiba FootBall Club.
Minha trajetória no futebol começou desde bem cedo, através de meu pai (o Benê), agradeço a ele por ter me apresentado a este esporte tão fascinante. Como 99% dos garotos no Brasil, tentei ser jogador profissional e consegui no máximo chegar às categorias de base, o que não diminui o amor pelo esporte ou o desejo de competir profissionalmente.  Decidi, então, ir à faculdade, realizar cursos e capacitar-me (continuamente) para ser um profissional do esporte.
Iniciei no Paulínia Futebol Clube, sob o comando do Prof. Dr. Alcides Scaglia. Neste clube, atuei como professor na escolinha, treinador nas categorias de base e auxiliar no profissional, até ter a oportunidade de participar de um processo seletivo conduzido pelo Prof. João Paulo Medina no Coritiba, o que resultou em minha vinda ao clube em março de 2015.
Para finalizar minha apresentação, quero ressaltar que desde o início da minha carreira com a chamada “paixão nacional” busco conduzir minhas ações baseado no conhecimento científico e em minhas experiências com o jogo. Diante disso, para começar nossas discussões neste espaço, pergunto: você concorda que o futebol brasileiro viva uma crise técnica?
A ideia de uma “crise técnica” no nosso futebol tem sido alimentada em diversas discussões, seja naquelas de mesa de bar até os debates acalorados da mídia esportiva, e sustentada pelos recentes e sucessivos insucessos dos clubes brasileiros em campeonatos internacionais e da seleção brasileira. A ideia de crise ganhou ainda mais força após o 7×1, a má campanha nas eliminatórias e a eliminação ainda na 1º fase da Copa América. Argumentos para sustentar esse pensamento não faltam e num primeiro momento, ao se olhar para o cenário, sustentá-lo parece ser uma opção bem atrativa.
Apoiar esta ideia significa concordar que “já não temos tão bons jogadores como antigamente”, algo que vai diretamente contra o histórico do futebol brasileiro, que em todas as décadas teve jogadores de notório destaque mundial. Será, então, que a “fonte secou”?
Vamos olhar para o ranking oficial de seleções da FIFA (a intenção não é discutir seus critérios):
Imagem1
Os dados da população de cada país são fornecidos pelo THE WORLD BANK, este ainda mostra que, em média, a divisão entre homens e mulheres é de 50%. Agora vamos pensar sob a lógica de que, quanto maior o número de tentativas (população) maior a probabilidade de acerto (conseguir bons jogadores). Sob esta lógica, o Brasil que tem mais que o dobro da população de homens de todos os demais países do ranking, deveria estar no topo e com folga, visto que tem muito mais chances de possuir bons jogadores, o que, como mostra o ranking, não acontece. A que isso se deve?
Um dos princípios da probabilidade diz que “experimentos aleatórios (obter bons jogadores, no nosso caso) apresentam resultados imprevisíveis”, mesmo com uma enorme vantagem na amostragem. Segundo o senso comum, esta imprevisibilidade de resultados tem sido cruel com o futebol brasileiro, pois considera que nossa geração de jogadores não seja tão boa como as do passado. Porém, pergunto-me e também a você, leitor, por que esta imprevisibilidade não tem sido tão cruel com as demais seleções, visto que elas têm uma probabilidade menor em função de sua menor população? Que aspectos desta imprevisibilidade diferem no Brasil em relação aos demais países para que nossos resultados tenham sido tão abaixo dos demais? O que os outros tem feito para conseguir resultados melhores? Será que a geração de jogadores deles é tão superior à nossa?
Amigo leitor, minha intenção é gerar reflexão e discussão sobre o nosso atual cenário, que, indiscutivelmente, não é bom, mas acredito ser um tanto injusto e minimalista colocar a responsabilidade numa possível “crise técnica de uma geração menos talentosa de jogadores”. E você, o que pensa a respeito deste assunto?
Aguardo sua opinião certo de que este é apenas o primeiro tema que vamos tratar, ainda discutiremos bastante sobre metodologia de treino, formação do jogador e da equipe, cenário do futebol brasileiro e mundial. Conto com a sua contribuição!
Grande abraço! 
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2 comentários:

