Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, agosto 02, 2008

IMPORTANTE: GESTÃO DO FUTEBOL

Há sinais de mudança no horizonte?


Amigos, blogs dessa natureza são escritos e lidos por pessoas que, em maior ou menor grau, são interessadas nas práticas de gestão do futebol brasileiro.

Vê-se a existência de um bom número de pessoas interessadas no crescimento do futebol brasileiro, no aumento de sua competitividade administrativa e financeira em comparação com o futebol internacional, e em última análise no fortalecimento de seus clubes de coração.

Isso nos leva, com base nas discussões empreendidas, a tentarmos desenhar um panorama muito breve e resumido do que está acontecendo no futebol brasileiro quanto às práticas de gestão, abrindo esse espaço para que nossos leitores opinem, forneçam exemplos e eventuais críticas. Por trás desse panorama, pergunto se há sinais concretos de mudança ou se estamos ainda presos a uma engrenagem que não deve ceder tão cedo.

Vamos a alguns aspectos positivos, para iniciar:

- Com a obrigatoriedade da publicação anual de balanços, que é algo recente, conseguiu-se obter uma maior transparência nos clubes, ao menos para que sejam detectadas suas práticas administrativas, deixando à mostra ineficiências de gestão. As dívidas dos clubes, por exemplo, estão lá para quem quiser ver, assim como a composição das receitas e dos custos. Infelizmente ainda há clubes que insistem em tratar suas finanças como segredo de estado, quando na verdade as informações estão disponíveis para quem se habilitar a procurá-las e entendê-las.

- Os clubes estão sendo obrigados a se estruturar para procurar novas receitas, em razão do grau de endividamento da maioria. Como as receitas mais significativas muitas vezes são comprometidas no médio prazo por causa da tomada de adiantamentos relativos a direitos de TV, de patrocínios e até mesmo da receita de ingressos, o caminho mais comumente adotado tem sido o de criar programas de Sócio-Torcedor, embora muitas vezes esses sejam elaborados de maneira primária, não significando uma concessão de reais vantagens ao torcedor ou não gerando aumento de receitas para o clube. Por outro lado há exemplos de grande sucesso, especialmente nos dois clubes grandes do Rio Grande do Sul.

- Há uma tendência muito forte para que clubes tenham estádios construídos ou reformados, quase sempre com a criação de parcerias com investidores. Novos estádios são, em nossa opinião, absolutamente fundamentais para que um novo tipo de relacionamento com o público possa ser iniciado, de maneira a tornar as receitas em dias de jogos algo significativo de fato. Observamos que a realização da Copa 2014 no Brasil é um fator de estímulo, mas que não deve ser levado em conta na elaboração de um projeto saudável e sustentável de modernização ou construção de estádios. Dentre outros exemplos, podemos esperar que Inter e Grêmio em Porto Alegre, Figueirense em Florianópolis, Palmeiras e talvez Corinthians em São Paulo, possam dispor de arenas modernas em um prazo relativamente curto. O lado negativo é que estádios para a Copa serão levantados ou modernizados com dinheiro público em algumas praças, o que será um desestímulo para a iniciativa privada e os clubes nesses locais; exemplos disso são os estados de Minas Gerais e Bahia.

- Existe um público ansioso por reformas estruturais no esporte brasileiro, além de haver uma geração de profissionais procurando espaço para atuar em clubes ou empresas patrocinadoras. Vários cursos de graduação, pós-graduação e especialização tem sido introduzidos no mercado brasileiro. A existência de mão-de-obra qualificada é um requisito fundamental para a transformação.

Agora vamos ver um pouco dos aspectos negativos:

- A estrutura administrativa da imensa maioria dos clubes ainda é amadora e passional, já que são organizações eminentemente políticas e que se comportam como tal. Alguns anos atrás ouvimos de um conceituado e esclarecido ex-dirigente de um grande clube paulista (por sinal uma excelente pessoa e um ótimo professor) que o requisito básico para ser contratado como um profissional administrativo era ser torcedor do clube. Refletindo sobre o absurdo dessa afirmação, entendemos que não se tratava necessariamente de um ponto de vista pessoal, mas sim do fato desse ex-dirigente conhecer profundamente a estrutura e a cultura de seu clube. Ou seja, para os profissionais que buscam atuar na gestão de clubes os desafios são imensos, porque não há porta de entrada aberta.

- Atuar em clubes menores, que parece ser uma alternativa, é também muito difícil, já que a cultura administrativa dos dirigentes é ainda mais pobre. Os poucos exemplos de clubes que tentaram se profissionalizar são em muitos casos desanimadores, com interferência constante do poder pessoal dos dirigentes e com o predomínio dos interesses políticos. Para piorar o cenário, algumas dessas experiências poderão ser julgadas por resultados esportivos, e cito como exemplo o Paulista de Jundiaí, clube que venceu a Copa do Brasil em 2005 e disputou a Libertadores da América em 2006, e que ruma agora para a Série D do Campeonato Brasileiro (que será criada em 2009). O Paulista, apesar de tentar se profissionalizar administrativamente, não conseguiu de fato se posicionar como um clube importante no cenário esportivo, a despeito da oportunidade gerada por seu sucesso recente.

- Os departamentos de marketing, em sua maioria, adotam soluções isoladas, com o objetivo de gerar receita imediata; naturalmente, por mais que haja esforços, não conseguem realizar milagres na geração de receitas em curto prazo. Com o desgaste causado por mirabolantes promessas não cumpridas, parte dos dirigentes, torcedores e imprensa tende a reforçar o argumento de que não são possíveis mudanças estruturais no futebol brasileiro, e que este está condenado a ter clubes deficitários, reféns de poucas fontes de receitas e dependentes das transações de atletas para o exterior.

- Há muitos interessados na manutenção do status atual. Citamos como exemplo os dirigentes e empresários que ganham rios de dinheiro com as transações de jogadores para o exterior, e para quem a dependência dos clubes em relação a esse tipo de receita é uma verdadeira galinha dos ovos de ouro. Vemos com preocupação que vários profissionais administrativos que estão tentando ingressar no mercado esportivo estão voltando seus olhos para a carreira de agenciadores de atletas, já que aí está a mais concreta oportunidade. Embora não se possa criticá-los sob a perspectiva pessoal, já que esse é um meio legítimo de ganhar a vida e quem sabe fazer fortuna, vejo aqui um fator muito negativo para nosso esporte.

- As empresas que patrocinam o futebol, em sua maioria, não desenvolveram estruturas específicas para rentabilizar seu investimento, explorando-o mais e com maior eficiência. Em geral, quando há um profissional de marketing esportivo contratado, este está incumbido basicamente da realização de (poucos) eventos e da administração do envio de ingressos para convidados. Há oportunidades muito interessantes que não são exploradas, como a criação e administração de relacionamento com torcedores buscando transformar o patrocínio em vendas, tornando os resultados imediatamente mensuráveis e levando o relacionamento com esses clientes a uma dimensão maior. Mas, infelizmente, as empresas ainda compram, basicamente, o espaço do uniforme com o objetivo de aparecer nas telas de TV. É muito pouco.

Bem, amigos, essas são algumas observações que, de maneira muito breve, deixo nesse espaço. Estamos abertos a seus comentários, exemplos e observações.

Crédito: Maurício Bardella
Revisão: Benê Lima

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