  1. DE: GABRIEL PINTO
    Boa tarde,
    Em primeiro lugar permita-me que me apresente. O meu nome é Gabriel Pinto, sou um jovem treinador Português.
    Não tenho por hábito entrar em debates “sociais” sobre futebol, mas sinceramente custa-me ver o estado do Futebol Brasileiro que me habituei a ver desde muito cedo.
    Iniciando a minha reflexão, devo referir que não concordo de todo com a ideia de “crise técnica”. O Brasil continua a ser um dos maiores exportadores de talento de todo o Mundo e para os mais diversos contextos competitivos e por enquanto, não vejo qualquer motivo para se duvidar da existência de qualidade técnica.
    Então qual é a minha opinião sobre a realidade do Futebol Brasileiro?
    Sendo muito direto e claro: O Futebol Brasileiro não acompanhou a evolução da modalidade porque nunca duvidou que a qualidade técnica, que caracteriza o jogador Brasileiro, pudesse ser “rebaixada” por qualquer outro fator de rendimento.
    Em contraponto, O Futebol Europeu continuo e continua a fazer um estudo exaustivo de tudo aquilo que caracterizada a modalidade, o jogo. Entendeu-se o que é necessário para influenciar o jogo e trabalha-se agora única e exclusivamente considerando esses fatores.
    Aqui poderei destacar dois fatores distintos: O Treino e a vertente tática, interligadas entre si.
    No que diz respeito á metodologia de Treino, a “revolução” pode ser designada por uma única palavra: especificidade.
    Relativamente á vertente tática, refiro-me as questões de organização e processos coletivos, sendo muito direto.
    Ora, não há muito tempo atrás quase que as palavras “técnica” e “Tática” eram vistas como a antítese Individual-Coletivo. O futebol Brasileiro sendo riquíssimo na vertente técnica, nunca precisou de se preocupar com as questões relativas á organização e dinâmica coletiva porque a individualidade e qualidade técnica chegava, o que hoje facilmente se percebe que não é verdade. Pelo próprio sentido tático do jogo se percebe, por exemplo que são cada vez menos as situações de 1X1 que acontecem durante o jogo, porque hoje em dia existe uma obsessão pelo tático, pelo coletivo e pelo bloco. Ganha a organização, perde a qualidade, porque falando em alto rendimento, também existe qualidade. E mesmo que seja menor, é facilmente “alcançada” pela organização.
    E isto não acontece apenas na Europa. Muitos outros Países, que apresentaram uma “crise de valores” no passado, tiveram que encontrar estratégias de adaptação á existência do contexto atual do Futebol e hoje alcançaram um patamar diferente no Futebol Mundial.
    Existem ainda fatores sociais, económicos e educacionais que influenciam tudo isto, ao qual o contexto atual do Brasil, não ajuda, mas prefiro ficar-me pelos fatores técnico-táticos.
    Em síntese, acredito fielmente que o problema do Futebol Brasileiro não é dos jogadores mas sim daquilo que é a organização do contexto desportivo e do Futebol do Pais e também daquilo que é o conhecimento e a formação do Treinador Brasileiro, que é quem tem mais capacidade para influenciar o desenvolvimento do Atleta.
    Esta é na minha opinião, o principal problema do Futebol Brasileiro atual e é preciso ter a noção que vai demorar algumas gerações a mudar, mas é preciso olhar sobretudo para a formação do jovem jogador e perceber quais são as suas “forças” e as suas necessidades e ajustá-las áquilo que são as exigências do Futebol atual e por fim, potenciá-lo em função de todo este envolvimento.
    Obviamente que estou a descrever uma visão simplista e que poderíamos falar de tudo isto durante dias e meses.
    Abraço a todos!
    GABRIEL PINTO

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  2. Ótimo comentário. Talvez possamos considerar até como injunções algumas de suas premissas. O único questionamento que faço é o seguinte: os nossos atuais gestores, em regra não são piores que os do passado; os nossos treinadores também não me parecem pior e menos dotados em conhecimento que os do passado. Portanto, como somente agora isso veio a tona? Não existiria pois, algum(ns) outro(s) fator(es) que não conseguimos identificar? Abraços!
    BENÊ LIMA

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Benê Lima